O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

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DIRECTOR JORGE CASTILHO ANO I N.º 2 (II série) De 26 de Abril a 09 de Maio de 2006 1 (IVA INCLUÍDO) CAFÉ TURISMO Doçaria Conventual do Lorvão Largo de Alberto Leitão n.º 3 / 3360 - 191 PENACOVA / Telefones: 239 476 267 e 918 225 214 “A praxe académica de Coimbra é um modo de estar” PÁG. 8 e 9 AFIRMA DUX VETERANORUM 25 de Abril em risco de se apagar PÁG. 3 Olivais só consegue sobreviver se tiver apoios PÁG. 20 e 21 ALERTA NOVO PRESIDENTE Senegal: património da humanidade de origem portuguesa PÁG. 23 CRÓNICA DE VIAGENS 15 milhões para nova unidade de produção de antibióticos PÁG. 11 MINISTRO DA SAÚDE PRESIDIU CONSIDERA BOAVENTURA SOUSA SANTOS Cavaco propõe compromisso civico PÁG. 2 NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA Armas uniram Jaime Gama e Dinis de Almeida PÁG. 4 e 5 MEMÓRIAS DA REVOLUÇÃO NA FIGUEIRA DA FOZ — REVELA CORONEL GÓIS MOÇO

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Versão integral da edição n.º 2 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 28.04.2006. Não se esqueça de que pode ver o documento em ecrã inteiro, bastando para tal clicar na opção “full” que se encontra no canto inferior direito do ecrã onde visualiza os slides. Também pode descarregar o documento original. Deve clicar em “Download file”. É necessário que se registe primeiro no slideshare. O registo é gratuito. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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DIRECTOR JORGE CASTILHO

ANO I N.º 2 (II série) De 26 de Abril a 09 de Maio de 2006 1 (IVA INCLUÍDO)

CAFÉ TURISMO Doçaria Conventual do LorvãoLargo de Alberto Leitão n.º 3 / 3360 - 191 PENACOVA / Telefones: 239 476 267 e 918 225 214

“A praxeacadémicade Coimbraé um modo de estar”

PÁG. 8 e 9

AFIRMADUX VETERANORUM

25 de Abril em risco de se apagarPÁG. 3

Olivais só conseguesobreviver se tiverapoios

PÁG. 20 e 21

ALERTANOVO PRESIDENTE

Senegal:património da humanidadede origem portuguesa

PÁG. 23

CRÓNICADE VIAGENS

15 milhõespara novaunidade de produçãode antibióticos

PÁG. 11

MINISTRO DA SAÚDE PRESIDIU

CONSIDERA BOAVENTURA SOUSA SANTOS

Cavaco propõe compromisso civicoPÁG. 2

NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Armas uniram Jaime Gama e Dinis de Almeida

PÁG. 4 e 5

MEMÓRIAS DA REVOLUÇÃO NA FIGUEIRA DA FOZ

— REVELA CORONEL GÓIS MOÇO

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O Presidente da República CavacoSilva escolheu o combate às desigual-dades sociais como tema central doseu discurso de ontem (terça-feira) nasessão solene do 25 de Abril, propon-do um “compromisso cívico” alargadopara cumprir essa tarefa.

“Quero propor um compromisso cí-vico, um compromisso para a inclusãosocial, um compromisso que envolvanão só as forças políticas, mas que con-gregue as instituições nacionais, as au-tarquias, as organizações da sociedadecivil, dos sindicatos às associações cívi-cas e às instituições de solidariedade”,afirmou Cavaco Silva, no seu primeirodiscurso como chefe de Estado na ses-são solene do 25 de Abril.

Para o Presidente da República, “é

possível identificar os problemas maisgraves e substituir o combate ideoló-gico por uma ordenação de priorida-des, metas e acções”.

“A elaboração do próximo Plano deAcção Nacional para a Inclusão podeser aproveitada para uma mobilizaçãogeral, uma verdadeira campanha emprol da inclusão social”, sugeriu.

Lembrando que, apesar de Portugaljá ter conseguido concretizar o sonhoda Revolução de Abril de ter “um Por-tugal livre e mais próspero”, o país es-tá ainda longe de realizar o outro de-sígnio determinado no 25 de Abril –dia que Cavaco Silva considera ser a“data fundadora do regime democrá-tico” – e que é “a aspiração de maiorjustiça social”.

“Os portugueses esperam dos políti-cos, que livre e democraticamente ele-geram, que estejam à altura dessa exi-gência, que se empenhem em dar umanova esperança aos mais desfavoreci-dos da nossa sociedade, que cooperemno sentido de mais facilmente poderemsuperar as dificuldades e naturais di-vergências ideológicas”, apelou.

Na única referência à situação dopaís no seu curto discurso de oito pá-ginas, Cavaco Silva salientou que “amelhoria da justiça social, o combate àpobreza e à exclusão exigem que opaís volte a ganhar a batalha do inves-timento, do crescimento económico,da criação de riqueza, sem que o so-nho continuará adiado”.

Cavaco Silva sublinhou que, 32 anosapós a revolução, “Portugal continua

numa encruzilhada entre o passado e ofuturo, continua a ser um país forte-mente marcado pelo dualismo do seudesenvolvimento”, lembrando as desi-gualdades entre o interior e o litoral e,sobretudo, as desigualdades sociais.

“Muito progredimos na moderniza-ção da economia e na afirmação de no-vos estilos de vida, mas ficámos muitoaquém na concretização dessa ambi-ção de uma sociedade com maior jus-tiça social”, lamentou, sublinhandoque Portugal é o país da União Euro-peia que apresenta maior desigualda-de na distribuição dos rendimentos.

O Presidente da República deixouainda mensagens especiais a sectoresque considera mais frágeis, como osidosos, as crianças vítimas de abusos eas mulheres vítimas de violência do-méstica.

“É entre a população mais idosaque encontramos as mais preocupan-tes situações de exclusão”, disse.

Por esse motivo, Cavaco Silva de-fende que “o esforço que o Estado temvindo a realizar para atenuar os efei-tos deste quadro social tem de ser con-tinuado”.

“Não é moralmente legítimo pedirmais sacrifícios a quem viveu uma vi-da inteira de privação”, alertou.

Sobre as crianças, Cavaco Silva evo-cou o célebre cartaz da Revolução emque uma criança coloca um cravo nocano de uma espingarda.

“A carga simbólica desse cartaz éiniludível e vale a pena questionar-mos: como cresceu aquela criança?

Como crescem os milhares de criançasportuguesas? Será que estamos a tra-tar bem as novas gerações?”, questio-nou.

Por outro lado, a par do papel doEstado, o Presidente da Repúblicalembrou que “não chega exigir maismedidas e mais dinheiro”.

“Concretizar essa ambição de justi-ça social, que não tem de ser remetidapara o plano das utopias, passa por ca-da um de nós (Ó) Temos de rompercom o conformismo e o comodismo derelegar para o Estado a única soluçãodo problema”, apelou.

Na sua intervenção, Cavaco Silvacomeçou por evocar a memória do 25de Abril: “Há 32 anos, Portugal mar-cou encontro com o futuro”.

O Presidente da República associouas comemorações 25 de Abril de 1974,“quando um povo sob o impulso deum punhado de militares tomou nasmãos os seu próprio destino”, a outrasduas datas: ao 25 de Abril de 1975,quando se realizam as primeiras elei-ções livres, e a 25 de Abril de 1976, da-ta em que entrou em vigor a Constitui-ção da República Portuguesa.

“São estas três datas hoje assinala-das que conferem sentido de futuro ede modernidade à nossa democracia”,afirmou.

No final, o discurso de Cavaco Silvafoi aplaudido de pé pelas bancadas doPS, PSD e CDS-PP, enquanto PCP, BE eVerdes permaneceram sentados semaplaudir a intervenção do Presidente daRepública.

22 DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

EDITORIAL

Propriedade: AUDIMPRENSANIF: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem:AUDIMPRENSA - Rua da Sofia, 95, 3.º3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]ão: CIC - CORAZEOliveira de Azeméis

Tiragem: 10.000 exemplares

Director: Jorge Castilho (Carteira Profissional n.º 99)

Ontem passaram 32 anos.E para quem viveu de perto, inten-

samente, esses extraordinários mo-mentos de mudança (que começarampor tensas horas de angústia e depoisse estenderam por dias de sucessivasexplosões de inenarráveis sentimen-tos, por meses de vertiginosas trans-formações e por conturbados anos deadaptação...) é quase irreprimível avontade de evocar o passado.

De retornar a essa madrugada, e atudo quanto dela se gerou...

E deixar que a memória nos sirvaalguns dos episódios mais marcantes,permitindo-nos saborear pormenoresque o tempo não conseguiu aindaapagar.

Esse regresso a 25 de Abril de 1974

é não só uma tentação, mas igualmen-te uma obrigação.

Se mais não fora, para homenagearos militares que tanto arriscaram nu-ma Revolução que o Mundo olhoucom surpresa e considerou exemplar(derrubar um poderoso regime ditato-rial por força de um movimento mili-tar, sem derramamento de sangue, eracoisa nunca vista).

Mas também para deixar preito dereconhecimento a tantos outros Ho-mens e Mulheres que ao longo dequase meio século, corajosamente, lu-taram pela Liberdade, arrostando comas consequências de tamanha ousadia(alguns pagaram tal atrevimento coma própria vida, muitos outros com aprisão e represálias de diversa índo-le).

Contudo, cada ano que passa, vaisendo menor o número dos que ade-rem às celebrações.

Sobretudo aos mais jovens falta apaciência para ouvir infindáveis e re-petitivos discursos em sessões muitosolenes, para eles compreensivelmen-

te enfadonhas.E também pouco se sentem estimu-

lados pelas manifestações mais oumenos folclóricas das comemoraçõesditas populares.

Para eles (os que em 1974 não ti-nham nascido ou eram ainda crian-ças), a chamada “Revolução dos Cra-vos” quase se reduz a uma sequênciade imagens desgarradas, a preto ebranco, que as televisões ciclicamente,por esta época, vão buscar aos arqui-vos, e onde aparecem uns indivíduosmais ou menos cabeludos e barbudos,aos magotes, a proferirem inflamadasfrases, num linguajar estereotipado ecujo nexo não é hoje fácil de entender.

À Liberdade, como a outras coisas,só se lhe reconhece o justo valor (queé imenso!), quando dela se é privado.

Não surpreende, por isso, que amaioria destes jovens pouco se identi-fique com manifestações que classifi-cam de saudosistas, chegando a desa-bafar (como a muitos tenho ouvido...):“Já não há pachorra para tanto 25 deAbril!”.

A apreciação é injusta.Mas, infelizmente, compreensível.Não é com meras evocações do pas-

sado que às novas gerações se alimen-ta a legítima avidez de um futuro pro-

missor, especialmente numa altura decrise como a que vivemos.

Importa, por isso, fazer uma novarevolução. Desta vez não pela caladada noite, mas antes em plena luz dodia. De todos os dias, usando as “ar-mas” que a Democracia colocou ao al-cance dos cidadãos, para com elasderrubar certos poderes mesquinhos ealguns tiranetes que por aí pululam,com arrogância e impunidade.

Para tal combate, fácil será mobili-zar, de forma consequente, o generosoidealismo dos mais jovens.

E não haverá melhor forma de co-memorar o 25 de Abril e de honrar osque lutaram para legar aos vindourosuma sociedade mais justa e mais fra-terna.

****Foi muito gratificante a forma co-

mo o público acolheu a primeira edi-ção do jornal “Centro”.

Até nós chegaram mensagens dedesvanecedora simpatia, constituindoum estímulo para enfrentar as dificul-dades e tentarmos fazer mais e me-lhor.

Para todos quantos nos concedem oseu apoio vai, muito sincera, a nossagratidão.

Comemorações

Cavaco Silva propõe “compromisso cívico”

Jorge Castilho

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ENTREVISTA 33DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

JOÃO PAULO HENRIQUES

O 25 de Abril é falado por todos osportugueses. Ainda assim, por diferen-tes motivos. Para muitos, trata-se deum feriado nacional e corresponde amais um dia sem trabalhar. Para outros,é muito mais do que isso, uma vez quesignifica o dia em que o país ganhou odireito à liberdade e teve acesso à de-mocracia.

Boaventura Sousa Santos, director doCentro de Estudos Sociais e do Centrode Documentação 25 de Abril da Uni-versidade de Coimbra (UC), garanteque “existe o risco do 25 de Abril seapagar com o passar dos anos e ser, ca-da vez mais, ignorada”. As razões paratal esquecimento dos portugueses vãomuito além da falta de memória das ge-rações mais novas.

“Há alguns sinais de que as nossasautoridades políticas estão interessadasem minimizar a data. Querem queaconteça o mesmo que ao 5 de Outubro,que se transformou num feriado semnenhuma vivência”, lamenta o investi-gador, que pensa que o 25 de Abril po-de ser utilizado de acordo com a suainspiração inicial que passou pela “fun-dação da democracia em Portugal ecriação de condições para o exercício deuma cidadania livre”.

As políticas educativas erradas emtorno do Dia da Liberdade são aponta-das como grande contributo para a fal-ta de memória colectiva dos portugue-ses. Boaventura Sousa Santos estápreocupado. Por isso, afirma que, nes-te momento, “não é o facto dos estu-dantes das escolas não conhecerem o25 de Abril, mas o dos seus pais tãopouco conhecerem e até muitos profes-sores”.

Segundo o director do Centro de Do-cumentação 25 de Abril da UC, institui-ção criada em 1984, “transformámos adata num tema de estudos sociais ou dehistória e, muitas vezes, colocado no fi-

nal do plano de estudos o que fez comque, durante muito tempo, nunca sechegasse a estudar o 25 de Abril e osque não tivessem essas disciplinas nun-ca tiveram nenhuma informação”.

Leccionar o 25 de Abril a todos os jo-vens e em todas as escolas a diferentesníveis de complexidade é apontado co-mo o caminho a seguir, para que, afir-ma Boaventura Sousa Santos, “os jo-

vens aprendam como se conquistou es-te bem que hoje temos e aceitamos co-mo normal”. O investigador não temdúvidas que são muitos os portuguesesque não conseguem dizer o nome deuma das pessoas envolvidas no 25 deAbril de 1974.

Director do único centro do país de-dicado, especificamente, à documenta-ção sobre o 25 de Abril, o professor ca-tedrático da Faculdade de Economia daUC explica que “o Centro não se limitaa recolher documentação escrita comojá estivesse produzida, mas tambémproduz material”, acrescentando quetem “uma forte actividade pedagógicajunto das escolas e das autarquias”.

Uma das iniciativas inovadoras doCentro de Documentação 25 de Abrilda UC, que se debate com a falta de es-paço, trata-se do projecto da históriaoral, em que são gravadas em vídeo en-trevistas a militares e civis activos noperíodo do 25 de Abril, que relatam asua perspectiva dos acontecimentos.Alguns testemunhos (Costa Gomes,Vasco Gonçalves e Otelo de Saraiva deCarvalho) foram, entretanto, publica-dos em livro.

Apesar da concorrência ser forte, sãomuitos os documentos importantes quefazem parte do espólio do centro uni-versitário, que garante a qualidade dotratamento técnico e a isenção política.Por exemplo, o plano de operações do25 de Abril, documento usado por Ote-lo Saraiva de Carvalho para liderar asoperações, e as actas originais de reu-niões do Conselho de Ministros estãoem Coimbra.

Melo Antunes, major culto, idealistae ideólogo do Movimento das ForçasArmadas, foi a figura que mais impres-sionou Boaventura Sousa Santos. “Eraum homem muito erudito, tinha umacultura geral e política muito grande, ti-nha uma compreensão profunda da so-ciedade portuguesa e era um gosto falarcom ele”, conclui o investigador.

“Existe o risco do 25 de Abril se apagar”

BOAVENTURA SOUSA SANTOS CONSIDERA ERRADAS AS POLÍTICAS EDUCATIVAS SOBRE O DIA DA LIBERDADE

DVD inova 25 de AbrilO último trabalho do Centro de

Documentação 25 de Abril da Uni-versidade de Coimbra é um DVDinteractivo, feito em parceria com oMinistério da Educação, com o títu-lo “25 de Abril: 32 anos, 32 pergun-tas”. “É, talvez, o mais importantede todos os que realizamos até ago-ra”, assegura Boaventura SousaSantos.

Trata–se de um material inova-dor que usa as melhores tecnologiasinteractivas e em que o pessoal téc-nico e pedagógico do centro respon-de a 32 perguntas que os alunos dasescolas básicas do Centro do paísentenderam fazer. As respostas sãodadas com animação, podendo osjovens fazer jogos da glória, puzz-les, karaoke e escrever histórias.

Civis apanhados de surpresaNo dia 25 de Abril de 1974, Boa-

ventura Sousa Santos viveu os mes-mos sentimentos de milhares de ci-vis portugueses, que não contavamcom a revolução naquele dia. “Fuiapanhado de surpresa”, confiden-cia o investigador da Universidadede Coimbra, que recua, agora, 32anos para recordar a data.

“Ouvi a notícia de manhã quan-

do estava a barbear-me”, lembra,acrescentando, de pronto, que “vi-via, nessa altura muito perto da an-tiga casa da PIDE [Polícia Interna-cional e de Defesa do Estado]”.Boaventura Sousa Santos saiu decasa e foi à Faculdade de Economiaver o que se tinha passado. Aí, deuconta que estava uma revolução narua.

Boaventura Sousa Santos é o director do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra

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DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 200644 REPORTAGEM 25 DE ABRIL

Que ligação haverá entre a Revolu-ção de 25 de Abril de 1974, Dinis de Al-meida, o fogoso militar do RALIS e das“Chaimites”, e Jaime Gama, o tranquilopolítico que é hoje Presidente da As-sembleia da República? Poucos saberãoesclarecer esta questão. Contudo, elatem uma resposta simples: a Figueirada Foz.

De facto, foi na Figueira da Foz que,nessa madrugada de há 32 anos, o aca-so juntou o então capitão Dinis de Al-meida com um jovem aspirante milicia-no chamado Jaime Gama.

Quem nos faz esta revelação é o coro-nel Góis Moço, Presidente da Associa-ção 25 de Abril na Região Centro, e umdos capitães que integraram o Movi-mento que, de forma exemplar, derru-bou uma Ditadura de quase meio sécu-lo.

REVOLUÇÃO TAMBÉM GERMINOU EM ANGOLA

Góis Moço cumpria uma comissãode serviço militar em Angola, como ca-pitão, em 1973. Foi nesse ano que os jo-vens capitães reagiram à publicação deuma lei que os penalizava e prejudicavaa sua progressão na carreira.

Em Portugal e nas colónias (entãochamadas “províncias ultramarinas”),onde as Forças Armadas portuguesaslutavam contra os movimentos inde-pendentistas, os militares começarama reunir para debater a forma de reagircontra essa lei que consideravam in-justa.

Mas a verdade é que essa reacçãocorporativa rapidamente foi evoluindopara uma análise política da situaçãoem que o País vivia, com muitos dosmilitares a chegarem à conclusão deque importava pôr termo a um regimeditatorial que oprimia Portugal há dé-cadas.

