O Behaviorismo Radical

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O behaviorismo radical e a psicologia como ciência¹ The radical behaviorism and the psychology as science Tereza Maria de Azevedo Pires Sério² Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Resumo Abstract A compreensão da proposta de B.F.Skinner para a psicologia é vista como um bom começo para o estudo das características atuais do behaviorismo radical. Em geral, Skinner apresenta e detalha sua proposta confrontando-a com outras propostas já existentes e aceitas na psicologia. Pretende- se acompanhar parte desta apresentação, analisando as principais contraposições afirmadas por Skinner entre o behaviorismo radical e outras propostas então em vigor na psicologia, em três textos desse autor: eo primeiro capítulo de (1974). Acredita-se que seja possível, em cada um deles, destacar um aspecto como ilustrativo de uma contraposição de Skinner; assim, no primeiro deles, o aspecto destacado é o método a ser adotado nos estudos em psicologia, no segundo, o objeto ao qual ela se dedica e no terceiro, o modelo de causalidade que deve dirigir o estudo do objeto e a seleção dos métodos. Palavras-chave: behaviorismo radical, B.F.Skinner, objeto de estudo da psicologia, métodos da psicologia, modelo de causalidade. The understanding of B. F. Skinner's approach to Psychology can be considered as a good beginning for the comprehension of radical behaviorism current characteristics. The present paper details Skinner's analysis in three publications where he seems to choose to present aspects of his system by confronting his assertions with other ones already exiting, and generally accepted, in Psychology. The aim here is to follow through part of Skinner's writing, analyzing the main oppositions argued by Skinner in the following publications: (1945), (1963), and (1974) first chapter mainly. As a result, the theme of choice, Skinner's arguments, and the corresponding main contraposition guiding Skinner's exposition are identified and discussed in each one of these manuscripts. In the central issue argued by Skinner is the method of choice to be adopted in Psychology studies, in Psychology's subject matter is the central question tackled by Skinner, and, finally, in A the causal mode that should underlie and guide the study of Psychology's subject matter and Psychology's selection of methods is the topic of choice. Key-words: radical behaviorism, B. F. Skinner, subject matter of Psychology, methods of Psychology, causal mode The operational analysis of psychological terms (1945), Behaviorism at fifty (1963) About behaviorism The operational of analysis of psychological terms Behaviorism at fifty About behaviorism The operational of analysis of psychological terms Behaviorism at fifty bout behaviorism ¹Este artigo foi elaborado como material didático da disciplina de psicologia Comportamental III da Faculdade de Psicologia da PUCSP, no primeiro semestre de 2005 e, como tal, esteve durante este período disponível no sítio do Programa de Psicologia Experimental: Análise do Comportamento. O roteiro de leitura que o acompanha foi elaborado pela professora Dra. Paula Suzana Gioia. ²Bolsista CNPq, Bolsa Produtividade em Pesquisa, processo no. 305032/02-0. Endereço para correspondência: [email protected] ISSN 1517-5545 2005, Vol. VII, nº 2, 247-261 Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 247

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O behaviorismo radical e a psicologia como ciência¹

The radical behaviorism and the psychology as science

Tereza Maria de Azevedo Pires Sério²Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Resumo

Abstract

A compreensão da proposta de B.F.Skinner para a psicologia é vista como um bom começo para oestudo das características atuais do behaviorismo radical. Em geral, Skinner apresenta e detalhasua proposta confrontando-a com outras propostas já existentes e aceitas na psicologia. Pretende-se acompanhar parte desta apresentação, analisando as principais contraposições afirmadas porSkinner entre o behaviorismo radical e outras propostas então em vigor na psicologia, em trêstextos desse autor: e oprimeiro capítulo de (1974). Acredita-se que seja possível, em cada um deles,destacar um aspecto como ilustrativo de uma contraposição de Skinner; assim, no primeiro deles, oaspecto destacado é o método a ser adotado nos estudos em psicologia, no segundo, o objeto aoqual ela se dedica e no terceiro, o modelo de causalidade que deve dirigir o estudo do objeto e aseleção dos métodos.

Palavras-chave: behaviorismo radical, B.F.Skinner, objeto de estudo da psicologia, métodos dapsicologia, modelo de causalidade.

The understanding of B. F. Skinner's approach to Psychology can be considered as a goodbeginning for the comprehension of radical behaviorism current characteristics. The present paperdetails Skinner's analysis in three publications where he seems to choose to present aspects of hissystem by confronting his assertions with other ones already exiting, and generally accepted, inPsychology. The aim here is to follow through part of Skinner's writing, analyzing the mainoppositions argued by Skinner in the following publications:

(1945), (1963), and (1974) first chaptermainly. As a result, the theme of choice, Skinner's arguments, and the corresponding maincontraposition guiding Skinner's exposition are identified and discussed in each one of thesemanuscripts. In the central issue argued by Skinner isthe method of choice to be adopted in Psychology studies, in Psychology'ssubject matter is the central question tackled by Skinner, and, finally, in A thecausal mode that should underlie and guide the study of Psychology's subject matter andPsychology's selection of methods is the topic of choice.

Key-words: radical behaviorism, B. F. Skinner, subject matter of Psychology, methods ofPsychology, causal mode

The operational analysis of psychological terms (1945), Behaviorism at fifty (1963)About behaviorism

The operational of analysis ofpsychological terms Behaviorism at fifty About behaviorism

The operational of analysis of psychological termsBehaviorism at fifty

bout behaviorism

¹Este artigo foi elaborado como material didático da disciplina de psicologia Comportamental III da Faculdade de Psicologia da PUCSP,no primeiro semestre de 2005 e, como tal, esteve durante este período disponível no sítio do Programa de Psicologia Experimental:Análise do Comportamento. O roteiro de leitura que o acompanha foi elaborado pela professora Dra. Paula Suzana Gioia.²Bolsista CNPq, Bolsa Produtividade em Pesquisa, processo no. 305032/02-0. Endereço para correspondência: [email protected]

ISSN 1517-5545

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Dentre as várias propostas de entendimentodo que seja a psicologia (seu objeto, seus méto-dos e seu papel na sociedade contemporânea),encontra-se a que chamamos de behaviorismoradical. B. F. Skinner (1904-1990) é reconhe-cido como o principal autor do behaviorismoradical; a própria expressão 'behaviorismoradical', com as marcas que hoje a caracte-rizam, foi introduzida em um texto desteautor, publicado em 1945. Atualmente, outrosestudiosos vêm trazendo contribuições queexplicitam, complementam ou acrescentamelementos às propostas inicialmente feitas porB. F. Skinner. Compreender a proposta deSkinner para a psicologia é, assim, um bomcomeço para compreendermos o behavioris-mo radical.Quando Skinner inicia seus estudos em psico-logia, outras propostas de entendimento destaárea já estavam em discussão e a apresentaçãodos aspectos que caracterizavam seu enten-dimento da psicologia (aspectos que passa-riam a caracterizar o behaviorismo radical) foifeita, freqüentemente, a partir da contrapo-sição com essas outras propostas então emvigor. De uma forma geral, essa contraposiçãocom as demais propostas é guiada por ques-tões relacionadas ao objeto e aos métodos dapsicologia e ao modelo de causalidade quedeveria orientar a construção de explicaçõesdas ações humanas. Com o objetivo de ilustraressas contraposições e como, a partir delas, éapresentada a proposta de Skinner para a psi-cologia, vamos examinar três diferentes exem-plos de textos desse autor. Em cada um dessesexemplos será destacado um dos aspectosmencionados - o objeto de estudo da psicolo-gia, os métodos adequados para estudá-lo e omodelo de causalidade; tal destaque é apenasuma estratégia de apresentação, pois tais as-pectos mantêm entre si relações estreitas, deforma tal que, ao tratar de cada um deles, Skin-ner tenha também abordado os demais.

