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Resumo: O presente estudo, objetiva investigar a representação simbólica do câncer em profissionais da área de saúde, pacientes, familiares e população em geral. Investigou-se, as imagens simbólicas que permeiam a atitude de cada um perante a convivência com o câncer por meio de questionário. Os resultados indicaram informações ricas de subjetividade, independentemente das diferenças demográficas. A imagética interfere na percepção, na reação e na distribuição do tempo que cada um determina para a escuta da singularidade daquele que adoece com o câncer e/ou com a contaminação simbólica. Na medida em que o fantasma da morte acompanha o paciente em seus movimentos, espera-se que este estudo possa contribuir para que se busquem formas de aprimoramento do tratamento do paciente com câncer. No entanto, para ajudar o outro, é preciso, primeiramente, redimensionar a própria formação imagética; afinal, nós, profissionais da área de saúde, também somos semeadores das imagens que se reproduzem ao longo dos séculos, apesar de toda a evolução científica. Palavras-Chave: Câncer, representação simbólica, qualidade de vida. Abstract:The purpose of this study is to investigate the symbolic representation of cancer, in order to help health professionals, patients, relatives involved, and others who might have interest on this subject, through questionnaires. The research collected data to show the different reactions of people directly involved with cancer. The results show that, despite of the demographic differences, the answers were extremely taken as personal. The self image interferes on the perception, reactions, and time line organization of the patients and those affected by the symbolic contamination. As the death gets closer to the patients, this research might help to improve the existents methods of treatment. Not so ever, in order to help others, it is necessary to fortify own self image. After all, we, health professionals are the ones to reproduce those images along the centuries, despite of the scientific improvements. Key Words: Cancer, symbolic representation, quality of life. O Câncer e Sua Representação Simbólica The cancer and its symbolic representation Maribel Pelaez Dóro Psicóloga do Serviço de Transplante de Medula Óssea e do Serviço de Psicologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. STMO-HC- UFPr. Mestre em Psicologia da Infância e Adolescência na UFPr. Ricardo Pasquin Prof. Titular e Chefe da Especialidade da Hematologia e Oncologia, Universidade Federal do Paraná. STMO-HC-UFPr. Carlos R. Medeiros Prof. e Médico do Serviço de Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. STMO-HC-UFPr. Marco Antonio Bitencourt Médico do Serviço de Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. STMO-HC-UFPr. Glaci L. Moura Especialista em Hematologia e Oncologia. Médica responsável pelo Ambulatório da Hematologia e Oncologia. PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2004, 24 (2), 120-134 Jupiterimages 120

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Resumo: O presente estudo, objetiva investigar a representação simbólica do câncer em profissionais daárea de saúde, pacientes, familiares e população em geral. Investigou-se, as imagens simbólicas quepermeiam a atitude de cada um perante a convivência com o câncer por meio de questionário. Osresultados indicaram informações ricas de subjetividade, independentemente das diferenças demográficas.A imagética interfere na percepção, na reação e na distribuição do tempo que cada um determina para aescuta da singularidade daquele que adoece com o câncer e/ou com a contaminação simbólica. Namedida em que o fantasma da morte acompanha o paciente em seus movimentos, espera-se que esteestudo possa contribuir para que se busquem formas de aprimoramento do tratamento do paciente comcâncer. No entanto, para ajudar o outro, é preciso, primeiramente, redimensionar a própria formaçãoimagética; afinal, nós, profissionais da área de saúde, também somos semeadores das imagens que sereproduzem ao longo dos séculos, apesar de toda a evolução científica.Palavras-Chave: Câncer, representação simbólica, qualidade de vida.

Abstract:The purpose of this study is to investigate the symbolic representation of cancer, in order to helphealth professionals, patients, relatives involved, and others who might have interest on this subject, throughquestionnaires. The research collected data to show the different reactions of people directly involved withcancer. The results show that, despite of the demographic differences, the answers were extremely taken aspersonal. The self image interferes on the perception, reactions, and time line organization of the patientsand those affected by the symbolic contamination. As the death gets closer to the patients, this researchmight help to improve the existents methods of treatment. Not so ever, in order to help others, it is necessaryto fortify own self image. After all, we, health professionals are the ones to reproduce those images along thecenturies, despite of the scientific improvements.Key Words: Cancer, symbolic representation, quality of life.

O Câncer e Sua Representação SimbólicaThe cancer and its symbolic representation

MaribelPelaez Dóro

Psicóloga do Serviçode Transplante de

Medula Óssea e doServiço de Psicologia

do Hospital de Clínicasda Universidade Federal

do Paraná. STMO-HC-UFPr. Mestre em

Psicologia da Infância eAdolescência na UFPr.

Ricardo Pasquin

Prof. Titular e Chefe daEspecialidade da

Hematologia eOncologia,

Universidade Federal doParaná. STMO-HC-UFPr.

Carlos R. Medeiros

Prof. e Médico doServiço de Transplantede Medula Óssea do

Hospital de Clínicas daUniversidade Federal do

Paraná. STMO-HC-UFPr.

Marco AntonioBitencourt

Médico do Serviço deTransplante de Medula

Óssea do Hospital deClínicas da

Universidade Federal doParaná. STMO-HC-UFPr.

Glaci L. Moura

Especialista emHematologia e

Oncologia. Médicaresponsável pelo

Ambulatório daHematologia e

Oncologia.

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2004, 24 (2), 120-134

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Objetivo e Hipótese

Com o presente estudo, objetiva-se investigar arepresentação simbólica do câncer emprofissionais da área de saúde, pacientes, familiarese população em geral. Tem como hipótese o fatode a imagem simbólica negativa do câncercontribuir para a insuficiência de iniciativa dapopulação em cuidados preventivos.

De fato, tal alheamento gera um tempo prolongadoe perigoso entre os primeiros sinais e a consultamédica. Em decorrência, o prognóstico podetornar-se ruim para o paciente, seus familiares e asociedade. Embora muitos tipos de câncer tenhamcura, devido ao fato de a procura dos recursosmédicos ser tardia, o paciente pode iniciar seutratamento em estádio avançado, limitando-se aspossibilidades de tratamento.

Após o consentimento de um paciente para esteestudo, foi-lhe aplicado um questionário comperguntas dirigidas e específicas (Anexo1) para ainvestigação da imagética do câncer constituídaem seu macro e microssistema.

O critério primeiro para que o pesquisado fosseobjeto deste estudo foi que tivesse condiçõescognitivas preservadas e autonomia nas respostas.Também não podia estar sob o efeito demedicamentos que tivessem interferência nosistema nervoso central.

Por sua vez, os médicos ou profissionais deenfermagem da clínica oncológica ouhematológica deviam ter, pelo menos, três anos deatuação na clínica específica ou ter acompanhadoo tratamento de pelo menos cem pacientes comneoplasias.

Os psicólogos apresentam, no mínimo, cinco anosde experiência na clínica hospitalar e todos osentrevistados têm idade superior a dezoito anos.

Com este estudo, reafirma-se a necessidade de umtrabalho social de conscientização da experiênciae dos recursos de tratamentos atuais, para que oconhecimento científico suplante a negatividadehistórica da influência simbólica do câncer. Alémdisso, novas terapêuticas deverão ser estudadas eestabelecidas, para que a representação simbólicapasse por um trabalho reflexivo, pois isso pode sera base de uma possível transformação, cujamudança deverá repercutir na satisfação dademanda de cuidados preventivos.

