O Argumento Evolucionista Contra o Naturalismo
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Alvin Plantinga é o maior filósofo cristão da atualidade. Formado no Calvin College
e ex-professor da Universidade de Notre Dame. Seus trabalhos são fundamentais
para o estudo da Filosofia da Religião, Metafísica e Epistemologia. Este artigo, na
verdade, é um esboço de uma preleção dele na BIOLA University onde ele mostra
que a incompatibilidade do evolucionismo não é com o teísmo, mas sim com o
naturalismo (a crença de que tudo que existe é o mundo natural), já que o propósito
da seleção natural é produzir sobrevivência e não crenças verdadeiras, portanto, no
contexto naturalista não temos a menor garantia de que nossas crenças
correspondam à realidade.
O Argumento Evolucionista Contra o Naturalismo
Alvin Plantinga
Tradução: Vitor Grando
A. O PROBLEMA
Teísmo: Nós seres humanos fomos criados por um ser totalmente bom, onipotente
e onisciente; um ser que tem conhecimento, propósitos e intenções e age de modoque venha a alcançá-los. Deus e criação.
Naturalismo: A descrição teísta excluindo Deus. Carl Sagan, Stephen Jay Gould,
David Armstrong, Darwin, John Dewey, Bertrand Russell.
Faculdades cognitivas: os poderes ou faculdades de capacidades através das quais
nós adquirimos conhecimento ou formamos uma crença: memória, percepção,
razão, talvez outros.
Teísmo e a confiabilidade de nossas faculdades cognitivas:
Tómas de Aquino:
Já que os seres humanos foram criados à imagem de Deus, em virtude de terem
uma natureza que inclui um intelecto, tal natureza é à imagem de Deus em virtude
de ter alguma capacidade de imitar à Deus (ST Ia q. 93 a. 4);
E,
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Somente em criaturas racionas encontramos uma semelhança de Deus que conta
como uma imagem...
Pensando sobre a semelhança da natureza divina, criaturas racionais parecem, de
alguma forma, obter uma representação desse tipo de virtude de imitar a Deus não
somente no ato de ser e viver, mas especialmente no ato de compreender (ST Ia
Q.93 a.6).
A maioria de nós pensamos (ou pensaríamos se fossemos refletir) que pelo menos
uma função ou propósito de nossas faculdades cognitivas é nos prover crenças
verdadeiras. Mais do que isso, vamos além e pensamos que quando elas funcionam
apropriadamente, de acordo com a maneira que fomos projetados, então na
maioria das vezes elas fazem exatamente isso.
Faculdades muito mais adaptadas para alcançar a verdade em algumas áreas do
que outras; aritmética elementar e lógica, e a percepção de objetos de tamanho
médio em condições comuns. Lembrando alguns tipos de coisas:
As coisas ficam mais difíceis, entretanto, quando o assunto é uma reconstrução
precisa do que seria ser, por exemplo, um grego do quinto século antes de Cristo
(para não mencionar ser um morcego). E trabalhando no limite dos nossos poderes:cosmologia contemporânea, por exemplo. Mas não há um problema, aqui, para o
naturalista? Em qualquer nível para o naturalista que pensa que nós e nossas
faculdades cognitivas chegaram até aqui após bilhões de anos de evolução (por
seleção natural, mutações genéticas, e outros processos cegos trabalhando em
fontes de variação genética tais como mutação genética randômica)?
Richard Dawkins (de acordo com Peter Medawar, "um dos mais brilhantes da
recente geração de biólogos") uma vez confessou e afirmou para A.J. Ayer em umdaqueles elegante e beberrões jantares à luz de velasdos acadêmicos de Oxford que
ele não poderia imaginar ser ateu antes de 1859 (o ano em que foi publicado A
Origem das Espécies de Darwin); "... embora o ateísmo pudesse ser sustentável
antes de Darwin", ele disse, "Darwin tornou possível ser um ateu intelectualmente
completo." O Relojoeiro Cego Dawkins continua:
Contra todas as aparências contrárias, o único relojoeiro na natureza são as forças
cegas da física, ainda que organizadas de uma maneira muito especial. Um
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verdadeiro relojoeiro tem presciência: ele desenha as engrenagens, as molas, e
planeja suas interconexões, com um propósito futuro em mente. A seleção natural,
o processo cego e inconsciente que Darwin descobriu, e o qual nós agora sabemos
que é a explicação para a existência e o propósito aparente de toda a forma de vida,
não tem propósito algum. Se há um relojoeiro, certamente é um relojoeiro cego.