No caso concreto de Góis Moço, foiem Agosto de 1973 que participou, numhotel de Luanda, na primeira reuniãode capitães que debateram esta situa-ção.

Em finais desse mês Góis Moço re-gressou a Portugal, tendo sido colocadona Escola Central de Sargentos, emÁgueda, mas continuando a tomar par-te nos debates que os jovens capitães fo-ram fazendo, discretamente, por todo oPaís, e onde ganhava cada vez maisconsistência a ideia arrojada de que eranecessário mudar o regime.

As reuniões eram feitas de formadiscreta, para não alertar as chefiasfiéis ao regime e para iludir também otentacular aparelho da PIDE (a queMarcelo Caetano, ao suceder a Sala-zar, mudara o nome para Direcção--Geral de Segurança, mas que conti-nuava a ser uma polícia política des-pótica e infiltrada em todos os secto-

res da sociedade portuguesa).

OPÇÃO PELA LUTA ARMADA

Góis Moço lembra que foi numa reu-nião em Cascais que se resolveu fazeruma consulta aos delegados do Movi-mento dos Capitães para decidir de queforma actuar: se reivindicando por es-crito, ou se adoptando método mais ra-dical. E a verdade é que a maioria de-fendeu o recurso à acção armada, comoúnica forma de alterar a situação que sevivia.

Algum tempo depois, em Março de1974, de forma inesperada, uma colunamilitar sai do quartel das Caldas da Rai-nha em direcção a Lisboa, numa tentati-va de golpe mal articulada e que viria aser anulada pelas forças do regime.

Esse golpe falhado revelou-se, contu-do, de grande importância, não só por-que serviu para analisar a forma como aDitadura a ele reagiu, mas também por-que disseminou pelo País a ideia de quea ansiada mudança começava a tomarforma.

REUNIÃO EM COIMBRANA MARGEM DO MONDEGO

No início de Abril de 1974, em de-terminada noite, decorreu em Coimbra

uma reunião de grande importânciaem que participaram oficiais colocadosem várias unidades da Região e dele-gados do Movimento vindos de Lis-boa.

Os oficiais foram–se juntando noCafé Internacional (que então existiapróximo da Estação Nova) e dali se-guiram, em aparente passeio, até aooutro lado da ponte. E foi na penum-bra da margem esquerda do rio Mon-dego, frente ao Estádio Universitário,que esse grupo de oficiais da RegiãoCentro foram informados de que apartir desse instante deveriam entrarem prevenção rigorosa, pois a acçãoarmada poderia acontecer a qualquermomento. Os militares regressaram àssuas unidades, começando a preparar--se, de forma discreta, para quandochegasse a ordem de avançar.

Góis Moço conta que no dia 24 deAbril se deslocou a Águeda um emis-sário do Movimento com os planos daoperação (que seria comandada desdeLisboa, como é sabido, por Otelo Sarai-va de Carvalho).

Góis Moço e outros oficiais da Esco-la de Sargentos deveriam dirigir-se àFigueira da Foz, onde estavam aquar-teladas duas unidades de grande im-portância para o Movimento: o CICA 2(Centro de Instrução de Condução Au-

to) e o RAP 3 (Regimento de ArtilhariaPesada).

DINIS DE ALMEIDA E JAIME GAMA

De acordo com os planos, logo que arádio transmitiu a canção “E depois doadeus”, de Paulo de Carvalho (sinalque o Movimento ia ser desencadeado),os oficiais revoltosos começaram aaprontar os soldados para avançar ru-mo aos objectivos previamente traça-dos.

E quando a rádio transmitiu para to-do o País a canção de Zeca Afonso“Grândola vila morena” (proibida pelacensura do regime vigente), ao início damadrugada do dia 25 de Abril, os co-mandantes das unidades foram detidose as colunas militares começaram aavançar.

No RAP 3 Dinis de Almeida começa-va a assumir protagonismo, tendo sidoele a deter o comandante, juntamentecom o então furriel miliciano Jorge Dias(hoje um reputado fotógrafo na Figuei-ra da Foz) e o próprio Góis Moço, queficou na unidade a assegurar o coman-do, enquanto uma companhia saía parase juntar à do CICA.

Ora no CICA quem estava de oficialde dia era o aspirante miliciano JaimeGama, que depressa aderiu ao Movi-

Dinis de Almeida e Jaime Gamaunidos pela mesma causa

FIGUEIRA DA FOZ ESTEVE NO CENTRO DA REVOLUÇÃO DE ABRIL

Coronel Góis Moço

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REPORTAGEM 25 DE ABRIL 55DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

mento (vindo depois a ter papel impor-tante, já como civil, na construção daDemocracia, tendo sido Ministro de go-vernos do Partido Socialista e acabandopor chegar agora a Presidente da As-sembleia da República, a segunda figu-ra na hierarquia do Estado democráti-co).

Góis Moço, na informal conversacom o “Centro”, aproveita para subli-nhar a importância da adesão dos mili-cianos para o êxito do Movimento do 25de Abril.

LIBERTAÇÃO DE PENICHEE AVANÇO PARA LISBOA

Mas voltemos à madrugada do 25 deAbril, relatada por Góis Moço.

Para a Figueira da Foz convergiram,de acordo com o plano de operações,uma companhia vinda de Aveiro e ou-tra de Viseu.

Juntamente com as duas companhiasda Figueira da Foz (uma do RAP e ou-tra do CICA), formou–se o chamadoAgrupamento do Norte, que rumou ao

Sul para vir a ter importante papel nodesfecho vitorioso da Revolução.

A primeira missão desta coluna mili-tar era muito delicado: tomar o Forte dePeniche, para libertar largas dezenas depresos políticos ali encerrados pela po-lícia política.

E assim aconteceu, felizmente semnecessidade de uso da força, embora setivessem vivido horas de grande tensão(aliás, mais tarde os presos libertadosviriam a relatar a angústia que sentirampor não saber que tipo de golpe estavaem marcha, pois alguns chegaram a te-mer que fosse uma acção de forças daultra-direita).

Depois a coluna militar seguiu paraLisboa, onde viria a controlar a zona deMonsanto, de grande importância es-tratégica.

ADESÃO POPULAR

O que aconteceu de seguida, é bemconhecido.

Por todo o País a população saiu àrua, contrariando os apelos do Movi-mento das Forças Armadas para que as

pessoas se mantivessem em suas casas,já que se temia que houvesse confron-tos com forças fiéis ao regime, o que po-deria causar vítimas.

Averdade é que, felizmente, essa deso-bediência, que se traduziu em incontrolá-veis manifestações de alegria por todo oPaís, acabaria por ser um bom reforço pa-ra o êxito dos militares revoltosos.

Alguns deles assumiram grande pro-tagonismo nos dias que se seguiram.Foi o caso de Dinis de Almeida, que noRALIS assumiu papel determinante,nomeadamente num estranho contra--golpe protagonizado por tropas para-quedistas.

Outros, depois de cumpridas as ar-riscadas missões (que exigiram muitacoragem, pois se a Revolução tivesse fa-lhado muitos teriam morrido ou visto oseu futuro comprometido), regressaramaos quartéis para prosseguir a sua car-reira, sem qualquer espécie de privilé-gios.

Assim se fez uma Revolução exem-plar, que viria a proporcionar a Portu-gal o regime democrático em que hojevivemos.

Vasco Lourenço, um dos mais desta-cados elementos do Movimento dosCapitães e actual Presidente da Asso-ciação 25 de Abril, classificou como“deplorável e lamentável” o facto daMadeira não comemorar oficialmente aRevolução dos Cravos, considerandoque foi a Revolução que criou condi-ções para a autonomia política do ar-quipélago.

Vasco Lourenço falou aos jornalistasdurante o jantar comemorativo do 25de Abril de 1974, promovido pela asso-ciação a que preside, que este ano de-correu em Quarteira, Algarve.

“Quando se comemoram 30 anos dasprimeiras eleições para as autonomias,nomeadamente para a autonomia daMadeira, aparece o Governo Regional ea Assembleia Regional a dizer que nãohá que comemorar os 30 anos da sua

própria autonomia”, ironizou.“Não sei o que é que lhes passou pe-

la cabeça”, disse Vasco Lourenço, recor-dando que, durante vários anos, o pre-sidente do Governo Regional da Madei-ra, Alberto João Jardim, enviou sempreuma carta para a associação a saudar ehomenagear os capitães de Abril por-que tinham possibilitado a autonomia.

Vasco Lourenço atribuiu o que sepassa este ano a “lutas pragmáticas econjunturais”, mas lamentou a não co-memoração oficial, considerando-a “in-compreensível e altamente condená-vel”.

O jantar anual da associação decor-reu num salão do parque aquáticoAquashow, em Semino, próximo deQuarteira, com a presença de cerca de900 pessoas.

Sobre as razões das comemorações

no Algarve, o tenente-coronel VascoLourenço referiu que a ideia surgiu dealguns sócios da associação, que consi-deraram apropriado comemorar Abrilno Algarve no ano em que passam 30anos de poder democrático, devido àaprovação da Constituição pós-revolu-cionária, a 02 de Abril de 1976.

Considerando que alguns dos desíg-nios da Revolução estão por cumprir,Vasco Lourenço referiu que ainda fazsentido lutar, lamentando que em maté-ria de justiça social se estejam “a verifi-car alguns retrocessos”.

“Faz sentido lutar contra os que, emnome da segurança ou de outras coisasdo género começam a pôr em causa al-gumas liberdades, contra os que que-rem menos política e mais defesa dosdireitos instalados, contra aqueles quenos querem atirar para novas guerras econtra os que põem em causa os valoresde Abril”, enunciou.

Na mensagem da Associação 25 de

Abril, refere-se que ao longo de 30 anosde poder democrático “nem sempre es-tiveram na primeira linha das preocu-pações dos vários responsáveis os valo-res que sempre os devem nortear”.

“Pelo contrário, assumiram por ve-zes um papel determinante posições co-mo a luta pelo poder, os interesses cor-porativos ou a corrupção, verdadeirocancro da democracia”, lamenta a men-sagem.

O documento censura ainda “a tenta-tiva do poder económico controlar opoder político, a falta de democracia in-terna nos partidos políticos, elementosessenciais da democracia política, osegoísmos e as fraquezas humanas”.

Apelando à democracia participati-va, pois “a cidadania não se compadececom ausência, com abstenção, comalheamento”, a mensagem garante quea participação cívica “deve ter perma-nentemente presente a memória dopassado, a razão de ser do 25 de Abril”.

Vasco Lourenço crítico

Page 6: O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

“A LÍNGUAÉ O QUE NOS UNE”

Domingo de Ramos, cidade de SãoPaulo, meio–dia, um sol a pique, pau-listas, de diversas idades, classes sociaise raças, fazem fila para comprar o bilhe-te de acesso ao Museu da Língua Portu-guesa, recentemente inaugurado e ins-talado no edifício da estação da Luz.

As grandes faixas afirmam perem-ptoriamente que “a língua é o que nosune”. Deve ser porque acreditam queassim é que ali estão disciplinados, pa-cientes, alegres, gastando as horas dedomingo e os reais do bolso, compran-do um picoli ou um guaraná que a fa-mosa “economia paralela” põe à dispo-sição da fila, com rápido e eficaz senti-do de negócio.

Também lá estou. Unida por maioriade razão. Curiosa e interessada maisainda, se possível, por ter lido de rajadatrês autores lusófonos, fascinada com ariqueza que trazem à minha (nossa) lín-gua, que assim vai ganhando sons,cheiros, formas, uma plástica riquíssi-ma sem nunca perder a matricial gesta-ção: Nélida, Chico Buarque, Pepetela,Vozes do deserto, Budapest, Os Preda-dores.

(...)Mas uma coisa observei: Estados po-

derosos nunca deixaram de privilegiaro “império da língua”, ou seja, sempreutilizaram como grande prioridade alíngua, considerada um soft–power e,também por isso, um investimento deenorme eficácia. Porque será então quenós, Estado pouco poderoso, despreza-mos este precioso instrumento?

� Maria José Nogueira PintoDN 21/04/06

BARRETO RETRATASÓCRATES

“Dei comigo, nesta semana de Pai-xão, a passar em revista as três décadasde democracia, olhando em particularpara o papel dos primeiros–ministros.A primeira observação, inesperada, foia de que se trata de uma profissão derisco. Ou antes, de cargo associado auma curta esperança de vida. Dos ca-torze que desempenharam estas fun-ções, sete já morreram. Metade. Aindapor cima, relativamente novos. Dos êxi-tos ou fracassos deles, falecidos os so-

breviventes, reza a história. Mas conve-nhamos que a maioria se limitou a pas-sar pelo cargo, sem deixar, boa ou má,uma marca saliente.

(...) Ao contrário de alguns dos seusantecessores, Sócrates não era ninguém,ou quase, antes de ser primeiro–minis-tro. Chegou lá por uma, para ele, felizsucessão de factos e acontecimentos fo-ra da sua vontade. Estava a jeito, o quejá é um talento. Mas só depois de teriniciado as suas funções é que começoua dar sinais do que queria e ao que vi-nha. Muito pouco, por enquanto. Nãose lhe conhece pensamento, nem hori-zonte. Não parece ser de direita nem deesquerda. Fez questão de ser secretário-–geral do PS, mas já se percebeu quenão morre de amores pelo partido, oqual, por sua vez, lhe paga com o mes-mo carinho.

(...) Mestre em escaramuças, não selhe conhece talento para a grande bata-lha. É abrasivo, eventualmente vingati-vo. Gosta de quem o corteja, detesta sercontrariado”.

� António Barreto(Público, 16/04/06)

BISPO LAMENTATROCA DO GNT

Não deixo de notar o grande silênciodos nossos canais televisivos e da co-municação social escrita, no tocante àSemana Santa, à excepção de dois outrês momentos litúrgicos focados. A lai-cidade não é impeditiva da liberdadede informar, seja qual for o ângulo devisão. Já o sabemos. Magras alusões aosacontecimentos e às palavras proferi-das.

Encontrei algumas do Cardeal–Pa-triarca, do Bispo do Porto e, mais redu-zidas ainda, do Arcebispo de Braga.

Não tiro conclusões. Mas o facto nãome foi alheio. E a propósito: a TV Cabo,num dos seus canais, fez referência aum exorcista, como um outro di*rio deLisboa ostentava grossa publicidade ao«exorcismo que cura a alma», com lu-gar e hor*rios definidos... É o que “estáa dar”...

Lamento o desaparecimento do canalGNT da TV Cabo, por todas as razões emais uma: o espaço deixado foi con-quistado pela IURD. E, no linguajarbrasileiro, já “deu” para ver o que sepretende. Só nos faltava mais “esta”...

� D. Januário Torgal Ferreira - Bispo das Forças Armadas

(In http://castrense.ecclesia.pt)

O PERCURSOCIRCULAR

Há quanto tempo não damos notí-cias? Há quanto tempo nós, jornalistas,corremos quase obsessivamente, todosos dias, para escutar mais uma reacçãosobre uma declaração feita por um mi-nistro, político, advogado, juiz ou pro-curador?

O percurso é circular e tem quasesempre os suspeitos do costume: Go-verno, sindicatos, patrões, ordens pro-fissionais, associações e, claro, fica sem-pre bem, para ilustrar, ouvir a famosavox populi, transformada muitas vezesem padrão da vontade geral, errada-mente.

Os jornais, a televisão e a rádio estãocada vez mais a ser apenas eco de de-clarações de reacções e de contra–reac-ções. O exemplo mais caricato é ser no-tícia o co–mentário de um comentadorsobre o comentário do comentador deoutro programa! Será isto jornalismo?

Porque andamos todos atrás uns dosoutros? Um jornal avança com um te-ma, a rádio segue, a televisão completa,ou vice- -versa - a ordem pouco impor-ta. É uma tarefa quase inglória desco-brir algo diferente nos jornais, na rádioe na televisão. Estamos todos quasesempre à volta do mesmo.

Para que serve uma autoridade regu-ladora ou lei para nos controlar quandojá so–mos nós que nos policiamos, im-placavelmente, uns aos outros? Há qua-se uma agenda obrigatória para todosos jornalistas. Quem controlar a ditaagenda controla o que inevitavelmenteserá notícia.

Numa altura de crise económica e devalores, será talvez altura de nós pró-prios fazermos esta reflexão e conse-quentemente inverter o caminho. O pri-meiro a ter coragem de esquecer omonstro das audiências e das tiragenspode ganhar a batalha!

� João Adelino Faria- jornalista da SIC

(DN)

ATESTADO DE IMBECILIDADE

A abertura do novo Casino Lisboa,com o Parque Mayer a despencar e aapodrecer, é uma pouca–vergonha eum atestado de imbecilidade passado atodos os lisboetas. Eu não duvido deque o senhor Stanley Ho tenha inunda-do a Câmara de Lisboa com muitos mi-lhões de euros, que serão canalizadospara as mais diversas actividades, algu-mas delas meritórias. A questão, contu-do, é outra. Existia um compromissoexplícito entre quem há um par de anosgovernava Lisboa (o inesquecível San-tana) e os lisboetas - o casino iria serconstruído pela única e exclusiva razãode que não havia outra forma de finan-ciar a reconversão do Parque Mayer eos avultados honorários do arquitectoFrank Gehry. Findo todo este tempo,Gehry transformou–se no turista maiscaro de Lisboa e as ruínas do Capitóliocontrastam agora com as luzes de néondo novo casino. É moralmente obsceno:seria o mesmo que eu pedir ao meuavôzinho para adiantar parte da heran-ça de forma a tapar um buraco no telha-do e acabar a gastar o dinheiro em de-corações para a sala.

� João Miguel Tavares(DN 21/04/06)

GRIPE DAS AVES

“Já não há pachorra para a gripe dasaves” - foi assim que começou, no jor-nal 24 Horas, na semana passada, umasérie de artigos assinados pela bióloga eescritora Clara Pinto Correia. Apesardas polémicas em que se envolveu nosúltimos anos, Clara é reconhecidamen-te uma cientista de mérito, professorauniversitária, e tem um extenso traba-lho desenvolvido em Portugal e nos Es-tados Unidos. Ora, o que Clara afirma -corroborando e desenvolvendo infor-mações que já circulam na Internet hámeses - é ba–sicamente o seguinte: a pa-ranóia generalizada sobre a gripe dasaves resulta de uma inteligente mani-pulação da indústria farmacêutica, e tu-do começa - e acaba - em Do–naldRumsfeld, secretário de Estado da De-–fesa de George Bush, que é accionistada empresa que tem a patente do medi-camento Tamiflu. A gripe das aves, diza bióloga, é uma “doença duvidosa”que “não causou mais do que umascem mortes” - “morre mais gente com agripe vulgar”. Clara não apenas denun-cia a presumível tramóia como é taxati-va na afirmação: “Tudo isto (...) paracombater uma pandemia que está hánove anos para acontecer e já se perce-beu que não vai acontecer nunca.”

