O Arauto Leopoldinense OFICINA DE HISTÓRIA E MEMÓRIA … · famosa igreja no alto de uma pedra. E...
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Vamos resgatar um
pouco da história da
Região da Leopoldina
que é composta por mais
de 10 bairros. E ainda
ressaltar regiões, muitas
delas, famosas por sua
arte e encanto como o
Bairro de Ramos com o
Bloco carnavalesco
Cacique de Ramos, que
existe desde 1961. Além
disso, abriga locais
de tradição religio-
sa como o Bairro
da Penha que tem
cerca de 8o mil
habitantes e se
destaca por sua
famosa igreja no
alto de uma pedra.
E que pode ser
vista de vários
pontos da cidade.
LEOPOLDINA : O RESGATE DA SUA IDENTIDADE
O PORTO DE INHAÚMA
C E N T R O
UNIVERSITÁRIO
AUGUSTO MOTTA
Junho 2011 6º edição
Igreja da
Penha e Bloco
carnavalesco
de Ramos
Confira nesta
edição!
1. O resgate da
história da
Leopoldina
2. O Porto de
Inhaúma
3.A festa da
Igreja da Penha
O Arauto Leopoldinense
OFICINA DE HISTÓRIA E MEMÓRIA DA LEOPOLDINA
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*Rubenita Vieira____ O Arauto Leopoldinense convida todos os seus
leitores a recordar a his-tória e a memória da regi-
ão da Leopoldina, uma vez que o intenso fenômeno da
urbanização e da globaliza-ção reduziu o patrimônio
material e imaterial da região, visualizada no
desaparecimento quase total dos monumentos e
das experiências individu-
ais e coletivas acumuladas ao longo do tempo. É imperioso
reconhecer e resgatar a identidade das comunidades
locais da Leopoldina. Em um primeiro momento é importante
identificar a região: ela é for-mada pelos Bairros de Bonsu-
cesso, Manguinhos, Ramos, Olaria, Penha, Maré, Complexo
do Alemão, Brás de Pina, Cordo-
vil, Del Castilho ,Engenho da Rainha, Higienópolis, Inhaúma,
Jardim América, Maria da Gra-ça, Parada de Lucas, Tomás
Coelho e Vigário Geral (CENSO do IBGE, 2000). A história da
região da Leopoldina ,colocada no contexto da sociedade brasi-
leira em que está inserida, so-freu, principalmente a partir
dos anos 50 e 60 do século XX mudanças impulsionadas em
grande parte por uma economia
crescentemente internacionali-zada hoje com o nome de
―globalizada‖, absorvendo nela novos papéis no decorrer do
processo histórico e geográfi-
co. Os espaços onde a coletivi-
dade criava e promovia suas
práticas de lazer e cultura sem fins comerciais ,foram reduzi-
dos e não substituídos nas últi-mas cinco décadas ,fato agra-
vado pelo arrocho salarial sem
precedentes no período e pela falta de acesso ao que o merca-
do oferece em troca
(SANTOS,2002 ,p.110). Portanto, é imperioso re-conhecer as comunidades da
região da Leopoldina e o resga-te da sua memória como heran-
ça material e imaterial no pro-cesso de construção da cidade
do Rio de Janeiro ,na formação da identidade carioca e tam-
bém criar um acervo público
que possa servir à comunidade da região. Acreditamos que o
morador da Leopoldina, ao to-mar conhecimento da sua me-
mória descobrirá sua verdadei-ra identidade e sem dúvida tal
fato permitirá um melhor de-sempenho da sua cidadania. Por
outro lado, colaborar para a preservação da memória local,
passa a ser um fato de grande
relevância, uma vez que esta terá mais sentido para os seus
moradores ao se incluírem nela. Torna-se necessário, portanto,
a construção de espaços de informação onde sejam valori-
zadas a história e as tradições da região. O conceito de bairro
tem sido associado à ideia de
―pertencimento‖ que um grupo
de moradores possa ter em
relação ao seu ambiente social. É um domínio do ambiente
social, pois ele constitui para o usuário uma parcela conhecida
do espaço urbano no qual, posi-
tiva ou negativamente, ele se sente reconhecido. Pode-se
portanto apreender o bairro como‖ esta porção do espaço
público em geral (anônimo de todo o mundo) em que se insi-
nua pouco a pouco um espaço privado particularizado pelo
fato do uso quase cotidiano desse espaço‖ (Mayol,
1996,p.40). Portanto, os mora-dores de um bairro se identifi-
cam a uma determinada parte
da cidade devido ao seu uso cotidiano, ou seja, o lugar em
que se mora adquire uma espe-cificidade em relação às demais
regiões da cidade. A convivência em um bairro implica em certos
comportamentos e benefícios decorrentes de tais práticas. A
identidade de alguém é posicio-nada a partir da necessidade.de
se opor ao diferente e tal fato é
inerente aos grupos humanos. A identidade é construída através
da necessidade de afirmação
diante do outro.