Se considerarmos o artigo escrito por Skinner(1963/1969) sobre os cinqüenta anos de beha-viorismo (considerando como marco do iníciodo behaviorismo as propostas apresentadasem 1913 por J. B. Watson), a contraposiçãocom as demais propostas é feita a partir dequestões sobre o objeto e os métodos da psico-logia. Skinner (1963/1969) inicia assim seuartigo:

Nesse trecho, Skinner aponta dois caminhosalternativos para a psicologia na definição deseu objeto de estudo e dos métodos apro-priados para estudá-lo: o caminho que condu-ziu ao que genericamente podemos chamar de'mentalismo' e o caminho que foi trilhado pelobehaviorismo. O caminho behaviorista inserea psicologia entre as ciências que estudam avida ou, mais precisamente, os organismosvivos (é assim que entendemos a afirmação deque a psicologia “é parte da biologia”) e, aofazê-lo, já está indicando as dimensões de seuobjeto de estudo e de onde os psicólogosdeveriam partir para encontrar seus métodosde estudo, de pesquisa.Skinner segue, no artigo, contrapondo essas

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Primeiro exemplo: o objeto de estudo dapsicologia

Behaviorismo, com ênfase no , não é o estudocientífico do comportamento, mas uma filosofiada ciência preocupada com o objeto e métodos dapsicologia. Se a psicologia é uma ciência da vidamental da mente, da experiência conscienteentão ela deve desenvolver e defender uma metodologia especial, o que ainda não foi feito comsucesso. Se, por outro lado, ela é uma ciência docomportamento dos organismos, humanos ououtros, então ela é parte da biologia, uma ciêncianatural para a qual métodos testados e muitobem sucedidos estão disponíveis. A questãobásica não é sobre a natureza do material do qualo mundo é feito ou se ele é feito de um ou de doismateriais, mas sim as dimensões das coisas estudadas pela psicologia e os métodos pertinentes aelas. (p.221)

ismo

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3Há, hoje, um conjunto significativo de publicações nas quais propostas de B.F.Skinner para a psicologia são objeto de análise, de talforma que listá-las e comentá-las daria origem a pelo menos um novo artigo. A título de exemplo, porém, algumas dessas publicações(com destaque itálico para aquelas produzidas em língua portuguesa) devem ser indicadas: Moore (1975, 1981, 2000), Day (1980,1983),Richelle (1981), , Modgil e Modgil (1986), Smith (1986), , ,

, Chiesa (1994), , Todd e Morris (1995), , , Moxley (2001).Abib (1985, 1997) Tourinho (1988, 1994, 1995, 1997a, 1997b) Andery (1990) Lopes

Junior (1992, 1997) Micheletto (1995) Carrara (1998) Carvalho Neto (2001)

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duas alternativas mentalismo e behaviorismo- e, ao fazer isto, busca compreender como apsicologia de início recorre ao mentalismo equais as condições que possibilitaram a emer-gência de uma concepção oposta, no caso, obehaviorismo. Ele conclui a parte introdutóriado artigo (1963/1969) deixando bem clara adivergência central entre essas duas alterna-tivas e sugerindo as gamas variadas de menta-lismo que podem existir dentro da psicologia:

Esses dois parágrafos merecem alguns comentários. A diferença entre as duas alternativas não está propriamente nos eventos quesão considerados como pertencentes ao domínio de estudo da psicologia, mas sim emcomo eles são considerados. Podemos inter

pretar a afirmação que inicia o trecho citado(“

) como uma afirmação de que aperspectiva behaviorista radical lida com umtraço que parece ser exclusivamente humanoe quem tem sido visto como constitutivo doobjeto de estudo da psicologia: a privacidade.A privacidade não seria, assim, preocupaçãoexclusiva de perspectivas mentalistas; estudar“o contato especial” que “cada pessoa” estabelece com “a parte do universo contida dentro de sua própria pele” deveria, segundo obehaviorismo radical, ser parte das atividadesde pesquisadores sobre o comportamento . ESkinner vai mais longe, chamando nossa atenção para aspectos metodológicos nesse estudo; para ele, as tentativas de mensuração feitas das possíveis transformações que estãoocorrendo no corpo da pessoa quando ela estáem contato com essas transformações (ou seja,as “invasões com instrumentos científicos”),mesmo recorrendo-se a instrumentos cadavez mais sofisticados, não eliminam o fenômeno da privacidade: o reconhecimento deque tais medidas não tornam públicos os eventos em questão evidencia que a relação da pessoa com o 'mundo dentro de sua pele' continua a ser singular, única.O que, de fato, diferencia as duas alternativas(a mentalista e a behaviorista) é a natureza quecada uma delas atribui aos fenômenos envol-vidos na privacidade; em uma visão behavio-rista, esses fenômenos têm a mesma naturezaque os demais fenômenos que constituem ohomem: são fenômenos físicos, materiais; emuma visão mentalista, ao contrário, esses fenô-menos são de natureza diferente da naturezados demais fenômenos que constituem o ho-mem: não são de natureza física, são de natu-reza mental ou psíquica e seria isso que os dis-tinguiria como objeto de estudo à parte. En-tretanto, podem ser identificadas diferenças,dentro da concepção mentalista, no que se

O fato da privacidade não pode, é claro, serquestionado. Cada pessoa está em contato es-pecial com uma pequena parte do universo conti-da dentro de sua própria pele. Para tomar umexemplo que não acarreta controvérsias, cadapessoa está singularmente sujeita a certos tiposde estimulação proprioceptiva e interoceptiva.Embora, em um certo sentido, possamos dizerque duas pessoas podem ver a mesma luz ououvir o mesmo som, elas não podem sentir a mes-ma distensão do ducto biliar ou o mesmo mús-culo contundido. (Quando a privacidade é inva-dida com instrumentos científicos, a forma deestimulação é mudada; as escalas lidas peloscientistas não são os próprios eventos pri-vados.).

Psicólogos mentalistas insistem que há outrostipos de eventos que são unicamente acessíveisao proprietário da pele dentro da qual elesocorrem, mas que faltam a eles as dimensõesfísicas de estímulos proprioceptivos ou intero-ceptivos. (...) A importância atribuída a este tipode mundo varia. Para alguns, ele é o únicomundo que existe. Para outros, ele é a única partedo mundo que pode ser diretamente conhecida.Para outros ainda, ele é uma parte especial da-quilo que pode ser conhecido. Em qualquer caso,o problema de como alguém conhece o mundosubjetivo de outro deve ser enfrentado. Ao ladoda questão do que significa “conhecer”, o proble-ma é o da acessibilidade. (pp. 225-226)

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O fato da privacidade não pode, é claro, serquestionado.”

