O Baqueano

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O Baqueano Gino Bacci Entrevista com o amuleto do BAC Clube de campo O que restou do grande ponto de encontro da sociedade bauruense Bauru Atlético Clube A história do time e os anos que marcaram época NOVEMBRO 2012 Pelé: a passagem do rei do futebol por Bauru

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Suplemento produzido para a disciplina de Jornalismo Impresso II, 2012, do curso de Jornalismo da Unesp, câmpus Bauru, sob a orientação do Prof. Dr. Angelo Sottovia Aranha

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O Baqueano

Gino BacciEntrevista como amuleto do BAC

Clube de campoO que restou do grandeponto de encontro dasociedade bauruense

Bauru Atlético ClubeA história do time e os anosque marcaram época

NOVEMBRO 2012

Pelé: a passagem do rei do

futebol por Bauru

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O BaqueanoO BaqueanoO Baqueano

EditorialA descrença no esporte

que, ao longo do tempo, pre-encheu nosso ideário e nos-sas almas com sentimentos que não são passíveis de des-crição, parece recrudescer. A dinâmica mercadológica do esporte dialoga com a tendência universal da atua-lidade de transformar qual-quer crença, manifestação, objeto, sentimento e tantos outros “itens”, palpáveis ou não, em produto. Atribuí-mos a culpa pelo desencanto à comercialização excessi-va dos meios futebolísticos e à busca desenfreada pelo dinheiro. A cada esquina, boteco, roda de samba, pela-da de fim de semana, meio de comunicação, encontra-mos uma penca de saudo-sistas que rememoram os tempos em que esse esporte

era “mágico, técnico, puro, encantador, exibicionista e, acima de tudo, brasileiro”.

O que não faltam são de-dos em riste, profetizando o destino do futebol e jul-gando seu presente “féti-do”. Olhares absolutos que parecem ter, a cada teoria, o remédio ideal para curar a doença do futebol.

O que a grande parte des-ses jurados não conhece é o mal que os aflige: a pandê-mica incoerência já pode ser diagnosticada como princi-pal causadora dos discursos alheios. E, aparentemente, tal encefalopatia tem poder de alcance inimaginável, uma vez que afeta o Sistema Nervoso Central e dificulta que o discernimento e o bom senso sejam acionados sem-pre que necessários.

Transferem-se a este su-plemento jornalístico os en-cargos psicológicos dignos de profissionais da psiqué: constatar quão fechados ao futebol comercial estão os olhares de certos paladinos da argumentação. Apre-senta-se o remédio para a memória, que deverá ser tomado em medidas homeo-páticas para que o choque de realidade não seja intenso.

Sente-se agora no divã e desfrute da história de um clube que pode, no momen-to, identificar e definir pa-noramas históricos, sociais, econômicos e políticos de Bauru. Uma esquecida equi-pe, cujo maior feito lembra-do foi ter sido berço de ouro de um rei negro, malandro em campo. Uma instituição que pôde definir a vida do

bauruense enquanto existiu: desde os dias ensolarados de domingo, no estádio Luzita-na, até os finais de semanas carnavalescos, quando a so-ciedade local se reunia para comemorar e festejar quatro dias de folia para um ano in-teiro de trabalho. Um BAC que demonstra socialmente Bauru dos anos 20 aos 60 de forma categórica. Um BAC que ainda se faz pre-sente no coração de algum Bauru por aí, distante da realidade comercial.

Seria o BAC mágico, téc-nico, encantador, puro e ti-picamente brasileiro? É por meio de sua análise de tudo o que está contido nestes escri-tos, desenhado letra a letra por mãos jornalísticas, que definirá se esse psicólogo será seu melhor conselheiro.

3. rivalidade

Flashes do dérbi de domingoO clima de rivalidade em que viviam BAC e Noroeste,os principais times de Bauru, em meados do século XX

4. entrevista

O beque do BACO amuleto Gino Bacci, ex-jogador do clube, relembrao início da carreira e seu auge nos anos 50

5. crônica

Reduto da rivalidadeA elegância e o glamour do ponto de encontro das torcidas do BACe do Noroeste: o símbolo da rivalidade nas décadas de 1940 e 1950

5. ondas médias

O áureo do rádioO papel das transmissões radiofônicas de partidasde futebol na construção do imaginário do torcedor

6. história

O time da cidadeO futebol do Bauru Atlético Clube desde sua fundação,em 1919, até os últimos suspiros, na década de 1960

8. rei

Pelé antes de ser PeléConheça a passagem de Dico, como era conhecidoo rei do futebol, por Bauru e pelo BAC

9. vida social

Por trás da metaA força do vôlei e do futebol de salão depois do fi m do timede campo no BAC e a vida agitada dos associados do clube

10. legado

Do campo ao campoO clube campestre do BAC e o que restou do que erao grande ponto de encontro da sociedade bauruense

10. opinião

“Nem lembrança, nem saudade”A saudade da memória baqueana e a nostalgia quesobrevive nos relatos dos guardiões da lembrança

11. memória

Na boca do rivalNoroestinos, abordados na porta do Alfredo de Castilho,

falam sobre o BAC e relembram sua história

12. outras palavras

Para saber maisAutores e publicações que contam ainda mais

sobre a história do Bauru Atlético Clube

12. produção

Expediente e agradecimentosQuem fez e quem ajudou a fazer O Baqueano

Índice

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Enquanto o futebol ainda remetia a rádios colados aos ouvidos e apostas em mesas de bar, a identifi cação do tor-

cedor com seu time do cora-ção en-

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man-t i s m o

que, para os mais saudosis-tas, arrasta-se cambaleante. A criação da Lei do Acesso, em 17 de janeiro de 1948, ga-rantiu aos times campeões da Segunda Divisão profi ssional o acesso à Primeira Divisão do Campeonato Paulista de Futebol. Antes disso, o ama-dorismo – tomando por sen-tido o gosto pelo esporte – imperava.

Na maioria dos municí-pios interioranos, uma série de times amadores surgiam e, entre os dois que mais se destacassem, estabelecia-se o dérbi. Em Bauru, Luzitana Futebol Clube (futuro Bauru Atlético Clube) e Esporte Clu-be Noroeste (o “Demolidor Ferroviário”) representavam o grande clássico da cidade,

conhecido como No-Lu. Jor-nais contemporâneos à época e antigas fotografi as compro-vam como a rivalidade entre os dois era digna de primeira página. “Você pode encarar, nas devidas proporções, como Palmeiras e Corinthians”, analisa o radialista baqueano Walter Lisboa, 68.

De terno e gravata impe-cáveis, sapatos brilhantes e cabelos engomados, a torcida lotava o estádio nas tardes de domingo para assistir ao dér-bi. “O futebol, na sua origem, não era um esporte popular. Era um esporte da elite. Tan-to é que o negro, por um bom tempo, não pôde participar”, salienta Lisboa. Privado das grandes massas, o espetáculo ilustrava a distinção clara não apenas entre luzitanos e no-roestinos, mas entre diferen-tes classes da sociedade.

O Noroeste era mantido pela Estrada de Ferro Noro-este do Brasil (NOB), que foi construída na primeira me-tade do século XX e liga Bau-ru a Corumbá (MS), na divisa entre Brasil e Bolívia. A re-lação entre os jogadores e a ferrovia era grande. Os atle-tas, ao serem contratados, assinavam contrato com a ferrovia e, quando se aposen-tavam do futebol, ocupavam cargos que iam desde a ofi-cina até os escritórios. Além disso, todos os funcionários, mensalmente, tinham des-

contada de seu holerite uma quantia destinada ao clube.

