O CONCEITO DE CIDADANIA - avm.edu.brCIA DE SOUZA BASTOS.pdf · sociedade comprometa-se com o que...
Transcript of O CONCEITO DE CIDADANIA - avm.edu.brCIA DE SOUZA BASTOS.pdf · sociedade comprometa-se com o que...
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA
O CONCEITO DE CIDADANIA
PATRÍCIA DE SOUZA BASTOS
ORIENTADORA: PROFESSORA ANA PAULA LETTIERI FULCO
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDESINSTITUTO VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA
O CONCEITO DE CIDADANIA
Monografia apresentada ao Instituto A Vez
do Mestre – Universidade Candido Mendes
como parte dos requisitos para obtenção
do Grau de Especialista em
Psicopedagogia, sob a orientação da
Professora Ana Paula Lettieri Fulco.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me dar à oportunidade de terminar este trabalho, e a todos que me ajudaram indiretamente e diretamente para aprimorar este trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho primeiramente aos meus pais Janice Bastos e Moisés Vicente pelo apoio que me deram nos momentos difíceis que ultrapassei. A minha irmã Bianca de Souza Bastos pelo companheirismo.
5
Formar um cidadão não é tarefa para um
dia, para contar com eles quando homens
é preciso instruí-los ainda crianças.
Rousseau
6
RESUMO
Esta monografia discute os diversos conceitos de cidadania mostrando
sua interpretação na história antiga, medieval e contemporânea. Apesar das
dificuldades, a escola é vista como instituição responsável por formar o cidadão
e que, embora exista a necessidade de se haver uma política pública
democrática que os direitos civis, políticos e sociais da sociedade, a educação
escolar ainda esta na base da estrutura de uma sociedade onde todos possam
ser chamados de cidadãos. Relata a forte influência que os meios de
comunicação têm em manipular o pensamento da sociedade o que dificulta o
trabalho escolar. Enfim, enfatiza que a escola, apesar de vista como aparelho
reprodutor do Estado, tem em suas mãos o poder de fazer com que a
sociedade comprometa-se com o que acontece na vida da comunidade e do
mundo atuando como cidadãos críticos e criativos sendo capaz de transformar
a realidade.
7
METODOLOGIA
Segundo Andrade, “Metodologia é o conjunto de métodos ou caminhos
que são percorridos na busca do conhecimento”. (2003, p.129).
Este trabalho foi elaborado com o objetivo de verificar até que ponto a
escola está influenciando nas atitudes e pensamentos do cidadão, e uma forma
de mostrar a importância da função da escola na formação dos cidadãos. Os
dados contidos neste trabalho são resultados de bibliografias de vários autores.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
O CONCEITO DE CIDADANIA 10
CAPÍTULO II
CIDADANIA E EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 18
CAPÍTULO III
CIDADANIA E EDUCAÇÃO NO BRASIL 28
CONCLUSÃO 34
ANEXOS 39
9
INTRODUÇÃO
A escolha deste tema foi decorrente ver que muitas escolas passam
por períodos difíceis em relação à merenda escolar, material didático e apoio
familiar que visam melhorar o desempenho dos alunos.
Dentre essas dificuldades minhas inquietações residiam na falta de
comprometimento da família com a escola. Observei que as escolas vêm
desenvolvendo durantes os anos com intuito de resgatar valores sociais e
morais, onde se trabalha a convivência com o próximo: a conservação do
patrimônio público; os cuidados e zelo pelo estudo; a importância dos
conteúdos transmitidos na escola para a vida fora dela e todo esse esforço das
escolas tinham como finalidade formar cidadãos críticos e criativos para a
sociedade.
Encontro-me preocupada com a formação que hoje são crianças que
futuramente serão os responsáveis pelo desenvolvimento e crescimento da
sociedade. Os seguintes questionamentos são despertados em mim: Como
essas crianças estão assimilando as informações que a escola está tentando
transmitir? Porque e para que devem estudar? Os meios de comunicação em
geral falam sempre sobre cidadania, o que eles entendem quando ouvem falar
em cidadania? O que é exercer cidadania? Enfim , o que é ser um cidadão?
Este trabalho pretende mostrar detalhes sobre esta pesquisa onde
veremos vários conceitos de diferentes autores sobre cidadania, no capítulo a
Cidadania e Educação no Brasil mostrarão como a educação vem tentando
trabalhar a formação deste cidadão que segundo alguns autores é
responsabilidade direta da escola. Destacando a importância da escola como
instituição capaz de contribuir para a formação/transformação do cidadão.
10
CAPÍTULO I
O CONCEITO DE CIDADANIA
Conceituar cidadania envolve vários aspectos inseridos na sociedade,
embora se passem anos e mais anos observamos a grande dificuldade de
todas as pessoas que diretamente ou indiretamente dialogam sobre o
assunto.Para alguns pesquisadores, cidadania está ligada diretamente com o
ensino escolar, mas para outros, cidadania se encontra diretamente ligada aos
aspectos sociais, morais, religiosos, intelectuais, econômicos e filosóficos da
sociedade. Vejamos o que diz Ferreira (1993, p.19):
“A dificuldade de se conceituar cidadania vem do fato de que as representações que fazemos dela nem sempre correspondem a postulações rigorosas. Ora ela é tratada como nacionalidade, ora traz em si juízos de valor, aparecendo associada ao aspecto positivo da vida social do homem, em contraste com a negatividade da não-cidadania, a marginalidade. Alinham-se nesta perspectiva o ideário da integração e da participação do indivíduo na sociedade e a idéia da civilidade, em oposição à rudeza. Estas e outras e outras concepções servem para exemplificar a dificuldade que enfrentamos hoje – não do ponto de vista nominal, mas substantivo - quando falos de cidadania”. (1993, p.19).
Libâneo nos propõe uma visão de escola mais responsável pela
construção da cidadania. Segundo ele é função da escola:
“A preparação para o exercício da cidadania, incluindo a autonomia, a participação e o diálogo como princípios educativos, envolve tanto os processos organizacionais internos da escola como articulação com os movimentos e organizações da sociedade civil”. (2004, p.55).
