O APRENDIZADO DE LÍNGUA MATERNA (PORTUGUÊS) E LÍNGUA

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  • Acta Semitica et Lingvistica, v. 17, n.2, 2012 100

    O APRENDIZADO DE LNGUA MATERNA (PORTUGUS) E LNGUA ESTRANGEIRA (INGLS), NO ENSINO SUPERIOR CONTEMPORNEO

    MOTHER TONGUE (PORTUGUESE) AND FOREIGN LANGUAGE (ENGLISH)

    LEARNING, IN CURRENT HIGHER EDUCACTION

    Sonia Maria Alvarez Faculdade de Tecnologia de Itaquaquecetuba SP

    [email protected]

    Fernanda Thomaz Maza Faculdade de Tecnologia de Mogi das Cruzes SP

    [email protected]

    RESUMO: Este artigo objetiva refletir sobre a aprendizagem de lngua materna (Portugus) e lngua estrangeira (Ingls), no ensino superior. Discute teorias contemporneas no ensino aprendizagem de lnguas, analisa algumas ementas de diferentes cursos e entrevista alguns professores, com depoimentos a respeito do ensino-aprendizagem de lnguas no dia-a-dia escolar, para um possvel paralelo entre teoria, planejamento escolar e a prtica de sala de aula. Palavras chave: Lngua Materna (Portugus); Lngua Estrangeira (Ingls); Teorias de ensino/aprendizagem.

    ABSTRACT: The purpose of this article is to reflect about mother tongue (Portuguese) and foreign language (English) learning in higher education. It also talks over current language teaching and learning theories, as well as analyzes language course descriptions in different courses and interviews professors who testify their daily teaching and learning process, providing a parallel among theory, school planning and practicing classroom. Keywords: Mother Tongue (Portuguese); Foreign Language (English); Teaching/learning theories

    Introduo

    Este artigo tem por objetivo refletir sobre a aprendizagem de lngua materna

    (Portugus) e lngua estrangeira (Ingls), no ensino superior, nos dias atuais. Discute

    teorias contemporneas no ensino aprendizagem de lnguas, analisa algumas ementas de

    diferentes cursos e entrevista alguns professores, com depoimentos a respeito do ensino-

    aprendizagem de lnguas no dia-a-dia escolar, para um possvel paralelo entre teoria,

    planejamento escolar e a prtica de sala de aula.

    Para introduzir estas reflexes sobre o ensino-aprendizagem de lngua materna

    (portugus), no ensino superior, discute-se, num primeiro momento a utilizao da

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    norma padro, no ambiente escolar. A seguir consideraes sobre a Sociolingustica, a

    Pragmtica e a Anlise de Discurso. Em relao lngua estrangeira (Ingls), faz-se um

    breve histrico do ensino de lngua estrangeira, ao apresentar as principais metodologias

    que marcaram o seu ensino-aprendizagem.

    O ensino do ingls uma prtica docente que tem sofrido diversas modificaes

    com relao abordagem e metodologia ao longo do tempo. Trabalhou-se com as

    metodologias gramtica-traduo, a direta, a audiolingual e a comunicativa. Hoje, a

    poca chamada de ps-mtodo, pois no h mais metodologia adequada, mas sim a

    reflexo por parte do professor para adequ-las s necessidades dos alunos.

    A norma padro no ensino de lngua materna

    A priorizao da lngua padro no ensino de lngua materna passa,

    necessariamente, pelo conceito de norma padro, norma culta ou norma escolar, de

    acordo com diferentes posicionamentos tericos. Aqui se utiliza o termo norma padro,

    por parece menos tendencioso que norma culta. Norma escolar, por sua vez, no satisfaz

    por limitar o universo de aprendizagem dessa mesma norma padro ao ambiente

    escolar.

    Ao reunir diferentes definies de norma padro, pode-se dizer que ela mantm

    a unidade da lngua e representa o uso ideal da comunidade lingustica. Seu uso serve

    comunidade falada e representa a cultura, a cincia e a arte. tradicionalmente ensinada

    pela escola.

    O ensino da norma padro faz-se na escola pelo ensino da gramtica normativa,

    de grande valia e representatividade para os estudos lingusticos. O fracasso dos alunos

    est representado, em grande parte, pelo valor excessivo dado gramtica normativa

    que, por si s, no valoriza o aluno como sujeito de seu texto.

    A norma padro vincula-se sociedade e cultura, em contnua transformao

    pois, se o passado nos constitui, a vivncia do presente no pode ser descartada. No h

    como ignorar o dinamismo lingustico, inclusive na prpria gramtica normativa.

    A escola deve acompanhar de perto a norma padro que ora se apresenta, de

    forma real, funcional e dinmica. Um exemplo, que se mantm h anos o dos

    discursos miditicos, que tm exercido uma considervel influncia no ensino de lngua.

    Nos grandes centros urbanos ou em pequenas comunidades, tais discursos tm

    divulgado uma norma padro ligada, em maior ou menos grau, oralidade, com boa

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    aceitao. Essa norma padro, intermediria entre a fala e a escrita, contm estrutura e

    vocabulrio de ambas; satisfaz o receptor, ao aproximar-se de seu nvel de fala e, por

    outro lado, pode no comprometer a tradio escrita, com o respeito gramtica

    normativa da lngua.

    O problema que se coloca diz respeito a como ensinar a norma padro e qual

    essa lngua que representa a norma padro. O objetivo primordial da escola que o

    aprendiz tenha acesso real e eficaz norma padro, enquanto falante de lngua

    portuguesa, o que lhe possibilita o acesso ao saber sistematizado.

    No possvel ser contrrio priorizao da norma padro. O que se questiona

    o fato de esta mesma norma padro estar distante da lngua real, trancada em uma

    gramtica normativa estanque e tradicionalista. No se pode negar essa gramtica, mas

    sim o fato de ela constituir-se como o nico acesso norma padro; no se pode saturar

    o aluno s com a metalinguagem que ela traz; preciso dar norma padro um carter

    de vivncia da lngua, em sua amplitude.