O BAC, em contrapartida, representava a elite, o grupo dos grandes comerciantes e bancários da época, e era sus-tentado por seus associados. Caso o quadro de sócios so-fresse redução, as consequên-cias se refl etiriam diretamen-te no futebol. A distinta forma de arrecadação de cada um dos rivais traduz a suposta vantagem que teria o Noroes-te quanto à qualidade de seus escretes. “Se um jogador era bom, o Noroeste tinha como comprar. Não dava para lutar contra esse esquema”, explica o jornalista e ex-sócio do BAC Eduardo Nasralla, 57.

Embora separados por suas respectivas paixões, tor-cedores do BAC e do Noroeste encontravam-se mais unidos do que sempre imaginaram. Como entre Ponte Preta e Guarani ou Corinthians e Palmeiras, não se podia con-ceber a existência de um dos clubes sem o outro. No en-tanto, em 1955, difi culdades fi nanceiras acarretaram o fi m do time de futebol profi ssio-nal do Bauru Atlético Clube. O impulso por crescimento, melhorias e títulos provoca-do pela simples existência do rival deixou de existir. À deri-va, coube ao Noroeste encon-trar outra razão de ser, outro oponente a superar.

A disputa que sustentava

o Noroeste foi, então, buscar chão nas cidades vizinhas. “Hoje, a nossa rivalidade no futebol é com o Marília e com o XV de Jaú”, conta o radialis-ta noroestino Rafael Mainini, 33. Ao mesmo tempo, muitos baqueanos, como cidadãos sem pátria, passaram a tor-cer pelo Noroeste, que desde 1954 disputava a Primeira Di-visão do Campeonato Paulis-ta. Ainda assim, o clube que criava forte identidade com os cidadãos bauruenses era o BAC. “O Noroeste nunca foi o time da cidade. O time da cidade era o BAC. O Noroeste era o time dos ferroviários”, afi rma Nasralla.

Em setembro de 1970, em comemoração aos 60 anos do Noroeste, houve o último dérbi bauruense da história. “O jogo foi público, de por-tões abertos e estava lo-tado”,

d e s -c r e v e o pesqui-sador baque-ano Fausto Gon-çalves, 75. O resultado foi favorável ao Noroeste: três a zero para o time dos ferroviários.

O No-Lu, embate entre BAC e Noroeste, dá vida à maior rivalidade do futebol bauruense

Amanda Lima

Flashes do dérbi de domingo

9. vida social

Por trás da metaA força do vôlei e do futebol de salão depois do fi m do timede campo no BAC e a vida agitada dos associados do clube

10. legado

Do campo ao campoO clube campestre do BAC e o que restou do que erao grande ponto de encontro da sociedade bauruense

10. opinião

“Nem lembrança, nem saudade”A saudade da memória baqueana e a nostalgia quesobrevive nos relatos dos guardiões da lembrança

11. memória

Na boca do rivalNoroestinos, abordados na porta do Alfredo de Castilho,

falam sobre o BAC e relembram sua história

12. outras palavras

Para saber maisAutores e publicações que contam ainda mais

sobre a história do Bauru Atlético Clube

12. produção

Expediente e agradecimentosQuem fez e quem ajudou a fazer O Baqueano

de bar, a identifi cação do tor-cedor com seu time

do cora-ção en-

volvia

u m r o -

man-t i s m o

que, para os mais saudosis-tas, arrasta-se cambaleante.

vam como a rivalidade entre os dois era digna de primeira página. “Você pode encarar, nas devidas proporções, como Palmeiras e Corinthians”, analisa o radialista baqueano Walter Lisboa, 68.

cáveis, sapatos brilhantes e cabelos engomados, a torcida lotava o estádio nas tardes de domingo para assistir ao dér-bi. “O futebol, na sua origem, não era um esporte popular. Era um esporte da elite. Tan-to é que o negro, por um bom tempo, não pôde participar”, salienta Lisboa. Privado das grandes massas, o espetáculo

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O Baqueano

Baqueano: Como foi o inte-resse pelo futebol?Gino Bacci: Eu só não comecei a jogar futebol no ventre da mi-nha mãe porque não era nas-cido ainda. Nasci jogando e sempre gostei de bola. Desde o tempo em que eu era mole-que eu já jogava. Meu pai me colocou em um colégio inter-no, o “Ateneu Paulista”, em Campinas, e lá a gente não tinha outro divertimento que não fosse o futebol. A gente jogava o tempo todo.

B: Quando começou a se destacar?GB: É difícil de explicar. Co-mecei a jogar fu-tebol no Bauru Atlético Clube, que era o Luzita-na F.C. A equipe vai aparecendo e você vai apare-cendo também. Eu cheguei a treinar pelo ju-venil do São Paulo. Eu estava visitando São Paulo, e o “Xi-rola”, formador de jogadores do São Paulo, me viu jogando e me convidou para que eu fi -casse por lá. Mas meu pai não me deixava fi car em São Paulo

com ele morando em Bauru. Eu tive que fi car no interior e fi z carreira aqui.

B: Quais foram as partidas mais marcantes do BAC?GB: Eu me lembro de um jogo que defi niu a posição no cam-peonato brasileiro. Aliás, era na época Campeonato Pau-lista. Nós jogamos em Tau-baté, contra a equipe de lá, e o BAC precisava vencer. O time de Taubaté estava mui-to preparado, com elemen-tos profissionais. Mas eu não sei o que aconteceu aquele dia. Algum santo baixou em mim, porque não é possí-

vel jogar tanto como eu joguei. Eu sabia que o que eu estava fazendo era su-perior à minha possibil idade. Eu sei lá o que

aconteceu, mas sei que acon-teceu. E o BAC venceu.

B: Como era a rivalidade entre o BAC e o Noroeste?GB: A rivalidade sempre exis-tiu. Se você marcasse um gol já era uma vitória. Era gos-

toso jogar contra o Noroeste. Havia jogos difíceis, que mo-vimentavam a cidade e toda a região. A rivali-dade era grande, era uma briga boa. Tinha momento em que você não fi ca-va à vontade, mes-mo com outros times. Eu era do Luzitana e quando ia para Taubaté, me afastava. Não podia ficar me exibin-do lá, porque podia apanhar na rua. Brigava no campo e acabava de bater na rua. En-tão, você evitava até de sair, porque era um perigo. Hoje em dia eu acho que o futebol está menos violento. Antiga-mente, você jogava e o sujei-to queria que você vencesse: se você jogasse bonitinho, era tudo bonitinho, mas se você jogasse errado, virava tudo pancada.

B: O senhor jogou com Dondinho, pai do Pelé, e conheceu o rei ainda ga-roto. Qual deles jogava melhor?GB: Não podemos fazer com-paração. O Pelé jogou em pe-ríodo diferente. Mas tudo que

o Pelé fez, ele aprendeu com o pai. Eu lembro uma história do Pelé: eu estava conversan-

do com o Dondi-nho, e o Pelé co-meçou “tic, tic, tic” e a bola não caía. Fazendo embaixa-dinha. E eu falei:

“Dondinho, vou dar um tran-co nesse moleque aí. Ele tá me irritando!”. O Dondinho, que era muito gozador, disse: “Você que sabe, Gino. Vai lá!”. E o Pelé no “tic, tic”. Eu falei: “ó, Pelé... Vou dar um tranco em você...”. Ele deu uma ri-sadinha e eu fui, mas ele des-viou e foi pegar a bola lá longe e continuou no “tic, tic...”. E a bola não caiu.

