O Clamor de Um Desviado - Lloyd Jones

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O Clamor de um Desviado

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  • O Clamor de um DesviadoO Clamor de um DesviadoEstudos sobre o Salmo 51

    D. M. Lloyd - Jones

    PES - Publicaes Evanglicas SelecionadasTitulo original: Out of the Depths

  • NDICE

    Prefcio ................................................................................. 4

    1. A Confisso do Pecador ..................................................... 5

    2. O Desespero do Pecador .................................................. 21

    3. A Principal Necessidade do Pecador ................................ 39

    4. Libertao e Nova Vida .................................................... 55

  • PREFCIO

    Estou feliz em ter o privilgio de apresentar este livro. Ele consiste de uma srie de sermes sobre o Salmo 51, pregados nos cultos vespertinos aos domingos na Capela de Westminster em outubro de 1949.

    Esta no a primeira srie de sermes do meu marido sobre o Velho Testamento a ser publicada, e a minha sincera esperana que outras possam segui-la. Para mim, estes sermes trazem de volta algumas gloriosas memrias de domingos noite de anos passados.

    Eu nunca leio Lucas 24:44,45 sem desejar que ns pudssemos ter estado naquela maravilhosa companhia, para ouvir o nosso prprio Senhor mostrando a Seus discpulos o evangelho no Velho Testamento. Seja como for, Ele nos antecedeu no caminho, e o Esprito Santo sempre usar Seus servos para nos iluminar. Queira Deus usar este livro para o enriquecimento de almas e para a Sua glria.

    Bethan Lloyd-Jones

  • 1. A CONFISSO DO PECADOR

    Tem misericrdia de mim, Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgresses, segundo a multido das tuas misericrdias. Lava-me completamente da minha iniqidade, e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheo as minhas transgresses, e o meu pecado est sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que mal tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. Eis que em iniqidade fui formado, e em pecado me concebeu minha me.

    Salmo 51:1-5

    Normalmente admitido que o Salmo cinqenta e um talvez seja a exposio clssica no Velho Testamento sobre a questo do arrependimento. De fato, h um sentido em que se pode afirmar que talvez ele seja a exposio clssica sobre este assunto de arrependimento na Bblia inteira. Ele o registro da agonia da alma de Davi, o rei de Israel, aps ter sido culpado de um crime particularmente terrvel. Um pequeno sub-ttulo na Verso Autorizada (Authorized Version) diz: para o msico-mor, um Salmo de Davi, quando o profeta Nata veio a ele, aps Davi ter possudo a Bate-Seba. Noutras palavras, h um sentido em que no podemos compreender verdadeiramente este Salmo e seu ensino at que tenhamos em mente o pano de fundo que lhe deu existncia.

    uma histria muito desagradvel. Todavia, devo lembrar-lhe dela porque a vida pode ser desagradvel. Infelizmente, todos ns somos capazes de fazer coisas

  • desagradveis. A histria em sua essncia esta: Davi era o rei de Israel,e neste momento particular no seu reinado, seus exrcitos estavam ocupados numa guerra. O prprio Davi no estava com o exrcito; ele tinha permanecido em Jerusalm. -nos dito que um dia aconteceu que ele estava assentado no terrao da sua casa, olhando, aparentemente distrado, distncia, quando viu uma linda mulher. A mulher era a esposa de um homem que estava combatendo com os exrcitos de Davi contra o inimigo. Davi, tendo olhado, e gostado da mulher, cobiou-a e ordenou que ela fosse trazida a ele. Ela veio e ele cometeu adultrio com ela. Ele a seduziu. Ento, para cobrir o seu pecado, ele comunicou com seu comandante-chefe, Joabe, e mandou dizer-lhe que enviasse para casa Urias, o heteu, o marido daquela mulher. Ele veio e teve uma entrevista com o rei. O rei, ento, o despediu e o mandou para casa.

    Mas Urias era um homem honrado e no foi para casa e para sua esposa. Ele sentiu que no deveria fazer isso quando os exrcitos do rei estavam no campo de batalha e quando talvez o destino de Israel estivesse em perigo. Ele disse: No, no!!!... eu no posso fazer isso, e ele dormiu na soleira da porta (do palcio). O rei ouviu isso e fez o pobre homem beber, numa tentativa de envi-lo para sua casa. Contudo, novamente Urias recusou. Ento Davi escreveu uma carta para Joabe e a enviou por mos de Urias. Com efeito, ele disse: eu quero ficar livre deste homem; voc deve de uma forma ou de outra coloc-lo frente da batalha. Joabe executou a ordem. Organizou para que Urias, o heteu, e outros, fossem colocados frente da batalha, onde a maioria dos homens valentes do exrcito inimigo estava presente. O pobre Urias foi morto. Desse modo, Davi obteve o que pretendia, foi satisfeito e tomou a mulher, Bate-Seba, a esposa de Urias, para ser uma de suas esposas. Tudo parecia perfeitamente bem. ...porm esta coisa que Davi fez pareceu mal aos olhos do Senhor (2 Samuel 11:27).

    Davi, entretanto, estava totalmente feliz, at que Deus

  • lhe enviou o profeta Nat. Nat disse ao rei: eu tenho algo triste a relatar a voc. Havia dois homens em seu reino; um era um homem rico e tinha grande rebanho e uma abundncia de ovelhas e bois; e havia outro homem, um homem muito pobre que tinha apenas uma cordeirinha. Ela era um tipo de animal de estimao para ele. Mas aconteceu que quando algum fez uma visita para o grande homem rico, em vez de matar uma de suas prprias ovelhas, ele tomou a cordeirinha do pobre homem e a matou e preparou-a para seu hspede. O proprietrio pobre foi esmagado pela dor. Davi levantou-se irado e declarou: o homem que cometeu essa coisa to monstruosa deve ser punido imediatamente! Nat, ento, interrompeu-o e disse: tu s o homem!, indicando com isso que ele tinha proferido uma parbola para lembr-lo e lhe destacar aquilo que ele mesmo havia feito no caso de Urias, o heteu. Esse o pano de fundo. Davi, subitamente, olha-o e tomado por um sentimento de culpa e horror, e foi nessa condio que ele escreveu este Salmo cinqenta e um. A est a histria, a o pano de fundo. Pois bem, espero estudar este Salmo com vocs, porque ele encaminha a nossa ateno de maneira bem patente e convincente para algumas das verdades bsicas e fatos concernentes nossa vida neste mundo. Ele esquadrinha especialmente o grande assunto da nossa salvao.

    De acordo com a Bblia, h certos passos que precisamos dar, necessariamente, antes que possamos conhecer a salvao de Deus em Jesus Cristo. Vamos igreja domingo aps domingo, porque estamos interessados na propagao do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Minha nica razo para me levantar no plpito que eu creio que aqui neste Livro est contido o caminho de Deus para a salvao da humanidade. Ele a coisa principal que o mundo necessita hoje. Ele a resposta para a necessidade do homem, e contudo, homens e mulheres o ignoram e o desprezam. H muitos que esto interessados nele, e todavia eles no tm experimentado seu poder e graa salvadora. Por qu? Bem, eu simplesmente respondo que devido eles no

  • terem percebido que h certas coisas que devem acontecer antes que um homem possa experimentar a grande salvao que se encontra neste evangelho. H certas coisas que devemos captar, que devemos agarrar, que devemos crer, e a primeira destas o arrependimento. Essa a razo pela qual estamos comeando com este Salmo; devemos ser claros quanto a questo total do arrependimento.

    Leiam o caso de qualquer convertido que podem encontrar na Bblia, e vocs sempre percebero que este elemento o arrependimento est presente. Leiam as vidas dos santos, leiam a histria de homens que brilharam na Igreja de Deus em tempos passados, e verificaro que cada homem que realmente conheceu a experincia e o poder da graa de Deus em sua vida foi sempre um homem que demonstrou evidncia de arrependimento. Portanto eu no hesito em fazer esta afirmao: sem arrependimento no h salvao. A necessidade de arrependimento um daqueles absolutos a respeito dos quais a Bblia no discute. Ela simplesmente o afirma. Ela simplesmente o postula. impossvel, eu afirmo, um homem se tornar cristo sem arrependimento; nenhum homem pode experimentar a salvao crist at que conhea o que arrepender-se. Por conseguinte, insisto que este um assunto vital. Joo Batista quando iniciou seu ministrio comeou pregando o batismo de arrependimento para a remisso de pecados. Essa foi a primeira mensagem do primeiro pregador. Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, sabemos pelo relato de Marcos, por Sua vez comeou Seu ministrio pregando que os homens deveriam arrepender-se. Arrependimento absolutamente vital. Paulo tambm pregou arrependimento para com Deus e f em nosso Senhor Jesus Cristo. Pedro pregou no dia de Pentecoste o primeiro sermo sob o patrocnio da Igreja Crist, e quando ele terminou certas pessoas clamaram, dizendo: Que devemos fazer? Arrependei-vos! disse Pedro. Sem arrependimento no h conhecimento de salvao, no h experincia de salvao. um passo essencial. Este o primeiro passo.

  • Muito bem, diz algum, O que voc quer dizer quando afirma que devemos nos arrepender? Respondo: este Salmo uma exposio clssica sobre todo o assunto e doutrina do arrependimento. Neste primeiro estudo, quero apenas tratar de um aspecto e de um passo daquilo que considero o primeiro passo no arrependimento. convico do pecado, ou, se vocs preferirem, a confisso de nossa pecaminosidade. Se se importarem em dar um ttulo a este sermo, poderiam dizer que iremos tratar da confisso do pecador, nossa convico de pecado e a confisso de nossa pecaminosidade.

    Aqui, novamente, algo que no hesito em descrever como um absoluto essencial. devido os homens no perceberem o ensino bblico concernente ao pecado que eles falham em compreender muitas outras coisas que esto presentes no evangelho cristo. H tantas pessoas hoje que afirmam no ver a necessidade da encarnao; que no compreendem tudo o que se diz a respeito do Filho de Deus precisar descer para a terra; elas no entendem todo este falar a respeito de milagres e o sobrenatural; que no compreendem esta idia da expiao e termos tais como justificao, santificao e o novo nascimento. Elas afirmam que no compreendem por que tudo isso parece ser necessrio. Argumentariam da seguinte maneira: No seria na Igreja que todas essas teorias tm sido desenvolvidas, essas idias puramente abstratas? No seriam essas as coisas que tem excitado as mentes dos telogos? O que elas tm a fazer conosco, e onde est a relevncia prtica delas? Eu gostaria de salientar que pessoas que falam assim, o fazem porque no tem entendido a verdade acerca do pecado. Elas no percebem o verdadeiro significado do ensino bblico a respeito do pecado. No percebem que elas mesmas so pecadoras. Mas a Bblia, em veemente contraste, insiste constantemente sobre isto do comeo ao fim. Na verdade, eu colocaria o desafio da Bblia ao mundo moderno nesta forma: ela nos afirma que a vida do homem, seja individual ou coletivamente, simplesmente no pode ser compreendida

  • parte da doutrina do pecado. Aqui ns estamos neste mundo moderno e complicado; estamos conscientes que alguma coisa est errada, e a pergunta : O que est errado? Os polticos parecem no ser capazes de resolver os nossos problemas. Os filsofos esto fazendo perguntas, porm parece que eles no podem respond-las. Todos os nossos esforos no conseguem colocar o mundo em ordem. A Bblia diz: Vocs esto ignorando a nica coisa que a chave para a situao! o pecado. Eis a causa da angstia dos indivduos, dos relacionamentos humanos mais ntimos, dos relacionamentos internacionais em toda parte. A est o problema.