(...) O que me incomoda é, uma vez mais,

a forma como se pratica o jornalismoentre nós. Debaixo da agenda que asinstituições determinam, com poucaimaginação, com pouca ousadia. Eugostava de perceber se a Clara tem ra-zão ou não - e não é com crónicas que láchego, é com jornalismo. Mas ninguémquer saber do assunto, e eu fico na mes-ma. Ou melhor: fico a pensar que a Cla-ra, provavelmente, tem razão. E nessecaso, “nas tintas” para a gripe...

� Pedro Rolo Duarte(DN 19ABR06)

O FOOTING...

A mediatização da política pode edeve ser um instrumento essencial nadivulgação e compreensão das opçõesfeitas pelo Governo, sobretudo quandoessas escolhas impõem a todos nós ele-vados sacrifícios. Mas quantidade nãosignifica qualidade. Por isso, não teriasido melhor se, das 333 medidas anun-ciadas - que diabo de capicua -, nos fos-sem apenas referidas aquelas que, nofuturo, nos irão trazer maiores benefí-cios?

E, já agora, porque não explicar me-lhor a todos nós as verdadeiras razõesdesta pomposa ida a Angola, em lugarde mostrar as imagens do footing donosso Primeiro, nas quais, possivel-mente, só os seus familiares estarão in-teressados?

� Helena Sacadura Cabral(DN 21/04/06)

DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 200666 CITAÇÕES

itações

Page 7: O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

AUTOFAGIAMEDIÁTICA

O programa da manhã seguinte vol-tou à carga, com um especial “a tragé-dia da TVI”. Mas a pièce de résistanceveio na terça, com a transmissão inte-gral da missa de corpo presente e da-quela espécie de funeral de autógrafosque levou milhares a Runa. Raras vezesse terá assistido a um tão acabadoexemplo de autofagia mediática e decanibalismo sentimental como nesta ex-ponenciação do impacto de uma morte“da casa”. É certo que, no seu afã deevidenciar ser sempre possível descermais baixo, a TV portuguesa tem de-monstrado que a náusea de ontem é anormalidade de hoje. E que se podesempre argumentar ser anacrónico eli-tismo defender que o que vale paraAmália não se aplica a um actor es-treante de novela adolescente. Ou atédizer (como já se disse), que a “culpa”reside na família e no padre, que autori-zaram as câmaras no templo. Comoquem diz: a natureza da TV é mostrar,explorar, devassar, vender. Ai de quemnão lhe souber resistir. Ai de quem nãoseguir o exemplo da Junta de Freguesiade Runa, que interditou a tomada deimagens no cemitério. Ai de quem nãosaiba reconhecer limites e impô–los. Eai de quem ainda acredite no bom sen-so e na auto–regulação.

� Fernanda Câncio(DN 22ABR06)

“REEVANGELIZAÇÃODA EUROPA”

Com efeito, os desafios que hoje secolocam aos valores da Europa são de

duas origens: por um lado, o declíniodemográfico dos “indígenas europeus”(presumo que se pudesse dizer, dos“brancos”...), que evolui em paralelocom o crescente afluxo de pessoasoriundas de outras paragens ao conti-nente europeu (genericamente designa-dos por “imigrantes”); por outro, a que-bra acentuada do espírito religioso doseuropeus autóctones, de par com a pro-funda religiosidade que marca essas co-munidades imigrantes, designadamen-te as muçulmanas.

Este é o verdadeiro dilema da Igrejade Bento XVI: encontrar, do ponto devista doutrinário e pastoral, o ponto deequilíbrio entre a tolerância perante asdemais religiões (o diálogo ecuménicono próprio espaço europeu) e ao mes-mo tempo combater a “a–religiosida-de” e o relativismo de valores nas socie-dades europeus, uma tarefa a que o pre-decessor do actual Papa chamou “a ree-vangelização da Europa”.

� António Vitorino(DN 21/04/06)

FRANÇA: MULHERNA PRESIDÊNCIA?

“Pela primeira vez na História deFrança, as sondagens dizem que umamulher tem hipóteses de ser eleita Pre-sidente da República, dentro de umano. No mundo machista da políticafrancesa, a popularidade da socialistaSégolène Royal na corrida ao Eliseu éuma verdadeira revolução.

Os inquéritos de opinião entecipamjá uma segunda volta em jeito de dueloentre as duas vedetas políticas do mo-mento. ‘Ségo contra Sarko’, ou seja, Ni-colas Sarkozy, o ministro do Interior, e

líder do partido conservador UMP(União para um Movimento Popular).

� Ana Navarro Pedro, Paris (Público, 16/04/06)

VILLEPIN FOI LIXADO

O desastrado Villepin foi lixado mui-to à puridade pelo inenarrável Chirac enão teve nada de solidamente implan-tado no sítio que o levasse a pedir a de-missão. É certo que, não obstante assuas fascinações napoleónicas, Villepinnão podia, à imagem de Bonaparte,mandar disparar umas salvas de ca-nhão contra a populaça apinhada nasTulherias. Mas, com Chirac e o seu pri-meiro–ministro, a autoridade do Estadoescusava bem de ficar reduzida a unsridículos disparos de pólvora seca. AFrança afunda–se em desprestígio.Oxalá não arraste consigo a Europa.

Em Itália, o execrável Berlusconi nãoera afinal tão execrável como isso paranada menos de metade do eleitorado. Iaganhando as eleições contra a criaturamais enfadonha e inoperante que existehoje à face da Terra, o sr. Prodi. Mas, aoque tudo indica, este ganhou e vai for-mar governo. Simplesmente esse gover-no vai fazer tudo menos governar. Nãoapenas pela dimensão da oposição decentro–direita e de direita. Mas tam-bém, e sobretudo, pela instabilidade na-tural da nova coligação, autêntico sacode gatos em que nenhum entendimentopela positiva será possível. Quando, noúltimo debate, Prodi afirmou que Ber-lusconi se agarrava aos números comoum bêbedo se agarra a um lampião,Berlusconi retorquiu que, por sua vez,Prodi estava no papel de idiota útil da-

da a coligação que encabeçava. E tinhatoda a razão.

� Vasco Graça Moura(DN 19ABR06)

TELEGRÁFICAS

“Numa altura em que a palavra deordem é reformar o sistema, os deputa-dos põem em causa o Parlamento comleviandade caricata”.� Emídio Rangel (Correio da Ma-

nhã, 15/04/06)

“Um optimista pode ser um pessi-mista mal informado”.

� Raul Solnado (“Prós e Contras”, RTP 1, 17/04/06)

“Se os recursos científicos e técnicos,económicos e financeiros fossem colo-cados ao serviço de todos, este mundoentrava, de facto, em processo de res-surreição, abria as portas do paraíso,donde nos expulsamos todos os dias demil maneiras”.

� Frei Bento Domingues (Público, 16/04/06)

“Se a riqueza de um País se avaliassepelas viagens ao Brasil, Cuba, Repúbli-ca Dominicana, então Portugal estariamuito melhor posicionado nos rankin-gs internacionais”.

� Judite de Sousa (Jornal de Notícias, 15/04/06)

“Os jornais portugueses hoje não re-flectem a realidade portuguesa”

� Baptista Bastos (Herman SIC 23/04/06)

CITAÇÕES 77 DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

Tudo isto me parece um pouco sinis-tro, mas encaixa muito bem. Os artigossobre a defunta lei do CPE, a começarpelo editorial de Ramonet, dão o tom àsaguas. À minha volta fala–se brasileiro,língua dos empregados de restauranteem Portugal, produto da globalização.À minha frente, umas jovens senhoras,de grandes anéis de casadas, uma dasquais é dona de uma boutique, mos-tram umas às outras um produto novo:uns colares gigantescos de madeira,iguais a milhares de outros, mas comuns “elefantezinhos” e uns “coraçõezi-nhos” dependurados (elas falam em di-minutivos). “São bons para a tua loja”.Susto e pavor.

Ramonet fala em aumentativos. Eleacha que a França, sua sociedade, suaeconomia, e sua cultura são gloriosas eque agora a “direita” e o “liberalismo” arebaixam no seu valor. Toda esta con-versa de “declínio” e “crise” da França éuma cedência ao “inimigo”, diz Ramo-net, ou seja ao imperialismo americanoe o liberalismo económico anglo–saxó-nico. Pobre Villepin, que eu conheci Mi-

nistro dos Negócios Estrangeiros, sem-pre com o mesmo ar enfadado, com aarrogância da pequena nobreza ruralperante um mundo que não fosse galo-–franco–francês, agora passado para o“inimigo”, que ele mais que tudo des-prezava. Apanhado na sua própria me-dicina, com a esquerda alter–mundialis-ta do Le Monde Deplomatique a agitara tricolor.

Coimbra por trás. Sempre achei quedevia haver algo de muito errado numacidade em que os estudantes gostam deandar vestidos à padre. Passam alguns,negros e poeirentos. Uma cidade cujaslivrarias na baixa são inimagináveis deprovincianas, escuras, mal abastecidas,quase sem livros estrangeiros. Apenas oDireito é rei e senhor, tudo o resto leva àpergunta: como pode uma cidade uni-versitária ter livrarias assim? Tudo tris-te, baço, esquecido da “modernidade”como agora se diz. Mal por mal, prefirover as notícias necrológicas ainda cola-das nas paredes como nas aldeias e vi-las do Norte. É certo que me parecemser feitas já em computador e impressas

a laser ou jacto de tinta, e depois prosai-camente copiadas. Algures ainda de-vem ser feitas em tipo de chumbo, aper-tado nas caixas a cordel, e com os filetespara ocupar espaço. Província pura, oque em si não é mal nenhum, não fosseser esta a terra da “Lusa Atenas”.

José Pacheco Pereira(blog “abrupto”, 10.04.2006)

UM DOS MUITOSCOMENTÁRIOS:

O que escreveu sobre Coimbra (e es-pecificamente sobre as livrarias emCoimbra) podia ser também a descriçãode Lisboa. Claro que há mais livrarias eclaro que existem pérolas esquecidas nabaixa, habitadas por senhores nobresque parecem esquecidos do tempo quepassa lá fora (o que talvez seja a razãode tanto prazer quando os visitamos),mas na realidade, tirando estas livrariase alfarrabistas que vivem do hábito, o

que há mais?Quando vamos a uma livraria “uni-

versitária”, o que é que encontramos?Um deserto. Os livros estrangeiros sãopraticamente inexistentes, com ex-cepção do Stiglitz e outros livros de eco-nomia básicos, para dar a impressão deser uma livraria moderna e “cosmopoli-ta”. Não se trata de dizer que só o quenão está em português é que é bom,mas antes que aquilo que se escrevenoutras línguas é muito mais (e melhor)do que aquilo que é possível traduzirpara a língua materna.

O retrato das livrarias em Portugalé a revelação de um país que vive ape-nas consigo próprio, culpando–se de tu-do e, na ausência de “concorrência” oucomparação, se acha natural e parado-xalmente o melhor. O retrato do provin-cianismo luso é também esta incapaci-dade de nos medirmos realisticamentecom o resto do mundo, e o panoramadas nossas livrarias é um espelho dissomesmo.

João Lopes

LENDO O LE MONDE DIPLOMATIQUE, JUNTO AO MONDEGO...

Page 8: O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 200688 ENTREVISTA

Foi na Sala Sr. Xico, no primeiro pisoda sede da Associação Académica de Coimbra, que João Luís Jesus rece-beu o jornal Centro, depois de aceiteo repto para conversar sobre as tradi-ções académicas de um forma geral. O Dux Veteranorum aponta a praxecomo uma forma de estar e de sentir a universidade e espera que toda a cidade de Coimbra diga “presente”na Queima das Fitas 2006

António José Ferreira (texto)Nuno Cardoso (fotos)

COMO DEFINE A PRAXE?A praxe académica é fundamental-

mente um modo de estar, que deve sero mais digno possível. É uma culturaprópria dos estudantes e de uma comu-nidade. Internamente existem relaçõesentre os diferentes estudantes, de acor-do com o número de matrículas e, porexemplo, se já usaram insígnias pes-soais ou não. Mas o principal é ter emconta que a praxe e o seguir a tradiçãoacadémica é um modo de estar e umaintegração dentro de uma comunidadecom tradições e com uma identidade euma mística muito próprias, numa ins-tituição que tem mais de 700 anos dehistória. Não é só a brincadeira porbrincadeira com o “caloiro”, o que paramim não chega sequer a dez por centodo que é a praxe, mas é toda a envol-vência da academia coimbrã: a Queimadas Fitas, o fado, o cortejo, o comprar onabo na Latada, a cerimónia de imposi-ção de insígnias na pasta, etc, etc. Tudoisto não tem nada a ver com caloiros e éuma parte muito vistosa e bonita dastradições. Felizmente que os estudantesainda têm muito orgulho em todos es-tes aspectos. Por exemplo, no últimoano, em usarem as fitas assinadas pelafamília, pelos amigos, pelos professo-res, etc, de acordo com as regras estabe-lecidas. Tudo isto é praxe e tradição epensar–se que elas se resumem ao iní-cio do ano, com a recepção aos caloiros,considero que se trata de uma visãomuito redutora, pelo menos no queconcerne à Universidade de Coimbra.

EM RELAÇÃO AOS “CALOIROS”, A PRAXE É

SOBRETUDO UMA FORMA DE INTEGRAÇÃO

NA UNIVERSIDADE E NA ACADEMIA?É uma forma de integração e deve

ser só isso. O “caloiro” está na hierar-quia mais baixa da praxe, mas tambémtem alguns direitos em termos praxísti-cos. E há algo que nunca se deve esque-cer: é que independentemente de ser a“besta”, segundo a praxe, o “caloiro”não deixa de ser um colega e um estu-dante do ensino superior. E o objectivodeve ser integrá-lo numa comunidade,num espírito, e não afastá-lo. Ou seja,deve-se brincar com ele mas de modoque ele também se esteja a divertir. Por-que se assim não acontecer, deixa de serpraxe e passa a ser mais um “ressabian-ço” de quem o está a “praxar”, se calhar

a pagar com a mesma moeda por algoque lhe fizeram. O espírito da praxe nãodeve ser esse. Há regras e tem de haveressa sensibilidade por parte de quemestá a “praxar”.

HÁ RELATOS DE ALGUNS ABUSOS NO ACTO

DE “PRAXAR”, QUE FOGEM A ESSE ESPÍRITO

A QUE SE REFERE. A QUEM DEVE PERTEN-CER A “FISCALIZAÇÃO” DA PRAXE? AO

CONSELHO DE VETERANOS?A praxe auto fiscaliza-se, no sentido

em que a hierarquia que está acima po-de interferir com a de baixo, anulandoordens ou acções delineadas pelas hie-rarquias inferiores. Isso permite um au-to controle entre os estudantes das di-versas hierarquias. Por exemplo, se um“quintanista” ou “quartanista” for apassar na rua e vir um “semiputo” a fa-zer asneiras numa brincadeira com um“caloiro”, pode dizer-lhe para parar edizer ao “caloiro” que só faz se quiser eque pode ir embora. E o “semiputo” le-va “nas orelhas”, para aprender a fazeras coisas bem feitas. Há portanto umaauto-regulação. Ao Conselho de Vetera-nos compete fazer com que as normassejam bem conhecidas por todos, demodo a que toda a gente conheça as re-gras e as aplique e faça aplicar devida-mente.

TEM HAVIDO EVOLUÇÃO NA PRAXE?Há uma evolução natural. Há coisas

que se faziam há 40 anos e que nestemomento estão banidas. Por exemplo o“canelão”, que era extremamente vio-lento. As tradições devem manter osmesmos princípios, de modo a que nãose perca a identidade, mas devem adap-tar-se à evolução natural da sociedade,até porque a prática da tradição é feitapor gerações diferentes, que vão mu-dando de acordo com a sua formaçãoao longo dos tempos.

TODOS OS ESTUDANTES DEVEM OBEDECER

À PRAXE ACADÉMICA E VIVER AS TRADI-ÇÕES E COSTUMES ACADÉMICOS, MAS A

REALIDADE É QUE, POR VEZES, OS TRABA-LHADORES-ESTUDANTES SE SENTEM UM

POUCO DESENQUADRADOS DE TODO ESTE

PROCESSO...Isso terá que ser a própria pessoa a

sentir e decidir. Independentemente dotipo de vínculo que tem, o trabalhador--estudante é estudante e portanto igualaos outros. Para a praxe não interessa seé trabalhador ou não, pois tem tal equal os mesmos direitos que os outros eninguém questiona essa situação. Se ca-lhar não se sente de facto tão enquadra-do, mas pelas dificuldades que tem em

assistir às aulas, em conciliar horários,sendo uma questão que a própria uni-versidade deve equacionar. Em relaçãoaos colegas, não me parece que existaqualquer sentimento de exclusão, bempelo contrário, uma vez que é frequentefacultarem os apontamentos e daremtodo o tipo de apoio aos trabalhadores.

SEM MARGEM PARA ERROS

A Queima das Fitas 2005 ficou en-sombrada por alguns problemas...

Houve alguns problemas, azarescom alguns negócios, algumas decisõesque se vieram a revelar pouco acertadase, de facto, as coisas não aconteceramcomo estava inicialmente previsto. Háriscos que é necessário enfrentar e se te-mos tido sempre a sorte de as coisascorrerem bem, no ano passado tivemosazar. O fundamental é aprendermoscom os erros, para que não se repitam.E este ano estamos a ter uma postura deacordo com esse pressuposto, estabele-cendo margens de risco bem menorespara as decisões que tomamos. Porexemplo, se no ano passado essa mar-gem de risco era de quarenta por cento,este ano não ultrapassa os vinte. Nãopodemos sujeitar-nos a ter um únicoazar, pois há dívidas do ano passadoque vão ser pagas com a Queima desteano. É esse o compromisso.

DE QUE FORMA ESSES PROBLEMAS CONDI-CIONARAM A ORGANIZAÇÃO DESTE ANO?

Não houve restrições orçamentais,até porque é impossível realizar dinhei-ro se não houver investimento. A Quei-ma foi organizada nos mesmos moldese não foi pelos maus resultados do anopassado que esta organização ficoucondicionada em termos de grupos ouactividades. Pelo contrário, a Queimaprocura sempre melhorar de um anopara o outro e esta foi pensada para seruma boa Queima, independentementedo problema financeiro que vem do anoanterior. Portanto não é por falta de in-vestimento que esta Queima pode ser,de forma alguma, criticada.

QUE MOMENTOS ESPERA QUE SEJAM OS

MAIS ALTOS DA QUEIMA?Na primeira noite vamos ter a Mela-

nie C. Espero que dê um grande concer-to e que o pessoal adira, não só os estu-dantes mas a cidade de uma forma ge-ral. Mas o momento alto, para não va-riar, será quase de certeza o cortejo dos“quartanistas”, no dia 9 de Maio. Ésempre o momento mais importante daQueima, dê lá por onde der. Espero queesteja assim um “tempinho” como o dehoje, com a chamada “chuvinha molha--tolos”, que cai sempre muito bem nodia do cortejo porque nos poupa muitosproblemas e diminui o risco de incên-dio nos carros.