    Outro problema que a escola tem buscado substituir a lngua do aprendiz pela

    lngua padro, ao mesmo tempo em que discrimina e desvaloriza a sua variedade

    lingustica, que o identifica em sua comunidade. O respeito e a no-acomodao do

    professor variedade do aluno tem se constitudo em importante auxlio para o

    exerccio criativo de linguagem, para um acesso menos traumtico norma padro da

    lngua.

    A escola representante da cultura formal e elaborada, cujo veculo a norma

    padro. Seu objetivo, em relao aprendizagem da lngua materna, continua sendo o

    domnio da lngua padro e a escola deve, em qualquer nvel de ensino,

    obrigatoriamente, possibilitar ao aluno experincias nessa variedade que se quer ensinar.

    A funo do professor a de criar condies para que os alunos aprendam a

    norma padro da lngua e para muitos desses alunos esse aprendizado s possvel pelo

    que lhes ensinado em termos de escolaridade.

    As consideraes acima elencam alguns estudos lingusticos da atualidade que

    tm contribudo para uma diferente viso da norma padro, no ensino superior. Hoje,

    impossvel negar o aspecto social da linguagem, com seus estudos voltados

    pragmtica, oralidade e sociolingustica, sem descartar outros aspectos,

    principalmente, o emocional, fora a racionalidade tradicionalmente valorizada, em

    termos cientficos e metodolgicos, nos estudos da linguagem (RAJAGOPALAN,

    2010).

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    A questo sociolingustica

    Para ORLANDI (1987), as respostas a determinadas questes colocadas pela

    lingustica devem ser respondidas no domnio da sociolingustica, como por exemplo a

    questo da variao em lngua, sua mudana, seu uso, pois h parcialidade em

    considerar fatores de uso aos fatores internos do sistema lingustico. H, evidentemente,

    uma relao entre lngua e sociedade. A questo sociolingustica est em considerar o

    que socialmente constitutivo da linguagem.

    Em verdade, ao levar-se em conta o fato de as lnguas existirem associadas a

    grupos humanos, pode-se concluir que, na lngua, h coincidncia entre o social e o

    histrico. Sempre os atos dos homens que tomam parte das lnguas e as transformam ao

    longo da histria.

    A lngua, por si s, no existe, diz ORLANDI (1987) e tambm fico dizer

    que ela homognea, pois ela se reveste de concretizaes histricas determinadas. O

    que existe a heterogeneidade das lnguas e a variao normal nelas. A lngua

    individual concreta porque apresenta vrios subsistemas e porque cada falante, em

    princpio, dispe de vrios subsistemas.

    Com tais estudos, a modalidade oral da lngua materna tem ampliado

    consideravelmente seu estudo, com o interesse de pesquisadores e professores por essa

    parcela das atividades lingusticas em sala de aula.

    Considera-se, nesses estudos, a especificidade da lngua oral, com suas

    caractersticas prprias e divergentes, muitas vezes, dos estudos voltados lngua

    escrita, considerada como ponto de partida para qualquer trabalho que se volte

    oralidade.

    Hoje, os estudos da oralidade se voltam reflexo sobre a lngua falada, o

    conhecimento aprofundado dessa lngua que representa uma parte considervel dos

    processos identificatrios de toda comunidade lingustica.

    Para BAGNO (2004), a total dedicao dos estudos lngua escrita, isolou a

    lngua falada o que, em termos quantitativos, representa um grande equvoco. Milhes

    de pessoas no sabem ler e escrever, mas falam perfeitamente sua lngua materna. Tal

    dado confirma o discutido aspecto elitista da gramtica tradicional que ignora a lngua

    falada e coloca, como nica opo vlida, a lngua escrita.

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    Conforme o autor, a tradio se perpetua; em nossos dias, qualquer exemplo, nas

    gramticas tradicionais, expe os escritores mais conhecidos e, de preferncia, de nosso

    passado literrio ou do passado portugus.

    Decorre dessa situao, o comparar toda a manifestao de oralidade, com as

    regras voltadas para a realidade da lngua escrita, valorizada pela gramtica tradicional.

    Claro est que essa tradio inibe ou omite estudos que se voltem lngua falada, com

    suas diferenas e peculiaridades.

    Com o advento da Lingustica, enquanto cincia da linguagem, certos aspectos

    tericos da gramtica normativa tm sido questionados, sob esse vis, inclusive o da

    valorizao exclusiva da lngua escrita.

    A quantidade de pesquisas nessa rea comea a revelar aspectos no explorados

    pelos estudos tradicionais da lngua e, conforme BAGNO (2004) , uma das principais

    inovaes introduzidas pelos estudos lingusticos foi a valorizao da lngua falada,

    enquanto veculo de comunicao de diferentes falantes de uma determinada

    comunidade lingustica, acontecimento que se reflete na educao lingustica das

    geraes que compem a cultura lingustica de um determinado grupo.

    Os estudos pragmticos e a configurao social da linguagem

    A lingustica em sala de aula, no ensino superior, aplicada ao uso da linguagem

    pelas pessoas, ao que elas fazem com a lngua, diz respeito questo pragmtica,

    conforme Mey (1993).

    RAJOGOPALAN (2010) afirma que nossa linguagem ordinria, a linguagem do

    dia-a-dia, diferentemente de sua contrapartida formal, moldada pelos falantes e

    durante tal processo histrico, a linguagem foi assimilando as distines que se fizeram

    ou que julgaram necessrias.

    O autor afirma que vrios estudiosos tm tradicionalmente preferido teorizar a

    linguagem num completo desrespeito por sua configurao social (2010, p.32).