    A Bblia enfatiza isso em todo lugar, e de uma maneira admiravelmente honesta. Para mim, isso realmente uma das coisas mais extraordinrias, mais fascinantes acerca deste Livro. Ele no encobre nada. No posso entender o homem que no cr neste Livro como o Livro de Deus. Ele muito honesto. Ele no procura ocultar as faltas de seus maiores heris. As Escrituras no tentam construir uma grande imagem de uma srie de heris sem defeito. A mitologia faz isso e a humanidade normalmente faz o mesmo. Mas a Bblia nunca o faz. Ela mostra os homens em suas fraquezas tanto quanto em sua fora. E ela o faz por uma nica razo seu interesse principal no est nestes homens,absolutamente, porm na verdade de Deus. Quero que vocs vejam que a idia comum de que os cristos reivindicam ser melhores que as outras pessoas, uma total caricatura da posio crist. Ao Invs disso, a posio crist , segundo creio, que estou total e absolutamente perdido sem a graa de Deus. Eu sou o que sou pela graa de Deus essa a afirmao bblica. O argumento da Bblia que a nica esperana para o homem est no evangelho e na graa de Deus. Este um evangelho para pecadores. H um sentido em que ele nada tem a dizer a um homem, at que esse veja a si mesmo como um pecador. Noutras palavras, a finalidade de suas afirmaes ao homem, faz-lo ver que pecador. A Bblia nada tem a dizer a um homem que no est

  • arrependido. Sua primeira palavra um chamado ao arrependimento. Dessa forma, ela trata desta terrvel doutrina do pecado.

    Seu argumento a respeito do pecado pode ser colocado da seguinte forma: o pecado um terrvel poder maligno, o pecado to terrvel, uma coisa to poderosa, que leva a todos ns para baixo, pois todo homem que j viveu neste mundo, se tornou vtima dele. A Bblia nos diz que o poder do pecado to grande e terrvel como isso que mesmo um homem admirvel e maravilhoso como Davi, o rei de Israel, pode cair no caminho que eu j descrevi. Ora, diz a Bblia, at que voc perceba, amigo, que est enfrentando um poder como esse, voc no ter comeado a pensar corretamente. Se voc no reconhecer que, todo o tempo em que estiver nesta vida e neste mundo, haver este terrvel poder infernal dentro de voc, ao seu redor e sobre voc, ento ser um mero nefito nestes assuntos! O fato que aqui neste mundo h principados e potestades, dominadores deste mundo tenebroso, foras espirituais do mal nas regies celestes, tentando, perseguindo e oprimindo voc.Essa a doutrina bblica do pecado. Essa a terrvel coisa que est revelada para ns neste Salmo. O primeiro passo que o homem tem que reconhecer e confessar sua pecaminosidade.

    Realmente, este Salmo cinqenta e um o que podem denominar, se quiserem, Uma orao de um desviado. Foi a orao de um homem que havia crido em Deus e experimentado a graciosa direo divina. Trata-se de um homem que caiu, embora conhecesse a verdade. Mas isso no faz nenhuma diferena. O que Davi afirma aqui acerca do pecado sempre verdadeiro a respeito do pecado, seja ele o pecado de um crente ou de um incrdulo. O pecado nunca muda o seu carter, e, portanto, o que Davi diz acerca do pecado algo que ser sempre uma verdade universal a respeito do pecado. Aqui, ento, constatamos os passos e os estgios atravs dos quais um homem inevitavelmente passa quando se torna convencido e convicto do seu pecado. Eu

  • simplesmente quero enumer-los e sublinh-los.

    O primeiro passo este: o homem chega ao conhecimento e reconhecimento do fato de que ele tem cometido pecado. Ouam a Davi no versculo 3: Porque eu conheo as minhas transgresses, e o meu pecado est sempre diante de mim. A primeira coisa, ento, que acontece a um homem quando est convencido e convicto do pecado, que ele encara o seu pecado e, na verdade, olha de uma maneira honesta ao que tem feito. Este relato todo nos mostra que foi exatamente isso que Davi no fez. No haveria nisso algo quase inacreditvel, que um homem pudesse fazer as coisas que fez e, no entanto, no encar-las? Certamente,Davi deve ter sentido que estava fazendo algo errado; todavia, ele o fez! Na verdade, ele nunca assumiu o fato do delito, e continuou recusando a faz-lo. E, tendo feito estas coisas terrveis, Davi ainda no as teria assumido, se Deus no tivesse enviado o profeta Nat a ele, fazendo com que Davi reconhecesse o seu pecado, dando-lhe detalhes do mesmo, como tendo acontecido de maneira diferente. Dessa forma, Davi o reconheceu, e foi humilhado at ao p. Por conseguinte, escreveu este Salmo cinqenta e um. Esse sempre o primeiro passo. Devemos parar e pensar, devemos parar por um momento e examinar-nos de frente, encarar a vida que temos vivido, o que fizemos, e o que estamos fazendo.

    Reconheo que isso muito desagradvel, e as pessoas no gostam de um evangelho que diz coisas como essas. No entanto, se queremos conhecer a salvao de Deus, temos que nos arrepender, e o primeiro passo a convico de pecado, e a maneira inicial para algum se tornar convicto de pecado parar e olhar para si mesmo. Acaso isso no espantoso, pergunto novamente? Como poderia Davi ter feito as coisas que fez sem assumi-las? Eis a todas as coisas que ele fez; mesmo assim ele continua a faz-las. Como pode ele fazer isso? A nica maneira de continuar em tal posio : recusar-se a assumir o que voc est fazendo e, no parar para pensar. E por isso que eu no denuncio a to conhecida

  • mania por prazer, que apenas uma tentativa da parte de muitas pessoas de fugir desta autoconfrontao. E desagradvel ter que gastar uma noite consigo mesmo e perguntar: Que tipo de vida eu estou vivendo? Quais so as coisas que eu afago em minha imaginao e em minha mente? Todavia, isso absolutamente essencial; temos que parar e encarar a ns mesmos, e a vida que estamos vivendo. Todos ns somos incrivelmente semelhantes a Davi. Quo fcil desculpar coisas em ns mesmos, passar por cima delas e no dar valor a elas. Contudo, ainda somos propensos a denunciar com fria as mesmas coisas quando as vemos em outros, ou quando um caso idntico est diante de ns. Isso faz parte da natureza humana. Isso verdadeiro com respeito a todos ns como resultado da Queda e do pecado. Projetamos todos esses mtodos para poder fugir de ns mesmos.

    Deixem-me fazer uma simples pergunta neste ponto: Amigo, voc tem encarado a si mesmo? Esquea as outras pessoas. Levante um espelho diante de si mesmo, olhe atravs dele para a sua vida, olhe para as coisas que voc tem pensado, feito e dito, olhe para o tipo de vida que voc tem levado. Est satisfeito com ela? Voc aprova na vida das outras pessoas aquelas coisas que tem feito na sua prpria vida? Voc as aprovaria como sendo sem defeito? O primeiro chamado de Deus ao homem, para que ele seja honesto, pare de argumentar, e encare a si mesmo. Que o homem examine-se a si mesmo. Sim, deixem-me ir ainda mais longe, paremos de argumentar sobre religio e teologia, e simplesmente olhemos para ns mesmos, honesta e sinceramente. Esse o primeiro passo. Eu conheo as minhas transgresses, e o meu pecado est sempre diante de mim. Vocs o tm enfrentado, tm realmente examinado a si mesmos e olhado para dentro dos seus prprios coraes? No h esperana para um homem que no faz isso, e a verdade a respeito do mundo moderno que as pessoas esto fugindo exatamente disso. As pessoas esto lotando cinemas, lendo novelas qualquer coisa para preencher suas vidas e

  • manter a autoconfrontao longe dos seus pensamentos. Eu declaro que voc tem que lutar pela sua vida e tem que lutar pela sua alma. O mundo far qualquer coisa para impedir que voc encare a si mesmo. Meu querido amigo, deixe-me apelar a voc: olhe a si mesmo. Esquea as outras pessoas e as demais coisas. Esse o passo inicial rumo ao conhecimento de Deus e experincia de Sua gloriosa salvao.

    Todavia, deixem-me lev-los ao segundo passo. O segundo passo um reconhecimento exato do carter ou natureza do que ns temos feito. Isso perfeitamente colocado aqui em trs palavras. A primeira a palavra transgresso, a segunda iniqidade, e pecado a terceira. Agora, deixem-me dizer um pouco sobre essas trs palavras.

    O que significa transgresso? Significa rebelio, significa a revolta da vontade contra a autoridade, e especialmente contra uma pessoa de autoridade. Esse o significado de transgresso. Apaga as minhas transgresses. Noutras palavras, Davi admite que ele transgrediu, admite que foi rebelde. Ele se rebelou contra uma autoridade, contra algum. Sua prpria vontade se levantou dentro dele, e ele se manifestou. Ele foi governado pelo desejo e se permitiu ser influenciado pela concupiscncia. Transgresso implica num desejo de fazer a prpria vontade, um desejo de fazer o que queremos fazer, o que ns gostamos de fazer. Isso envolve uma escolha deliberada, envolve um ato de contestao ativa. Sempre significa que fazemos alguma coisa que nossa prpria conscincia nos diz ser errada. Isso um ato voluntrio e deliberado de desobedincia, uma violao de autoridade esse o significado de transgresso. Todo homem que se arrepende, percebe que culpado disso. Ele est disposto a admitir: Sim, eu fiz isso, embora soubesse que era errado! Eu sabia que a voz dentro de mim, minha conscincia, dizia no, mas eu o fazia. Eu fui um rebelde, fiz isso deliberadamente!

  • Iniqidade, o que significa? Bem, iniqidade significa que um ato est torcido ou que est alterado. Iniqidade significa perverso, e isso foi bvio no caso de Davi. Lava-me completamente da minha iniqidade! a coisa impura, esse ato terrvel. O que havia em mim que me levou a fazer aquilo? Que distoro, que perverso! Quo pervertido eu devia estar para fazer aquilo! Vocs se lembram o que Davi fez. No preciso me demorar enfatizando o pecado, sua conduta distorcida, e a perverso disso tudo. E, quanto a isso, quo verdadeiro referente a cada ato do qual somos culpados. Vocs e eu no podemos ser culpados de assassinato, graas a Deus! No somos culpados de algumas das outras coisas das quais Davi foi culpado. Mas eu peo que cada um se examine; acaso no v que muitas coisas que tem feito so distorcidas e pervertidas? Voc no v que muitas de suas aes na vida esto erradas? Cime, inveja e malcia que distoro horrvel! Desejar que o mal acontea a outrem, que algum no seja honrado pensamentos maus, corrupo, distoro, torpeza, impureza iniqidade! E todos ns somos culpados de iniqidade. Porventura existe algum que negaria a existncia de tal distoro nele, e que tantas das suas aes tiveram esta horrvel distoro e perverso nelas?