LEOPOLDINA : O RESGATE DA SUA IDENTIDADE
“ Portanto, é
imperioso
reconhecer as
comunidades da
região da Leopoldina
e o resgate da sua
memória como
herança material e
imaterial no
processo de
construção da
cidade do Rio de
Janeiro ,na
formação da
identidade carioca ”
Página 2
Complexo do Alemão
A memória é um elemento cons-
tituinte do sentimento de identi-dade tanto individual como cole-
tiva e é também um fator extre-mamente importante do senti-
mento de continuidade e de
coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução
de si.(POLLAK,1992) Na região da Leopoldina, os antigos usos que davam vida
à criatividade, à solidariedade e à identidade social e cultural
das pessoas do lugar perderam
muito de suas características como o ponto de encontro
freqüente e gratuito dos vizi-nhos, pela transformação das
ruas em vias de passagem para veículos e das calçadas em
estacionamentos .A história do subúrbio carioca tem adquirido
importância nas últimas produ-ções acadêmicas voltadas para
a ―história do lugar‖ fato ob-
servado nas obras de diversos autores que têm se dedicado ao
tema da história e da memória. O método ―história do lugar‖ foi
utilizado pela primeira vez por Joaquim Justino dos Santos
com o objetivo de buscar um maior interesse pelo estudo da
história nos alunos do ensino médio, fundamental e superior
no Rio de Janeiro. É uma ne-cessidade cada dia mais visível,
principalmente nas ultimas
décadas ,nas escolas ,nas ru-as ,nas famílias ,nas comunida-
des de que fazem parte, nos lugares onde se situam com
suas particularidades. (SANTOS J.J,2002).Conhecer a história e
preservar a memória dos bair-ros leopoldinenses é uma ne-
cessidade de seus habitantes e não só dos que o estudam por-
que as gerações que partilha-
ram toda a riqueza material
embutida na música, nas festas, nos hábitos e costumes popula-
res caracterizadores do dia a dia e do modo de ser típico das
populações suburbanas cario-
cas até pelo menos as décadas de 1950 e 1960 vêem hoje essas
práticas populares como ultra-
passadas e sem importância. O processo de constru-
ção de memórias implica esco-lhas entre os fatos do passado,
que determinado grupo consi-
dera que devam ser lembra-dos/rememorados... Ao fazer
escolhas, o grupo também es-quece e faz esquecer outros
acontecimentos.(MOTTA,1998,
pág.80) A memória só se explica
pelo presente, e é deste pre-
sente que ela recebe incentivos para se consagrar enquanto um
conjunto de lembranças de um determinado grupo. São assim
os apelos do presente que nos explicam porque a memória
retira do passado apenas al-guns dos elementos que possam
lhe dar uma forma ordenada e sem contradições. As memórias
retiram do passado alguns
fatos escolhendo-os para res-ponder as demandas do presen-
te e isso significa afirmar que elas não são meras fantasias.