Atualmente, cidadania é uma palavra muito utilizada, principalmente
pelos meios de comunicação, pela escola e pela sociedade. É importante
lembrar que quando falamos em cidadania vem em mente o conhecimento e a
11luta por nossos diretos e também o trabalho que os governantes vem
desenvolvendo para garantir a participação da sociedade, isso porque vemos e
ouvimos noticiários, outdoors, e outros meios de comunicação. Vale ressaltar
que nem toda a população conhece o significado desta palavra e muito menos
tenha atitudes de um cidadão. A Secretaria de Educação Fundamental em seu
livro Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos Parâmetros
Curriculares – PCN’s - referentes às quatro primeiras séries – séries iniciais –
do Ensino Fundamental descreve cidadania como:
“[...] valorização da cultura de sua própria comunidade e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferentes grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da cultura brasileira no âmbito nacional e regional como no que faz parte do patrimônio universal da humanidade”. (PCN’s, 1997, p.46).
Os PCN’s ainda complementam sua descrição de cidadania dirigindo-se
a escola como responsável por esta formação. Observe como ele acrescenta
seu comentário:
“[...] O desenvolvimento de capacidades, como as de relação interpessoal, as cognitivas, as afetivas, as éticas, as estéticas de inserção social, torna-se possível mediante o processo de construção e reconstrução de conhecimentos. [...] Os conhecimentos que se transmitem e se recriam na escola ganham sentido quando são produtos de uma construção dinâmica que se opera na interação constante entre o saber escolar e os demais saberes, entre o que o aluno aprende na escola e o que ele traz para a escola, num processo contínuo e permanente de aquisição, no qual interferem fatores políticos, sociais, culturais e psicológicos”. (PCN’s, 1997, p.46).
Segundo Manzini Covre (1991, p.11-15) para exercer a cidadania é
requerido conhecer seus direitos civis, sociais e políticos. Nos direitos civis está
incluindo disposição de locomoção do próprio corpo, segurança, entre outros.
Nos direitos sociais está incluindo atender as necessidades básicas de cada
um, como alimentação, habitação, saúde, educação, entre outros. Quanto aos
12direitos políticos é requerido que o indivíduo tenha liberdade para se expressar,
para pensar, para decidir-se politicamente e religiosamente.
Esses direitos estão interligados e depende do afetivo exercimento do
outro para que o cidadão assuma seu papel sem ser violado, e sem se
esquecer que “[...] os direitos de uns não podem bater com os outros, pois deve
permitir a todos o direito à vida no sentido pleno” (Covre, 1991, p.15).
Manzini Covre define cidadania como um:
“[...] direito à vida no sentido pleno [...] trata-se de um direito que precisa ser construído coletivamente, não só em termos de atendimento às necessidades básicas, mas de acesso a todos os níveis de existência, incluindo o mais abrangente, o papel do(s) homem(s) no universo”. (1991, p.11).
Para Machado:
“[...] educar para a cidadania significa prover os indivíduos de instrumentos para a plena realização desta participação motivada e competente, desta simbiose entre interesses pessoais e sociais, desta disposição para sentir em si as dores do mundo”. (1997, p.47).
Falar de cidadania, em formar cidadãos críticos e criativos envolve não
só o papel da escola, mas também todos os aspectos da história da
humanidade. Primeiramente, acredito que definir cidadania e conceituar
cidadania ser importante e também necessário. No dicionário Houaiss (2003) o
significado da palavra Definição e da palavra Conceito se apresenta como:
“Definição= 1. descrição.2.fixação, determinação; estabelecimento < d. de um prazo>3.(de) limitação; demarcação < da área do terreno > 4. resolução; decisão;
13deliberação < d. sobre a política salarial > 5. significado, sentido, significação < d. de um vocábulo”. (p.189).
“Conceito= 1. conceituação, dito, essência, idéia, resumo, substância < sintetizou naquele c. a alma brasileira > 2. definição, caracterização, formulação, noção < o c. de beleza é subjetivo> 3.máxima, adágio, ditado, provérbio, sentença < falar por c. > 4. moral: conclusão, ensinamento < c. de uma história > 5. noção, compreensão, concepção, idéia, visão < seu c. de moral é antiquado > 6. nota: avaliação < tirar o conceito máximo em matemática > 7. opinião: convicção, entendimento, juízo, pensamento, ponto de vist5a, visão < em seu conceito o que é melhor ? > 8. pensamento: espírito, intelecto, mente, isso não entra no meu . 9. reputação: cotação, crédito, fama, < ter bom conceito no trabalho”. (p.153).
Ao observar o que o dicionário mostrava sobre o significado da palavra
conceito e definição, fiquei muito preocupada, pois ao começar esta pesquisa
pensei em coletar informações que definissem o que era formar cidadãos, ou
cidadania. Pude perceber através de minhas leituras que os autores
conceituavam “cidadania” não me oferecendo de base para buscar a definição.
Por isso, desenvolvi esta pesquisa escolhendo este tema conceitos de
cidadania.
Compreender o conceito de cidadania envolve conhecer alguns
conceitos já existentes na sociedade, um deles é a questão dos direitos
individuais, onde todos têm seus direitos e seus interesses garantidos por lei,
outro é a garantia de que todo cidadão pode se envolver diretamente e
individualmente nos assuntos governamentais para assim assegurar um “ bem
“ a nível coletivo. Deve-se também ser considerado a visão política de uma
comunidade levando em conta o que pensa sobre a questão da cidadania
(Figueiredo, apud Pimenta; Correa, 2001, p.99-100). Completando este
pensamento:
“No entanto, falta a essa perspectiva a ênfase na ação política, na participação do cidadão na vida pública, o que possibilita a existência de uma participação passiva, de uma conformidade
14política ou, ainda, a produção de uma concepção autoritária do coletivo”. (Figueiredo, apud Pimenta; Correa, 2001, p.100).
