O CAMINHO

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O Caminho da Bem-Aventurança eterna (Sl 1.1-6) Parte 1 Meu amigo, hoje tens a escolha: Vida ou morte, quais vais aceitar? Amanhã pode ser muito tarde, Hoje Cristo te quer libertar. 1 Introdução Uma pergunta que se fosse feita a pessoas diferentes saberíamos previamente a resposta, é: “Você deseja ser feliz?”. A resposta certamente seria sim. A questão teria um leque maior de respostas, se perguntássemos: “Para você o que é a felicidade?” ou: “O que significa ser feliz?”. Considerando o ingrediente emocional, possivelmente um elemento característico nas respostas seria o de ter algo como a satisfação de alguns sonhos e desejos. O fato é que todos desejam ser felizes. 2 Agostinho (354-430) discorreu sobre isso com humor e maestria falando de nosso desejo pela felicidade e, ao mesmo tempo, das respostas incoerentes e contradizentes. 3 Todas na verdade desejam a felicidade, mas a maioria desconhece a maneira de a obter (...). De fato, ser feliz é um bem tão grande que o desejam bons e maus. Não é de admirar que para serem felizes os bons sejam bons; mas é espantoso que por isso os maus sejam maus. 4 1 Coro do hino de João Diener (1889-1963), A última hora. Hinário Novo Cântico, nº 213. 2 “Todo homem deseja a felicidade. Por isso o salmo primeiro descreve quem realmente é feliz” (Eusébio. Apud Luís Alonso Schökel; Cecília Carniti, Salmos I: salmos 1-72, São Paulo: Paulus, 1996, p. 124). Vejam-se: Armand M. Nicholi Jr., Deus em questão: C.S. Lewis e Sigmund Freud debatem Deus, amor, sexo e o sentido da vida, Viçosa, MG.: Ultimato, 2005, p. 109; D. Martyn Lloyd-Jones, A Verdadeira Felicidade: Salmos 1 e 107, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2010, p. 11-14. Para uma discussão do significado da expressão à luz das figuras empregadas no próprio Salmo, veja-se: Mark D. Futato, Interpretação dos Salmos, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 51ss. 3 Veja-se: Agostinho, A Trindade, São Paulo: Paulus, 1994, XIII.3.6ss. 4 Agostinho, Comentário aos Salmos, São Paulo: Paulus, 1998, Vol. 3, (Sl 118), p. 369,370.

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O caminho

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  • O Caminho da Bem-Aventurana eterna (Sl 1.1-6)

    Parte 1

    Meu amigo, hoje tens a escolha: Vida ou morte, quais vais aceitar? Amanh pode ser muito tarde,

    Hoje Cristo te quer libertar.1

    Introduo

    Uma pergunta que se fosse feita a pessoas diferentes saberamos previamente a resposta, : Voc deseja ser feliz?. A resposta certamente seria sim. A questo teria um leque maior de respostas, se perguntssemos: Para voc o que a felicidade? ou: O que significa ser feliz?. Considerando o ingrediente emocional, possivelmente um elemento caracterstico nas respostas seria o de ter algo como a

    satisfao de alguns sonhos e desejos. O fato que todos desejam ser felizes.2

    Agostinho (354-430) discorreu sobre isso com humor e maestria falando de nosso desejo pela felicidade e, ao mesmo tempo, das respostas incoerentes e

    contradizentes.3

    Todas na verdade desejam a felicidade, mas a maioria desconhece a maneira de a obter (...). De fato, ser feliz um bem to grande que o desejam bons e maus. No de admirar que para serem felizes os bons

    sejam bons; mas espantoso que por isso os maus sejam maus.4

    1 Coro do hino de Joo Diener (1889-1963), A ltima hora. Hinrio Novo Cntico, n 213.

    2Todo homem deseja a felicidade. Por isso o salmo primeiro descreve quem realmente feliz (Eusbio. Apud Lus Alonso Schkel; Ceclia Carniti, Salmos I: salmos 1-72, So Paulo: Paulus, 1996, p. 124). Vejam-se: Armand M. Nicholi Jr., Deus em questo: C.S. Lewis e Sigmund Freud debatem Deus, amor, sexo e o sentido da vida, Viosa, MG.: Ultimato, 2005, p. 109; D. Martyn Lloyd-Jones, A Verdadeira Felicidade: Salmos 1 e 107, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 2010, p. 11-14. Para uma discusso do significado da expresso luz das figuras empregadas no prprio Salmo, veja-se: Mark D. Futato, Interpretao dos Salmos, So Paulo: Cultura Crist, 2011, p. 51ss. 3 Veja-se: Agostinho, A Trindade, So Paulo: Paulus, 1994, XIII.3.6ss.