(NORA,1993,pág.9). Antigos moradores do bairro de Bonsu-
cesso, narrando suas memó-rias , contam que em 1949 no
bairro de Bonsucesso não havia calçamento. O chão da
Praça era de terra. Quando chovia formava uma imensa
lagoa que servia de piscina para
as brincadeiras das crianças. Quando a Praça foi aterrada foi
uma tristeza para a garotada. A
escola onde as crianças estuda-
vam era a Bahia e só havia uma pista que era a Variante. O Mor-
ro do Adeus, em frente á Praça das Nações, já serviu para a
prática de alpinismo para a
garotada(....) Aos sábados as crianças colhiam no morro, o
chuchu e o maracujá para ven-derem e ganhar uns trocados
para ir ao cinema(...). Na Praça existia um ponto de táxi e deste
local saía todos os sábados o carro que levava as noivas até a
porta da igreja‖. No caso dos habitantes da região da Leopol-
dina, a economia de consumo gerada nas últimas décadas e
introduzida em suas casas pe-
los meios de comunicação de massas os leva a esquecer sua
história e a pensar que sua vida sempre foi da forma como
acontece nos dias de hoje. Não cabe ,nos limites estrei-
tos deste artigo ,analisar as mudanças sociais políticas e
econômicas regionais que trou-xeram a descaracterização das
práticas culturais, hábitos e costumes da região que esta-
mos enfocando. Entretan-to ,resgatar a memória das
pessoas; o conhecimento dos imóveis, monumentos e outras
formas materiais e imateriais construídas no passado e re-
produzir esse conhecimento em
forma de cursos, artigos em revistas ou jornais ,reuniões
com antigos moradores torna-se a cada dia uma tarefa urgen-
te. A Dra. Vera Dias, Diretora da Fundação Parques e Jardins
(SECONSERVA) em entrevista realizada no dia 25/10/2010 ao
aluno Elizeu Fernandes Gonçal-ves ,um dos articulistas do
Arauto Leopoldinense
LEOPOLDINA: O RESGATE DA SUA IDENTIDADE
“A memória só se explica pelo
presente, e é deste presente
que ela recebe incentivos para
se consagrar enquanto um
conjunto de lembranças de um
determinado grupo”
Página 3 6º edição
( Dezembro-2010,Ano 3,nº 5)
foi enfático ao afirmar que ―o patrimônio histórico compreen-
de a criação arquitetônica que dá testemunho de uma civiliza-
ção, de uma evolução significa-
tiva ou de um acontecimento histórico que com o tem-
po adquirem uma significação cultural. Preservar os monu-
mentos significa deixar para as gerações futuras o legado do
nosso passado bem como dar identidade a cada cida-
dão .Oferecer folhetos aos mo-radores da região da Leopoldi-
na( insistentemente) com o
nome, localização dos monu-mentos da área até mesmo em
sacolas de supermercado ou folhetos nas residências ajuda-
ria na conscientização dos mo-
radores da Leopoldina.‖ O intenso processo de
transformações ocorridas na
economia e na sociedade brasi-leiras enquanto parte do capita-
lismo internacional- trouxe mudanças significativas que
afetaram a vida da maioria das pessoas nos lugares onde vive-
ram e ainda vivem. Os efeitos desse processo ainda são visí-
veis nas relações, nos valores, nos comportamentos, nas
perspectivas de vida e no grau
de interesse da realidade. Por outro lado, na cidade do Rio de
Janeiro(...)a maioria da popula-ção vem estreitando progressi-
vamente, os seus tempos e espaços existenciais, na tentati-
va de dar conta de suas neces-sidades e anseios de ordem
pessoal e econômica(CUNHA,1999). As novas gera-
ções locais formadas em uma cultura consumista e de massa
desconhecem as antigas práti-
cas cotidianas e vivem as con-dições introduzidas nos lugares
onde moram como se sempre tivessem existido. A economia
de consumo gerada nas últimas décadas foi introduzida em suas
casas, principalmente pela televisão e ampliada pela globa-
lização econômica. É presença constante em suas vidas e dis-
tante por não explicar os efei-
tos negativos e imprevisíveis que pode exercer sobre a vida
das comunidades no seu cotidi-ano doméstico, local e profissi-
onal. Filmes, videoclipes, noti-ciários veiculados por agências
estrangeiras e outras, novelas e programas de rádio e televisão
raramente citam o papel que as populações pobres e trabalha-
doras têm na geração da rique-
za da sociedade. Houve uma grande redução na diversidade
e condições de lazer e cultura dos habitantes locais nos últi-
mos decênios. Os campos de futebol e demais áreas livres
são hoje quase inexistentes. Foram tomadas por grandes,
médias e pequenas indústrias, favelas, conjuntos habitacionais,
lojas comerciais, vias públicas e outras formas de ocupação
urbana. Músicas, festas, hábitos
e costumes populares caracte-rizadoras do dia a dia e o modo
de ser típico das populações trabalhadoras leopoldinenses
estão sendo esquecidos.
(SANTOS,2002, pag.107). A humanidade que toma consciência a cada dia da unida-
de dos valores humanos, consi-dera- as obras monumentais
dos povos - como um patrimô-nio comum e, face às gerações
futuras se reconhece solidaria-mente responsável pela sua
preservação. O patrimônio de uma nação- ou de um lugar é
constituído de testemunhos, grandes ou pequenos. Nossa
responsabilidade é saber reco-
nhecê-los em sua autenticidade, mas também preservá-los para
as futuras gerações.
(HARTOG,2006:269).•
“As novas
gerações locais
formadas em
uma cultura
consumista e de
massa
desconhecem as
antigas práticas
cotidianas”
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.Definição de bairros dada pela Coleção de Estudos da Cidade do Rio de Janeiro,e fundamentada a partir de consulta ao Censo do IBGE 2000 e ao
Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro. CUNHA,Marize e LAVAL,Vicente.Conhecendo a Região da Leopoldina:algumas iniciativas sociais.FIOCRUZ/CEPEL,Rio de Janeiro:1999.Série Cader-
nos de Assessoria Popular
HARTOG,François.Tempo e Patrimônio.VARIA HISTÓRIA,Belo Horizonte, vol.22,nº 36,jul/Dez,2006.