Segundo Ferreira (1993) a questão da cidadania tem um peso
considerável na área da Educação, as percepções político-filosóficas
responsabilizam a prática educativa capaz de formar o homem/concreto,
produto/produtor do seu convívio social. Desta forma, cabe então ao professor
interagir com o aluno para juntos descobrirem as necessidades da vida
cotidiana e também supera-las proporcionando uma real demonstração na sala
de aula e definido as possíveis resoluções.
Pude observar em meus estudos o quanto é complicado a questão da
cidadania, principalmente quando vivemos em uma sociedade totalmente
capitalista o qual sabemos que sempre existe algo por trás dos discursos
sociais. A escola, que sempre está em meio a essas discussões fica
diretamente envolvida tornando-se em parte responsável por esta formação. As
opiniões são inúmeras, as realidades também e mais uma vez a escola tenta
acompanhar algumas idéias, seja de professores ou de projetos políticos, vindo
em contrapartida o fracasso, fracasso nas atitudes, fracasso nas tentativas,
fracasso nos relacionamentos profissionais, entre outros.
A garantia da formação do cidadão deve estar presente na escola, nas
políticas públicas, nas comunidades, nas religiões, no professor, na televisão,
nos músicos e cantores, na mídia em geral? É difícil responder essa pergunta
uma vez que, a nossa realidade não condiz com o ideal para garantir a
sociedade seus direitos e cobrar delas suas obrigações. Definir cidadania é
muito complexo, pois a sua atuação não depende só das intenções políticas do
Estado e sim do “vestir a camisa” na luta a favor do bem comum a todos.
As escolas atualmente trabalham com regras. Pra tudo há regras para
falar, para brincar, para sentar, para perguntar, de horário, regras e mais
15regras. Quem garante que essas regras formam ou não cidadãos? Nossos
alunos sabem seguir regras, principalmente quando tem punição ao não
cumprimento delas. Ainda assim acredito que a escola é única instituição capaz
de formar cidadãos e também de transforma-los. Na escola pública ainda
temos o que chamo de força maior, de poder real, pois é somente juntos que
conseguiremos mudar a realidade social dando apoio às crianças e jovens, que
como parte desta geração corrompida também sofrem o desprezo social-
político-econômico.
Para Rousseau a educação tem o papel fundamental na formação do
cidadão, pois onde a criança é orientada a compreender e entender os
problemas do mundo ela se torna capaz de promover mudanças e
transformações quando necessário. Observe as palavras de Rousseau “formar
cidadãos não é tarefa para um dia, para contar com eles quando homem é
preciso instruí-los ainda criança”. (Rosseau, apud Ferreira, 1993, p. 134).
Sendo assim, a convivência na sociedade, no grupo e na família é que o
homem aprende a atuar como cidadão, uma vez afastado das pessoas ele
deixa de agir a favor do bem coletivo passando a olhar apenas para seu
interesse individual.
Na sociedade atual é constante a atuação de pessoas totalmente
individualistas onde requerer direitos é mais significativos que cumprir deveres.
Quando menciono cumprir deveres quero dizer em ter participação consciente
na resolução dos problemas sociais de sua comunidade e até mesmo da
escola onde seu filho estuda. Essa participação deverá vir acompanhada de
comprometimento onde cobrar algo de alguém ou de algum órgão público só
seria possível a partir de uma atitude comprometida, ou seja, para um pai exigir
algo da escola ele deve acompanhar todo o trabalho que a escola está
desenvolvendo com seu filho além de atender as dificuldades para juntos, pais
e escola, tentar resolve-las.
16
Quanto a essa questão, Ferreira faz a seguinte reflexão:
“O direito e o dever de cada cidadão se fundem quando ele participa diretamente na vida coletiva. Tudo ali diz respeito a todos, e ninguém pode isentar-se disso. É a comunidade, portanto que tem o poder maior, como uma força magnética que todos abarca e a mantém gravitando em torno de si [...] A ninguém é dado o direito de escapar de seus deveres para com os outros”. (1993, p.145).
Cabe citar que os esforços políticos vêm sempre tentando elaborar
mecanismos que dêem direito ao cidadão exercer sua cidadania, mas junto
com esses mecanismos eles limitam as ações dos indivíduos quando precisam
atuar nas resoluções dos problemas sociais, desta forma mascaram o que eles
chamam de exercício da cidadania. As raras oportunidades que o Estado
oferece a classe desfavorecida socialmente apenas obscurecem o seu
importante papel nas decisões coletivas. “Não há Estado perfeito e cidadãos
completamente escrupulosos. Há uma margem – a do engano, a da
possibilidade da trapaça – que a própria sociedade forja no indivíduo” (Ferreira,
1993, p. 162).
Arroyo deixa claro o que pensa em relação ao que a escola tem feito
para mudar a situação da sociedade nos deixando, o que acredito ser, uma
esperança. Segundo o pesquisador,
“[...] a escola não, pode preparar para a “cidade”, para cidadania, e tenta salvar da “cidade”; não educa para o convívio social e político, mas tenta educar para que cada um se defenda do caos social; não educa para transformar as condições sociais, mas para prevenir-se dos males da inevitável condição social. Nessa perspectiva, a ênfase na educação como mecanismo de inserção na cidadania não passa de um discurso vazio quando confrontada com essa concepção tão negativa de social. Ainda bem que o povo comum tem outras escolas, onde aprende a ser sujeito de
17direitos e a lutar por eles, sem fugir das cidades, das fábricas e das complexas empresas modernas”. (2003, p.65).
Se consultarmos o minidicionário da Língua portuguesa Ferreira (2001,
p.281) veremos que o nome escola significa ‘estabelecimento público ou
privado onde se ministra ensino coletivo’. Acredito que ensinar coletivamente é
uma tarefa árdua e caso a escola não esteja decidida a empenhar-se nesta
tarefa poderá sentir-se insuficiente na preparação de cidadãos.
Arroyo (2003) mostra que olharmos para a condição social, sem
esperança de melhorias, a escola poderá perder de vista os rumos que a
sociedade caminha e assim deixar de oferecer aos alunos oportunidades para
reflexão sobre a situação atual da sociedade. Concordo plenamente com
Arroyo quando diz que ainda há escolas que ensinam aos indivíduos seus
direitos e a lutar por eles. Mesmo que alguns achem que não é o conhecimento
suficiente a escola não perdeu esperança de formar cidadãos o que a leva a
desenvolver projetos voltados para este tema.
