O Coveiro e o Caixão

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O coveiro e o caixão! Nas ruas do interior Toda conversa é sadia E eu cresci escutando Sem nenhuma mordomia Um papo bem “saboroso” “A conversa de ‘trancoso’” Era assim que se dizia E sempre nessas conversas O povo já gargalhava Cada vez que um tinha medo Ou’ma piada contava De dia era engraçado De noite, bem assustado E a conversa rolava Mas aí saindo um pouco Do assunto já falado Na cidade de Munguenge Interior do estado Existia um cemitério, Uma sala de funéreo Um lugar bem reservado Mas a história se dá Dentro dessa narração Seguindo um bom roteiro Dando continuação Atenção vamos prestar Porque agora vou contar O coveiro e o caixão Em todo lugar se sabe Que para se enterrar Existe tod’um macete Pra no morto aplicar Fica a par do coveiro O procedimento inteiro Pra ele realizar Foi dentro dessa peleja Que o coveiro Zé João Andava pela cidade Com a fama de ladrão E por onde ele passava O boato começava Correndo todo sertão

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Poesia em forma de Literatura de Cordel de EMANOEL BARROS

Transcript of O Coveiro e o Caixão

  • O coveiro e o caixo!

    Nas ruas do interior

    Toda conversa sadia

    E eu cresci escutando

    Sem nenhuma mordomia

    Um papo bem saboroso A conversa de trancoso Era assim que se dizia

    E sempre nessas conversas

    O povo j gargalhava

    Cada vez que um tinha medo

    Ouma piada contava De dia era engraado

    De noite, bem assustado

    E a conversa rolava

    Mas a saindo um pouco

    Do assunto j falado

    Na cidade de Munguenge

    Interior do estado

    Existia um cemitrio,

    Uma sala de funreo

    Um lugar bem reservado

    Mas a histria se d

    Dentro dessa narrao

    Seguindo um bom roteiro

    Dando continuao

    Ateno vamos prestar

    Porque agora vou contar

    O coveiro e o caixo

    Em todo lugar se sabe

    Que para se enterrar

    Existe todum macete Pra no morto aplicar

    Fica a par do coveiro

    O procedimento inteiro

    Pra ele realizar

    Foi dentro dessa peleja

    Que o coveiro Z Joo

    Andava pela cidade

    Com a fama de ladro

    E por onde ele passava

    O boato comeava

    Correndo todo serto

  • Muitas vezes, meus amigos

    Os coveiros se estribavam

    Quando o defunto era rico

    A se aproveitavam

    Mas quando no fosse nobre

    Fosse um defunto pobre

    A que se lascavam

    O pobre no tinha nada

    Era enterrado mal

    Conduzido numa rede

    Pendurada em um pau

    Por isso que gentalha

    Ainda tinha mortalha

    Amarrada com toral

    E se o morto tivesse

    Uma melhor condio

    Botava dente de ouro

    E um anel de baro

    Foram nos tempos de outrora

    Pois nos momentos de agora

    No existe isso no

    Tambm l nessa cidade

    Um senhorzinho morava

    J velho e meio cansado

    Mas sua fama ficava

    De bravo pra toda gente

    Ruim que s uma serpente

    Sua mesquinhez reinava

    Passaram-se alguns meses

    E esse senhor morreu

    Para ir ao seu velrio

    Toda cidade correu

    Para o lado quera oposto Pra completar o desgosto

    Ningum nem compareceu

    Mas com toda essa ruindade

    O velho era estribado

    Seis stios, um carro novo

    Por ele l foi deixado

    Com a riqueza na mo

    O tal coveiro ladro

    J estava preparado

  • Ao enterrar reparou

    Que em seu dedo estava

    Um anel com diamante

    E um de feitura eslava

    Depois que eu enterrar O que for bom vou tirar Era assim que ele falava

    Por isso sem cerimnia

    Enterrou o vi danado

    Nisso ele j ficou

    Um pouco mais preocupado:

    - Quando sete horas d

    Eu vou l mesmo a p

    Roubar esse desgraado.

    Quando bateram as horas

    Ele logo se aprontou

    Pegou suas ferramentas

    E pra l j se mandou

    Chegando no cemitrio

    Foi l pegar o imprio

    Daquele que enterrou

    Ele estava confiante

    Que ia lascar o couro Pois l perto do defunto

    Achava que tinha ouro

    Tendo ferramenta mo

    O tal coveiro Z Joo

    Desenterrou o tesouro

    Antes mesmo de abrir

    Tomou logo um melado E mesmo assim foi gritando:

    - Agora t preparado

    O que vai acontecer

    Agora vou descrever

    No que estava enterrado

    Um pedao de cordo

    Um dadinho de bos

    Uma pulga, um piolhazo A manga dum palet

    Um pedao de sardinha

    Uma cuia de farinha

    E pipoca carit

  • Uma lata de cerveja

    Um pedao de coit

    Uma asa de mosquito

    A unha dum pangar

    O caco duma garrafa

    Tinha at uma tarrafa

    E o aro do gerer

    Tinha uma mosca branca

    E at um mangar

    Tinha a perna traseira

    Do besouro ai-mangang

    Tinha um litro de fel

    E a peneira do mel

    Da abelha arapu

    Tinha um bezerro novo

    E uma vaca leiteira

    Uma cabra amamentando

    Trs cabritos de primeira

    Tinha um porco barro

    Uma bucha de colcho

    E o cabo duma chaleira

    Tinha at um berimbau

    E um jipe de brinquedo

    E um badalo de sino

    E cem quilos de rochedo

    Sete metros de cip

    At um tal caitit

    Um pedao dum torpedo

    Eu no gosto de mentir

    Tinha um brao dum sof

    Uma cela de cavalo

    Um revlver e um born

    Porta duma geladeira,

    A mquina costureira

    At um p de caj

    De tudo ele encontrou

    Mas ouro no tinha no

    Porque o velho ranzinza

    No queria abrir mo

    Nessa estria contada

    Vocs viram a presepada

    Do coveiro e do caixo.

    Condado, 29 de setembro de 2011.

    Emanoel Barros