MAYOL,Pierre.Morar.Michel de Certeau et al.A invenção do cotidiano:2.Morar,Cozinhar.RJ:Vozes,1996,p.35-185
MOTTA,Márcia Maria Menendes.História e Memórias.IN:História-Pensar e Fazer.RJ:LDF,UFF,1998.
NORA,Pierre.Entre Memória e História.A problemática dos lugares.Projeto História:São Paulo,nº 10,dez.1993
POLLAk,Michael. Memória e Identidade Social. IN: Estudos Históricos, Rio de Janeiro,vol.5 nº 10,1992. SANTOS,Joaquim Justino dos.História do Lugar:um método de ensino e pesquisa para as escolas de nível médio e fundamen-
tal.História,Ciências,Saúde .vol.9(1):105-24-jan-abril 2002
_______________________
Rubenita Vieira –Mestre em História Social do Brasil-Professora do Curso de História da UNISUAM
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LEOPOLDINA : O RESGATE DA SUA IDENTIDADE
*Verônica L. e Silva___
O desenvolvimento da região da Leopoldina se deveu muito pela
importância econômica de suas Freguesias, de seus rios e particu-
larmente do Porto de Inhaúma,
responsável pelo transbordo de produtos agrícolas entre os Enge-
nhos da região e o Porto Carioca. Procuraremos mostrar neste
artigo como esta região se tornou importante para o abastecimento
da cidade do Rio de Janeiro, pois acreditamos que não podemos
falar de seu desenvolvimento sem pensar nos meios de transportes
e nas micro relações econômicas,
políticas e sociais que permitiram que a mesma pudesse contribuir
de alguma forma para o cresci-mento econômico e urbano desta
cidade .É nosso objetivo mostrar a questão desde a criação do refe-
rido porto até o surgimento do subúrbio da Leopoldina em fins
dos séculos XIX e inicio do XX com a criação da Estrada de Ferro da
Leopoldina em 1886, marco impor-tante para o crescimento urbano
do Rio de Janeiro e conseqüente-
mente transformador da estrutura fundiária nas consideradas até
aquela época como Freguesias Rurais, que aos poucos foram
sendo fragmentadas e cedendo lugar às pequenas propriedades.
A importância histórica desta região remonta à abertura
de caminhos, aos rios navegáveis e particularmente á criação do
Porto de Inhaúma no século
XVI, logo após a concessão destas terras aos Jesuítas pelo
então Provedor Cristovão de Barros. Segundo Dias da Cruz,
no Almanaque Suburbano, os
Jesuítas rasgando a floresta abriram três caminhos dentro
da cidade: um, passando por Bonsucesso que ligava o Porto
Carioca à Santa Cruz, posteri-ormente conhecida como Estra-
da Real, hoje Avenida Dom Hel-der Câmara. Um segundo para a
Rua Matacavalos, hoje Rua do Riachuelo até o Engenho Velho
(atual bairro de São Francisco
Xavier). E finalmente um tercei-ro, do Castelo para o Flamengo
e Botafogo indo até a atual Lagoa Rodrigo de Freitas. Esses
caminhos permitiam a comuni-cação de suas sesmarias com o
centro do Rio de Janeiro, por onde eram escoadas toda a
produção de açúcar, aguarden-te, gêneros alimentícios em
geral assim como tijolos e ma-deiras provenientes dos Enge-
nhos, que se faziam chegar a
pé ou a cavalos ou ainda pelos inúmeros rios que cortavam
essas regiões, onde eram transportados por canoas,
barcos e barcaças até o Porto de Inhaúma e deste para o Por-
to Carioca. Servia também este Porto de comunicação com as
varias ilhas existentes na Baia da Guanabara, Interligando-se
aos portos do Caju, São Cristovão,
porto de Maria Angu e Irajá, sendo responsável não só pelo transpor-
te de produtos agrícolas mas tam-bém pelo de passageiros das pe-
quenas propriedades e granjas
localizadas em torno da Enseada de Inhaúma assim com no interior
das freguesias. ―Inhaúma foi uma grande zona agrícola, das primei-ras estabelecidas nas terras suburbanas. Iniciou-se sua história em 1687‖. (Almanaque suburbano, ano I nº I, p.50, 1941)
Hoje, observando o final da Avenida Maxwell e seu cruza-
mento com a Rua Praia de Inhaúma na atual comunidade da Maré já
não é mais possível encontrar
vestígios do que outrora fora o Porto de Inhaúma. Criado ainda no
século XVI, este Porto teve sua importância econômica para o
abastecimento da cidade do Rio de Janeiro durante o ciclo do açúcar,
do ouro e do café, sendo funda-mental para o desenvolvimento do
subúrbio da Leopoldina tal qual a conhecemos hoje. Os transportes
hidroviários e terrestres existen-
tes nos séculos XVI, XVII e XVIII, foram sendo substituídos ao longo
do século XIX e XX pelas ferrovias mais rápidas e seguras, diminuindo
gradativamente a importância deste porto na região. Então, pas-
sou a abrigar a colônia de pesca-dores Z 6 no fim do século XX, e
posteriormente desaparecendo
“Esses caminhos
permitiam a
comunicação de
suas sesmarias
com o centro do Rio
de Janeiro, por
onde eram escoada
toda a produção de
açúcar”
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“A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o
presente e o futuro.” (LE GOFF, 1994, p.477)..
