O Bandeirante - n.229 - Dezembro de 2011

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Anjos da esperança

Ano XX - no 229 - dezembro de 2011Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP

O BandeiranteJornal

Josyanne Rita de Arruda FrancoMédica PediatraPresidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012

Finda outro período de dias, horas e minutos que se sucederam em meses até o fechamento do atual ciclo. Fim de ano... Não será apenas o término do calendário em curso, sempre é o fim de uma era. O que levaremos para o fu-turo que nascerá no dia seguinte com o sol? Um novo ano de pla-nos, metas, objetivos e desafios.

Desafiaremos continuar viven-do apesar da tristeza e das frus-trações. Continuaremos a buscar o sorriso que enfeita as faces de quem nos olha extasiado pelo carinho apaziguador do bem-querer. Permaneceremos fiéis à receita cotidiana que nos molda e faz seguir sem romper os pa-drões para tentar o novo – e por isso mesmo os queixumes e res-mungos poderão ser recorrentes, conhecidos e sem novidades – ou viraremos a mesa para tentar proposta alternativa de conforto e serenidade, sem apelar para as místicas fórmulas de felicidade e realizações? Enxergaremos ver-dadeiramente nossas vidas?

Natal e Ano Novo são a alegria do calendário! Dezembro celebra o Dia da Família e o da Justiça no mesmo dia oito. Um tempo de querer felicidade, momento de desejar de novo, de fazer contato

com o viço que foi adormecendo durante todo o ano, oportunidade de resgatar os laços fraternos, de tentar ser mais justo e humano.

No bercinho humilde que é manjedoura, o olhar do Menino Deus para a santa mãe é promes-sa de redenção e caridade. Embe-vecidos, olhamos a cena que mu-dou a história do mundo. Estrelas enfeitavam o céu daquela noite de bênçãos divinas, mas uma se destacou apontando o caminho da natividade, guiou os magos, arrebatando pastores e seus ani-mais até o cenário pobre e ilumi-nado. Comovido, ciente de sua humanidade na cena anunciada por legião de anjos, um pai olha em silêncio respeitoso a jovem esposa e seu filhinho; ao lado de sua Sagrada Família, será o guar-dião da realeza divina.

Milhares de anos se passaram desde aquela noite. A família de Jesus é o destaque do mês de dezembro e a promessa do ano vindouro; envolve, em laços de ternura e harmonia, cada cora-ção sensível, cada emoção palpá-vel. Ressalta e relembra todos os mortais do papel fundamental da família na condução do futuro de seus membros.

Apoio, amizade, consideração,

compartilhamento, ajuda mútua e respeito, deverão caber outra vez nos projetos de futuro, en-contrando guarida nos corações e entre os presentes de Natal. Brindamos com quem amamos, saudando a vida que nos mo-vimenta e a esperança que nos sustenta. Conosco estão nossos amores, nossos sorrisos e nossas lágrimas. Somos todos anjos da esperança, elos de reconciliação e união que permanecerão juntos em resistente corrente, mesmo que o tempo passe, ainda que a presença física se torne ausência irremediável.

Foi assim que se sucedeu com aquela inesquecível e rememora-da noite feliz! Aconteceu há mi-lhares de anos, mas continuamos festejando a humilde santidade da família sem riquezas que ensi-nou ao mundo o quanto o amor é capaz de transformar a vida e o destino de cada um.

Que o Natal renove os votos de união e solidariedade para to-das as famílias do mundo!

Que o Ano Novo fortaleça os vínculos de perseverança, traba-lho e coerência capazes de fazer do planeta um lugar melhor!

Boas Festas! Feliz Natal! Feliz 2012!

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eXPedIeNTe

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Que posso escrever nesta conversa de dezembro? Que Natal é o mês de Paz, que todas as pessoas devem se confraternizar e perdoar mágoas e ressentimentos? Que é uma época para renovarmos nossas amizades, nosso amor pelo próximo, de lembrar-se do irmão com frio e fome sentado em qualquer calçada imunda da cidade?

Muita calma, faremos isso como bons burgueses em todo o mês de dezembro. Vamos chamá-lo de mês do Perdão Universal. Silenciaremos nossa metralhadora bucal para os maus motoristas, para os maus políticos,

para os amigos que sempre fazemos questão de denegrir por nossa exclusiva vocação.