Introdução

De acordo com Simonton et al (1978, p. 80), éindiscutível o prejuízo causado pelas expectativas

O Câncer e Sua Representação Simbólica

negativas, pois as crenças preconcebidas existentesna sociedade e no campo médico, em relação aocâncer, causam malefícios diretos ao paciente.

Verifica-se, na população em geral, a presença daproliferação marcante das seguintes idéias: “a) ocâncer é sinônimo de morte; b) o câncer é algo queataca do exterior e não há como controlá-lo; c) otratamento – quer seja por radioterapia,quimioterapia ou cirurgia – é drástico e negativo e,quase sempre, tem efeitos colaterais desagradáveis”.

O efeito mais devastaDOR é que as expectativassão demarcadas pela imagem da própria dor e damorte, gerando uma espécie de “profecia auto-elaborada”. Em vez de conseguir aceitar o processoe realizar o enfrentamento, sucede-se amaximização das dificuldades.

A qualidade negativa que encobre a constituiçãodo câncer funciona como uma venda quebloqueia a percepção e a manifestação eficientedos mecanismos de defesa mental e imunológica,afirma Leshan (1992). Conforme o autor, é comuma expressão rudimentar do mecanismo de negação,análoga à crosta que se forma sobre a ferida, comoproteção, até o processamento da cura. Nessemomento, a crosta perde a razão de permanecer ecai.

De fato, ao se fazer a comunicação diagnóstica,verifica-se o aparecimento dessa “crosta” comoproteção contra o impacto e a sobrecargaseqüencial que o imaginário aponta. No entanto,a imagem elaborada pode desenvolver um efeitonegativo na conduta do paciente, e este mantém a“crosta protetora” por um período além do devido.Por conseqüência, deixa de ser benéfica. O queera defesa torna-se fraqueza, e, pela dificuldadede acesso à própria fonte de forças, observa-se ademarcação exacerbada das perdas e ainexistência dos recursos pessoais para oenfrentamento necessário.

É fundamental criar-se oportunidade de expressãodas emoções que se processam no decorrer doadoecimento. Mas, como manter um fluxoadequado e valoroso da comunicação, se aimagem internalizada indica a percepção daimpotência profissional perante o descontrolecelular? A ocorrência das curas no campo do realnão garante o crédito no campo simbólico.

Para Guerriero et al (2001, p. 100) “o que estabelecea noção de verdade é a crença envolvida nasrepresentações simbólicas. A lógica do imaginário épassível de ser construída e reconstruída e é distintada simples ilusão. O imaginário tem relações com avida circundante, é constituído e legitimadosocialmente”.

“Saber não basta.Arrisque unir oconhecimento à açãoe então saberá se égenuíno, se épretensão ou apenasinformação”.

Karpinski (1990, p. 145)

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Worden (1998) propõe algumas técnicas, como aintervenção no processo de luto. Entre elas,menciona a reestruturação cognitiva como formade estimular a manifestação de pensamentos esentimentos provenientes da perda real ouimaginária. Fica subentendida, nessa proposta, ainterferência dos pensamentos sobre ossentimentos, inclusive os pensamentos encobertose os que estão diretamente relacionados ao própriosujeito na forma como ele se sustenta em suasubjetividade.

Segundo Leshan (1992, p. 28), no período queantecede a instalação do câncer, ou seja, antesdos primeiros sinais da proliferação caótica celular,existe um padrão de perda da esperança em 70%a 80% das pessoas que adoecem, enquanto apenas10% apresenta esse comportamento no grupo emque inexistia o câncer. Para ilustrar o achado, elecita o poeta W. H. Auden, que define o câncercomo “um fogo criativo derrotado”.

A prática diária também registra a existência deatitudes individuais de autocura. Nesse contexto,o problema está no fato de não se saber, comconsistência científica, como acionar e manter oprocesso de resgate da saúde. Porém, sabe-se que,nas situações em que o processo de autocura seestabelece, ocorre um aumento de respostasqualitativas.

Desde 1811, os dicionários incluem o significadoda palavra placebo, ou seja, de uma substânciaque não tem nenhum efeito biológico. Verificou-se que, quando havia um relacionamento deconfiança entre o médico e o paciente, a utilizaçãodo placebo apresentava respostas favoráveis eamenizava a condição clínica. Assim, a crença dapositividade da intervenção médica dá viabilidadeao sistema de auto-renovação do paciente, quepode não ser suficiente, mas que torna maiseficiente a própria defesa e a busca do bem-estar(Leshan, 1992).

Até 1900, os médicos, xamãs e curandeiros faziamuma relação direta entre o câncer e os fatorespsicológicos. Aceitavam a hipótese de que haviauma correlação entre a história da vida emocionale a evolução da doença.

Tais interpretações foram, gradativamente, sendoelaboradas pela rotina de consultas, em que aescuta era um instrumento diagnóstico, pois nãoexistiam testes bioquímicos, nem raio x, nemtomografia axial computadorizada. Emconseqüência, as perguntas abrangiam o campoda história de vida dos pacientes e estes, por suavez, revelavam o filme dos seus sentimentos dedesesperança e as perdas vivenciadas antes doaparecimento da doença.

Com a evolução da tecnologia e da ciência,descobriram-se novas intervenções: cirurgia,quimioterapia, radioterapia, transplantes; então,o olhar tornou-se focal, isto é, restringiu-se à parteespecífica do corpo adoecido e não mais aofuncionamento do ser humano como um todo.Assim, em linhas gerais, o câncer passou a ser vistocomo um problema corporal localizado.

Após 1950, a forma de análise interpretativa emrelação ao câncer sofreu outra mudança.Novamente, a história de vida emocional e cognitivapassou a ser considerada e incluída nos fatoresque poderiam exercer interferência noaparecimento, na manutenção e na evolução docâncer.

Apesar dos avanços científicos e da revoluçãotecnológica, o conceito do câncer mantémexplicações arcaicas e, por vezes, irrealistas. Osrecursos terapêuticos ampliaram-sesignificativamente, mas o problema e as questõessão os mesmos, ou seja: como sanar avulnerabilidade detonada pela imagética?

Na medida em que o fantasma da morteacompanha o paciente em seus movimentos,espera-se que esta investigação traga algumconhecimento que nos auxilie a elaborarterapêuticas mais satisfatórias e precisas.

Câncer: o Olhar de Cada um

Iniciou-se este trabalho por meio de um estudopiloto, com vinte e dois profissionais de enfermagemda hematologia e oncologia. O questionário (Anexo1) foi composto de oito perguntas, com o objetivode se obter respostas subjetivas para verificar arepresentação simbólica do câncer.

Os resultados indicaram informações ricas desubjetividade, independentemente das diferençasnos caracteres demográficos. Além disso, asrespostas apresentaram alguns elementosprimitivos, com explicações análogas à natureza,como: “o câncer é como um formigueiro, as formigastrabalham quietinhas, mas, se chutarem oformigueiro ninguém segura!”. “É um dragão que tedevora”. “É como uma erva daninha que rasteia, aínão tem jeito não!” (Sic).

Tais associações são encontradas na etimologia dapalavra câncer, em sua historicidade e primordiaisimpressões. Supostamente, com o avanço datecnologia e da ciência, do número desobreviventes, da busca pela qualidade de vida,esperavam-se respostas com menos teor mórbido.Porém, tal impressão se mantém, apesar de arealidade apresentar conquistas significativas.