Agora, Dawkins acha que Darwin tornou possível se tornar um ateu
intelectualmente satisfeto. Mas talvez Dawkins esteja completamente errado aqui.
Talvez a verdade esteja na direção oposta. O propósito último da evolução é
sobrevivência e não a produção de crenças verdadeiras.
Patricia Churchland:
Essencialmente, um sistema nervoso permite ao organismo funcionar nos quatro
F's: alimentação (feeding), fuga (fleeing), luta (fighting), e reprodução. A principal
incumbência dos sistemas nervosos é ajustar as partes do corpo onde elas devem
estar para que o organismo sobreviva... Avanços no controle sensório-motor
conferiram uma vantagem evolutiva: um exorbitante estilo de representação é
vantajosa apenas quando é dirigida à forma de vida do organismo e aumenta as
chances de sobrevivência (Ênfase da autora). A verdade, seja lá o que ela for, ficapor último.
W. v. O. Quine e Karl Popper, Popper: Visto termos evoluídos e sobrevividos, nós
podemos estar bastante certos de que nossas hipóteses e conjeturas em relação a
como o mundo realmente é são em sua maioria corretas. Como diz Quine, ele
encontra encorajamento em Darwin:
Há algum encorajamento em Darwin. Se o espaçamento inato de qualidade é umtraço ligado geneticamente, então o espaçamento que fez as induções mais bem
sucedidas teve a tendência de predominar através da seleção natural. As criaturas
equivocadas em suas induções tem uma patética, mas louvável tendência de morrer
antes de reproduzir sua espécie.
Quine encontra ainda mais encorajamento em Darwin do que o próprio Darwin:
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Uma terrível dúvida sempre surge em mim, qual seja, se as convicções da mente do
homem, que se desenvolveram a partir da mente de animais inferiores, são de
algum valor ou confiáveis. Qualquer um confiaria nas convicções da mente de um
macaco, se é que há quaisquer convicções em tal mente?
Quine e Popper por um lado e Darwin e Churchland de outro. Quem está certo?
Mas será que podemos estreitar a pergunta? Sobre o que, precisamente, fala o
argumento? Darwin e Churchland pareciam acreditar que a evolução (naturalista) é
uma razão para duvidar de que nossas faculdades cognitivas são confiáveis
(produzindo crenças verdadeiras em sua maioria): Chame isso de "A Dúvida de
Darwin". Quine e Popper, por outro lado, aparentemente pensavam que a evolução
nos dá uma razão para crer que nossas faculdades cognitivas de fato produzemcrenças verdadeiras ou verossímeis na maior parte das vezes. Como devermos
entender essa briga?
B. A DÚVIDA DE DARWIN
Uma possibilidade: talvez Darwin e Churchland queriam propor que uma certa
probabilidade condicional é baixa: a probabilidade das faculdades cognitivas
humanas serem "confiáveis, visto que as faculdades cognitivas humanas foramproduzidas pela evolução (A evolução cega de Dawkins, não dirigida por Deus ou
qualquer outra pessoa). Se a evolução (naturalista) é verdadeira, então nossas
faculdades cognitivas são resultado de mecanismos cegos como a seleção natural,
trabalhando em fontes de variação genética tais como mutação genética randômica.
E o propósito último ou função (a 'incumbência' de Churchland) de nossas
faculdades cognitivas, se de fato tiverem um propósito ou função, este é a
sobrevivência - do indivíduo, espécie, gene, ou genótipo. Mas então é improvável
que elas tenham a produção de crenças verdadeiras como função. Então aprobabilidade de nossas faculdades serem confiáveis, dada a evolução naturalista,
seria muito baixa. Popper e Quine, por outro lado, pensam que probabilidade é
bastante alta.
P(R/N&E)
N é naturalismo metafísico. (Crucial para o naturalismo metafísico, é claro, é a
visão de que não há nenhuma pessoa como o Deus do teísmo tradicional). E:
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faculdades cognitivas humanas surgiram pela evolução (como concebida pela
ciência evolucionista contemporânea). R: a alegação de que nossas faculdades
cognitivas são confiáveis. E a pergunta é: Qual é a propabilidade de R, tendo em
vista N&E? Darwin e Churchland propuseram que essa probabilidade seria
relativamente baixa. Enquanto Quine e Popper pensaram que é bastante alta.