O CORTEJO É SEMPRE UM MOMENTO DE

ALGUMA CRÍTICA SOCIAL. NUM MOMENTO

“A praxe é um modo de estar”JOÃO LUÍS JESUS LEMBRA QUE A TRADIÇÃO ACADÉMICA NÃO SE RESUME À CHEGADA DOS CALOIROS

O Dux Veteranorum da Academia de Coimbra espera que toda a cidade seenvolva em torno da Queima das Fitas de 2006

Page 9: O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

ENTREVISTA 99DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

EM QUE A COMUNIDADE ESTUDANTIL VOL-TA A ESTAR NA RUA, COM NOVAS LUTAS, OQUE ESPERA EM RELAÇÃO A ESSE ASPECTO?

O primeiro cortejo realizou-se em1899, no Centenário da Sebenta, preci-samente com o objectivo de sátira à so-ciedade. Esse é, desde o início, um dosobjectivos primários do cortejo, e que semanteve durante o período da censura,no qual as coisas tinham de ser escritasde uma forma muito especial. Todos osanos, todos os carros levam alusões sa-tíricas, normalmente direccionadas àsua faculdade ou área de acção. E estecortejo não vai certamente fugir à regraembora, infelizmente, nos últimos anos

a imaginação ande cada vez a ficar maisfraca. Tem havido sátira, é certo, masnão de uma forma tão acutilante comoantigamente.

FESTA DA CIDADE

A QUEIMA DAS FITAS É UMA FESTA DE TO-DA A CIDADE DE COIMBRA?

A Queima é uma festa de estudantese para estudantes, mas também para to-da a cidade de Coimbra. A prova dissoé que as actividades desportivas e cul-turais, que já começaram, envolvem to-da a cidade. As noites do parque tam-bém são normalmente muito frequenta-

das pelos conimbricenses em geral, pa-ra o que contribuem os preços, que nãoestão demasiado “puxados”. Pagar 16euros para a ouvir a Melanie C e 15 emtodos os outros dias, com boas bandas,parece-me francamente acessível. De-pois há toda a animação das tendas doparque, com um espírito e uma místicamuito próprios, e onde todos são bem--vindos.

ACTUALMENTE COMO SE PROCESSAM AS

RELAÇÕES ENTRE ESTUDANTES E “FUTRI-CAS”?

É uma relação de amor-ódio. É ver-dade que por vezes os estudantes abu-

sam um pouco, nomeadamente quan-do com os copos pensam que podemfazer tudo e não podem, mas se por-ventura decidíssemos não realizar aQueima, toda a cidade ia sentir a faltadesta festa. Que é de todos! E toda acidade ia pedir, em clamor, para querealizássemos a Queima. Ou seja, osestudantes fazem umas “maluquices”que por vezes causam algumas doresde cabeça aos “futricas”, que não gos-tam de certos abusos, mas se os estu-dantes param de fazer isso a cidade es-tranha e quase que pede para voltaremao “estado normal” e à animação quelhes é característica.

Para melhor compreensão desta entre-vista e da forma como, na prática, se pro-cessam as relações das diversas hierar-quias de estudantes da Universidade deCoimbra com as tradições académicas, so-licitámos ao Dux Veteranorum a definiçãode alguns dos conceitos mais importantes.

Dux Veteranorum: “O Dux Veterano-rum, ou chefe dos veteranos, traduzindodo latim, é um veterano eleito pelos ou-tros veteranos numa reunião convocadapara o efeito. Não é necessariamente oaluno mais velho da Universidade, e nes-te caso concreto eu não sou o aluno maisvelho, mas aquele que entre os candidatosobtém a maioria absoluta dos votos nareunião de eleição”.

Conselho de Veteranos (ou MagnumConcilium Veteranorum): “O Conselhode Veteranos é uma reunião de veteranos,presidida pelo Dux Veteranorum, que de-libera sobre todas as questões que tenhama ver com a tradição académica dos estu-dantes da Universidade de Coimbra”.

Forma como o Conselho de Veteranosse enquadra na Queima das Fitas: “OConselho de Veteranos é uma das entida-des supervisoras da Queima das Fitas etem sempre um elemento na ComissãoOrganizadora, que é por inerência o DuxVeteranorum”.

O que é um veterano?: “Ao contráriodo que regra geral se pensa, que os vete-ranos são os cábulas que andam por aquihá muitos anos sem fazer nenhum, um es-tudante para atingir o estatuto de vetera-no tem de estar obrigatoriamente no finaldo curso e ter mais matrículas do que asnecessárias para o concluir. Portanto nãobasta ter mais do que as matrículas nor-mais do curso para ser considerado vete-rano. Por exemplo, um aluno que tenha10 matrículas mas que esteja no primeiroano, não é veterano. Ou seja, como mandaa praxe, todo e qualquer veterano ou estáno último ou no penúltimo ano, portantoquase a acabar, e já usou insígnias pes-soais”.

A sucessão tranquilaCapae batina

ACTUAL DUX VETERANORUM VAI EM SEIS ANOS DE MANDATO

JOÃO LUÍS JESUS EXPLICA ALGUNS CONCEITOS

Veterano é diferente de cábula

Actualmente é muito raro ver um es-tudante usar a capa e batina todos osdias...

O uso generalizado da capa e batinalimita–se a três/quatro ocasiões duran-te o ano e, de facto, são poucos os estu-dantes que a usam mais regularmente.Regra geral usam no início do ano, naLatada, na Queima e depois tambémem acontecimentos pontuais, como porexemplo eleições. Digamos que é umuso sazonal. Houve uma massificaçãomuito grande do uso da capa e batina,quase toda a gente tem, mas são pou-cos os que a usam regularmente.

QUAL A OPINIÃO DO DUX VETERANORUM

SOBRE ESTA QUESTÃO?É mais uma questão que se enquadra

no que disse no início, que a praxe éuma maneira de estar. Não se podeobrigar ninguém a usar capa e batina.Os estudantes é que têm de se sentirbem e ter orgulho em usá-la. Mas já as-sisti várias vezes aparecer alguém decapa e batina num dia “normal” e opessoal “olhar de lado” e perguntar oque aconteceu para estar assim vestido.

Ou seja, tem que haver sempre ummotivo especial para se usar a capa ebatina e são muito poucos os que ausam porque se sentem bem e gostamde usar. É uma questão de os estudan-tes entrarem no espírito do que é a pra-xe e da identidade própria da academiade Coimbra.

João Luís Jesus, finalista do curso deEngenharia Electrotécnica e Computa-dores, foi eleito Dux Veteranorum em2000. Ao cabo de seis anos de mandatoe a par com o desejo de concluir o cur-so, confessa que “a sucessão já está aser pensada há algum tempo”, subli-nhando que as “pessoas não se devemagarrar aos lugares, até porque cadageração de estudantes acrescenta algode novo e faz evoluir a praxe”. Alémdisso, reforçando a ideia de que a su-cessão poderá justificar-se dentro deum breve período, João Luís Jesus con-sidera estarem cumpridos alguns dosobjectivos a que se propôs, entre osquais “a revisão da praxe e a melhoriada imagem do Conselho de Veteranosjunto dos estudantes, de modo a nãoparecerem aqueles ‘gajos’ maus queperseguem os estudantes, mas antes eunicamente estudantes veteranos quepercebem algo mais sobre a praxe e aju-dam a fazer cumpri-la”.

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DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 20061100 CULTURA

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Vai decorrer na Quinta das Lágrimas,em Coimbra, nos próximos dias 1 e 2 deMaio, um Congresso Internacional sub-ordinado ao tema “O Jardim Medievale as suas interpretações românticas”.

Nos dois dias anteriores (29 e 30 deAbril), aquele histórico local acolherátambém a Assembleia Geral do ICO-MOS (Comité Científico da UNESCOpara a defesa e estudo de Parques, Jar-dins e Sítios Históricos).

Trata-se da primeira vez que o ICO-MOS reúne em Portugal, ficando isso adever-se à Prof.ª Cristina Castel-Branco,Presidente da Associação Portuguesade Jardins e Sítios Históricos (APJSH),que apresentou proposta nesse sentidoaprovada pelo ICOMOS em Bruxelas,em Fevereiro do ano passado.

Registe-se que na ocasião vai serinaugurado, na Quinta das Lágrimas,

um Jardim Medieval, contíguo ao Jar-dim Românico ali existente.

“É necessário enaltecer a importân-cia deste duplo evento, tanto que maisque a Universidade de Coimbra está afazer um grande esforço para passar aintegrar a lista de Património Mundialda UNESCO” – sublinhou CristinaCastel-Branco, acrescentando: “É nossa intenção aproveitar também ocongresso para lançar uma iniciativa anível nacional para a defesa do ricopatrimónio de jardins medievais eromânticos espalhados por todo opaís”.

Esta iniciativa da APJSH conta com acolaboração da ICOMOS e da FundaçãoInês de Castro, e tem o apoio da Univer-sidade de Coimbra, da Câmara Munici-pal de Coimbra e de diversas outras en-tidades.

O jardim medievalCONGRESSO INTERNACIONAL NA QUINTA DAS LÁGRIMAS

Celebra–se no primeiro domingo deMaio (dia 7), o Dia da Mãe.

Para assinalar a efeméri-de, a MedalhísticaLusatenas acabade editar umabela obra dearte, da au-toria doescul torJ o r g eCoelho.

Trata-–se deu m amedalhade bron-ze, quevem acom-panhada deum texto alusi-vo à data, escritopelo padre A. JesusRamos, Professor de His-tória da Igreja.

É esse texto que a seguir reproduzi-mos, com a devida vénia:

“Instituíram–se, no nosso tempo, asmais variadas celebrações, para come-morar, num dia próprio, pessoas eacontecimentos. A muitas delas andamligados objectivos comerciais, o que nãodeixa de empobrecer o seu significado.

De todas essas comemorações, uma

das mais significativas, e que não per-deu ainda de todo a intenção que lhe

deu origem, é a que se prendecom o chamado Dia da

Mãe que, em algunspaíses de matriz cris-

tã, continua a sercelebrado a 8 de

Dezembro, fes-ta litúrgica daI m a c u l a d aConceição, eque, entrenós, foi trans-ferido para oprimeiro do-

mingo deMaio.

Em Dezembroou em Maio, é

sempre um dia cheiode calor humano, de

recordações bonitas e demuita ternura. De facto, todos

aproveitamos este dia para, de um mo-do ou de outro, manifestarmos às nos-sas mães o nosso reconhecimento pornos terem o mais precioso e sagrado detodos os dons: a vida.

A vida humana está hoje em debate,sendo tema de congressos, de discus-sões, de abordagens diversas. E se éverdade que se levantam muitas vozespara defender este valor incomensurá-

vel, há também os que pretendem, atra-vés de vesgas leis humanas, relativizaro primeiro de todos os direitos do serhumano.

Por isso, neste tempo em que estedom é tantas vezes e de tantos modosposto em causa, celebrar o Dia da Mãeé também ocasião oportuna para quecada um de nós faça uma verdadeira re-flexão não só sobre o que representa pa-ra si a própria vida mas igualmente so-bre a forma como tem sabido defendere promover este direito fundamental einalienável de todo o homem. Areflexão não pode deixarde nos levar de regres-so ao colo das nos-sas mães, aosseus beijos ca-rinhosos e àternura con-templativade cadauma delassobre om i s t é r i oda vidaque lhesfoi ofereci-do na dádi-va de cada fi-lho.

Neste regres-so estará semprepresente um gesto deagradecimento. Pode seruma flor. Pode ser um beijo.Pode ser uma pequena prenda. Pode

ser uma oração. Afinal há tantas formasde demonstrarmos às nossas mães co-mo lhes estamos gratos pelo facto de,um dia, numa primavera de ontem oude há muitos anos, terem acolhido noseu ventre maternal o dom que se fezvida cada um de nós.

A presente medalha, obra do escultorJorge Coelho, editada pela MedalhísticaLusatenas, pretende contribuir paraque a celebração do Dia da Mãe tenhaeste sentido de agradecimento. Bem-–hajam as nossas mães!”.

Cristina Castel-Branco

Dia da Mãe a 7 de Maio

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SAÚDE 1111DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

FarmáciaFiguei redo

directora técnica: Capitolina Maria de Figueiredo F. Pinho

Rua da Sofia, 107 • 300-390 Coimbratelefone: 239822837 – fax: 239842934 3000 Coimbra – Tel. 239 823 744 – Fax 239 832 398

Propriedade e dir. técnica de Maria Isabel Correia Mesquita

Joana Martins

Numa cerimónia presidida pelo Mi-nistro da Saúde, António Correia deCampos, no passado dia 12 de Abril, foilançada a primeira pedra para a edifica-ção da nova unidade de produção decefalosporinas, antibióticos injectáveis,da Labesfal-Fresenius Kabi. O grupoalemão, que comprou o laboratório por-tuguês há cerca de um ano, dá assiminício à construção de um projecto, emSantiago de Besteiros, concelho de Ton-dela, que se prevê estar em pleno fun-cionamento em Abril de 2007.

O investimento no projecto ronda os15 milhões de euros e afigura-se degrande importância na medida em quea actual unidade de produção de anti-bióticos da Labesfal já atingiu o seu li-mite em termos de capacidade produti-va, tal como referiu o Administrador daempresa, Jorge Amaral. Pautada poruma concepção modular, a nova unida-de, com cerca de 4.500 metros quadra-dos de área, divide-se em três pisos queenglobam a produção, armazém e ser-viços, os equipamentos e o controle dequalidade.

O Presidente da Câmara Municipalde Tondela, Carlos Marta, reitera a im-portância deste investimento, “sinal po-sitivo para a economia do concelho, daregião e do país”. De facto a nova uni-

dade, que irá criar cerca de 50 novospostos de trabalho, prevê, em cerca dequatro anos, estar a produzir em trêsturnos, sete dias por semana. Assim se

justifica a confiança no aumento da pro-dução, cerca de 85 milhões de euros nofinal de 2006, e consequente disparo dovolume de vendas a partir de 2007, al-tura em que entrará em funcionamentoa nova unidade.

Durante a sua intervenção, o Minis-tro da Saúde sublinhou a importânciado investimento feito pela FreseniusKabi no interior do país, no âmbito dacriação de novas oportunidades de de-senvolvimento. Correia de Campos re-feriu ainda que este tipo de investimen-tos têm um “efeito agregador de outrasactividades” e reiterou o facto de ser es-te tipo de empresas “a melhor vacinacontra a deslocalização”.

INTERNACIONALIZAÇÃO

O abastecimento do mercado mun-dial é um dos objectivos da FreseniusKabi. Tal como referiu o Presidente dolaboratório, Francisco Braz de Castro,“a internacionalização não é umaopção” mas sim “uma necessidade vi-tal”. Assim, no que respeita à capacida-

de de produção, a nova unidade pre-tende exportar, numa primeira fase,cerca de 80% da sua produção, aumen-tando em 10% este volume em cerca dequatro anos.

O Presidente da Labesfal-FreseniusKabi reafirmou, no entanto, o papel vi-tal do Infarmed como parceiro nesteprocesso de internacionalização. Brásde Castro sublinhou que, na medida emque o registo dos produtos em outrospaíses é fundamental para o alarga-mento do mercado internacional, “o In-farmed tem que ser obrigatoriamenteum parceiro activo”. O Presidente dolaboratório foi mais longe e reforçou aaposta na defesa de Portugal como “Es-tado membro de referência para os re-gistos internacionais”.

O Ministro da Saúde relembrou aintenção de ultrapassar os 300 mi-lhões de euros no que diz respeito àsexportações de medicamentos, subli-nhando que “se toda a indústria far-macêutica fosse como a Fresenius Ka-bi, provavelmente passaríamos para otriplo”.

15 milhões para nova unidadede produção de antibióticos

MINISTRO DA SAÚDE NA LABESFAL

O Ministro Correia de Campos no uso da palavra

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DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 20061122 SAÚDE

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Odete Isabel foi, no passado dia 20de Abril, distinguida como Figura doAno 2006, prémio atribuído pela re-vista “Farmácia Distribuição”.

Directora dos Serviços Farmacêuti-cos dos Hospitais da Universidade deCoimbra (HUC) desde 1995, OdeteIsabel (sobre cujos serviços publicá-mos reportagem na anterior edição)diz ter “recebido orgulhosamente oprémio, enquanto farmacêutica hos-pitalar”.

Tal como confessou ao “Centro”, aDirectora dos Serviços Farmacêuticosconsidera que “a Farmácia Hospitalaré uma vertente da actividade farma-cêutica que tem sido muito esqueci-da”. Assim, Odete Isabel partilha aimportância da distinção que recebeucom “a equipa de trabalho que aacompanha nos HUC, com todos osfarmacêuticos hospitalares portugue-ses e com a família e amigos”, que aapoiaram desde sempre.

Odete Isabel distinguida como Figura do Ano

PRÉMIO PARA OS HUC APOIO A UM MILHÃO DE PORTUGUESES

A Associação dos Alcoólicos Anóni-mos (AA), que ajuda um milhar de por-tugueses a parar de beber, tem vindo areceber cada vez mais pedidos de auxíliode jovens e mulheres.

“Há cada vez mais gente nova e come-ça a haver uma pequena desmistificaçãoem relação às mulheres”, afirmou à agên-cia Lusa o secretário-geral da associação.

Frisou, contudo: “O nosso único foco éa recuperação da pessoa que está perdidae que só tem um pano escuro à sua fren-te. Dizemos-lhe que há solução atravésda manutenção da abstenção”.

O secretário-geral falava no intervaloda conferência anual dos Alcoólicos Anó-nimos que decorreu no Bombarral e quereuniu representantes dos 83 gruposexistentes no país.

Sónia Oliveira, vice–presidente dosAA, disse também que “cada vez há maisgente nova” na associação, sustentandoque “há novas formas de beber, bebe–sede forma muito intensa para atingir umefeito”.

Quanto às mulheres, tem aumentadoo número das que pedem auxílio porque“há uma melhor aceitação e já lhes é per-mitido ter esta doença”, adiantou a vice--presidente.

Os grupos funcionam de forma dis-persa pelo país onde aplicam uma tera-pia que designam de “programa de vi-da” e que cujo objectivo é manter os al-coólicos afastados da bebida para o restoda vida.

Considerando o alcoolismo umadoença crónica e irreversível, os que fre-

quentam os grupos de ajuda continuama denominar-se alcoólicos que se devemmanter afastados da bebida.

“Conhecemos casos de pessoas que fa-zem desintoxicações, mas depois voltama beber e aqui conseguimos parar de be-ber”, contou à Lusa uma associada quedeixou de beber há sete anos e meio,adiantando que “o único requisito paraser membro é o desejo de parar de be-ber”.

“O que digo aos que chegam aos AAdesesperados é que sou alcoólica, tam-bém tenho um passado de sofrimento eque aqui resultou”, continuou.

O testemunho de pessoas que se abs-têm de beber é considerado credível pe-los alcoólicos em recuperação que fre-quentam os encontros de grupo.

“Gera-se uma dinâmica de partilha e éassim que se deixa de beber”, disse.

Segundo o secretário-geral, os AA nãose envolvem em quaisquer outras causas.

“Não tomamos posição sobre políticascomo a taxa de alcoolemia ou sobre apartir de que idade é que as pessoas de-vem começar a beber, só nos interessa arecuperação dos alcoólicos”, salientou.