Maribel Pelaez Dóro, Ricardo Pasquini,Carlos R. Medeiros, Marco Antonio Bitencourt & Glaci L. Moura

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Também foi possível observar que, após o décimo entrevistado, as respostas posteriores não apresentaramvariações qualitativas significativas. Vale destacar que a pesquisa foi feita em dez entrevistas para cadagrupo, conforme a amostra a seguir:

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médico cuidar da morte, embora sua formaçãoacadêmica o tenha preparado para a cura, enão para a morte. Além disso, ninguém possuiinformações sobre o dia e a hora da própriamorte. Ainda assim, pacientes portadores de mauprognóstico podem surpreender, vivendo alémdas expectativas, e pacientes com probabilidadesestatísticas favoráveis podem apresentarcomplicações inesperadas e falecer. Nessacontradição, o clínico mantém a tradição devislumbrar o desejo da cura mesmo que, ao serassociado à morte, o câncer passe a ser maldiçãonão desejada para o convívio.

Exige-se do médico que seja tecnicamentecompetente e humanamente acolhedor.Contudo, é preciso considerar que a gradecurricular das escolas de Medicina do Brasil nãooferece conhecimentos suficientes para umaeficaz compreensão das implicaçõesbiopsíquicas do doente.

Nessa perspectiva, Nunes Silva (2000) aponta anecessidade premente de incluir no curriculummédico conteúdos de Psicologia, Antropologiae Sociologia, de modo que se estabeleça umarelação mais salutar entre o pensar, o agir e osentir.Dessa forma, poder-se-ia propiciar umaincorporação clínica para além da doença, ouseja, o doente estaria incluído no contexto deuma possibilidade a mais de expressão eacolhimento, não se mantendo recluso nasolidão que o abate.No entanto, como inserir o doente, contemplá-lo com atendimento de modo mais amplo, se aimagem primordial é de que se trata apenas deuma questão de tempo para o enfermo estarincluído na lista dos óbitos?

Nunes Silva (2000, p. 240) afirma que: “deve-seprocurar desmitificar crenças aterradoras que,muitas vezes, não correspondem à realidade, masque intranqüilizam o paciente e sua família”. Grupo de pacientes(Para você: o que significa “câncer”?)

Pelas respostas encontradas nesse grupo, parecenão haver um interesse maior em relação àsexplicações teóricas, o que é verificado naprática, mesmo quando os pacientes têm um nívelintelectual, educacional e cultural elevado.

De fato, primeiramente, o paciente fazinvestigações acirradas em todas as vias. Porém,quando a evolução da doença modifica o

Tabela – Universo entrevistado

Grupo Número Gênero Hospital Fora do F M Hospital

Médico 10 4 6 XEnfermagem 10 8 2 XPsicólogo 10 7 3 XPaciente 10 6 4 XFamiliar 10 6 4 XExterno aohospital 10 6 4 XTotal 60 37 23

As respostas foram categorizadas conforme atemática da percepção apresentada pelas pessoasentrevistadas. A classificação compõe os seguintestópicos: a) morte; b) aprendizagem e mudança devalores; c) perdas secundárias ao tratamento; d)razões emocionais; e) crença/estigma; f) explicaçãoteórica. A seguir, elas serão apresentadas para quesejam transmitidos os respectivos fenômenosinterferentes na imagética do câncer.

Grupo de Médicos(Para Você: o Que Significa “Câncer”?)

A temática das respostas está concentrada no itemda explicação teórica, mas, quando há ausênciada referência científica nos relatos, descobre-seuma miscelânea de justificativas, que vão desdecrenças descabidas até a impotência diante damorte. Apenas 1/10 dos médicos apresentou anecessidade de mudar os planos e projetos de vidadevido à consciência da finitude e ao desejo deuma saúde global. Eis algumas das respostasobtidas:

“É uma moléstia, é uma doença horrorosa. É cheiade tabus e só de pensar que você tem câncer, jáacontece uma associação com a morte”; “É umaauto-destruição, é uma alteração do seupsicológico que altera o sistema imunológico eeste dá chance para isto acontecer”; “É um tiro noescuro”.

O que fica escondido na própria fala que diz sermelhor não adentrar na temática do câncer?

Segundo Nunes Silva (2000, p. 148), “o grandetemor dos médicos é de que os pacientes sedeprimam, desistam do tratamento e, porconseguinte, renunciem prematuramente à luta pelaprópria vida”. Na desistência da vida, resta ao

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prognóstico e a proximidade da finitude aumenta,ocorre, simultaneamente, a diminuição de “tantos”saberes. Nesse grupo, a associação à morte e “oexperimentar na própria pele a vivência do câncer”faz o paciente encontrar, nessa encruzilhada davida, explicações fora do controle biológico ecientífico, isto é, busca um saber nas crenças e nopsicológico.

A seguir, relatam-se algumas respostas a título deilustração:

“Deve ser uma doença que morde assim, é o tipode um bicho que fica mordendo, pois antes de eufazer a cirurgia ficava mordendo”; “O câncer e aAids são iguais, são doenças brabas do mesmo jeito.A doença fica mais difícil quando a cabeça nãoajuda.”; “Apesar de ter contraído esta doença, équase fatal e é muito enganosa”.

Também se observa que os pacientes desistem dequerer saber os detalhes da doença, mas insistemem pedir a Deus que lhes ilumine o caminho elhes dê a esperança de assistirem ao amanhecerde um novo dia. Para exemplificar, eis algunscomentários: “antes de eu ter a doença, pensavaque o câncer era morte certa. Mas agora, acho que ocâncer tem cura sim! E também não acho mais queesta doença é horrorosa e o nome não é maisassustador”.

Devido à constante associação do câncer à morte,ao receber o diagnóstico e ao submeter-se aotratamento proposto, inicia-se também o processodo luto antecipatório da própria vida e de tudo oque terá que deixar para trás, ou seja, amigos,família, bens adquiridos e tudo o mais. Quem fica,separa-se da pessoa querida, mas permanece nocontexto já construído.

Ao serem indagados sobre o significado da doençaneoplásica, Leigh & Clark, in Berger (1998),verificaram que os pacientes incluíam descriçõessemelhantes à morte, terminalidade, tristeza, aomedo, às quimioterapias, mutilações e à perdafinanceira.

Lindemann (1944) é o criador da expressão lutoantecipatório, fazendo referência “à ausência demanifestação aberta de luto na época da morte, empessoas enlutadas que já passaram pelas fases doluto normal e que se libertaram de seus elosemocionais com a pessoa falecida” Worden (1998,p. 128). Esse conceito foi adaptado ao luto queantecede a morte biológica.

Nesse morrer, o paciente experimenta a dor de sesentir enterrado antes mesmo de ter morrido. Odiagnóstico tem a expressão significativa de umsuposto atestado de óbito. O processo de perda já

ocorre no momento do diagnóstico, pelaassociação direta à idéia da morte, lembrando que,aqui, idéia significa ver e enxergar além do visível.

Sendo assim, o que se enxerga além do ditoenfraquece o registro da possibilidade de cura(dependendo do caso) e reforça a proximidadeda morte. Além disso, a percepção interna – aimagem que se constrói a partir desse olhar, namaioria das ocorrências – é gradativamenteconfirmada pelas modificações prognósticas, nodecorrer de tratamentos refratários e/ou recaídas(Carvalho, 1998).