    4 Agostinho, Comentrio aos Salmos, So Paulo: Paulus, 1998, Vol. 3, (Sl 118), p. 369,370.

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    Calvino (1509-1564) comenta que

    ...enquanto todos os homens naturalmente desejam e correm aps a felicidade, vemos quo quanta determinao se entregam a seus pecados; sim, todos aqueles que se afastam ao mximo da justia, procurando satisfazer suas imundas concupiscncias, se julgam felizes em virtude de

    alcanarem os desejos de seu corao.5

    H uma nota a mais aqui. Os seres humanos desejam a felicidade porque no a tm; no a encontraram. O desejo assinala a nossa carncia e limitao. Mas, se isso assim, ouso dizer que fomos criados por Deus para sermos felizes nele. O pecado trouxe um desvirtuamento completo em nossa relao com o nosso Senhor e, consequentemente, uma total perda de perspectiva da vida, de seus valores e relaes; estamos separados, distantes de Deus. Todavia, h em ns uma espcie de nostalgia da felicidade usufruda pelas nossos primeiros Pais e plantada em nosso corao na Criao. Queremos ser felizes. Este , at certo ponto, um justo desejo. Supe-se que este salmo foi escrito depois dos outros 149 ou foi apenas arranjado deste modo para servir de introduo a eles, evidenciando os dois

    caminhos resultantes da escolha do homem.6 um "prefcio"

    7 aos demais,

    estabelecendo j de incio a agenda do adorador: a adorao comea pela

    obedincia.8

    Valho-me de uma figura de Jernimo (c. 347-419) usada no incio de suas

    5 Joo Calvino, O Livro dos Salmos, So Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1 (Sl 1.1), p. 51.

    6 Cf. Joo Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1 (Sl 1.1), p. 49; Lus Alonso Schkel; Ceclia Carniti,

    Salmos I: salmos 1-72, So Paulo: Paulus, 1996, p. 123; Derek Kidner, Salmos 1-72: introduo e comentrio, So Paulo: Mundo Cristo/Vida Nova, 1980, Vol. 1, (Sl 1.1), p. 62; Eugene H. Merrill, Teologia do Antigo Testamento, So Paulo: Shedd Publicaes, 2009, p. 560; D. Martyn Lloyd-Jones, A Verdadeira Felicidade: Salmos 1 e 107, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 2010, p. 9; Artur Weiser, Os Salmos, So Paulo: Paulus, 1994, p. 69; W.S. Plumer, Psalms, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1867, 1975 (Reprinted), p. 27; H.C. Leupold, The Exposition of The Psalms, 6 ed. Grand Rapids, MI.: Baker Book House, 1979, p. 31. Para uma boa discusso a respeito, ainda que no conclusiva, sugerindo a unicidade primitiva dos dois primeiros salmos, vejam-se: Peter C. Craigie, Psalms 1-50, 2. ed. Waco: Thomas Nelson, Inc. (Word Biblical Commentary, Vol. 19), 2004, (Sl 1), p. 58-60; Willem A. VanGemeren, Psalms. In: Frank E. Gaebelein, ed. ger., The Expositors Bible Commentary, Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1991, Vol. 5, (Sl 1), p. 53; e, especialmente: Bruce K. Waltke; James M. Houston; Erica Moore, The Psalms as Christian Worship: A Historical Commentary, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, 2010, (Sl 1.2), p. 145ss. 7 Conforme expresso de Spurgeon (C.H. Spurgeon, El Tesoro de David, Barcelona: CLIE., (1989),

    Vol. 1, p. 13. Do mesmo modo: Walter Brueggemann, The Psalms the life of Faith, Minneapolis: Fortress Press, 1995, p. 190. 8 Cf. Walter Brueggemann, The Message of the Psalms: a theological commentary, Minneapolis:

    Augsburg Publishing House, 1984, p. 38-39; Walter Brueggemann, The Psalms the life of Faith, Minneapolis: Fortress Press, 1995, p. 190ss.

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    homilias sobre os Salmos: o Saltrio como uma manso que tem apenas uma chave

    para a entrada principal.9 Continua referindo-se ao Salmo 1: "A principal entrada

    manso do Saltrio".10

    O salmista inicia o Salmo falando sobre o homem bem-aventurado, estabelecendo uma distino entre os piedosos e pecadores. O primeiro salmo encontra-se no prtico da coleo dos salmos como um guia que em linhas claras indica a

    direo da vida.11

    Temos aqui, portanto, uma reflexo sobre as escolhas humanas e

    as suas consequncias. Ou, positivamente: O Livro dos Salmos um manual de

    instrues para viver uma vida verdadeiramente feliz.12

    Os homens buscam a

    felicidade por meio de seus expedientes terrenos ou mesmos transcendentes, contudo, sempre partindo daqui de baixo. Deus prope em sua Palavra o caminho da felicidade; a sua origem est em cima, o caminho comea pelo eterno passando pela tempo. Deus sabe o que desejamos, sabe o melhor para ns e, ao mesmo tempo, apresenta-nos o caminho para alcanar o que ele tem para ns. A felicidade nos proposta por Deus no de forma automtica, mas pelo caminho da obedincia

