O CHAFARIZ DE BONSUCESSO - Curso de História · muito pela importância econômica do Porto de...

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O CHAFARIZ DE BONSUCESSO

O chafariz de Bonsucesso: um monumento

da história e memória leopoldinense.

MANGUINHOS: história e memória de um bairro

O desenvolvimento da região da Leopoldina se deveu muito pela importância econômica do Porto de Inhaúma.

GEHAL

Não perca a chance de inscrever-se no

Grupo de Estudos Históricos dos Amigos da Leopoldina.

Dezembro 2010 Ano 3 Nº 5

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O CHAFARIZ DE BONSUCESSO

O objetivo deste artigo é despertar o interesse

das pessoas para a realidade em que se encontra

aquele que foi um dos mais belos monumentos

do Bairro de Bonsucesso:o chafariz da Praça

das Nações .O chafariz, de autor

desconhecido,esculpido há 102 anos atrás, traz-

nos à memória a realização da Exposição

Nacional de 1908, ocorrida entre os morros da

Urca e da Babilônia na Praia Vermelha. Esse

chafariz, talvez o primeiro em ferro fundido a

ser executado no

Brasil, teve sua

fundição artística feita

pela Companhia

Nacional de Fundição,

em 1908. A peça foi

criada,pois, para a

Exposição Nacional,

promovida pelo

Governo Federal para

comemorar o

centenário da Abertura

dos Portos às nações

amigas.

A exposição tinha por

objetivo a

apresentação dos bens

naturais e dos produtos

manufaturados

brasileiros, oriundos de diversos estados da

federação. O chafariz, de certa forma,

representava a competição entre uma fundição

nacional e as famosas fundições do Val D’Osne

.Tal obra é, provavelmente, um dos últimos

exemplares daquela exposição.

Não se tem muito mais informação sobre esse

monumento, mas sabe-se que ele foi transferido

para o Largo do Maracanã, talvez para contrapor

com o chafariz de ferro francês existente desde

1917 na Praça Barão de Drumond, que na época

se chamava Praça 7, no final do Boulevard ,na

28 de setembro.

A informação que se tem é de que o chafariz foi

levado para Bonsucesso em 1936, por conta da

construção de uma estação elevatória da Cedae

.O chafariz de Bonsucesso era composto por

quatro bacias, com muita decoração de folhas

aquáticas, unido por uma coluna onde estão

fixados quatro golfinhos (símbolo da cidade)

diametralmente opostos. Tinha ao centro uma

coluna com vários elementos ornamentais: uma

guirlanda, que começa em sua base e em volta

desta coluna, chega ao topo, com uma figura de

mulher segurando uma luminária em forma de

globo. Os quatro golfinhos funcionavam como

dutos, por onde fluía a água. E este monumento

nos lembra por observação o estilo de Moreau

apesar de não ser possível afirmá-lo já que a

obra fora feita no Brasil. O Rio possui um

acervo de arte a céu aberto.

Pela descrição e fotos vemos que a coluna tem

6m de altura e as folhas se enrolam em espiral

até o capitel. A cerca de 2m do piso, outra bacia

recebia a água que jorrava de quatro garças.

Outro detalhe observado nas fotos do chafariz é

que o capitel imita o estilo. coríntio. Na parte

superior do capitel estava a estátua, agora

desaparecida. A Mulher da Luz sustentava com

o braço direito um globo luminoso. Era uma

escultura muito graciosa, com planejamento

virtuoso, sendo ela a melhor peça do chafariz.

Tinha 1,80m de altura e pesava 250kg.

. A exposição trouxe ao conhecimento do

público interessado uma quantidade

considerável de variadas manifestações

artísticas.O chafariz de Bonsucesso é uma delas.

Entretanto, as condições de preservação em que

se encontra o monumento traz-nos a proposta de

resgatar uma parte significativa da memória

patrimonial, artística e também problematizar a

questão da preservação de obras artísticas

públicas na região da Leopoldina . Em 1914, o

engenheiro Guilherme Maxwell, adquiriu terras

do antigo Engenho da Pedra, urbanizou-as e

depois as loteou. Então, eclodindo a Primeira

Guerra Mundial (1914-1918) nomeou os

logradouros com nomes de aliados do Brasil: a

França, Bélgica ,Estados Unidos e Inglaterra.

