O Argumento Evolucionista Contra o Naturalismo

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7/23/2019 O Argumento Evolucionista Contra o Naturalismo http://slidepdf.com/reader/full/o-argumento-evolucionista-contra-o-naturalismo 1/10  Alvin Plantinga é o maior filósofo cristão da atualidade. Formado no Calvin College e ex-professor da Universidade de Notre Dame. Seus trabalhos são fundamentais para o estudo da Filosofia da Religião, Metafísica e Epistemologia. Este artigo, na  verdade, é um esboço de uma preleção dele na BIOLA University onde ele mostra que a incompatibilidade do evolucionismo não é com o teísmo, mas sim com o naturalismo (a crença de que tudo que existe é o mundo natural), já que o propósito da seleção natural é produzir sobrevivência e não crenças verdadeiras, portanto, no contexto naturalista não temos a menor garantia de que nossas crenças correspondam à realidade. O Argumento Evolucionista Contra o Naturalismo  Alvin Plantinga Tradução: Vitor Grando  [email protected]  A. O PROBLEMA  Teísmo: Nós seres humanos fomos criados por um ser totalmente bom, onipotente e onisciente; um ser que tem conhecimento, propósitos e intenções e age de modo que venha a alcançá-los. Deus e criação. Naturalismo: A descrição teísta excluindo Deus. Carl Sagan, Stephen Jay Gould, David Armstrong, Darwin, John Dewey, Bertrand Russell. Faculdades cognitivas: os poderes ou faculdades de capacidades através das quais nós adquirimos conhecimento ou formamos uma crença: memória, percepção, razão, talvez outros. Teísmo e a confiabilidade de nossas faculdades cognitivas: Tómas de Aquino: Já que os seres humanos foram criados à imagem de Deus, em virtude de terem uma natureza que inclui um intelecto, tal natureza é à imagem de Deus em virtude de ter alguma capacidade de imitar à Deus (ST Ia q. 93 a. 4); E,

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http://slidepdf.com/reader/full/o-argumento-evolucionista-contra-o-naturalismo 1/10

 Alvin Plantinga é o maior filósofo cristão da atualidade. Formado no Calvin College

e ex-professor da Universidade de Notre Dame. Seus trabalhos são fundamentais

para o estudo da Filosofia da Religião, Metafísica e Epistemologia. Este artigo, na

 verdade, é um esboço de uma preleção dele na BIOLA University onde ele mostra

que a incompatibilidade do evolucionismo não é com o teísmo, mas sim com o

naturalismo (a crença de que tudo que existe é o mundo natural), já que o propósito

da seleção natural é produzir sobrevivência e não crenças verdadeiras, portanto, no

contexto naturalista não temos a menor garantia de que nossas crenças

correspondam à realidade.

O Argumento Evolucionista Contra o Naturalismo 

 Alvin Plantinga

Tradução: Vitor Grando

 [email protected] 

 A. O PROBLEMA  

Teísmo: Nós seres humanos fomos criados por um ser totalmente bom, onipotente

e onisciente; um ser que tem conhecimento, propósitos e intenções e age de modoque venha a alcançá-los. Deus e criação.

Naturalismo: A descrição teísta excluindo Deus. Carl Sagan, Stephen Jay Gould,

David Armstrong, Darwin, John Dewey, Bertrand Russell.

Faculdades cognitivas: os poderes ou faculdades de capacidades através das quais

nós adquirimos conhecimento ou formamos uma crença: memória, percepção,

razão, talvez outros.

Teísmo e a confiabilidade de nossas faculdades cognitivas:

Tómas de Aquino:

Já que os seres humanos foram criados à imagem de Deus, em virtude de terem

uma natureza que inclui um intelecto, tal natureza é à imagem de Deus em virtude

de ter alguma capacidade de imitar à Deus (ST Ia q. 93 a. 4);

E,

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Somente em criaturas racionas encontramos uma semelhança de Deus que conta

como uma imagem...