1. DESENVOLVENDO A DÚVIDA.
Vamos supor que pensássemos, primeiro, não sobre nós mesmos e nossos
ancestrais, mas sobre uma população hipotética de criaturas um tanto parecidas
conosco num planeta similar à Terra. (Darwin propôs que pensássemos sobre uma
outra espécie, como macacos.) Vamos supor que essas criaturas tenham faculdadescognitivas, tenham crenças, mudem de crenças, façam inferências, e assim por
diante; e suponha que essas criaturas tenham surgido por processos de seleção
endossados pelo pensamento evolutivo contemporâneo. Qual é a probabilidade de
as crenças deles serem confiáveis? O que é P(R/N&E), especificado, não para nós,
mas para eles? De acordo com Quine e Popper, bem alta: crença é conectada com
ação de tal forma que as crenças falsas levariam a comportamentos não adaptados,
o que é provável que os ancestrais dessas criaturas tenham apresentado essa
patética mas louvável tendencia que Quine menciona.
Mas: primeiro, talvez seja provável que o comportamento deles seja (ou tenha sido)
adaptativo; mas nada segue daí em relação as suas crenças. Tudo depende de como
o comportamento deles está relacionado com suas crenças.
(a) Talvez as crenças deles não fossem a causa do comportamento
(Epifenomenalismo: T.H. Huxley). Se for assim, então elas seriam invisíveis à
evolução; e então o fato de que elas surgiram durante a história evolutiva dessesseres não conferiria nenhuma probabilidade da maioria das crenças serem
verdadeiras, ou quase todas quase verdadeiras, ao invés de amplamente falsas. De
fato, a probabilidade de elas serem verdadeiras em sua maioria teria que ser
estimada como muito baixa; a probabilidade de que um conjunto amplo de
proposições escolhidos pelo acaso conter muito mais crenças verdadeiras do que
falsas é baixo. (Poderia ser que uma dessas criaturas acredite que está no elegante
jantar de Oxford, quando de fato ele está nadando num pântano primitivo, lutando
desesperadamente contra crocodilos famintos.) J.M. Smith: "Poucos anos atrás, ele
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escreveu que nunca tinha entendido porque organismos tinham sentimentos.
Biólogos ortodoxos acreditam que o comportamento, embora seja complexo, é
governado puramente por bioquímica e que as sensações criadas - medo, dor,
admiração, amor - são apenas sombras dessa bioquímica, não vitais para o
comportamento do organismo...
Time De. '92
(b) crenças, de fato, causam comportamento, mas simplesmente em virtude de suas
propriedades eletroquímicas, não por virtude de seu conteúdo. Essa possibilidade é
dita como sendo a "opinião recebida" por Rob Cummins (Representação Mental e
de Sentido); se você aceitar o materialismo da mente, é difícil ver uma alternativa.
(c) uma terceira possibilidade: poderia ser que a crença cause o comportamento
pelo conteúdo, mas seja inadequada à adaptação. Novamente, possibilidade baixa.
(d) as crenças de nossas criaturas hipotéticas causam seu comportamento e
também adaptativo. Probabilidade (dessa possibilidade junto com N&E) de que
suas faculdades cognitivas são confiáveis?
Não tão alta quanto você pode imaginar. Crenças geralmente não produzemcomportamento por si mesmas; são crenças, desejos, e outros fatores que juntos
levam ao comportamento. Então o problema é que claramente haveria um número
de padrões diferentes de crença e desejo que iriam resultar na mesma ação; junto
com esses haveria muitos nos quais essas crenças são amplamente falsas. Paulo é
um hominídeo pré-histórico; as exigências de sobrevivência exigem dele um
comportamento que evite a aproximação de tigres. Haverá muitos comportamentos
que são apropriados: fugir, por exemplo, ou escalar uma rocha íngreme, ou pular
num buraco pequeno demais para que o tigre entre, ou pular num lago. Peguequalquer um desses comportamentos apropriados B. Paulo se engaja em B, nós
pensamos, por ser um cara sensível ele tem aversão a ser comido e acredita que B é
uma forma apropriada de frustrar as intenções do tigre.