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4Devemos ressaltar que neste trecho já fica pelo menos sugerida a distinção entre privacidade (“contato especial” que “cada pessoa”estabelece com determinados estímulos) e estímulo privado (estímulo ao qual apenas o indivíduo por ele afetado tem acesso direto).Além disso, é possível, também a partir desse trecho, supor que tais estímulos privados não são necessariamente ou exclusivamenteestímulos proprioceptivos ou interoceptivos, pois ao apresentar seu exemplo, Skinner parece ressaltar que o escolheu por ser “umexemplo que não acarreta controvérsias”; podemos supor, a partir dessa afirmação, que existam exemplos nos quais a caracterizaçãodos estímulos envolvidos possa trazer controvérsias; com isso, a expressão “dentro de sua própria pele” mereceria os mesmos reparos.

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refere à exclusividade da dimensão mental oupsíquica e no que se refere às possibilidadesde conhecimento das dimensões nas quais ouniverso é por eles dividido. Segundo Skin-ner, há, dentro do mentalismo, desde verten-tes que afirmam que a única dimensão douniverso que existe é a dimensão mental, atévertentes que, reconhecendo a existência dasduas dimensões, afirmam que a dimensãomental é a única que pode ser diretamenteconhecida, passando por aquelas que nãorestringem a possibilidade de conhecimentodireto à dimensão mental, mas afirmam serela especial enquanto objeto de conhecimento.Qualquer que seja o caso, a compreensão dasdiferenças entre a concepção mentalista e abehaviorista envolverá: a) a explicitação doque é conhecer para cada uma dessas concep-ções, e b) a discussão sobre acessibilidade doseventos que são objeto de conhecimento.

Se considerarmos o artigo no qual a expressãobehaviorismo radical aparece com as conota-ções que a distinguem ainda hoje (Skinner,1999/1945), nele a contraposição com outraspropostas para a psicologia é feita em termosquase estritamente metodológicos. Nesse ar-tigo, Skinner apresenta sua posição com rela-ção a uma proposta bastante específica sobrecomo os psicólogos deveriam proceder aoabordar seu objeto de estudo: o operacionis-mo . Em termos bem gerais, o operacionismoapresenta-se como um procedimento paragarantir que os cientistas fundamentem todoo conhecimento produzido em fenômenosdiretamente mensuráveis, de forma a evitarproblemas ocasionados pela inclusão, nasdescrições e explicações científicas, de conceitos que envolvem elementos não fundamentados em observações, conceitos que não têmbase empírica. Os cientistas conseguiriam tal

garantia se passassem a definir seus conceitoscom base nas operações que executavam como objetivo de identificar e medir os fenômenosaos quais o conceito se referia . Assim, porexemplo, no caso da psicologia, ao invés dedefinir conceitos tais como sensação, percep-ção ou inteligência buscando identificar oselementos constituintes dos fenômenos abar-cados por tais conceitos, o cientista deveriadefini-los descrevendo o que ele faz para iden-tificar e medir esses fenômenos; com isso,necessariamente, ele restringiria sua definiçãoa aspectos empíricos.O operacionismo teve um certo impacto napsicologia e, segundo alguns autores (porexemplo, Rogers, 1989) está presente até hojeno fazer do psicólogo. Pelo menos inicial-mente, o impacto que teve deveu-se ao fato deque foi visto como um caminho para superaros problemas decorrentes de concepções men-talistas Sendo assim, no artigo de 1945, Skin-ner apresentará o que entende por behavio-rismo contrapondo-o não mais com posiçõesque se declaram mentalistas e sim com posi-ções que pretendem superar o mentalismo,entre elas o behaviorismo tal como ele seconfigurava na época em que Skinner escre-veu o artigo em questão .Skinner inicia seu artigo (1945) afirmando queo operacionismo não trouxe nenhuma novacontribuição para a prática dos cientistas e, decerta forma, não poderia mesmo fazê-lo devi-do aos limites presentes no conhecimento dis-ponível na época. Como conseqüência de con-dições históricas relacionadas à produção deconhecimento sobre o homem, não estavaainda disponível um conhecimento que per-mitisse compreender adequadamente o pro-cesso de formulação de conceitos. SegundoSkinner, as teorias de linguagem existentes naépoca não estavam ainda preparadas para talempreendimento porque, entre outras coisas,ainda não se tinha completado o desenvolvi-

Segundo exemplo: desafios metodológicos

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Este artigo teve origem na participação de Skinner em um simpósio sobre operacionismo, organizado por E.G. Boring; no artigoencontramos a apresentação que Skinner fez e partes do debate que ocorreu entre os expositores.Para maior número e detalhes mais precisos sobre o operacionismo e sua importância na psicologia ver, por exemplo, Lopes Júnior

(1992; 1997).Para uma avaliação mais precisa sobre qual era esse behaviorismo e quem o defendia ver, por exemplo, Lopes Junior (1992), Tourinho

(1995), Carrara (1998).

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mento de “uma concepção objetiva do com-portamento humano” (p.417). Feitas as críti-cas e apresentada a recusa ao caminho opera-cionista, Skinner passa a apresentar sua pro-posta que, neste caso, envolve diretamenteuma nova abordagem do comportamento ver-bal (expressão proposta por Skinner (1957) pa-ra tratar de fenômenos tradicionalmente cha-mados de 'linguagem'). Segundo ele,

Tratar conceitos como respostas verbais seriao grande passo a ser dado para que pudés-semos superar os obstáculos criados pela au-sência de uma teoria não dualista sobre com-portamento verbal (de uma forma bem geral esimplificada, uma teoria dualista distinguiriacomo sendo de dimensões diferentes a pala-vra - dimensão física - e o significado - dimen-são não física - na análise dos fenômenoslingüísticos). Este passo possibilitaria a com-preensão do comportamento verbal em todasua extensão, inclusive do comportamentoverbal do cientista, e traria elementos neces-sários para o entendimento do que ocorre, napsicologia, quando descrevemos ou expli-camos as ações humanas recorrendo a con-ceitos considerados subjetivos (termos que sereferem ao sujeito e que podem ou nãoenvolver elementos não acessíveis a outrosque não o sujeito). Buscar “os significados, osconteúdos e os referentes” entre os determi-nantes da resposta (ou seja, da palavra ou afir-mação dita ou escrita) dirige nosso olhar paraas condições nas quais a resposta é emitida (ouseja, para a situação presente quando a respos-ta é emitida e as transformações na situaçãoproduzidas pela emissão da resposta) e nãopara a forma da resposta. Assim, por exemplo,para identificarmos o significado daquilo queuma pessoa está dizendo, de pouco adiantará

registrarmos e discutirmos as palavras e asafirmações que estão sendo ditas; precisamosidentificar as condições nas quais a pessoa estádizendo aquilo e, mais, a história que ela viveue que permitiu que tais condições estivessemrelacionadas com aquele dizer.Como Skinner mesmo afirma, com essa ma-neira de ver, não há nenhum problema emlidar com os aspectos relacionados à emissãodas respostas verbais consideradas como 'ter-mos subjetivos'. As pessoas, em sua vida coti-diana, falam de si mesmas e falam de aspectosseus aos quais outros não têm acesso, e vêmfazendo isso há muito tempo. O desafio para opesquisador em psicologia está exatamenteem descobrir como tudo isso acontece: comoas pessoas passam a falar de si mesmas e comopodem falar de aspectos aos quais apenas elastêm acesso. Segundo Skinner,