Em relação aos frequentadores dasreuniões de grupo, a associação estimaque 50 por cento não são regulares demo-rando anos até se manterem fixos, 25 porcento entram em recuperação permanen-te e os restantes 25 por cento nunca maisvoltam aos grupos.

Os interessados em participar nos gru-pos podem ligar 217 162 969 ou consultaro site www.aaportugal.org.

Contra o alcoolismo

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PUBLICIDADE 1133DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

Page 14: O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

Desde os tempos em que me cruzeicom o Jorge Castilho, sem outropropósito que não fosse levarmos acruz ao calvário do serviço militar obri-gatório, aí pelos finais dos anos 60, deleguardei sempre uma imagem deserenidade e de caminhante sem pres-sas nem atropelos desgrenhados, escol-hendo com critério e convicção ostemas das suas intervenções. A par-agem editorial a que se remeteu, sem-pre se me afigurou como um stop-and-go (legítima 'contagem de protecção'?)até reganhar fôlego e sentir reacesa avontade de nova incursão pelo univer-so da comunicação social, vontade àqual não resistiu pela simples razão deque é parte da razão do seu respirar, eque (mais uma vez e ele que me perdoea ousadia) lhe há-de levar couro e cabe-lo, e trazer em compensação mais umaquantidade de rugas à pala do tenho-que-dizer-o-que-me-vai-na-alma. E édesta fibra que não são feitas as harpiase pitonisas da nossa classe jornalística,cada vez mais subjugada ao poderpolítico e ainda mais ao poder económi-co. Com raras excepções!

E a minha grande dúvida, Jorge,deste regresso a um espírito/conceitode opinião criticamente isenta, que viacarinhar e cultivar sob o título Jornalde Coimbra, tem a ver com o turbilhãode mudanças que entretanto ocorrerame com a capacidade de que o Centro seconsiga encaixar sem dor numa reali-dade nova da comunicação social por-tuguesa: fusões a granel, piruetas delinhas editoriais, vasculhar assustadornas vidas privadas, rodopio de gestoresà luz de interesses partidários e denovos grupos económicos dominantes,ganhos de audiência à custa de n'im-porte quoi, gente disposta a aparecer a

qualquer preço nas capas e páginasímpares, métodos refinados de calaropiniões, e todo um ror de novosmecanismos e instrumentos de mexerna comunicação, que vais ter de equa-cionar com muita ponderação e o olharposto já no fim da década - e nem meatrevo a desenhar horizonte mais dila-tado, porque até lá muitas iniciativas eboas ideias irão morrer pelo caminho,quase todas de inacção ditada porregras inexoráveis dos desertos de au-diência ou do suporte económico emque cada um se aventura.

E este teu reaparecimento acontecenuma fase extremamente ingrata davida portuguesa - e para as bandas dacomunicação social basta olhar para oque tem acontecido com as mudançasde mão (e de trincheira) de uma Luso-mundo, com os títulos do e para o Gru-po Cofina, com a discrição dos resulta-dos da Impresa, com a explosão dos jor-nais gratuitos, com a morte súbita depublicações ainda há pouco flores-centes, com a novíssima ditadura dotelemóvel e das guerras pelo controlodo seu universo de conversantes, com opercurso solitário de um Jornal do Fun-dão e outros igualmente emblemáticos,com as profundas alterações geradaspelo exponencial salto tecnológico daNet e de toda a gama de recursos asso-ciados às redes de comunicação hoje aoalcance de utentes dos 8 aos 80... semsair do calor do sofá. E, but not the least,aí está, sem máscara nem pretexto, ainvasão da armada espanhola, quevarre não só a comunicação social, co-mo a banca, a energia, a construção, oturismo, os seguros, as águas (o ouro doséculo XXI), os campos agrícolas, e omais que Deus queira e que a gente seagache até nos verem os fundilhos

rotos. E o crescimento económico dosdois países aí está a explicar como vaiser o nosso futuro esquelético: 3,4%para Espanha, e as nossas ainda duvi-dosas e magras décimas (OCDE, FMI,UE e Banco de Portugal dixit) a merecerum honroso 4º lugar... a partir do fim databela elaborada por quem sabe do quefala (enquanto por cá há muito boagente que só fala do que não sabe e nãopára de enterrar impunemente as botasno charco), orgulhosamente e apenasantecedidos pela Guiné Equatorial,Seichelles e Zimbabué. Comentáriospara quê, se são tudo artistas portugue-ses?

Por isso a pergunta de mim-para-com-mim: QUE RUMO, Jorge? Numanova Babel de todos a escrever sobretudo o que possa cativar leitores, inde-pendentemente da qualidade da men-sagem ou da falta de ética do chega-para-lá, para onde vamos de novo con-tigo neste renascer que estou seguroponderaste maduramente? A partirdaqui, cada passo mal-dado ou pisa-dela a doer, terá um impacto diferentede há três ou quatro anos atrás. Andam(andamos!) todos mais escaldados e aespreitar por cima do ombro, ninguémarrisca abrir caminho sobre esqueletosmal enterrados, cada eunuco deste oudaquele grupo lutará com fanatismopelo imperador que lhe garantir cama-mesa-e-roupa-lavada. Estamos nomundo real e autofágico da informationis power, onde já não há gestos de soli-dariedade, acredita!

Assumir uma linha de rumo, hoje,terá de significar coerência no passo,independência no gesto e persistênciano calor da mensagem - e isso sai dobolso e do coiro. Porque de outro modo,nem com a 'vinda do Marquês cáabaixo' a coisa vai melhorar: os donosda comunicação social já cá estão outravez, e aprenderam na pele a lição de umpassado recente, tendo entretanto apa-gado todas as pistas que pudessem per-mitir-nos os passos de regresso. Nada éou será como dantes, quando resolvesteparar para pensar: essa água nãovoltará a correr debaixo das pontes doteu Mondego, e o romantismo quixo-tesco já só sobrevive nos jogos floraisdas sociedades recreativas. Prepara-tepara outra luta mais sofisticada, mais

subterrânea e mais cega do que algumavez foi, porque os tempos são antes detudo tempos de sobrevivência e a éticafoi varrida para debaixo dos tapetes dacomplacência adormecida e conforma-da, que suga a nossa agrura diária já tãoensopada nos crudes das ramas petro-líferas em escalada vertiginosa e nascondições de vida em queda aceleradae propícia à venda de almas ao primeirodiabo que apareça na esquina da sorte.Se tudo isto entrou na equação de(re)abertura das páginas do teu Centro,vamos a eles, que já cá estão outra vez...e vieram para ficar!

DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 20061144 OPINIÃO

ponto . por . ponto Sertório Pinho Martins

Chernobyl agiganta-se como um dosmaiores desastres nucleares da história.

Tal como em Hioshima e Nagasaki,volvidos que são vinte anos, ainda hojese morre pelo efeito das radiações dumambiente altamente contaminado.

Apesar de tanta calamidade, o átomocontinua um brinquedo nas mãos deirresposáveis, arma de chantagem naantecâmara da tragédia.

A posse do segredo nuclear, passaportepara a entrada no clube dos poderosos destemundo, tornou-se numa ostensiva vaidade,mesmo que os cidadãos desses países,imersos em crónico obscurantismo, mor-ram de doença e de fome.

Ainda se o controlo da força estivessenas mãos do poder democrático, navontade livre e esclarecida do povosofredor..., mas não. Cada vez mais osaventureiros demagogos usurpam e, aseu bel prazer, controlam essa vontade

sem um mínimo de senso, de escrúpu-los.

O que está a passar-se no Irão éextremamente perigoso, não propria-mente por mais uma porta de acesso aorisco atómico mas porque quem a fran-queia dela se serve para fazer a guerraem nome dum deus tendenciosamentedesvirtuado, dum fanatismo politica-mente exacerbado.

Qualquer acto bélico sobre tal barrilde pólvora poderá tornar-se numdesastre de incomensuráveis pro-porções. Permitir o avanço incontrola-do do processo, em clara e aceleradagestação, é colocar a humanidade,

mais propriamente a Europa e toda abacia mediterrânica, refém da chan-tagem dum poder marginal e insen-sato.

Chegou, pois, o momento de todas asnações se unirem e fazerem valer a forçada razão contra a razão e a irracionali-dade da força. É tempo de, urgente-mente, os poderosos do clube nuclearassumirem definitivamente e em pleni-tude as suas responsabilidades.

Já bastaram os medos e os perigosdas décadas de guerra fria.

Para quem ainda tenha dúvidas, aíestão os dolorosos testemunhos daUcrânia e do Japão.

BRINCAR COM O FOGO

Renato Ávila

...já cá estãooutra vez!

Há três anos que sou tutor. Ameu cargo, desde os primeiros pas-sos na Faculdade, um grupo decinco estudantes com quem deve-ria reunir, trocar impressões, orien-tar - ser, enfim, o elo privilegiadode ligação entre a Escola e o estu-dante.

Pedi números de telefone, con-tactos de correio electrónico e par-ti, decidido e cheio de entusiasmo,na aventura das novas pedagogias.Consegui reunião e meia, numano, travámos conhecimento.

Teoricamente, eu era tutor paraos quatro (ou cinco...) anos da li-cenciatura. Nunca mais me procu-raram.

O ano passado, novo grupo. Fuiinformado, Esperei. Ninguém meapareceu.

Este ano... nada sei!

POIS...

José d’ Encarnação

Page 15: O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

CULTURA 1155DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

Definem–se, acima de tudo, como umgrupo que recusa preconceitos e queprocura furar barreiras artísticas exis-tentes. Para além do teatro de sala, oTeatro Anónimo aposta em fazeremergir um teatro de rua onde se cru-zam imagens do tradicional com umavisão futurista e pós–moderna domundo.

Rita Delille

Ser surpreendido por dois giganto-nes multimédia ou por um careto trans-montano que recita Almada Negreirossão situações aparentemente impossí-veis mas que podem acontecer se o Tea-tro Anónimo (TA) sair à rua.

O grupo nasceu em Coimbra no anode 2001 e a sua actividade tem–se de-senrolado entre esta cidade, Figueira daFoz e Aveiro, tanto na rua como em sa-la. No que diz respeito ao teatro de rua,Marco Pedrosa, actor e membro da Di-recção, considera existir “um défice deteatro de rua de qualidade, bem traba-lhado e que fuja aos cânones tradicio-nais do que se considera que é a anima-ção de rua”. “Existe pouco teatro de ruae o que tem sido feito está mais ligadoàs artes circenses”, completa.

Uma das características que distin-gue o teatro de rua do teatro de sala éque, o primeiro, permite uma interac-ção maior com o público, jogando ainda

com o efeito surpresa e com o inespera-do. “Criamos situações urbanas que po-deriam ser normais mas não o são por-

que estão teatralizadas, encenadas àpartida”, explica o actor.

Embora o teatro na rua viva muito dainteracção com o público, esta é umaquestão que Marco Pedrosa consideradelicada. “Temos que saber até onde éque podemos ir, até onde é que pode-mos tocar no público. Normalmentenão existe uma interacção directa, nãotocamos nas pessoas porque há umabarreira muito complicada de quebrar”.O dirigente do grupo explica ainda que“os actores no teatro de rua estão muitomais desprotegidos do que numa salaonde há uma bancada e um palco. Háum distanciamento físico, há bastidoresonde os actores se podem refugiar casoalgo corra mal, caso haja uma falha téc-nica”.

Embora não considere o teatro de ruamais democrático que o teatro em sala,Marco Pedrosa admite que “uma dasmais–valias e um dos aspectos mais im-portantes do nosso trabalho de rua éque conseguimos chegar a um públicoque provavelmente não iria ao teatro desala”.

Numa perspectiva mais abrangentesobre toda a criação artística do TA, oactor confessa que o grupo não preten-de desenvolver uma única linha de ac-tuação, mas explica que “uma coisa im-portante na nossa forma de fazer teatroé a perspectiva que temos do que é otradicional, do que já está enraizado nasociedade portuguesa. Olhamos deuma forma muito futurista para o queestá atrás”. “Ao olhar para trás estamosa olhar para a frente e ao olhar para afrente também estamos a olhar para

trás e é isso que nos faz situar no pre-sente”, defende. Esta tentativa de “futu-rizar” aspectos e imagens mais tradicio-nais está, aliás, presente em quase todosos espectáculos do TA.

Quanto a uma eventual função socialdo teatro que vá para lá do puro entre-tenimento, Marco Pedrosa consideraque “o acto crítico que depositamos noteatro, o facto de nos manifestarmos edarmos a nossa opinião é, sem dúvida,uma forma cultural de intervenção so-cial. A criação artística permite–nos daropiniões, recorrendo a autores comquem partilhamos perspectivas e comquem há uma identificação”.

DOIS ESPECTÁCULOS EM CARTEIRA

Neste momento, o grupo tem dois es-pectáculos de rua em carteira, o “SérieB” e o “Liquidação Total”. Este últimofoi estreado em Coimbra na altura doEuro 2004 e teve, nesse mesmo ano,apresentação na Figueira da Foz. “É umespectáculo kitsch, de ambiente kitsch.É uma homenagem ao imaginário do ci-nema mudo, a Buster Keaten e a Char-lie Chaplin.”.

O “Série B” é um espectáculo consti-tuído por dois gigantones multimédia,aos quais a cabeça foi substituída porum ecrã que contém diversos conteú-dos audiovisuais.

Para Marco Pedrosa, “o que é interes-sante é esta junção do gigantone, que éjá um elemento tradicional na nossacultura, com uma nova linguagem, adas novas tecnologias”.

O cruzamento do tradicional comnovas linguagens, nomeadamente amultimédia, é, aliás, uma dos pontosem que o TA está cada vez mais a apos-tar. “Neste momento estamos a desen-volver um trabalho mais profundo etransdisciplinar ligado às novas tecno-logias e que vá para além da concepçãomais clássica de teatro”.

Marco Pedrosa diz que, mais do queuma vontade deliberada de ousar, exis-te “uma intenção natural que vem daspessoas que constituem o TA de furarbarreiras artísticas. E isto é tão normalcomo a própria vida. É querer conhecermais coisas, querer ir mais longe. Mas,achamos que isto só é possível conhe-cendo e trabalhando sobre as formasmais clássicas e convencionais”.

Para além destes dois espectáculos, ogrupo criou, em 2002, um projecto ba-seado em textos e personagens de Al-mada Negreiros. O projecto divide–seem três fases. A primeira consiste numapeça que já foi levada às ruas de Coim-bra e Figueira da Foz, chamada “A Facedo Caos”. “Esta peça consiste na criaçãode um personagem popular, o caretotransmontano, a recitar o Manifesto (fu-turista) Anti–Dantas, de Almada Ne-greiros”.

A segunda fase trata–se de uma peçaem sala, “Amor Plutónico”, “cuja baseassenta em duas personagens de Alma-da Negreiros, o pierrot e o arlequim, enuma concepção transcendental doamor”. A terceira fase, ainda em prepa-ração, é a “Milionésima ConferênciaFuturista”, uma peça também baseadaem textos do mesmo autor português.

ALMADA NEGREIROS E GIGANTONES MULTIMEDIA...

Teatro Anónimo - de Coimbra para o Futuro

Page 16: O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

Bem Vindos!

Olá a todos, cerca de cinco anos de-pois, estou de volta à escrita sobre as li-des musicais, agora sob o título de “Dis-torções”. Neste espaço proponho contarnão só estórias da música, discos quecompro, concertos que assisto ou mes-mo algo sobre o qual me apeteça escre-ver, mas havendo sempre com um de-nominador comum, a música.

Desenganem-se os que esperavamum monólogo, pois conto com a inte-ractividade de todos os que semanal-mente me lêem, via e-mail, propondoassuntos ou dando ideias que gostavamde ver discutidas neste fórum musical,para que, sempre que possível, se pos-

sam desfazer dúvidas, equívocos, etc. Sendo um coleccionador e compra-

dor assíduo de discos, apesar de clara-mente direccionado para as sonorida-des marcadamente mais rock, tento

sempre ouvir um pouco do que vai con-tagiando nas pistas de dança, porque,apesar de gostarmos claramente de umdeterminado estilo de música, não de-

vemos deixar, nunca, deouvir o que se passa à nos-sa volta, sob pena de nostornarmos uma espécie de“Robinson Crusoe musi-cal”, e de facto os registosque mais me agradaramnos últimos tempos foramos que conjugam as bati-das e riff´s das guitarras.

Hoje vou escrever-vosde um dos discos que maisgostei de ouvir nos últimostempos, o novíssimo “Se-xor” de Tiga, este canadia-no é, sem dúvida, uma dasreferências do “djing” ac-tual, que, apesar dos seus16 anos de carreira, noqual remisturou um poucode tudo, apenas agora edi-ta seu primeiro longa du-ração. Este dj da cena mu-

sical de Montreal, acaba de nos sur-preender com um registo discográficomarcadamente “electroclash”, onde secruzam, também, o house, o techno, eainda alguma sonoridade mais pop,

mas que se destaca, sobretudo, pelacriatividade, o que vai escasseando nomonótono e pouco criativo mundo damúsica de dança. Para todos aquelesque esperavam que este “Sexor” nãofosse mais do que um “greatest hits” dasua carreira, Tiga apesar de ter incluídoduas “covers” interessantes – “Down inIt” dos Nine Inch Nails, e “BurningDown The House” dos Talking Heads–, cativa-nos sobretudo com temas co-mo: “(Far From) Home”, “PleasureFrom The Bass” (já editado em 2004), eo excelente “You Gonna Want Me”, coma participação especial de Jake Shears,vocalista dos Scissor Sisters, e que temusufruído de algum “airplay” nas nos-sas rádios.

Para quem quiser ver ao vivo este fe-nómeno das pistas de dança, o dia 20 deJunho no “Lux”( Lisboa) é uma excelen-te oportunidade.

Fico a aguardar pelos vossas mensa-gens, críticas, inquietudes ou ideias.PARA SABER MAIS:- www.tiga.caou - “Sexor” (Different)- “In The Mix´05 - Mixed by Tiga andAjax”(Central Station)

[email protected]

DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 20061166 OPINIÃO

MÚSICA

Durante a vaga de incêndios que asso-lou Portugal no Verão de 2005, ficou céle-bre o caso dos três bombeiros francesesque, após terem tido conhecimento, pelosmeios de comunicação social, da gravida-de da situação portuguesa, se propuse-ram ajudar os bombeiros portugueses, àconta das suas férias e, eventualmente,suportando os gastos de deslocação, des-de que as autoridades portuguesas finan-ciassem as suas despesas em territórionacional e promovessem a sua integraçãonuma força de intervenção. Por razõesque nunca chegaram a ser totalmente es-clarecidas, só muito tardiamente os bom-beiros chegaram a Portugal, e a satisfaçãoque tiveram, em termos profissionais, sófoi parcial.

Para lá do que é acessório, há aqui fac-tos de inegável alcance político e jurídico:1.º) os bombeiros falaram verdade, quan-do mostraram interesse em ajudar as po-pulações afectadas pela catástrofe; 2.º) ti-nham bons conhecimentos técnicos decombate aos fogos florestais, pondo emcausa o argumento de que não seriam ne-cessárias mais forças terrestres (em Portu-gal, existe um problema grave de falta de

capacidade técnica de muitos bombeiros,sobretudo dos voluntários); 3.º) o que in-fluenciou decisivamente a sua decisão devirem para Portugal foi a consciência quetiveram do sofrimento das populações.