“É de concluir-se que Inhaúma teria sido uma aldeia de Tamoios, pelo que se chamará antes
“Tapéra”,aliás, figurando, assim, na carta de sesma-
ria concedida a jesuítas, em 1555,por Estácio de Sá, - “cem braças ao longo do mar e mil pela terra a den-
tro da tapera de Inhaúma”. Havia vários portos. Nas
cartas se vêm, no litoral, o nome da grande freguesia varias vezes repetido :”Porto de Inhaúma ”,Saco de
Inhaúma ”,Bonsucesso de Inhaúma”,etc. Para o mar,
logo os Jesuítas abriram caminhos. Seis anos depois, - o de freguesia, antes Inhaúma, e que passando por
Bonsucesso, ia ter ao porto principal. Outro rasgo na
floresta, - para a grande estrada que ia à cidade, - a de Santa Cruz. conservou esse caminho longos
anos”.(Almanaque Suburbano, ano I nº I,p.50,1941)
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EO
PO
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por completo com os constan-
tes aterros em meados do sé-culo XX. Hoje, ele existe apenas
na memória de antigos morado-res da comunidade da Maré.
No século XVII o Rio de
Janeiro já era o porto mais importante da colônia. Uma das
primeiras transformações des-ta região ocorreu na crise do
açúcar brasileiro no mercado internacional uma vez que o
nosso produto não conseguia competir com o açúcar produzi-
do nas Antilhas pelos holande-ses a partir da metade do sécu-
lo referido(1ª grande crise). Para compensar os prejuízos,
as Fazendas desta região pas-
saram a investir na produção de café e quando este migra
para o vale do Paraíba ,as Fre-guesia Rurais, principalmente a
de Inhaúma por ser a Freguesia rural mais próxima do centro
passa a ser a responsável pelo abastecimento interno da cida-
de. No século XVIII o
Brasil dependia economicamen-
te do ouro das Minas Gerais. O Rio de Janeiro, por sua localiza-
ção geográfica e pela proximi-dade com as Minas torna-se em
1763 a capital da Colônia e resi-dência dos vice-reis, para maior
controle do ouro e dos diaman-tes .Durante o governo de Go-
mes Freire abre-se o Caminho novo (Antigo Caminho Re-
al),para ligar o Rio de Janeiro às cidades mineradoras. Assim,
com a abertura do ―caminho
novo‖, encurta-se a distância entre o Rio e as Minas Gerais,
aumentando dessa forma o escoamento e o abastecimento
deste minério no Porto Carioca, tornando este porto cada vez
mais importante a nível nacio-
nal. Ao longo desse caminho surgiram fazendas onde a pro-
dução de gêneros de subsistên-cia e mesmo de cana de açúcar
destinava-se ao abastecimento
da cidade e dos viajantes e suas tropas. A nova condição da
cidade do Rio de Janeiro como capital da Colônia provocou um
considerável aumento de pesso-as e negócios na cidade e
quando o ouro das minas entra em decadência, cresce no inte-
rior do Rio de Janeiro uma economia voltada para o mer-
cado interno, baseada na cria-ção de gado, na produção de
laticínios e de outros gêneros
como feijão, mandioca, madeira da mata atlântica, café, arroz,
feijão, frutas variadas.―A Fre-guesia de Inhaúma foi desmem-brada em 27 de janeiro de 1743.(SANTOS, p.80.). A partir do seu
desmembramento da freguesia de Irajá,torna-se a freguesia
rural mais próxima do centro do Rio passando a ser a responsá-
vel pelo abastecimento de gêne-
ros alimentícios para o merca-do interno e seu porto essencial
para o escoamento de produtos agropecuários. A abertura dos
portos em 28 de janeiro de 1808 às Nações Amigas proporcionou
não só o comercio com a Ingla-terra, de onde chegavam inú-
meros navios abarrotados de tecidos, porcelanas, fer-
ro ,chumbo, pólvora, mantei-ga ,mas também dos Estados
Unidos que forneciam trigo.