Pensando sobre a semelhança da natureza divina, criaturas racionais parecem, de

alguma forma, obter uma representação desse tipo de virtude de imitar a Deus não

somente no ato de ser e viver, mas especialmente no ato de compreender (ST Ia

Q.93 a.6).

 A maioria de nós pensamos (ou pensaríamos se fossemos refletir) que pelo menos

uma função ou propósito de nossas faculdades cognitivas é nos prover crenças

 verdadeiras. Mais do que isso, vamos além e pensamos que quando elas funcionam

apropriadamente, de acordo com a maneira que fomos projetados, então na

maioria das vezes elas fazem exatamente isso.

Faculdades muito mais adaptadas para alcançar a verdade em algumas áreas do

que outras; aritmética elementar e lógica, e a percepção de objetos de tamanho

médio em condições comuns. Lembrando alguns tipos de coisas:

 As coisas ficam mais difíceis, entretanto, quando o assunto é uma reconstrução

precisa do que seria ser, por exemplo, um grego do quinto século antes de Cristo

(para não mencionar ser um morcego). E trabalhando no limite dos nossos poderes:cosmologia contemporânea, por exemplo. Mas não há um problema, aqui, para o

naturalista? Em qualquer nível para o naturalista que pensa que nós e nossas

faculdades cognitivas chegaram até aqui após bilhões de anos de evolução (por

seleção natural, mutações genéticas, e outros processos cegos trabalhando em

fontes de variação genética tais como mutação genética randômica)?

Richard Dawkins (de acordo com Peter Medawar, "um dos mais brilhantes da

recente geração de biólogos") uma vez confessou e afirmou para A.J. Ayer em umdaqueles elegante e beberrões jantares à luz de velasdos acadêmicos de Oxford que

ele não poderia imaginar ser ateu antes de 1859 (o ano em que foi publicado A

Origem das Espécies de Darwin); "... embora o ateísmo pudesse ser sustentável

antes de Darwin", ele disse, "Darwin tornou possível ser um ateu intelectualmente

completo." O Relojoeiro Cego Dawkins continua:

Contra todas as aparências contrárias, o único relojoeiro na natureza são as forças

cegas da física, ainda que organizadas de uma maneira muito especial. Um

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 verdadeiro relojoeiro tem presciência: ele desenha as engrenagens, as molas, e

planeja suas interconexões, com um propósito futuro em mente. A seleção natural,

o processo cego e inconsciente que Darwin descobriu, e o qual nós agora sabemos

que é a explicação para a existência e o propósito aparente de toda a forma de vida,

não tem propósito algum. Se há um relojoeiro, certamente é um relojoeiro cego.

 Agora, Dawkins acha que Darwin tornou possível se tornar um ateu

intelectualmente satisfeto. Mas talvez Dawkins esteja completamente errado aqui.

Talvez a verdade esteja na direção oposta. O propósito último da evolução é

sobrevivência e não a produção de crenças verdadeiras.

Patricia Churchland:

Essencialmente, um sistema nervoso permite ao organismo funcionar nos quatro

F's: alimentação (feeding), fuga (fleeing), luta (fighting), e reprodução. A principal

incumbência dos sistemas nervosos é ajustar as partes do corpo onde elas devem

estar para que o organismo sobreviva... Avanços no controle sensório-motor

conferiram uma vantagem evolutiva: um exorbitante estilo de representação é

 vantajosa apenas quando é dirigida à forma de vida do organismo e aumenta as

chances de sobrevivência (Ênfase da autora). A verdade, seja lá o que ela for, ficapor último.

 W. v. O. Quine e Karl Popper, Popper: Visto termos evoluídos e sobrevividos, nós

podemos estar bastante certos de que nossas hipóteses e conjeturas em relação a

como o mundo realmente é são em sua maioria corretas. Como diz Quine, ele

encontra encorajamento em Darwin:

Há algum encorajamento em Darwin. Se o espaçamento inato de qualidade é umtraço ligado geneticamente, então o espaçamento que fez as induções mais bem

sucedidas teve a tendência de predominar através da seleção natural. As criaturas

equivocadas em suas induções tem uma patética, mas louvável tendência de morrer

antes de reproduzir sua espécie.

