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O CAMPESINATO RUSSO NA REVOLUO E NA PS-REVOLUO1
Ida Mett
RESUMO
As seculares tradies dos camponeses, o seu apego com a coletividade, o "mir", suas
qualidades morais, a sua cultura artstica e potica, suas crenas, ingnuas e puras, eram
realmente inteis ou mesmo nocivos durante a criao da nova sociedade? Todavia, na
realidade, nem o campesinato nem a classe operria no tm realmente participado da criao
da sociedade ps-revolucionria, porque a concepo bolchevista-leninista do socialismo lhes
tirou muito cedo qualquer possibilidade de interveno democrtica corretiva. O partido
sozinho achava que sabia tudo, queria fazer tudo sozinho, subordinando a vida do pas ao
Estado onipotente. De modo que o Estado burocrtico, sem nenhum controle pblico, e o
regime sovitico, hoje em dia, so obra apenas do partido de Lnin e dos seus epgonos.
Quanto velha discusso entre o populismo e o marxismo, mais do que nunca presente, no
s para a Rssia, mas para outros pases e outros continentes. O campesinato, no s na
Rssia, mas em todo o mundo, no econmica, poltica e culturalmente uma classe til e
criativa, ou precisa subjug-la ou mesmo elimin-la, para criar uma sociedade socialista?
Eis as perguntas que, atravs da Rssia, levantam-se ao mundo inteiro.
Palavras-chave: Revoluo; Campesinato; Rssia; Ida Mett
Primeira publicao: Edies Spartacus, n 24, maio-junho 1968. Traduo e reviso: Xavier Van Welden e Fabiano Bringel. Publicado no Instituto de Teoria e Histria Anarquista (ITHA) em 30/01/2018
SUMRIO
PREFCIO... ......................................................................................................................................... 1
CINQUENTA ANOS APS A REVOLUO... ........................................................................... 1
I. DA SERVIDO REVOLUO... ...................................................................................... 3
ESBOO HISTRICO .................................................................................................................... 3
AS CONCEPES AGRRIAS DOS POPULISTAS ................................................................. 4
A OBCHTCHINA E OS MARXISTAS .......................................................................................... 8
OS MARXISTAS E O PAPEL DO CAMPESINATO ................................................................... 9
A REFORMA DE STOLYPIN ...................................................................................................... 13
II. A SITUAO ECONMICA DOS CAMPONESES AO INCIO DO SCULO XX... . 15
EVOLUO DA ECONOMIA CAMPONESA .......................................................................... 16
A EXPANSO DAS COOPERATIVAS ....................................................................................... 17
III. O CAMPESINATO NA REVOLUO DE FEVEREIRO A OUTUBRO .................. 19
OS BOLCHEVIQUES E A PARTILHA DAS TERRAS ............................................................ 21
IV. DEPOIS DA TOMADA DO PODER PELOS BOLCHEVIQUES... ................................. 24
OS COMITS DOS CAMPONESES POBRES ........................................................................... 24
O COMUNISMO DE GUERRA NO CAMPO ............................................................................. 25
OS FUNDAMENTOS SOCIALISTAS SEGUNDO LNIN ....................................................... 27
FOME GERAL E DESMPARO CAMPONS ......................................................................... 29
V. A NOVA POLTICA ECONMICA... ................................................................................ 31
APS A DESTRUIO DAS COOPERATIVAS....................................................................... 32
VI. A COLETIVIZAO FORADA... .................................................................................... 34
MEDIDAS ECONMICAS E METAS POLTICAS ................................................................. 36
DA COLETIVIZAO FOME ................................................................................................. 37
VII. A OPOSIO COLETIVIZAO... ............................................................................... 41
OPOSIO DE DIREITA E DE ESQUERDA.................................................................... 43
TROTSKY E A COLETIVIZAO ............................................................................................ 45
VIII. A ESTRUTURA DOS KOLKHOZES.................................................................................. 48
PRODUO INDIVIDUAL E PRODUO COLETIVA ........................................................ 49
IX. A ADMINISTRAO DOS KOLKHOZES... .................................................................... 52