18
CAPÍTULO II
CIDADANIA E EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA
Na antiguidade oriental a Educação acontecia de forma tradicionalista.
Conforme o crescimento técnico, as classes sociais começavam a se dividir
dando origem assim ao Estado. Uma das mais antigas civilizações, o Egito,
usava as terras próximas ao Rio Nilo para se beneficiar das produções
agrícolas e o Estado é quem controlava essa produção. Manacorda reconhece
o Egito como “beco comum da cultura e da instrução”. Observe como ele
discorre informações sobre esta civilização do Egito.
“Pode-se deduzir um povo residente ás margens de um grande rio e com uma agricultura avançada tivesse acumulado e transmitido desde tempos remotíssimos noções de alto nível não somente sobre a agricultura e a agrimensura, mas também sobre as ciências que lhes servem de base: a geometria, para a mediação dos campos, a astronomia, para o conhecimento das estações, e especialmente a matemática [...]”.(2000, p.10).
Por se apegar muito ao saber do passado, o Egito demonstrava muita
resistência a mudanças. A necessidade de sacerdotes e escribas se dava
devido ao afazeres do Estado que crescia cada vez mais, contribuindo assim
para o surgimento da minoria onde faziam parte desta classe os artesãos,
soldados, camponeses e escravos. Nesta época, a escrita era através de
figuras onde os que a dominavam eram pessoas importantes e exerciam
funções especiais e privilégios no Estado. Os fenícios deram maior valor á
escrita feita por meio de sons tornava mais fácil e rápido o aprendizado. A
educação acontecia através de leituras de livros sagrados seguindo de regras
religiosas e morais.
19No Egito o processo de ensino se dava nas casas ou em alguns templos
e somente os filhos da elite tinham oportunidade de receber uma instrução
avançada. O castigo era muito utilizado para disciplinar os alunos e a
memorização como recurso para garantir a aprendizagem o mesmo acontecia
na Índia onde a educação era privilégio somente dos brâhmanes – sacerdotes
– que aprendiam também através de livros sagrados.
Na China, o ensino era o contrário das outras civilizações da
Antiguidade, os funcionários de alta confiança eram letrados e responsáveis
pelo bom funcionamento do Estado. O ensino elementar, o que nós chamamos
hoje de Ensino Fundamental, priorizava a memorização como meio para
aprender a escrita e os cálculos. Os hebreus se diferenciam dos demais povos
desta época. Segundo Arruda os hebreus desenvolviam “uma nova ética
voltada para os valores da pessoa e para a interioridade moral”. (1996, p. 36)
Algumas mudanças começam a ocorrer na Antiguidade Grega. No
período clássico houve um grande crescimento na produção das artes, da
filosofia e da literatura. Os homens livres eram cidadão que podiam se dedicar
a estes estudos tornando-se capazes de estabelecer uma lei humana. É nesse
período que surge a Pedagogia, os gregos começam a elaborar planos para
ação pedagógica onde ensinar a alguém deveria ter objetivos. Para o filósofo
Platão ensinar necessita despertar no homem o que ele já sabe e move-lo agir
para o bem e para sua beleza já existente. A educação física, bem valorizada,
acrescentava valores morais, educação corporal e fornecia conhecimentos
literários e artísticos. O filósofo Aristóteles admira muito homem a capacidade
de pensar e é nisso que o diferencia do animal.
Segundo Arruda a educação das crianças acontecia através da
repetição das ações dos adultos, onde a real finalidade era “ajudar o homem a
alcançar a plenitude e a realização do seu ser, a atualizar as forças que tem
20em potência”. (1996, p.48). Assim Aristóteles, valoriza o pensar como
característica fundamental para o processo da aprendizagem.
A educação grega deu ênfase na formação do corpo e do espírito. As
escolas, além de valorizar a Educação Física, ensinam suas culturas a todos
através das festas nas praças e das atividades coletivas. Duas cidades-estados
se destacaram na Grécia, Esparta e Atenas, a educação dessas cidades
acontecia de forma bem diferente.
Em Atenas, o pedagogo era, normalmente, um velho escravo que
acompanhava as crianças até a escola ensinando as lições e as boas
maneiras. As crianças pobres aprendiam apenas o básico enquanto os filhos
dos ricos davam continuidade aos estudos, deixando bem claro que sua
educação era excludente, elitista e descentralizada. A educação ateniense
valorizava a estética prezada pela arte e pela razão. Inicialmente decorria do
ambiente familiar e tinha como responsável à própria mãe. Posteriormente
somente os meninos eram encaminhados aos pedagogos que os conduzia
como discípulos do conhecimento ensinando-os a Filosofia, Astronomia,
Astrologia, Matemática, entre outros. Depois, cada criança continuava seu
estudo com um pedagogo específico na sua área preferencial. Com aumento
do número de crianças, os pedagogos faziam de suas casas núcleos
formativos passando depois para grandes centros de cultura.
Em Esparta a meta era formar grandes guerreiros. A disciplina era
severa e o aprendizado essencialmente militar e ministrado pelo Estado. Até os
doze anos de idade as crianças tinham acesso a atividades lúdicas onde
estudavam música, canto e dança. Poucos entre os nobres sabiam ler e
escrever, o primordial era saber lutar, para isso as crianças desde cedo – a
partir dos doze anos – recebiam treinamentos específicos que os habilitavam a
ir a para guerra. Observemos o que diz Arruda:
21“Conforme a criança cresce, aumenta o rigor e a educação física se transforma em verdadeiro treino militar. Os jovens aprendem a suportar a fome, o frio, a dormir com desconforto, a vestir de forma a suportar despojada. A educação moral valoriza a obediência, a aceitação dos castigos, o respeito aos mais velhos e privilegia a vida comunitária”. (1996, p.51).
Em Roma, privilegiava-se uma pequena parcela da população.