Quine encontra ainda mais encorajamento em Darwin do que o próprio Darwin:

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Uma terrível dúvida sempre surge em mim, qual seja, se as convicções da mente do

homem, que se desenvolveram a partir da mente de animais inferiores, são de

algum valor ou confiáveis. Qualquer um confiaria nas convicções da mente de um

macaco, se é que há quaisquer convicções em tal mente?

Quine e Popper por um lado e Darwin e Churchland de outro. Quem está certo?

Mas será que podemos estreitar a pergunta? Sobre o que, precisamente, fala o

argumento? Darwin e Churchland pareciam acreditar que a evolução (naturalista) é

uma razão para duvidar de que nossas faculdades cognitivas são confiáveis

(produzindo crenças verdadeiras em sua maioria): Chame isso de "A Dúvida de

Darwin". Quine e Popper, por outro lado, aparentemente pensavam que a evolução

nos dá uma razão para crer que nossas faculdades cognitivas de fato produzemcrenças verdadeiras ou verossímeis na maior parte das vezes. Como devermos

entender essa briga?

B. A DÚVIDA DE DARWIN 

Uma possibilidade: talvez Darwin e Churchland queriam propor que uma certa

probabilidade condicional é baixa: a probabilidade das faculdades cognitivas

humanas serem "confiáveis, visto que as faculdades cognitivas humanas foramproduzidas pela evolução (A evolução cega de Dawkins, não dirigida por Deus ou

qualquer outra pessoa). Se a evolução (naturalista) é verdadeira, então nossas

faculdades cognitivas são resultado de mecanismos cegos como a seleção natural,

trabalhando em fontes de variação genética tais como mutação genética randômica.

E o propósito último ou função (a 'incumbência' de Churchland) de nossas

faculdades cognitivas, se de fato tiverem um propósito ou função, este é a

sobrevivência - do indivíduo, espécie, gene, ou genótipo. Mas então é improvável

que elas tenham a produção de crenças verdadeiras como função. Então aprobabilidade de nossas faculdades serem confiáveis, dada a evolução naturalista,

seria muito baixa. Popper e Quine, por outro lado, pensam que probabilidade é

 bastante alta.

P(R/N&E) 

N é naturalismo metafísico. (Crucial para o naturalismo metafísico, é claro, é a

 visão de que não há nenhuma pessoa como o Deus do teísmo tradicional). E:

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faculdades cognitivas humanas surgiram pela evolução (como concebida pela

ciência evolucionista contemporânea). R: a alegação de que nossas faculdades

cognitivas são confiáveis. E a pergunta é: Qual é a propabilidade de R, tendo em

 vista N&E? Darwin e Churchland propuseram que essa probabilidade seria

relativamente baixa. Enquanto Quine e Popper pensaram que é bastante alta.

1. DESENVOLVENDO A DÚVIDA. 

 Vamos supor que pensássemos, primeiro, não sobre nós mesmos e nossos

ancestrais, mas sobre uma população hipotética de criaturas um tanto parecidas

conosco num planeta similar à Terra. (Darwin propôs que pensássemos sobre uma

outra espécie, como macacos.) Vamos supor que essas criaturas tenham faculdadescognitivas, tenham crenças, mudem de crenças, façam inferências, e assim por

diante; e suponha que essas criaturas tenham surgido por processos de seleção

endossados pelo pensamento evolutivo contemporâneo. Qual é a probabilidade de

as crenças deles serem confiáveis? O que é P(R/N&E), especificado, não para nós,

mas para eles? De acordo com Quine e Popper, bem alta: crença é conectada com

ação de tal forma que as crenças falsas levariam a comportamentos não adaptados,

o que é provável que os ancestrais dessas criaturas tenham apresentado essa

patética mas louvável tendencia que Quine menciona.

Mas: primeiro, talvez seja provável que o comportamento deles seja (ou tenha sido)

adaptativo; mas nada segue daí em relação as suas crenças. Tudo depende de como

o comportamento deles está relacionado com suas crenças.