    Finalmente, a respeito da ltima palavra, pecado. O que significa pecado? Pecado significa errar o alvo, e essa uma maneira muito boa de defini-lo. O pensamento que ele transmite este: que no estamos vivendo conforme deveramos viver. Eis a um homem apontando para um alvo; eis a a sua meta. Ele atira, porm erra o alvo. Ele no acertou na mosca. Isso significa que ns no somos o que deveramos ser, que estamos fora de linha. Isso o que pecado sempre significa. Ele indica que um homem est vivendo uma vida que no devia viver. Mostra que o homem no est andando na vereda que Deus traou para ele. O homem no est indo diretamente para a frente. Ele no mantm um padro de retido. H um movimento para trs e outro para a frente, h uma falta de retido nele. Eu no

  • preciso insistir nesses pontos. Sei que cada pessoa nesta congregao deve reconhecer que ele ou ela culpado dessas trs coisas transgresso (ou rebelio), iniqidade (ou perverso, distoro, aes erradas) e pecado (isto , errar o alvo, no chegar l, no sermos o que devemos ser, o que pensamos ser, indo aqui, ali e em qualquer lugar em vez de irmos onde deveramos estar indo diretamente para a frente). O segundo passo sobre convico de pecado e sobre confisso de pecado que o homem reconhece que esse o carter da sua vida e aes.

    O passo nmero trs que o homem reconhece e confessa que tudo isso feito contra Deus e diante de Deus. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que mal tua vista. Certamente, diz algum, isso tem que estar errado! Davi deve ter dito: Contra Bate-Seba, contra Urias, contra os homens que foram mortos naquela batalha, contra Israel e meu povo eu tenho pecado. Mas ele disse: Contra ti, contra ti somente.... Ah, ele est totalmente certo! Ele no negou que tinha pecado contra os outros, contudo aqui est indo um passo alm disso. Reconhece que suas aes no so simplesmente aes em si e de si mesmas. Ele percebe que elas no apenas afetaram e envolveram outras pessoas, mas a essncia real que ele pecou contra Deus. Ento, aqui est a essencial diferena entre remorso e arrependimento. Um homem que sente remorso algum que reconhece o seu erro, porm no tem se arrependido at que perceba que pecou contra Deus.

    Por que ele sentiria assim? Deixem-me tentar responder a pergunta da seguinte maneira. Pecado, vejam vocs, significa uma violao do que Deus intentou, e do que Deus pretendeu que o homem fosse. Deixem-me colocar isso, de uma forma preliminar, da seguinte forma: quando um homem peca, ele no est somente fazendo certas coisas que no deveria fazer; est pecando contra a natureza humana, est frustrando-a. Portanto, ele est pecando, contra a humanidade, e por causa disso, est pecando contra Deus

  • que criou o homem. Deus criou o homem perfeito, e Deus intentou que o homem vivesse uma vida perfeita. Ele deu ao homem a possibilidade de viver assim, e quando um homem peca, ele desagrada a Deus. Contra ti, contra ti somente pequei. Eu tenho violado o que Deus tencionou que o homem fosse. Estou torcendo e pervertendo a criao de Deus. Toda vez que eu peco, estou violando a santa lei de Deus. Os dez mandamentos, a lei moral, a idia comum de decncia na natureza humana tudo isso procede de Deus. Vejam s, todos ns sabemos disso, e a cada momento eu sou culpado de transgresso, ou iniqidade, ou pecado; estou violando a santa lei de Deus, e o plano estabelecido para a vida do homem. De fato, eu tambm estou violando, como lhes tenho lembrado, minha conscincia dentro de mim. A conscincia foi colocada por Deus em mim. No fui eu que a coloquei. Quo freqentemente temos desejado no ter uma conscincia! Mas ela existe. Vocs conhecem aquela voz interior que fala e lhes diz que certa coisa no deve ser feita. Se fizerem essa coisa, estaro violando o preceito de Deus. Isso tambm pecar contra Deus, porque significa que fazemos todas essas coisas a despeito da Sua bondade para conosco. Penso que essa foi a coisa que quebrantou o corao de Davi mais do que qualquer outra. Deus havia sido to bom para com ele. Ele era simplesmente um jovem pastor de ovelhas e Deus fez dele rei deste grande reino e lhe concedeu abundantes bnos. Davi, no entanto, confessou: Eu tenho feito essa coisa terrvel. Ele disse: Contra ti, contra ti somente pequei.

    Meu amigo, Deus lhe tem dado o dom da vida. Voc no trouxe a si mesmo para esse mundo, e voc uma personalidade nica. Ele tem derramado Suas bnos sobre voc. Ele colocou voc numa famlia, envolvendo voc de amor. Ele tem dado a voc alimentao e abrigo. Ele poderia ter-lhe negado tudo isso. Pense na bondade de Deus que tem sido concedida a voc de diferentes maneiras! E ns ainda O desprezamos! Pecamos contra Ele e contra Sua maravilhosa bondade, benignidade e amor para conosco!

  • Qual o prximo passo? O prximo passo que o homem descobri que no tem absolutamente nenhuma desculpa, nenhum direito. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que mal tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. Noutras palavras, Davi est dizendo a Deus: Eu no tenho desculpa nenhuma. Eu no tenho direito. Nada h a ser dito por mim. No h argumento para o que eu tenho feito. A coisa toda foi o resultado da total teimosia. Estou inteiramente errado. Nada tenho para pleitear a favor duma mitigao. Quero enfatizar isso. Afirmo que isso uma parte absolutamente essencial do arrependimento e da convico de pecado. Por conseguinte, insisto com vocs para que examinem a si mesmos e suas aes. Podem justificar tudo o que tm feito? Vocs realmente podem pleitear uma mitigao? Deixem-me assumir a posio de Nat, o profeta. O que sucederia se eu me levantasse neste plpito e descrevesse sua vida para vocs mediante uma parbola acerca de outra pessoa? Vocs entenderiam isso? Devemos examinar a ns mesmos a esse respeito. Deixem-me falar francamente, colocando a situao da seguinte forma: enquanto estiverem na posio de tentarem justificar-se, nunca tero se arrependido. Enquanto estiverem se apegando a qualquer tentativa de auto-justificao e justia prpria, afirmo que no tero se arrependido. Certamente, o homem que est arrependido aquele que, com Davi, diz: No h uma simples desculpa.Eu vejo isso claramente. Eu no tenho justificao.As coisas que vejo em minha vida eu as odeio, no tenho o direito de faz-las, eu as fao deliberadamente, sei que estou errado. Admito isso! Eu francamente confesso isso para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. Acaso voc sente, meu amigo, que Deus um tanto duro quando Ele o condena? Voc sente que Deus estaria sendo injusto se voc a final viesse a se achar no inferno? Se voc pensa assim, ento ainda no se arrependeu. Eu reafirmo que o teste do arrependimento este: que um homem tendo olhado a si mesmo, e o seu prprio corao e vida, diz para ele mesmo: eu nada mereo seno o inferno, e se Deus me

  • enviar para l no tenho uma simples reclamao a fazer. No mereo outra coisa! Essa uma parte essencial do arrependimento, e sem arrependimento no h salvao. O homem, eu afirmo, que se sente convicto do pecado, o homem que segue esses passos. E isso me leva ao ltimo passo.

    O ltimo passo que o homem percebe e reconhece que sua natureza essencialmente m. Eis que em iniqidade fui formado, e em pecado me concebeu minha me. Vocs vem os passos? A primeira coisa que o homem para e assume os fatos, ele olha para si mesmo. Ento, no segundo passo, ele reconhece as aes das quais tem sido culpado e as admite como sendo errneas em trs aspectos. E ento ele diz: Sim, mas isso envolve Deus, e eu tenho pecado contra Deus. O prximo passo vem quando ele admite: Eu no tenho nenhum direito ou desculpa. Mas, ento ele pergunta a si mesmo: O que me fez praticar isso? O que me levou quilo? O que h em mim que me torna capaz de todas essas coisas cime, inveja, dio, malcia, avareza, desejo, concupiscncia, paixo? Por ltimo, ele volta para si, observa isso, e declara: Minha natureza deve ser corrupta, meu corao deve ser mau! No o mundo fora de mim, algo dentro de mim que est corrompido! Noutras palavras, o ltimo passo quanto convico de pecado que o homem sobe de uma conscientizao dos seus pecados para uma conscientizao do pecado e de sua total desvalia.

    O ltimo passo o que Paulo descreveu no stimo captulo da Epstola aos Romanos: Porque eu sei que em mim, isto , na minha carne, no habita bem algum... Miservel homem que eu sou! quem me livrar do corpo desta morte? (versculos 18 e 24). Ou seja, ele declara: dentro de mim eu sou corrompido, eu sou impuro, meu corao sujo. No simplesmente que eu fao as coisas que eu no deveria fazer, o problema est em mim mesmo. O problema que eu desejo fazer essas coisas, eu quero faz-las. Por qu? Porque h algo em mim que atende atrao do

  • mal. E isso o que me aborrece. Eu sou capaz disso e gosto disso. o meu corao, no o mundo. Como Shakespeare o colocou:

    O erro, querido Brutus, no est em nossas estrelasMas em ns mesmos, que somos inferiores.

    Eis que em iniqidade fui formado, e em pecado me concebeu minha me. A partir do momento do meu nascimento neste mundo, h uma tendncia em mim para o mal; h algo torcido e pervertido. Isso est em mim; faz parte do meu ser e natureza. Esses, ento, so os passos na convico de pecado e na confisso de pecado.

    Voc percebe a verdade do que tenho tentado dizer, ser que no quer clamar como Davi: Tem misericrdia de mim, Deus? Essa a coisa certa, a nica coisa a fazer, meu amigo. Se voc se v como algum que tem pecado, ento, eu o imploro, corra para Deus, lance-se sobre a Sua misericrdia. Voc no far isso em vo. Descobrir que Ele fez total proviso para voc. Ele enviou o Filho do Seu amor a este mundo justamente por voc, para morrer pelo seu pecado no monte do Calvrio. Seu pecado foi punido, Ele o cancelou na cruz, Ele purificar voc e far voc alvo como a neve, Ele o dar todas as coisas que necessitar. Corra para Ele. Se voc tem visto sua necessidade, far isso. O homem que v isso, como Davi viu, imediatamente clama: Tem misericrdia de mim, Deus... purifica-me. Faa o mesmo e sua orao ser gloriosamente respondida, e voc experimentar a alegria da grande salvao de Deus.