Pensavam em uma formação voltada para o dia-a-dia, favorecendo os afazeres
políticos. Depois, esta idéia perdeu sua força e as regras gramaticais e as
habilidades literárias, que antes não precisava desenvolver nos indivíduos,
novamente a prevalecer. Arruda comenta da seguinte forma sobre a educação
romana:
“[...] uma educação inicialmente rural, militar, até os requintes da formação enciclopédica, já amalgamada com a cultura grega, embora literária e com ênfase na retórica. Em todos os momentos estava presente certa lentidão no processo de aprendizagem, levado a efeito com métodos penosos de memorização, entremeados com castigos. [...] por se tratar de uma sociedade escravista que desvaloriza o trabalho manual, continua sendo privilegiada a formação intelectual da elite dominante”. (1996, p.67).
Na Idade Média, surgem outros rumos. A direção agora era valorizar a
alma e salva-la resultando assim na vida eterna. O movimento religioso
desenvolvido nos mosteiros, chamado monarquismo, pregava que para
salvação da alma era preciso afastar-se totalmente dos prazeres da carne e
dedicar-se à oração, jejuns, entre outros. As mulheres não tinham
oportunidades de receberam instrução, apenas as filhas dos nobres que nobres
que quando recebiam alguma instrução, aconteciam em seus castelos com
aulas de artes, músicas, religião e trabalhos manuais. Com o crescimento do
comércio e da burguesia a educação medieval sofreu várias influências em
todas as áreas.
22No período do Renascimento o pensar humanístico leva busca de
valores a imagem do homem e da cultura. Neste período as práticas
educacionais da Idade Média são criticadas. Há uma intenção de superar as
idéias religiosas buscando bases naturais para o processo educacional.
Erasmo de Rotterdam, holandês, criticou a educação a base de castigos
defendendo o respeito pela criança. Ele indicou que a aprendizagem deve ser
prazerosa e divertida. O francês Michael de Montaigne, filho de burguesia,
elogiou seu pai por não ter escolhido educadores que aderissem a castigos
severos, para ele a educação deve preparar um indivíduo crítico e ligeiro.
As declarações dos Direitos do Homem e do Cidadão surgiram no
século XVIII no período da Revolução Francesa. O artigo 6 da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão diz assim:
“A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou pelos seus representantes, na sua formação. Ela tem de ser a mesma para todos, quer seja protegendo, quer seja punido. Todos os cidadãos, sendo iguais aos seus olhos, são igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segunda a capacidade deles, e sem outra distinção do que a de suas virtudes e talentos”. (Acesso em 24 de setembro de 2006; www.hystoria.hpg.ig.com.br/declar.html).
Fica claro a defesa dos direitos iguais para todos. Nesta declaração o
homem também passa a ter direito a livre expressão de pensamento e de
acredita. A igualdade entre os homens por natureza e, garantida por lei sendo
tratada como prioridade da sociedade. No artigo 16 da Declaração dos direitos
do homem e do cidadão: 26 de agosto de 1789 mostram a conseqüência da
sociedade que não garante igualdade aos seus cidadãos. Observe como
diz:”Toda sociedade na qual a garantia dos direitos não for assegurada, nem a
repartição dos poderes determinada, não tem constituição” (Acesso em 24 de
setembro; www.hystoria.hpg.ig.com.br/declar.html).
23
Neste período a burguesia conquista seu poder político e passa a
defenderem ideais universais, como por exemplo, a cidadania para todos. Para
a formação de um projeto burguês de sociedade são necessários Educação e
Cidadania, pois o trabalho passa a ser desenvolvido sob novas bases
produtivas mudando as relações entre o empregado e o empregador o que
conseqüentemente modifica as relações de propriedade (Buffa, 2003, p. 11-
12).
Buffa faz um comentário onde entendemos, em parte, o motivo pelo qual
a burguesia passa a defender a educação e cidadania para todos. Segundo a
autora:
“A produção capitalista, ainda na sua forma manufatureira, muda a forma de propriedade. A propriedade capitalista típica será não mais a terra e sim a propriedade dos instrumentos de produção (que não são dádiva da terra) e sobretrabalho. Assim, a propriedade burguesa não é só alguma coisa para possuir, para usufruir, mas sobretudo para vender, para vender, para trocar. Além disso, a propriedade burguesa é, diferentemente da feudal, adquirida pelo trabalho. A partir de agora, e somente a partir de agora, será possível conceituar o homem como trabalhador”. (2003, p.15).
Tantas mudanças, na vida do trabalhador e na organização política de
um Estado, fizeram com que o homem encontrasse novos desafios e, para
supera-los era preciso adquirir novos conhecimentos. Fica claro entender
porque o projeto burguês de sociedade aponta para a Educação e Cidadania
como instrumento capaz de fornecer a este homem conhecimentos úteis para
enfrentar os problemas do cotidiano.
A liberdade de adquirir ou transmitir conhecimentos oferece estabilidade
para aplicação na realidade. Observe essa consideração de Descartes:
24
“É possível (por meio do novo método) chegar a conhecimentos que sejam úteis à vida, e que em vez dessa filosofia especulativa que se ensina nas escolas, pode-se encontrar uma (filosofia) prática, pela qual, conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do ar, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos cercam, tão distintamente como conhecemos os diversos ofícios de nossos usos aos quais eles são próprios e assim nos tornamos mestres e artesão, nós os poderíamos empregar do mesmo modo e a todo os possuidores da natureza”. (Descartes, apud Buffa, 1993, p. 16).
Para mudar a realidade é necessário traçar metas bem planejadas uma
vez que as influências da autoridade e dos interesses políticos estão sempre
buscando um jeito de interferir os conhecimentos transmitidos pela escola, pois
dominando esses conhecimentos domina assim a sociedade. A escola para
transmitir novos conhecimentos deve estar atenta para não sofrer
interferências políticas que possam limitar e reprimir nossos alunos
dificultando a formação do senso crítico.
No decorrer do século XVIII a continuidade do processo educacional
enfatiza a estabilidade do bem estar social, do progresso e da capacidade de
transformação. O método de ensino passa a ser preocupante iniciando um
grande interesse, da parte do governo, pelo ensino técnico fazendo dele o
responsável por esta formação.