B: Que conselho o senhor daria a quem deseja se-guir carreira no futebol?GB: Tem que ser responsável e se cuidar. Hoje acho que não acontece tanto, mas antiga-mente jogava e depois come-çava a beber mais e mais, e não tomava conhecimento. Hoje em dia o jogador é mais pro-fi ssional, ele está começando a pensar na vida, sabe que existe a necessidade de se cuidar.

O beque do BACHomenageado como ícone do futebol bauruense, Gino Bacci relembra os tempos em que a bola era mais do que companheira de trabalho: era um símbolo da felicidade de jogar

“Esse já foi para a história!”

O estádio quieto e o gol marcado pelo silêncio. Ves-tido de azul como o Uruguai, o Bauru Atlético Clube come-morava e sofria junto com os brasileiros que assistiam ao fatídico jogo de 16 de julho de 1950. No antigo Estádio Anto-nio Garcia, o BAC fazia tremer as redes do rival Noroeste, enquanto o Brasil via a bola correr cada vez mais depressa nos pés uruguaios no Maraca-nã. Mesmo chorando a Copa perdida, os baqueanos vibra-vam com a vitória conquista-da. Aos 35 minutos do segun-do tempo, Gino Bacci fez o gol que selaria o triunfo contra o Noroeste. Bacci não foi destaque apenas no famoso dérbi de 16 de julho. Hoje, com 92 anos, é uma peça fundamental na história do BAC: foi zagueiro do “Esquadrão da Primavera” e chegou a atuar no São Paulo, levando a arte do futebol além de Bauru. Atu-almente, é dono do “Hotel Avenida”, investimento herdado do pai.

Nayara Kobori

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Um dia, dois jogos. A vi-tória do BAC por 1 a 0, gol de Gino Bacci, foi insuficien-te para que os baqueanos pudessem sair contentes do Estádio Antonio Garcia. Du-rante o dérbi de 16 de julho de 1950, as atenções estavam divididas: autofalantes pre-sentes no campo transmi-tiam, pela Rádio Nacional, o Maracanaço, jogo que calou o país diante do Uruguai.

Alguns devem se lembrar desse entre vários outros momentos que só puderam ser vivenciados através do rádio, que “tinha, em ter-mos de audiência, o mesmo poder que a televisão tem hoje”, como afirma o histo-riador e pesquisador João Francisco Tidei de Lima. Um poder que sustentava caríssi-mas linhas telefônicas. Uma época em que, para realizar uma ligação interurbana, ou se marcava a alto custo uma chamada “aprazada” ou se esperava por horas na linha. Mas eram as radionovelas e programas de auditório que, mexendo com o imaginário dos ouvintes, mantinham

Edson Leite, Pedro Luiz e Mário Moraes: o grande escrete da Rádio Bandeirantes na Copa de 1958

“Algum santo baixouem mim, porque não é possível

jogar tanto como eu joguei”

“Se você jogasse errado, viravatudo pancada”

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O beque do BAC O áureo do rádio Crônica

“Esse já foi para a história!”

Fábio de Santana Barreto

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Ao entardecer de sexta-fei-ra, o silêncio rompia-se com o brindar dos copos. “Finalmen-te, companheiros!”, era o coro geral. O alívio pela chegada do fi m de semana vinha acompa-nhado de tensão com o clássi-co que se aproximava. Aliás, o dérbi começara ali mesmo, logo nos primeiros goles.

Antes que qualquer chutei-ra pisasse no gramado do Es-tádio Luzitana, senhores ele-gantes, do alto dos tamancos, defendiam suas cores com pro-vocações e coriscos aos rivais. Não perdiam a compostura dos ternos impecáveis e bigo-des encerados. Jogavam limpo, com a classe e o charme costu-meiros dos Anos Dourados.

As brincadeiras ecoavam no salão do bar como se anteci-passem os lances da partida de domingo. Uma grande ‘sacada’ mais parecia um drible descon-certante, causando furor e gar-galhadas. E melhor que isso, só uma bela resposta, categórica, derrubando o rival como em um desarme preciso, em um contra-ataque mortal.

O burburinho arrastava-se pela madrugada de sexta e es-morecia. Mas antes mesmo do sábado espreguiçar-se, alguns rapazes já estavam de volta ao balcão, cada vez mais ácidos. Apostavam, lançando seus da-dos e palpites na mesa. Beberi-cavam e bebericavam, até que se permitissem entornar as do-ses. Afrouxavam as gravatas e, conforme a bebida lhes subia, o som das risadas invadia o espaço reservado das famílias que almoçavam ali.

Na prateleira mais alta atrás do balcão, um rádio ca-pelinha embalava a boemia. Os cigarros queimavam len-tamente nas piteiras e a an-siedade corroía os fígados já não tão saudáveis. O relógio, cada vez mais lento, convencia a todos de que, no domingo, Bauru pararia. Mas, até que se postassem em campo BAC e Noroeste, muitas outras garrafas secariam, torcedores travariam embates verbais di-vertidíssimos e a atmosfera da partida se condensaria na es-quina da 1º de Agosto com a Rio Branco. O Bar Crystal era a preliminar do dérbi.

Reduto da rivalidadeFelipe Vaitsman

Um dia, dois jogos. A vi-tória do BAC por 1 a 0, gol de Gino Bacci, foi insuficien-te para que os baqueanos pudessem sair contentes do Estádio Antonio Garcia. Du-rante o dérbi de 16 de julho de 1950, as atenções estavam divididas: autofalantes pre-sentes no campo transmi-tiam, pela Rádio Nacional, o Maracanaço, jogo que calou o país diante do Uruguai.

Alguns devem se lembrar desse entre vários outros momentos que só puderam ser vivenciados através do rádio, que “tinha, em ter-mos de audiência, o mesmo poder que a televisão tem hoje”, como afirma o histo-riador e pesquisador João Francisco Tidei de Lima. Um poder que sustentava caríssi-mas linhas telefônicas. Uma época em que, para realizar uma ligação interurbana, ou se marcava a alto custo uma chamada “aprazada” ou se esperava por horas na linha. Mas eram as radionovelas e programas de auditório que, mexendo com o imaginário dos ouvintes, mantinham

o poder das emissoras. Fa-mílias organizavam bailes ouvindo o programa Rádio--Baile Vista Alegre, da Bau-ru Rádio Clube, e as radio-novelas prendiam atenções com suas histórias.

Os radialistas e o futebolTorcedores se maravi-

lhavam com a riqueza de detalhes e com a velocida-de dos narradores da época. Walter Lisboa (já chamado de “o narrador de todas as torcidas”, que criou jargões, como seu último enquanto locutor: “esse já foi para a história!”) comenta sobre o seu primeiro ídolo do rádio: Pedro Luís. “Um narrador muito rápido, uma garganta espetacular e um português de primeira, sem sofistica-ção”, descreve.

Outro grande nome foi Edson Leite, radialista bau-ruense conhecido como “po-eta” em suas narrações de jo-gos. Foi Edson que elevou a popularidade da Rádio Ban-deirantes, pois, “em meados dos anos 50, criou a fórmula adotada por muitas emis-

soras, que procurava unir notícia, música e esporte”, conta Tidei de Lima.