Devemos notar que o primeiro aspecto a serconhecido nos conduz para a busca das “con-dições estimuladoras específicas” que ante-cedem a emissão de respostas verbais que en-volvem termos subjetivos. Não há nenhumarestrição quanto a que condições podem serestas. Quaisquer condições estimuladoras po-dem ocupar o lugar de estímulos antecedentespara tais respostas verbais. O segundo aspectoa ser conhecido nos conduz à busca de res-postas para a pergunta “por que cada resposta[verbal] é controlada por sua condiçãocorrespondente?”. Esta busca parte de umasuposição que constitui a própria definição decomportamento verbal: as transformaçõesproduzidas pela emissão da resposta verbalque são responsáveis pela relação entre a res-posta e as condições que a antecedem referem-se a transformações em comportamento deoutros homens; a existência de uma comuni-dade verbal é condição necessária para a pro-

Uma vantagem considerável é ganha ao lidarmoscom termos, conceitos, constructos, etc bemabertamente na forma em que eles são obser-vados - isto é, como respostas verbais. Não há,então, perigo em incluir no conceito aqueleaspecto ou parte da natureza que ele destaca. (...)Significados, conteúdos e referentes devem serencontrados entre os determinantes, não entre aspropriedades, da resposta. (p.418)

O que nós queremos conhecer no caso de muitostermos psicológicos tradicionais é, primeiro, ascondições estimuladoras específicas sob as quaiseles são emitidos (isto corresponde a 'encontraros referentes') e, segundo, (e esta é uma questãosistemática muito mais importante), por quecada resposta é controlada por sua condiçãocorrespondente. (p. 419)

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dução de respostas verbais. Para encontraresse 'por que?' devemos, então, dar um passoadiante e procurar pelas práticas da comu-nidade verbal que fizeram/fazem com que aspessoas falassem/falem de si, incluindo aí seumundo privado. Desse ponto de vista, talcomo no artigo anteriormente analisado, Skin-ner afirma que a busca de instrumentos pre-cisos de medida das alterações privadas nãoresolverá o problema do psicólogo:

Parece, assim, que o problema do psicólogo,os desafios que o levam a pesquisar estão nos'episódios normais', o que quer dizer, na vidacotidiana das pessoas, em toda a diversidade ecomplexidade dos acontecimentos da vida dohomem comum. E é nesse âmbito que o pro-blema da privacidade não será resolvido coma “invasão instrumental”; pelo menos en-quanto tal “invasão” não fizer parte dos episó-dios do cotidiano, a comunidade verbal pro-move o falar sobre si mesmo, incluindo o falarsobre aspectos aos quais a comunidade nãotem acesso direto, sem recorrer a nenhum tipodo que está sendo chamado de “invasão ins-trumental”. Uma mãe, por exemplo, só contacom sua sabedoria para promover, em seusfilhos, o falar sobre a fome, tristeza, saudade,alegria... que sentem e para reagir a taisrelatos. E é exatamente isso que o estudioso docomportamento quer saber: como ela faz isso?Como ela aprendeu a fazer isso? Por que o faz?Ao concluir seu artigo, Skinner explicita umahipótese que, segundo ele, é decorrente dessamaneira de entender os dilemas metodoló-gicos enfrentados pela psicologia:

Com essa explicitação, Skinner indica toda“radicalidade” de seu behaviorismo: nenhumfenômeno humano é retirado do âmbito deestudo da psicologia, ou seja, cabe à psicologiaestudar os fenômenos humanos em sua tota-lidade e complexidade e, para isso, não é ne-cessário supor a existência de uma dimensãoespecial do mundo diferente da dimensão ma-terial.

Nosso terceiro e último exemplo refere-se nãoa um artigo de Skinner e sim a um de seus li-vros. Logo na introdução de seu livro

(1974), Skinner lista vinte críticascomumente feitas ao behaviorismo radical e,segundo ele, tais críticas indicam que suaproposta não foi bem compreendida; o livro éescrito, então, com o objetivo de esclarecê-la.Tal como no primeiro artigo considerado(Skinner, 1969/1963), Skinner distingue obehaviorismo da análise do comportamento:

Com esta última questão, parece inevitávelque a apresentação do behaviorismo radicalseja feita por meio de contraposições comoutras posições existentes na psicologia oumesmo em outras áreas do saber que tratem

Mas o problema da privacidade não pode sertotalmente resolvido pela invasão instrumental.Não importa quão claramente eventos internospossam ser expostos no laboratório, permanece ofato de que no episódio verbal normal eles sãointeiramente privados. (p.421)

Segue-se, muito naturalmente, a hipótese adi-cional de que ser consciente, como uma forma dereagir a seu próprio comportamento, é um pro-duto social. (...) A hipótese é equivalente a dizerque é apenas porque o comportamento do indi-víduo é importante para a sociedade que a socie-dade, por sua vez, torna o comportamento

importante para o indivíduo. O indivíduo torna-se consciente do que ele está fazendo apenasdepois que a sociedade tiver reforçado respostasverbais com relação a seu comportamento comofonte de estímulos discriminativos. (p.425)

O behaviorismo não é a ciência do compor-tamento humano; ele é a filosofia dessa ciência.Estas são algumas das questões de que ele trata:tal ciência é realmente possível? ela pode explicarcada aspecto do comportamento? quais métodosela pode usar? suas leis são tão válidas quanto àsda física e da biologia? ela levará a uma tecno-logia e, se o fizer, que papel terá nos assuntoshumanos? Particularmente importante é suaposição sobre os tratamentos anteriores do mes-mo objeto. O comportamento humano é o aspec-to mais familiar do mundo no qual as pessoasvivem e mais deve ter sido dito sobre ele do quesobre qualquer outra coisa; quanto do que foidito merece ser mantido? (p. 3).