  • 2. O DESESPERO DO PECADOR

    Tem misericrdia de mim, Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgresses, segundo a multido das tuas misericrdias. Lava-me completamente da minha iniqidade, e purifica-me do meu pecado.

    Salmo 51:1,2

    No nos limitaremos exclusivamente a esses dois versculos, pois, como vocs observaro, os sentimentos so repetidos novamente: Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve... Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniqidades (vss. 7,9). Continuando com o nosso estudo deste Salmo, deixem-me recordar-lhes que a minha principal razo para fazer assim, que ele contm em si mesmo os principais passos e estgios em conexo com toda a questo da salvao e nosso relacionamento com Deus. Essa a questo mais importante e vital neste mundo nosso relacionamento com Deus. a questo mais importante, porque, obviamente, um assunto inevitvel. H muitas coisas nesta vida que so incertas; mas uma coisa absolutamente certa, e essa coisa que temos de sair dela. E ento o que acontece? Bem, eu no creio que haja algo depois da morte, diz algum. Ora, pode voc provar isso, e est preparado para correr esse risco? Acaso voc no percebe que sustenta uma crena sem qualquer prova ou evidncia? O fato certo que vamos deixar este mundo. Todos ns iremos morrer, e ento sim, a est o problema. Como Shakespeare o colocou:

  • ...o medo de algo depois da morte a terra desconhecida, de onde

    nenhum viajante retorna.

    Essa a coisa que faz todos ns covardes. E isso a razo porque a coisa mais importante na vida, para ns, saber como encontrar Deus. Felizmente, este Salmo trata desse tema de uma forma perfeita. Ele nos diz que h passos e estgios bem definidos, que h certas coisas que esto sempre presentes nesta questo de salvao e de chegarmos a Deus. Deixem-me recordar-lhes uma vez mais, que este Salmo 51, escrito por Davi, rei de Israel, realmente o Salmo de um desviado, o Salmo de um homem que sabia que havia cometido um crime terrvel. Ele foi culpado de adultrio , assassinato, engano, e muitas outras coisas, e embora tivesse feito essas coisas, ele estava perfeitamente feliz por algum tempo, e parecia estar gozando o fruto de todas as suas aes ms, viciosas, e desprezveis. Deus, porm, lhe enviou o Profeta Nat, e Nata props uma parbola na qual declarava a Davi o que ele havia feito. E Davi repentinamente viu a verdade e percebeu o pecado do qual era culpado. O resultado foi que ele escreveu este Salmo 51. Eu digo que este essencialmente o Salmo de um desviado; mas o que Davi tem para nos mostrar aqui a respeito do pecado, sempre verdadeiro, quer seja num incrdulo ou num desviado, quer seja num homem que tem crido em Cristo, quer no. O pecado tem sempre as mesmas terrveis caractersticas. De forma que, neste Salmo, ns realmente encontramos um dos mais perfeitos e clssicos relatos do pecado, e como um homem pode ficar livre de seu pecado. Ele geralmente chamado o grande Salmo de arrependimento. E isso mesmo; ele nos fala de tudo o que essencial concernente ao arrependimento.

    Pois bem, lembro-lhes novamente de tudo isso porque desejo enfatizar o ponto de que h definidamente um padro

  • comum e determinante na experincia da salvao. Eu o coloco dessa forma a fim de ajudar certas pessoas que podem estar insatisfeitas sobre toda esta questo da salvao. Existem tais pessoas; elas esto plenamente cientes de que h alguma coisa de errado em suas vidas, elas encontram outras pessoas que j foram como elas, mas parecem ter encontrado uma maravilhosa alegria e livramento, e falam acerca da salvao. Essas pessoas perturbadas dizem: Eu quero saber alguma coisa a respeito disso. Desejo ter isso tambm, desejo ter a experincia dessas outras pessoas. Como que algum pode obt-la? Minha resposta que h certas coisas que esto sempre presentes na tpica e caracterstica experincia crist, e vocs as encontraro descritas em todo lugar. Tomem, por exemplo, a prpria Bblia: h um padro comum para todos os casos descritos na Bblia, h certas coisas que esto presentes em todos, e essas so aquelas nas quais estamos interessados. Ou se tomarem as biografias de pessoas crists ou lerem sobre a vida dos heris da f, no podero faz-lo sem descobrir esse padro comum. Certas coisas esto sempre presentes, e por isso que, se no estamos cientes dessas coisas em ns mesmos, simplesmente no somos cristos. Ou tomem seu hinrio; diferentes homens escreveram os hinos, porm todos eles disseram a mesma coisa. Existe esse elemento comum, esse padro comum. A experincia crist algo inteiramente definido, totalmente concreto; por isso que um homem pode realmente testar-se a si mesmo, e descobrir se ele cristo ou no. O Novo Testamento o exorta a fazer isso, e ao exort-lo assim, pea-lhe algo que pode ser feito. No h necessidade de incerteza em sua mente; isso pode ser descoberto muito facilmente. Que nunca pensemos da posio crist como algo vago, indefinido, nebuloso, como coisa flutuando no ar. No, a posio crist algo muito definido; ela uma das coisas mais concretas na vida. Portanto, podemos aplicar estes testes.

    Muito bem, h um padro comum; e claro, isso no uma surpresa, pois essa obra a obra do Esprito Santo.

  • Nenhum homem pode tornar-se cristo sem a obra do Esprito Santo em sua alma, e no surpreendente que Ele tenda a fazer as mesmas coisas em todos os casos. Ele deixa certas marcas, e elas so muito definidas. Todavia, tendo dito isso, ao mesmo tempo devemos ser cuidadosos para que no padronizemos a experincia crist numa forma errada e insistamos sobre certos detalhes particulares em cada caso. Digo isso como uma advertncia, porque tenho encontrado pessoas com problemas acerca deste assunto, pelo fato de algum ter tentado padronizar a experincia crist em detalhes, assim como em grandes princpios.

    Permitam-me dar-lhes uma ilustrao do que estou dizendo. Algum que j tenha lido o livro Grace Abounding (Graa Abundante) por Joo Bunyan, saber que naquele livro Joo Bunyan fala-nos que ele passou por uma agonia de arrependimento que durou um perodo de dezoito longos meses, e durante aqueles dezoito meses, ele viveu uma vida que no foi outra coisa, seno pura agonia. Houve momentos quando ele se sentia to miservel e to infeliz que, numa ocasio, vendo alguns gansos num campo, ele desejou ser algo semelhante queles gansos, pois assim no precisava experimentar aquela agonia de arrependimento. Outro dia, ele diz que se viu, por assim dizer, balanando sobre a boca aberta do inferno e podendo sentir o cheiro de enxofre no ar. Tenho encontrado pessoas que tm dito algo como isso para mim: Sabe, o meu maior desejo nesta vida ser um cristo; eu tenho tentado por anos. Quando eu pergunto: O que est lhe impedindo?, elas dizem: Eu nunca me arrependi. Sobre que base voc me diz isso?, eu pergunto. Elas dizem:Eu nunca senti como Joo Bunyan e jamais desejei ser um animal que falta qualidade da natureza humana; eu nunca senti, nem me vi, suspenso sobre a boca aberta do inferno; eu nunca senti o cheiro de enxofre no ar. E visto que elas no tiveram essas experincias particulares que Joo Bunyan teve, sentem que no se arrependeram. Uma vez conheci um homem cristo que expressou grande preocupao a respeito do estado de seu filho. Ele estava

  • totalmente convencido em sua prpria mente que seu filho no era cristo, e quando eu perguntei a ele por que, ele disse que seu filho nunca havia tido a experincia do caminho de Damasco. Ele mesmo tivera uma experincia semelhante a isso, pois sua converso foi um tanto repentina; e pelo fato de seu filho no ter tido alguma experincia sbita, ele disse que o filho no era convertido. Foi isso que eu quis dizer quando afirmei que devemos ser cuidadosos para no padronizar essa experincia comum no que diz respeito aos detalhes particulares. H muitos salvos no cu, hoje, que nunca tiveram os sentimentos particulares que Joo Bunyan teve, no entanto eles se arrependeram to certamente como Joo Bunyan se arrependeu.

    Bem, sejamos muito cuidadosos com esta questo. Ou deixem-me coloc-la da seguinte forma: devemos ser muito cuidadosos para no insistirmos que os vrios passos e estgios descritos neste Salmo aconteam numa ordem particular e cronolgica. H algumas pessoas que esto sempre desejosos de padronizar todas as coisas e eu no estou aqui para apoiar essa posio. O que estou dizendo que em cada caso de converso, em cada caso de arrependimento, existem certos elementos comuns. H um padro comum, mas em alguns casos, uma coisa vem primeiro e as outras depois; em outros casos a segunda coisa vem primeiro e a primeira vem depois. No afirmo que isso deve acontecer de uma maneira padronizada, porm digo que, com a ausncia de certas coisas, nunca houve arrependimento e sem arrependimento no somos cristos.

    Existe outra maneira pela qual podemos olhar a esta questo. H certas pessoas que parecem evitar este assunto pela seguinte razo: elas dizem: Voc sabe, que o Salmo 51 , como voc disse corretamente, um grande Salmo sobre a questo do arrependimento. E no surpreendente que Davi se sentisse como sentiu vista das coisas que praticou. Mas, saiba, eu realmente no sinto muito interesse pelo Salmo 51 porque, graas a Deus, nunca cometi adultrio, nunca cometi

  • assassinato. O Salmo cabvel para um homem que tem feito aquele tipo de coisa, porm voc espera que eu experimente as mesmas coisas que Davi? Se eu estivesse sendo culpado de grande pecado, deveria sentir como ele. Mas voc espera que eu sinta o que Davi sentiu? Muitos se encontram nessa posio, e a simples resposta para tais pessoas que o arrependimento no depende, de forma alguma, de qualquer tipo ou espcie de pecado que voc tenha cometido. isso que Davi disse a respeito de si mesmo como um pecador, entretanto deixem-me lembrar-lhes de outro tipo de homem. Tomem um homem, cujos hinos deleitamo-nos em cantar, Charles Wesley. Ele nunca cometeu adultrio ou assassinato; ele nunca foi culpado das coisas que Davi foi, nesse ponto da sua vida. Charles Wesley foi um homem muito bom; ele era filho de um ministro, um ministro particularmente piedoso, e tinha uma me excepcional, uma mulher particularmente santa. Aqui est ele, criado numa parquia, e quando foi para Oxford com seu irmo Joo, formaram o Holy Club (Clube Santo), a fim de viverem vidas exemplares. Mesmo como estudantes em Oxford foram pregar em prises, davam seu dinheiro para ajudar pessoas pobres. Ele sempre viveu uma vida boa e fez tudo para ser piedoso e dedicado, e para agradar a Deus. Ainda assim, lembrem-se do que ele disse de si mesmo coisas que so to esmagadoras como aquelas que Davi nos diz:

    Justo e santo o Teu nome,Eu sou todo injustia;

    Vil e cheio de pecado eu sou.