Foi a aflição, por natureza excessiva,das pessoas que os encorajou a conside-rarem os seus deveres para com quemnecessitava de ajuda, antes dos seus di-reitos. Ninguém os ouviu invocar, porexemplo, o direito ao bem-estar indivi-dual, nem o direito de circularem e deserem acolhidos livremente por umacorporação portuguesa de bombeiros. Oque os mobilizou está bem presente naspalavras de um dos bombeiros: “Hoje osfogos são em Portugal, amanhã serão emFrança; eu já vivi essa experiência trági-ca”.

Tudo se processou, conforme o direito,através do Estado português, que é a en-tidade político-jurídica que, através doGoverno, controla as actividades de pro-tecção civil em território português. Averdade é que a pequena ajuda chegou,numa situação em que o sofrimento dasvítimas ultrapassava manifestamente acapacidade de intervenção das forçascontroladas pelo Estado. E chegou – note--se bem – como possibilidade dada pelaseparação de facto existente entre portu-gueses e franceses, e não para uma pes-soa em concreto, mas para uma plurali-dade de rostos desconhecidos, o que nor-malmente só acontece em situações extre-mas de guerra ou de opressão.

Não sabemos se os bombeiros france-

ses alguma vez leram a Ilíada ou a Odis-seia, de Homero. Mas é um facto que, co-mo Aquiles diante do Rei de Tróia, após oassassinato de Heitor, salvaram a existên-cia humana e deram início a um tempode clemência. Foi imitando Ulisses quepercorreram, também agora apenas depassagem por Portugal, o caminho de re-gresso a casa.

Por que o fizeram? O que lhes deuasas?

O que se afigura hoje correcto politica-mente para vencer a ameaça dos fogos éaumentar o nível de exigência. Assenteem claros fundamentos político-jurídicos,a cooperação europeia tem-se intensifica-do, designadamente com a criação demecanismos de apoio técnico e financeiroaos Estados. Também o poder políticoportuguês se tem pronunciado sobre aquestão, ao longo dos anos, tendo já pro-cedido, por diversas vezes, a correcçõesde percurso e a mudanças de rumo, quenão se resumem ao aumento dos meioshumanos e materiais afectos ao combateno terreno. Porém, todos os esforços se re-velaram até agora insuficientes.

No ano passado, o Ministro da Ad-ministração Interna, António Costa,veio reclamar uma diferente sensibili-dade dos juízes na aplicação de medi-das de coacção aos incendiários. O seucomportamento suscitou a reprovaçãodos partidos da oposição, que entende-ram as palavras do Ministro como umaintromissão inusitada do poder executi-vo em relação aos tribunais. Não me pa-

rece. O problema dos incêndios é de talforma grave que o direito se auto-reve-la diferente, quando alguém afirma asua impotência diante de um mundoem extinção. O direito que protege asflorestas é o mesmo que previne a prá-tica de crimes e pune os criminosos. Co-mo explicar então que o interior do paísse vá progressivamente desertificandoe a generalidade das pessoas prejudica-das pelo fogo se sinta insegura? EmAgosto de 2005, o fogo abeirou-se peri-gosamente da cidade de Coimbra, oque nunca antes se tinha visto. Quem sepode esquecer?

Não há dois direitos – esse é o tempodas ditaduras: dos presos comuns e dospresos políticos; da água nas cidades e daseca nos campos; da existência, em suma,de “dois pesos e duas medidas”. Quandoo direito falha, falha como um todo, e ocorpo político sofre como um todo.

O que se passa, afinal? As “escolhascertas” podem ser iludidas por meca-nismos de diversos tipos, tanto naturaiscomo ideológicos ou políticos, de tipooportunista, baseados no egoísmo e nãona solidariedade. O que os bombeirosfranceses nos mostraram é que a solida-riedade é uma necessidade material dosseres humanos, não um mero recursomoral, religioso ou cívico baseado emconvicções discutíveis. Numa visão cer-teira das coisas, perceberam o que é es-sencial à existência humana.

O que percebemos nós sobre o que sepassa à nossa volta?

O chamamento dos fogos

João Caetano

José Miguel Nora

Distorções

Page 17: O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

A PÁGINA DO MÁRIO 1177DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

Segurança, códigos e “passwords”

CRÓNICA DE UM TEMPO DOIDO...

apaginadomario.blogspot.com [email protected]

Esta página é a primeira que é também um blog,

permitindo uma interactividade permanente com os leitores.

Se quiser comentar qualquer assunto, dirija-se a

www.apaginadomario.blogspot.com e deixe a sua opinião.

Pode também utilizar o endereço [email protected]

Assim, os textos desta página estarão disponíveis na internet

e os comentários lá inseridos poderão aqui ser publicados.

Mário Martins

O aparecimento desta página susci-tou três comentários no blog. Mas, afi-nal, mais do que comentários foram ex-pressões de amizade.

Dois anónimos aproveitaram pararecordar experiências do trabalho no“Diário As Beiras”.

Um deles escreveu que “Parece quefoi ontem, mas já lá vão 10 anos. Dezanos!!!... Não são 10 dias, 10 meses nem10 semanas. Pois não! São 10 anos!...”.Outro deixou uma exlamação: “Ai quesaudades”.

O terceiro comentador, identificado,exprimiu-se assim: “Boa sorte, meuamigo... que o mesmo é dizer bons ven-tos. Vemo-nos aqui e ao Centro. Sem-pre!” (Maló de Abreu).

Um abraço a todos.

Amigos no blog

Na primeira quinta-feira de Maio,quase-quase em tempo de Queima dasFitas, à uma hora, dois minutos e trêssegundos, o tempo e a data serão estes:01:02:03 04/05/06.

Esta sequência numérica não irá re-petir-se tão cedo...

Momentoúnico

O judoca João Ne-to estuda e treina emCoimbra. Recente-mente conquistou aúnica medalha de ouroportuguesa na Taça do Mundo dispu-tada em Lisboa. Compro o “Diário deNotícias” e o “Record” e leio em am-bos o segunte: “João Neto da ACM(Torres Novas)”. Telefono para a Fede-ração Portuguesa de Judo e confirmo oque já suspeitava: o atleta não está ins-crito em Coimbra.

O meu lamento.

ACM cá e láOs juvenis do Vigor perderam sábado

na Lousã, por 4-2, num jogo que teve daspiores arbitragens que vi até hoje. Tãomá só a de José Pratas num U. Leiria--Académica, que me levou a escreverque “até o castelo corou de vergonha”.Na imagem, o golo do empate do Vigor(2-2), já depois de vários “amarelos” e deum penalty surrealista. Assim, o títulodistrital deve ir a caminho da Figueirada Foz.

PS – Também no sábado, o FC Portosagrou-se campeão nacional sénior, comum penalty-fantasma e um final de jogoterceiro-mundista. Pobre futebol.

Derrota na LousãA MINHA EQUIPA

Por tudo e por nada, as novas tecnologias exigem-nos um esforço de memória. Começa a ser cansativo.

Se desligou o telemóvel para não seracordado com um hipotético telefonemadurante a noite, de manhã vê-se obrigadoa inserir o código. É o primeiro de umasérie de números bem guardados namemoria, já que é desaconselhável es-¯¯2

crevê-los por razões de segurança.Há quem precise de outro código para

ligar a ignição do automóvel; felizmentenão são muitos. Mas se vai para entrar nocafé e repara que não traz dinheiro, asolução é ir ao multibanco mesmo aolado e levantar umas notas. Outro código.

De vez em quando a passagem peloposto de abastecimento de combustíveisé indispensável. Depósito cheio, cartãode crédito na mão e... outro código!

Ainda não são 9h00 e já a memóriateve de recordar três códigos – diferentes,pois claro, por razões de segurança.

Chega ao escritório, abre a porta e, rap-idamente, deve desligar o alarme.Adivinharam! Outro código. E vão qua-tro.

Para consultar o correio electrónico, ocomputador pede-lhe uma "password".Uma, claro, por cada conta de correio – econvém que sejam diferentes, ainda esempre por razões de segurança. Há umou outro "site" que, para deixar consultá-lo, obriga a registo e – adivinharam, outravez!... – a inserir "username" e "pass-word". Rapidamente o número destasatinge o dos códigos.

Imagine, agora, que tem um pagamen-to qualquer para efectuar. Não, não pre-cisa de voltar ao multibanco. Abre a pági-na do seu banco e prepara-se para pagarpela internet: entidade, referência, mon-tante e... "password" e código pessoal.

Na lista de números indispensáveispode juntar outros que, de tão solicitados,

convém igualmente ter memorizado: onúmero do bilhete de identidade, o docartão de contribuinte e, já agora, onúmero de contribuinte da empresa paraa qual trabalha, porque volta e meia épreciso pedir um recibo de uma compra.Números e mais números.

Com um bocado de sorte, se gosta deapostar no totoloto, ainda é capaz dememorizar a chave preferida: umasequência de seis algarismos, pelomenos. E no euromilhões a mesma coisa,embora aqui só sejam necessários cincoalgarismos. Para registar a aposta temduas opções: ou num posto tradicionalou... na internet. Neste último caso,porém, deve estar registado no portal daSanta Casa. Adivinhou: é indispensávelter um nome de utilizador e um códigocom, pelo menos, oito algarismos e letras!

Se no final desta odisseia se sentiradoentado, o que é perfeitamente natu-ral, há uma solução fácil: pegue no tele-fone, ligue para o Centro de Saúde

(outro número que convém ter semprepor perto) e marque uma consulta como seu médico de família. Vão pedir-lheo número de utente, mas não sentiráquaisquer dificuldades em satisfazer apretensão: abre a carteira, procura ocartão entre muitos outros e dita onúmero a quem o está a atender. Ficamarcada.

Chegado à consulta, explique a situ-ação com todos os pormenores. Depoisfaça só uma pergunta: "Ó sôtor, não háum medicamento que me livre destesnúmeros todos, códigos, nomes de uti-lizador e 'passwords'?". Atenção, porém:quando questionar o médico convém queo faça com a maior tranquilidade, semsinais de desespero, caso contrário ele écapaz de lhe sugerir a ida a uma consultade especialidade – a de psiquiatria, claro.

Bem vistas as coisas, essa é capaz deser mesmo a melhor solução. Com tantosnúmeros, códigos e "passwords", omundo está a ficar maluco.

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DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 20061188 DESPORTO

António José Ferreira

Apesar de viver em Coimbra, Ro-dolfo Varela é uma das esperanças doatletismo do Benfica. A possibilidadede “dar o salto” surgiu em 2004, altu-ra em que chegou o convite “encar-nado”, acolhido naturalmente comenorme alegria e total apoio da famí-lia e dos responsáveis pela Associa-ção Académica de Coimbra, clube

que então representava. O primeiro contacto com a moda-

lidade deu-se “aos 13 anos, numCampo de Férias onde a prática des-portiva era essencial, em torno devários desportos, entre os quais oatletismo. Surgiu depois a possibili-dade de participar nos Jogos deCoimbra e, mais tarde, o convite pa-ra ingressar na Académica, onde es-tive quatro épocas”. Há cerca de dois

anos, confessa que ficou “muito fe-liz”com a proposta do Benfica, no-meadamente por ver “o trabalho re-conhecido e apreciado. O Benficatem enorme prestígio e é semprebom receber um convite de um clubetão grande. Isto sem menosprezar aAcadémica, que é igualmente umagrande instituição e que sempre medeu todo o apoio”. Ao entusiasmopessoal correspondeu o de toda a fa-mília, que acolheu a ideia “de braçosabertos. Até o meu pai, que é umsportinguista ferrenho, ficou bastan-te satisfeito com a possibilidade queme surgiu”.

O dia-a-dia de Rodolfo Varela nãomudou muito, uma vez que conti-nuou a morar, a estudar e a treinarem Coimbra. Brevemente, no entan-to, em paralelo com o ingresso naUniversidade, haverá a possibilida-de de integrar os quadros do Benficade uma forma mais efectiva: “Seriabom, sobretudo porque passando aresidir em Lisboa poderia treinar no

próprio clube, com as condições queoferece e os treinadores que propõe.E possibilitar-me-ia prosseguir os es-tudos e conciliá-los com a prática doatletismo. Quando acabar a minha‘carreira’ de atleta tenho que viverde alguma coisa e, por isso, os estu-dos são essenciais”.

Olhando para o futuro, não põe delado a possibilidade de atingir umpatamar bem alto no panorama doatletismo português, no clube e naselecção nacional. E promete conti-nuar a “treinar com vontade e empe-nho para conseguir atingir esse ob-jectivo”, contando para já, até quenovo “salto” seja dado com a mu-dança para Lisboa, com todo o apoio“do Prof. Hugo Simões. Quando sur-giu a hipótese de representar o Ben-fica abriu-se a possibilidade de mu-dar de treinador, mas como o Prof.me acompanhava desde o início até àminha participação no Campeonatoda Europa, pedi para continuar comele, o que veio a acontecer”.

ATLETA CONIMBRICENSE RODOLFO VARELA BRILHA DE “ÁGUIA” AO PEITO

“O Benfica tem enorme prestígio”

PERFIL

Rodolfo Varela nasceu em Coimbrahá 19 anos. Frequenta o 12.º ano, noColégio de S. Martinho, pretendendocontinuar a conciliar os estudos com aprática desportiva. Começou a praticaratletismo na Associação Académica deCoimbra, em 1999, de onde transitouhá cerca de dois para o Benfica, actualclube. Treina em Coimbra, sob aorientação do Prof. Hugo Simões, ha-bitualmente com mais dois atletas“encarnados” em idênticas circuns-tâncias, Pedro Fonseca (400 m e 4x400m barreiras) e Ricardo Monteiro (lan-çamento do peso e do martelo). No seupalmarés conta já com alguns momen-

tos importantes e marcantes: em 2003,ainda ao serviço da AAC, participouno Festival Olímpico da JuventudeEuropeia, em Paris, classificando-seem 13º lugar; em 2005, já com a“águia” ao peito, competiu na Taçados Clubes Europeus, disputada naSuiça, obtendo o 2.º lugar nos 400 mBarreiras e o 3.º nos 4x400; ainda em2005 ajudou a bater o record nacionalde 4x400 em pista coberta, que aindadetém, e foi líder do Ranking Nacio-nal dos 400 m, tanto em pista cobertacomo em ar livre.

Já foi por diversas vezes chamado àselecção nacional de atletismo, paraprovas e estágios, esperando conti-nuar a merecer a confiança dos res-ponsáveis máximos da modalidade.

Rodolfo Varela

Montemor-o-Velho vai ter a partir deSetembro dois edifícios disponibilizadospela Câmara Municipal local para atletasde alto rendimento.

“Apostámos num parceiro estratégico,a Universidade de Coimbra (UC), quetem vindo a colaborar em múltiplos as-pectos com o nosso concelho, e num alia-do, a Federação Portuguesa de Canoa-gem (FPC), pois Montemor-o-Velho, sembairrismos exagerados, pode triunfar co-mo espaço privilegiado para os desportospraticados no rio: a canoagem, a natação eo triatlo”, afirmou o Presidente Luís Leal.

O protocolo assinado pela autarquia, aUC e a FPC, prevê a construção de umaresidência universitária, vocacionada pa-ra atletas de alto rendimento.

“Em muitos países já é uma tradição.Em Portugal é um projecto novo e visacriar as condições para jovens entre os 18

e os 22 anos poderem aceder à práticadesportiva, indo ao encontro de várias fe-derações, aproveitando as potencialida-des de Montemor-o-Velho, junto ao RioMondego, aliando estudos universitáriose prática desportiva”, salientou o Reitorda UC, Seabra Santos.

Mário Santos, Presidente da FPC e si-multaneamente estudante do universode 22 mil da “Cidade dos Estudantes”,enalteceu as virtudes da iniciativa, desta-cando “o salto qualitativo nas carreirasacadémicas e desportivas dos jovens”.

Vicente de Moura, presidente do Co-mité Olímpico de Portugal, valorizou aimportância de Montemor-o-Velho para aprática destas modalidades e elogiou opoder autárquico no apoio deste tipo deiniciativas, pois “o desenvolvimento dopaís desportivo deve-se às autarquias lo-cais”.

Mário Martins

O Sporting de Braga derrotou anteon-tem à noite, sem dó nem piedade, a Aca-démica por 3-0, no Estádio Cidade deCoimbra. Frechaut, de cabeça, e João To-más, que bisou com os pés, apontaram osgolos.

A Briosa até começou bem, mas aos 21minutos os bracarenses adiantaram-se nomarcador. Nada tinham feito para justifi-car a vantagem, mas o futebol é assim.

Depois, então sim, o Sp. Braga mos-trou que é de outro campeonato e contro-lou com grande à-vontade até ao interva-lo a (ténue) reacção da Académica.

Reatado o encontro, a Briosa surgiudeterminada. Tentava, tentava, mas nãoconseguia acertar com a baliza contrária.Mostrava grande vontade e - quem sabe?- poderia conseguir engendrar um lancemais inspirado e empatar o jogo.

Estavam as coisas neste pé quandoBruno Paixão, um árbitro com altos e bai-xos (mais baixos do que altos, é verdade),decidiu a questão do vencedor. Joeano,mais uma vez ele e mais uma vez em ve-locidade, capta a bola, foge a um e a ou-tro, prepara-se para entrar na área e é car-regado pelas costas. Sem discussão possí-vel. Toda a gente viu menos o árbitro, olance prosseguiu e o Sp. Braga marcou: 2-0, estava “terminado” o jogo e ainda fal-tava mais de meia hora para jogar.

Até final, João Tomás marcou um goloquase impossível, mas de grande catego-ria. Luís Filipe (outro ex-Académica)também jogou muito bem.

Sem categoria anda o futebol portu-guês, com os erros de arbitragem a suce-derem-se, qual deles o mais escandaloso.Os responsáveis (da Liga e dos árbitros)bem podem limpar as mãos à parede.

Alto rendimento em Montemor-o-Velho

Académica derrotadasem dó mas com Paixão

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Há anos desloquei-me com a minhaequipa de Iniciados (de basquetebol doGalitos de Aveiro) ao “velhinho” com-plexo desportivo do Sport Algés e Da-fundo, entretanto remodelado. Mal en-trámos e começámos a percorrer os cor-redores de acesso ao pavilhão, marca-dos pelo passar dos anos, logo surgi-ram alguns comentários dos jogadores,próprios da idade e de esperarem, tal-vez, encontrar instalações melhores emais recentes. De repente, através da

porta entreaberta de um pequeno giná-sio, vimos um atleta a trabalhar “noduro”, com notória vontade e muitoempenhamento. Era o Nuno Delgado!Depois de alguns instantes a vê-lo emacção, aperfeiçoando técnicas funda-mentais para a modalidade que o guin-dou ao sucesso, o Judo, aproveitei paradar um dos habituais “sermões”, da-queles que a “rapaziada” começa por“engelhar o nariz” mas acaba depoispor perceber a mensagem e retirar asdevidas ilações. “Estão a ver?”, ques-tionei-os, começando a recolher as res-postas através dos olhares arrependi-dos por terem “deitado abaixo” as ins-talações do Algés, “fábrica” de verda-deiros campeões em diversas modali-dades. “O mais importante não é se oespaço é bonito ou feio, novo ou velho,

mas sim aquilo que cada um está dis-posto a ‘dar’ para atingir os objectivosa que se propôs”, concluí, “desarman-do-os” por completo.