    aos Seus preceitos.13

    O divisor de guas sempre ter uma linha. As consequncias

    podem no ser vistas ali, contudo, elas aparecero.14

    Vamos estudar este salmo procurando entender biblicamente o caminho da

    felicidade e o seu significado. A palavra traduzida por bem-aventurado (rv,a,) ('esher) (1) , em geral, uma exclamao que quer dizer: quo feliz , "verdadeiramente feliz", "verdadeiramente

    abenoado". Para os gregos a ideia de bem-aventurana (maka/rioj) estava

    geralmente associada a algum bem terreno: sade, bem-estar, filhos e riquezas,

    9 Jerome, The Homilies of Saint Jerome, 2. ed. Washington, DC.: The Catholic University of America

    Press (The Fathers of the Church, Vol. 48), 1981, Vol. 1, p. 3. 10

    Jerome, The Homilies of Saint Jerome, 2. ed. Washington, DC.: The Catholic University of America

    Press (The Fathers of the Church, Vol. 48), 1981, Vol. 1, p. 3. 11

    Artur Weiser, Os Salmos, So Paulo: Paulus, 1994, p. 69. O salmo usa a forma potica do

    paralelismo para criar um apogeu. A primeira coisa que dita sobre essa pessoa abenoada que ela no anda no conselho dos mpios. Ela surda aos conselhos dos pagos, que nos induzem a participar dos caprichos deste mundo (R.C. Sproul, Oh! Como amo a tua lei. In: Don Kistler, org. Crer e Observar: o cristo e a obedincia, So Paulo: Cultura Crist, 2009, p. 12). Veja-se: Mark D. Futato, Interpretao dos Salmos, So Paulo: Cultura Crist, 2011, p. 47-48. 12

    Mark D. Futato, Interpretao dos Salmos, So Paulo: Cultura Crist, 2011, p. 54. 13

    Veja-se: Peter C. Craigie, Psalms 1-50, 2. ed. Waco: Thomas Nelson, Inc. (Word Biblical

    Commentary, Vol. 19), 2004, (Sl 1), p. 60. 14

    Veja-se a oportuna figura empregada por Schaeffer concernente aos Alpes Suos (Francis A.

    Schaeffer, O Grande Desastre Evanglico: In: Francis A. Schaeffer, A Igreja no Sculo 21, So Paulo: Cultura Crist, 2010, p. 269ss.).

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    ainda que no exclusivamente, podendo se referir ao conhecimento e paz

    interior.15

    A palavra grega carrega consigo o sentido de beleza e harmonia.16

    O Antigo Testamento, por sua vez, contm muitas advertncias contra o julgamento puramente externo; de forma que a verdadeira bem-aventurana, de

    modo especial nos Salmos, est associada confiana em Deus (Sl 40.4; 84.12);17

    refugiar-se em Deus (Sl 2.12; 34.8);18

    ser disciplinado e educado por Deus (Sl 94.12;

    J 5.17);19

    andar na Lei do Senhor (Sl 119.1-2);20 ter a Deus por auxlio, esperana

    (Sl 146.5)21 e Senhor (Sl 33.12; 144.15);

    22 ser escolhido de Deus (Sl 65.4);

    23 ter os

    pecados perdoados (Sl 32.1);24

    temer a Deus e andar nos seus caminhos (Sl

    128.1);25

    socorrer o necessitado (Sl 41.1).26

    Analisaremos agora o significado da bem-aventurana no Salmo 1:

    1. Negativamente considerando

    "Bem-aventurado o homem que no anda no conselho dos mpios, no se detm no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores (Sl 1.1).

    15

    Cf. U. Becker, Bno: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionrio Internacional de Teologia do

    Novo Testamento, So Paulo: Vida Nova, 1981-1983, Vol. 1, p. 297. 16

    Veja-se: William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1973, Vol. 1,

    (Mt 5.3), p. 97-98. 17

    Bem-aventurado o homem que pe no SENHOR a sua confiana e no pende para os arrogantes, nem para os afeioados mentira (Sl 40.4). SENHOR dos Exrcitos, feliz o homem que em ti confia (Sl 84.12). 18

    .... Bem-aventurados todos os que nele se refugiam (Sl 2.12). Oh! Provai e vede que o SENHOR

    bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia (Sl 34.8). 19

    Bem-aventurado o homem, SENHOR, a quem tu repreendes, a quem ensinas a tua lei (Sl 94.12). 20

    Bem-aventurados os irrepreensveis no seu caminho, que andam na lei do SENHOR. Bem-aventurados os que guardam as suas prescries e o buscam de todo o corao (Sl 119.1-2). 21

    Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jac por seu auxlio, cuja esperana est no SENHOR, seu Deus (Sl 146.5). 22

    Feliz a nao cujo Deus o SENHOR, e o povo que ele escolheu para sua herana (Sl 33.12); Bem-aventurado o povo a quem assim sucede! Sim, bem-aventurado o povo cujo Deus o SENHOR (Sl 144.15). 23

    Bem-aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para que assista nos teus trios; ficaremos satisfeitos com a bondade de tua casa o teu santo templo (Sl 65.4). 24

    Bem-aventurado aquele cuja iniqidade perdoada, cujo pecado coberto (Sl 32.1). 25

    Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos! (Sl 128.1). Seguir

    fielmente o caminho do Senhor nos torna irrepreensveis (Sl 119.1). 26

    "Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o SENHOR o livra no dia do mal" (Sl 41.1).

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    No primeiro verso encontramos uma trplice associao de trs palavras: Andar, deter e assentar; conselho, caminho e roda; mpios, pecadores e escarnecedores. O pecado comea pelo andar, satisfazendo os seus apetites pecaminosos; posteriormente, se detm nesta prtica com um corao empedernido e insensvel at que chegue a uma total obstinao, uma cristalizao do primeiro comportamento, que consiste no assentar-se. Neste ltimo estgio ele j no apenas um curioso, antes, sente-se vontade; encontra-se em ambiente bastante

    familiar; ele se assentou.27

    Temos aqui uma descrio tipolgica do caminho da

    impiedade, no necessariamente, uma caminhada obrigatria. A Escritura costumeiramente chama a ateno para o fim, as consequncias de nossas

    escolhas.28

    A progresso do comportamento descrito passa pela recepo do conselho (hc'[e) (etsh) (caminho, conclio, desgnio) do mpio, que j o influencia;

    29 sendo oposto

    ao conselho de Deus (Sl 107.11/Pv 1.25,30); a perversidade que ainda no se

    exteriorizou abertamente, depois vai pelo caminho, o modo habitual de viver,

    chegando roda, obstinao produzida pelo hbito de uma vida pecaminosa.30

    Esse homem, que se familiarizou com os conselhos dos mpios; passa ento a se deter com uma curiosidade mais intensa no caminho dos pecadores, e, por fim, assenta-se na roda dos escarnecedores.31 O escarnecedor, por se julgar autossuficiente, arrogante (Pv 21.24; Sl 119.51), rejeitando o conhecimento e a repreenso (Pv 1.22; 9.7,8; 13.1; 15.12), zomba do pecado e do juzo (Pv 14.9; 19.28). Por isso tudo que ele deve ser evitado (Sl 1.1). Homens assim se alimentam de seus prprios gracejos, que nada edificam, antes, corrompem os bons costumes (1Co 15.33). A sua palavra tende a ser desagregadora e promotora de dissenso (Pv 22.10/Pv 29.8). Ele age conforme lhe prprio, derramando em suas ironias o que tem de mais amargo em seu interior. Aqui h um agravamento de sua situao pecaminosa; ele passa a zombar das coisas santas.

    As trs frases completas mostram trs aspectos, e, realmente, trs graus,

    27

    Veja-se: C.H. Spurgeon (C.H. Spurgeon, El Tesoro de David, Barcelona: CLIE., (1989), Vol. 1, p.

    14). 28

    Vejam-se: James M. Boice, Psalms: an expositional commentary, Grand Rapids, MI.: Baker Book

    House, 1994, Vol. 1, (Sl 1), p. 16ss; D. Martyn Lloyd-Jones, A Verdadeira Felicidade: Salmos 1 e 107, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 2010, p. 75ss. 29

    Vejam-se: J 21.16; 22.18. 30

    Joo Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1 (Sl 1.1), p. 51-52. 31

    O adjetivo designa o homem que despreza com superioridade, burla com segurana, no respeita nem valores nem pessoas (Lus Alonso Schkel; Ceclia Carniti, Salmos I: salmos 1-72, So Paulo: Paulus, 1996, p. 119).

  • 6

    de separao de Deus, ao retratarem a conformidade a este mundo em trs nveis diferentes: a aceitao dos seus conselhos, a participao dos

    seus costumes, e a adoo da sua atitude mais fatal.32

    Repare que o ponto inicial desse comportamento aparentemente nada tinha de grave; poderia soar at como mera curiosidade, a fim de ampliar a sua viso, ou, quem sabe, poder provar de todas as coisas e se valer do que bom; contudo, o fim dele foi a assimilao de um comportamento totalmente estranho a Deus e sua Palavra. necessrio, portanto, fugir dos maus exemplos e dos maus conselhos; eles nos induzem progressivamente acomodao e justificao do erro em nossa vida. A racionalizao pode ser algo extremamente danoso e reforador de um comportamento pecaminoso, em rebeldia disciplina.