As propostas de mudanças na educação do século XVIII caminham para
maior concretização no século XIX. É neste período que a idéia da escola
tornar-se gratuita, obrigatória e leiga fica forte fazendo do Estado o responsável
por esta construção. Mas ainda há diferenciação do ensino. A escola elementar
atende apenas os filhos da elite burguesa enquanto os filhos do trabalhador
tinham uma instrução técnica.
25Arruda afirma que “o objetivo dos educadores do século XIX é formar a
consciência moral e patriótica do cidadão”. (1996, p.146). Na França, no início
do século XIX adotava-se uma política e autoritária. A educação elementar era
executada pelos religiosos, e a educação secundária e universitária efetivada
com mais atenção. Logo o ensino foi reorganizado dando apoio ao ensino
técnico e a formação de professores. A escola passou então a ser gratuita,
obrigatória e leiga.
Mudanças continuam ocorrendo no sistema educacional. As diversas
teorias que surgiram infiltram a mentalidade dos educadores do século XX. Os
avanços dos países sempre vinham acompanhados pelos interesses políticos.
Neste século exigia-se cada vez mais que o Estado ofereça escolas públicas
gratuitas, obrigatórias e leigas. A educação depara-se com diversas teorias de
apoio das áreas de psicologia, filosofia e sociologia. Nas atividades
educacionais consideráveis resistências são encontradas nos profissionais,
especialmente nos professores. Os progressos tecnológicos que faz com que
as informações cheguem até as pessoas mais rápidas, também intimidam a
atitude do educador, que muitas vezes por falta de acesso a essas informações
sente dificuldade de direcionamento nas aulas. Arruda faz um comentário que
creio ser importante para esclarecer o contexto histórico deste século, que
século, que segundo ela, passa por uma crise. Observe:
“[...] crise indica o sentido de situação difícil, de desafios, mas tem a mesma raiz de julgamento, e portanto de crítica. Ou seja, significa a constatação do envelhecimento de alguma coisa que não serve mais, e ao mesmo tempo o esforço para atender, julgar e escolher ou melhor, inventar os novos caminhos”.(1996, p.163).
Esta crise mencionada por Arruda mostra o desencontro que há entre o
século XIX e XX. Propostas de organizar uma escola pública, obrigatória, leiga
e gratuita não foram realizadas universalmente. As críticas feitas à escola
tradicional, as tentativas da escola nova, as idéias da teoria tecnicista entre
26outras, chegando ao construtivismo são fatos que esclarecem o empenho, para
através da escola pública, melhorar a preparação do homem para exercer sua
cidadania.
Os aspectos político-econômico influenciaram, e acredito que ainda
influenciam seriamente nas negociações de melhorias educacionais, pois os
que pertencem à classe desfavorecida ainda são vistos como não cidadãos.
Podemos relembrar da Grécia onde cidadão era somente aquele que atuava
politicamente. Atualmente a escola continua sendo vista como instituição que
deve preparar o homem para exercer seu papel na sociedade, ou seja, e é lá
que deve ser formado o cidadão.
Chegando ao final deste capítulo é válido citar as palavras de Ferreira
sobre cidadão contemporâneo:
“Não obstante também os nossos excluídos também são cidadãos cujo direito à vista, à liberdade e à posse são reduzidos à doença, a submissão e a miséria. Pois tudo isso faz parte do capitalismo contemporâneo, principalmente no Terceiro Mundo, que nega assim o princípio do mercado, põe em xeque o princípio do Estado o inviabiliza o princípio da comunidade”. (Ferreira, 1993, p.163).
Concordo parcialmente com Ferreira. Sei que muitos não têm acesso
para conhecer seus direitos e outros conhecem e não tem oportunidade para
usufruí-lo. Por isso, a educação depara-se com desafios que a torna
responsável em despertar no homem à coragem para mudar esta realidade.
A secretária de educação fundamental descreve a responsabilidade do
papel da escola dizendo assim:
27“A escola, [...] abre a oportunidade para que o aluno aprenda sobre temas normalmente excluído e atua propositalmente na formação de valores e atitudes do sujeito em relação ao outro, á política, à economia, ao sexo, à droga, à saúde, ao meio ambiente, à tecnologia, etc. Um ensino de qualidade, que busca formar cidadãos capazes de interferir criticamente na realidade para transforma-la, deve também contemplar o desenvolvimento de capacidades que possibilitem adaptações às condições e alternativas de trabalho que temos hoje e a lidar com a rapidez na produção e na circulação de novos conhecimentos e informações, que têm sido avassaladores e crescentes”. (PCN’s, 1997, p.47).
Encontra-se a educação atual, em meu ponto de vista, cheias de
obrigações e atravessando os muitos problemas sociais e econômicos sempre
com objetivo de contribuir para a formação de uma sociedade capaz de lutar
pelos seus direitos e buscar melhorias para a sociedade.
28
CAPÍTULO III
CIDADANIA E EDUCAÇÃO NO BRASIL
A educação brasileira no período colonial teve como primordial os
interesses políticos prevalecentes desta época. Religiosamente educava-se o
povo. Os jesuítas, que chegaram ao Brasil especialmente para catequizar os
índios, os vestiam com seus costumes, suas tradições, seus valores. Esta
educação transmitida pelos jesuítas era dotada de controles morais além de
conversão da fé para o cristianismo. Neste período os objetivos educacionais
ainda não estão definidos, pois os interesses políticos sobressaiam. Arruda
confirma a força da igreja na educação dizendo assim:
“No campo da educação, enquanto na Europa estabelecia-se a contradição entre o ideal da pedagogia realista e a forma conservadora, no Brasil a atuação da igreja foi muito mais forte e duradoura”. (1996, p.116)
Segundo Ghiraldelli Junior (2003) no período imperial a educação
brasileira foi se estruturando em três etapas: o ensino primário onde os alunos
aprendiam a ler e a escrever, o ensino secundário onde recebiam aulas de
latim, grego, entre outras e o ensino superior. Este período foi marcado por
várias realizações educacionais entre elas a criação de escolas. Leônico
Carvalho, professor universitário e também ministro do império constituiu no
ensino primário e secundário a “liberdade de ensino”, decreto nº 7.247 que ele
promulgou na Assembléia.