Lição percebida! E com aula práticadevidamente documentada, in loco,por um dos nomes maiores do despor-to português, que há bem pouco tem-po, em 2000, havia conquistado umamedalha de bronze no Jogos Olímpicosde Sidney.

Recentemente, Nuno Delgado deci-diu colocar um ponto final na sua car-reira. E neste momento, sem esquecer obrilhante palmarés que granjeou ao lon-go de anos de dedicação ao Judo, im-porta destacar, sobretudo, todas as ca-racterísticas humanas que marcaram oseu relacionamento com todos os que orodearam e a forma como lidou com o

sucesso e o fracasso. Características quelhe permitem ser apontado como umgrande exemplo, mesmo em momentossingelos como o que acima relatei.

É assim o desporto, desde que bemenquadrado e devidamente apoiado.Este jornal “Centro” tem essa perspec-tiva e, por isso, procurará, em cadaedição, dedicar uma página ao despor-to juvenil, das diversas modalidades,com o intuito de dar a conhecer e in-centivar todos aqueles que, tal como oNuno Delgado, estabelecem objecti-vos e lutam para os alcançar. E a meda-lha de ouro recentemente conquistadapor João Neto, do ACM, na Taça doMundo de Judo, é a melhor prova deque, na região de Coimbra, também háenormes exemplos de dedicação aodesporto.

DESPORTO 1199DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

André Henriques e Ricardo Carvalho,do Sport Club Conimbricense, estãoseleccionados para o Campeonato doMundo de Karate Shukokai. Os doiskaratecas de Coimbra procuram agoraos necessários apoios para custear ainscrição, já confirmada, bem como asrestantes despesas inerentes à partici-pação no Mundial

António José Ferreira

A Associação Portuguesa de KarateShukokai (APKS) é caso raro no pano-rama das modalidades de combate,custeando na totalidade a participaçãodos seu atletas em provas internacio-nais. Estão nestas circunstâncias os ka-ratecas Ema Lopes, Miguel Silva e Car-los Marques, do Sport Club Conimbri-cense, seleccionados para o Campeona-to do Mundo Finlândia 2006, a disputarnos próximos dias 8 e 9 de Junho. Apesar desta prática corrente, este anoa APKS custeia apenas a participaçãodos atletas mais velhos, critério defini-do para dar resposta à insuficiência deverbas em carteira. Assim, igualmenteseleccionados e já com a inscrição con-firmada, André Henriques (14 anos) eRicardo Carvalho (15 anos) procuramagora os apoios necessários para que se

torne realidade o sonho de participa-rem num Campeonato do Mundo. ADirecção do Sport Conimbricense e aSecção de Karate do clube deitaramdesde logo mãos à obra, com o natural

envolvimento dos pais e, obviamente,dos próprios atletas, procurando as in-dispensáveis verbas através da angaria-ção de publicidade, do contacto comempresas e entidades oficiais, e, entre

outros caminhos, da venda de canetasencomendadas para o efeito.

Não é todos os dias...

Em conversa com o “Centro”, ambos oskaratecas do Sport Conimbricense de-ram conta da enorme alegria que senti-ram quando viram os respectivos no-mes na lista de convocados para oMundial. “Não é todos os dias que so-mos seleccionados para um evento comesta importância”, frisou André Henri-ques, para quem “vai ser muito bomparticipar no Campeonato do Mundo”.Ricardo Carvalho não podia estar maisde acordo. “Fiquei muito contente”,confessou, lembrando que “se trata deuma prova que requer mais prepara-ção”. A concluir, foram unânimes ao conside-rar que “há mais modalidades paraalém do futebol” e que, neste caso con-creto, “a Câmara Municipal bem podiadar uma ajuda”, mostrando–se convic-tos de que encontrarão os apoios paraconcretizarem o sonho que agora, maisdo que nunca, lhes comanda a vida.Afinal, neste momento, são pouco maisde 1.600 euros que separam cada umdeles do Mundial da Finlândia.Tem a palavra a cidade de Coimbra...

Só faltam os apoios...ANDRÉ HENRIQUES E RICARDO CARVALHO SONHAM COM O CAMPEONATO DO MUNDO

Ricardo Carvalho e André Henriques estão com um pé no Campeonato do Mundo

NUNO DELGADO COLOCOU PONTO FINAL NA CARREIRA

Um verdadeiro exemplo

António José Ferreira

A Académica rescindiu na passadasemana o contrato com o avançado bra-sileiro Luciano.

O atleta, de 26 anos, tinha contratoaté 2008, mas terá levantado ao clubeproblemas de natureza disciplinar.

Há algum tempo ter-se-á envolvidoem desacatos na Mealhada, que motiva-ram uma queixa contra ele no posto daGNR daquela localidade.

Mais recentemente, terá sido visto asair de uma discoteca de Coimbra cerca

das 7 horas da manhã, num dia em quea Académica tinha treino.

A rescisão foi feita por mútuo acordo.Em comunicado divulgado pelo clu-

be sublinha-se que “ser atleta da Acadé-mica e estar em Coimbra exige de qual-

quer profissional um comportamentodesportivo e social exemplares”.

Contudo, o mesmo comunicado daDirecção da Académica apelava à tole-rância dos adeptos da “Briosa” paracom Adriano, lembrando o importantecontributo que este futebolista deu, naépoca anterior, para a manutenção doclube na I Liga e desejando-lhe êxito nasua carreira desportiva.

Académica dispensou Luciano

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DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 20062200 DESPORTO

Carlos Ângelo tomou o leme do Olivais Futebol Clube há poucomais de um mês. Conhece bem os problemas da colectividade, uma vez que fez parte das duas anteriores Direcções, e espera receber os apoios necessários paralevar a nau a bom porto e lançar novos projectos vitais para o cresci-mento do Olivais. “A construção de um novo pavilhão criará mais espaços de treino e melhores condi-ções desportivas para os nossos atletas”, afirmou

António José Ferreira

ASSUMIU A PRESIDÊNCIA MESMO CO-NHECENDO A REALIDADE FINANCEIRA

DO CLUBE. TRATA-SE DE UM DESAFIO AR-ROJADO...

A minha candidatura saiu de umgrupo de trabalho formado por al-guns elementos da anterior Direcção.Fizemos a análise da situação do clu-be e começámos a elaborar a estraté-gia para o nosso mandato. Foi umadecisão consciente, não só minha masde todos os elementos da Direcção.

SUCINTAMENTE, QUAL A REALIDADE

FINANCEIRA DO CLUBE E QUE PASSOS

PENSA A SUA DIRECÇÃO DAR PARA EQUI-LIBRAR AS CONTAS?

Um clube que tem os apoios dasempresas e das entidades públicas lo-cais como principal fonte de receitaestá sempre dependente dos orçamen-tos. Quando a economia está em baixaé claro que os apoios acompanham es-sa tendência. Estamos a ser muitos ri-gorosos com as despesas e vamos ten-tar criar outro tipo de receitas.

DE UMA FORMA GERAL, QUE PROJECTOS

VAI A SUA DIRECÇÃO LANÇAR E PROCU-RAR CONCRETIZAR?

Queremos um pavilhão novo mas anossa realidade passa pelo actual nãoo podemos deixar degradar mais.Queremos torná-lo mais confortável,principalmente para aqueles que ofrequentam todos os dias, sócios, atle-tas, colaboradores e todas as pessoasem geral que fazem do Olivais umponto de encontro. E vamos continuara organizar os eventos que já fazemparte da vida do Olivais: Gala, Tor-neio Internacional de MinibasqueteDr. Valdemar Pinho, Basquetebol paraTodos, Encontro de Gerações, Campode Férias, Torneios em Homenagemaos nossos Atletas, Jantar de Natal eFim de Ano. A dinâmica do clube é vi-sível também pelas actividades já de-senvolvidas pelas secções de Ginásti-ca, Campismo e Karate, e pela nova

área de actividade criada pela Direc-ção cessante, a Natação. Terão todo oapoio desta Direcção e vamos envol-vê-las mais nos eventos do clube. Eiremos organizar outros eventos, paramobilizar ainda mais pessoas pelascausas no nosso Olivais.

CONCRETAMENTE SOBRE AS VERTENTES

FORMATIVA E COMPETITIVA, O QUE PRE-TENDE ESTA

Direcção do trabalho a realizar comas diversas equipas de basquetebol?

A formação continuará a ser a nos-sa bandeira! Queremos ter todos osescalões no feminino e no masculino,para podermos ter nas equipas senio-res cada vez mais atletas formados noOlivais. Queremos continuar a melho-rar os resultados desportivos que, nosúltimos anos, têm sido os melhores doOlivais. E vamos continuar atentosaos atletas que queiram ser treinado-res ou monitores de Minibasquete, pa-ra reforçarmos o nosso quadro técni-co. As equipas seniores terão todo onosso apoio. A equipa masculina ain-da está em actividade e soma vitóriasem todos os jogos realizados, feito no-tável e que nos dá grande esperançaem relação à subida de divisão. Em re-lação aos Seniores Femininos, quere-mos uma equipa competitiva para fa-zer um campeonato tranquilo e, sepossível, chegar aos lugares cimeiros

e conseguir a sétima presença na “Fi-nal 4” da Taça de Portugal.

OS APOIOS SÃO INDISPENSÁVEIS. SENTE

QUE O CLUBE TEM OS QUE REALMENTE

MERECE, ATENDENDO AO TRABALHO QUE

DESENVOLVE NA FORMAÇÃO?O nosso clube só consegue sobrevi-

ver com apoios, que são dados deduas maneiras. A monetária, atravésde patrocínios, é a que se contabiliza,mas há outros apoios que nos podemfazer poupar algum dinheiro, comocedência de transportes e bens mate-riais para apoio aos atletas (lanches,água, bolas, etc). Felizmente temosapoio de algumas empresas, da Câ-mara de Coimbra e da Junta de Fre-guesia dos Olivais, sem esquecer ospais dos atletas, que dão um contribu-to muito importante, principalmenteno transporte para os jogos fora. Paraa formação precisamos de mais apoiosno transporte, principalmente do Mi-nibasquete. Devido à idade dos atle-tas, dos 6 aos 10 anos, começa a ser ca-da vez mais complicado, agora com oproblema das “cadeirinhas”. Nas ou-tras equipas a dificuldade incide nasdeslocações para fora do distrito.Também devido ao número de equi-pas que temos e porque a maioria dosatletas só pode treinar depois das18h30, temos de alugar espaços por-que não podemos fazer todos os trei-

nos no nosso pavilhão. E aqui poderiahaver um apoio não monetário do po-der local, na cedência dos pavilhõesdas escolas depois do horário escolar,o que já acontece em algumas cidades.Esta dificuldade não é só nossa, nemdo basquetebol, e seria bom para to-dos os agentes desportivos que se rea-lizassem protocolos entre a Câmara eas escolas, para que esta cedência fos-se concretizada. E o Concelho deCoimbra, felizmente, tem pavilhõesem quase todas as escolas.

EM QUE PONTO ESTÁ A QUESTÃO DO NO-VO PAVILHÃO? ESPERA NOVOS DESEN-VOLVIMENTOS PARA BREVE?

Aguardamos com serenidade queseja feita a cedência dos terrenos aoOlivais, conforme comunicação já fei-ta pelo Sr. Presidente Dr. Carlos En-carnação. Só depois poderemos de-sencadear todo o processo para aconstrução do novo pavilhão.

QUE IMPORTÂNCIA REAL TEM PARA O

OLIVAIS A CONCRETIZAÇÃO DESSA

OBRA?A construção do pavilhão permite

adaptá-lo à realidade do Clube e a to-das as exigências do desporto actual.E criará mais espaços de treino e me-lhores condições desportivas para osnossos atletas.

A DESIGNAÇÃO DE “CLUBE DE BAIRRO”CONTINUA A “ENCAIXAR” NO ACTUAL

OLIVAIS? O Olivais, fundado em 1935, come-

çou por ser um típico “clube de bair-ro” mas, durante estes 71 anos, as su-cessivas direcções conseguiram tornaro clube reconhecido a nível nacional einternacional. Actualmente, grandeparte dos nossos atletas da formaçãonão é da freguesia de Santo Antóniodos Olivais e há directores e seccionis-tas que não residem nem nasceram nafreguesia, o que se reflecte nos asso-ciados e simpatizantes, tornando oOlivais num clube do concelho deCoimbra. Mas com as suas raízes de“clube de bairro” e de gente que rece-be bem quem quer trabalhar para oclube. Foi isto que eu senti quandocheguei ao Olivais.

ALGUMA QUESTÃO QUE NÃO TENHAMOS

COLOCADO, MAS QUE JULGUE INTERES-SANTE ABORDAR?

Apenas realçar o apoio que a famí-lia olivanense e os pais dos atletas têmdado às nossas equipas, tanto em casacomo fora, mesmo nos momentosmais difíceis. Isso ficou bem vincadono apoio dado à equipa sénior femini-na. A todos, o meu muito obrigado.

CARLOS ÂNGELO ASSUMIU O COMANDO DO OLIVAIS HÁ POUCO MAIS DE UM MÊS

“Só conseguimos sobreviver com apoios”

Entre outros projectos, Carlos Ângelo espera lançar a primeira pedra paraa construção de um novo pavilhão

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DESPORTO 2211DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

A.J.F.

Carlos Gonçalves esteve quatro anosno comando directivo do Olivais. Na ho-ra de passar o testemunho, há poucomais de um mês, sentiu que “foi alcança-do o principal objectivo, de colocar o clu-be no local que merece, pelo seu trabalhoao longo de 71 anos ao serviço da juven-tude, do desporto e de Coimbra. Conse-guimos, com base numa forte equipa di-rectiva e no trabalho de todos, promovermuitas iniciativas que hoje marcam, decerta forma, o panorama desportivo dacidade”. Mais não foi feito, lembra o an-terior presidente do Olivais, devido “àsconstantes dificuldades financeiras”.Mesmo assim, realça que “os nossos trei-nadores foram espectaculares, ao com-preender essas dificuldades”; e destaca otrabalho feito, através do qual “conse-guimos os melhores resultados na for-mação dos últimos anos”.

O processo de transição para a actualDirecção “foi muito simples e transpa-rente”, até porque “dos 18 elementos doactual elenco directivo, 11 transitaram

do meu. O Presidente Carlos Ângelo foimeu Tesoureiro no primeiro mandato eVice-Presidente no segundo e há algu-mas cumplicidades e objectivos co-muns”. De todos os projectos já pensa-dos pela sua Direcção, elege o do novopavilhão como o mais importante, ape-lando “às entidades oficiais e empresaspara que apoiem o Olivais e vão ver, inloco, o trabalho que desenvolve”.

Carlos Gonçalves confessa que “o Oli-vais marcou muito a minha vida pes-soal” e agradece “a todos o apoio dadoao longo destes anos”. A ligação ao clu-be mantém–se, uma vez que foi eleitoPresidente do Conselho Fiscal, nas últi-mas eleições, e que, até Junho, continuacomo Director do “Jornal do OlivaisCoimbra”. Entretanto apresta-se para seabalançar a um novo projecto, para oqual já tem a devida autorização da ac-tual Direcção, e que consiste em escrevera história do clube: “As gerações maisvelhas, pelo ciclo natural da vida, vãodesaparecendo e não fica nada das suashistórias e vivências. É isso que pretendoimortalizar”.

“Apoiem o Olivais!”

A.J.F.

Apesar de passar por um períodode menor poderio financeiro, afinalcondizente com o panorama des-portivo da região, o Olivais conti-nua a ser, no basquetebol, um dosclubes portugueses com mais equi-pas e atletas. Com excepção dos Ju-niores A, escalão difícil atendendo àidade dos jogadores e aos compro-missos escolares que entretanto as-sumem, o clube apresenta-se em to-das as “frentes”, com cerca de duascentenas de praticantes repartidospor 10 equipas, entre as quais o Mi-nibasquete. Toda esta “máquina”,para além dos Directores, movi-menta 16 treinadores, 3 Animadoresde Minibasquete, 10 Seccionistas e 3Fisioterapeutas. Os pavilhões doOlivais e da Escola Secundária José

Falcão são as “oficinas” de trabalho.Numa altura em que a presente

época se aproxima do fim, os olha-res dos olivanenses viram-se sobre-tudo para os Seniores Masculinos,ainda invictos e bem colocados pararegressarem ao Campeonato Nacio-nal 1, e para os Juniores Femininos,igualmente sem qualquer derrotana corrida pela conquista da TaçaNacional. Também envolvidos emprovas nacionais estão Iniciados Fe-mininos (Torneio Nacional) e Junio-res B, Cadetes Femininos, CadetesMasculinos e Iniciados Masculinos(Torneio Inter-Associações).

Actualmente com cerca de 1300associados, o Olivais tem ainda emactividade as secções de Karate,Campismo, Ginástica e Natação, asduas últimas viradas para a verten-te da manutenção.

SENIORES MASCULINOS AINDA NÃO CONHECEM O SABOR DA DERROTA

CARLOS GONÇALVES LANÇA APELO ÀS ENTIDADES OFICIAIS

A um passo da subida

Liderada por Miguel Barbosa, a equipa sénior do Olivais está bem co-locada para subir de divisão

O anterior presidente do Olivais, Carlos Gonçalves, mantém a ligação ao clube

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Page 22: O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 20062222 INTERNET

camente divididos...).O lema do Bookcrossing é

“read, register and release”. Aideia de ler e libertar faz com oslivros registados pelos mem-bros desta comunidade andemem viagem permanente. Sejaporque são libertados nalgumsítio, ou porque fazem parte debookrings (livro emprestado aum conjunto de pessoas, masque depois regressa ao seu do-no), bookboxes (caixas com umdeterminado número de livros,enviadas por correio a um con-junto de utilizadores que po-dem retirar da caixa livros, des-de que reponha o mesmo nú-mero), bookrays (livro que éemprestado e que vai seguindoviagem continuamente, semnunca mais regressar ao dono)ou são oferecidos num acto deRABCK (“Random Act ofBookCrossing Kindness”).