    O justo no modela sua conduta pelo conselho de pessoas ms. E mais, os justos no se demoram na companhia de mpios persistentes; muito menos ficam permanentemente entre os cnicos que zombam de Deus

    abertamente.33

    Parece que, quando estamos bem socializados em um grupo que pratica atos pecaminosos, o pecado deixa de ser pecado ou, pelo menos no se manifestar

    como tal (ver: Pv 1.11,15).34

    Temos a sensao de que a roda dos escarnecedores se constitui no padro de verdade. H no homem natural um desejo muitas vezes

    insano de pertencer maioria.35

    Deste modo, tendo a sensao de que somos

    maioria, podemos acalmar temporariamente nossa conscincia com argumentos muito bem aceitos por uma mente cativa de determinados valores, e mais: podemos progredir com aparente segurana, oriunda do senso comum de que este caminho promissor, afinal, ali mesmo no meu grupo tenho exemplos altamente positivos, reforados por discursos enaltecedores de tais pessoas e prticas. O mpio no tem

    dvida; confia inteiramente em sua posio.36

    A maneira como ele afirma isso

    bastante persuasiva. Da, em parte, a "fora" de seu argumento. Como dizia, em forma de pilhria, um adgio antigo: quando o argumento for fraco, grite.

    32

    Derek Kidner, Salmos 1-72: introduo e comentrio, So Paulo: Mundo Cristo/Vida Nova, 1980,

    Vol. 1, (Sl 1.1), p. 63. 33

    John Stott, Salmos Favoritos: Selecionados e comentados por John Stott, So Paulo: Abba Press,

    1997, p. 8. 34

    "Filho meu, se os pecadores querem seduzir-te, no o consintas.Se disserem: Vem ($l;y") (yalak) conosco, embosquemo-nos para derramar sangue, espreitemos, ainda que sem motivo, os inocentes; (...)

    Filho meu, no te ponhas a caminho (%l;h') (halak) com eles; guarda das suas veredas os ps;

    porque os seus ps correm para o mal e se apressam a derramar sangue (Pv 1.10,11,15,16). 35

    Cf. Jonathan Gerstner, Legalismo e antinomianismo? duas rotas mortais fora do caminho estreito.

    In: Don Kistler, org. Crer e Observar: o cristo e a obedincia, So Paulo: Cultura Crist, 2009, p. 85. 36

    Veja-se: D. Martyn Lloyd-Jones, A Verdadeira Felicidade: Salmos 1 e 107, So Paulo: Publicaes

    Evanglicas Selecionadas, 2010, p. 23-24.

  • 7

    2. Positivamente considerando

    Bem-aventurado o homem que no anda no conselho dos mpios, no se detm no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. 2 Antes, o seu prazer est na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite (Sl 1.1-2).

    O salmista estabelece o princpio orientador da agenda do mpio e da agenda do santo. O contraste feito entre o conselho dos mpios e a Lei do Senhor (1-2). Aqui temos algo fundamental: o que molda o pensamento do homem condiciona a

    sua vida!37

    Agimos conforme cremos e pensamos. Portanto, a batalha espiritual est na escolha que o homem dever necessariamente fazer entre o conselho dos mpios e a Lei do Senhor. Enquanto os incrdulos seguem o conselho dos mpios, os fieis se instruem na

    Lei do Senhor, sendo utilizado aqui o nome mais elevado de Deus (hwhy >); Aquele que auto-existente, Todo-Poderoso e eterno. Da a exclamao do salmista: .... Bem-aventurado o povo cujo Deus o Senhor (wyh'(l{a/ hw"hy]v,) (Sl 144.15).

    A. Prazer na Lei do Senhor

    Antes, o seu prazer est na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite (Sl 1.2).

    A Lei do Senhor refere-se a toda Escritura (contextualmente, a todo o Antigo

    Testamento), no simplesmente Lei de Moiss.38

    Em outro lugar, o salmista diz:

    Com efeito, os teus testemunhos so o meu prazer (#pex') (thaphets), so os meus conselheiros (hc'[e) (eah) (Sl 119.24). O homem que se compraz na lei do Senhor bem-aventurado. Parte da bem-aventurana j o deleite na Palavra de Deus: Aleluia! Bem-aventurado o homem que teme ao SENHOR e se compraz (#pex') (thaphets) nos seus mandamentos (Sl 112.1). Por mais prazeroso que seja o estudo da Palavra, o maravilhar-se com a majestade de Deus revelada e a sua instruo, nem sempre temos o discernimento

    37

    Cf. Derek Kidner, Salmos 1-72: introduo e comentrio, So Paulo: Mundo Cristo/Vida Nova,

    1980, Vol. 1, (Sl 1.2), p. 63. 38

    Entre outros, vejam-se: Willem A. VanGemeren, Psalms. In: Frank E. Gaebelein, ed. ger., The

    Expositors Bible Commentary, Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1991, Vol. 5, (Sl 1), p. 54-55; John Stott, Salmos Favoritos, So Paulo: Abba Press, 1997, p. 8. Compare com Bruce K. Waltke; James M. Houston; Erica Moore, The Psalms as Christian Worship: A Historical Commentary, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, 2010, (Sl 1.2), p. 136 e Mark D. Futato, Interpretao dos Salmos, So Paulo: Cultura Crist, 2011, p. 48-50.