Mas alegrem-se: já vai chegar janeiro do próximo ano e poderemos, como todos os outros sete bilhões de habitantes deste planeta, dar um basta em tudo isto. Ufa! Acabou o Natal e estaremos voltando à normalidade civilizada: que se dane o outro motorista. Amigos? Nunca mais! Vizinho com frio e fome, quem mandou não trabalhar? Disparo a minha arma mais mortal e certeira: a palavra falada, que se perde ao vento logo depois de atingir seu objetivo.

Viva a hipocrisia! Quando será que a humanidade vai evoluir a ponto de não precisar de Natais, Semanas Santas, Dias disso ou daquilo para realmen-te se melhorar, obedecendo a primeira e mais justa lei criada: amar uns aos outros?

Feliz Natal... por enquanto...

Jornal O Bandeirante ANO XX - no 229 - Dezembro 2011

Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros - São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Carlos Augusto Ferreira Galvão. Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671-SP). Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP 13201-100 – Jundiaí – SP E-mail: [email protected] Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 9937-6342. Colaboradores desta edição: Aída Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini, Alcione Alcântara Gonçalves, Carlos Roberto Ferriani, Flerts Nebó, Helio Begliomini, Hildette Rangel Enger, José Jucovsky, Josyanne Rita de Arruda Franco, Márcia Etelli Coelho.

Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de 1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.

Diretoria - Gestão 2011/2012 - Presidente: Josyanne Rita de Arruda Franco. Vice-Presidente: Luiz Jorge Ferreira. Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal Efetivos: Hélio Begliomini, Carlos Augusto Ferreira Galvão e Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal Suplentes: Alcione Alcântara Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mário Marco Napoli.

Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, a opinião

da Sobrames-SP

Roberto Antonio Aniche

Editores: Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. GalvãoRevisão: Ligia Terezinha PezzutoDiagramação: Mateus Marins CardosoImpressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica

Editores de O Bandeirante

Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009 Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - 2010Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão - janeiro 2011

Presidentes da Sobrames – SP

1º. Flerts Nebó (1988-1990)2º. Flerts Nebó (1990-1992)3º. Helio Begliomini (1992-1994)4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)8º. Luiz Giovani (2003-2004)9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)11º. Helio Begliomini (2007-2008)12º. Helio Begliomini (2009-2010)13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012)

Evanir da Silva Carvalho – 20/12

Geovah Paulo da Cruz – 02/12/11

Helmut Adolf Mataré – 24/12

Manlio Mario Marco Napoli – 10/12

AniversárioDEzEMBRO: nesta data

querida, nossos parabéns!

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O BANDEIRANTE - Dezembro de 2011 3 SUPLemeNTo LITerÁrIo

Na página 60 do Livro “Uma breve História do Mundo”, encontramos o Capítulo 6 que se intitulou “Mara-vilhoso Mar” e nos relata o seguinte:

“Nenhum outro pedaço de água salgada exerceu uma influência tão ampla sobre o nascimento do mundo atual como o Mar Mediterrâneo.”

Não fosse esse mar, com suas qualidades peculiares e sua localização extraordinária, a vida econômica, social e natural, certamente o mundo teria tomado outro rumo.

Numa época em que o mar calmo representava um recurso menos dispendioso e mais rápido que a terra, para o transporte de passageiros e diferentes cargas, ele apresentava vantagens, pois o Oeste aproximava-se do Oceano Atlântico e o leste era vizinho do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico, tendo ainda um longo braço que era o Mar Negro que avançava para o interior da Ásia.

Dois braços mais curtos, ladeando a península Itálica chegavam quase ao sopé das montanhas dos Alpes.

O mar, poderíamos dizer, unia a África, a Europa e a Ásia, sendo que poderíamos julgar como uma autoestrada aquática, visto que unia regiões diversas, cada qual com seus produtos básicos, como metais: Cobre, Estanho, Ouro, Prata, Chumbo e as bebidas como vinhos, azeite de oliva, além de grãos.

E ainda poderíamos aduzir as madeiras e o gado, além de especiarias, as armas e as roupas e seus diferentes tecidos.

Não vou entrar em dissertação sobre ideias e crenças religiosas, assim como sobre Mitologias de priscas eras.

Em resumo o Mediterrâneo se constituía em um verdadeiro Lago, que tinha uma abertura: o estreito de Gibraltar, desaguando no Atlântico.