Edson Leite e Pedro Luís – além de Mário Moraes, um dos comentaristas mais importantes do rádio es-portivo brasileiro – fizeram a transmissão da Copa de 1958, na Suécia, pela Ban-deirantes, inesquecível para muitos e que, segundo Tidei de Lima, “teve entre 78% de 80% de audiência”.

Assim como essa, várias outras transmissões de di-versos narradores ajudavam a estimular o imaginário do torcedor. Os radialistas, te-oricamente imparciais e que “procuravam ficar neutros, se não perdiam audiência”, como conta Tidei, faziam com que em Bauru não fos-se diferente. Apesar dessa busca pela neutralidade, a rivalidade entre o Noroeste e o BAC, que tinha o famoso Bar Crystal como principal palco, era alimentada pelos radialistas e presente en-tre os mesmos. Porque, em Bauru, todo mundo era ou BAC ou Norusca.

Fábi

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Bar

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Edson Leite, Pedro Luiz e Mário Moraes: o grande escrete da Rádio Bandeirantes na Copa de 1958

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O BaqueanoO BaqueanoO Baqueano

O time da cidadeA história do clube que nasceu Luzitana, respirou futebol e cativou Bauru

Quando Charles Miller, na volta de seus estudos na In-glaterra, trouxe as primeiras bolas de futebol para o Brasil, em 1894, provavelmente não sabia que, em pouco tempo, o esporte bretão tomaria as vár-zeas da cidade de São Paulo. Tampouco imaginava que se popularizaria em todo o país. Talvez Miller também não fi -zesse ideia de que algumas pe-lotas, viajando nos trilhos da Companhia Paulista de Estra-das de Ferro, cairiam em des-campados bauruenses e por ali fariam tremendo sucesso.

Mas foi às margens de ou-tra ferrovia, a Noroeste do Bra-sil, que nasceu o primeiro time de futebol da cidade. O Espor-te Clube Noroeste, vinculado à estrada de ferro, foi fundado em 1º de setembro de 1910 e, durante seus primeiros anos, reinou em Bauru. Para medir forças, a equipe dos ferroviá-rios disputava seus matches (partidas) com outros times da região. A prática do futebol era tão recente que sequer se des-vinculara das terminologias em inglês. “O escanteio era corner. Os zagueiros eram os backs. O goleiro era o goalkeeper”, re-lembra o historiador e memo-rialista Gabriel Ruiz Pelegrina.

A soberania noroestina na cidade só foi ameaçada em 1919. Em 26 de abril, um gru-po de amigos bauruenses foi

a Pederneiras disputar um amistoso e venceu por 3 a 1. Na viagem de volta – ainda no vagão do trem – os jovens planejaram transformar aque-le combinado em um clube de futebol. Apenas quatro dias fo-ram necessários para que tudo fosse concretizado.

Encontros, convites e lon-gas conversas foram recom-pensados na noite de 31 de abril, quando uma reunião de-

terminou os alicerces do clube. Os grandes nomes da primeira gestão seriam Antonio Garcia e Pedro Bertolini, entusiastas do esporte em Bauru, nomeados, respectivamente, presidente e vice do clube. O nome da agre-miação teve relação direta com o empreendimento do primei-ro mandatário. “Em homena-gem a ele [Antonio Garcia], puseram Luzitana, que era o

mesmo nome de sua loja”, ex-plica Nildemar Godoy, atual tesoureiro do Bauru Atlético Clube, que faz questão de fri-sar: “Luzitana com ‘z’”.

Em 1º de maio, nasceu para o Brasil – e, de certa forma, para o mundo – o Luzitana Fu-tebol Clube. Dali a alguns dias, o Noroeste tomaria conheci-mento da nova força futebolís-tica da cidade e logo organiza-ria uma partida para testar o

time. O Luzitana apresentou sua camisa azul e branca pela primeira vez contra um com-binado Smart-Noroeste – o Smart, até 1919, era o único time que fazia frente ao Noro-este em Bauru. A contagem no placar foi, na verdade, o anún-cio de que o Luzitana não se contentaria em ser coadjuvan-te: 9 a 3 para os lusos.

Anos de grandes clássicos e

de uma fervorosa disputa entre Noroeste e Luzitana pelo posto de maior time de Bauru leva-ram a um equilíbrio impres-sionante. Desde o primeiro Campeonato Bauruense de Fu-tebol, em 1931, até o início dos torneios ofi ciais da cidade – com a Liga Bauruense de Fute-bol Amador, em 1946 – foram seis títulos do Luzitana contra seis do Noroeste. Muitas vezes, a fi nal foi disputada justamen-te entre os dois. Na última de-las, vencida pelos ferroviários, o time azul e branco já não era homônimo da casa de comér-cio de Antonio Garcia.

Anos de glóriaEm 1946, o Luzitana Fute-

bol Clube, já ilustre, muda de nome para Bauru Atlético Clu-be e se eterniza ao som de três letras bem simples: BAC. O fu-tebol e a cidade se aproximam; o clube é Bauru até no nome. A mudança ocorreu no dia 1º de agosto, em comemoração ao cinquentenário de Bauru.

De certa forma, não só no nome, o time se tornou mais brasileiro e assim mais vitorio-so. Pois foi ainda em 1946 que a comemoração do 50º ani-versário da cidade foi seguida de outra: a do primeiro título amador do estado conquistado por um time bauruense. A fi -nal deu-se entre BAC e SAMS, vencedores dos campeonatos

1919

1931

1946

1951/1952

1955

1964

Primeiro de maio: fundação

do Luzitana Futebol Clube

Primeiro título do Luzitana no Campeonato Bauruense

de Futebol

Primeiro de agosto: mudança de nome para Bauru Atlético Clube

Campeão Amador do Estado

Esquadrão da PrimaveraOrigem do Baquinho

Passagem de Pelé pelo clube

Licença da Federação Paulista de Futebol (FPF)

Partida benefi cente:reencontro BAC x Noroeste

Annelize Pires, Carolina Rodrigues e Felipe VaitsmanAnnelize Pires, Carolina Rodrigues e Felipe VaitsmanAnnelize Pires, Carolina Rodrigues e Felipe Vaitsman

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Casa Luzitana em 1925: a loja que inspirou o nome de fundação do clube

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O time da cidadeA história do clube que nasceu Luzitana, respirou futebol e cativou Bauru

amadores do interior e da capi-tal, respectivamente. Isso sig-nifi ca que, se a Lei do Acesso – criada só em 1948 – existisse, o BAC disputaria a Primeira Di-visão do campeonato de 1947.

Os anos seguintes culmina-ram no chamado Esquadrão da Primavera. O presidente do BAC na época e também proprietário do extinto Diário de Bauru, Nicola Avallone Jr., o Ni-colinha, foi o prin-cipal responsável pela montagem da equipe em 1951.

O Esquadrão da Primavera contava com ótimos jogadores, que se tornaram eternos ído-los dos baqueanos. Dentre eles destacavam-se o centroavante Dondinho, o atacante Marinho e o beque Gino Bacci. Infeliz-mente, a formação durou ape-nas até 1952, mas contou com grandes técnicos no período: Domingos da Guia e Walde-mar de Brito.