    Eis a o que disse esse excelente jovem, embora no tenha sido culpado do mesmo pecado como Davi. E eu poderia multiplicar os exemplos. Tomem, por exemplo, o grande hino de Augustus Toplady. A est outro homem que

  • nunca tinha sido culpado daquelas coisas das quais Davi foi culpado; ele sempre foi um homem bom. Mas lembrem-se do que ele disse a respeito de si mesmo:

    Sujo, eu para a fonte vo,Lava-me, Salvador, ou eu morro.

    Oh meu querido amigo, voc no pode evitar uma questo como esta. Os fatos esto contra voc. O sentimento de arrependimento no depende da natureza particular do pecado cometido. A Bblia prova isso, os hinos provam isso, as biografias crists provam a mesma coisa.

    H ainda outros que parecem estar em dificuldade neste ponto; eles dizem que certamente isto tudo uma questo de personalidade, o tipo particular de personalidade de um homem. Dizem que estudaram um pouco de psicologia, e descobriram que os psiclogos afirmam que h uma espcie de indivduo twice-born, ou seja, nascido duas vezes. Este tipo de indivduo twice-born, de acordo com os psiclogos, o homem que gasta uma boa parte de seu tempo examinando a si mesmo. Ento, h outro tipo de homem que chamado de once-born, ou seja, nascido uma vez. Ele no gasta seu tempo examinando sua prpria alma. Este um homem culto, mais equilibrado, no introspectivo e dado morbidez como o tipo twice-born. Os crticos dizem que esto preparados para admitir que certas pessoas do tipo twice-born, como Davi, Saulo de Tarso, Joo e Charles Wesley, Augustus Toplady, provavelmente precisam de uma grande experincia de arrependimento e parecem necessitar dela; mas no caso do tipo once-born, no h necessidade de sentir tal opresso de arrependimento, porque eles esto bem da forma como esto. Como todas as pessoas so diferentes, por que ns deveramos ter a mesma experincia? A primeira vista, este um argumento e uma afirmao muito plausvel.

  • Pois bem, novamente nada temos a fazer seno trazer este argumento luz dos fatos. Quais so os fatos? Os fatos so estes: podemos ir do comeo ao fim da Bblia e olhar para aqueles heris da f no Velho e Novo Testamentos, e nada nos impressionar mais do que isto, a incrvel e bvia diferena natural entre as pessoas diferentes mencionadas. Eu no hesitaria em afirmar que na Bblia temos todas as combinaes psicolgicas de temperamento, carter, constituio, e qualquer outra coisa que queiramos adicionar. Vejam os doze discpulos. Joo e Pedro foram homens totalmente diferentes. Paulo diferente deles. Estes so fatos inquestionveis. A Bblia em si mesma responde essa teoria, e quando lemos a histria da Igreja atravs dos sculos, encontramos exatamente a mesma coisa. Encontramos dentro da Igreja Crist o tipo jovial e expansivo e o tipo fleumtico, o sensvel e o tipo quase insensvel; e no entanto todos eles diro as mesmas coisas a respeito deste assunto. Eu assevero que cada tipo concebvel est representado na Igreja Crist, hoje; e mais, se pudssemos escolh-los e obter seu testemunho, todos eles fariam uma afirmao acerca de como se viram a si mesmos como pecadores e como correram a fonte para serem purificados. No, isso nada tem a ver com temperamento, nada mesmo. Os fatos novamente so suficientes para refutar aquela afirmao. Portanto, espero que no haja ningum que continue confuso quanto a esse assunto particular.

    O meu argumento que h certas coisas que esto sempre presentes em todo caso de converso e de salvao, e sugiro que se voc no encontra essas coisas em alguma parte em sua vida ou experincia, voc no est autorizado a usar o nome de cristo com respeito a si mesmo. J olhamos para certas coisas. Essas so as primeiras coisas, que o homem que se arrepende um homem que confronta a si mesmo e olha para si mesmo. Ningum jamais se tornou cristo sem deter-se e olhar para si mesmo. O mundo faz tudo para impedir que um homem olhe para si mesmo; ele o mantm correndo aqui e ali qualquer coisa para impedir

  • que ele olhe para si mesmo. Mas um cristo um homem que j contemplou a si mesmo e viu o que tem feito. Ele tem visto suas transgresses, sua iniqidade, seu pecado. Ele compreende o significado de suas aes. Ele reconhece que tem pecado contra Deus; e tem visto que sua natureza atual em si mesma, pecadora. Eu chamaria isso de o despertar do pecador, encarando a si mesmo e reconhecendo as verdades bsicas acerca de si mesmo. Todavia no podemos parar a; precisamos prosseguir.

    O prximo ponto este: nenhum homem tem de fato se arrependido e se tornado cristo sem um elemento de preocupao e sentimento de admisso em sua conscincia com respeito ao seu estado e condio. Isso bvio neste Salmo: Tem misericrdia de mim, Deus. O homem que escreveu este Salmo estava desesperado. Ele sentia uma grande preocupao a respeito de seu estado e condio. Ele no pode fugir disso, o problema mais importante em sua vida e existncia. Davi era um rei, e um rei muito rico, e tinha um reino muito rico; mas quando ele compreendeu esta verdade acerca de si mesmo, toda sua riqueza, poder e posio no puderam satisfaz-lo. Esta era a coisa que o interessava, e ele disse: Eu preciso encontrar paz acerca disso; eu preciso ficar de bem com Deus. A sua situao havia se tornado a coisa mais importante em sua vida. Eu no preciso me deter nisto; certamente mais ou menos bvio. Peo-lhe novamente, meu amigo, para ler sua Bblia, para ler as biografias dos heris da f, para ler seu hinrio, e verificar que todo aquele que tem de fato se arrependido, tem passado por essa fase particular e essa experincia. Ele sente uma preocupao com respeito sua alma e o seu relacionamento com Deus. Eu nada tenho a acrescentar a esse ponto, porm simplesmente lhe fao as seguintes perguntas: voc tem de fato se preocupado consigo mesmo e com o estado de sua alma? Voc tem qualquer ansiedade a respeito disso, tem realmente se sentido inquieto acerca disso, e o problema de sua alma o tem preocupado e perturbado? Digo novamente que se isso no tem acontecido,

  • ento tornar-se membro de igreja no vlido para voc, e voc se chamar de cristo totalmente enganoso. Isso algo inevitvel e inescapvel no caso de todo aquele que se arrepende e se torna cristo.

    Permitam-me ir mais adiante e coloc-lo desta forma: eu imagino algum dizer para mim: Eu nunca tenho sentido aquela grande preocupao. No vejo que necessito sentir aquela preocupao. Fui criado de uma maneira religiosa, tenho freqentado lugares de adorao, tenho tentado fazer o bem, tenho tentado dar a mo amiga. Certamente no seria de esperar que eu tivesse essa grande preocupao da qual voc est falando. Bem, minha resposta que no estou absolutamente certo, mas bem provvel que isso seja o maior de todos os pecados. Deixem-me coloc-lo da seguinte maneira: convido a voc, novamente, a olhar para os heris da f. Se essas pessoas piedosas, esses santos homens e mulheres aos quais tenho-me referido, tm visto a si mesmos como pecadores aos olhos de Deus, por que voc seria diferente? Eu, simplesmente, desafio voc sobre este assunto. Digo que nunca houve um santo sobre a face da terra que no tenha visto a si mesmo como um vil pecador; de modo que se voc no sente que um vil pecador, no parecido com os santos. Mas esperem um minuto, deixem-me chegar um pouco mais perto. Convidaria vocs a tentar considerar por um momento quem Deus e o que Deus . Lembro-me de ter lido um artigo por um homem que criticou aquele hino de Charles Wesley, onde ele diz: sou todo injustia, e vil e cheio de pecado eu sou. O homem o criticou desta forma:ele disse: Imagine um homem procurando emprego, aproximando o homem que vai empreg-lo, e na entrevista diz a ele: Vil e cheio de pecado eu sou. Ele no obteria esse emprego. O crtico pensou que aquela colocao ps ponto final ao assunto. Todavia, vejam o que ele esqueceu. Pessoalmente no vejo nenhuma razo porque um homem falaria assim para seu semelhante, visto que sabe que eles so da mesma natureza, mas Charles Wesley no estava falando de si mesmo na presena de homem, ele estava se

  • dirigindo a Deus. E Deus luz, e no h nele trevas nenhumas (1 Joo 1:5). Acaso podem conceber isso? Deus santidade, total e absoluta; no h mancha, no h defeito. Tentem entender isso. Ele o nico com quem nos preocupamos Deus. E o que Deus requer de ns? Bem, eu lhes direi: Amars ao Senhor teu Deus de todo o teu corao, de toda a tua alma, e de todas as tuas foras, e de todo entendimento, e ao teu prximo como a ti mesmo (Lucas10:27). Meu amigo, a questo no se voc tem cometido adultrio ou assassinato. esta: voc tem amado e est amando a Deus com todo o seu corao e toda a sua alma e todo seu entendimento e toda a sua fora? Se no est, voc um pecador. Deus requer isso de voc, e Ele tem direito de requerer isso de ns, porque Ele Deus, e nos criou, e Ele nos criou para Si mesmo. O fim principal do homem glorificar a Deus, e no glorificar a Deus o maior de todos os pecados. Glorificamos a Deus? Agradecemos-Lhe diariamente pela Sua bondade, misericrdia e graa para conosco? Acaso atribumos louvor, honra e glria a Ele? Seria nossa principal preocupao que Ele seja glorificado mais e mais? Jesus Cristo disse que o maior objetivo da Sua vida era que o Pai fosse glorificado. Todo homem chamado para fazer a mesma coisa, e no fazer isso seria pecaminoso. Vocs se lembram como Daniel colocou tudo isso para outro rei Belsazar. Ele disse:O Deus, em cuja mo est a tua vida, e de quem so todos os teus caminhos, a ele no glorificaste (Daniel 5:23). A essncia do pecado no tanto ser culpado de aes particulares; no estar glorificando a Deus, no estar vivendo nossa vida para Deus. Deus colocou o homem na terra para que ele fizesse isso, e uma recusa ou falha a fazer isso a verdadeira essncia do pecado. Eis a razo porque todo homem que se arrepende sempre sente esta preocupao acerca de sua alma e tem um sentimento de desespero a respeito de si mesmo. Vocs servem a Deus, vocs amam a Deus, vocs buscam a Deus, vocs tentam glorificar a Deus? Essa a primeira coisa.