29 Ghiraldelli Junior descreve como se dava esta liberdade:
“Por liberdade de ensino” a nova lei entendia que todos os que se achassem, por julgamento próprio, capacitados a ensinar, poderiam expor suas idéias e adotar os métodos que lhes conviessem. [...] também entendia que o trabalho do magistério era incompatível com aquele exercido em cargos públicos e administrativos. [...] a freqüência dos cursos secundários e superiores era livre, que os alunos poderiam aprender com que lhes conviesse e, ao final, deveriam se submeter a exames de seus estabelecimentos”. (Ghiraldelli Junior, 2003, p.13).
Lendo este relato de Ghiraldelli Junior observo a maneira com que se
administrava a educação brasileira o que não fica difícil entender porque
atualmente o processo educacional ainda tem tantos acertos a fazer. As
instituições brasileiras se organizaram nesta época por matéria encaminhando
os alunos e fazerem exames rigorosos no final. Ghiraldelli Junior conclui este
período assim:
“O império, com tal procedimento, tornou o ensino brasileiro menos um projeto educacional público e mais um sistema de exames, característica esta que mutatis mutandis permaneceu durante a Primeira República e deixou seus resquícios até hoje”. (Ghiraldelli, 2003, p.13)
A população brasileira sempre passou por grandes dificuldades,
principalmente na época da transição do feudalismo para o capitalismo.
Quando Brasil começou a adquirir sua liberdade, indiretamente dominado pelo
capitalismo, seu povo foi muito explorado com a inserção desta nova política.
Os povos aqui viviam em verdadeira pobreza e com respeito aos seus direitos
estes eram bem restritos.
Atravessando muitas dificuldades o Brasil foi superando seus problemas
sociais, uma delas foi conseguir a liberdade de Portugal com a ajuda da
Inglaterra, que ajudou não só o Brasil e sim grande parte da América Latina,
30mas que também posteriormente passou a explorá-lo. Nestes períodos
somente os da elite gozavam de seus direitos de cidadão.
Em meados do século XIX, a educação passava por várias contradições.
O ensino ainda encontrava-se fragmentado, privilegiado a classe dominante.
Havia uma contradição transparente quanto ao processo político educacional,
pois ao mesmo tempo em que se construíam escolas elaboravam também
projetos de leis, ou seja, ainda não havia uma determinação do governo para
direcionar suas atitudes em relação à educação.
Essa lentidão e descentralizado do sistema educacional acarretaram
sérios problemas para o Brasil. Arruda mostra um pouco sobre esta situação.
Segundo a pesquisadora, “[...] os poucos liceus provinciais fundados pela
iniciativa pública enfrentam dificuldades diversas, professores mal habilitados e
até de insuficiente número de alunos, o que leva muitos a fecharem as portas”.
(1996, p.54)
Em meados das décadas de 1910 o povo brasileiro enfrentou e também
fez muitas lutas e movimentações importantes a favor de melhores condições
de vida para a sociedade. As classes dominantes eram bem resistentes em
relação às movimentações brasileiras, pois se empenhavam em praticar a
exploração para enriquecimento de sua nação.
Segundo Saviani (2003), a educação começa a se organizar a partir do
princípio de que ela é direito de todos e dever do Estado, tendo como objetivo
livrar o homem de sua ignorância e transforma-lo em cidadão. A marginalidade,
muitas vezes mencionadas por Saviani, é conseqüência da ignorância. Neste
caso, a escola é colocada como instrumento transmissor de conhecimento que
livrar o homem da marginalidade. Observemos as palavras de Saviani:
31“A marginalidade é vista como um problema social e a educação, que dispõe de autonomia em relação à sociedade, estaria, por esta razão, capacitada a intervir eficazmente na sociedade, transformando-a, tornando-a melhor, corrigindo as injustiças; em suma, promovendo a equalização social”. (2003, p.15)
O Ministério da Educação – MEC – tem mostrado sua preocupação com
atitude das escolas na formação dos nossos alunos. A necessidade de se
preparar o aluno para a realidade sócio-político-econômico do nosso país fez
com o MEC elaborasse propostas de ensino com o objetivo de resgatar os
valores da escola e da sociedade lançando ao acesso dos professores os
Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Infantil até o ensino
fundamental.
Atualmente o Brasil ainda enfrenta sérios problemas na área
educacional, problemas que afeta diretamente a continuidade do processo de
aprendizagem da criança. Entre os problemas há a violência, a evasão, a
reprovação, a incompetência profissional, a falta de professores qualificados o
que resulta no grande número de salas de aula sem professor, a falta de apoio
da família, a falta de tempo dos pais, que por necessidade, trabalham fora
deixando seus filhos nas mãos de outras pessoas, entre outros. Esses
problemas refletem sérias conseqüência na sociedade e faz com que a escola
se pergunte sobre seu trabalho como instituição de ensino nesta sociedade.
Corroborando com Gadotti:
“Nunca o discurso da autonomia, cidadania e participação no espaço escolar ganhou tanta força. Este têm sido temas marcantes do debate educacional brasileiro de hoje. Essa preocupação tem-se traduzido sobretudo pela reivindicação de um projeto político pedagógico próprio de cada escola”. (1997, p.34).
32
Nesse discurso o pesquisador confirma o esforço do Mec ao elaborar
projetos que visam garantir a formação no espaço escolar. Segundo Gadotti
(1997, p.38) a “cidadania é essencialmente consciência de direitos e deveres e
exercício da democracia. Não há cidadania sem democracia”. Como já
mencionado nesta pesquisa a democracia envolve direitos civis, sociais e
políticos em que o estado deve garantir à sociedade. A autonomia também é
mencionada, pois acredito ser necessária para que a sociedade possa garantir
sua participação nas decisões dos problemas atuais.