Assim surgiu a Praça das Nações e as avenidas

Paris, Londres e outras. A antiga Estrada do

Porto de Inhaúma que ligava o sertão ao mar,foi

rebatizada com o nome de Avenida Guilherme

Maxwell.A Praça das Nações só se tornaria

reconhecida como logradouro a partir de 1918 e

recebeu melhorias nas gerencias dos prefeitos:

Pedro Ernesto ( 1936-1937) e Mendes de Morais

(1948)

O Chafariz da Praça das Nações é,portanto, um

marco da época da Exposição Nacional de 1908.

A crescente industrialização que então se

operava é expressa no jornal “Careta” na

edição de sábado 06 de junho de 1908 que

mostrava as obras para tal realização

Hoje, em 2011, o monumento está fazendo 102

anos . Completamente depredado e esquecido

por muitos, apesar do seu inestimável valor

histórico e artístico, retrata a história de um

bairro carioca. Passamos por ele todos os dias e

o ignorando como se não existisse ,acabamos

por ignorar a nossa própria história patrimonial

urbana.

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“A curiosidade pelos lugares onde a memória se

cristaliza e se refugia está ligada a este

momento particular da nossa história” (NORA,

1984 )

O Rio de Janeiro é a segunda cidade no mundo a

possuir o maior número de peças escultóricas

em ferro fundido.. O Rio possui um acervo de

arte a céu aberto de cerca de 100 obras de

autores desconhecidos, de estrema beleza e

refinamento. As quatro garças do chafariz de

Bonsucesso infelizmente foram furtadas, Uma

foi recuperada e se encontra na

SECONSERVA, na Av. Presidente Vargas s/n,

no Parque Noronha Santos (próximo à Central

do Brasil). As gravuras mostram a beleza

artística deste monumento como ainda se

encontravam no ano de 1959.

As fotos de 1991 mostram a falta das garças e da

luminária em forma de globo no alto e assim

mais uma lacuna na memória das ricas

esculturas da região leopoldinense.

Recentemente o Monumento foi alvo de um

novo vandalismo com o roubo de partes da peça

que tinha 250 kg e 1,80 m de altura. (Jornal O

Globo, 09/10/2010, edição eletrônica),

descaracterizando mais ainda a originalidade e

beleza da peça.

Para reproduzir a réplica da escultura e a

restauração estética e funcional do chafariz da

Praça das Nações seria necessário cerca de R$

50.000,00.Entretanto, faltam 3 ( três) garças, que

chegam a um valor de R$8.000,00.Por outro

lado, restaurando a bacia danificada, somar-se-

ia mais R$ 4.000,00 além de todo equipamento

elétrico e hidráulico do chafariz, cujo custo

previsto é de R$ 20.000,00

Será necessário também investimento na

conscientização da população, educar as

pessoas, para que estas adquiram consciência

cidadã para honrar e preservar seu patrimônio e

história. Maravilhosas obras de artes, tal qual

o chafariz de Bonsucesso, estão sendo vitimados

pelo descaso, vandalismo e depredação. A falta

de cidadania, por parte de alguns, é um dos

fatores da não preservação da sua memória

local.

Entretanto,o descaso, o abandono, a

desvalorização, a falta de cidadania determinam

as conseqüências destrutivas das obras públicas

na cidade do Rio de Janeiro ou em qualquer

lugar do mundo. Em contrapartida o cuidado, a

valorização e a cidadania reavivarão a beleza

artística e escultórica das obras de ferro fundido

e também, o testemunho histórico que o

monumento representa.

Entretanto, será necessário um investimento

financeiro para reconfigurar e restaurar o

monumento e inculcar desde já, na mente das

comunidades locais a cidadania, que nos leva ao

nível de verdadeiros protetores da nossa própria

memória.

A Dra.Vera Dias, Diretora da Fundação Parques

e Jardins ressalta que o “patrimônio histórico

compreende a criação arquitetônica que dá

testemunho de uma civilização, de uma

evolução significativa ou de um acontecimento

histórico que com o tempo adquirem uma

significação cultural(...) Preservar os

monumentos significa deixar para as gerações

futuras o legado do nosso passado bem como

dar identidade a cada cidadão. Oferecer folhetos

aos moradores do Bairro da Leopoldina

(insistentemente) com o nome, localização dos

monumentos da área até mesmo em sacolas de

supermercado ou folhetos nas residências

ajudaria na conscientização dos moradores da

região da Leopoldina.”