Estando praticamente todo cer-cado por terra, de modo geral apre-sentava-se como um lago calmo por longos períodos, onde barcos a remo ou simples embarcações com uma ou por uma pluralidade de velas, como os galeões, transportaram os Descobridores das diferentes regiões deste nosso planeta.

Maravilhoso mar

Flerts Nebó

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4 O BANDEIRANTE - Dezembro de 2011 SUPLemeNTo LITerÁrIo

Perfil 2011 Sobrames-SP

Carlos Augusto Ferreira Galvão

Atuação: Médico PsiquiatraCidade de nascimento: Santarém - ParáComida preferida: Pato no TucupiEsporte: FutebolLivro de cabeceira atual: A Bíblia (Novo Testamento)Filme: A Última Esperança da TerraViagem inesquecível: Festa do Sairé (Santarém – Pará)Sonho: chegar aos cem anos trabalhandoIntolerância: detesto a burriceCaracterísticas pessoais: chaaaaatoProjeto futuro: já estou em meu futuroFilosofia de vida: viver e trabalhar, diminuindo sofrimentos.

Quem é? Quem é?(resposta na edição de janeiro)

Elegante e bem dispostaTraz brilho às noites festivas

E se acaso não participaSua falta é sempre sentida.

Tem a jovialidadeDa vida que é bem vivida.

Seu nome é o mesmo da ópera: Nossa querida _ _ _ _ !

Olhos atentos,Olhares secretos, perdidosComunicam-se, não falamMãos não se tocam, se entendemMentes pressentem, adivinham, imaginam

Você,Eu e vocêSomos sem termos sido,Vivemos, há muito nos compreendemosSem realmente nos conhecermos,No cotidiano da vida.

Você e eu

Aída Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini

Quero poder ser útil,Para poder te ajudar,Mostrando o verdadeiro caminho,Por onde deves trafegar.

Quero saber o teu nome,Para poder te identificar,Nesta nossa linda caminhada,Em direção a algum lugar.

Quero poder te abraçar,Para sentir o teu corpo,No momento do encontro,E também te escutar.

Quero saber o que pensas,Para sentir a emoção,Que brota do teu coração,Quando você me falar.

Quero também te dizer,Que preparado, ainda não estou;Pressa não tenho de chegar,No Éden, pra te encontrar.

No céu sei que estás,Pra lá também eu vou;Chegar lá, hoje, eu quero;Quero, mas não vou!

Encontro no céu

Alcione Alcântara Gonçalves

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O BANDEIRANTE - Dezembro de 2011 5 SUPLemeNTo LITerÁrIo

É meia noite... Primeiro minuto de um Novo Ano.

Os sinos da Matriz quebram o silênciodos corações que tentam recomeçar.

Tocam para perdoar os atos insanosque ceifam tantas promessas de vida.

Dobram para resgatar a esperançaque se vê sufocada pelas contínuas provações.

Ecoam como testemunhas de que, apesar das adversidades,tudo vale a pena quando não esmorece a fé.

Bendizem aqueles que vencem o medo e se levantam,quando seria tão mais fácil se esconder.

Celebram a coragem do primeiro passoque, mesmo inseguro, enfrenta o desconhecido.

Exaltam os que entendem que a vida se faz no presentee não anulam seus sonhoscom as desculpas do “se... talvez... um dia”.

Glorificam aqueles que não desistem da corridae no último minuto avançam um pouco mais.

A trilha é longa.Os desvios são inevitáveis.Mas sempre existe uma estrela para indicar o caminho.

O Amor ilumina essa noite especial.

Meu coração se revitaliza.E eu nem pergunto por que os sinos ressoam tão fortes.

Sei que eles anunciam um novo ciclo.Sinto que eles batem por mim.

Reafirmam que a vida sabiamente segue adiante.E eu só preciso aprender a acompanhá-la.

Ao dobrar os sinos

Márcia Etelli Coelho

Papai NoelTrás de voltaPara mimAquela casaCor-de-rosaPlantada na ladeiraOnde a chuvaBrincavaDe fazer lagoasPara meus barcosDe papelViajarem a esmo

E também o quintalQue eu pensavaSer florestaE fazia heroicas caçadasDe formigas e gafanhotos

Trás de voltaMeu começo acidentadoMas cheio de sonhosE fantasiasPreciso muito delesPara continuarA caminhadaE cumprir a minha sina...