    A segunda coisa que quero mencionar, o desejo pelo

  • perdo. Tem misericrdia de mim, Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgresses, segundo a multido das tuas misericrdias. Lava-me completamente da minha iniqidade, e purifica-me do meu pecado. Noutras palavras, um homem que se arrepende sempre um homem que est ciente de sua culpa. Ele diz: Quando considero e penso em Deus, e quando considero a lei de Deus e o padro de Deus, fico ciente do fato que sou culpado. No tenho vivido esse tipo de vida; tem havido dias quando eu no louvei a Deus, quando no pensei nEle, e O tenho esquecido completamente. Imediatamente, comeo a examinar a mim mesmo e descubro que tenho feito coisas que sabia estar erradas; tenho sido culpado de pecado em minha mente, pensamento e imaginao. Eu sei disso. Ele ciente de sua culpa, e sendo ciente disso, ele deseja ser perdoado. Ele sabe o que Davi queria dizer quando disse: Apaga as minhas transgresses. Ele deseja ser purificado, pois sente-se impuro. Ele sabe que tem se tornado sujo e manchado pelo mal e pelo pecado, e pelo que est errado. Ele sabe que no est limpo por dentro nem por fora; ele est manchado. Portanto, ele deseja ser lavado, purificado, sim, ser limpo de sua iniqidade.

    A prxima coisa que caracterstica de toda alma verdadeiramente arrependida, e em cada pessoa que verdadeiramente crist, um reconhecimento, uma conscincia de total impotncia. Vejam como isso claro no Salmo de Davi. Ele no sabe o que fazer consigo mesmo. Qual o problema dele? Ele no pode tranqilizar sua prpria conscincia. Sua conscincia o acusa, e seja o que for o que ele faa, no a pode silenciar; ela estava sempre levantando seu pecado diante dele. Quando a conscincia acorda, uma coisa terrvel, e mais cedo ou mais tarde a conscincia de todo homem acordar. Certos homens vivem uma longa vida e a conscincia parece no acordar; mas ainda no chegaram ao fim da vida. Eles tm que chegar a um leito de morte, e s vezes ela acorda apenas a, e outras vezes s depois do leito de morte. Vocs se lembram quando

  • o homem rico que morreu viu o mendigo no seio de Abrao (Lucas 16:19-31), e sua conscincia acordou l no inferno? Conscincia uma coisa terrvel. Davi est aqui tentando aquietar sua conscincia, mas ele no pode faz-lo. Ele daria qualquer coisa para aquietar sua conscincia ele um homem rico, ele tem manadas e rebanhos mas ele no pode faz-lo. Quando voc, amigo, olha para trs atravs de sua vida e v certas coisas, no gostaria de ficar livre delas, elimin-las e apag-las, remover a mancha? Contudo isso no pode ser feito. Davi se apercebeu disso, e todo homem que j se tornou cristo tambm se apercebeu disso. Ele igualmente no pode encontrar paz; ele est fazendo tudo o que pode, porm no pode encontrar paz. Ele no pode dormir; esta coisa est a, est sempre diante dele, ele no pode fugir dela. Eu no digo que voc precisa ter um sentimento particular, mas digo que nenhum homem cristo a no ser que em algum momento ele tenha conhecido aquela terrvel busca pela paz, pelo descanso e pela tranqilidade. O grande Agostinho conhecia isso; por longo perodo ele teve essa inquietao de alma e finalmente clamou: Tu nos criaste para Ti, e nossas almas vivem inquietas, enquanto no repousarem em Ti. Porventura j conheceu esta inquietao, voc j conheceu esta busca pela paz e tranqilidade de conscincia, de mente e de corao como uma tentativa de ficar livre do senso de culpa?

    Davi estava ciente da sua total impotncia. De fato, ele foi alm disso, ele sabia que no podia fazer coisa alguma sobre isso. Ouam o que ele diz: Pois no desejas sacrifcios, seno eu os daria; tu no te deleitas em holocaustos. Pobre Davi, quo bem posso compreend-lo! Como lhes tenho lembrado, ele era um homem rico, portanto disse que se fosse uma questo de oferecer sacrifcios ele o teria feito. Eu tenho manadas e rebanhos; eu poderia fazer uma grande oferta. Mas o gado sobre milhares de montanhas so Teus, o universo inteiro Teu; nada posso dar a Ti. Se isso fosse o suficiente eu o faria, mas Tu no desejas sacrifcio. Toda pessoa que verdadeiramente se arrependeu sabe exatamente

  • o que isso significa. Veja bem, voc comea a pensar quando a conscincia acorda, e voc diz: Eu vou viver uma vida melhor, vou abandonar certas coisas e fazer outras coisas. Continua arrazoando, porm ainda no pode encontrar paz, descanso e sossego; e ento voc avana novamente at que finalmente percebe sua completa, total e absoluta impotncia. meu amigo, voc ainda retm algum vestgio de autoconfiana? Ainda sente que pode fazer de si mesmo um cristo? Sente que a vida que est vivendo agrada a Deus? Pergunto novamente: voc ama o Senhor seu Deus com todo o seu corao, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento, e com toda a sua fora, e seu prximo como a si mesmo? Essa a lei de Deus, esses so o primeiro e o segundo grandes mandamentos. Voc ser julgado por eles. Pare de confiar em sua justia prpria, nessa moralidade de cem centavos por real e em boas obras. Contemple Deus e reconhea que voc nada pode fazer. Voc est totalmente sem foras. Tu no desejas sacrifcios, seno eu os daria.

    Mas, finalmente, a coisa mais surpreendente de todas para o homem que se arrepende e se torna cristo sua nova atitude para com Deus. Isso muito bvio aqui no caso de Davi. Que coisa excepcional essa! No hesito em afirmar que esse talvez o mais sutil e delicado teste de todos, quanto ao nosso arrependimento, ou quanto a nossa posio nossa atitude para com Deus. Vocs tm observado isso neste Salmo? A pessoa contra quem Davi pecou Deus, e mesmo assim a pessoa que ele deseja acima de tudo Deus. Eis a diferena entre remorso e arrependimento. O homem que no se arrependeu, mas que est apenas experimentando remorso, quando percebe que tem feito alguma coisa contra Deus, evita Deus. Vocs se recordam de Ado e Eva no princpio; eles pecaram e tentaram esconder-se de Deus. Eles no estavam arrependidos naquele momento. O homem que no tem sido tocado pelo Esprito de Deus e no tem sido convencido e persuadido, tenta fugir de Deus, evit-lO a todo custo. Ele no pensa, ele no l a

  • Bblia, ele no ora; ele faz tudo que pode para no pensar nessas coisas. Entretanto a coisa extraordinria acerca do homem que est convencido do pecado pelo Esprito Santo que, embora ele saiba que tem pecado contra Deus, ele quer Deus Tem misericrdia de mim, Deus. Ele quer estar com Deus esse o paradoxo peculiar do arrependimento querer Aquele que tenho ofendido! Por conseguinte, coloco isso da seguinte forma: o impenitente evita Deus; o penitente sabe que ningum seno Deus pode realmente satisfaz-lo. E prosseguindo, digo ainda a respeito dele, que embora ele saiba que no tem buscado a Deus, todavia, ele volta-se para Deus e comea a falar com Ele. Ele cr que Deus pode ajud-lo, e sabe que nenhum outro pode ofertas queimadas, sacrifcios, so todos insuficientes. Toda a purificao que o mundo nos propicie no suficiente. O que eu posso fazer? pergunta ele; Como posso ficar livre da mcula? Existe apenas um que pode fazer isso, e esse o prprio Deus.

    No entanto, a coisa mais maravilhosa de todas e eu a reservo para a concluso esta: o pecador arrependido no apenas sabe que Deus tem poder para remover a mancha e a culpa do seu pecado; ele sabe, maravilha das maravilhas, que Deus est pronto e disposto a fazer isso. Ouam a Davi Tem misericrdia de mim, Deus. Ele sabe que Deus misericordioso. O que mais? Tem misericrdia de mim, de acordo com tua benignidade que palavras gloriosas! Mas ele no para nisso; ele acrescenta segundo a multido das tuas misericrdias, apaga as minhas transgresses. Essa a explicao do paradoxo do penitente: ele sabe que pecou contra este Deus santo, e no obstante, sabe que com Deus h benignidade, com Deus h uma multido de ternas misericrdias, e ele se lana sobre essa misericrdia Tem misericrdia de mim, Deus. Vocs certamente se lembram como Cristo colocou isso em Sua parbola daquele pobre publicano que foi ao templo para orar; ele estava to consciente de seu pecado que no pde levantar seus olhos para o cu, mas clamou, dizendo: Deus seja misericordioso para comigo, um pecador (Lucas 18:13).

  • Como Davi sabia de tudo isso acerca de Deus? A resposta, evidentemente, que ele havia experimentado isso. Deus o tinha abenoado; Deus tinha sido bom para com ele; Deus tinha sido bondoso para ele; e aqui ele est no seu terrvel pecado contra Deus. Davi disse: Eu posso me aventurar ir at Ele. Eu sou um mentiroso, eu sou um assassino, eu sou a causa da morte de pessoas inocentes. Nenhum homem me perdoar, mas embora Deus seja absolutamente santo, eu sei que Ele tem misericrdia. Ele benigno. Ele tem uma multido de ternas misericrdias. Eu posso ousar ir at Ele, e Ele no me rejeitar.

    Davi sabia disso, porm, meu amigo, voc e eu sabemos alguma coisa infinitamente maior. Haveria algum que est consciente de pecado e culpa, mas que no tem encontrado paz? Voc est procurando por ela? Eu lhe pergunto: voc tem se voltado para Deus? Ora, se voc to-somente soubesse o que fiz, no me aconselharia a voltar-me para Deus, diz algum: Eu tenho medo de Deus. Meu amigo, deixe-me implorar que voc se volte para Deus justamente como est. Davi sabia que Ele era misericordioso; ele sabia que Ele benigno e tem uma multido de ternas misericrdias; mas voc e eu somos privilegiados em sabermos disso de uma maneira infinitamente superior e melhor. O que significa o po e o vinho sobre a mesa da Ceia do Senhor? H uma lembrana, um memorial do fato que em determinado tempo, aproximadamente dois mil anos atrs, este Deus de misericrdia, este Deus de benignidade, este Deus de incontveis ternas misericrdias, enviou Seu nico Filho a este mundo. E Ele O enviou com um objetivo, ou seja, para que levasse a culpa do seu pecado e do meu. Deus colocou nossos pecados sobre Seu Filho e os puniu ali. Deus puniu nossos pecados em Cristo, e nEle nos oferece Seu livre perdo e absolvio.

    Lance-se sobre Ele, lance-se totalmente,

  • No deixe outra confiana intrometer.

    Essa, eu digo, a coisa mais estupenda no mundo, que o Deus a quem temos ofendido o Deus que providenciou o caminho da salvao. E esse incrvel amor de Deus, novamente, que nos deixa atnitos por causa da sua imensidade. Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unignito, para que todo aquele que nele cr, no perea, mas tenha a vida eterna (Joo 3:16). Esta a resposta. E tambm a medida do pecado. Vejam o que Deus teve de fazer; Ele teve de tratar com o pecado. O pecado to terrvel que esse sacrifcio foi imprescindvel. Suas boas obras no so suficientes para expiar o pecado; do contrrio, Cristo nunca teria morrido. Por que Cristo foi cruz, por que Cristo morreu? H somente uma resposta:

    No havia outro capacitadoPara pagar o preo do pecado;

    Somente Ele poderia abrir a portaDo cu e levar-nos l.