Os primeiros meses de exis-tência do Bookcrossing regista-vam uma média de trocas decerca de 100 livros por mês. En-tretanto, os media tradicionaisdescobriram o fenómeno e de-ram-lhe o impulso necessário.Actualmente, o site regista 460mil membros e quase três mi-lhões de livros registados. A co-munidade Bookcrossing divi-de-se ainda em tribos geográfi-cas e de interesses, tendo estascomo base os fóruns do site. Osbookcrossers portugueses têmcomo ponto de encontro o fó-rum em português e, ocasionale geograficamente, promovemencontros no mundo offline. Acomunidade portuguesa conta-biliza cerca de 6400 membros. Links relacionados:www.bookcrossing.comforum/19 - Fórum de discussão delíngua portuguesa do site Book-crossinghttp://bookcrossing.com.sapo.pt/-Página dos bookcrossers portu-guesesendereço:www.bookcrossing.comcategoria:comunidades virtuais

Blogburst é o nome da primei-ra agência de blogs, criada como propósito de gerir as relaçõesentre weblogs e os media. Esteserviço reúne, analisa e aprovao conteúdo de blogs registadose serve de intermediário entreos autores e as publicações queos pretendam publicar. Os jor-nais Washington Post e San

Francisco Chronicle são osclientes mais recentes deste ser-viço, que conta com mais deseis mil blogs registados.

O conceito do Blogburst éinovador e remete para umainevitável lógica de comple-mentaridade entre novos mediae media tradicionais. Os we-blogs assumem-se como umarevolução no acesso à difusãona Internet por parte do cidadãocomum. Se por um lado os jor-nais vão conseguir “estar em ci-ma” dos temas do momento noCiberespaço, torna-se evidenteque os bloggers vão passar a terum papel mais mediático. Osweblogs, e os seus autores, sãoactualmente novos actores so-ciais intervenientes na socieda-de. E a relevância que a socieda-de lhes atribui está directamen-te relacionada com a representa-ção que têm nos media. É a na-tural evolução do chamado “ci-dadão-jornalista”.

Os autores de weblogs inte-ressados devem inscrever-se naagência. O procedimento é sim-ples: a Blogburst faz uma ava-liação prévia dos conteúdos e,mediante aprovação, o endere-ço do blog é incluído numa listaque é apresentada aos clientes.Links relacionados:www.burstblog.comBlog oficial da Blogburstendereço:www.blogburst.comcategoria: media, blogs

O Papaformigas é um motorde busca de cientistas portugue-ses e foi desenvolvido em LosAngeles por Tiago Carvalho,que se encontra a fazer o douto-ramento em Neurocências naUniversidade da Califórnia.

Com uma interface muitosimples e intuitiva, este site foidesenvolvido para pessoas queestão interessadas em contribuire partilhar experiências científi-cas. Qualquer pessoa que traba-lhe em ciência se pode inscrever,preenchendo um formuláriodetalhado. A informação intro-duzida fica depois disponívelno site podendo ser pesquisada,o que permite e incentiva a tro-ca de informações e contactosentre pessoas da mesma áreacientífica, mesmo que geografi-camente díspares.

«Apesar de ainda haver mui-to para fazer, a verdade é quePortugal está a fazer um investi-mento considerável na forma-ção avançada de recursos hu-manos. Este esforço, que já co-

Não é novo, mas foi renova-do. O Sites mais úteis é um di-rectório de sites de referência naInternet portuguesa. Os critériospara um site ser referenciadocom “mais útil” centram-se nes-tes tópicos: «ser um site portu-guês; estar escrito em português;ter conteúdos originais, úteis, in-teressantes e gratuitos; ter prefe-rencialmente domínio próprio; eestar claramente identificadoquem é o autor do site e quais osseus contactos».

O Sites mais úteis está organi-zado por temas e apresenta sitesque disponibilizam informaçõese serviços úteis aos cibernautasnacionais. Este directório assu-me–se como um óptimo pontode partida para navegar na In-ternet portuguesa e uma alterna-tiva aos directórios nacionaisque adicionam quase automati-camente sites às suas bases dedados sem avaliação prévia, ve-rificação da categorização oudos conteúdos.endereço: www.sitesmaisuteis.ptcategoria: directórios

O Bookcrossing foi criado pe-lo norte-americano Ron Hom-baker, em Março de 2001. Este si-te tem como objectivo incentivaras pessoas a libertarem os seuslivros pelo mundo. Hombaker édono de uma empresa de sof-tware e criou esta plataformaque oferece várias funcionalida-des (gratuitas) aos utilizadoresdesta comunidade de leitura ede partilha: gestão de uma es-tante pessoal de livros, interac-ção em fóruns, serviço de men-sagens privadas, recomendaçõese críticas de livros, diversas lista-gens (dos livros mais viajados,dos preferidos dos membros,dos que foram libertados recen-temente, dos membros geografi-

meçou há alguns anos, está ater como resultado a formaçãode uma verdadeira rede deacadémicos portugueses espa-lhados pelos quatro cantos domundo e inseridos nas melho-res universidades. Muitas des-tas pessoas reconhecem oapoio que lhes foi dado e estãodispostas e interessadas emmanter a ligação a Portugal,partilhando todo o conheci-mento que até ao momento ad-quiriram. O Papaformigas.comé apenas uma ferramenta quetenta servir de interface destarede. Este site é gratuito e foidesenhado para ser o mais fun-cional e simples possível», ex-plica o autor do site nas FAQ(Frequently Asked Questions -perguntas mais frequentes).Links relacionados:www.cienciahoje.ptsite Ciência Hojeendereço: www.papaformigas.comcategoria: ciência

O weblog Rua da Judiaria émantido por Nuno GuerreiroJosué desde Outubro de 2003,inicialmente a partir de LosAngeles e agora de Nova Ior-que. O blog nasceu assim:“Sem declarações de princípiosou frases grandiloquentes, aquise franqueiam as portas da Ruada Judiaria. Sejam, pois, bem-vindos! Shalom!” Este é umblog sobre judaísmo mas quenão se restringe apenas ao ju-daísmo. O seu autor é um ju-deu jornalista, correspondentede algumas publicações portu-guesas nos Estados Unidos. Aopeito, traz a Estrela de Davidque lhe foi oferecida pela avóno dia em que fez 13 anos. Noblog preenche os posts com te-mas da actualidade, poesia e li-teratura e assuntos que dizemrespeito ao judaísmo.

A origem do nome do we-blog, ao contrário do que sepossa pensar, tem uma explica-ção muito mais simples. Expli-ca o autor: «A Rua da Judiariaexistia há muito na minha geo-grafia de afectos. Muito antesdo blog. Muito antes de se so-nhar que blogs um dia existi-riam. Por coincidência, ou par-tida pregada pelo destino, arua da minha infância chama-va-se Judiaria – uma pequena equase escondida rua de Alma-da, atrás da velha loja Singer ea dois passos do antigo edifícioda Câmara e da Sociedade Re-creativa Incrível Almadense.

No terceiro andar esquerdo donúmero 24 da Rua da Judiariaaprendi a falar e a andar. (...)Por tudo isto, o nome desteblog era inevitável. A intersec-ção perfeita entre a memória, acoincidência e o destino.» Umespaço a seguir.

Links relacionados:http://ruadajudiaria.com/bio.phpNota biográfica de NunoGuerreiro Josuéendereço:http://ruadajudiaria.comcategorias: blogs

O Portal dos Catraios é umsite de referência para crianças,pais e professores. O projectotem como objectivo promovera comunicação entre as escolasdo 1º Ciclo do Ensino Básico ede Educação de Infância, dina-mizando uma comunidadeque reforce o papel das escolase dos jardins de infância na for-mação de crianças para a So-ciedade da Informação.

O site está organizado emquatro áreas: “Miúdos” –ambiente lúdico-didácticocomposto por jogos educati-vos, histórias interactivas,passatempos, notícias, acti-vidades de trabalhos ma-nuais e magia, dicas paraconstruir e publicar páginasweb; “Professores” – espaçode troca e partilha de ideiase experiências, materiais deapoio e de legislação; “Pa-pás&Mamãs” – nesta área édisponibilizada informaçãoque permita aos pais ajudaros filhos no contexto da es-cola; e “Escolas” – aqui sãoapresentados conteúdos dedivulgação e promoção dosestabelecimentos de ensino.Os vários ambientes têm opropósito de filtrar os con-teúdos do site, estando orga-nizados de acordo com o pú-blico-alvo de cada uma. Oportal disponibiliza aos seusvisitantes (em cada uma dasáreas temáticas) ferramentascolaborativas síncronas e as-síncronas – como chat e fó-rum de discussão, respecti-vamente –, newsletters (umapara os “miúdos” e outrapara os “graúdos”), galeriade trabalhos, sondagens,agenda e outros conteúdosinformativos.

endereço:www.catraios.ipb.ptcategoria: educação, infantil

Inês Amaral (docente do Instituto Superior Miguel Torga)

IDEIAS DIGITAIS

BOOKCROSSING

SITES MAIS ÚTEIS

BLOGBURST

PAPAFORMIGAS

PORTAL DOS CATRAIOS

RUA DA JUDIARIA

Page 23: O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

CRÓNICA DE VIAGENS 2233DE 26 DE ABRIL A 09 DE MAIO DE 2006

Por Dinis Manuel Alves (texto e fotos)

O Senegal fica a quatro horas da Porte-la de Sacavém. Antes de rumar ao destinoescolhido para um merecido remanso(por exemplo, Saly Portudal), aconselha-mos um dia em Dakar, repartido entre acidade e Gorée.

Comece pela ilha, a poucos minutos dacapital, viagem de ferry-boat.

A Ilha de Gorée foi, entre os séculos

XV e XIX, um dos maiores centros decomércio de escravos de África. Funda-do pelos portugueses, mais tarde toma-do e administrado sucessivamente porholandeses, ingleses e franceses, a ilhafoi considerada, em 1978, Patrimónioda Humanidade.

Actualmente vivem cerca de 1.200 pes-soas na ilha, que alberga um museu sobrea escravatura. No museu existem os regis-tos de que homens com mais de 60 quilos

e mulheres virgens se trocavam por umbarril de rum, enquanto as crianças po-diam ser vendidas em troca de espelhos.

Lula da Silva passou por lá em Abril doano passado, na companhia do seu Minis-tro da Cultura, Gilberto Gil. O cantor, re-zam os registos noticiosos, fez um discur-so emocionado em francês e cantou LaLune de Gorée, composta pelo poeta JoséCarlos Capinam.

Lula também se emocionou. Pediu per-dão aos africanos pela escravidão ocorri-da no Brasil:”Não tenho nenhuma res-ponsabilidade pelo que aconteceu nos sé-culos 16, 17 e 18. Mas penso que é umaboa política dizer ao povo do Senegal e deÁfrica: perdão pelo que fizemos.” O presi-dente do Senegal, Abdoulaye Wade elo-giou o presidente brasileiro e disse:”Con-sidere-se um africano”.

Rodrigue Manga, o nosso guia, lembraas boas recordações da passagem de Lulapela ilha, e as muito más de Bush filho. Oshabitantes da ilha foram encafuados noterreiro que serve de campo de futebol,com os seguranças yankees oferecendo--lhes bolachas. Os jornalistas senegalesesboicotaram a cobertura noticiosa por te-rem sido impedidos de viajar no mesmoferry que os seus confrades dos EUA. Etambém houve governantes senegalesesque se deixaram ficar pelo cais de Dakar,recusando ser revistados pelas tropas de

Mr. Bush antes de entrarem para o barco.A World Heritage Portuguese Origin

(WHPO) diz-nos que a arquitectura deGorée se caracteriza “pelo contraste entreos sombrios edifícios que albergavam ascelas dos escravos e as elegantes casas doscomerciantes negreiros. Assume-se na ac-tualidade como um santuário para a refle-xão sobre a exploração esclavagista do serhumano”.

Fica bem à WHPO dizer isto. Não hátempo nem sossego para reflexão, as Nao-mi Campbel, Coco Chanel, Vanessa Para-dis e colegas do business não deixam. Éassim que as jovens vendedoras senegale-sas de Gorée se apresentam aos turistas. Otruque funciona. Se não desse certo não oestava a escrever aqui, já me teria esqueci-do.

Mudam de nome artístico como quemmuda de camisa. AVanessa Paradis à nos-sa chegada já era Melanie C. na descidado morro. Vendem-nos tudo e também fa-zem trancinhas.

Para uma conversa entre colegas apre-sentámo-nos a Coco Chanel como YvesSaint-Laurent. Fala mais ou menos portu-guês, vem alguns verões a Portimão, tra-balhar num restaurante e entrançar cabe-los veraneantes.

Não lhe comprámos nada, mas tive-mos que deixar uns milhares de “cefas”(franco CFA) para a sua pequenita.

Terra de Coco Chanel, VanessaParadis, Naomi Campbel

GORÉE, PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE DE ORIGEM PORTUGUESA

Coco Chanel (de óculos), com a filha e Vanessa Paradis (ou será Jane Birkin?)

Ir a Gorée e não fazer trancinhas... da!Ilha de Gorée

Terreiro aonde Bush enclausurou os habitantes de Gorée, para uma visitamais “segura”

Page 24: O Centro - n.º 2 – 28.04.2006

Com a saída do écran de ManuelaMoura Guedes, a TVI viu-se na neces-sidade de modificar a sua forma deapresentar as notícias. Não era tarefafácil substituir a “ 1.ª dama “ – e enten-dam esta designação da forma quemais vos aprouver: a vedeta da infor-mação na TVI ou a esposa do Sr. Direc-tor. Com as alterações, vindo de editorde Sociedade, passou a apresentar oJornal da Uma, Pedro Carvalhas.

O jornalista teve uma ascensão ve-loz na estação de Queluz. Há seis anosera repórter na Zona Centro. Passou acoordenar a delegação em Coimbra daTVI, através de uma empresa produto-ra de vídeo, transferindo-se depois pa-ra a sede da 4, onde foi desempenharfunções de editor.

Pedro Carvalhas é um jornalista deCoimbra. Ainda adolescente, começoua trabalhar na RDP-Centro, onde fezum pouco de tudo. Fixando-se final-mente na informação, em seis anos asua carreira deu uma volta completa.Primeiro trabalhou no projecto televi-sivo que Coimbra (mais uma vez) dei-xou cair – TV Saúde. Depois, abando-nou o seu amor mais antigo – a Rádio.Fixou-se na TVI, ainda em Coimbra,tendo contribuído fortemente para aelevada percentagem de notícias pro-duzidas na zona centro. De facto, re-centemente, o Sindicato dos Jornalistasreconheceu que cerca de um terço dasnotícias da TVI são aqui feitas. É mui-to.

Já licenciado em Comunicação So-cial pela ESEC (Escola Superior deEducação de Coimbra), arriscou tudo eabandonou a cidade, respondendo àchamada para novos desafios. Fezbem. Na Comunicação Social (tam-bém?), Coimbra continua a ser comoum clube pequenino de onde os joga-dores sonham sair para integrar oplantel de um grande.

A presença diária nos écrans à horado almoço, tem um par de meses. Pe-dro Carvalhas surge seguro, tranquilo,sem esgares nem exageros que fizeramescola naquela estação. Numa apre-sentação a dois, o pivô de Coimbradispensava bem a companhia.

* * * *Ainda na TVI, os noticiários conti-

nuam a ser concebidos como um es-pectáculo. São elaborados mais comoentretenimento do que como informa-ção. Ou, pelo menos, para informaratravés do entretenimento. Não é aúnica estação a fazê–lo, e, hoje, nem

se saberia muito bem como fazer senão fosse assim. A guerra das audiên-cias, que invadiu todos os gabinetesde direcção dos canais televisivos,mesmo os mais insuspeitos (veja–se orecente lento resvalar da 2:), obrigou aaceitar a ideia de que só o espectáculoactiva os mecanismos do inconscien-te. Ora este é formado por forças anta-gónicas. Apenas no conflito o incons-ciente pode reconhecer-se a si mesmo.As catástrofes, os acidentes, os atenta-dos, as mortes, as lutas, as ameaças,activam a nossa dimensão internamais reprimida. O mal em conflitocom o bem, a morte com a vida, o de-sencanto com a esperança. A presençado mal nos noticiários, segue a mes-ma lógica que exige a presença do“mau da fita” em qualquer narrativaque se preze.

* * * *

Quando a informação invade o es-paço da programação normal, num ca-nal que não seja de notícias, entra–seno campo da excepção. Foi o que acon-teceu com o lamentável aproveitamen-to do funeral do jovem actor da teleno-vela “Morangos com Açúcar”. Vítimade acidente de viação, a TVI montourapidamente uma operação de cober-tura do acontecimento. Em grande es-cala. Meticulosamente. A transmissãodo funeral foi interrompida por blocospublicitários cheios de produtos desti-nados à faixa etária que consomeaquela novela. Isto é possível, faz-se.As centrais de colocação de publicida-de na TV são avisadas e aproveitam.

A TVI chegou ao ponto de tentartransmitir, ou pelo menos gravar, den-tro do cemitério. Valeu a ponderaçãodo Presidente da Junta de Freguesia,que o impediu !

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PAULO SOUSAMASSAGISTA

FERNANDO KUNZOPERADOR LASER

Não obstante ter uma carreira curta,o jovem actor/modelo em quem quise-ram colocar o peso de um James Deanà portuguesa, merecia mais respeito.

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Os canais da SIC no cabo, vivem en-tre produtos comprados no estrangei-ro e as produções nacionais de baixocusto. Conversas, debates, “más-lín-guas”. Em alguns casos o resultado ébom para o dispositivo montado. Ce-nário mais ou menos minimalista, umamesa e à volta quatro ou cinco “co-mentadores”. Gente que comenta qua-se tudo. Se no “Eixo do Mal” (SIC-No-tícias), o equilíbrio é conseguido, nou-tros casos a situação é inversa. Na SIC--Mulher há um “Elas sobre eles” (etambém um “Eles sobre elas” ...), ondeas/os convivas se sentem compelidosa enroscarem-se nuns cubos descon-fortáveis, sobre fundo de panos ne-gros que dá um ar lúgubre ao ambien-te. Talvez por isso, as conversas sãofrouxas e não raras vezes arrastam–separa cumprir horário.

A SIC-Comédia também tem a suaconversa alargada. “Um prazer dosdiabos”. Segundo a SIC, “Serviço pú-blico. Um programa de crítica gratui-ta, crescente e descontrolada, ao vivo eem directo.” Já pude verificar o des-controlo. Em edição recente, FernandoAlvim, um eterno vendedor de produ-tos comunicacionais para juvenis, de-fendeu a TVI no caso da transmissãodo funeral do actor Francisco Adam.Afinal, segundo ele, por que não te-riam direito a fazê-lo, se os outros ca-nais transmitiram o funeral de Cu-

nhal? Não sei porque terá poupado aIrmã Lúcia.

É por coisas assim que dou razão ao“gato fedorento” Ricardo Araújo Pe-reira: “ A televisão portuguesa é má.Estou à vontade para o dizer. Se nãofosse assim, eu não teria lá emprego.”

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A TVCabo continua a “dar cabo” dapaciência dos consumidores. Como jánão bastavam as avarias, as boxes abloquear, as confusões com as contas eoutras de tantas queixas, sem maisnem menos, tirou o canal brasileiro

GNT e substitui-o por outro, tambémbrasileiro, a TV Record. Um recordede banalidades e mau gosto. Lá foi oJô, a Marília e tanta coisa boa para o li-xo. Em troca recebemos um perfeitopostal terceiro-mundista.

O universo da PT está a precisar deum reforço da resistência militantedos consumidores. Há 32 anos, emAbril, deve ter-se sonhado com o fimde todas as arrogâncias...