É nesta visão de educação que atualmente o Brasil vem direcionando
seu trabalho pedagógico. Desta forma, acredito plenamente nas palavras de
Gadotti diz assim:
“Enfim, trata-se de construir uma escola pública universal –para todos, unificada, mas que respeite as diferenças locais , regionais, multiculturalidade, idéia tão cara de teoria da educação popular. O grande desafio da escola está em garantir um padrão de qualidade (para todos) e, ao mesmo tempo, respeitar diversidade local, étnica, social e cultural. Portanto o nosso desafio educacional continua sendo educar e ser educado”. (1997, p.46).
Observando essas palavras de Gadotti, acredito que a escola pública
brasileira, apesar das influências políticos, sociais e econômicos deve está
lutando para resgatar valores morais e sociais respeitando a identidade do
aluno, pois superar seus desafios do cotidiano e assegurar o cumprimento das
propostas educacionais que visam garantir a formação do cidadão faz parte da
construção de uma escola pública universal:
“É cada vez mais evidente que a preparação de cidadãos competentes para atuar de forma crítica e responsável na construção de uma sociedade mais justa, democrática e desenvolvida exige um perfil de qualificação em que o
33desenvolvimento das inteligências cognitiva, emocional e afetiva será decisivo na formação das crianças e jovens para a sua pela inserção social e no mundo do trabalho. É preciso, portanto, assegurar-lhe uma formação ética e solidária, solucionar e processar informações com autonomia e raciocínio crítico. É preciso dar-lhes condições de utilizar os conhecimentos adquiridos para que tenham novas oportunidades num mundo cada vez mais complexo e competitivo”. (Castro, apud Libâneo, 2004, p.245).
34
CONCLUSÃO
Quando se fala de cidadania, em formar cidadãos críticos e criativos,
temos que ver que não envolve somente o papel da escola, mas todos os
aspectos. Assim como ressalta Rousseau de que a educação tem um papel
importantíssimo na formação do cidadão, onde a criança é orientada a
compreender e entender os problemas do mundo, tornando-a capaz
transformar quando se é preciso.
Já no capítulo Cidadania e Educação Ao Longo da História, os hebreus
utilizavam a memorização como meio de aprender a escrita, sendo assim
desenvolvida uma nova ética para os valores da pessoa e moral, o pensar para
Aristóteles é muito importante para o processo de aprendizagem.
Como foi visto nos capítulos, a escola ainda continua sendo vista como
instituição que deve preparar o homem para exercer seu papel na sociedade,
ela ainda sofre influências político-econômicas e, ainda assim nela se atribui a
possibilidade de melhoria da vida em sociedade.
Ferreira acredita que:
“A convivência social se desenvolve contando com determinantes econômicos, políticos, históricos, e culturais. A vida cotidiana tem dimensões econômicas, mas também estéticas, religiosas, morais e políticas. Todo esse elenco precisa ser considerado quando se enfoca a formação do cidadão, aquele que precisa aprender a difícil arte de viver no espaço público [...] Conviver, então, demanda reciprocidade, solidariedade, respeito ao próximo e, acima de tudo generosidade”. (1993, p.220)
A escola precisa assumir o compromisso de garantir a aprendizagem do
aluno acreditar numa sociedade em que todos possam exercer sua cidadania.
Concluo, acreditando ser possível que a escola supere os desafios
atuais e assim garanta uma educação de qualidade formando cidadãos não
35temerosos dos poderes de Estado, mas sim capazes de exigir seus direitos
civis, sociais e políticos.
36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à Metodologia do Trabalho
Científico. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.
ANDRÉ, Marli Elisa Dalmazo Afonso de. Etnografia da Prática Escolar.
Campinas: Papirus, 1995.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo:
Moderna, 1996.
BUFFA, Éster; ARROYO, Miguel; NOSELLA, Paolo. Educação e
Cidadania: Quem educa o cidadão? 11 ed. São Paulo, Cortez, 2003.
COUTINHO, Adriana Nadja Lélis. Educação para a Cidadania: O discurso
dos suplementos For Teens e Folha Teens. 2001. Disponível em:
www.capes.gov.br. Acesso em: 13 agosto de 2006.
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÂO: 26
de agosto de 1879. c.2005. Disponível em:
www.hystoria.hpg.ig.com.br/declar.html. Acesso em: 24 de setembro de
2006.
DICIONÁRIO HOUAISS de sinônimos e antônimos da Língua Portuguesa.
Rio de janeiro: objetiva, 2003.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, 1910-1989. Miniaurélio Século XXI
Escolar: O minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: nova Fronteira,
2001.
FERREIRA, Nilda Teves. Cidadania: Uma questão para educação. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
37
FIGUEIREDO, Myrna Pimenta de. Importância e Entraves para a Articulação
Pública: A influência da cidadania no desenvolvimento local. In: PIMENTA,
Solange Maria: CORRÊA, Maria Laetitia. Gestão, Trabalho e Cidadania:
Novas Articulações. Belo Horizonte: Autêntica/CEPEAD/FACE/UFMEG, 2001.
GADOTTI, Moacyr; ROMÃO, José E. (orgs). Autonomia da Escola:
Princípios e Propostas. São Paulo: Cortez, 1997.
GHIRALDELLI Junior, Paulo. Filosofia e História da Educação Brasileira.
Barueri: Manole, 2003.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: Teoria e Prática.
Goiânia: Editora Alternativa, 2004.
LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em Educação: Abordagens
qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MACHADO, Nilson José. Ensaios Transversais: Cidadania e Educação. São
Paulo: Escrituras Editora,1997.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação: Da antiguidade aos
nossos dias. São Paulo: Cortez, 2000.
MANZINI COVRE, Maria de Lourdes. O que é Cidadania. São Paulo:
Brasilense, 2003.
PCN. “Parâmetros Curriculares Nacionais”: Introdução. Secretária de
Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF,1997.
SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: Teorias da educação, curvatura
da vara, onze teses sobre educação política. Campinas, SP: Autores
Associados, 2003.
39
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA
Nome: Patrícia de Souza Bastos
Curso: Pós Graduação em Psicopedagogia
Turma: C010
Orientadora: Ana Paula Lettieri Fulco
Avaliador (a): ___________________________________________________
Conceito: ______________________________________________________