(a) Talvez as crenças deles não fossem a causa do comportamento

(Epifenomenalismo: T.H. Huxley). Se for assim, então elas seriam invisíveis à

evolução; e então o fato de que elas surgiram durante a história evolutiva dessesseres não conferiria nenhuma probabilidade da maioria das crenças serem

 verdadeiras, ou quase todas quase verdadeiras, ao invés de amplamente falsas. De

fato, a probabilidade de elas serem verdadeiras em sua maioria teria que ser

estimada como muito baixa; a probabilidade de que um conjunto amplo de

proposições escolhidos pelo acaso conter muito mais crenças verdadeiras do que

falsas é baixo. (Poderia ser que uma dessas criaturas acredite que está no elegante

 jantar de Oxford, quando de fato ele está nadando num pântano primitivo, lutando

desesperadamente contra crocodilos famintos.) J.M. Smith: "Poucos anos atrás, ele

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escreveu que nunca tinha entendido porque organismos tinham sentimentos.

Biólogos ortodoxos acreditam que o comportamento, embora seja complexo, é

governado puramente por bioquímica e que as sensações criadas - medo, dor,

admiração, amor - são apenas sombras dessa bioquímica, não vitais para o

comportamento do organismo...

Time De. '92

(b) crenças, de fato, causam comportamento, mas simplesmente em virtude de suas

propriedades eletroquímicas, não por virtude de seu conteúdo. Essa possibilidade é

dita como sendo a "opinião recebida" por Rob Cummins (Representação Mental e

de Sentido); se você aceitar o materialismo da mente, é difícil ver uma alternativa.

(c) uma terceira possibilidade: poderia ser que a crença cause o comportamento

pelo conteúdo, mas seja inadequada à adaptação. Novamente, possibilidade baixa.

(d) as crenças de nossas criaturas hipotéticas causam seu comportamento e

também adaptativo. Probabilidade (dessa possibilidade junto com N&E) de que

suas faculdades cognitivas são confiáveis?

Não tão alta quanto você pode imaginar. Crenças geralmente não produzemcomportamento por si mesmas; são crenças, desejos, e outros fatores que juntos

levam ao comportamento. Então o problema é que claramente haveria um número

de padrões diferentes de crença e desejo que iriam resultar na mesma ação; junto

com esses haveria muitos nos quais essas crenças são amplamente falsas. Paulo é

um hominídeo pré-histórico; as exigências de sobrevivência exigem dele um

comportamento que evite a aproximação de tigres. Haverá muitos comportamentos

que são apropriados: fugir, por exemplo, ou escalar uma rocha íngreme, ou pular

num buraco pequeno demais para que o tigre entre, ou pular num lago. Peguequalquer um desses comportamentos apropriados B. Paulo se engaja em B, nós

pensamos, por ser um cara sensível ele tem aversão a ser comido e acredita que B é

uma forma apropriada de frustrar as intenções do tigre.

Mas claramente esse comportamento de escape poderia resultar de milhares de

outras combinações crença-desejo: indefinidamente muitos outros sistemas crença-

desejo se encaixam perfeitamente em B da mesma forma. Talvez Paulo goste muito

da idéia de ser comido, mas quando vê um tigre, ele sempre se desloca para um

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lugar melhor, pois ele acha que é improvável que o tigre que ele vê vá comê-lo. Isso

colocará as partes do corpo nos lugares certos em relação a sobrevivência, sem

envolver muito a crença. Ou talvez ele ache que o tigre é um gatinho grande, fofo e

amistoso e queira brincar com ele; mas ele também crê que a melhor maneira de

 brincar com ele é correr do tigre. Ou talvez ele confunda correr em direção ao tigre

com correr para longe do tigre, crendo que a ação de correr do tigre, seja na

 verdade, correr em direção ao tigre; ou talvez ele ache que o tigre seja uma ilusão

recorrente, e com a intenção de manter a forma, resolve correr uma milha sempre

que se depara com tal ilusão; ou talvez ele ache que está prestes a começar uma

corrida de 1600 metros e quer vencer, e crê que a aparição do tigre seja o sinal para

começar a prova; ou talvez...