P.S. Como não tenhoEndereço certoDeixa tudo arrumadoDireitinhoEm cima de um cadernoOnde escrevo poesias

Carta de natal

Hildette Rangel Enger

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Guimarães Rosa: médico, diplomata,

Literato e grande “inventador” de vocábulos1

Helio Begliomini

João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo – MG, em 27 de junho de 1908. Foi o primeiro dos sete filhos de Florduardo Pinto Rosa ("seu Fulô") e de Francisca Guimarães Rosa ("Chiquitinha").

Era inteligente, autodidata e com grande aptidão para Línguas. Já aos 7 anos começou a estudar francês e o fez com vários outros idiomas, como se pode verificar neste trecho da entrevista que deu a uma prima, anos mais tarde:

"Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração”.

Aos 10 anos passou a residir na casa dos avós, em Belo Horizonte, onde concluiu o curso primário. Iniciou o curso secundário no Colégio Santo Antônio, em São João Del-Rei, mas logo retornou a Belo Horizonte onde se formou. Em 1925, com apenas 16 anos, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, concluindo o curso em 1930.

Casou-se aos 22 anos, em 27 de junho de 1930 – dia e mês de seu aniversário de nascimento –, com Lígia Cabral Penna, na ocasião com 16 anos, com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes.

Após a formatura começou a exercer sua profissão em Itaguara, então município de Itaúna – MG, onde permane-ceu por cerca de dois anos. Foi nessa localidade que passou a ter contato com os elementos do sertão que serviriam de referência e inspiração à sua obra.

Em seguida, Guimarães Rosa serviu como médico voluntário da Força Pública, durante a Revolução Constitucio-nalista de 1932, indo para o setor do túnel em Passa-Quatro – MG, onde tomou contato com o futuro presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira, que, naquela ocasião, era o médico chefe do Hospital de Sangue. Entrou, posteriormente, por concurso, para o quadro da Força Pública do Estado de Minas Gerais. Em 1933 foi para Barba-cena na qualidade de capitão médico do 9o Batalhão de Infantaria.

Interrompeu sua vida como médico militar ao ser aprovado em 2o lugar no concurso para o Itamaraty, quando se tornou diplomata brasileiro, exercendo atividades na Europa (Alemanha e França) e na América Latina (Colômbia).

No início da carreira diplomática, exerceu, como primeira função no exterior, o cargo de cônsul-adjunto do Bra-sil em Hamburgo, Alemanha, de 1938 a 1942. Aí conheceu Aracy Moebius de Carvalho que viria a ser sua segunda mulher. No contexto da II Guerra Mundial, para ajudar os judeus a fugir para o Brasil, emitiu, ao lado da segunda esposa, agora com o nome de Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, mais vistos do que as cotas legalmente estipuladas, tendo, por essa ação humanitária e de arrojo, ganhado, no pós-guerra, o reconhecimento do estado de Israel. Aracy é a única mulher homenageada no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto, em Israel.

João Guimarães Rosa estreou na literatura, em 1929, com a publicação do conto “O mistério de Highmore Hall" na revista “O Cruzeiro”, o qual não faz parte de nenhum de seus livros. Em 1936, a coletânea de versos Magma, obra

1. Trabalho classificado para apresentação na IV Jornada Guimarães Rosa da Sobrames – MG, realizada na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal de Minas Gerais, de 14 a 15 de outubro de 2011. Anais da IV Jornada Guimarães Rosa. Sografe, Editora e Gráfica Ltda. Belo Horizonte 2011, páginas128-132.

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inédita, recebeu o Prêmio Academia Brasileira de Letras, com elogios do po-eta Guilherme de Almeida. Entretanto, destacou-se como contista, novelista e romancista. Também afirmou escrever em transe mediúnico.

Em 1957 candidatou-se pela primeira vez, sem sucesso, à Academia Bra-sileira de Letras. Foi eleito por unanimidade em 6 de agosto de 1963, em sua segunda candidatura a esse silogeu. Entretanto, adiou a cerimônia de posse enquanto pode, pois afirmava ter medo de morrer no dia do evento. Só veio a assumir sua cadeira, a de número 2, em 16 de novembro de 1967, sucedendo o acadêmico João Neves da Fontoura e sendo recebido pelo acadêmico Afonso Arinos de Melo Franco.

Em seu discurso de posse, algumas passagens parecem antever a sua morte. Constam nos últimos parágrafos em tom sarcástico as seguintes frases: “A gente morre é para provar que viveu” e “(...). As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Mas a palavra derradeira de seu pronunciamento foi o nome de sua cidade natal: Cordisburgo.