    Importante lembrar que tal citao nos remete, tambm, oralidade, pois o povo

    vivencia a lngua falada, sempre contextualizada socialmente, o que nos remete

    pragmtica, que estuda a lngua em ao, a lngua e seu contexto. Vale observar que no

    h inteno de se desqualificar a escrita e seus estudos, e sim, acrescentar a necessidade

    do estudo da oralidade, de forma abrangente, pela pragmtica. O autor refora este

    posicionamento quando diz que, para a existncia da lngua, fazem-se necessrios, pelo

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    menos dois falantes, fato que refora o aspecto social da linguagem, trabalhada, em

    outro vis, pela sociolingustica.

    Durante muito tempo, a linguagem representava a manifestao do nossa

    racionalidade, da levar-se em conta o falante-ouvinte, de forma individualizada e

    idealizada.

    Tal manifestao de racionalidade se faz presente nos trabalhos de Grice (1975),

    com seu Princpio de Cooperao que visa o falante-ouvinte ideal. Outros estudiosos

    como LEECH (1983), BROWN & LEVINSON (1987), MEY (1993) questionam e

    ampliam tal princpio, em estudos contemporneos, dentre eles o da Polidez ou

    Cortesia, segundo algumas linhas tericas.

    RAJAGOPALAN (2010, p.222) menciona que A nfase exagerada na

    dimenso racional da linguagem, acompanhada de uma quase total negligncia do

    emocional, tem criado um profundo fosso entre o linguista e o leigo.

    Para MEY (2001), a sociedade atual uma sociedade da informao, cujos

    agentes de poder mantm e garantem a distribuio da informao. Questiona-se, sob

    esse vis, se o acionamento ou compartilhamento de uma informao significa

    comunicao; se, por exemplo, na Internet, em um bate-papo, h a constituio de uma

    comunicao efetiva, dentre outras possibilidades. Seria, na verdade, uma espcie de

    comunho entre as pessoas, com um conhecimento partilhado e com seus respectivos

    papis sociais. Questiona-se se h um contato humano verdadeiro ou uma

    descorporificao da informao. O autor afirma que a realidade virtual, no mximo,

    consegue ser um simples substituto para a comunicao total.

    Afirma MEY (2001) que, para muitos estudiosos, h um divisor de guas, uma

    fronteira, entre campos do saber, inclusive sobre a questo do discurso. Para ele, em

    primeiro lugar discurso um dilogo entre usurios, cercado pelas relaes dialticas.

    Vale lembrar que no objetivo deste artigo polemizar os termos Pragmtica, Anlise

    de Discurso, Sociolingustica, de forma exclusiva e delimitadora de fronteiras entre tais

    disciplinas ou separ-las de forma classificatria ou subdividi-las em subreas da

    lingustica. Os tpicos mencionados e suas possveis delimitaes dizem respeito

    metodologia utilizada para apresentar e desenvolver este artigo.

    Em termos de ensino-aprendizagem, justifica-se o cotejamento de tais reas do

    conhecimento lingustico, pois o objetivo tecer consideraes sobre a aprendizagem

    lingusticas no ensino superior, em diferentes cursos, em diferentes reas do

    conhecimento.

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    Algumas consideraes sobre a anlise de discurso

    As cincias humanas, enquanto evoluo de seus estudos, com a psicanlise, a

    etnologia e a lingustica, no veem o homem como uma figura unitria, como sujeito de

    sua liberdade, o que constitui sua dimenso discursiva. O sujeito discursivo leva em

    conta quem fala, quem detm o poder em termos institucionais/jurdicos de proferir tal

    discurso. Discurso esse visto como prtica que obedece a determinadas regras relativas

    a essa prtica, isto , uma prtica entre outras, com regras annimas, histricas,

    determinadas no tempo e no espao que definem as condies de exerccio da funo

    enunciativa (ARAJO, 2004).

    A Anlise de Discurso, por sua vez, no busca a verdade ltima e nica e, sim,

    fazer uma histria dos objetos discursivos que, com determinadas regras, controlam ou

    regulam seu modo de disposio, sua disperso em uma determinada formao

    discursiva que aqui se representa como lugar virtual, de esboo, em que se posta o texto.

    No h meios de se produzir saber e verdade que no impliquem determinadas relaes

    de poder. Para FOUCAULT (1971) verdade, poder, saber e discurso no param de

    produzir efeitos.

    Para a autora ORLANDI (2001) a Anlise de Discurso (AD), de linha francesa,

    se origina nos anos sessenta, com a ruptura em no se considerar o sentido como

    contedo, apenas e sim como o texto funciona, pela AD e na forma de se considerar a

    leitura no apenas como decodificao e sim como um dispositivo terico. A AD se

    caracteriza por no ter acesso direto ao sentido e considerar a interpretao como objeto

    de reflexo. Ela se apresenta como uma teoria da interpretao no sentido forte.

    (ORLANDI, 2001:21). No funcionamento da linguagem, o sujeito se constitui por

    gestos de interpretao, os quais submetem o sujeito ideologia.

    A linguagem para o analista de discurso vista como prtica, como mediao

    necessria entre o homem e sua realidade natural e/ou social e a AD faz a articulao do

    lingustico com o scio histrico e o ideolgico, relacionando a linguagem aos modos

    de produo social ao afirmar que no h discurso sem sujeito e nem sujeito sem

    ideologia.

    Alguns pontos tericos mencionados e trabalhados pela autora seriam a relao

    entre parfrase e polissemia, a noo de recorte do material de anlise, a incompletude

    do sujeito com a alteridade e a falha, a noo de identidade, o imaginrio constitutivo da

    relao sujeito/autor com a heterogeneidade do texto, a teorizao discursiva do

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    silncio, a relao entre sem-sentido e no-sentido, os gestos de interpretao, o

    dispositivo analtico e o dispositivo terico, a diferena entre interdiscurso e arquivo etc.