  • 8

    correto na aplicao dessa lei absoluta s nossas circunstncias, cheias de ambiguidades, da a orao do salmista: Guia-me pela vereda dos teus mandamentos, pois nela me comprazo (#pex') (thaphets) (Sl 119.35). preciso que cultivemos o hbito de ler a Palavra e descobrir, dentro de um processo de aprendizado, o prazer em cumpri-la: Agrada-me (#pex') (thaphets) fazer a tua vontade, Deus meu; dentro do meu corao, est a tua lei (Sl 40.8). O Salmista descreve a sua experincia; como a sua familiaridade prazerosa com a Palavra de Deus o preservou num momento de grande angstia: "No fosse a tua lei ter sido o meu prazer (#pex') (thapets), h muito j teria eu perecido na minha angstia (Sl 119.92). Na angstia, muitos dos mitos de nosso pensamento e de nossa imaginao desaparecem. Percebemos ento, para nossa tristeza, que muito do que cramos e propalvamos nada tem a dizer de relevante e significativo naquelas circunstncias; eram pensamentos vos, vazios de contedo e, por isso mesmo, irrelevantes. Descobrimos, ento, a grandeza e praticidade da Palavra; no conselho dela encontramos a disciplina educativa de Deus, as suas promessas passam a fazer sentido para ns; como se um novo mundo se descortinasse nossa frente. Pela Palavra no perecemos na angstia, antes, samos fortalecidos em nossa f, mais confiantes no Deus da Palavra e em suas promessas. O prazer na Palavra faz com que direcionemos nossos pensamentos e coraes para ela. Ao invs de alimentarmos mgoas, ressentimentos e desejos de vingana, buscamos na Palavra, que o nosso prazer, o suprimento para as nossas necessidades e a orientao em nossas decises. Quando descobrimos o prazer na Palavra de Deus, passamos mais tempo lendo e refletindo sobre os seus ensinamentos. Da o salmista dizer, como vimos, que os testemunhos de Deus so os meus conselheiros (hc'[e) (etsh) (Sl 119.24). Enquanto o homem sem discernimento busca conselho nos mpios, culminando por se assentar na companhia dos escarnecedores (Sl 1.1) possivelmente para convalidar seus interesses e inclinaes , o homem bem-aventurado busca conselho nos mandamentos de Deus (Sl 119.24). Os conselhos de Deus tm sentido para o tempo, em todas as circunstncias prprias de nossa finitude, e para nos conduzir em segurana eternidade, quando o Esprito ser tudo em todos: Tu me guias com o teu conselho (hc'[e) (etsh) e depois me recebes na glria (Sl 73.24). A Palavra de Deus um guia seguro para o cu! Isto nos conduz outra verdade elencada pelo salmista a respeito da prtica do homem que bem-aventurado.

  • 9

    B. Medita na Lei de dia e de noite

    Todos ns meditamos e somos moldados pelo objeto de nossa

    meditao Randy Alcorn.39

    Antes, o seu prazer est na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de

    noite (Sl 1.2). Enquanto o mpio persegue freneticamente o conselho e caminho dos mpios, o fiel, que tem na Palavra o seu prazer, ocupa a sua mente com a Lei do Senhor; de dia e de noite. A nfase no objeto da meditao (a Lei) e a sua constncia. A meditao centrada em Deus e sua Palavra; no uma mera meditao

    introspectiva ou transcendental, mas, centrada em Deus e dirigida por Deus.40

    Portanto, todo momento e cada circunstncia oportuno para tomar a Palavra como alvo de nossas cogitaes. Curiosamente, no Salmo 2.1, o verbo imaginar (hg'h') (hgh) o mesmo de meditar, no Salmo 1.2. O verbo que usado de forma negativa e positiva na Escritura, tem o sentido de murmurar, gemer, meditar, planejar, imaginar. possvel que a Palavra fosse murmurada, lida a meia voz

    durante a sua contnua meditao.41

    Este meditar tinha o objetivo de, por meio da

    aprendizagem dos mandamentos de Deus,42

    adequar a sua vida aos ensinamentos

    ali contidos; no apenas um exerccio intelectual e sensorial (Js 1.8). A questo ento, est no que ocupa a nossa mente: em meditar na Palavra ou em imaginar cousas vs?. Quando a nossa imaginao navega sem rumo pode se alimentar de coisas fteis, tornando-se instrumento de destruio como, por exemplo, para maquinar planos de vingana e calnia. A nossa imaginao mal

