O “bios midiático” nosso de cada dia.

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O“bios midiático” nosso de cada dia. A transformação dos últimos quase 20 anos fez com que hoje tenhamos uma conexão inseparável com dispositivos eletrônicos (celular, tablet, etc). Não há como sair de casa sem levar consigo um deles. Caso esqueça, surgirá um problema. Estamos tão acostumados que já nem sabemos mais o número de telefone de (boa parte) dos amigos e familiares. Quando alguém perde o telefone, logo comunica o fato no Facebook e Twitter. Depois pede que todos enviem seus números novamente por inbox ou DM. Não usamos mais a agenda telefônica de papel. Além disso, não nos preocupamos em anotar compromissos. Afinal o Google Agenda vai fazer algum alarme quando faltar alguns minutos para a reunião. Quem nunca? Muniz Sodré faz uma boa análise sobre isso em um livro chamado “Antropológica do Espelho: Uma Teoria da Comunicação Linear e em Rede”, de 2002. Ele afirma que houve o nascimento de uma nova cultura “vertebrada pelas tecnologias da informação”. Também cita o que os produtores de conteúdo estudam os fenômenos que possam gerar “prazer”. Nessa era das tecnologias da informação e do trabalho ligado ao afeto e aos desejos temos uma superação do que se esperava com a teoria marxista. Podemos citar como exemplo a forte ligação que alguns têm com os lançamentos da Apple e da Samsung. É um afeto que ultrapassa a importância das novidades tecnológicas. Enfim, assim como afirma Muniz Sodré, a mídia agora é parte constituite de uma nova forma de vida. É um novo bios que causa dependência e, praticamente, se torna um meio de sobrevivência. Este é o bios midiático. É algo além de simplesmente tecnologia. Afinal por meio dos dispositivos são criadas subjetividades do homem (suas interações, surgimentos de memes, bordões, mobilizações, decisões do cotidiano, etc). Para entender o bios é preciso citar Aristóteles, em Ética a Nicômaco, quando são separados os gêneros de existência humana: o bios theoretikos (vida contemplativa); bios politikos (vida política) e bios apolausticos (vida dos prazeres). Foi aí que Muniz Sodré acrescentou mais um tipo de bios, o midiático. Essa dependência tecnológica podemos chamar de bios midiático. Pense nisso! Ana Célia Costa Especialista em Marketing Digital pelo IESB http://sousocialmedia.wordpress.com/

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Análise usando como base o livro "Antropológica do Espelho", de Muniz Sodré.

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O “bios midiático” nosso de cada dia. A transformação dos últimos ­ quase ­ 20 anos fez com que hoje tenhamos uma conexão inseparável com dispositivos eletrônicos (celular, tablet, etc). Não há como sair de casa sem levar consigo um deles. Caso esqueça, surgirá um problema. Estamos tão acostumados que já nem sabemos mais o número de telefone de (boa parte) dos amigos e familiares. Quando alguém perde o telefone, logo comunica o fato no Facebook e Twitter. Depois pede que todos enviem seus números novamente por inbox ou DM. Não usamos mais a agenda telefônica de papel. Além disso, não nos preocupamos em anotar compromissos. Afinal o Google Agenda vai fazer algum alarme quando faltar alguns minutos para a reunião. Quem nunca? Muniz Sodré faz uma boa análise sobre isso em um livro chamado “Antropológica do Espelho: Uma Teoria da Comunicação Linear e em Rede”, de 2002. Ele afirma que houve o nascimento de uma nova cultura “vertebrada pelas tecnologias da informação”. Também cita o que os produtores de conteúdo estudam os fenômenos que possam gerar “prazer”. Nessa era das tecnologias da informação e do trabalho ligado ao afeto e aos desejos temos uma superação do que se esperava com a teoria marxista. Podemos citar como exemplo a forte ligação que alguns têm com os lançamentos da Apple e da Samsung. É um afeto que ultrapassa a importância das novidades tecnológicas. Enfim, assim como afirma Muniz Sodré, a mídia agora é parte constituite de uma nova forma de vida. É um novo bios que causa dependência e, praticamente, se torna um meio de sobrevivência. Este é o bios midiático. É algo além de simplesmente tecnologia. Afinal por meio dos dispositivos são criadas subjetividades do homem (suas interações, surgimentos de memes, bordões, mobilizações, decisões do cotidiano, etc). Para entender o bios é preciso citar Aristóteles, em Ética a Nicômaco, quando são separados os gêneros de existência humana: o bios theoretikos (vida contemplativa); bios politikos (vida política) e bios apolausticos (vida dos prazeres). Foi aí que Muniz Sodré acrescentou mais um tipo de bios, o midiático. Essa dependência tecnológica podemos chamar de bios midiático. Pense nisso! Ana Célia Costa Especialista em Marketing Digital pelo IESB http://sousocialmedia.wordpress.com/

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