Certamente existem um sem-número de sistemas crença-desejo que igualmente se

encaixam em um determinado comportamento. Tentando combinar essas

probabilidades numa forma apropriada, então, seria razoável supor que a

probabilidade de R, do sistema cognitivo dessas criaturas ser confiável, é

relativamente baixa, algo menos do que a metade.

 Agora voltemos para a dúvida de Darwin. O raciocínio que se aplica a essas

criaturas hipotéticas, é claro, também se aplica a nós; então se nós pensarmos que aprobabilidade de R em relação a eles é relativamente baixa em N&E, nós

deveríamos pensar a mesma coisa sobre a probabilidade de R em relação a nós.

 Algo similar a esse raciocínio, talvez, seja o que está por trás da dúvida de Darwin.

Então deveríamos pensar que P(R/N&E) para nós é bem baixo. E se aceitarmos

N&E, isso nos dá um invalidador para nossa crença em R: uma razão para duvidar,

para ser agnóstico em relação a isso. Se R é improvável dada a forma que nossas

faculdades se desenvolveram, então temos uma razão para rejeitar R.

C. O ARGUMENTO CONTRA O NATURALISMO 

1. A DÚVIDA DESENVOLVIDA NOVAMENTE 

Claro que o argumento para uma baixa estimativa de P(R/N&E) é meio fraco. Em

particular, nossas estimativas de várias probabilidades envolvidas em estimar

P(R/N&E) em relação à população hipotética foram fracas. Então talvez o melhor

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caminho seja simplesmente o agnosticismo: essa probabilidade é inescrutável; nós

simplesmente não podemos dizer qual é.

Isso também parece sensato. Qual seria, então, a atitude apropriada em relação a R

(especificamente em relação a essa população hipotética)? Alguém que aceite N&E

e também acredite que a atitude apropriada em relação à P(R/N&E) seja de

agnosticismo, certamente, tem boas razões para ser agnóstico em relação a R

também.

 Agora, suponha que aplicássemos o mesmo tipo de raciocínio a nós mesmos e a

nossa condição. Supomos que pensássemos que N&E seja verdadeiro: nós também

evoluímos de acordo com os mecanismos sugeridos pela teoria evolucionistacontemporânea, não dirigida e não orquestrada por Deus ou outro alguém.

Supomos que nós pensássemos, mais além, que não há nenhuma forma de

determinar P(R/N&E) (especificado a nós). Qual seria a atitude apropriada a ser

tomada em relação a R? Bem, se nós não tivermos nenhuma informação mais

avançada, então a atitude apropriada aqui não seria, assim como em relação a

população hipotética, a do agnosticismo, rejeitando a crença? Se essa probabilidade

é inescrutável, então nós temos um invalidador para R, assim como no caso onde a

probabilidade é baixa.Então P(R/N&E) é tanto baixo ou inescrutável; e se aceitarmos N&E, então em

ambos os casos temos um invalidador para R.

2. ALGUMAS ANALOGIAS 

(a) Um crente em Deus vem a crer que tal crença é produzida pelo mecanismo de

 wish-fullfilment. Supomos que ele creia que a probabilidade objetiva de que o wish-

fullfilment, como um mecanismo produtor de crenças, seja confiável: baixa ouinescrutável: tal que nós não podemos dizer. Em ambos os casos ele tem um

invalidador para qualquer crença que venha a ser produzida pelo mecanismo em

questão. Razão para rejeitá-lo, para não afirmá-lo, para negá-lo.

(b) as coisas no plano da sessão: o segundo de tipo de coisa: aqui ele não vem a crer

que a probabilidade da coisa ser vermelha, visto que parece vermelho, é baixa. De

fato, ele é agnóstico em relação a probabilidade.

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(c) você vem a crer que foi criado por um demônio cartesiano maléfico que tem

prazer em enganar aqueles que ele cria: A maioria das crenças de suas criaturas são

falsas.