Terceiro exemplo: o modelo de causalidade

AboutBehaviorism

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do comportamento humano. O que é interessante, neste caso, é que esta contraposiçãoestará guiada pelo modelo de causalidade queestá sendo assumido quando ações humanassão explicadas. O primeiro capítulo do livrotem como título enele Skinner apresenta como ele entende asprimeiras tentativas em psicologia de localizar as causas do comportamento, os problemas gerados por essas tentativas e alguns doscaminhos trilhados pela psicologia para enfrentar tais problemas. O behaviorismo radical será um desses caminhos.Para acompanharmos essa análise, o primeiroparágrafo do capítulo é parada obrigatória:

Um primeiro aspecto a ser destacado é queperguntas do tipo 'por que?' são vistas comoperguntas sobre causas; assim, as perguntas'por que as pessoas se comportam?' e 'quais ascausas do comportamento humano?' são equi-valentes. Além disso, podemos dizer que, nes-te pequeno parágrafo, Skinner apresenta deforma genérica diferentes momentos queidentifica na preocupação dos homens com ascausas do comportamento humano. Segundoele, três diferentes momentos podem ser iden-tificados.Nos dois primeiros momentos, os homens fo-ram levados a buscar as causas do compor-tamento (dos outros homens) por razõespráticas. Inicialmente, procuravam as causaspara poder “antecipar e, então, preparar-separa o que outra pessoa faria”. É possívelsupor que estamos falando de um períodomuito primitivo da história do homem, já queparece não haver, entre um homem (o homemque 'busca as causas') e outro (aquele cujo

comportamento é o 'objeto da busca'), nenhu-ma possibilidade de controle (os homens ape-nas poderiam prever o que outros homensfariam e preparar-se para isso), o que poderiasugerir a ausência de relações sociais com-plexas envolvidas na organização (e, portan-to, poder de controle) de grupos. No segundomomento, a busca de causas já envolve umapossibilidade de controle, pois os homens jáalmejavam identificar formas para “induziruma outra pessoa a comportar-se de deter-minada maneira”. Aparentemente, estamosfalando de um homem já com algum poder decontrolar o comportamento de outro homem,o que sugere a presença de relações mais com-plexas entre eles.O terceiro momento difere dos dois anteriorespor conta do motivo pelo qual a pergunta éfeita: o homem passou a buscar as causas docomportamento humano para “compreendere explicar o comportamento”. Estamos falan-do de um homem que quer saber as causas docomportamento humano não mais por razõesexclusivamente práticas (e, possivelmente,pessoais e imediatas), mas de um homem quese confrontava com um (novo) objeto de estu-do - o comportamento humano - e que, para“compreender e explicar” esse objeto, buscavasuas causas.A psicologia, como uma disciplina voltadapara o estudo do comportamento humano eque busca suas causas para poder compre-endê-lo e explicá-lo, estaria inserida nesseterceiro momento (não necessariamente ini-ciando o terceiro momento). Vista assim, elaseria herdeira de toda essa história, o que querdizer que sua busca das causas do com-portamento humano, mesmo que desvin-culada de razões práticas imediatas, carregaráa sabedoria produzida na longa história hu-mana no trato com as causas do compor-tamento.No segundo parágrafo do capítulo, Skinnermostra o que significou ser herdeira dessa his-tória:

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As causas do comportamento

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Por que as pessoas se comportam como elas secomportam? Esta foi, provavelmente, primeirouma questão prática: como uma pessoa poderiaantecipar e, então, preparar-se para o que outrapessoa faria? Mais tarde a questão tornou-seprática em outro sentido: Como outra pessoa po-deria ser induzida a comportar-se de uma dadamaneira? Finalmente, a questão tornou-se umproblema de entender e explicar o comportamen-to. Ela poderia sempre ser reduzida a uma ques-tão sobre causas. (p.9).

Nós tendemos a dizer, com freqüênciaprecipitadamente, que se uma coisa segue outra,ela foi, provavelmente, causada pela outra, se-

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guindo o antigo princípio(depois disso, logo por causa disso). Dos

muitos exemplos encontrados na explicação docomportamento humano, um é especialmenteimportante aqui. A pessoa com a qual nós esta-mos mais familiarizados somos nós mesmos;muitas das coisas que observamos exatamenteantes de nos comportarmos ocorrem dentro denosso corpo e é fácil tomá-las como causas denosso comportamento. (p.9).

Os sentimentos ocorrem no momento exata-mente apropriado para servirem como causas docomportamento e eles têm sido citados como taispor séculos. Nós assumimos que outras pessoassentem como nós sentimos quando elas secomportam como nós nos comportamos. (p.10).

A resposta tradicional é que eles estão loca-lizados em um mundo de dimensões não-físicaschamado mente e que eles são mentais. Mas,então, outra questão se coloca: como pode umevento mental causar ou ser causado por umevento físico? (Skinner, 1974, p.10)

post hoc, ergo propterhoc

A origem primitiva da pergunta sobre as cau-sas faz com que o estudioso do comporta-mento procure suas causas naquilo que acon-tece imediatamente antes do comportamento,comprometendo-se, assim, com uma noção decausalidade genericamente chamada de me-canicista. Supostamente, em função de umconjunto variado de razões (entre elas, aexistência de relações mecânicas entre deter-minados eventos), as relações entre eventosimediatamente antecedentes (vistos como ascausas) e o comportamento (visto como oefeito) foram mais facilmente identificáveis e,posteriormente, manipuláveis. Dentre todasas implicações possíveis dessa herança, Skin-ner destaca aquela que conduzirá ao men-talismo. Segundo ele, diferentemente do queacontece com outros objetos de estudo, aoestudar o comportamento, o estudioso podetomar a si mesmo como ponto de partida.Fazendo isso, e continuando a tradição debuscar as causas nas condições antecedentesimediatas, este estudioso procurará as causasnaquilo que ele mais facilmente observa comoacontecendo imediatamente antes de suasações e a primeira coisa que ele encontra é oque ele observa estar acontecendo em seupróprio corpo. Devemos notar, aqui, quepoderíamos trocar 'observação' por 'intros-pecção', como resultado “é fácil tomá-las [ascoisas que 'introspectamos'] como as causasde nosso comportamento”. Como afirmaSkinner,

Estão aí as bases do modelo explanatório maisdifundido em psicologia: a) os estados inter-nos sentidos estão 'no lugar certo' das causas,dentro da tradição de buscar as causas nascondições antecedentes imediatas e b) supo-mos que as outras pessoas sentem o que nóssentimos quando as vemos fazer as coisas quenós fazemos; é esta última suposição quepermite a seguinte prática bastante difundida:observamos as respostas de uma pessoa e,tendo como único fundamento essa obser-vação, supomos a presença de um deter-minado 'estado interno' que, então, é vistocomo a causa da resposta que observamos; ouseja, a resposta é o único indicador de suacausa.Segundo Skinner, a adoção desta forma depensar trouxe para os estudiosos da psico-logia um conjunto de questões relativas à suafundamentação: os eventos consideradoscomo causas das respostas não se apresentama si mesmos para observação do estudioso, en-tão, onde estão esses eventos? Se eles nãopodem ser observados tal como o são as res-postas das quais são causa, serão eles cons-tituídos do mesmo material que constitui asrespostas, ou em outras palavras, eles per-tencerão à mesma dimensão de eventos à qualpertencem as respostas observadas?