______________________________________________________________________

Elizeu Fernandes Gonçalves é aluno do 5º período de História da UNISUAM

Documento sobre a obra da X RA (Região Administrativa) cedido pela Fundação Parques e Jardins

(SECONSERVA).Cópia cedida para consulta.

REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Rio de Janeiro: SABIN, ano 4, nº. 43, Abr. 2009. pp58-63.

CARETA. Rio de Janeiro, jun 1908. (disponível na Biblioteca Nacional Digital http:// )

O GLOBO. Rio de Janeiro, out 2010 ( edição eletrônica, acesso dia 08/10/2010 às 14:00 Hs)

SECRETARIA MUNICIPAL DE GOVERNO ( http://www2.rio.gov.br, link história dos bairros)

Carta Régia de 28/01/1808 ( de D. João VI ao Conde da Ponte, Biblioteca Nacional Digital, http://www.bndj)

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MANGUINHOS:

história e memória de um bairro

A história de Manguinhos está ligada à trajetória

histórica da cidade do Rio de Janeiro, com sua

divisão de bairros e segregação das pessoas que

saíam do centro para a periferia, motivados pela

epidemia de febre amarela ocorrida em 1870,

que causou 1.118 óbitos na cidade. Entre 1873 e

1876, mais duas epidemias, violentas,

ocasionaram mais mortes. Tais fatos implicaram

em muitas discussões em torno do saneamento

da capital do Império do Brasil. Começava

assim, a se delinear a polêmica em torno da

viabilidade e conveniência de se remover a

grande massa proletária do centro para as zonas

periféricas, exatamente no momento em que as

companhias de serviços públicos estendiam suas

linhas e canalizações em direção à zona norte e

sul da cidade. Uma sessão extraordinária da

Academia Imperial de Medicina em 1873,

afirmou que a epidemia era a “mais grave e

mortífera das que já no país tem havido”.

Médicos foram chamados para sugerir medidas

emergenciais: foi determinado a irrigação e

asseio das ruas e praças públicas; a saída dos

navios estacionados no porto; a retirada dos

imigrantes para fora da cidade e do município; a

nomeação de comissões paroquiais para socorrer

as vítimas do flagelo; a abertura do Hospital de

Santa Isabel; a inspeção dos cortiços visando a

sua remoção ou a diminuição do número de

moradores e também o aconselhamento à

população.

O primeiro plano urbanístico que teve o

Rio de Janeiro remonta justamente à década de

1870. Coincide com os anos mais prósperos – e

mais epidêmicos – do segundo Reinado, quando

a lavoura escravista do café no Vale do Paraíba

ainda alcançava boas possibilidades de

expansão e o Rio de Janeiro impunha-se como o

grande empório comercial do país.

Quanto à região onde se localiza

Manguinhos, a origem diz respeito às freguesias –

utilizada nos tempos coloniais pela Igreja Católica

para delimitar suas jurisdições eclesiásticas na

cidade e que depois da criação do Município Neutro,

no Império, passou a designar as divisões

administrativas do Rio de Janeiro. Há mais ou

menos um século e meio atrás naquela região havia

muitos mangues, por esta razão, o nome

Manguinhos.

O recorte da região onde se localiza

Manguinhos nos remete à Freguesia de Inhaúma,

criada em 1793, primeiramente com a denominação

de anhumas ou inhuma – nome de uma ave preta

comum naqueles lugares pantanosos. Ainda em

1565, Estácio de Sá concedeu duas sesmarias na

região – que eram extensas doações de terra

concedidas pela coroa portuguesa, durante o período

colonial, sendo uma a dos Jesuítas que daria origem

à Fazenda do Engenho Novo e a outra de Antônio da

Costa, futuro Engenho da Pedra. Ali predominaram

as lavouras açucareiras voltadas para a exportação,

do século XVI ao XVIII. Foi intensa, também, a

navegação de cabotagem entre as praias urbanas do

Peixe e Saúde com os portos Maria Angu e Inhaúma

e com os rios Faria, Jacaré e Timbó, por onde as

pequenas falésias( rochas à beira do mar ) e canoas

penetravam até o âmago do sertão carioca.