Fatidicamente, faleceu em 19 de novembro, três dias mais tarde, na cidade do Rio de Janeiro, de infarto do miocárdio. Sua morte permanece um mistério, sobretudo por estar previamente anunciada em sua obra mais marcante – Grande Sertão: Veredas –, romance qualificado por Guimarães Rosa como uma "autobiografia irracional". De acordo com alguns críticos, talvez a explicação esteja na própria travessia simbólica do rio e do sertão de Riobaldo, ou no amor inexplicável por Diadorim, maravilhoso demais e terrível demais, beleza e medo ao mesmo tempo, ser e não ser, verdade e mentira.

Guimarães Rosa caracterizava em seus trabalhos literários a presença do sertão como palco das ações. Sua obra ficou marcada pela linguagem inovado-ra, utilizando elementos de linguagem popular e regional, com fortes traços de narrativa falada. Tudo isso, unindo à sua erudição, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções semânticas e sintáticas.

Recebeu ainda o prêmio do concurso da revista “O Cruzeiro” (quatro contos, 1929); prêmio Humberto de Campos da Editora José Olympio (2o lugar, 1938); prêmio Sociedade Felipe d’Oliveira com o livro Sagarana (1946); prêmio Carmem Dolores Barbosa e prêmio Paula Brito com o livro Grande Sertão: Veredas (1956); e prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra (1961).

João Guimarães Rosa desapareceu prematuramente aos 59 anos de idade, no ápice de sua carreira diplomática e literária. Em 1966 seus livros já estavam traduzidos na França, Itália, Estados Unidos da América, Canadá, Alemanha, Espanha, Polônia, Holanda e Checoslováquia.

Em 1967, considerado fenômeno da literatura brasileira, seria indicado para o prêmio Nobel de Literatura por iniciativa de seus editores alemães, franceses e italianos. A indicação foi barrada em decorrência de sua morte. Não restam dúvidas de que foi um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos.

São suas obras: Magna (versos, 1936); Sagarana (contos, 1946); Com o Vaqueiro Mariano (reportagem poética, 1947); Corpo de Baile (ciclo nove-lesco, 2 volumes, 1956); Grande Sertão: Veredas (romance, 1956); Primeiras Estórias (contos, 1962); Manuelzão e Miguilim (1964); No Urubuquaquá, no Pinhém (1965); Noites do Sertão (1965); Campo Geral (1964); Tutameia – Terceiras Estórias (contos, 1967); Estas Estórias (contos póstumos, 1969); Ave, Palavra (diversos póstumos, 1970); além de obras em colaboração: O Mistério dos MMM (1962) e Os Sete Pecados Capitais (1964).

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8 O BANDEIRANTE - Dezembro de 2011 SUPLemeNTo LITerÁrIo

E ele conseguiu com sabedoria, calma e muita tolerância,entre entraves e incongruências,pelas essências e sem ganâncias,dedicou seu tempo...Esmerou nas latitudes, nas longitudes,tornou histórica nossa participação,quinhão de soberbas atitudes,fez reuniões, desfez confusões, elucidou,clareou caminhos, com carinho.Atendeu a todos, para a Feira se alugou.Foi pai, amigo, conselheiro, nosso olheiro;foi lutador, valente e crente no nosso trabalho.Nosso agasalho da feira do Livro,abrigo nas deiscências, nosso Olinto.O nome dele Nelson JacinthoAh! Com ter de toda hora,aurora feito amigo “do peito”,Deixamos aqui, de todos, querido Nelson,o nosso maior respeito.

Prefácio (do livro Combinando Palavras

com Nelson Jacintho)

Carlos Roberto Ferriani

C Criação Milenar de divino soproA Agora humana amores sopraS Sensuais, pungentes, originais sementesA Atingem matriz, aconchegante ninhoL Lastro fecundo de infinitas almas

G Genes produzidos aos milhões pululamR Rastreando céus, túneis, caminhamA Alcançam inteiros seu destino, seu alvoV Vibrantes, dois se tornam umI Integração, alvorecer de fulgurante estrelaD Dinâmica microscópica a imitar o CosmoO Oh! Milagre!!...reproduziu-se a VIDA!!!

Casal grávidoUm ato de amor

José Jucovsky