Estas respostas referendavam a crença naexistência de diferentes dimensões do univer-so e a divisão dos eventos em dois tipos (men-tais e corporais); os defensores desta posiçãocomprometiam-se, assim, com uma concep-ção dualista (afirmar a existência de duas di-mensões distintas no universo) e mentalista(afirmar que as causas devem ser procuradasna dimensão mental). Tal concepção, comodestaca Skinner, precisará enfrentar mais umconjunto de questões: se os eventos perten-cerem a dimensões diferentes, como eventos

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de uma dimensão poderão interagir com e-ventos de outra dimensão? como podemeventos de dimensões diferentes causarem-seuns aos outros? como as causas mentais (de-vemos lembrar que elas não se apresentampara observação da mesma forma que as res-postas) podem ser identificadas? como ascausas mentais podem ser produzidas?E como a psicologia vem enfrentando os desa-fios filosóficos envolvidos por tais questões?Para Skinner, a psicologia não tem enfrentadoesses desafios e ele indica quatro estratégiaspor meio das quais tem sido possível evitá-las:1) os desafios simplesmente são ignorados, 2)o estudioso da psicologia busca refúgio emoutras áreas do conhecimento que, aparen-temente, não enfrentam esses problemas, 3) abusca de causas do comportamento é aban-donada, e 4) os sentimentos e estados internossão vistos como elos intermediários em umaseqüência causal, dos quais o estudo científicodo comportamento pode prescindir.Dentre essas quatro possibilidades, a práticamais difundida na psicologia tem sido a deignorar os desafios e continuar estudando ocomportamento como se tal estudo não envol-vesse nenhum compromisso filosófico, comose ele não implicasse algum tipo de respostapara as questões feitas: “é possível acreditarque o comportamento expressa sentimentos,antecipar o que uma pessoa fará, adivinhandoou perguntando a ela como ela se sente, emudar o ambiente na esperança de mudarsentimentos” (pp.10-11) sem reconhecer queestas crenças e práticas, queiramos ou não,implicam determinadas posições filosóficas.Para aqueles que não se sentem “muito con-fortáveis com tal estratégia”, há uma outrapossibilidade de não enfrentamento: o “refú-gio na fisiologia” (p.11); a redução do objetoda psicologia à fisiologia ou neurologia tem si-do vista como uma alternativa que parece es-capar dos problemas colocados pela adoçãodo mentalismo: “Tem sido dito que, final-mente, deverá ser descoberto que a mente tembases físicas” (p.11).Se essas duas estratégias de não enfrenta-

mento podem, aparentemente, permitir quese continue a estudar o comportamento, elassão, segundo Skinner, fonte de problemas“práticos” que, dificilmente, podem ser camu-flados: “nós não podemos antecipar o queuma pessoa fará olhando diretamente paraseus sentimentos ou seu sistema nervoso, nempodemos mudar seu comportamento mudan-do sua mente ou seu cérebro” (p.11), fora dascondições de laboratório especialmente pla-nejadas para produzir tais possibilidades.Parece, assim, que não enfrentando as ques-tões sobre os fundamentos de suas práticas e,em última instância, mantendo-se no âmbitodo dualismo e do mentalismo, a psicologiaperde qualquer possibilidade de prever (an-tecipar) o que uma pessoa fará e qualquerpossibilidade de controlar (induzir) esse fa-zer, enquanto parte do fluxo de fenômenos docotidiano. Se voltarmos, agora, ao primeiroparágrafo do capítulo que estamos analisando(o segundo trecho citado, neste terceiro exem-plo), veremos que foi com a previsão e, logo aseguir, com o controle que começou todahistória sobre a preocupação dos homens comas causas do comportamento humano. É comose a psicologia, participante do terceiro mo-mento dessa história, mantivesse apenas parteda herança (a parte relativa às crenças deri-vadas da prática) e perdesse todos os vínculoscom a outra parte (a das possibilidades deatuação prática) dos dois momentos an-teriores, e ficando, em certo sentido, aquémdesses momentos (a compreensão e a ex-plicação do comportamento que ela produznão permitem a previsão e controle desse mes-mo comportamento).A terceira possibilidade de não enfrentamentodos desafios é, por assim dizer, mais direta:“Uma estratégia mais explícita é abandonar abusca de causas e simplesmente descrever oque as pessoas fazem” (p.11). Skinner refere-se, neste caso, a diferentes teorias em psico-logia e em outras áreas que também estudam ocomportamento humano (antropologia, po-lítica e lingüística, por exemplo) que têm comocaracterísticas a descrição cuidadosa e exaus-

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tiva de comportamentos de forma a identificarregularidades na maneira das pessoas agirem,padrões de comportamento e, então, des-cobrir “princípios organizadores na estruturado comportamento” que, em alguns casos,podem ser vistos como função de outrasvariáveis, tais como “tempo e idade” (pp.11-12); Skinner agrupa essas teorias sob o rótulode estruturalismo. Segundo ele, a estratégiaestruturalista acaba deixando espaço para a“sobrevivência de conceitos mentalistas” poisquando explicações se tornam necessárias(por exemplo, quando se busca o porquê dedeterminado princípio organizador) elas sãoencontradas em tais conceitos: “em resumo, oestruturalismo nos diz como pessoas se com-portam, mas esclarece muito pouco porqueelas se comportam dessa maneira. Ele não res-ponde a questão com a qual começamos”.(p.12). No que se refere aos problemas de atua-ção prática, os conhecimentos produzidos soborientação estruturalista permitem certostipos de predição: a) a freqüência dos com-portamentos envolvida na identificação deum determinado padrão nos faz supor que talcomportamento voltará a ocorrer e b) a partirda estrutura do comportamento e/ou de va-riáveis relacionadas a ela (idade, por exemplo)podem ser previstos comportamentos.Entretanto, tais conhecimentos não permitemo controle, pois, restringindo-se à descrição,eles não envolvem as variáveis que deter-minam o comportamento e quando parecemenvolver tais variáveis, elas não podem sermanipuladas de forma a produzir um deter-minado comportamento (como é o caso dasvariáveis “idade” e “tempo”). “Evitar o men-talismo (...) recusando-se a procurar as causasexige seu preço” (p.12).A quarta possibilidade de não enfrentamentodos desafios, tal como a anterior, apresenta-secomo uma tentativa de evitar o mentalismo;neste caso, isto é feito por meio da suposiçãode uma determinada cadeia causal compostapor três elos que ocorreriam sempre na mes-ma seqüência (evento físico evento mentalevento físico) e da limitação do estudo cien-

tífico a determinados elos dessa cadeia (os elosque envolvem eventos físicos):

Em outras palavras, supõe-se que algunseventos físicos produzem determinados even-tos mentais que, por sua vez, produzem ou-tros eventos físicos - as respostas que obser-vamos. Entretanto, supõe-se, também, que aciência deve restringir-se a eventos que pos-sam ser diretamente observados por mais deum observador (só assim podem “ser obje-tivamente observados” e podemos avaliar averdade ou falsidade das afirmações sobreeles) e esta condição só é atendida pelos even-tos físicos. E, por fim, supõe-se que a primeirasuposição permite atender a exigência dasegunda: se um evento físico “x” produz re-gularmente um evento mental “y” e esteevento mental “y” produz regularmente umevento físico “z”, de tal forma que a seqüênciax y z ocorre com regularidade, é possívelres-tringir o estudo aos dois elos “x” e “z”,pois “x” será regularmente seguido por “z”;diante de “x” pode-se prever “z” e pode-seproduzir “z”, manipulando “x”. Desta forma,mesmo supondo a existência de eventos men-tais e seu papel causal no comportamento, oestudo é limitado aos eventos físicos. Ooperacionismo foi visto, pelos behavioristasmetodológicos, como uma das maneiras degarantir que os estudiosos em psicologialidassem apenas com eventos que pudessemser “objetivamente observados”.Ao limitar o estudo apenas a tais eventos, obehaviorismo metodológico acabou por tor-nar desnecessário o recurso à introspecção: selidarmos apenas com eventos que um obser-vador independente pode observar, não pre-

O problema mentalista pode ser evitado indodiretamente às causas físicas antecedentes aomesmo tempo em que se desvia dos sentimentosou estados da mente intermediários. A maneiramais rápida de fazer isso é (...) considerar apenasaqueles fatos que podem ser objetivamenteobservados no comportamento de uma pessoaem sua relação com sua história ambientalanterior. Se a cadeia toda é sujeita a leis, nada éperdido ao desconsiderar um suposto elo não-físico. (p.13).