Manguinhos, como qualquer área

considerada favela, no Rio de Janeiro, sofreu com a

dessimetria e com o descompasso entre a formulação

e a prática das políticas públicas, fossem elas de

cunho habitacional ,urbanas ou sociais. O bairro hoje

faz parte da X Região Administrativa, sediada em

Ramos, e está entre os bairros de Benfica, Caju,

Jacaré, Maria da Graça, Higienópolis, Bonsucesso e

Ramos e é uma área do subúrbio carioca

leopoldinense próxima à baía de Guanabara que

apresenta uma densa ocupação popular ,onde se

localizam várias empresas e indústrias.

O seu reconhecimento como bairro deu-se

em 1988 e a situação das 12 comunidades

compreendidas neste espaço delimitado de forma

administrativa e geográfica não foram alteradas.

Essa nova configuração procurou sinalizar que a

região, com suas favelas, a partir de então, estaria

“inserida” na cidade.

Ao longo da sua trajetória histórica

apresenta realidades que enfocam o lado humano de

sua existência, numa viagem que vai do Rio de

Janeiro Colônia à República, sem saneamento e

infra-estrutura necessários à população. Entretanto,

não podemos esquecer a ação transformadora de

Oswaldo Cruz e o maior projeto arquitetônico e de

saúde do bairro: a Fundação Oswaldo Cruz, a maior

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instituição de saúde do Brasil e da América

Latina, reconhecida mundialmente.

Em cem anos de ocupação paulatina

foram elaborados projetos visando a transformar

a região, pela via do saneamento, do

planejamento urbano, do zoneamento e da

industrialização, em “uma zona digna de figurar

entre as melhores urbanizadas” (Reis, 1943:94).

O resultado, por motivos diversos, não se deu

como previsto nos vários projetos e a situação de

pobreza e de abandono de tais comunidades foi o

reflexo das propostas frustradas e das relações

conflituosas por interesses antagônicos.

Entretanto ,é importante ressaltar que

não só de favelização ou de tráfico vive

Manguinhos. Ele tem uma história marcante e

viva dentro da alma dos seus moradores,

subdivididos em várias comunidades.

A história desse bairro se entrelaça com

a da Fiocruz, que não teria lugar mais adequado

a ocupar: no seio de uma sociedade que

sobrevive entre a pobreza e a ciência.Tal

contraste , a Fiocruz, ao longo da sua trajetória,

vem tentando mudar, com projetos voltados para

essas comunidades, a fim de trazer-lhes quem

sabe, um futuro melhor. Por ser próxima, ela se

articula constantemente com os moradores, já

que as comunidades localizam-se nas

proximidades do “campus” da Fundação. Num

contexto de inserção, os moradores das

comunidades do bairro se tornam atores

políticos, reivindicando sua participação nas

políticas públicas, através de órgãos de

representação local. Assim, a Fiocruz vem

integrando à sociedade projetos sociais de cunho

referencial, numa vontade constante de tornar

melhor a convivências das famílias dentro de

uma concepção de cidadania. Como exemplo

citamos: Teias-Escola Manguinhos (Território

integrado de atenção à Saúde); Oficina Escola de

Manguinhos (Educação profissional em

conservação e restauração de bens culturais

imóveis para jovens dos Complexos de

Manguinhos e da Maré); Oficina Artesanal

(voltada para 795 mulheres e homens do

complexo de Manguinhos); Bazar da

Solidariedade (desde 1998 atende a famílias de

portadores de HIV/Tuberculose/Dependência

química); Ateliê da Saúde (atende pacientes de

assistência psicológica do Ipec). Esses são apenas

alguns exemplos do papel social que a Fiocruz tem

em parceria com a comunidade de Manguinhos.

Como toda boa discussão histórica, na

vontade de minimizar a “favelização”, deparamo-nos

com ações da Igreja e do Estado, na perspectiva de

negociar a cumplicidade entre o poder público e a

comunidade. Nesse embate, a reurbanização de

Manguinhos nos remete a um recorte da formação da

sociedade brasileira- seja colonial,imperial ou

republicana.O homem tem atuado sobre a história de

maneira transformadora,mas a possibilidade de

atuação e transformação é limitada ou ampliada

conforme a própria conjuntura histórica existente.