    A relao do sujeito com a linguagem e a histria a base terica da AD que se

    coloca pela maneira particular com que ela explicita o fato de que o sujeito e o sentido

    se constituem por um processo cujo fundamento a ideologia (ORLANDI, 2001).

    A AD, com todas suas implicaes tericas, modifica o entendimento do que

    vem a ser leitura, escrita, texto, dentre outras possibilidades. A leitura prope novas

    maneiras de ler, ao colocar o dito em relao ao no-dito, ao dito em outro espao, ao

    expor o leitor opacidade do texto. Este visto como objeto lingustico-histrico.

    A partir de tais consideraes amplas e gerais sobre a Anlise de Discurso, a

    Pragmtica, a Sociolingustica e o Ensino da Norma Padro na escola, parte-se para

    algumas consideraes sobre o ensino aprendizagem de Lngua Inglesa, na

    modernidade.

    O ensino-aprendizagem de lngua estrangeira (Ingls)

    O ensino da lngua inglesa uma prtica docente que tem sofrido diversas

    modificaes com relao abordagem e metodologia ao longo do tempo. Primeiro,

    uma metodologia baseada em gramtica e traduo; depois, caminhou-se para a

    metodologia direta com orientao behaviorista; a partir da, as metodologias

    audiolingual e a audiovisual que se davam pela repetio; mais tarde, surgiu a

    abordagem comunicativa, por meio da qual no se pode usar a primeira lngua, s a

    estrangeira. Hoje, configura-se uma era que os especialistas chamam de ps-mtodo.

    No h uma metodologia adequada, mas sim a reflexo e a anlise do professor em

    relao ao que fazer diante da realidade em que esto inseridos seus alunos.

    Historicamente, alguns mtodos para o ensino de lnguas estrangeiras surgidos

    no sculo XX merecem destaque, por terem sido mais amplamente difundidos e

    adotados por professores de todo o mundo. Relatam-se aqui os principais mtodos

    surgidos para o ensino de lngua inglesa, ressaltando que nenhum deles um mtodo

    estanque e que, embora tenham surgido em um movimento de oposio uns aos outros,

    cada um conserva aspectos bastante positivos e peculiares.

    A Metodologia gramtica-traduo

    A metodologia gramtica-traduo, tambm chamada de abordagem tradicional,

    a primeira e mais antiga metodologia, pois foi usada para ensinar as lnguas clssicas

    como o grego e o latim. Essa metodologia tem sido bastante utilizada desde meados do

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    sculo XIX tendo como ponto forte a aptido lingustica que, segundo Moita LOPES

    (1996, p.73) caracterizada como envolvendo a habilidade de lidar com conceitos

    gramaticais e de traduzir.

    Sua fundamentao est na crena de que a escrita o aspecto fundamental de

    uma lngua que existiria principalmente sob a forma de smbolos escritos determinados

    por regras gramaticais. Seu objetivo principal ensinar leitura e a estrutura gramatical

    da lngua, ensinadas de modo dedutivo, e levar memorizao de seu vocabulrio, para

    que se possa traduzir textos, mantendo a lngua materna como referncia e exigindo

    preciso. Seu ponto fraco a pouca valorizao das habilidades oral e auditiva e a no

    preocupao em promover comunicao.

    O mtodo, embora tenha sido amplamente utilizado em escolas, hoje em dia

    tido como ultrapassado e incapaz de desenvolver no aluno as habilidades comunicativas

    de maneira eficaz. Segundo RICHARDS & RODGERS (2002), seu objetivo principal

    era a leitura, sendo que se abordava a lngua por meio de detalhada anlise das regras

    gramaticais, seguida da aplicao de tais regras na traduo de frases e textos na lngua

    alvo, mantendo-se a lngua materna como referncia que era usada para explicar novos

    itens e promover comparaes entre as lnguas. O foco do ensino estava na leitura e

    escrita, pouca ateno era dada fala ou compreenso auditiva. A seleo de

    vocabulrio, por sua vez, baseava-se em textos apresentados e se estudava com o uso de

    listas contendo as respectivas tradues para memorizao. O componente bsico a ser

    estudado eram as frases, traduzidas para a lngua alvo. A gramtica era ensinada de

    modo dedutivo, pela apresentao sistemtica das regras gramaticais praticadas nos

    exerccios de traduo.

    A lngua ensinada dessa forma, descontextualizada e isolada, coloca-se de

    maneira distante daquela utilizada por nativos.

    A Metodologia direta (abordagem monolingual)

    O aumento das relaes entre os pases europeus, no incio do sculo XX, criou

    a demanda pela proficincia oral em lnguas estrangeiras, que passou a ser valorizada

    nos mtodos de ensino. Surgiu, ento, uma tendncia que deu origem ao chamado

    mtodo direto, uma tentativa de aproximar a aprendizagem da segunda lngua com a da

    primeira. Suas caractersticas principais eram o uso intensivo de interao, por meio de

    questes na lngua-alvo, e o repdio traduo que foi substituda pela demonstrao e

    ao.

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    Essa abordagem monolingual do ensino dizia que a lngua seria melhor

    aprendida se fosse amplamente utilizada em sala de aula e que seus professores

    deveriam encorajar seu uso espontneo, para depois aprender as regras gramaticais por

    induo. Ateno especial era dada fala e compreenso auditiva e,

    consequentemente, a pronncia deveria ser precisa. Para RICHARDS e RODGERS

    (2002), o mtodo direto constava dos seguintes princpios e procedimentos: a instruo

    em sala de aula era conduzida exclusivamente na lngua-alvo, com a utilizao de

    vocabulrio e de frases cotidianas.

    As habilidades de comunicao oral eram desenvolvidas em uma progresso

    gradual, organizadas em torno de perguntas e respostas entre professores e alunos, em

    grupos pequenos e intensivos. A gramtica era ensinada de maneira indutiva e os novos

    pontos a serem ensinados eram introduzidos oralmente. Por sua vez, o vocabulrio

    concreto era ensinado pela demonstrao de objetos e figuras e o vocabulrio abstrato

    era ensinado pela associao de ideias. Tanto a fala quanto a compreenso auditiva eram

    ensinadas.

