O Conceito de Alegoria em Karl Philipp Moritz

download O Conceito de Alegoria em Karl Philipp Moritz

of 3

description

Delineamento das noções de alegoria e Belo em K. P. Moritz.

Transcript of O Conceito de Alegoria em Karl Philipp Moritz

O CONCEITO DE ALEGORIA EM KARL PHILIPP MORITZ

Rodney Ferreira[footnoteRef:0] [0: Aluno do 3 semestre de graduao em Filosofia (FFLCH/USP).]

Universidade de So Paulo, So Paulo, SP2015

Introduo

Partindo da anlise feita por Moritz, cujo texto est contido em sua obra Viagem de um Alemo Itlia, sobre as obras Aurora e Fortuna, ambas do pintor barroco Guido Reni (1575 1642), poderemos de modo razoavelmente seguro determinar quais so as impresses e proposies de Moritz acerca do aspecto alegrico no interior de uma obra de arte. Aps tal, tentar-se- associar e (ou) confront-las com as respectivas concepes da ideia de alegoria nos demais autores que trataram de sua posio no interior da discusso esttica.

Aurora e Fortuna; Alegoria e Belo

Aps uma breve introduo em que se comenta a melhor posio corporal para a apreciao dos afrescos italianos supracitados, pontua-se as impresses da obra Aurora, acerca da qual Moritz observa que

(...) o artista no teve a finalidade de despertar, por meio de sua pintura, a ideia de aurora, mas a ideia de aurora lhe forneceu a ocasio da composio de um grupo to belo, o qual agradaria sempre, mesmo se no tivesse tambm nenhum significado alegrico.

Ou seja, a aurora enquanto ideia de um fenmeno, ou enquanto ele em si, um elemento de ativao do processo composicional, cujo no entanto no afirmado como finalidade significativa da obra, uma vez que a beleza no estaria comportada na representao to-somente, mas antes no grupo belo, que em sua composio simples alheio ainda s personagens da deusa, do grupo de horas danantes, da biga de Apolo a carregar o sol etc. antecede mesmo o que representa. Com efeito, a alegoria da fortuna de igual modo no se faz o ncleo do significado da pintura em que est inserida; o que o produz so a harmonia e concordncia, presentes na postura, proporo, cores, contornos e intensidades cromticas que formam um todo holstico, no qual a unidade das partes faz nascer uma obra bela. A impresso do todo em sua graciosidade harmnica e concordante deve ser o enfoque principal na composio. A alegoria surge aqui como uma espcie de excrecncia do impulso da ideia ou do fenmeno que inspirou o autor. Em um jogo de ordens, pode-se dizer que o primordial condicionante composicional de uma pintura se encontra na inspirao, que surge no caso de pinturas como as supracitadas a partir de uma ideia; o segundo e principal seria a realizao da expresso do artista atravs do disposicionamento das partes, que por si mesmas, se realizadas com a destreza necessria, traro luz a substncia de belo. Por ltimo, ento, a ideia enquanto representao pictrica ganha lugar, sendo elemento secundrio. Em sentido de maior nitidez de exposio, Moritz prope que a alegoria por si s no tem mais valor de belo do que as letras ou hierglifos, cujos, tal como smbolos, no alcanam principalmente a beleza. Ora, no o belo que deve ser guiado pela alegoria, tencionando-se a mirar na significao do que h alm de si, e assim arriscando tangenciar sua razo de ser; mas sim a beleza que deve ser o ideal que rege os elementos de composio, incluindo os secundrios como a alegoria, de maneira a dar-lhe, atravs da composio artstica, significado alm do mero artefato ocioso. A arte independente em sua essncia de belo, que seu principal objetivo e que est em si mesma, ela significa a si mesma; a alegoria, por outro lado, necessita da obra para se materializar, assim como tambm necessita que seja bela para que possa adquirir alguma colorao e no se fixar na palidez da mera dimenso smbolica.Conclu-se, portanto, que, para Moritz, a alegoria ocupa um papel secundrio e potencialmente descartvel nas obras de arte, uma vez que um elemento subordinrio e casual, orbitando-lhe o ncleo, em que se pode inferir a entender que habita ao limiar do excessivo. Se possvel a leitura de que a alegoria pode ser uma continuao natural da obra, uma vez que esta abastecida pela ocasio da ideia, invisvel (como a fortuna); ou do fenmeno, que pode ser tanto invisvel (sensao de angstia ou desespero, por exemplo) quanto visvel (contemplar a aurora), que ter como coisa posterior ao belo uma imagem sua; tambm o a de que uma alegoria que gere discrdia ao significado da obra, contradizendo e suprimindo a beleza interior de uma figura em decorrncia das deformaes, usando o mesmo exemplo de Moritz, de alegorias como a da esttua que representa a ideia de Justia, onde a postura corporal e os objetos entram a todo modo momento em conflito objetivando representar um grande nmero de significados, perde-se direo harmnica e se torna incongruente e discordante isto , feia e intil, dado que no representa e no possui em si mais do que o que j est na prpria ideia abstrata de Justia. [footnoteRef:1] [1: possvel fazer aqui, pois, certa aproximao, a partir da alegoria, ao que Winckelmann prope em torno do modelo ideal de ornamento, e que acaba por referenciar tambm a Krubsacius: a busca pelo espontneo e harmnico, em combate ao anti-natural e dissonante. ]