Domingos da Guia foi a grande aposta inicial de Ni-colinha para treinar o Esqua-drão. Ele era conhecido por ter sido excelente zagueiro central – talvez o melhor de todos os tempos. Segundo Fausto Gon-çalves, pesquisador do fute-bol na cidade, Domingos sou-be administrar o BAC na sua passagem. Já para o radialista Walter Lisboa, o treinador foi infeliz ao escalar jogadores reservas em um jogo decisivo contra o São Bento de Marília, ainda em 1951, e o BAC perdeu em pleno Antonio Garcia. Isso teria minado o acesso da equi-pe naquele ano.

Com a saída de Domingos, Nicolinha promoveu o treina-dor do Baquinho (infanto-ju-venil do BAC), Waldemar de Brito, ao comando do time. Ele começou bem. Em 23 de de-zembro de 1951, liderou o BAC em um dos maiores confrontos entre times brasileiros e ar-gentinos. O embate foi com o

Atlanta de Buenos Aires, que poucos dias antes havia ganhado do São Paulo no Pacaem-bu. Entretanto, em Bauru o cená-rio foi diferente. O

Esquadrão da Primavera ven-ceu os argentinos por 8 a 2 – a maior goleada que uma equipe do interior já aplicou em um time estrangeiro.

Nicolinha ainda reforçou o plantel em 1952, mas quem subiu foi o Linense. E, desde então, o BAC entrou em declí-nio, sobretudo depois da su-bida do Noroeste em 1954 – com um time todo reforçado por ex-baqueanos.

Último suspiroNo fi m da gestão de Nico-

linha, a conta do Esquadrão da Primavera veio à tona e o fracasso na tentativa de ascen-der à Primeira Divisão trouxe graves consequências. Alguns episódios já haviam marcado a crise fi nanceira. “Carioca e Alceu [jogadores] depre-daram a sede do clube no carnaval de 1953 motivados pela falta de pagamento. Não tinham como pagar a pen-são [onde moravam]”, relata Fausto Gonçalves.

Em 1955, a situação fi cou

insustentável e o BAC pediu licença à Federação Paulista de Futebol, desativando o time profi ssional e encerrando de vez o sonho de Nicolinha e de toda uma torcida.

No início dos anos 60, o clu-be ensaiou uma volta ao futebol e montou uma equipe semipro-fi ssional para jogar a Segunda Divisão regio-nal de 1962. “Era um time baseado em jogadores da várzea. O BAC só treinava ter-ça, quinta e sábado, depois das 17 horas, porque o pessoal tra-balhava”, relata Edson Massa, quarto zagueiro e capitão do BAC no retorno do futebol. No entanto, o time já não era tão prestigiado pelos moradores da cidade. “A torcida de Bau-ru preferiu o Noroeste, que era da Primeira Divisão. Sobraram só os torcedores antigos [do BAC]”, lamenta.

O grande foco do clube se tornou a parte social. O futebol dependia muito mais da von-

tade dos jogadores. “A gente jogava pela paixão. As amiza-des é que valiam”, conta José Carlos Barbosa, o Zequinha, meia-esquerda do BAC àquela época. Mas não é só de paixão que se sustenta um time. Em 1966, o clube deixou de parti-

cipar de campeo-natos. Otacílio Fi-lho, zagueiro do BAC nesse tem-po, relata que nos anos seguintes o time só jogou amistosos.

Hoje, o que restam são as lembranças. “O jogador, quando volta ao campo em que jogou, se emociona”, ex-plica Otacílio. Mas nem o campo sobrou – o terreno foi comprado por uma rede de supermercados. Aparecido Domingos Braga, o Sarará, foi ponta-esquerda do BAC na década de 1960 e recorda, saudoso, da sede do clube. “A gente se lembra daquelas três torres, muito bonitas. Infeliz-mente, nós brasileiros temos memória curta”, desabafa.

1964

1970

1975

1988

1994

2006

Último dérbi bauruense da história, em comemoração aos 60 anos do NoroestePlacar: Noroeste 3 x 0 BAC

Pelé volta a Bauru e faz seu último jogo com a camisa do BAC, antes de ir a Nova Iorque jogar pelo Cosmos

Aquisição do clube de campo

Desativação da sede social

Venda do terreno da sede social à rede Tauste de supermer-cados

“A gente jogavapela paixão. As amizades

é que valiam”– Zequinha, ex-jogador

“O jogador, quandovolta ao campoem que jogou, se emociona”

– Otacílio Filho, ex-jogador

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BAC amador no fi m dos anos 60: equipe só disputava amistosos

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O Baqueano

Assim que as chuteiras de futebol profi ssional foram de-fi nitivamente penduradas no Bauru Atlético Clube, em 1955, o foco dos investimentos foi a construção de uma sede social. E, antes mesmo que tratores deixassem o local depois de acabada a reforma, a força do BAC já havia garantido a venda de uma série de títulos.

Com a mudança, o que antes era apenas campo e arquiban-cada uniu-se a piscinas, restau-rante e ginásio, que comportava duas quadras esportivas. O fu-tebol, felizmente, não acabou. Até o fi m das atividades da sede social, em 1994, realizavam-se, no mesmo campo cujo portal de entrada apresentava as três tor-res, os campeonatos amadores. “O futebol de salão e o campe-onato de associados ganharam força depois que o time profi s-sional do BAC acabou”, conta o ex-jogador José Carlos Barbosa, o Zequinha.

O último lampejo do espor-te de alto rendimento no clube deu-se com a bola nas mãos. Um professor, chamado José Oscar Guimarães, consultou o dirigente Nildemar Godoy – atual primeiro-tesoureiro do BAC – sobre a possibilida-de de se formar uma equipe de vôlei. A união de forças fez com que um time masculino e um feminino participassem de campeonatos.

A força do time de vôlei femi-nino tornou-se tão expressiva que a equipe chegou a disputar a

“Jogando bola na rua, in-fernizando a vida dos outros, roubando amendoim dos trens que passavam, fazendo arte, an-dando de carroça”. É assim que Raquel Marçal da Silva, 67, se lembra das coisas que Dico fazia durante sua infância em Bauru. O garoto era vizinho da avó de Raquel, e criou com toda a famí-lia da menina, principalmente com seu irmão Raul, um víncu-lo muito forte: “A gente se fala-va como irmãos. Não tinha esse negócio de termos mais dinhei-ro do que eles. Era uma coisa de família”, conta Raquel.

No ano de 1943, João Ra-mos do Nascimento, o Dondi-nho, foi contratado pelo Luzi-tana Futebol Clube. Com ele, vieram de Minas Gerais sua es-posa Celeste Arantes, sua sogra Ambrosina Arantes, seu cunha-do Jorge Arantes e seus fi lhos Zoca, Lucinha e Dico. Dico de Edson. Edson fi lho de Dona Arantes e Seu Nascimento. Ed-son Arantes do Nascimento.