    Mas, graas a Deus, Ele fez isso, e portanto:

    Justamente como eu sou, sem nenhuma desculpa,E visto que Teu sangue foi vertido por mim,

    E que Tu me ordenas vir a Ti, Cordeiro de Deus, eu venho.

    Voc est preocupado com sua alma? Voc percebe a

  • posio em que est? Isso o perturba, voc est encarando isso? Pergunto: no seria o momento para voc fazer isso? Deus existe indiscutivelmente. Voc tem que encar-lO, e a nica maneira de faz-lo est em Jesus Cristo. Creia nEle, entregue-se sem reserva a Ele, e ser eternamente salvo.

  • 3. A PRINCIPAL NECESSIDADE DO PECADOR

    Cria em mim um corao puro, Deus. Salmo 51:10

    Gostaria de lembrar-lhes novamente que estou chamando sua ateno para este Salmo, no apenas porque ele a grande declarao clssica sobre a doutrina do arrependimento, mas pelo fato que, ao mesmo tempo, ele nos lembra, de uma maneira muito clara e incisiva, de alguns dos passos e estgios atravs dos quais qualquer indivduo tem que passar a fim de tornar-se um verdadeiro cristo. H certas coisas que so essenciais posio crist. No peo desculpas por fazer tal afirmao. Penso que uma das grandes tragdias da atualidade que uma noo de incerteza tem entrado na concepo da pessoa comum quanto ao que constitui um cristo. No h dificuldade no Novo Testamento em descobrir o que faz de algum um cristo. Certas pessoas foram chamadas crists por uma razo muito especfica, e isso era uma coisa to definida que, s vezes, ser cristo tornou-se algo perigoso. No h dvida ou incerteza no Novo Testamento, e houve outros tempos na histria da Igreja quando a posio do cristo era perfeitamente clara e definida. A firmo que uma das maiores tragdias do sculo vinte que um conceito frouxo quanto ao que constitui o cristianismo, e o que torna um homem em cristo, tem penetrado no nosso conceito. No precisamos estar preocupados por ora acerca das causas disso. Sabemos que, em ltima anlise, isso pode ser ligado tentativa de negar a autoridade nica deste Livro (a Bblia) e substituio da revelao divina pelas idias humanas.

    Aqui neste Salmo, de forma muito definida, esto reunidas para ns algumas destas coisas essenciais que so

  • sempre parte da textura da verdadeira experincia crist. Digo novamente, a no ser que estejamos cientes destas coisas em ns mesmos, de alguma forma ou extenso, no temos direito de aplicar o termo cristo a ns mesmos. Aqui temos, a um e ao mesmo tempo, uma exposio aterrorizante da necessidade da espcie humana perdida no pecado, e a proviso que foi feita para ns no evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. No se encontra isso de forma plena neste Salmo, mas h nele uma introduo de maneira extraordinria. Aqui est expresso em embrio o que temos em plenitude maior no Novo Testamento. Estamos olhando para este Salmo deste modo porque a natureza do homem sem Cristo est exposta aqui de forma muito clara e marcante. Deixem-me resumir o ponto a que temos chegado em nossos estudos prvios deste Salmo. H certos passos necessrios antes que algum se torne cristo, e o primeiro que o homem precisa parar e pensar. Afirmo que impossvel ser cristo sem reflexo. Reconheo que h muitas pessoas que acham que um homem cristo justamente porque ele no pensa e que aqueles que esto sem Cristo tm o monoplio do pensamento. Todavia, a Bblia toda afirma que um homem no pode tornar-se cristo at que ele pense. E acerca do que ele deve pensar? Deve pensar acerca de si mesmo. Davi havia cometido um pecado terrvel, um crime terrvel. Ele foi culpado de homicdio, de adultrio, e ainda se comportava como se no tivesse feito absolutamente nada. E teve que ser confrontado pelo profeta Nat, que mostrou-lhe o que havia feito e obrigou-o a encarar a si mesmo. Foi ento que ele percebeu exatamente o que havia feito. Esse sempre o primeiro passo. Se voc uma pessoa que no tem se detido e olhado a si mesmo, seja o que for a verdade sobre voc, posso lhe dizer que ainda no um cristo. impossvel ser cristo sem encarar a si mesmo e olhar para a sua prpria vida. O mundo se esfora para impedir-nos de fazer isso. Com seus prazeres organizados e todas as suas atraes sugestivas, ele faz de tudo para impedir as pessoas de se deterem, pensarem e encararem-se a si mesmas e suas prprias vidas. Mas aquele que cristo j ultrapassou tudo

  • isso. Ele tem parado e olhado, tem examinado, reconhecido certas coisas acerca de si mesmo, e feito uma confisso definida. Voc encontrar isso no primeiro versculo deste Salmo.

    Ento, o segundo passo que um homem que se torna cristo algum que percebe sua total incapacidade. Ele reconhece sua necessidade de misericrdia e de perdo. aquele que diz: Tem misericrdia de mim, Deus, segundo a tua benignidade; segundo a multido das tuas misericrdias, apaga as minhas transgresses. Ele algum que tem visto que no pode livrar-se do sentimento de culpa, no pode encontrar paz e descanso para seu corao e mente como resultado de qualquer coisa que faa. Em desespero ele volta para Deus, o Deus que ele tem ofendido, e diz a si mesmo: Minha nica esperana est em Deus. O nico que pode me dar paz Aquele que mais tenho ofendido. Ento ele se lana sobre o amor, compaixo e misericrdia incomparvel desse Deus nico.

    Portanto, o ponto ao qual temos chegado que o homem que no percebe que necessita de perdo no cristo. Podem cham-lo de um homem moral, se quiserem, podem cham-lo de uma pessoa tica, podem cham-lo de qualquer coisa que quiserem. Eu no nego que ele possa ser todas essas coisas; porm afirmo literalmente que um homem no pode ser cristo at que reconhea que um pecador e necessita do perdo, misericrdia e compaixo de Deus, e clama por eles. Isto uma daquelas coisas essenciais, sem as quais ningum tem o direito de usar o grande e exaltado nome de cristo. Contudo, observem que Davi no parou a. Ele foi alm disso. E quero enfatizar que todo verdadeiro cristo invariavelmente deve sentir sempre a necessidade de ir alm desse ponto. A primeira coisa que um homem se torna consciente da necessidade do perdo. Tenho certeza que todos ns sabemos algo acerca de uma conscincia acusadora e atormentadora do sentimento que temos errado e que queremos ficar livres daquele sentimento de

  • culpa, a qual nos traz infelicidade. Queremos sentir descanso e paz. Esta a primeira coisa que o pecador convicto pelo Esprito Santo sempre sente. O homem que se detm, encara a si mesmo e percebe o que tem feito algum que est infeliz, e quer ficar livre desse estado de infelicidade. Todavia, o verdadeiro cristo no pra por aqui. O prximo passo ver e odiar aquela terrvel coisa dentro de ns que sempre nos torna propensos ao pecado.

    Observem estes passos no caso do rei Davi. Em primeiro lugar, ele estava desatento. Ento, ele estava preso, viu sua transgresso, iniqidade e pecado. A seguir, o sentimento de culpa e o desejo de se ver livre dele e o clamor: Tem misericrdia de mim, Deus. Mas ele no parou nisso. Seguiu adiante e disse: A coisa terrvel essa, que eu fui capaz daquele adultrio e homicdio. Essa a verdadeira essncia da posio crist. O cristo nunca pra meramente no desejo de ser perdoado; ele sempre acusa e examina a si mesmo com tal dimenso que se torna mais inquieto e preocupado acerca daquilo que est dentro dele, e que o torna capaz de tal ao do que a ao em si. O perdo no mais para ele a grande questo; aquilo que est dentro dele que sempre o coloca na posio de carente de perdo. Espero que eu esteja tratando disso de forma clara. Receio de que um evangelismo muito superficial aquele que pra no perdo como se isso fosse o nico problema. No, no; h alguma coisa mais terrvel que a necessidade de perdo, que h algo em mim que me coloca na posio de que eu necessite dele. a posio que Davi alcanou, e isso a coisa que ele expressou to pungentemente no versculo dez: Cria em mim um corao puro, Deus. Esse o meu real problema, ele parecia dizer, meu corao que est errado.E a ele est clamando a Deus Deus, cria em mim um corao puro. Isso algo que est sempre presente em todo verdadeiro cristo. Ele reconhece sua necessidade de uma nova natureza, ele reconhece a necessidade de um novo nascimento de regenerao. O verdadeiro cristo algum que reconhece que no basta ser perdoado e decidir viver

  • uma vida melhor; ele percebe que precisa ser criado de novo. A no ser que Deus faa alguma coisa no ntimo do seu ser ele est totalmente perdido. Ele reconhece que necessita nascer de novo, ou seja, ser criado novamente.

    Ora, esse o assunto para o qual estou chamando sua ateno neste terceiro estudo. um grande assunto, um assunto sobre o qual muitos volumes tm sido escritos, e obviamente no posso trat-lo exaustivamente aqui. No entanto, vou mostrar-lhes a doutrina da regenerao como ensinada no Salmo 51. Ele no nos fala todas as coisas a respeito desta doutrina. Estou simplesmente me limitando exposio dela dado aqui por Davi em sua agonia e em sua orao. Entretanto, deixem-me dizer de passagem que nada, parece-me, to estranho como a maneira que o homem, por natureza, sempre rejeita esta doutrina da regenerao. s vezes eu penso que no h nada que demonstre tanto a profundidade do pecado no corao humano como essa rejeio da doutrina do novo nascimento. Leiam o Novo Testamento e constataro que muitos rejeitaram esta doutrina naqueles dias. Quando nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo falou sobre isso, sempre foi perseguido. Certas pessoas no gostavam dEle porque mencionava isso. Quando Ele comeava a expor a profundidade da iniqidade no corao humano e falava acerca de um novo nascimento, elas invariavelmente no O compreendiam. Elas no gostavam de ouvir isso naquela poca, e desde ento sempre tem sido assim. Quando Joo Wesley foi verdadeiramente convertido, ele retornou sua universidade em Oxford e pregou um sermo sobre esse assunto; e foi odiado por isso. Aquelas respeitveis pessoas religiosas l em Oxford no gostaram desta doutrina, e eles tornaram impossvel a ele continuar pregando ali. O homem natural, o corao humano natural, no regenerado, rejeita esta grande e maravilhosa doutrina bblica do novo nascimento e regenerao. E isso igualmente verdadeiro hoje. As pessoas se assentam e ouvem um discurso ou sermo sobre o que chamado de paternidade de Deus, ou a fraternidade do homem, e nunca

  • rejeitam isso. Quando elas so exortadas a viver uma vida melhor, nunca fazem absolutamente nenhuma objeo. Elas dizem que isso perfeitamente correto, e mesmo que sejam repreendidas por no viverem uma vida melhor, elas dizem que isso perfeitamente verdade, totalmente justo e que poderiam melhorar. Mas se um pregador se levanta perante o homem natural e diz: Voc precisa nascer de novo voc precisa receber uma nova vida de Deus, ele questiona: Que doutrina estranha essa? Lembro-me muito bem de uma ocasio em que pregava no centro da Inglaterra numa comunidade agrcola, e tive o prazer de ser hospedado por um fazendeiro e sua esposa. Lembro-me que noite, no jantar, a esposa do fazendeiro comeou a falar de outra esposa de fazendeiro e disse alguma coisa assim: Sim, ela uma linda mulher, a mais excelente esposa de fazendeiro, e uma pessoa muito religiosa; mas, sabe, ela fica falando sobre nascer de novo. Essa boa mulher sentiu, de uma forma ou de outra, que havia algum tipo de defeito no carter dessa outra pessoa. Era correto o fato dela ser religiosa, mas falar sobre uma nova vida e nascer de novo era algo que ela no poderia aceitar de forma alguma, algo que obviamente ela considerou quase como uma aberrao mental.