Para o profissional da área de saúde e familiares,ao ver o paciente decair, a realidade de remissõesseguidas de recaídas produz uma sensaçãoempírica ou uma certeza simbólica de que ainevitabilidade da morte está tão próxima quedesperta o apego pela vida e a consciência damorte pessoal.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem umaproposta de atendimento aos familiares que deveocorrer durante os cuidados paliativos com ospacientes e após a morte destes, ou seja, osfamiliares são categorizados também comopacientes, necessitam de atenção, de cuidado eatendimento terapêutico de uma equipeespecializada.

Grupo de Familiares (Para Você: oque Significa “Câncer”?)

O grupo de familiares apresentou justificativas eexplicações, para o aparecimento do câncer, comvivência emocional e afetiva de qualidadeindesejável. Para exemplificar, reproduzem-sealguns comentários:

“É um grito da vida. Acho que a doença é fabricada,pois é a pessoa quem cria. É um grito da almapedindo vida ou é um decreto da alma dizendoque se você não soube viver então vamos acabarcom a vida.”; “É uma doença difícil de ser curadaque traz sofrimento e pode ser a manifestação dealguma coisa que não estava bem.”; “É uma doençaque a gente provoca e que aparece porque nãocuidou direito. Porque a gente tem o câncer dentroda gente, então tem que cuidar. O meu maridoestá com câncer, foi descuido nosso, porque jáestou vacinada, pois meu pai e tios já tiveram. Mas,o câncer deles era aquele que rasteia.”; “É oresultado dos desequilíbrios funcionais doindivíduo, onde qualquer parte (finanças, família,saúde) pode se manifestar. No desequilíbrio total,pode se propagar, ou seja, proPAGAR.”

Por mais que a condição funcional da família sejaeficaz, é perceptível que ocorre algum prejuízo,

“antes de eu ter adoença, pensavaque o câncer eramorte certa. Mas

agora, acho que ocâncer tem cura sim!E também não acho

mais que estadoença é horrorosa e

o nome não é maisassustador”.

Maribel Pelaez Dóro, Ricardo Pasquini,Carlos R. Medeiros, Marco Antonio Bitencourt & Glaci L. Moura

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maior ou menor, mas acontece. Porém, apenas 1/10 dos familiares faz comentários sobre a doença,o estigma, a associação com a Aids e os efeitosnegativos nos relacionamentos, na vida social.

De acordo com Dunlop e Hockley (1990), apudCARVALHO (1998), existem três classificações parademarcar as necessidades familiares, quais sejam:a) fadiga; b) necessidades psicológicas e c)necessidades sociais.

Por sua vez, Worden (1998) considera que,quando se vê a deterioração progressiva dopaciente e se está impotente diante desse processoininterrupto, ocorre uma identificação com omorrer, havendo uma tomada de consciência deque este também possa ser o seu fim. Talconsciência desperta sentimentos e emoçõesangustiantes, que podem se manifestar pelanecessidade de distanciamento do que se enxerga,mas que não se quer ver. Assim, qualquer um poderecuar emocionalmente, havendo o sepultamentodo doente antes da morte. A inadequação dessareação é que pode ocorrer até mesmo no própriodoente, isto é, ele se enterra na atitude de abandonoda vida e fica à espera de que a morte venha sedá-lo da dor da morte social.

Grupo de Psicólogos (Para Você: oque Significa “Câncer”?)

No grupo de psicólogos, houve predomínio decomentários com foco na explicação teórica. Oachado é interessante, uma vez que a propostadeste estudo é explorar a representação simbólicado câncer. A pensar-se na formação acadêmica ena experiência de trabalho do grupo, poder-se-iasupor que as respostas trouxessem maisinterpretações do campo simbólico.

O que se teria processado no momento daentrevista, uma vez que houve uma aparenteinibição reflexiva, pois as respostas foram sucintase, por vezes, tão genéricas que nada daespecificidade do câncer foi dito? Para exemplificar,copiam-se alguns comentários: “É uma doença aser tratada”; “É uma doença grave”; “É uma doençacausada por um desenvolvimento anômalo”.

O psicólogo, independentemente da teoriapsicológica em que fundamenta sua prática, temcomo meta propiciar o desenvolvimento doautoconhecimento para que o paciente possaconstruir uma boa relação consigo e com o outro.Também visa a que o paciente apreenda osenfrentamentos necessários para que aadministração de acontecimentos positivos enegativos seja satisfatória.

No caso de situações de grandes impossibilidades,acompanha o paciente para que possa transformare suplantar perdas por ele vivenciadas.

Se é assim, então, como explicar o fato de o grupode psicólogos não ter apresentado nenhumaresposta na categoria de aprendizagem e mudançade valores? Entende-se que esse item incluaesperança e mudança na escala de valorespessoais. Se não é possível a mudança, tal fatosignifica que a percepção mantém o foco, isto é,os padrões repetem-se sem indícios detransformação.

O grupo de psicólogos entrevistado possuiformação acadêmica e experiência hospitalar.Supõe-se, então, que haja conhecimento teóricoe vivência suficiente para o profissional almejar econtribuir para a mudança perceptiva do paciente,a fim de que as perdas sejam amenizadas. Noentanto, pelos comentários expressos, constata-seque a imagem internalizada não se deixa penetrarpelo fazer e o pensar, pois está mesclada pelo sentirque pode estar alicerçado na representaçãosimbólica negativa de cada um.

As respostas superficiais mencionadas acima talvezrepresentem uma defesa psíquica da própriaimagem internalizada. Contudo, tambémapresentaram respostas demonstrativas do poderde influência do pensamento simbólico e dascrenças perpetuadas pela fragmentação de saberes.Para exemplificar, eis alguns comentários: “É a mortesobrepujando a pulsão de vida”; “É uma desistênciada vida”; “É um passaporte para a morte”; “É coisado dito cujo”.

A aflição é estabelecida conforme o focoperceptivo, e não somente em decorrência dasperdas reais.

Korzybskyl, apud Balieiro (1999, p. 56), afirma que (...) a percepção tem um caráter de representação,ou seja, de codificação, que é a transformação doobjeto percebido em objetos ou elementos deoutra ordem, outro código, neste caso, de caráterabstrato, mental. Estes objetos mentais não são,evidentemente, a coisa percebida, pois o subjetivoé o processo de captação do valor, uma vez que apercepção não cria o objeto mas o capta; o mesmosucede com a valoração. Existe um conjunto de fatores que induz oindivíduo a dar uma importância maior ou menorpara o que vive. Essas regras de codificação sãoconstituídas pelo potencial genético, personalidadee sua inserção sociocultural e histórica.

Conforme o pensamento de Werneck (1996, pp.19e 25),

“É uma desistênciada vida”; “É umpassaporte para amorte”; “É coisa dodito cujo”.

O Câncer e Sua Representação Simbólica

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(...) conhece-se o valor com a vivência dasensibilidade e não só com a idéia, num processode racionalização (...). O esforço da razão é feitono sentido de conhecer a coisaindependentemente de seu valor. Em que medidaisso é possível, é difícil precisar; esse é o objetivo, ointuito, mas, ao que parece, nunca é plenamenteconseguido, já que o que atrai para o conhecimentodo objeto é, antes de mais nada, o seu valor.

Grupo de Enfermeiros (Para Você:o que Significa “Câncer”?)