Dico começou a jogar fute-bol cedo em Bauru. Enquanto Dondinho jogava no time pro-fi ssional do BAC, ex-Luzitana, o garoto jogava nas categorias de base. “O BAC formou o in-fanto-juvenil, e o Pelé, já com seus 10, 11 anos, pertenceu ao time”, relata o radialista Wal-ter Lisboa. Mas não era só no Baquinho, como era conheci-do o infanto-juvenil, que Dico se divertia com a bola nos pés. “Ele começou a jogar no São Paulinho de Curuçá”, explica Raquel. Na realidade, jogava em qualquer time que tivesse lugar para ele. E jogava muito. Segundo Lisboa, “Pelé saiu de Bauru fazendo 90% do que ele fazia no Santos e na Seleção”. Mas ainda não é hora de tirar

Dico de Bauru.Em meados da década de

1950, o então presidente do BAC, João Fernandes, resol-veu dar ao time infanto-juvenil uma estrutura de grande por-te. Fernandes designou ao ex--jogador Waldemar de Brito a função de dirigir o Baquinho. Sob o comando dele, Dico e companhia foram campeões do II Campeonato Infanto-Ju-venil de Futebol, disputado em 1954. O título deu ao Baquinho o direito de disputar a partida preliminar da decisão da Se-gunda Divisão paulista. O jogo foi contra o Flamenguinho, campeão juvenil paulistano, na rua Javari. Era a primeira par-tida de Dico na capital, mas ele não se intimidou: fez incríveis sete gols, e o Baquinho enfi ou 12 a 1 no Flamenguinho.

Inevitavelmente, Dico foi ganhando destaque. O radia-lista Eduardo Nasralla conta que, com o fi m do Baquinho, em 55, o garoto “chegou a disputar amistosos pelo No-roeste, mas não foi contrata-do”. Segundo ele, o alvirrubro “chegou a oferecer a Pelé um contrato nos mesmos termos do melhor jogador do time, mas aí entrou o Santos na pa-rada”. E foi assim que come-çou o fi m de Dico em Bauru.

O interesse do Santos pelo garoto não surgiu do nada. Wal-demar de Brito, que também era amigo pessoal de Dondinho, tinha contatos no time do lito-ral. Funcionário da Secretaria Estadual de Saúde, Waldemar queria retornar a São Paulo com uma promoção e, para tanto, “procurou o deputado es-tadual Athiê Jorge Coury, que também era presidente do San-tos, e apresentou Pelé. O Athiê

acertou não só a ida de Pelé ao Santos, mas também a trans-ferência do Waldemar de Brito para São Paulo”, relata Nasralla.

Dico foi. Mas voltou. Em 1958, depois da conquista do Brasil na Copa da Suécia, visitou Bauru, onde seus pais viveram por mais alguns anos. Em 1975, depois de toda a trajetória vito-riosa com as camisas do Santos e da Seleção Brasileira, assinou contrato com o New York Cos-mos, dos Estados Unidos. No dia 15 de março daquele ano, veio a Bauru se despedir da ci-dade, do BAC e da “família bran-ca” que fi caria no Brasil. “Nessa viagem, ele queria ir lá em casa e o pessoal não queria deixar. Ele fi cou muito ‘p da vida’, saiu escondido e foi mesmo assim”, relembra a “irmã” Raquel. A despedida, é claro, não poderia acontecer sem um jogo de fute-bol. “Juntaram o Baquinho da época [de 54] e arrumaram o jogo contra o Caçulinha [gran-de rival do Baquinho]. O Pelé jogou só o primeiro tempo e meteu três gols”, narra Lisboa.

Depois de 75, Dico foi e não

voltou mais, e a relação do an-tigo craque do Baquinho com a cidade fi cou estremecida. O historiador bauruense Gabriel Pelegrina sustenta que “Pelé não gosta de Bauru. Ele não fala nada da cidade e nem vem aqui”. Lisboa, Nasralla e Ra-quel, por outro lado, acham que é a cidade que deve a Dico. “A imprensa cai em cima falando que o Pelé precisa fazer alguma coisa por Bauru. Não. É Bauru que precisa fazer alguma coisa pelo Pelé”, observa Nasralla. Raquel endossa a opinião do radialista ao dizer que “nunca foi feito nada por ele [Pelé]” e, além de destacar a importân-cia do jogador para Bauru, de-clara que “ele não tem mágoa nenhuma [de Bauru]. Essas histórias são invenções”.

Polêmicas à parte, o fato é que Dico mudou. Virou Pelé. Cheia de saudades, Raquel re-corre à infância para ratifi car que Pelé “é melhor como pessoa do que como jogador”. E, lem-brando-se da família, fi naliza: “Nós não somos Pelé. Nós so-mos Dico. Pelé é para o mundo”.

Pelé antes de serPara sua irmã e os bauruenses da época, ele ainda é o Dico

Baquinho de 1954 (da esq. para a dir.): Osmar, Grillo, Passoca, Zoel, Aniel, Esquerdinha (em pé), Maninho, Pelé, Miro, Pércio, Armando (agachados)

Leonardo Zacarin

Pelé era corintiano

• Quando criança, o rei do futebol torcia pelo Corinthians. Jogando futebol de botão com o irmão Zoca e seus amigos, Pelé escolhia o Timão e comemorava gritando ‘Goool do neguinho Baltazar’, em homenagem ao eterno centroavante corintiano.

Regra especial para Pelé

• Em 1953, jogando um campeonato infantil de futebol de salão pelo Radium, Pelé destoa-va tanto dos outros garotos que a organiza-ção do torneio decidiu que ele não poderia passar do meio da quadra. Se passasse, seria marcada falta contra seu time.

A origem do apelido

• Quando Dondinho jogava no Vasco de São Lourenço (MG), o goleiro da equipe se chamava Bilé. Brincando com os amigos em Bauru, Pelé vivia gritando ‘Boa, Bilé!’, mas as crianças não entendiam direito e reprodu-ziam ‘Pelé’.

Três coisas que você não sabe sobre Pelé

Dados obtidos no livro De Edson a Pelé - A infância do rei em Bauru, de Luiz Carlos Cordeiro

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Assim que as chuteiras de futebol profi ssional foram de-fi nitivamente penduradas no Bauru Atlético Clube, em 1955, o foco dos investimentos foi a construção de uma sede social. E, antes mesmo que tratores deixassem o local depois de acabada a reforma, a força do BAC já havia garantido a venda de uma série de títulos.

Com a mudança, o que antes era apenas campo e arquiban-cada uniu-se a piscinas, restau-rante e ginásio, que comportava duas quadras esportivas. O fu-tebol, felizmente, não acabou. Até o fi m das atividades da sede social, em 1994, realizavam-se, no mesmo campo cujo portal de entrada apresentava as três tor-res, os campeonatos amadores. “O futebol de salão e o campe-onato de associados ganharam força depois que o time profi s-sional do BAC acabou”, conta o ex-jogador José Carlos Barbosa, o Zequinha.

O último lampejo do espor-te de alto rendimento no clube deu-se com a bola nas mãos. Um professor, chamado José Oscar Guimarães, consultou o dirigente Nildemar Godoy – atual primeiro-tesoureiro do BAC – sobre a possibilida-de de se formar uma equipe de vôlei. A união de forças fez com que um time masculino e um feminino participassem de campeonatos.

A força do time de vôlei femi-nino tornou-se tão expressiva que a equipe chegou a disputar a

divisão especial do Campeona-to Paulista em 1999 e em 2000, mesmo depois da desativação da sede. A qualidade do grupo era assegurada sobretudo por Pedro Maceia, então presidente do BAC. A atenção redobrada do ex-dirigente do clube sobre

o voleibol se explicava pelo fato de sua fi lha fazer parte da equi-pe. “Ele era o patrocinador e o ‘paitrocinador’”, brinca o radia-lista Rafael Mainini. “Depois da morte dele, não só o projeto do vôlei feminino passou por uma reestruturação – acabou o time que jogava na especial – como o clube em si também pratica-mente morreu”, completa.