    Pois bem, essa uma atitude muito comum. H no corao humano, por natureza, uma objeo enraizada para com a doutrina do novo nascimento. Qual a causa disso? No h qualquer dificuldade em descobrir a resposta a essa pergunta. Quando sou confrontado por essa doutrina, concluo que estou num estado totalmente mal e numa condio tal, que nada menos que o novo nascimento poder me endireitar. E por natureza eu no gosto dessa sugesto. O homem natural est preparado para admitir que ele no cem por cento um santo; entretanto se voc disser que ele que est absolutamente corrompido, e que no apenas carece ser cem por cento santo, mas se ele no nascer de novo ento no pode ter esperana, ele ficar ressentido e perguntar: O que voc est sugerindo? Ele sentir que voc o est insultando. O homem, como resultado do pecado e da Queda,

  • certamente no perdeu sua capacidade para tirar uma deduo correta das afirmaes que so feitas; e essa precisamente a implicao da doutrina do novo nascimento. Vocs se lembram como nosso Senhor colocou isso a Nicodemos, quando ele O procurou naquela noite. Nicodemos disse: Mestre, eu O tenho observado, observado Seus milagres, e O tenho ouvido, e isso evidncia para mim que o Senhor um Mestre vindo da parte de Deus, porque nenhum homem pode fazer estes milagres se Deus no estiver com ele. Ento nosso Senhor interrompeu-o e disse: Se um homem no nascer de novo, ele no pode ver o reino de Deus (Joo 3:3). Vocs se lembram do dilogo que se seguiu. Claramente, no pensamento de Nicodemos havia alguma coisa como isto: Eu O tenho observado e ouvido, e tenho chegado concluso que o Senhor tem alguma coisa que eu preciso. Eu sou um mestre em Israel, tenho um bom conhecimento, mas estou bem certo que o Senhor possui algo mais que eu. O que tenho de fazer para me tornar como o Senhor? Nosso Senhor lhe disse: No uma questo de acrescentar algo ao que voc j tem; voc precisa nascer de novo, voc tem que voltar diretamente ao fundamento no adio, e sim, regenerao. Mas ns no gostamos disso, no gostamos por natureza, de uma doutrina que afirma que estamos sem esperana, que somos to pecaminosos, to corrompidos, que no podemos ser aperfeioados, visto que devemos ser literalmente criados novamente.

    Permitam-me colocar isto de outra maneira. Rejeitamos a doutrina do novo nascimento porque a doutrina que nos fala muito claramente, por implicao, que realmente no podemos corrigir a ns mesmos. Eis a novamente outra coisa que a natureza do homem sempre rejeita. Esse o motivo pelo qual ele nunca rejeita um apelo que feito para viver uma vida melhor. Ele gosta muito mais disso, pois, em certo sentido, isso o parabeniza. Se eu dissesse: Esse o tipo de vida que voc tem a obrigao de viver, apelo a voc a fazer isso, todos ns por natureza iramos gostar disso, porque eu estaria sugerindo que ns somos capazes de fazer

  • assim. Sempre gostamos de uma doutrina que sugere que possumos capacidade. O que o homem natural no gosta de uma doutrina que lhe diz que no pode fazer coisa alguma; que todos os seus esforos e tentativas no o levaro a parte nenhuma; que ele pode jejuar, suar e orar, mas se sentir to intil como se sentiu Martinho Lutero. Ele era um monge que jejuava e orava em sua cela, que tinha ido a Roma numa peregrinao, e havia feito tudo que um homem poderia fazer para salvar-se, mas estava to distante no fim como no comeo. E impossvel! Mas o homem por natureza no gosta disso, e essa a razo pela qual todos ns lutamos contra essa doutrina do novo nascimento, que logo de incio nos ensina que no podemos fazer coisa alguma, a no ser esperar em Deus e pedir-Lhe que faa algo por ns.

    Ou deixem-me colocar isso ainda de outra forma. Essas so as explicaes bvias da oposio doutrina, mas a causa real do problema pode ser encontrado num nvel mais profundo. Por que eu deveria fazer objeo quando me dizem que o evangelho afirma que sou to corrompido e que devo nascer de novo? Por que deveria fazer objeo quando me dizem que todos os meus esforos e tentativas no so adequados? Certamente esta a resposta: isto se deve ao meu fracasso em reconhecer que estou face a face com Deus. Estamos to acostumados a olhar a ns mesmos e comparar-nos com os outros. Todos ns estamos competindo uns com os outros. Observem as profisses, olhem os homens de negcio; todos eles esto desafiando uns aos outros. Os homens dizem que voc s pode progredir neste mundo se se esforar essa a idia geral da vida que temos por natureza, e podemos satisfazer uns aos outros e aos padres humanos at certo ponto. Mas no que diz respeito ao assunto que estamos considerando, no estamos preocupados com o homem; estamos face a face com Deus. Davi j havia expressado isso no sexto versculo: Eis que te comprazes na verdade no ntimo. Se percebermos por um momento que estamos preocupados com Deus e no com o homem, rapidamente iremos perceber quo perdidos e desamparados

  • estamos ns.

    A outra explicao, claro, a nossa falha em perceber a verdade acerca de ns mesmos. Davi expressou isso no quinto versculo: Eu nasci na iniqidade, e em pecado me concebeu minha me. Um homem que j percebeu isso sobre si mesmo no rejeita um evangelho que diz a ele que deve nascer de novo. O homem que faz oposio ao evangelho aquele que pensa que, no geral, ele muito bom, e que uma mancha negra ocasional pode ser removida facilmente. O homem que reconhece que foi formado na iniqidade e que em pecado sua me o concebeu, quando dizem que ele est corrompido e que deve nascer de novo, declara: Eu concordo plenamente. Sei que meu corao est nessa condio corrupta.

    Eis a, ento, as razes e explicaes da objeo doutrina. , no entanto, tambm verdadeiro dizer que uma doutrina humilhante. Vamos admitir que nenhum homem, por natureza, gosta de ser informado que precisa nascer de novo. E verdade quanto a todos ns. Nosso problema principal o orgulho, nossa auto-satisfao, nossa auto-estima e nossa autoconfiana. O evangelho chega e acerta um soco mortal em nosso eu, e ns no gostamos disso. As pessoas nunca gostaram disso e ainda no gostam. uma doutrina desconfortvel e humilhante, todavia essa a verdadeira essncia da posio crist. Tudo colocado de forma perfeita nestes dois versculos: Eis que te comprazes na verdade no ntimo... Cria em mim um corao puro, Deus (versculos 6 e l0).

    Por que devemos nascer de novo? Eis a questo. O que torna o novo nascimento uma necessidade absoluta se queremos verdadeiramente ser um cristo? A primeira resposta esta: a infidelidade e a insinceridade da nossa natureza. Davi admitiu isso com estas palavras: Eis que te comprazes na verdade (ou sinceridade) no ntimo. Esse o problema. Vocs percebem os passos que Davi deu. Ele

  • examinou a si mesmo, reconheceu seus pecados, as coisas que praticou. Ento deu mais um passo e disse: H alguma coisa podre dentro de mim, em meu corao, e em certo sentido no posso fazer nada a esse respeito, porque tenho visto que no posso confiar em mim mesmo. Careo de sinceridade nas profundezas da minha verdadeira natureza e ser. Que confisso terrvel para um homem fazer acerca de si mesmo! E mais, algo que todo cristo necessariamente deve fazer. Jeremias colocou isso nestas palavras: O corao enganoso mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto (Jeremias 17:9). Um grande servo de Deus colocou isso num hino com estas palavras:

    Eu no ouso confiar na mais doce disposio.

    Amigo, voc confia em si mesmo? Se confia porque no conhece a si mesmo. Voc ainda no descobriu as contradies, as distores e a perverso em seu prprio corao? Voc no chegou a ver a insinceridade que est bem no centro? Todos ns somos hipcritas, todos ns somos simuladores, todos ns aparentamos ser aquilo que no somos. Estaria eu exagerando ou estaria afirmando a pura verdade? Estaramos felizes se nossas imaginaes e pensamentos secretos fossem passados numa tela para que todos pudessem ver? No, estes versculos so perfeitamente verdadeiros, e naquele estado e condio estamos totalmente sem esperana pelo fato de estarmos preocupados com Deus. Podemos fingir uns aos outros, podemos dizer que estamos arrependidos a fim de sermos perdoados, todavia no isso o que realmente est em nossos coraes, contudo a outra pessoa no percebe. Queremos sair de uma dificuldade, queremos evitar o sofrimento, ento dizemos que estamos arrependidos. Mas quando estamos tratando com Deus, tudo isso totalmente intil. Estou face a face contigo, Deus, disse Davi, e Tu desejas a verdade e sinceridade no ntimo.

  • No posso fugir de Ti. A palavra de Deus, diz o autor da Epstola aos Hebreus, viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra at ao ponto de dividir alma e esprito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propsitos do corao e todas as coisas esto descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas (Hebreus 4:12,13). Ah, se voc est simplesmente interessado em ficar livre do sentimento de culpa e infelicidade e nada mais, digo-lhe que ainda no est na verdadeira posio crist. O cristo vai alm disso: ele percebe essa necessidade fundamental de uma sinceridade no ntimo. Ele se v atravs dos olhos de Deus. Ele sabe que est sendo lido como um livro aberto, e no importa o que outras pessoas possam ver nele e possam pensar dele, ele sabe que Deus est lendo os pensamentos e intenes do seu corao e todas as coisas acerca dele que esto no recndito de sua vida. Ele sabe que sua nudez est visvel aos olhos do Deus todo-poderoso.

    Alm disso, reconheo que no posso tornar a mim mesmo sincero. Eu at resolvo a ser sincero, contudo percebo que ainda estou brincando comigo mesmo, engano a mim mesmo. Mantenho em dia meu livro-caixa com as contas dos lucros e perdas, e sou bem-suce