O ESTATUTO KOLKHOZIANO DE 1935 ................................................................................. 52
X. OS CAMPONESES DURANTE A GUERRA DE 1939-1945... ......................................... 54
XI. O PS-GUERRA: AS AGROCIDADES... ...................................................................... 56
OS PLANOS DE DESLOCAMENTO FORADO SO ABANDONADOS? .......................... 57
XII. APS A MORTE DE STALIN... .......................................................................................... 59
A EXPERINCIA DAS TERRAS VIRGENS .............................................................................. 61
UMA CERTA LIBERALIZAO... ............................................................................................ 64
XIII. A SITUAO APS KHRUSHCHEV... ............................................................................. 67
XIV. E AGORA? ............................................................................................................................. 70
A NOMENCLATURA, NOVA NOBREZA? ............................................................................... 70
DOIS DEDOS DE ESPERANA? ................................................................................................ 71
PERSPECTIVAS... ......................................................................................................................... 72
ANEXO: BIOGRAFIA SUCINTA DA AUTORA .......................................................................... 74
BIOGRAFIA .................................................................................................................................... 74
O EXLIO NA FRANA E A PLATAFORMA ANARQUISTA ............................................... 74
A DENNCIA DO ESTALINISMO ............................................................................................. 75
A ATIVIDADE MDICA E DE PROPAGANDA ....................................................................... 76
Ida Mett. Fonte: https://robertgraham.wordpress.com/
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PREFCIO...
CINQUENTA ANOS APS A REVOLUO...
Meio sculo depois, no intil fazer a pergunta: por que e para quem ocorreu a
Revoluo Russa de 1917?
Com efeito, durante o longo perodo de preparao ideolgica e moral dessa
revoluo, nunca houve qualquer questionamento do poder do Estado russo como um dos
objetivos para ser alcanado. Pelo contrrio, os idelogos de todas as tendncias socialistas da
Rssia consideravam-se como adversrios da poltica de expanso e de dominao do Imprio
Russo.
No se tratava tambm de alcanar e superar os outros estados e continentes,
econmica ou militarmente. Foi, pelo contrrio, ingenuamente falando, questo do bem-estar
e da felicidade do povo. E falando do povo, se queria especialmente dizer naquele momento,
o campons, que constitua 75% da populao. Contudo o que aconteceu com este "estado-
classe" do campesinato durante este meio sculo de revoluo e de ps-revoluo?
Ser que de fato historicamente til e justificado que o campesinato russo, com a
participao ativa do qual comeou e aprofundou-se a revoluo, fosse escravizado em uma
hipottica ditadura do proletariado, que na verdade nunca existiu?
As seculares tradies dos camponeses, o seu apego com a coletividade, o "mir", suas
qualidades morais, a sua cultura artstica e potica, suas crenas, ingnuas e puras, eram
realmente inteis ou mesmo nocivos durante a criao da nova sociedade?
Todavia, na realidade, nem o campesinato nem a classe operria no tm realmente
participado da criao da sociedade ps-revolucionria, porque a concepo bolchevista-
leninista do socialismo lhes tirou muito cedo qualquer possibilidade de interveno
democrtica corretiva. O partido sozinho achava que sabia tudo, queria fazer tudo sozinho,
subordinando a vida do pas ao Estado onipotente. De modo que o Estado burocrtico, sem
nenhum controle pblico, e o regime sovitico, hoje em dia, so obra apenas do partido de
Lnin e dos seus epgonos.
Quanto velha discusso entre o populismo e o marxismo, mais do que nunca
presente, no s para a Rssia, mas para outros pases e outros continentes.
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O campesinato, no s na Rssia, mas em todo o mundo, no econmica, poltica e
culturalmente uma classe til e criativa, ou precisa subjug-la ou mesmo elimin-la, para criar
uma sociedade socialista?
Eis as perguntas que, atravs da Rssia, levantam-se ao mundo inteiro.
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I. DA SERVIDO REVOLUO...
ESBOO HISTRICO
Para entender melhor a histria recente do campesinato russo, til fazer uma pequena
i