Apesar de haver um conhecimento teórico, o nívelde respostas do grupo de enfermeiros indica umaimpregnação mórbida que contamina apercepção da situação como um todo.Aparentemente, o olhar está fragmentado e comum desvio focal, de modo que capta apenas asperdas, interpretadas com bases nas crenças.

Além disso, ocorrem associações que manifestamconteúdos rudimentares, pois as associações sãomaterializadas em bichos devoradores eincontroláveis.

A seguir, serão mencionadas algumas frases quedemarcam o teor simbólico: “É um bicho de setecabeças, não tem cura, apesar de... pode tertratamento, mas volta...”; “Tenho que câncer é comoum dragão, porque ele te come com tanta voracidadeque você não sabe o que fazer”; “Câncer é um bichoque te come, mas, tem vários tipos de bichos”;“Câncer é um assassino oculto, cruel e sem piedade”. Grupo de Sujeitos Externos(Para você: o Que Significa“Câncer”?)

Os sujeitos foram entrevistados, aleatoriamente, emruas, lojas, escola e mercado. Foram abordadasdezesseis pessoas para obter os critérios de inclusão(não têm nenhuma vivência pessoal hospitalar oufamiliar com diagnóstico de câncer). Seis delas eramfamiliares de primeiro grau de pacientes.

Apesar da inexistência do convívio com pacientes,o grupo também apresentou a morbidade – amortalidade – como temática principal da imagemque faz quando pensa em câncer. Algumas frasessão transcritas para exemplificar essa percepção:“Já penso em morte..., uma doença sem cura..., umtumor maligno. Você vê que está tratando, mas, vocêsabe que vai morrer do mesmo jeito”; “É uma doençaque é o fim da linha, com luta, condenação edesespero”; “Nossa! É um mal incontrolável. Apalavra em si é bem forte, é angustiante!”.

Até mesmo reações mais agressivas surgem a partirda menção da palavra câncer. Talvez seja umdemonstrativo do impacto ocorrido devido àmobilização da emoção, como neste comentário:“É uma grande filha da puta! É uma doença terrível!A natureza é interessante, ela cria mecanismos paraadequar os excessos, por isto o câncer é parecidocom a Aids”.

O grupo também fez associações que expressam oquão grande, dominador e agressivo é o câncer.Exemplificando: “É um monstro que quando semexe se espalha”.

As informações obtidas com a primeira perguntamostram que, independentemente da informaçãocultural, acadêmica e da contextualização de cadaum e da história de vida, isto é, como cuidador oucuidado, todos apresentaram respostas associadasa imagens da morte, da dor do morrer e crençascom analogias potencialmente mórbidas e comalto índice de agressividade, ou seja, imagens quesugerem haver algo ameaçador. Seja qual for aexplicação, é dado a esse algo um poder dedestrutividade fatal para a vida, quer seja no âmbitodo corpo, quer seja no da palavra.

Retomando, as palavras mencionadas acima –cuidador ou cuidado – constituem vocábulosrepresentativos de uma posição funcional. Aprimeira mensagem é: preciso ter CUIDADO! Asegunda mensagem subentendida é que, se vocêestiver sem condições de ser cuidador, então serácuidado. Nessa condição, permanecerá atado aoscuidados que o seu tratamento requer. Mas, e sefor o cuidador? Também merece atenção ecuidado, uma vez que a dor pode estar enxertadanaquele que cuida, isto é, no cuidaDOR.

O exercício com as palavras tem o intuito deoferecer um lembrete sério das bases mitológicasque serviram de base para Hipócrates, o sábio paida Medicina. A referência, aqui, é relativa ao mitodo médico-ferido, pois o médico também épossuidor de uma ferida. Assim como o paciente,também possui uma consciência do que ébenéfico ou maléfico para o seu organismo. Seessa dualidade não for integrada internamente,corre-se o risco de haver um desequilíbrio, e oorganismo pode ir em busca da homeostase, porvezes, pagando um alto preço.

Apesar da riqueza simbólica desse mito, nomomento, o objetivo não é adentrar nasinterpretações, mas lembrar que somos portadoresda vida e da morte e, se portamos dores,importamo-nos e reagimos conforme apeculiaridade de cada um.

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Kübler-Ross (1996) considera existirem padrõesde comportamentos que as pessoas, em geral,apresentam nas situações de perda,independentemente de o prejuízo envolver ocampo afetivo, familiar, econômico ou da saúde.

Como Você Reagiria, se TivesseCâncer?

Na segunda pergunta deste estudo – “Como vocêreagiria, se tivesse câncer?” – coloca-se umasituação hipotética, para observar as associações econfabulações, que podem ser representativas deuma projeção da subjetividade, ou seja, umaexpressão do que seja “sentido mentalmente”.No caso do paciente, a pergunta – Como vocêreagiu, ao saber que tinha câncer? – faz parte da suaexperiência real; assim, a resposta estarádiretamente ligada à sua reação inicial.

Os comentários apresentados foram sistematizadosconforme a proposta da psiquiatra Kübler-Ross(1996), que relaciona cinco estágios reacionaiscomuns em pessoas que vivenciam alguma perda.Os estágios são os seguintes: a) negação eisolamento; b) raiva; c) barganha; d) depressão; e)aceitação. Ela não se limita aos aspectos dadoença, morte; sua classificação refere-se aocomportamento humano. No estudo em questão,constatou-se que as respostas são expressões dessasfases. Alguns supõem que apresentarão uma únicareação, como no relato seguinte, na fase dabarganha: “Faria tudo, quimioterapia, radioterapia,cirurgia, tudo, tudo...”.

Em outras respostas, foi possível verificar mudançasde fase no mesmo indivíduo. Para exemplificar, eisaqui uma resposta: “Primeiro: entraria emdepressão, depois procuraria ignorar”. Outroexemplo: “(...) aí passaria por todas aquelas fases:negação, desespero, pânico...”

Nem todos os pacientes passam por todos osestágios ou alcançam o último, isto é, a aceitação.Além disso, a presença de um estágio não impedea presença de outro, pois podem coexistir numajustaposição, como, por exemplo, apresentar umareação depressiva e uma negação parcial, numasituação de um pesar preparatório.

Os comentários obtidos em cada um dos gruposdeste estudo estiveram predominantemente noestágio da depressão. Outro estágio que teve umaconcentração de respostas foi o estágio de negação.Ao estágio da raiva, apenas um paciente expressoureação. No estágio da barganha, três pessoas(médico, psicólogo e um familiar) manifestaram omovimento de tentar tudo da Medicina, de

tratamentos alternativos ao investimento religioso.Em relação ao estágio da aceitação, nenhumapessoa do grupo de psicólogos demonstrou essapossibilidade, e a maioria apresentou,hipoteticamente, uma reação coerente com oquarto estágio, isto é, a depressão.

Vale lembrar que, na primeira pergunta, foiconstatada uma superficialidade nas respostas dogrupo dos psicólogos. Será que não há disposiçãode pensar, na medida em que os pensamentostrazem sentimentos de dor?

Você Faz (ou Fazia) Algum Tipo dePrevenção?

Em relação à pergunta: “Você faz (ou fazia) algumtipo de prevenção?”, foi possível verificar que, nogrupo de psicólogos, 7/10 fazem prevenção; nogrupo de pacientes, 4/10 faziam exames periódicos;no grupo de médicos e da enfermagem, 3/10 têmeste cuidado; no grupo externo ao hospital, apenas1/10 o faz, e, no grupo familiar, nenhum fazqualquer tipo de prevenção.