O esporte minguou de vez no BAC. Mainini ressalta que toda modalidade esportiva de alto rendimento “requer uma viabilização, uma gama maior de patrocínio, uma receita um pouco maior”, o que deixou de

existir com a morte de Maceia e com a redução paulatina do quadro de associados.

Entre 1994 e 2006 (ano em que a sede social do BAC foi vendida à rede Tauste de super-mercados), o local fi cou pratica-mente abandonado. O que ain-

da existe de registros do clube está seguro graças a Nildemar Godoy. “Eu ia lá toda semana para colocar cadeado, porque quebravam tudo e roubavam”, relembra. Nas invasões, foram--se troféus, documentos, com-putadores e aparelhos de som. Depois de um acordo com o presidente do clube, o baque-ano fez três viagens de porta--malas cheio com tudo o que julgava importante.

Domingueiras dançantesParalelamente ao esporte,

o BAC era capaz de reunir com primazia a sociedade bauruen-

se nas décadas de 1960 a 1980. Entre suas principais atrações, estavam a feijoada de Luiz Car-los Carvalho, o Pacu, shows de artistas da época e os bailes de carnaval, também realizados nos demais clubes da cida-de, como o Bauru Tênis Clube (BTC) e o Bauru Country Club. “Eu conheci minha cara metade no carnaval do BAC”, entrega o ex-jogador do clube Aparecido Domingos Braga, o Sarará.

Pelo menos uma vez ao mês, o clube convidava algum artis-ta para fazer apresentações no ginásio. Beth Carvalho, Nelson Gonçalves, Jair Rodrigues, Ja-melão e Luiz Ayrão são algu-mas das personalidades que já animaram as noites baqueanas.

Estar diante desses grandes nomes era comum aos bau-ruenses da época, já que circui-tos universitários possibilita-vam shows de Chico Buarque e MPB4 ou Elis Regina pelo valor irrisório de três reais. Es-ses shows aconteciam no Clube Luso e no BTC.

Durante o dia, piscinas e quadras do BAC fi cavam cheias. O ambiente bastante familiar é realçado por ex-sócios e con-temporâneos ao período. Entre-tanto, isso passou a ser buscado em locais mais particulares. “As pessoas que têm o poder aqui-sitivo um pouco maior podem morar num condomínio fecha-do que tem quadra poliesporti-va, área de lazer para as crian-ças. O clube perdeu o sentido”, destaca Mainini.

Por trás da metaCom o fi m do time profi ssional, vôlei e futebol de salão crescem e vida social ganha força no BAC

Baquinho de 1954 (da esq. para a dir.): Osmar, Grillo, Passoca, Zoel, Aniel, Esquerdinha (em pé), Maninho, Pelé, Miro, Pércio, Armando (agachados)

Amanda Lima

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A origem do apelido

• Quando Dondinho jogava no Vasco de São Lourenço (MG), o goleiro da equipe se chamava Bilé. Brincando com os amigos em Bauru, Pelé vivia gritando ‘Boa, Bilé!’, mas as crianças não entendiam direito e reprodu-ziam ‘Pelé’.

Três coisas que você não sabe sobre Pelé

A surpresa de Chico

Dados obtidos no livro De Edson a Pelé - A infância do rei em Bauru, de Luiz Carlos CordeiroVista aérea da sede social – na parte superior estão as três torres da entrada

Eduardo Nasralla, jornalista, conta sobre o dia em que dividiu a quadra do BAC com Chico Buarque: “No dia em que veio Chico e MPB4, foi uma coisa interessante. O Luso é o templo sagrado de basquete. Eis que desce o pessoal do Chico e re-solve fazer um ‘rachinha’ naquela quadra. O seu Rodrigues, que era presidente do clube na época, um afi cionado pelo basquete, disse: ‘pelo amor de Deus, aqui ninguém vai jogar futebol, não! Vai acabar com a minha quadra’. Ele, por tele-fone, acertou tudo e arrumou uma Kombi para levar Chico e MPB4 até

o BAC, onde estavam uns jovens vagabundos que gostavam de bater bola – entre eles, eu. Fizemos um ‘rachinha’ com eles. E teve uma coi-sa muito impressionante: no res-taurante tinha uma foto do Baqui-nho, com o Pelé sentado em cima de uma bola. E falaram para ele: ‘aqui que o Pelé começou a jogar’. ‘Sério isso?’, respondeu o Chico. Ele foi até o campo, pegava na grama e falava: ‘eu joguei no campo onde jo-gou Pelé!’. Ficou maravilhado.”

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Construção da sede social nos anos 50, onde hoje está o Supermercado TausteR

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O Baqueano

Do campo ao campo

“Nem lembrança, nem saudade”

No ponto fi nal de sua his-tória, o BAC se transforma em um clube de campo a qui-lômetros do centro urbano da cidade. Apesar da área de mais de noventa mil metros quadra-dos, a história de Dondinho e outros se resume a apenas um ponto, diante da grandeza de seu passado. Não fossem a si-gla na fachada e uma escondi-da sala com um emaranhado

de troféus, qualquer visitante poderia muito bem deixar o clube sem saber nem mesmo o signifi cado de BAC.

Comprada em 1988, a sede campestre foi uma ten-tativa de atrair público para o clube quando ser sócio não representava o status de ou-tros tempos. Por 18 anos, os clubes da cidade e do campo dividiram um mesmo associa-

do. Somente em 2006, com a venda do antigo estádio para o Tauste e renegado pela vida urbana, o BAC encontrou no campo sua sobrevivência.

Duas quadras, um campi-nho society, três piscinas, vá-rios quiosques com churras-queira, muitos animais e uma moderna tirolesa compõem o novo cenário do baqueano. Três fatores mantêm tudo

isso: o rendimento do dinhei-ro proveniente da venda do estádio, os seis funcionários que cuidam do local e a paixão de Nildemar Godoy, o atual tesoureiro do BAC.

Se fosse depender dos só-cios, o clube fecharia as portas em um mês. Apesar de uma longa lista de associados, con-tam-se os ativos nos dedos. “Se for considerar esse termo [sócio ativo], são dois: eu e o advogado. Pagando em dia”.

Número de associados que refl ete na frequência. “Não é uma frequência fi xa. Hoje vão mais não-sócios que sócios”, explica Godoy.

Sobre o que o mantém como tesoureiro do BAC até os dias de hoje, Godoy assume que é a paixão. “Acho que é mais isso [paixão]. Ao menos para mim. Porque eu estou aqui, como diretor, partici-pando, desde 64. E antes de ter algum cargo eu ia assistir aos jogos. Vi o Pelé jogar”.

A história do BAC termi-na como começou, do campo para o campo. Onde hoje as bolas rolam somente por brin-cadeira, Nildemar ainda tenta manter viva história do clube. Tenta transformar esse último ponto em uma reticência.

Da mesma forma como começou, o BAC volta para o campo. Mas, no clube distante da cidade, a bola rola somente de brincadeira

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Com a pompa e a proteção da posse por direito, emer-giu-se do coração do futebol bauruense um poderoso do ramo alimentício. As esca-vadeiras mecânicas, com o suporte do capital, consegui-ram sentenciar o destino de tudo o que era palpável. As máquinas da vida, com o su-porte biológico, sentenciam, na incerteza do tempo, o des-tino do que ainda sobrevive.