O desejo de um lar, de ocupar uma terra

onde não havia nada, de marcar um pedacinho para

morar e de construir um “lugar”, fez surgirem vários

“lugares” que passaram a se chamar favela. Assim

temos uma breve concepção de Manguinhos.

Sheyla Cristina Borges Linhares é aluna do 5º período de História da UNISUAM

REFERÊNCIAS

1 - FERNANDES, Tânia Maria; COSTA, Renato Gama-Rosa. Histórias de pessoas e lugares: memórias das

comunidades de Manguinhos. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2009. 232 p.

2 - BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um Haussmann Tropical. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de

Cultura, 1992. 358 p. (Biblioteca Carioca; v.11)

3 - BENCHIMOL, Jaime Larry. Manguinhos do sonho à vida: a ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro: Casa de

Oswaldo Cruz, 1990. 250 p.

4 - OLIVEIRA, Benedito Tadeu de (coord.); COSTA, Renato da Gama-Rosa; PESSOA, Alexandre José de Souza.

Um lugar para a ciência: a formação do campus de Manguinhos. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, s.d. (Coleção História e

Saúde)

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O PORTO DE INHAÚMA E O DESENVOLVIMENTO

DA REGIÃO DA LEOPOLDINA (I)

“A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para

servir o presente e o futuro.” (LE GOFF, 1994, p.477)..

“É de concluir-se que Inhaúma teria sido uma aldeia de Tamoios, pelo que se chamará antes

“Tapéra”,aliás,figurando,assim,na carta de sesmaria concedida a jesuítas,em 1555,por Estácio

de Sá, - “cem braças ao longo do mar e mil pela terra a dentro da tapera de Inhaúma”. Havia

varios portos.Nas cartas se vêem,no litoral,o nome da grande freguesia varias veses

repetido:”Porto de Inhaúma”,Saco de Inhaúma”,Bonsucesso de Inhaúma”,etc,Para o

mar,logo,os Jesuítas abriram caminhos,seis anos depois, - o de freguesia,antes Inhaúma,e que

passando por Bonsucesso,ia ter ao porto principal.Outro rasgo na floresta, - para a grande

estrada que ia á cidade, - a de Santa Cruz.Conservou esse caminho longos anos”.(Almanaque

Suburbano,ano I nº I,p.50,1941)

O desenvolvimento da região da Leopoldina

se deveu muito pela importância econômica

de suas Freguesias, de seus rios e

particularmente do Porto de Inhaúma,

responsável pelo transbordo de produtos

agrícolas entre os Engenhos da região e o

Porto Carioca.Procuraremos mostrar neste

artigo como esta região se tornou importante

para o abastecimento da Cidade do Rio de

Janeiro,pois acreditamos que não podemos

falar do seu desenvolvimento sem pensar

nos meios de transportes e nas micro-

relações econômicas,políticas e sociais que

permitiram que a mesma pudesse contribuir

de alguma forma para o crescimento

econômico e urbano da cidade. A criação do

referido porto ,o surgimento do subúrbio da

Leopoldina em fins dos séculos XIX e inicio

7

do XX ,a construção da Estrada de Ferro

Leopoldina em 1886 foram marcos

importantes para o crescimento urbano do

Rio de Janeiro e conseqüentemente

transformadores da estrutura fundiária nas

até então consideradas Freguesias Rurais,

que aos poucos foram sendo fragmentadas e

cedendo lugar às pequenas propriedades.