    Na metodologia direta, a oralidade passa a ter um papel fundamental no processo

    ensino/aprendizagem, sendo o aluno exposto aos fatos da lngua para depois

    sistematiz-los.

    A Metodologia audiolingual ou udio-oral

    O sculo XX foi marcado por acontecimentos que acabaram por deixar reflexos

    em toda a humanidade, como a segunda guerra mundial, que influenciou como as

    lnguas eram ensinadas na Amrica. O governo norte-americano necessitava de pessoal

    com fluncia em alemo, francs, italiano, chins e japons, entre outras lnguas, e

    criou-se um programa de treinamento intensivo, com o intuito de fazer com que os

    estudantes obtivessem proficincia conversacional em tais lnguas. Em vista dos

    resultados positivos do treinamento e da emergncia dos Estados Unidos como potncia

    internacional, o que trouxe uma srie de imigrantes para estudar nas universidades do

    pas, foi necessrio desenvolver uma metodologia para o ensino do ingls como lngua

    estrangeira, que deu origem ao audiolingualismo.

    A abordagem audiolingual, primeiro grande paradigma no ensino de lnguas

    modernas, o movimento em oposio s metodologias gramtica-traduo e direta,

    surgidas no incio do sculo XX. O audiolingualismo, considerado como a abordagem

    tpica dos anos 50 e 60, seguia tendncias ditadas por Skinner e Saussure, que deixaram

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    um legado em termos de procedimentos para as geraes futuras. A teoria

    comportamentalista era a base dessa metodologia e defendia o modelamento na

    aprendizagem, gerando o padro estmulo-resposta-reforo com a correo imediata em

    sala de aula.

    Considerava-se que falar uma lngua seria apenas um ato mecnico, no

    envolvendo aspectos sociais e individuais. Pode-se dizer que, dentro dessa metodologia,

    os traos que definem a aptido lingustica englobam as habilidades de decodificao

    auditiva, de identificao de elementos gramaticais, de memorizao verbal e de

    associao entre som e grafema (MOITA LOPES, 1996,p.73).

    Os padres estruturais da gramtica eram pr-definidos e deveriam ser

    apresentados em situaes e dilogos. Os adeptos eram aqueles que tinham uma viso

    estruturalista da linguagem, que viam a lngua como sendo um cdigo composto por

    um conjunto fixo e estvel de regras abstratas e usadas por falantes igualmente abstratos

    e idealizados (SOUZA, 2003, p.87) e a aprendizagem da lngua estaria relacionada

    assimilao de hbitos novos formados pela repetio ou memorizao. De acordo com

    esta viso, bastaria estudar os elementos que fazem parte da estrutura da lngua para a

    entendermos. RICHARD e RODGERS (2002) afirmam que, entre os princpios

    fundamentais da metodologia audiolingual, aprender uma lngua estrangeira

    basicamente um processo de formao de hbitos e as habilidades lingusticas so

    melhores aprendidas quando apresentadas de forma oral antes da forma escrita. As

    repeties vo possibilitar aos aprendizes a formao de analogias corretas.

    Essa metodologia audiolingual foi amplamente utilizada na dcada de 70. A

    inteno era formar novos hbitos, por meio da repetio e da memorizao, evitando

    qualquer tipo de erro na produo da lngua, sendo que se dava nfase primeiro fala

    para depois se ensinar a escrita. A memorizao visava a um aprendizado efetivo, de

    forma que o aluno pudesse garantir seu bom desempenho na lngua estrangeira e seu

    ingresso no mercado de trabalho (SOUZA, 2006, p.30).

    A Metodologia Comunicativa (abordagem comunicativa)

    Estudiosos, entre eles, o professor de lingustica Noam Chomsky, comearam a

    rejeitar a abordagem estruturalista, assim como a teoria comportamentalista da

    aprendizagem de lnguas. Para eles, as propriedades fundamentais da lngua provm de

    aspectos inatos da mente e de como o homem processa experincia atravs da lngua

    (RICHARDS, 2002, p.66).

  • Acta Semitica et Lingvistica, v. 17, n.2, 2012 111

    Segundo CHOMSKY (2002), a lngua no adquirida pela imitao e sim criada

    a partir do conhecimento de regras abstratas, o que fez surgirem conceitos de ensinar e

    aprender lnguas baseados na interao e negociao, sempre em torno de temas

    interessantes e relevantes que envolveriam a aprendizagem significativa o que deu

    origem ao mtodo comunicativo, mais considerado uma abordagem do que um mtodo.

    A abordagem comunicativa surgiu mundialmente no final da dcada de 70,

    numa contestao ao audiolingualismo, sendo influenciada pelas ideias construtivistas

    de Piaget e Vygotsky, pela teoria lingustica de Chomsky e impactada pela teoria de

    aquisio da linguagem de Krashen (que no est diretamente associado ao ensino

    comunicativo de lnguas, mas que postulou teoria compatvel), trazendo como trao

    marcante a preocupao com o contexto e com o enunciado e, consequentemente, com a

    criao de uma comunicao mais prxima da que ocorre na vida cotidiana.

    Noam Chomsky demonstrou que as teorias estruturalistas eram incapazes de

    explicar a principal caracterstica da lngua: a criatividade e a unidade das sentenas

    individuais. HYMES (apud RICHARDS; RODGERS, 2002) ampliou esse conceito,

    alegando que a teoria lingustica deveria incorporar tambm a comunicao e a cultura.

