O Coveiro e o Caixão
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Transcript of O Coveiro e o Caixão
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O coveiro e o caixo!
Nas ruas do interior
Toda conversa sadia
E eu cresci escutando
Sem nenhuma mordomia
Um papo bem saboroso A conversa de trancoso Era assim que se dizia
E sempre nessas conversas
O povo j gargalhava
Cada vez que um tinha medo
Ouma piada contava De dia era engraado
De noite, bem assustado
E a conversa rolava
Mas a saindo um pouco
Do assunto j falado
Na cidade de Munguenge
Interior do estado
Existia um cemitrio,
Uma sala de funreo
Um lugar bem reservado
Mas a histria se d
Dentro dessa narrao
Seguindo um bom roteiro
Dando continuao
Ateno vamos prestar
Porque agora vou contar
O coveiro e o caixo
Em todo lugar se sabe
Que para se enterrar
Existe todum macete Pra no morto aplicar
Fica a par do coveiro
O procedimento inteiro
Pra ele realizar
Foi dentro dessa peleja
Que o coveiro Z Joo
Andava pela cidade
Com a fama de ladro
E por onde ele passava
O boato comeava
Correndo todo serto
-
Muitas vezes, meus amigos
Os coveiros se estribavam
Quando o defunto era rico
A se aproveitavam
Mas quando no fosse nobre
Fosse um defunto pobre
A que se lascavam
O pobre no tinha nada
Era enterrado mal
Conduzido numa rede
Pendurada em um pau
Por isso que gentalha
Ainda tinha mortalha
Amarrada com toral
E se o morto tivesse
Uma melhor condio
Botava dente de ouro
E um anel de baro
Foram nos tempos de outrora
Pois nos momentos de agora
No existe isso no
Tambm l nessa cidade
Um senhorzinho morava
J velho e meio cansado
Mas sua fama ficava
De bravo pra toda gente
Ruim que s uma serpente
Sua mesquinhez reinava
Passaram-se alguns meses
E esse senhor morreu
Para ir ao seu velrio
Toda cidade correu
Para o lado quera oposto Pra completar o desgosto
Ningum nem compareceu
Mas com toda essa ruindade
O velho era estribado
Seis stios, um carro novo
Por ele l foi deixado
Com a riqueza na mo
O tal coveiro ladro
J estava preparado
-
Ao enterrar reparou
Que em seu dedo estava
Um anel com diamante
E um de feitura eslava
Depois que eu enterrar O que for bom vou tirar Era assim que ele falava
Por isso sem cerimnia
Enterrou o vi danado
Nisso ele j ficou
Um pouco mais preocupado:
- Quando sete horas d
Eu vou l mesmo a p
Roubar esse desgraado.
Quando bateram as horas
Ele logo se aprontou
Pegou suas ferramentas
E pra l j se mandou
Chegando no cemitrio
Foi l pegar o imprio
Daquele que enterrou
Ele estava confiante
Que ia lascar o couro Pois l perto do defunto
Achava que tinha ouro
Tendo ferramenta mo
O tal coveiro Z Joo
Desenterrou o tesouro
Antes mesmo de abrir
Tomou logo um melado E mesmo assim foi gritando:
- Agora t preparado
O que vai acontecer
Agora vou descrever
No que estava enterrado
Um pedao de cordo
Um dadinho de bos
Uma pulga, um piolhazo A manga dum palet
Um pedao de sardinha
Uma cuia de farinha
E pipoca carit
-
Uma lata de cerveja
Um pedao de coit
Uma asa de mosquito
A unha dum pangar
O caco duma garrafa
Tinha at uma tarrafa
E o aro do gerer
Tinha uma mosca branca
E at um mangar
Tinha a perna traseira
Do besouro ai-mangang
Tinha um litro de fel
E a peneira do mel
Da abelha arapu
Tinha um bezerro novo
E uma vaca leiteira
Uma cabra amamentando
Trs cabritos de primeira
Tinha um porco barro
Uma bucha de colcho
E o cabo duma chaleira
Tinha at um berimbau
E um jipe de brinquedo
E um badalo de sino
E cem quilos de rochedo
Sete metros de cip
At um tal caitit
Um pedao dum torpedo
Eu no gosto de mentir
Tinha um brao dum sof
Uma cela de cavalo
Um revlver e um born
Porta duma geladeira,
A mquina costureira
At um p de caj
De tudo ele encontrou
Mas ouro no tinha no
Porque o velho ranzinza
No queria abrir mo
Nessa estria contada
Vocs viram a presepada
Do coveiro e do caixo.
Condado, 29 de setembro de 2011.
Emanoel Barros