A importância histórica desta região

remonta à abertura de caminhos, aos rios

navegáveis e particularmente à criação do

Porto de Inhaúma no século XVI,logo após

a concessão destas terras aos Jesuítas pelo

então Provedor Cristovão de Barros.O

cronista Dias da Cruz relata no

“Almanaque Suburbano”, que os Jesuítas

rasgaram a floresta e abriram três caminhos

dentro da cidade: um passando por

Bonsucesso que ligava o Porto Carioca a

Santa Cruz, posteriormente conhecida como

Estrada Real, hoje Avenida Dom Helder

Câmara;um segundo para a Rua

Matacavalos, hoje Rua do Riachuelo até o

Engenho Velho (atual bairro de São

Francisco Xavier); o terceiro ia do Castelo

para o Flamengo e Botafogo indo até a atual

Lagoa Rodrigo de Freitas.Esses caminhos

permitiam a comunicação de suas sesmarias

com o centro do Rio de Janeiro, por onde

eram escoadas toda a produção de açúcar,

aguardente,gêneros alimentícios em geral

assim como tijolos e madeiras provenientes

dos Engenhos, que se faziam chegar a pé ou

a cavalos ou ainda pelos inúmeros rios que

cortavam essas regiões,onde eram

transportados por canoas,barcos e barcaças

até o Porto de Inhaúma e deste para o Porto

Carioca.Servia também este Porto de

comunicação com as varias ilhas existentes

na Baia da Guanabara,interligando-se aos

portos do Caju,São Cristóvão, Porto de

Maria Angu e Irajá,sendo responsável não

só pelo transporte de produtos agrícolas mas

também pelo de passageiros das pequenas

propriedades e granjas localizadas em torno

da Enseada de Inhaúma assim como no

interior das freguesias.

“Inhaúma foi uma grande zona

agrícola, das primeiras estabelecidas

nas terras suburbanas. Iniciou-se

sua história em 1687”. (Almanaque

suburbano, ano I nº I, p.50, 1941)

Hoje, observando o final da Avenida

Maxwell e seu cruzamento com a Rua Praia

de Inhaúma na atual comunidade da Maré já

não é mais possível encontrar vestígios do

que outrora fora o Porto de Inhaúma. Criado

ainda no século XVI, este Porto teve uma

grande importância econômica para o

abastecimento da cidade do Rio de Janeiro

durante o ciclo do açúcar,do ouro e do

café.Foi fundamental para o

desenvolvimento do subúrbio da Leopoldina

tal qual a conhecemos hoje. Os transportes

hidroviários e terrestres existentes nos

séculos XVI, XVII e XVIII,foram sendo

substituídos ao longo do século XIX e XX

pelas ferrovias mais rápidas e seguras.

Diminuindo gradativamente a importância

deste porto na região, passou este a abrigar

a colônia de pescadores Z 6 no fim do

século dezenove. Posteriormente

desapareceu por completo com os

constantes aterros em meados do século XX.

O Porto de Inhaúma hoje, existe apenas na

memória de antigos moradores da

comunidade da Maré.

______________________________________________________________________________

Verônica Lima e Silva é aluna do 6º período do Curso de História da UNISUAM

Bibliografia :

Revista O Almanaque Suburbano IHGB.Ano 1,nº 1,1941

http://www.portosrio.gov.br/node/4

Barreiros,Eduardo Canabrava,Atlas da Evolução Urbana do Rio de Janeiro.Rio de

Janeiro:IHGB,Ensaio.1565-1965.prancha 5.p.10.

SANTOS,Noronha,as freguesias do Rio Antigo.edições O Cruzeiro,1965).

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FOTOS DO CHAFARIZ DE BONSUCESSO

O chafariz visto por baixo da bacia: uma iconografia que lembra uma concha e sobreposta plantas aquáticas. (Foto

09)

O chafariz visto por baixo da bacia: uma iconografia que lembra uma concha e sobreposta plantas aquáticas. (Foto 09)

EXPEDIENTE: OFICINA DE HISTÓRIA E MEMÓRIA DA REGIÃO LEOPOLDINA N° 5

CURSO DE HISTÓRIA

CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA – UNISUAM

COORDENADORA DO PROJETO: PROFª. RUBENITA VIEIRA CLEMENTE

COORDENADORA DO CURSO DE HISTÓRIA: PROF.ª ADRIANA PATRÍCIA RONCO

ALUNOS COLABORADORES: ELIZEU FERNANDES GONÇALVES / SHEYLA CRISTINA BORGES LINHARES / VERÔNICA LIMA E SILVA

EDIÇÃO VISUAL: PROFº ADALBERTO LARROQUE

ENDEREÇO: http://arautoleopoldinense.vila.bol.com.br

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA / TIRAGEM 1000 EXEMPLARES / EDIÇÃO SEMESTRAL