Fica explícito, nesses dados, haver falta deconsciência quanto ao caráter saudável daprevenção, uma vez que existem riscos de mudançade prognóstico clínico caso o câncer não sejadescoberto em tempo hábil. No entanto, nãoocorre o enfrentamento dessa possibilidade, querseja com os grupos do convívio hospitalar, querseja o próprio familiar, que, muitas vezes, perdeuoutros familiares, além de estar passando peloprocesso atual.

“Já penso em morte...,uma doença semcura..., um tumormaligno. Você vê queestá tratando, mas,você sabe que vaimorrer do mesmojeito”; “É uma doençaque é o fim da linha,com luta,condenação edesespero”; “Nossa! Éum mal incontrolável.A palavra em si ébem forte, éangustiante!”.

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Cuidar dos Pacientes com CâncerInterfere de que Forma, na SuaVida?

No caso da pergunta: “Cuidar dos pacientes comcâncer interfere de que forma, na vida de quemcuida?, os grupos apresentaram comentários,conforme a expressão temática, classificados em:a) desvitalização emocional – depressão, amargura,tristeza, vive em função da vida do outro, estresse esobrecarga –; b) sentimento de impotência – ameaçade perda iminente, identificação –; c) finitude –consciência da própria terminalidade –; d)humanização – crescimento espiritual, apego aDeus, mudança de valores, lição de vida,aprendizagem –; e) ciência – pesquisa,responsabilidade profissional, teoria –; f) friezaafetiva – duro, calculista –; g) vocação; h) nenhumainterferência; i) não sabe.

Nos grupos de pacientes, de familiares e de sujeitosexternos, houve uma concentração no itemdesvitalização emocional. A sobrecarga consome avida do cuidador, enquanto o paciente some noseu definhar contínuo. Pode-se supor que opaciente e o familiar não possuam muitas opçõesquanto ao fato de a doença estar no próprio lar;então, é compreensível que as respostas falem dessadificuldade, que avassala a estrutura emocionalde todos aqueles diretamente envolvidos com aenfermidade. Eis alguns comentários mencionadospelos pacientes:

“Tornou-se uma pessoa nervosa, ficou esquecida,não lembra mais das coisas e chora a toda hora. Omédico falou que o tratamento é só para prolongara vida. Então por que vou fazer tratamento se nãovou usar a vida?!”; “Qualquer tipo de doença épreocupante para a pessoa, mas o câncer está nagravidade alta, é um sofrimento muito grande.”;“Eles tem que deixar a vida deles toda para trás, agente toma tudo deles”.

Também existem respostas contraditórias, comnegações parciais em relação aos sentimentos e àemoção que essa vivência causa; por exemplo: apaciente responde que não existe interferênciaalguma, mas, no significado do câncer, havia ditoque: “câncer é um trauma grande porque é umadoença incurável”. Em relação aos comentários defamiliares: “O doente, o é por uma semana, depoispassa a ser um estorvo”. Vê o paciente como sefosse um parasita que suga a seiva de uma árvoreenraizada no compromisso de cuidar até o fim eque, por vezes, o término se arrasta como ervadaninha. Outros comentários podem serconferidos: “É difícil, porque dia a dia vai indo.”;“Parece que parei de viver, mudou tudo. Vejo elesofrendo, sofro junto. Quando ele está bem, tô bem,se está mal, tô mal”.

No grupo de sujeitos externos, ou seja, isento doconvívio com doentes, ao comentarem sobre oque imaginam que deva acontecer com familiaresou com os profissionais da área de saúde,expressam idéias de sobrecarga de vida, o que geraum abandono de projetos, sonhos e até mesmoda própria vida, como pode ser observado emalguns comentários: “Gostaria de não ter contatocom estas pessoas.”; “Quem cuida fica escravo destespacientes e acaba deixando de viver a própria vidapara viver a vida dos enfermos.”; “Deve ser difícilolhar para uma pessoa que está se acabando, queestá indo.”; “Não interfere porque não pega.”.

Em relação ao grupo de médicos, este últimomanifestou identificação com o processo de muitaslutas e desistências necessárias nesse ir-e-vir dospacientes. Alguns reagem com o esfriamento, outrosse envolvem com os paciENTES; assim, tambémapresentam sentimentos de impotência e medode serem os próximos por ficarem tão perto daconsciência da finitude e da dor desse convívio.

Também foram fornecidas respostas de valorizaçãoà vida e mudanças de valores, devido à necessidadede trazer humanização a um contexto que requercuidados que vão além do conhecimentocientífico.

O médico possui, desde os primórdios, o peso deuma imagem de saber, poder e da capacidade detomar decisões fundamentais para odirecionamento do tratamento do paciente. Dessemodo, há uma responsabilidade enorme com aatualização e as pesquisas que contribuam para oconhecimento científico. Apesar de ser uma áreaextensamente explorada, verifica-se que oscomentários dos médicos mostram umainterferência significativa dos aspectos que fazemum chamamento para a humanização, avalorização e a busca de uma filosofia de vida quedignifique o seu fazer.

O sofrimento do paciente, por vezes, desperta omédico para a consciência do próprio sofrimentoque aí está ou que está por vir. Alguns comentários:“Passa a enxergar seus problemas de forma maisamena. Mas, também tem que tomar cuidadoporque a tendência é criar uma barreira para nãosofrer tanto e pode se tornar frio. A morte deixa deser tão grave. Para mim, a morte não é um fim, oespírito continua”.

No grupo de enfermeiros, verifica-se acentuadainterferência nos comportamentos devido àlabilidade emocional, sentimentos de impotência,identificação com o doente e transposição do quepresencia para a possibilidade de acontecerconsigo ou com os seus. Contudo, também houvecomentário com teor defensivo, como, por

“Gostaria de não tercontato com estaspessoas.”; “Quem

cuida fica escravodestes pacientes e

acaba deixando deviver a própria vida

para viver a vida dosenfermos.”; “Deve ser

difícil olhar para umapessoa que está se

acabando, que estáindo.”; “Não interfereporque não pega.”.

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exemplo; “Não me apego muito, fico abalada só nomomento. Morre, enterra! Sou totalmente fria emrelação a tudo. Consigo fazer um corte drástico. Ficome perguntando se isto é normal?!”. Pode-se afirmarque tal interpretação demonstra um desejo deproteção em relação ao que vê, mas que nãoquer – ou não pode – enxergar.

De todos os grupos, apenas neste houve a mençãode que sofrimentos e perdas fazem parte de umtrabalho de vocação e de realização profissional,já que tais enfermeiros consideram seu trabalhouma oportunidade de ajudar o próximo e fazer obem dentro do que seja possível. Algumas respostaspara ilustração: “É positivo poder dar assistênciaintegral ao paciente”; “É uma satisfação trabalharcom eles, é uma maneira de ajudar o próximo, é umprazer lidar com eles”.

Tal disponibilidade talvez possa ser entendida pelabase histórica da formação dessa profissão,especificamente constituída num contexto semqualificação; sim, pois os primórdios da profissãode enfermagem apontam as meretrizes como asprimeiras mulheres a desempenharem essa função.Elas eram convocadas para cuidar de pacientesmarginalizados, de nível socioeconômicobaixíssimo e com doenças como a lepra. Assim, asprimeiras pessoas a assumir esse papel,fundamental para a vida dos pacientes, tiveram apossibilidade de ocupar outra posição perante asociedade e perante si mesmas.