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cisaremos mais recorrer ao relato do sujeito,instrumento visto como necessário quando selida com eventos aos quais apenas o sujeitotem acesso. Segundo Skinner, isso possibilitoua inclusão, na psicologia, de estudos sobreespécies não humanas e de estudos compara-tivos entre a espécie humana e outras espécies.Apesar das novas possibilidades abertas eapesar de se apresentar como uma tentativade evitar o mentalismo, o behaviorismo meto-dológico pode ser considerado como umareafirmação do mentalismo: “a maior partedos behavioristas metodológicos admitiu aexistência de eventos mentais ao mesmo tem-po em que os excluiu de consideração” (p.15).Após apresentar sua visão dessas quatro pos-sibilidades que se apresentavam para se fazerpsicologia, Skinner passa a apresentar qual se-ria a sua proposta para esse fazer, indicandono que ela se diferencia das demais:

Como destaca Skinner, o behaviorismo radi-cal se contrapõe tanto a vertentes mentalistascomo também a vertentes que buscavam evi-tar o mentalismo (no caso, o behaviorismometodológico). Diferentemente do behavio-rismo metodológico, ele considera possível oestudo de eventos privados, porém, diferen-temente do mentalismo, não atribui a esseseventos nenhuma natureza especial: o beha-viorismo radical questiona a natureza especial(mental, psíquica) que vinha sendo atribuída

ao que era sentido ou observado quandoalguém recorria à introspecção. Dessa forma,a introspecção não é um procedimento des-cartado ou banido como fonte de informaçãosobre o comportamento humano; o que osbehavioristas radicais recusam é a naturezanão física que se acreditava tinham os eventoscom os quais interagia aquele que se auto-observava. Trata-se de considerar os eventoscomo de uma mesma e única natureza (ma-terial) e de examinar a auto-observação comoum procedimento para a produção de infor-mações. Estes são traços fundamentais dobehaviorismo radical e implicam algumasrupturas com a visão mais difundida do quese considera como características do processode produção de conhecimento científico:

O behaviorismo radical não adota, assim, odifundido critério de verdade que é o acordopúblico entre dois observadores independen-tes e é isto que permite que ele não excluanenhum evento do campo da psicologia combase na possibilidade dele ser observado dire-tamente por dois observadores independen-tes. Por isso, tais eventos não são classificadoscomo não-observáveis já que podem serobservados por meio de auto-observação e,como todos os eventos relativos ao compor-tamento humano referem-se sempre a umsujeito (e, mais, é sempre um sujeito que rea-liza uma observação, seja qual for o objetoobservado), não há razão para rejeitar oseventos privados por serem subjetivos. Emcerta medida, todos os eventos referem-se ousão conhecidos por um sujeito. Entretanto,“isto não significa (e este é o cerne do argu-mento [behaviorista radical]) que os eventos

O behaviorismo metodológico e algumas versõesdo positivismo lógico colocaram os eventosprivados fora dos limites [da ciência] porque nãoseria possível acordo público sobre sua validade.A introspecção não poderia ser aceita comoprática científica (...) O behaviorismo radical,porém, segue uma linha diferente. Ele não nega apossibilidade de auto-observação ou deautoconhecimento ou sua possível utilidade,mas questiona a natureza do que é sentido ouobservado e, então, conhecido. Ele restaura aintrospecção, mas não o que os filósofos epsicólogos que recorriam à introspecçãoacreditavam estar 'espectando' e ele coloca aquestão de quanto alguém pode observar seupróprio corpo. (p.16).

Ele [o behaviorismo radical] não insiste na ver-dade por acordo e pode, portanto, considerareventos que ocorrem no mundo privado dentroda pele. Ele não qualifica esses eventos comoinobserváveis e não os rejeita como subjetivos.Simplesmente questiona a natureza do objetoobservado e a confiabilidade das observações.(pp.16-17).

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8Como indica Skinner no artigo que analisamos no segundo exemplo citado (Skinner 1999/1945), “o critério último para a adequação deum conceito não é se duas pessoas chegam a um acordo, mas se o cientista que usa o conceito pode operar com sucesso sobre seumaterial" (p.429).

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que são sentidos ou introspectivamente obser-vados sejam as causas do comportamento”(p.17).Este último destaque feito por Skinner é, comoele mesmo indica (“o cerne do argumento”),fundamental para a compreensão da propostabehaviorista radical. Ao considerar os eventosprivados como eventos materiais, tal comosão os demais eventos com os quais lida apsicologia, e ao considerá-los como parte doobjeto de estudo da psicologia, o behavioris-mo radical está afirmando que eles são partedaquilo que a psicologia deve descrever eexplicar; eles não são vistos como eventos queexplicam o comportamento. O behaviorismoradical busca as causas do comportamento, aexplicação do comportamento, nas “históriasgenética e ambiental de uma pessoa” (p.17).

O behaviorismo radical apresenta-se, assim,como uma proposta bastante peculiar para apsicologia. Em primeiro lugar, porque recusaas concepções tradicionais que marcaram oinício da psicologia e são até hoje bastante di-fundidas, tendo como fundamento a recusado dualismo e do mentalismo presentes emtais concepções. Mostra-se, assim, disposto aenfrentar os problemas filosóficos geradospela adoção de tais concepções. Em segundolugar, não fundamentando sua recusa emrazões metodológicas, afasta-se das concep-ções que adotaram este caminho para evitar omentalismo. Por fim, essa peculiaridade estápresente, também, no recurso ao ambientepara busca das causas do comportamento. Asrazões que sustentam tal recurso afastamdefinitivamente o behaviorismo radical do