Posteriormente, os franceses enviavam jóias, mo-
veis ,medicamentos, relógios e principalmente objetos de moda
e toilletes. O porto carioca amplia sua rede portuária e
vários trapiches e pequenos
portos foram criados ao longo do mar de Inhaúma servindo de
entrepostos com o porto cario-ca, para atender o escoamento
da importação de produtos
europeus e o grande volume de produtos brasileiros para ex-
portação: café, algodão, fumo, milho, peças de couro e madei-
ras principalmente. Os trans-portes a partir dos portos do
interior da cidade, principal-mente o de Inhaúma, passaram
a garantir o suprimento de inúmeros produtos requeridos
pela nova Capital do Império. A partir de 1830 a 1840, com a
necessidade de escoamento da
produção de café desenvolvem-se as ferrovias na região su-
deste para atender a demanda de exportação deste produto.
Em 1886 inauguram-se as esta-ções ferroviárias de Amorim,
Bonsucesso, Ramos e Penha contribuindo para o desenvolvi-
mento econômico e industrial, principalmente no atual bairro
de Bonsucesso. Para Mauricio
de Abreu foi a região comercial mais próspera nesse período.
Até cerca de 1870, a Freguesia de Inhaúma manteve seu
caráter rural, mas já possuía núcleos suburbanos
importantes. Dois deles se destacaram como estratégicos
para o crescimento de toda a região: Inhaúma, por causa do
florescente porto criado ainda no século XVI e Bonsucesso.•
O PORTO DE INHAÚMA
Bbliografia do artigo
Revista O Almanaque Suburbano IHGB
http://www.portosrio.gov.br/node/4
SANTOS,JJ, Contribuição ao estudo da história
do subúrbio do Rio de Janeiro: as freguesias de
Inhaúma e Irajá, FRIDMAN,Fama. Os donos do Rio
em nome do Rei: uma história fundiária do Rio de
Janeiro:2ªEd.Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.
Giramond,1999. FAZENDA,José Vieira. Antiqualhas
e Memórias do Rio de Janeiro.Revista do
IHGB.Série Coisas do outro tempo.(1904) 28 de
abril de 1874/1917. Berger,Paulo. Dicionário das
Ruas do Rio de Janeiro. I e II Regiões
Administrativas – Centro. Rio de Janeiro: Gráfica
Olímpia. Editora, 1974. Santos,Francisco Agenor
de Noronha.As Freguesias do Rio Antigo.Vistas
por Noronha Santos.Rio de Janeiro:O Cruzeiro
1965. Barreiros,Eduardo Canabrava,Atlas da
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Janeiro:IHGB,Ensaio.1565-1965.prancha 5.p.10.
Almanaque Administrativo, Mercantil e industrial
do Rio de Janeiro (Almanaque Laemmert).Anos
1848 – 1861. http://www.crl.edu/content/
almanak2.htm. Arquivo Nacional. Livro de
Registro de Terras da Freguesia de São Tiago de
Inhaúma 1855-1861.Fundo/Coleção: Registro de
Terras – Corte de Apelação.Seção de Guarda:
CODES; Cód. de Fundo 20. LE GOFF, Jacques
―Memória‖.In: Historia e Memória. Campinas:
Ed.UNICAMP,1994.P.477. O Porto de
Inhaúma.Artigo José Vicente Falcão. Relação
das sesmarias da capitania do rio de janeiro.
Livro das sesmarias e Registros do Cartório do
tabelião Antonio Teixeira de Carvalho, de 1565 a
1796 In: Revista do IHGB, vol.63,p93-153.E
Vol.264,p.331-53 jul/set.1964.CAVALCANTI, Nireu,
O Rio de Janeiro Setecentista: A vida e a
construção da cidade da invasão francesa até a
chegada da corte, Rio de Janeiro, Jorge
Zahar.Ed.2004.
Página 6
―essas freguesias pouco mudaram sua forma-aparência continuando a ter um caráter rural e pouco cresceram em popu-lação muitas tinham inten-sa atividade econômica como atestam a instalação de olarias e curtumes em Inhaúma e os pequenos portos de transbordo de mercadorias‖.(SANTOS,
2008,ps.46,50).