Desse modo, é possível inferir que esse fazer estejade algum modo associado à imagem internalizada,isto é, a uma atitude de reparação de uma açãoindesejável. Assim, o desejo ganha força narealização de doação e cuidado, apesar da dor.Conforme tal raciocínio, é compreensível asatisfação derivada da assistência.

Segundo Nunes Silva (2000), antes de 1900, haviauma escuta da história pessoal do paciente porquenão se sabia o que fazer em relação aoaparecimento do câncer; então, fazia-se oatendimento sem saber como deveria ser feito, ouseja, ouvir o doente falar de si por meio de suadoença representava um horizonte depossibilidade de compreensão acerca daenfermidade, e, por efeito, de encontro darespectiva cura.

No início do século XX, houve uma corridadesenfreada em busca de novas drogas etratamentos que se mostrassem mais eficientes epromissores.

Atualmente, temos uma tecnologia avançada, coma ciência desenvolvendo hipóteses que dãoviabilidade a novos experimentos. Então,deparamo-nos com o prolongamento da vida, mas,em razão de dificuldades que, muitas vezes,extrapolam a estrutura subjetiva de cada um, emdecorrência de crises que perpassam o aspectosocioeconômico, e mesmo cultural, da população,constata-se haver a tendência de encurtamentodas condições de cidadania para uma vida dignae qualitativa.

Questões Acerca da Qualidade deVida

Para verificar como o conceito de qualidade devida tem sido considerado, os grupos avaliadosresponderam às seguintes perguntas: “Para você: oque é qualidade de vida?” e “Numa escala de zeroa dez, quanto de qualidade de vida você tem hoje?”Pergunta para o cuidador: “Se você tivesse algumtipo de câncer que necessitasse de pelo menos doisdesses tratamentos: quimioterapia, radioterapia,transplante de medula óssea e/ou cirurgia, comoficaria a sua qualidade de vida?”

Foi feita a seguinte pergunta ao paciente: “Quantovocê tinha de qualidade de vida antes dos primeirossinais do câncer?”

Observou-se, nas respostas encontradas, que agrande maioria concorda com a ocorrência deuma redução significativa na qualidade de vida,quer seja na avaliação da realidade vivenciada pelopaciente ou familiar, quer seja nos casos em que aanálise corresponde ao imaginário do profissionalde saúde e daquele que não tem uma relaçãodireta com a realidade oncológica.

Ao elaborarem o conceito de qualidade de vida,incluem elementos com características positivas,multidimensionais e que dependem do jeito deinterpretar, isto é, um mesmo fenômeno pode serbom ou ruim conforme a peculiaridade de quemolhe. Os elementos mencionados foram: saúde,prazer, condições econômicas favoráveis, trabalho,família, amigos, espiritualidade e condiçõesemocionais de bem-estar.

Em todos os grupos, o item da saúde e dapossibilidade de fazer o que gosta e com prazerforam os mais mencionados. Eis um expressivocomentário de um paciente: “Sabe que esta é umapergunta muito complicada? Perguntei outro diapara um pastor: O que é ser feliz? Envolve muitascoisas, como a qualidade de vida”.

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Que Cor você Associa ao Câncer?

Em relação à perguntas: “Que cor você associa aocâncer? Por quê?”, as respostas mencionadas foram:

PRETO: “Porque lembra luto, morte, dor, tristeza,perda, gelo, aquilo que é feio e que não tem vida.Preto fosco porque a cor opaca chupa.”; “Veio acor preta. Acho que não é por mim, porque é acor que mais gosto. Acho que é mais pelo que aspessoas pensam e falam.”; CINZA: “Porque a peledos pacientes fica com cor de asfalto, sem vida.Porque lembra túmulo, dor, tristeza, pura morte,desesperança, sofrimento, sombra. Lembra um diade tempo ruim, nublado. É escuro, é sombra, entãoé cinza. Também lembra fungos. As pessoas ficamcom jeito de queimada. Porque é uma situaçãoindefinida, não é nem sol nem chuva. Tanto podetrazer a paz como a dor.”; “O preto é morte, obranco é luz, então escolho cinza porque significaque a pessoa está desistindo da vida.”; BEGEACINZENTADO, ESVERDEADO, AMARELADO:“Porque dá a idéia de podridão e decomposição.”;BRANCO: “Porque é de impasse, é indefinido.Branco, preto não pode ser de jeito nenhum!”;“Quando o meu avô estava com câncer, ele ficavano quarto dele que era todo branco e muito limpo.Então o branco lembra este lugar que meu avôficou para morrer.”; MARROM: “Porque mata, masmata aos poucos. Lembra que é um retorno para aterra, morre e isto é feio e sujo. Escolho marrom,mas não sei por quê, talvez seja cor de merda, meuirmão morreu de câncer de intestino.”; “Tambémlembra fungos. As pessoas ficam com jeito dequeimada. Porque é uma situação indefinida.”;ROXO: “Porque lembra morte, perda, dor, tristeza.É como um leito que não tem como retornar.”;“Porque lembra o raio x.”; AZUL: “Por causa daroupa do hospital.”; VERMELHO: “Por causa darelação com sangue, pela ligação com os órgãosinternos. Lembra cirurgia, hospital,

quimioterapia.”; “Porque é forte e causa impacto,como o câncer.”; AMARELO: “Lembra cor dedoente, febre e palidez.”; “Quando tiraram umpedaço do meu abdômen, falaram que pareciaum músculo amarelado.”; “Porque é uma cor bemnojenta, um amarelo esverdeado com algunspontos brancos e cinza de fungos. Porque é istoque me veio de imediato.”; VERDE: “Porque ospacientes, com o tempo, vão ficando verdes.”;“Verde de esperança tem que ter um pouco.”.

Ao darem as justificativas – menos em relação àcor verde – todos os grupos dão uma conotaçãonegativa e de perda. A seguir, pode-se verificar ocomentário de um profissional da área de saúde:“Preto porque representa luto e o câncer sempre éassociado à morte. Acho que ainda estoucondicionado com a imagem não profissional”.

A cor invoca a emoção contida nacontextualização e esta se mostra carregada desentido relacionado a impressões desagradáveis.Por vezes, há tentativas inconscientes de não incluira cor que espontaneamente surge. Com ummovimento de reparação, nega a cor selecionadapela emoção e inclui a cor que a razão lhe diz sera indicada. Por exemplo: “Preto não! Preto é luto,não pode! Tem que ser verde esperança, verde deque a gente vai chegar lá”. Outro exemplo: “Escolhoazul, porque azul é tranqüilo, porque tem cura.Enquanto que vermelho não pode ser porque é coisaruim”.

De modo geral, os entrevistados demonstraramestranheza diante da pergunta, mas mencionar acor fazia com que entrassem em contato com osentir, no primeiro instante, e não com o pensar.Um comentário imediato foi o seguinte: “Coloridoé que não é!”

De acordo com Spink (1999), a representaçãopessoal é subjetiva, porém também deriva deaspectos partilhados de uma representação social.Se o imaginário social tem uma repercussão nocomportamento, então deve-se refazer a imagempara que haja uma mudança real da atitude. Épreciso tomar cuidado para não se deixar levarsimplesmente pela representação simbólica, demodo a não se enxergarem os sinais das situaçõesem que se está inserido.