    39

    Randy Alcorn, Decises dirias cumulativas, coragem em uma causa e uma vida de perseverana:

    In: John Piper; Justin Taylor, eds. Firmes: uma chamado perseverana dos santos. So Jos dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2010, p. 99. 40

    Veja-se: Bruce K. Waltke; James M. Houston; Erica Moore, The Psalms as Christian Worship: A

    Historical Commentary, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, 2010, (Sl 1.2), p. 139. 41

    Vejam-se: Mark D. Futato, Interpretao dos Salmos, So Paulo: Cultura Crist, 2011, p. 55-56;

    Hebert Wolf, Hag: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionrio Internacional de Teologia do Antigo Testamento, So Paulo: Vida Nova, 1998, p. 337; Willem A. VanGemeren, Psalms. In: Frank E. Gaebelein, ed. ger., The Expositors Bible Commentary, Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1991, Vol. 5, (Sl 1), p. 55; M.V. Van Pelt; W.C. Kaiser, Jr., Hgh: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionrio Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, So Paulo: Cultura Crist, 2011, Vol. I, p. 981-982; Helmer Ringgren; A. Negoit, Haghah: In: G. Johannes Botterweck; Helmer Ringgren; Heinz-Josef Fabry, eds., Theological Dictionary of the Old Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdamans, 1978, Vol. 3, p. 321-324. 42

    A aprendizagem o processo mediante o qual a experincia passada do amor de Deus traduzida, pelos aprendizes, em obedincia Tor de Deus (D. Mller, Discpulo: In: Colin Brown, ed. ger. Novo Dicionrio Internacional de Teologia do Novo Testamento, So Paulo: Vida Nova, 1981-1983, Vol. I, p. 662).

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    utilizada poder criar estruturas mentais que se constituem em pressupostos concretos para o novo elaborar intelectual, conduzindo-nos a um comportamento totalmente distante da realidade, cujo fundamento est em nossa imaginao pecaminosa que se alimentou de si mesma, construindo um mundo fictcio e, pior, destrutivo. Essa petio de princpio imaginativa certamente acarretar muita dor e ansiedade e, pior, sem nenhum fundamento concreto. Salomo nos instrui quanto ao perigo de invejar o mpio e desejar conviver com ele. Esse homem contagiante em suas maquinaes para a violncia, as quais so verbalizadas para persuadir: No tenhas inveja dos homens malignos, nem queiras estar com eles, 2 porque o seu corao maquina (hg'h') (hgh) violncia, e os seus lbios falam para o mal (Pv 24.1-2). Davi, descrevendo seus inimigos, que se aproveitam de sua fragilidade circunstancial, escreve: Armam ciladas contra mim os que tramam tirar-me a vida; os que me procuram fazer o mal dizem coisas perniciosas e imaginam (hg'h') (hgh) engano todo o dia (Sl 38.12). A imaginao pode ser extremamente produtiva e til, quando a colocamos disposio do servio de Deus, na realizao de projetos condizentes com a Palavra. Isto vlido para qualquer atividade, quer seja na arte, na viso missionria, quer prxima, quer distante, na elaborao de um livro, no planejamento de nosso ms, na preparao de uma festa, etc. Podemos usar nossa imaginao para visualizar o que pretendemos fazer e nos alegrar na consecuo desses projetos. O apstolo Paulo um exemplo positivo disso. Ele desejava muito visitar os crentes romanos; orava por aqueles irmos. Enquanto isso, imaginava que, quando estivesse com eles, levaria uma mensagem instrutiva e um compartilhar da f edificante e confortador. Por volta do ano 57 A.D., estando em Corinto, escreve:

    Porque Deus, a quem sirvo em meu esprito, no evangelho de seu Filho, minha testemunha de como incessantemente fao meno de vs em todas as minhas oraes, suplicando que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me oferea boa ocasio de visitar-vos. Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que sejais confirmados, isto , para que, em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por intermdio da f mtua, vossa e minha. (Rm 1.9-12)

    Nesta ocasio Paulo acredita ter uma boa oportunidade de visitar Roma. Contudo, antes, deveria passar pela Judeia, para levar as ofertas para os santos dali. Sua trajetria seria arriscada, visto ter muitos inimigos na regio. Ele ento pede aos crentes romanos:

    Rogo-vos, pois, irmos, por nosso Senhor Jesus Cristo e tambm pelo amor do Esprito, que luteis juntamente comigo nas oraes a Deus a meu favor, para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judeia, e

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    que este meu servio em Jerusalm seja bem aceito pelos santos; a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue vossa presena com alegria e possa recrear-me convosco (Rm 15.30-32).