Pequena faixa de terra na Baía
de Guanabara, onde o mar desagua-
va formando o porto de Maria angu
Verônica Lima e Silva. Aluna do curso
De História da Unisuam
*Cintia Rodrigues _
O bairro da Penha foi criado
oficialmente em 22 de julho de
1919. Entretanto, as festividades
em torno da Igreja já existiam
no calendário religioso desde o
período colonial, quando a pro-
priedade daquelas terras ainda
era do capitão Baltazar Abreu
Cardoso. Ele tem uma origem
lendária: numa tarde no ano de
1635, enquanto retornava à sua
fazenda, foi surpreendido no
caminho por uma serpente. Este
ficara sem ação perante o
ataque repentino da cobra.
Percebendo que iria sofrer um
bote fulminante, clamou pela
Virgem, mãe de Deus. Como por
milagre, a serpente foi mordida
por um grande lagarto que
aparecera na mata. E assim,
Baltazar saiu são e salvo, e não
esqueceu a sua dívida com a
Santa. Próximo à sua fazenda
havia um penhasco que se er-
guia setenta metros acima do
nível do mar, onde existia um
singelo santuário de Nossa
Senhora do Rosário, e foi neste
local que o capitão ordenou que
fosse construída uma ermida
em intenção de Nossa Senhora
da Penha da França. Essa
construção data de 1655. Em
1728 foi criada a Irmandade de
Nossa Senhora da Penha para
cuidar da ermida que vinha se
tornando uma igreja. Essa Irm-
andade era também re-
sponsável pelo atendimento aos
romeiros e cuidava da festa
anual da santa, que inicialmente
ocorria na data de oito de
setembro, dia da Virgem. Mais
tarde, a festa passou a ocorrer
no mês de outubro. A
Festa da Penha era um
evento religioso de
grande importância no
contexto da cidade do
Rio de Janeiro e a sua
realização causava,
nos primeiros anos da
República no Brasil,
um grande descontentamento nas
elites sociais da época, pois reunia
num mesmo espaço, a grande
massa da população considerada
desordeira, e os abastados de
boas famílias. A festa era de
tradição portuguesa e possuía
como seu maior público os portu-
gueses, com suas romarias e
representações culturais tais
c o m o m ú s i c a , c o m i d a s ,
jogos ,barraquinhas e cerimônias
religiosas. O evento era organiza-
do pela comissão de festejos da
Irmandade da Penha e tinha como
rituais a missa solene e o espe-
táculo do cumprimento de
promessas que se traduzia em
subir os 365 degraus que levam
ao santuário. Com o passar dos
anos, a festa se popularizou e na
metade do século XIX já contava
com a presença maciça de negros.
Em 1728 foi criada a
Irmandade de Nossa
Senhora da Penha
para cuidar da
ermida que vinha se
tornando uma
igreja.
Página 7 6º edição
FESTA DA PENHA: LOCAL DE COMUNICAÇÃO
ENTRE CLASSES DISTINTAS
Escadaria da Igreja da
Penha
Com isso, o
ritual festivo
começou a se
modificar e
assumir cos-
tumes diferentes, somando-se
as rodas de samba, as batuca-
das, danças, capoeiristas e
também as barracas montadas
pelas chamadas tias (negras
baianas) que passavam a com-
por essa festividade. Na festa
da Penha, as barracas das tias
eram consideradas ponto de
encontro e de identidade cultur-
al. ―Nos nomes das barracas
fica evidente a ideia de
―espacialização‖: Gruta do
Pedaço, Reino da África, Sultana
da Bahia, Flor da Cidade Nova,
Cabana do Pai Tomás‖ (Velloso,
1990). Vivenciava-se simboli-
camente a trajetória espacial
da cultura negra. A festa abriria
uma oportunidade inédita de
socialização entre classes so-
ciais totalmente distintas, num
espaço mais informal. É possível
verificar que, na cidade do Rio
de Janeiro, a cultura podia ter
um papel agregador e ao mes-
mo tempo ser um canal de
comunicação. As rodas de sam-
ba e capoeira, nas festas da
Igreja da Penha tornaram-se
cada vez mais atraentes e iam
reunindo mais simpatizantes.
Contudo, a imprensa da época
atribuía a esses rituais o estig-
ma de ―batuques sertanejos‖ e
―samba quilombado‖. A festa
evoluía para grandes bebedei-
ras, uma orgia campestre, na
expressão de Raul Pompéia,
com muita música, misturando-
se ritmos portugueses, brasilei-
ros e africanos: o fado, o sam-
ba, a tirana, a caninha-verde.