Na medida em que pode promover interlocuçãoe nominação do que é próprio da linguagemsubjetiva, numa relação interpessoal, acomunicação social compreende a experiênciaindividual e os valores sociais. Assim, pode-se dizerque, ao falar-se do binômio saúde-doença, ficasubentendida a presença de elementosrelacionados ao ambiente físico e social. SegundoMoscovici (2004), um conjunto de palavras viabiliza

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a construção das imagens do objeto em questão;em conseqüência, o indivíduo faz associações aum significado concreto. Tal conjunto é formadopor uma combinação incorporada pelo núcleofigurativo, ou seja, pela imagem estrutural quereproduz o conteúdo conceitual.

Para amenizar a angústia, a tendência é buscar umainterpretação, um sentido para aquilo queincomoda, sentido que pode compensar ou pesarna construção perceptiva. Assim, a representaçãosimbólica negativa é uma fonte de angústia que,por si, destrói as possibilidades de aproveitamentodessa vivência.

Investigar o simbolismo e falar sobre o impacto e oregistro imagético do câncer propiciará ao indivíduoum espaço para entrar em sintonia com suasnecessidades recíprocas (interna e externa). Comisso, talvez seja possível a aceitação da condiçãoreal e, assim, de um manejo mais adequado emrelação ao seu estado de saúde. Todavia, a presençado conceito não deve satisfazer. É preciso que sebusque o conhecimento do que constitui essapresença.

Para Remen (1992), a saúde humana recebeinterferências da realidade objetiva e da subjetiva.No âmbito da subjetividade, existe um mundosingular, composto por sentimentos, pensamentose atitudes, que pode limitar a evolução dotratamento. Ao mesmo tempo, a depender de comose processe, pode contribuir positivamente paraminimizar o mal-estar do paciente e de seusinterlocutores.

Por sua vez, Torres (1983) argumenta que a patologiasocial contemporânea decorre significativamente danegação da morte na expectativa de vida diária.

Conforme Kübler-Ross (1996), no entanto, éfundamental compartilhar os sentimentos para nãoadoecer e morrer. O medo maior está na relaçãocom o morrer, pois engloba sentir dor e passar peloprocesso de separação. Quando é possível falarsobre a desesperança, o desamparo, o isolamento,observa-se que o nível de angústia e ansiedade sereduz, podendo-se olhar sob uma nova perspectivapara a própria morte.

Conclusão

Pensar, sentir, fazer: caminhos de saúde ouenfermidade

Se ignoramos nossas necessidades básicas, tornamo-nos partícipes da estruturação do adoecimento pormeio da atividade mental, física e emocional. Asobrecarga de tensões, emoções e desagrados sobreo indivíduo pode despertar-lhe a atenção somente

quando o corpo tornar-se sinalizaDOR damanifestação patológica.

Uma das soluções para amenizar a interferêncianegativa decorrente das interferências dacoletividade é apreender quais pensamentos,atitudes e emoções propiciam comportamentosdoentios e/ou saudáveis, pois a análise dos processosmentais abre a perspectiva da conscientização deque somos um corpo que possui uma identidadesimbólica e, como tal, portaDOR de histórias quevão muito além dos registros dos sistemas orgânicosdo DNA.

Este estudo objetivou uma reflexão para que seconstitua uma redefinição da própria atitude emrelação ao câncer, doença potencialmente mórbida,que nos consome pela aparição da finitude quedefine a proximidade do fim de cada um.

A dor do morrer traz a consciência de que oprofissional nem sempre pode evitar a concretizaçãodo temor maior, ou seja, a confirmação da morte,nem mesmo a que ilusoriamente lhe pertence.

Então, é fundamental que o paciente e a famíliasejam beneficiados pela rede social de apoio, querecebam suporte no transcorrer do tratamento.Portanto, vale pensar sobre a imagem simbólica queo staff da oncologia/hematologia internalizou, umavez que a imagética influencia na percepção, nareação e na distribuição do tempo que cada umdeterminará para a escuta da singularidade daqueleque adoeceu com o câncer e/ou com acontaminação simbólica.

Um estudo dessa natureza pode contribuir para quese busquem formas de aprimorar o tratamento dopaciente com câncer. No entanto, para ajudar ooutro, é preciso, primeiramente, redimensionar aprópria formação imagética; afinal, nós tambémsomos semeadores das imagens que se reproduzemao longo dos séculos, apesar de toda a evoluçãocientífica.

É preciso preparar-se para a morte, pois essaconscientização apura e melhora a qualidade devida. Além disso, o confronto com a finitude afeta ohomem individual e também socialmente.É de grande valia, como atitude salutar, que nós,profissionais da área de saúde, estejamos cientes deque também temos necessidades provenientes danossa construção simbólica.

Necessitamos da perspicácia e da sensibilidade paraapreender o conhecimento humano da finitude e,para tal, é preciso olhar de frente para o que noscega e, por isso, nos seca.

Afinal, o que sabemos do amanhã?!

O Câncer e Sua Representação Simbólica

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Representação Simbólica do Câncer / 2001 – Questionário

Número: ................... Local da entrevista: .........................................................................................................Data: ........................ Nome ou iniciais: .............................................................................................................( ) Paciente ( ) Familiar ( ) Profissional de saúde ( ) Externo( ) Masculino ( ) FemininoIdade: ................................... Data de nascimento: ............................................................................................Estado Civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) separado ( ) divorciado ( ) viúvoDependentes: .........................................................................................................................................................Religião: ( ) católica ( ) protestante ( ) evangélica ( ) filosofia espírita ( ) ........Escolaridade máxima: ..................................................................................................................................................Profissão: ...............................................................................................................................................................Se paciente e/ou familiar: Diagnóstico: ..............................................................................................................Tratamentos feitos: ................................................................................................................................................

1 Para você: o que significa “câncer”? 2 Pergunta para o cuidador: Como você reagiria se tivesse câncer? Pergunta para o paciente: Como você reagiu ao saber que tinha câncer? 3 Você faz (ou fazia) algum tipo de prevenção? 4 Cuidar dos pacientes com câncer interfere de que forma, na vida de quem cuida? 5 Para você: o que é qualidade de vida? 6 Numa escala de zero a dez, quanto de qualidade de vida você tem hoje?

7 Pergunta para o cuidador: Se você tivesse algum tipo de câncer que necessitasse de pelo menos doisdesses tratamentos: quimioterapia, radioterapia, transplante de medula óssea e/ou cirurgia, como ficaria asua qualidade de vida? Pergunta para o paciente: Quanto você tinha de qualidade de vida antes dos primeiros sinais docâncer?

8 Que cor você associa ao câncer? Por quê?

Maribel Pelaez Dóro, Ricardo Pasquini,Carlos R. Medeiros, Marco Antonio Bitencourt & Glaci L. Moura

Anexo

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Maribel Pelaez Dóro, Ricardo Pasquini,Carlos R. Medeiros, Marco Antonio

Bitencourt & Glaci L. MouraR. Adolfo Stedile, 201 – Bom Retiro

80520-540 – Curitiba - PR (41) 254-7107223-5078 / 99610450

E-mail:[email protected]

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O Câncer e Sua Representação Simbólica

Referências

Recebido 10/03/03 Aprovado 10/09/04

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