Mas claramente esse comportamento de escape poderia resultar de milhares de
outras combinações crença-desejo: indefinidamente muitos outros sistemas crença-
desejo se encaixam perfeitamente em B da mesma forma. Talvez Paulo goste muito
da idéia de ser comido, mas quando vê um tigre, ele sempre se desloca para um
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lugar melhor, pois ele acha que é improvável que o tigre que ele vê vá comê-lo. Isso
colocará as partes do corpo nos lugares certos em relação a sobrevivência, sem
envolver muito a crença. Ou talvez ele ache que o tigre é um gatinho grande, fofo e
amistoso e queira brincar com ele; mas ele também crê que a melhor maneira de
brincar com ele é correr do tigre. Ou talvez ele confunda correr em direção ao tigre
com correr para longe do tigre, crendo que a ação de correr do tigre, seja na
verdade, correr em direção ao tigre; ou talvez ele ache que o tigre seja uma ilusão
recorrente, e com a intenção de manter a forma, resolve correr uma milha sempre
que se depara com tal ilusão; ou talvez ele ache que está prestes a começar uma
corrida de 1600 metros e quer vencer, e crê que a aparição do tigre seja o sinal para
começar a prova; ou talvez...
Certamente existem um sem-número de sistemas crença-desejo que igualmente se
encaixam em um determinado comportamento. Tentando combinar essas
probabilidades numa forma apropriada, então, seria razoável supor que a
probabilidade de R, do sistema cognitivo dessas criaturas ser confiável, é
relativamente baixa, algo menos do que a metade.
Agora voltemos para a dúvida de Darwin. O raciocínio que se aplica a essas
criaturas hipotéticas, é claro, também se aplica a nós; então se nós pensarmos que aprobabilidade de R em relação a eles é relativamente baixa em N&E, nós
deveríamos pensar a mesma coisa sobre a probabilidade de R em relação a nós.
Algo similar a esse raciocínio, talvez, seja o que está por trás da dúvida de Darwin.
Então deveríamos pensar que P(R/N&E) para nós é bem baixo. E se aceitarmos
N&E, isso nos dá um invalidador para nossa crença em R: uma razão para duvidar,
para ser agnóstico em relação a isso. Se R é improvável dada a forma que nossas
faculdades se desenvolveram, então temos uma razão para rejeitar R.
C. O ARGUMENTO CONTRA O NATURALISMO
1. A DÚVIDA DESENVOLVIDA NOVAMENTE
Claro que o argumento para uma baixa estimativa de P(R/N&E) é meio fraco. Em
particular, nossas estimativas de várias probabilidades envolvidas em estimar
P(R/N&E) em relação à população hipotética foram fracas. Então talvez o melhor
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caminho seja simplesmente o agnosticismo: essa probabilidade é inescrutável; nós
simplesmente não podemos dizer qual é.
Isso também parece sensato. Qual seria, então, a atitude apropriada em relação a R
(especificamente em relação a essa população hipotética)? Alguém que aceite N&E
e também acredite que a atitude apropriada em relação à P(R/N&E) seja de
agnosticismo, certamente, tem boas razões para ser agnóstico em relação a R
também.
Agora, suponha que aplicássemos o mesmo tipo de raciocínio a nós mesmos e a
nossa condição. Supomos que pensássemos que N&E seja verdadeiro: nós também
evoluímos de acordo com os mecanismos sugeridos pela teoria evolucionistacontemporânea, não dirigida e não orquestrada por Deus ou outro alguém.
Supomos que nós pensássemos, mais além, que não há nenhuma forma de
determinar P(R/N&E) (especificado a nós). Qual seria a atitude apropriada a ser
tomada em relação a R? Bem, se nós não tivermos nenhuma informação mais
avançada, então a atitude apropriada aqui não seria, assim como em relação a
população hipotética, a do agnosticismo, rejeitando a crença? Se essa probabilidade
é inescrutável, então nós temos um invalidador para R, assim como no caso onde a
probabilidade é baixa.Então P(R/N&E) é tanto baixo ou inescrutável; e se aceitarmos N&E, então em
ambos os casos temos um invalidador para R.
2. ALGUMAS ANALOGIAS
(a) Um crente em Deus vem a crer que tal crença é produzida pelo mecanismo de
wish-fullfilment. Supomos que ele creia que a probabilidade objetiva de que o wish-
fullfilment, como um mecanismo produtor de crenças, seja confiável: baixa ouinescrutável: tal que nós não podemos dizer. Em ambos os casos ele tem um
invalidador para qualquer crença que venha a ser produzida pelo mecanismo em
questão. Razão para rejeitá-lo, para não afirmá-lo, para negá-lo.