    Conforme nos dizem RICHARDS e RODGERS (2002, p.159), a teoria de Hymes

    sobre a competncia comunicativa era uma definio do que o falante necessita saber

    para ser comunicativamente competente numa comunidade falante. De acordo com a

    sua concepo, a pessoa adquire, alm da competncia comunicativa, conhecimento e

    habilidade para utilizar a lngua no que se refere s possibilidades de uso, aos meios

    disponveis, apropriao ao contexto, execuo propriamente dita.

    Foram postuladas sete funes bsicas que a lngua exerce instrumental,

    reguladora, interacional, pessoal, investigativa, imaginativa e representacional , as

    quais deveriam ser dominadas pelo falante. A partir disso, linguistas britnicos

    comearam a enfatizar a dimenso comunicativa e funcional da linguagem, ressaltando

    a importncia em se concentrar na proficincia comunicativa em detrimento da

    estrutural.

    A viso funcional da linguagem, que considera a lngua como um veculo para a

    expresso de significados, passou a ser valorizada, enfatizando assim a dimenso

    comunicativa e semntica da lngua. O foco deixou de ser na estrutura e no vocabulrio

    (forma) e passou a ser nas necessidades comunicativas do aprendiz em contextos reais

    de fala. No se ensinavam mais frases e sim enunciados, que estavam muito mais

    ligados s funes as quais se queria levar o aluno a aprender. No havia mais a crena

  • Acta Semitica et Lingvistica, v. 17, n.2, 2012 112

    de que precisvamos saber tudo da lngua estrangeira, mas apenas o que fosse

    necessrio para promover a comunicao. Acreditava-se que o estudo das regras no

    garantia o aprendizado efetivo da lngua, a menos que essas regras fossem apresentadas

    diante de situaes reais e significativas de comunicao.

    A abordagem comunicativa foi rapidamente aceita e aplicada por escritores,

    professores e especialistas e deu origem ao que chamamos hoje de mtodo

    comunicativo.

    Os estudos em Lngua Materna (Portugus) e Lngua Estrangeira (Ingls): a construo da prtica em sala de aula.

    Com as generalizaes terico-metodolgicas acima elencadas, faz-se a anlise

    de algumas ementas, respectivamente, em disciplinas de LM e LE, no ensino superior e

    elabora-se uma comparao entre elas e as falas de alguns professores, a partir de uma

    pequena entrevista, com certo grau de informalidade, em sala de professores, no

    intervalo entre aulas.

    Lngua Materna (Portugus):

    Foram escolhidas 5 ementas, voltadas a diferentes cursos, em escolas

    particulares e pblicas.

    A primeira ementa, de um curso tecnolgico, traz para a disciplina de Lngua

    Portuguesa a questo da linguagem escrita e suas relaes com diferentes teorias e

    ideologias. Menciona suas funes e situaes de uso, como diferentes tipos e

    portadores textuais (voltados comunicao empresarial), alm da macro e micro

    estrutura textuais.

    Alguns questionamentos se fazem necessrios: o primeiro deles diz respeito s

    referncias utilizadas, em que h meno Semitica e a ementa no faz meno

    explcita a isso. Pode-se supor que a mesma se encaixe nas relaes com diferentes

    teorias. De qualquer forma, para um professor novo na disciplina, no h

    esclarecimentos suficientes para um bom planejamento, nesse item mencionado. A

    questo das funes da linguagem, por sua vez, remete ao paradigma estruturalista,

    marcado nas referncias com Roman Jakobson. As menes a macro e microestruturas

    textuais voltam-se em princpio Lingustica Textual, com referncia Ingedore Kock,

    com a coeso e coerncia textual.

    Com tais consideraes sobre a ementa, dois professores entrevistados dizem o

    seguinte a respeito da prtica em sala de aula, com base na ementa em questo: o

  • Acta Semitica et Lingvistica, v. 17, n.2, 2012 113

    primeiro diz desconhecer o trabalho com Semitica e que nunca se preocupou com isso,

    no semestre. Menciona, tambm, que trabalha textos tcnicos de interesse dos alunos,

    em termos profissionais, pois os alunos no sabem escrever, principalmente se no so

    dos cursos de humanas. Segue dizendo que o que importa em aulas de Lngua

    Portuguesa para diferentes cursos ensinar o aluno a ler e a escrever, coisa rara na

    realidade de sala de aula, nos dias atuais. Quando questionado sobre as novas teorias

    de ensino aprendizagem em LM menciona que nada muda se o aluno no dominar a

    norma culta da lngua. Ao tentar faz-lo retomar a ementa da disciplina, diz que essa

    ementa foi feita por quem est afastado da sala de aula e que ele no participou da

    elaborao dela e nem sequer foi consultado, por ser novo na escola.

    O segundo professor, j mais experiente no curso, diz que a ementa fria,

    possibilita diferentes interpretaes. O que me d segurana so as referncias

    mencionadas; ao estud-las consigo dar vida ementa, isto , sei o que ela quer dizer

    com seus tpicos.

    Afirma Eu cobro a gramtica normativa, dou regras, fao avaliaes pontuais,

    exijo a redao de textos dissertativos e a leitura de textos completos, pois esses pontos

    cabem em qualquer curso que tenha a disciplina Lngua Portuguesa.

    Quando questionado sobre os tpicos da ementa, menciona que Semitica para

    quem faz o curso de Letras, com disciplinas especficas para o conhecimento de teorias

    lingusticas atuais. Quanto s funes da linguagem, afirma que no podem ser

    descontextualizadas das situaes de uso, ento uso a linguagem da propaganda para

    fazer meno a elas.

    As consideraes do professor interessam na medida em que expem um

    problema bastante atual que diz respeito falta de leitura e escrita deficiente dos

    alunos nas escolas. Tal afirmao torna-se lugar comum para professores de LM. Por

    outro lado, parece camuflar ou desviar a ateno da falta ou desconhecimento de teorias

    atuais, para o ensino-aprendizagem de LM, o que se evidencia em relao referncia

    feita sobre os estudos semiticos.