Então, você tem um invalidador para qualquer crença que tiver. E o mesmo vale

quando você pensa que a probabilidade em questão é baixa ou inescrutável.

 Agora supomos que nós voltemos para a pessoa convencida de N&E que é agnóstica

em relação a P(R/N&E): algo similar vale para ele. Ele está na mesma posição em

relação a qualquer crença B sua, como está o crente em Deus acima. Ele está na

mesma posição que a pessoa que vem a pensar que foi criada pelo demônio

cartesiano maligno. Então ele também tem um invalidador para B, e uma boa razãopara ser agnóstico em relação a isso.

3. O ARGUMENTO 

 Agora, o argumento de que é irracional crer em N&E: P(R/N&E) é ou baixo ou

inescrutável; em ambos os casos (se você aceitar N&E) você tem um invalidador

para R, e portanto para qualquer outra crença B que você possa ter; mas B pode ser

o próprio N&E; então alguém que aceita N&E tem um invalidador para N&E, umarazão para duvidar ou ser agnóstico em relação a isso. Se ele não tem nenhuma

evidência independente, N&E é autorrefutável e, portanto, irracional.

Poderia ele arranjar um invalidador que destruisse esse invaliadador - um

invaliador-invalidador? Talvez fazendo alguma ciência, por exemplo, determinando

por métodos cientificos que suas faculdades são confiáveis?

Mas evidentemente isso teria que pressupor que suas faculdades são confiáveis.Thomas Reid (Essays on the Intellectual Powers of Man):

Se a honestidade de um homem fosse colocada em questão, seria ridículo se referir

a própria palavra do homem, sendo ele honesto ou não. O mesmo absurdo existe

em tentar provar, por qualquer tipo de raciocínio, provável ou demonstrativo, que

nossa razão não é falaciosa, visto que o ponto em questão é exatamente se a nossa

razão pode ser confiada. (276)

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Esxiste alguma forma sensata de se argumentar em favor de R? Qualquer

argumento que for produzido terá premissas; e essas premissas, alega-se, provêem

 boas razões para crer em R. Mas, é claro, ele tem o mesmo invalidador para cada

uma dessas premissas que ele tem para R então esse invalidador não pode ser

invalidado.

Nós poderíamos colocar desta forma: qualquer argumento oferecido, para R, é

circular ou uma petição de príncipio. A evolução naturalista provê aos seus adeptos

uma razão para duvidar de que nossas crenças são em sua maioria verdadeiras;

talvez elas estejam na sua maioria erradas; pois a mesma razão para não confiar

nossas faculdades cognitivas geralmente, será uma razão para não confiar nas

faculdades que produzem crença para o bem de um argumento.

 Assim, o devoto de N&E tem um invalidador D para N&E - um invalidador que não

pode ser invalidado. Então N&E é autorrefutável, e não pode ser racionalmente

aceito.

 Alguém que cogita aceitar N, e esta preso, vamos dizer, entre N e o teísmo,

racionaria da seguinte forma: Se eu fosse aceitar N, eu teria boas razões para ser

agnóstico em relação a N; então eu não deveria aceitar isso. (Um argumento para airracionalidade de N, não para sua falseabilidade)

O teísta tradicional, por outro lado, não tem nenhuma razão correspondente para

duvidar de que é um propósito de nossos sistemas cognitivos a produção de crenças

 verdadeiras, nem nenhuma razão para pensar que a probabilidade de uma crença

ser verdadeira, dada que é uma produção de suas faculdades cognitivas, seja baixa

ou inescrutável. Ele pode, de fato, endossar alguma forma de evolução; mas se o

fizer, será uma forma de evolução dirigida e orquestrada por Deus. E como teístatradicional - seja judeu, muçulmano, ou cristão - ele crê que Deus é o conhecedor

primário e que nos criou à sua imagem, uma parte importante disso envolve o dom

que é necessário para ter conhecimento, assim como Ele tem.

 A conclusão que devemos tirar disso, portanto, é que a junção de naturalismo com

teoria evolucionista é autorrefutável: provê para si mesma um invalidador-

invalidável. É, portanto, inaceitável e irracional.