    A nossa imaginao meditativa tende a moldar o nosso comportamento,43

    reforando propsitos, enchendo-nos de uma alegre perspectiva de concretizao do que cremos ser til e edificante. Deus diz a Josu, diante do desafio de conduzir o povo na terra prometida: No cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita (hg'h') (hgh) nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele est escrito; ento, fars prosperar o teu caminho e sers bem-sucedido (Js 1.8).

    O meditar na Palavra e nos feitos de Deus uma prtica abenoadora pelo fato de ocupar nossas mentes e coraes com o que realmente importa; estimula a

    nossa gratido e perseverana em meio s angstias.44

    Isto nos traz grande alvio. Davi, no deserto, confortava-se meditando nos feitos de Deus: No meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito (hg'h') (hgh), durante a viglia da noite. Porque tu me tens sido auxlio; sombra das tuas asas, eu canto jubiloso (Sl 63.6-7/Sl 77.11-12; 143.5) Meditar na Palavra tem o sentido de consider-la em nossas decises, refletir sobre os seus ensinamentos. A meditao deve modelar, corrigir e confirmar o nosso comportamento. A meditao aqui uma exortao assimilao existencial da Palavra, a fim de que esta se evidencie em nossa prtica.

    A meditao a considerao frequente, atenta e devota das obras, das palavras e dos benefcios de Deus, e de como tudo provm de Deus (que opera ou permite) e de como, por caminhos maravilhosos, todos os

    desgnios da vontade divina so exatamente realizados.45

    A palavra meditar, em sua origem latina, significa, entre outras coisas, preparar para a ao. Desta forma, a meditao, como indicamos, no tem um fim em si

    mesma, mas, sim, visa a conduzir o nosso agir e o nosso realizar.46

    43

    O corao do justo medita (hg'h') (hgh) o que h de responder, mas a boca dos perversos transborda maldades (Pv 15.28). 44

    Quando formos premidos pela adversidade, ou envolvidos em profundas aflies, meditemos nas promessas de Deus, nas quais a esperana de salvao nos demonstrada, de modo que, usando este escudo como nossa defesa, rompamos todas as tentaes que nos assaltam (Joo Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 4), p. 89). 45

    Joo Ams Comnio, Didctica Magna, 3. ed. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, (1985),

    XXIV.7. p. 355. 46

    Packer assim define: Meditao o ato de trazer mente as vrias coisas que se conhecem sobre as atividades, os modos, os propsitos e as promessas de Deus; pensar em tudo isso, refletir sobre essas

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    A prtica do meditar na Palavra nos confere maior discernimento, estimula ao prazer de obedecer a Deus e partilhar seus ensinamentos. Vejam os testemunhos inspirados descritos por servos de Deus: "Quanto amo a tua lei! a minha meditao (hx'yf) (Sihh) (considerar, perscrutar, cogitar) todo o dia (Sl 119.97). Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito (hx'yf) (Sihh) nos teus testemunhos (Sl 119.99). O Salmista, narrando a sua prtica prazerosa, diz: "Meditarei (x;yfi) (Siha) nos teus preceitos, e s tuas veredas terei respeito (Sl 119.15/Sl 119.27,48,78,148). O nosso meditar na Palavra tem implicaes direta em nossa santificao,47 visto que se constitui em um estmulo constante, por graa de Deus, a que cumpramos os seus mandamentos. Ao mesmo tempo, como adverte Calvino, a Palavra nos previne contra as armadilhas diablicas que visam a nos afastar de Deus:

    Visto que Satans est diariamente fazendo novos assaltos contra ns, necessrio que recorramos s armas, e mediante a lei divina que somos munidos com a armadura que nos capacita a resistir. Portanto, quem quer que deseje perseverar em retido e integridade de vida, ento que aprenda a exercitar-se diariamente no estudo da Palavra de Deus; pois, sempre que algum despreze ou negligencie a instruo, o mesmo cai facilmente em displicncia e estupidez, e todo o temor de Deus se

    desvanece em sua mente.48

    Portanto, o homem bem-aventurado aquele que se agrada em meditar na Palavra, dando ateno aos mandamentos de Deus, a fim de poder cumpri-los, tornando-os o modelo de sua agenda de pensamento e pratica.

    coisas e aplic-las prpria vida (J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, So Paulo: Mundo Cristo, 1980, p. 15). 47

    No podemos fazer progresso na santidade a menos que empreguemos mais tempo lendo e ouvindo a Palavra de Deus, e meditando sobre ela; pois ela que a verdade pela qual somos santificados (Charles Hodge, O Caminho da Vida, New York: Sociedade Americana de Tractados, (s.d.), p . 294). 48

    Joo Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 18.22), p. 383.