    Vale mencionar que o segundo professor ora entrevistado tem uma experincia

    de 15 anos, no ensino de LM.

    A segunda ementa, tambm de um curso tecnolgico, traz a funo social da

    linguagem e seus nveis. As variedades lingusticas, a comunicao verbal, no-verbal e

    sincrtica, noes de texto e os gneros discursivos, voltados comunicao

  • Acta Semitica et Lingvistica, v. 17, n.2, 2012 114

    empresarial. Enfoca tambm a reviso gramatical, com a coeso e coerncia verbal e a

    concordncia nominal e verbal.

    Duas, entre as referncias suportam o estudo do texto e das variedades

    lingusticas. As outras centram focalizam tcnicas de redao, portugus instrumental e

    redao empresarial, propriamente dita. Em geral, as referncias, quando no voltadas

    rea empresarial mostram a evoluo dos estudos lingusticos, com a Lingustica

    Textual e a Sociolingustica e sustentam o contedo topicalizado na ementa.

    Por sua vez, em relao aos gneros discursivos, no h sustentao terica.

    Percebe-se, no geral, uma atualizao mesclada aos estudos tradicionais do ensino de

    lnguas.

    A entrevista, com dois professores da referida disciplina confirma, algumas

    vezes, o que se menciona nos comentrios sobre a ementa.

    O primeiro professor, com vasta experincia e titulao em lngua portuguesa,

    menciona os avanos dos ltimos dois anos na atualizao das ementas, incluindo

    sugestes de outras escolas, em relao a mesma. Diz o professor que as novas ementas

    mencionam novas teorias para o ensino de LP. Seu questionamento refere-se prpria

    atualizao do professor para trabalhar com elas: ...no sei se o pessoal sabe trabalhar

    com a Sociolingustica em sala de aula, ou com a Anlise de Discurso, que engloba os

    gneros discursivos, to mencionados e to pouco estudados. Diz ele, ainda, que sua

    formao lhe permite um trabalho mais crtico, mais exigente em relao a suas aulas,

    mas que: em conversa com outros colegas, vejo que eles ainda baseiam suas aulas, na

    gramtica normativa, com a orao como centro de estudos e a velha correo, em

    pauta, fora o uso dos tradicionais modelos utilizados na comunicao empresarial.

    As falas do professor mencionam uma questo bsica, em termos do ensino-

    aprendizagem de LP, com as teorias lingusticas atuais, geralmente enclausuradas no

    ambiente acadmico e com a realidade de sala de aula, baseada nos estudos tradicionais,

    com foco na gramtica normativa.

    Outro ponto citado nas falas acima diz respeito necessidade de aprimoramento

    contnuo do professor, em termos tericos, o que lhe permitiria uma maior reflexo

    sobre sua prtica pedaggica. Outro professor, entrevistado, a partir da mesma ementa

    diz que a comunicao empresarial representa o grande vis de estagnao das ementas.

    Afirma que nada mais arcaico do que se prender redao tcnica. Quem sabe

    Portugus sabe redigir um memorando, uma carta comercial, sem problemas; perda

  • Acta Semitica et Lingvistica, v. 17, n.2, 2012 115

    de tempo trabalhar com essas excrecncias. Comenta, tambm, que quem sabe redigir

    no escreve bobagens, sabe expor suas ideias, consegue reler e corrigir o prprio texto.

    Quando questionado sobre a funo social da linguagem e sobre as variedades

    lingusticas, diz prender-se ao estudo do preconceito lingustico, por ...ter alunos

    oriundos de diferentes classes sociais, de diferentes lugares do estado e do pas.

    Menciona, ainda, no trabalhar com gneros de discurso e que trabalha com a tipologia

    textual, que d conta do que pede a ementa. O desconhecimento terico do professor,

    nesse quesito, fica patente.

    A terceira ementa, de um curso de Letras, na disciplina Lngua Portuguesa, em

    uma universidade particular, na Grande So Paulo, traz a organizao textual, com seus

    processos e estratgias, relacionados construo do sentido. Elenca, tambm, o texto e

    seu contexto, os implcitos e os sentidos inferidos, o intertexto e o interdiscurso.

    As referncias se sustentam em relao aos processos e estratgias textuais, ao

    contexto e intertexto e no fazem meno ao interdiscurso.

    Os dois professores entrevistados so novos na instituio e possuem pequena

    experincia (dois e trs anos) no magistrio.

    O primeiro relata a dificuldade em entender a ementa, ao dizer que enquanto no

    vi o ndice dos livros mencionados nas referncias, pensei que ia surtar, no entendia a

    nomenclatura utilizada e entrei em pnico. Com a leitura dos livros tenho aprendido

    muito.

    Quando questionado sobre suas dificuldades em entender o contedo e a

    realidade de sala de aula diz os alunos sabem menos que eu, ento vou lendo o material

    e transmitindo a eles, sem problema.

    Com relao ao conhecimento do que entende por interdiscurso, diz no ter lido

    nada sobre o assunto. Quando entrar em frias pretendo fazer um curso que trate desse

    assunto.

    O segundo professor, mestrando em Lingustica Aplicada, diz focar seu ensino

    nas estratgias textuais e nos possveis sentidos do texto e trabalhar sempre com os

    gneros discursivos. Percebo que os alunos tm grande dificuldade de entendimento,

    pois eles acreditam que os mesmos so contemplados pela tipologia textual. Difcil

    avanar com tal tradio to sedimentada. Continua sua entrevista e diz acreditar que

    muitos professores de Lngua Portuguesa ... tm a mesma dificuldade dos alunos.

    Alguns professores acreditam que o que receberam nos bancos escolares serve para o

    resto da vida e os estudos tradicionais se mantm ano aps ano.

