O cenario difcil

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O cenário difícil ZH,16 de junho de 2008 | N° 15634 Alfredo Meneghetti Neto* Apesar de ter havido notícias boas, o cidadão brasileiro ainda é impactado com fatos ruins, e isso requer atenção! A melhor notícia dos últimos meses foi a do final de 2007: a extinção da cobrança da CPMF! Também a determinação do governo federal de padronizar as tarifas bancárias foi importante. Para os assalariados - que têm uma relação com os bancos ainda muito submissa - , foram duas vitórias importantes que aumentam a disponibilidade doméstica, principalmente para quem tem orçamento equilibrado. Não se deve esquecer que o ano passado foi excelente para a renda e para a massa salarial do brasileiro, que ultrapassaram a taxa de crescimento de 5,4% do PIB. O título de "grau de investimento" e o fato de o Brasil estar bem posicionado em termos de empresas que comercializam commodities (Petrobras, Vale do Rio Doce e Gerdau) devem fazer com que o país atraia mais investidores estrangeiros. Isso manterá o dólar nos níveis atuais, beneficiando a classe média, que pode consumir mais produtos importados e viajar. Entretanto, essa euforia deve ser vista com muito cuidado. Sabe-se que somente 40% dos brasileiros estão em dia com suas contas, e não mais do que 15% conseguem ter dinheiro guardado. Essa situação de dificuldades financeiras é ainda mais agravada por três fatos recentes. O primeiro é a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de que é legal a incidência de juros sobre juros em contratos de cartão de crédito. Isso prejudica os endividados. O segundo é a aprovação da CPMF - agora Contribuição Social para a Saúde (CSS) - , que, mesmo com uma alíquota de 0,1%, deve prejudicar a economia. Caso passe em todas as instâncias, a CSS deverá ser repassada ao consumidor, pois o empresário não pode arcar com mais custos. O terceiro fato é a alta do petróleo, que provavelmente deve chegar, até o final deste ano, a US$ 200, o que deve

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Nesse sentido, é muito importante o consumidor estar precavido. Ele deve transformar uma parte do seu consumo em poupança, mudar a postura em relação a bancos, pesquisando tarifas e procurando ter ativos, ao invés de dívidas. Isso vale para todos, principalmente para os jovens. ZH,16 de junho de 2008 | N° 15634 *Economista da FEE e professor da PUCRS

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O cenário difícil ZH,16 de junho de 2008 | N° 15634 Alfredo Meneghetti Neto*

Apesar de ter havido notícias boas, o cidadão brasileiro ainda é impactado com fatos ruins, e isso requer atenção! A melhor notícia dos últimos meses foi a do final de 2007: a extinção da cobrança da CPMF! Também a determinação do governo federal de padronizar as tarifas bancárias foi importante. Para os assalariados - que têm uma relação com os bancos ainda muito submissa - , foram duas vitórias importantes que aumentam a disponibilidade doméstica, principalmente para quem tem orçamento equilibrado. Não se deve esquecer que o ano passado foi excelente para a renda e para a massa salarial do brasileiro, que ultrapassaram a taxa de crescimento de 5,4% do PIB.

O título de "grau de investimento" e o fato de o Brasil estar bem posicionado em termos de empresas que comercializam commodities (Petrobras, Vale do Rio Doce e Gerdau) devem fazer com que o país atraia mais investidores estrangeiros. Isso manterá o dólar nos níveis atuais, beneficiando a classe média, que pode consumir mais produtos importados e viajar.

Entretanto, essa euforia deve ser vista com muito cuidado. Sabe-se que somente 40% dos brasileiros estão em dia com suas contas, e não mais do que 15% conseguem ter dinheiro guardado. Essa situação de dificuldades financeiras é ainda mais agravada por três fatos recentes. O primeiro é a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de que é legal a incidência de juros sobre juros em contratos de cartão de crédito. Isso prejudica os endividados. O segundo é a aprovação da CPMF - agora Contribuição Social para a Saúde (CSS) - , que, mesmo com uma alíquota de 0,1%, deve prejudicar a economia. Caso passe em todas as instâncias, a CSS deverá ser repassada ao consumidor, pois o empresário não pode arcar com mais custos.

O terceiro fato é a alta do petróleo, que provavelmente deve chegar, até o final deste ano, a US$ 200, o que deve encarecer a produção dos insumos agrícolas. Só para se ter uma idéia da evolução de preços dos fertilizantes, em 1998, eram necessárias 14,4 sacas de arroz de 60 quilos para comprar uma tonelada de fertilizantes, e, em 2008, já são 31,9 sacas. Todos esses problemas são agravados ainda mais com outros, já crônicos: infra-estrutura inexistente, embaraços na área política e carga tributária cada vez mais pesada. De acordo com as últimas estimativas a carga tributária em 2008 deverá situar-se em 36,98% do PIB.

Então, o cenário para o futuro é de dificuldades. Nesse sentido, é muito importante o consumidor estar precavido. Ele deve transformar uma parte do seu consumo em poupança, mudar a postura em relação a bancos, pesquisando tarifas e procurando ter ativos, ao invés de dívidas. Isso vale para todos, principalmente para os jovens.

*Economista da FEE e professor da PUCRS