(b) as coisas no plano da sessão: o segundo de tipo de coisa: aqui ele não vem a crer
que a probabilidade da coisa ser vermelha, visto que parece vermelho, é baixa. De
fato, ele é agnóstico em relação a probabilidade.
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(c) você vem a crer que foi criado por um demônio cartesiano maléfico que tem
prazer em enganar aqueles que ele cria: A maioria das crenças de suas criaturas são
falsas.
Então, você tem um invalidador para qualquer crença que tiver. E o mesmo vale
quando você pensa que a probabilidade em questão é baixa ou inescrutável.
Agora supomos que nós voltemos para a pessoa convencida de N&E que é agnóstica
em relação a P(R/N&E): algo similar vale para ele. Ele está na mesma posição em
relação a qualquer crença B sua, como está o crente em Deus acima. Ele está na
mesma posição que a pessoa que vem a pensar que foi criada pelo demônio
cartesiano maligno. Então ele também tem um invalidador para B, e uma boa razãopara ser agnóstico em relação a isso.
3. O ARGUMENTO
Agora, o argumento de que é irracional crer em N&E: P(R/N&E) é ou baixo ou
inescrutável; em ambos os casos (se você aceitar N&E) você tem um invalidador
para R, e portanto para qualquer outra crença B que você possa ter; mas B pode ser
o próprio N&E; então alguém que aceita N&E tem um invalidador para N&E, umarazão para duvidar ou ser agnóstico em relação a isso. Se ele não tem nenhuma
evidência independente, N&E é autorrefutável e, portanto, irracional.
Poderia ele arranjar um invalidador que destruisse esse invaliadador - um
invaliador-invalidador? Talvez fazendo alguma ciência, por exemplo, determinando
por métodos cientificos que suas faculdades são confiáveis?
Mas evidentemente isso teria que pressupor que suas faculdades são confiáveis.Thomas Reid (Essays on the Intellectual Powers of Man):
Se a honestidade de um homem fosse colocada em questão, seria ridículo se referir
a própria palavra do homem, sendo ele honesto ou não. O mesmo absurdo existe
em tentar provar, por qualquer tipo de raciocínio, provável ou demonstrativo, que
nossa razão não é falaciosa, visto que o ponto em questão é exatamente se a nossa
razão pode ser confiada. (276)
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Esxiste alguma forma sensata de se argumentar em favor de R? Qualquer
argumento que for produzido terá premissas; e essas premissas, alega-se, provêem
boas razões para crer em R. Mas, é claro, ele tem o mesmo invalidador para cada
uma dessas premissas que ele tem para R então esse invalidador não pode ser
invalidado.
Nós poderíamos colocar desta forma: qualquer argumento oferecido, para R, é
circular ou uma petição de príncipio. A evolução naturalista provê aos seus adeptos
uma razão para duvidar de que nossas crenças são em sua maioria verdadeiras;
talvez elas estejam na sua maioria erradas; pois a mesma razão para não confiar
nossas faculdades cognitivas geralmente, será uma razão para não confiar nas
faculdades que produzem crença para o bem de um argumento.
Assim, o devoto de N&E tem um invalidador D para N&E - um invalidador que não
pode ser invalidado. Então N&E é autorrefutável, e não pode ser racionalmente
aceito.
Alguém que cogita aceitar N, e esta preso, vamos dizer, entre N e o teísmo,
racionaria da seguinte forma: Se eu fosse aceitar N, eu teria boas razões para ser
agnóstico em relação a N; então eu não deveria aceitar isso. (Um argumento para airracionalidade de N, não para sua falseabilidade)
O teísta tradicional, por outro lado, não tem nenhuma razão correspondente para
duvidar de que é um propósito de nossos sistemas cognitivos a produção de crenças
verdadeiras, nem nenhuma razão para pensar que a probabilidade de uma crença
ser verdadeira, dada que é uma produção de suas faculdades cognitivas, seja baixa
ou inescrutável. Ele pode, de fato, endossar alguma forma de evolução; mas se o
fizer, será uma forma de evolução dirigida e orquestrada por Deus. E como teístatradicional - seja judeu, muçulmano, ou cristão - ele crê que Deus é o conhecedor
primário e que nos criou à sua imagem, uma parte importante disso envolve o dom
que é necessário para ter conhecimento, assim como Ele tem.
A conclusão que devemos tirar disso, portanto, é que a junção de naturalismo com
teoria evolucionista é autorrefutável: provê para si mesma um invalidador-
invalidável. É, portanto, inaceitável e irracional.