O Bauru Atlético Clube se faz presente na emoção de relatos e nas compreensões de olhares que, já quase can-sados da vida, ainda brilham com os bailes de carnavais, ainda navegam naquele tem-po. Dribladores de um relógio que, a cada segundo, anuncia a iminência de um fi m.

Durante meses de apu-rações, uma série de relatos,

fatos, fotos, datas e nomes puderam botar à prova a me-mória de cada entrevistado e a veracidade de cada docu-mento e imagem. Mas mágico foi perceber claramente que a cada depoimento tínhamos em nossas frentes uma his-tória de vida e uma de BAC. Construtores do “futebol ver-dade” – o futebol genuíno ba-queano – e pioneiros na “ver-dade do futebol”, no acesso irrestrito às memórias mais escondidas por sentimento e paixão. Nenhuma escava-deira mecânica é capaz de demolir tamanha constru-ção. Nenhum capital con-segue destruir o legado do time-reino, onde o rei, até então príncipe, pôde dar os primeiros passos.

Nas falas de Luciano Dias Pires: “a memória da cidade é

o povo”. Mas cadê a memória, povo? Segundo o diplomata e fi lósofo francês, Henry Ber-gson, começamos a perder a memória quando estamos, na verdade, enfrentando pro-blemas de acesso a ela, já que em nenhum momento uma recordação desaparece. To-dos os entrevistados, substra-tos palpáveis de quase todo o material encontrado aqui, lei-tor, encontram-se cada qual em um microcosmo, muitas vezes sem nenhum contato entre si. E a memória de cada um permanece em seus inex-plorados territórios cinzentos permeados e trancados em um ambiente passional tipi-camente baqueano.

Poucas declarações são tão marcantes quanto a do pesquisador Fausto Gonçal-ves, ex-baqueano, que luta

pela perpetuação da memó-ria da equipe: “eu queria me libertar das coisas que estão gravadas na minha cabeça e não consigo”. Por isso, expli-ca, decidiu escrever livros a respeito do futebol bauruen-se. Até quando vai esperar manifestações espontâneas de quem, generosamente, dispõe-se a ajudá-lo a cons-truir a sua memória?

As chamas dos olhos das dezenas de entrevistados re-presentam muito mais do que os inúmeros Watts do painel chamativo do “po-deroso alimentício”. Recor-ro, novamente, ao saudoso Fausto, que não se cansou do povo. Quando perguntado “o que é BAC para Bauru?”, res-pondeu: “Agora não repre-senta nada: nem lembrança, nem saudade”.

Gabriel Oliveira

Opinião

Nildemar Godoy tenta manter viva a história do clube há mais de quarenta anos

Wagner Alves

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“Eu fui sócio do BAC, frequentei o clu-be. Lembro que a feijoada do Pacu era muito boa. Até estou atrás de uma camisa do BAC”.

Walter de Oliveira, 62, aposentado

“No tempo do BAC, eu morava em São Ma-nuel e vinha, quando era pequeno, com o meu pai para assistir aos dérbis. Sempre fui noro-estino, mas frequentava o BAC, era associado. A rivalidade era só no futebol”.

Reinaldo José Grava, 77, aposentado

Em 12 de novembro de 2012, O Baqueano bateu à porta do grande rival Noroeste, que, naquela ma-nhã de domingo, venceria o rioclarense Velo Clube por 3 a 1 no Estádio Alfredo de Castilho. Antes da partida, noroestinos comentaram o que sabem ou lembram do BAC, seu velho coirmão.

“Quando eu cheguei em Bauru, o BAC já estava acabando. Mas eu lembro que tinha uma rivalidade sadia. Seria bom ter um rival do Noroeste na cidade”.

Osmar Maciel, 71, aposentado

“Eu lembro do Baquinho, sei que o Pelé jogou no BAC, mas a cidade dá muito pouco valor. Hoje, Bauru mal consegue ter um time só, ima-gine dois. A cidade merecia ter um time melhor, mas não tem apoio dos grandes empresários”.

Luiz Antonio Garcia (esq.), 52, comerciário

Na boca do rival

“Nem lembrança, nem saudade”

“Dizem que era uma grande festa, que mais da metade da população torcia pelo BAC. Acho que hoje não seria ideal ter um time rival dentro da própria cidade, até porque o bauruense já não com-parece em peso ao estádio. É melhor unir forças por um grande time”.

Sivaldo Machado (esq.), 39, encarregado de produção

isso: o rendimento do dinhei-ro proveniente da venda do estádio, os seis funcionários que cuidam do local e a paixão de Nildemar Godoy, o atual tesoureiro do BAC.

Se fosse depender dos só-cios, o clube fecharia as portas em um mês. Apesar de uma longa lista de associados, con-tam-se os ativos nos dedos. “Se for considerar esse termo [sócio ativo], são dois: eu e o advogado. Pagando em dia”.

Número de associados que refl ete na frequência. “Não é uma frequência fi xa. Hoje vão mais não-sócios que sócios”, explica Godoy.

Sobre o que o mantém como tesoureiro do BAC até os dias de hoje, Godoy assume que é a paixão. “Acho que é mais isso [paixão]. Ao menos para mim. Porque eu estou aqui, como diretor, partici-pando, desde 64. E antes de ter algum cargo eu ia assistir aos jogos. Vi o Pelé jogar”.

A história do BAC termi-na como começou, do campo para o campo. Onde hoje as bolas rolam somente por brin-cadeira, Nildemar ainda tenta manter viva história do clube. Tenta transformar esse último ponto em uma reticência.

pela perpetuação da memó-ria da equipe: “eu queria me libertar das coisas que estão gravadas na minha cabeça e não consigo”. Por isso, expli-ca, decidiu escrever livros a respeito do futebol bauruen-se. Até quando vai esperar manifestações espontâneas de quem, generosamente, dispõe-se a ajudá-lo a cons-truir a sua memória?

As chamas dos olhos das dezenas de entrevistados re-presentam muito mais do que os inúmeros Watts do painel chamativo do “po-deroso alimentício”. Recor-ro, novamente, ao saudoso Fausto, que não se cansou do povo. Quando perguntado “o que é BAC para Bauru?”, res-pondeu: “Agora não repre-senta nada: nem lembrança, nem saudade”. Fotos por Amanda Lima

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O Baqueano

Amanda LimaAnnelize PiresCarolina RodriguesFábio de Santana BarretoFelipe VaitsmanGabriel OliveiraLeonardo ZacarinNayara KoboriWagner Alves

Expediente

AgradecimentosBauru Atlético Clube

Aparecido Domingos Braga, “Sarará”Edson Massa

Eduardo NasrallaFausto GonçalvesGabriel Pelegrina

Gino BacciJoão Francisco Tidei de Lima

José Carlos Barbosa, “Zequinha”Nildemar Godoy

Otacílio Garms FilhoRafael Mainini

Raquel Marçal da SilvaWalter Lisboa

Para saber mais

De Edson a Pelé: A infância do rei em Bauru (Luís Carlos Cordeiro, DBA, 1997)

Site: www.bauruac.com.br Excelência Pioneira do Futebol Bauru-ense (Fausto Gonçalves, Canal 6, 2010)

Pelé - A autobiografi a (Sextante, 2006)

Diretor da FAACRoberto Deganutti

Coordenador do Departamentode Comunicação Social

Juarez Tadeu de Paula Xavier

Professores OrientadoresAngelo Sottovia Aranha

Tássia Zanini

EndereçoAv. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01Vargem Limpa, Bauru - SPTelefone: (14) 3103-6000