Era comum ocorrer conflito
entre as forças policiais e do
Exército, pois policiar a festa
era quase uma operação de
guerra.(CARVALHO,1987). Toda
essa desordem incomodava a
atmosfera cosmopolita que
pairava sobre a cidade que
neste momento precisava de
estética e embelezamento devi-
do à sua condição de capital da
nova República, pois não era
fácil calar os costumes e fes-
tejos que ocorriam no meio
urbano. O objetivo do governo
nesse período era justamente,
mostrar que o Brasil era um
país civilizado e europeizado, e
esta civilidade não incluía a
grande maioria da população
carioca. Para que a cidade do
Rio de Janeiro se tornasse uma
vitrine da modernidade, era
necessário acabar com a
tradição que envergonhava o
país. As elites davam importân-
cia somente aos ideais de com-
portamento e civilização
franceses. Para alguns litera-
tos da época como Olavo Bilac,
a festa era qualificada de bar-
bara, mas despertava a curio-
sidade por parte daqueles que
defendiam a civilidade. Era
possível desarticular a rigidez
da segregação social que mui-
tos desejavam conservar. Ape-
sar dos problemas que ocorri-
am durante a festa da Penha e
da constante repressão policial
que esta sofria, a cada ano mais
pessoas eram atraídas para o
evento. Para o cronista Bilac a
festa perdeu o seu sentido re-
ligioso: a santa era apenas uma
desculpa para a prática da
desordem e das orgias. Na sua
visão, a festividade era algo
barulhento, sujo, atrasado e
bárbaro não havendo mais es-
paço para trabalhadores negros
e mestiços ou portugueses e
seus descendentes.•
“Para que a cidade
do Rio de Janeiro se
tornasse uma
vitrine da
modernidade, era
necessário acabar
com a tradição que
envergonhava o
país.“
Página 8 FESTA DA PENHA: LOCAL DE COMUNICAÇÃO ENTRE
CLASSES DISTINTAS
muitos sambistas e grupos
musicais continuavam a fre-
quentar o local. Dentre os par-
ticipantes das comemorações,
podemos destacar artistas da
música popular como Sinhô,
Heitor dos Prazeres, Donga,
Pixinguinha e João da Baiana.
Nos dias atuais, em virtude dos
graves problemas sociais e a
intervenção do Estado na
região onde a igreja está in-
serida, as festas populares
ficaram ofuscadas.•
Dizia que eles
haviam ficado no passado, no
tempo colonial e que era
necessário proibir a escan-
dalosa e selvagem romaria. Em
1918, o padre José Maria Mar-
tins Alves da Rocha, conser-
vador, tornou-se capelão da
Irmandade. Este resolveu re-
tirar o caráter popular da festa,
pois considerava que os sambas
e as batucadas transformavam
a religiosidade em orgia. Entre-
tanto, apesar das proibições,
Permanecem, contudo, as
festas religiosas, missas e
procissões no mês de outubro,
onde ainda é possível ver os
fiéis pagando promessas e
subindo de joelhos a grande
escadaria do santuário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CARVALHO, José Murilo de. Os
Bestializados: o Rio de Janeiro
e a República que não foi. 3. ed.
São Paulo: Companhia das Let-
ras,1987. VELLOSO, Mônica Pimenta.
―As tias baianas tomam conta do
pedaço: Espaço e identidade cul-
tural no Rio de Janeiro.” In: Estu-
dos Históricos. Rio de Janeiro, 1990.
SOUZA, Luana Mayer de. ―A tradição
na modernidade: a Festa da Penha
pelas letras de Olavo Bilac.” In XIV
Encontro Regional da ANPUH-RIO.
Julho de 2010.
www.museudapessoa.net/sescrio/
artigos_penha.shtml
* Cíntia Rodrigues F. Ferreira é
aluna do 6º período de História da
UNISUAM.
FESTA DA PENHA: LOCAL DE COMUNICAÇÃO
ENTRE CLASSES DISTINTAS
Igreja Nossa Senhora da Penha
CENTRO
UNIVERSITÁRIO
AUGUSTO MOTTA
Expediente
JORNAL O ARAUTO LEOPOLDINENSE - Nº 6 / Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM / Curso de Graduação em
História / Coordenador: Profª Drª Adriana Patrícia Ronco/ Oficina de História e Memória da Região Leopoldina /
Coordenador do projeto: Profª Mrs Rubenita Vieira / Edição Visual: Rosilene Ricardo / /Diagramação:Rosilene Ricardo.
Alunos colaboradores: Cíntia Rodrigues F.Ferreira e Verônica Lima e Silva / site:historiaunisuam.wordpress.com
Distribuição Gratuita / Tiragem 2000 Exemplares / Edição Semestral — Ano 2011
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