behaviorismo metodológico que recorre aoambiente por ser ele considerado como umdos elos vistos como observáveis e mensu-ráveis de uma cadeia causal composta por trêselos (ambienteestados internosresposta). Asrazões do behaviorismo radical estão relacio-nadas à concepção de comportamento pro-posta: comportamento (qualquer que seja ele)é visto como interação entre o organismo e oambiente; o comportamento atual é uma inte-ração e é ao mesmo tempo produto de inte-rações anteriores. Dessa forma, ao afirmar que'as causas do comportamento estão no am-biente', o termo ambiente está sendo enten-dido de uma forma ampla, não reduzidoàquele que está presente quando umaresposta ocorre.Um último aspecto deve ser considerado paraque a concepção behaviorista radical seja bemcompreendida: a relação entre behaviorismoradical e análise experimental do comportamento. Como já foi visto, o behaviorismo radical, enquanto uma concepção dentro dafilosofia da ciência, oferece os fundamentospara uma determinada prática científica, nocaso, a análise experimental do comportamento. Entretanto, o desenvolvimento daanálise experimental do comportamento temtrazido contribuições para uma melhorfundamentação da proposta behaviorista radical. Esse aspecto é destacado por Skinnerem dois dos textos considerados aqui. Noartigo sobre o cinqüentenário do behaviorismo, Skinner (1969/1963) afirma que durante esses cinqüenta anos “emergiu uma eficiente ciência experimental do comportamento” e“muito do que, ou o que se descobriu temrelação direta com a questão básica” (pp. 222-223) tratada pelo behaviorismo radical, ouseja, com “as dimensões das coisas estudadaspela psicologia e os métodos pertinentes aelas” (p.221). A mesma relação é afirmada nolivro (Skinner, 1974):

O ambiente fez sua primeira grande contri-buição durante a evolução das espécies, mas eleexerce um tipo diferente de efeito durante a vidade um indivíduo e a combinação dos dois efeitosé o comportamento que nós observamos emqualquer momento dado. Qualquer informaçãodisponível sobre qualquer uma das duas con-tribuições auxilia na predição e controle do com-portamento humano e sua interpretação na vidacotidiana. Na medida em que qualquer uma de-las puder ser mudada, o comportamento podeser mudado. (p.17).

O behaviorismo (...) beneficiando-se de avançosrecentes na análise experimental do compor-tamento, olhou mais de perto para as condiçõesnas quais as pessoas respondem ao mundo den-

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About behaviorism

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tro da pele e pode agora analisar, um a um, os ter-mos-chave do arsenal mentalista. (p.32).

Considerando a existência dessa relação bidi-recional entre behaviorismo radical e análiseexperimental do comportamento, a compre-

ensão das características básicas do behavio-rismo radical parece exigir o domínio dos con-ceitos e dos resultados experimentais envol-vidos nos processos comportamentais relacio-nados a tais características.

Questões de estudo

Primeiro exemplo: o objeto e os métodos dapsicologia

Segundo exemplo: o operacionismo

Terceiro exemplo: o modelo de causalidade

1. Algumas questões dirigem a contraposiçãoque Skinner faz entre sua proposta para apsicologia e outras propostas já existentes.Quais são essas questões?

2. Quais os dois caminhos alternativos para apsicologia na definição de seu objeto deestudos e dos métodos apropriados paraestudá-lo?

3. Qual a diferença entre as duas alternati-vas?

4. Em termos gerais, como pode ser enten-dido o operacionismo?

5. A que poderia ser devido o impacto inicialque o operacionalismo teve na psicologia?

6. Que razões históricas são apontadas porSkinner quanto ao fato do operacionismonão ter trazido uma nova contribuição pa-ra a prática dos cientistas?

7. Segundo Skinner, como seriam superadosos obstáculos criados pela ausência deuma teoria não dualista para tratar de fe-nômenos denominados de “linguagem”?

8. O que são considerados termos subjeti-vos?

9. Onde devem ser buscados “os significa-dos, os conteúdos e os referentes”?

10. Quais os dois aspectos, mencionados porSkinner, que precisamos conhecer sobre ostermos subjetivos?

11. O que pode ser apontado como radica-lidade do behaviorismo de Skinner?

12. Quais questões são tratadas pelo behavio-rismo?

13. Três momentos são identificados na preo-cupação do homem com as causas do com-portamento:a) o que caracteriza os dois primeiros mo-

mentos?b) qual a diferença entre o primeiro e o se-

gundo momentos?c) o que caracteriza o terceiro momento?

14. Há alguma implicação da psicologia serconsiderada como parte deste terceiromomento?

15. Com resultado dessa longa história depreocupação com as causas do compor-tamento, onde o estudioso do compor-tamento procura essas causas?

16. Quais as duas bases do modelo explana-tório mais difundido em psicologia?

17. Para poder assumir esse modelo expla-natório os estudiosos da psicologia preci-savam responder algumas questões; quaiseram essas questões?

18. Qual a resposta tradicional dada a essasquestões?

19. Quais as novas questões decorrentes destaresposta?

20. Segundo Skinner, quais as quatro estra-tégias da psicologia para o não enfrenta-mento dos desafios filosóficos envolvidospor tais questões?

21. Qual a prática mais difundida na psicolo-gia, dentre as quatro possibilidades men-cionadas?

22. Qual a segunda possibilidade de não en-frentamento dos desafios filosóficos en-volvidos por tais questões?

23. Segundo Skinner, quais os problemas ge-

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rados para a prática dos estudiosos empsicologia devido ao não enfrentamentodos desafios filosóficos envolvidos em taisquestões?

24. Qual a terceira possibilidade de não en-frentamento dos desafios filosóficosenvolvidos por tais questões? ComoSkinner agrupa as diferentes teoriasenvolvidas nesta terceira possibilidade?

25. Explique a frase: “a estratégia estrutura-lista acaba deixando espaço para a 'sobre-vivência' de conceitos mentalistas'”.

26. Quais os tipos de predição que o conheci-mento produzido sob orientação estrutu-ralista permitem?

27. Qual a quarta possibilidade de não enfren-tamento dos desafios filosóficos?

28. Qual a implicação, segundo os behavio-ristas metodológicos, de lidarmos apenascom eventos físicos?

29. O que o behaviorismo metodológico tor-nou possível incluir nos estudos da psico-logia?

30. O que significa dizer que “o behaviorismometodológico pode ser considerado umareafirmação do mentalismo”?

31. Qual a proposta de Skinner? Em que suaproposta se diferencia do behaviorismometodológico?

32. Quais as rupturas do behaviorismo skin-neriano com a visão mais difundida doque se considera como característica doprocesso de produção de conhecimentocientífico?

33. Por que não se deveria restringir o adjetivo”subjetivo” a eventos privados?

34. Por que não se atribui aos eventos priva-dos o papel de causa do comportamento?

35. Onde devem ser buscadas as causas docomportamento, segundo o behaviorismoradical?

36. Três aspectos são apontados para afirmarque a proposta do behaviorismo radical épeculiar na psicologia. Quais são eles?

37. Qual a relação entre análise do comporta-mento e behaviorismo radical?

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Sobre os critérios de interpretação da história do Behaviorismo Radical (1930-1945):Operacionismo e Privacidade

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Theoretical AnalysisAbout Behaviorism.

Behaviorism and logical positivism

Modern perspectives on B. F. Skinner contemporary behaviorism.

Sobre a Visão Behaviorista Radical do Autoconhecimento

Behaviorismo Radical, Representacionismo e Pragmatismo: Uma DiscussãoEpistemológica do Pensamento de B. F. Skinner.

Sobre comportamento e cognição

Sobre comportamento e cogniçãoPsychological Review, 20

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