  • Acta Semitica et Lingvistica, v. 17, n.2, 2012 116

    Ao ser questionado sobre o trabalho com os gneros, diz focar em editoriais de

    jornais de grande circulao, pois ... os mesmos fornecem um bom modelo de textos

    dissertativos. Trabalho, ainda, com charges, quadrinhos e propaganda, em

    diferentes suportes, para motivar o aluno.

    Outra ementa, ainda no curso de Letras, em outra universidade particular, traz na

    disciplina de Lngua Portuguesa, a histria da Lingustica, a Lingustica moderna, com

    Saussure e outros. Menciona ainda a lngua oral e lngua escrita e a Sociolingustica.

    As referncias so atualizadas e se concentram nos tpicos mencionados na

    ementa. Um pequeno questionamento feito aos professores sobre o tpico referente

    lngua oral e lngua escrita que, em princpio, se encontra contemplado em todos os

    itens mencionados, tem como resposta, para o primeiro professor, o fato de o professor

    acreditar que isso se d ... para que o professor reforce bem as caractersticas da lngua

    falada e da lngua escrita, como um suporte significativo para os estudos

    sociolingusticos.

    J para o segundo professor, isso um erro, sem cabimento, de quem organizou

    a ementa pois, em lngua portuguesa e outras, tudo diz respeito escrita fala. Os

    professores, acima, tem experincia em sala de aula, em Lngua Portuguesa, de 10 e 12

    anos, respectivamente.

    Com tais consideraes sobre as ementas e entrevistas do aprendizado de lngua

    materna (Portugus), inicia- se a anlise das mesmas, em lngua estrangeira (Ingls).

    Lngua Estrangeira (Ingls)

    Sabe-se que o Ingls, no mundo globalizado, uma necessidade bsica que cada

    vez mais pessoas tentam suprir, gerando a incluso social e a distribuio de riquezas.

    Desta forma, seria lgico supor que os cursos, nas instituies de ensino superior, que

    apresentam a disciplina lngua inglesa em suas grades curriculares, valorizassem essa

    disciplina e dessem nfase, em suas ementas, a um ensino mais comunicativo, com foco

    na oralidade, considerando o grande nmero de profissionais, no pas, que, mesmo

    atuando em contextos que exigem o domnio dessa lngua, no conseguem faz-lo a

    contento. A maioria das ementas dos cursos deixa muito a desejar no que tange s

    competncias lingustico-comunicativas na lngua alvo, deixando a produo oral em

    segundo plano ou totalmente inexistente.

    Para esse estudo, foram analisadas as ementas de lngua inglesa, de uma

    instituio pblica de ensino superior na grande So Paulo. Para as entrevistas foram

  • Acta Semitica et Lingvistica, v. 17, n.2, 2012 117

    selecionadas cinco professoras que lecionam nessa instituio e que aqui sero

    identificadas como primeira, segunda, terceira, quarta e quinta entrevistadas.

    importante ressaltar que cada curso corresponde a seis semestres e que mesmo sendo

    cursos diferentes, as ementas de lngua inglesa so unificadas.

    Vrios avanos foram identificados em relao s ementas desses cursos. Em

    primeiro lugar, a disciplina lngua inglesa se faz presente em todos os cursos e em todos

    os semestres, sem exceo, apenas variando a carga horria. Como objetivo geral, ao

    trmino do sexto semestre, espera-se a incluso social dos alunos, j que por meio da

    aquisio da lngua inglesa, eles possam alcanar melhores posies no mercado de

    trabalho.

    A ementa dos primeiros semestres traz para a disciplina de lngua inglesa a

    introduo s habilidades de compreenso e produo oral e escrita por meio de funes

    comunicativas. Enfatiza a oralidade, atendendo s especificidades acadmico-

    profissionais da rea e aborda aspectos socioculturais.

    As ementas repetem-se em todos os semestres, alterando apenas a primeira

    palavra, ou seja, onde se l introduo na primeira ementa, a partir da segunda, esta

    palavra muda para ampliao, expanso, desenvolvimento, aprimoramento e

    consolidao, sempre dando nfase oralidade, que deve ser o foco de todos os

    semestres, sem esquecer os aspectos acadmico-profissionais de cada curso .

    As cinco professoras, nesta instituio pblica de ensino superior, alegaram que

    trabalham com as quatro habilidades, porm do nfase maior oralidade. Todas elas

    tambm disseram que procuram trabalhar com a abordagem comunicativa, mas que nem

    sempre fcil e apontaram alguns problemas:

    A primeira professora diz que no curso, a recomendao a de trabalhar as

    quatro habilidades de modo equitativo e que ela v grande dificuldade nas habilidades

    de listening e speaking, de modo geral. Embora, a cartilha pregue a abordagem

    comunicativa, sinto que para alguns grupos atingir o nvel desejado pela Instituio,

    necessrio uma mesclagem de mtodos considerados old fashion. A professora

    acrescenta: Gosto de gramtica, gosto da repetio sem excesso; so vlidos no

    processo. Para ela, o aluno com maior dificuldade com a lngua, pede exerccios

    estruturais. Recomendo, que isso deva ser feito em casa, em momentos de

    aprofundamento da lngua.

    A segunda professora salienta que nem sempre possvel ater-se somente

    abordagem comunicativa, visto que exerccios estruturais, muitas vezes, so necessrios

  • Acta Semitica et Lingvistica, v. 17, n.2, 2012 118

    para os alunos que apresentam maiores dificuldades. Assim, ela aponta o uso de vrios

    mtodos, dependendo da necessidade de cada aluno.

    O uso das quatro habilidades (ler, escrever, ouvir e falar) tambm foi apontado

    pelas professoras, porm a nfase permanece na oralidade e na audio. Elas ressaltam

    que a nfase na oralidade est prevista nas ementas.

    Diz a terceira professora: Trabalho basicamente com as quatro habilidades,

    porm tenho trabalhado mais com o listening and speaking no momento.

    A quarta professora afirma: Tento trabalhar com as quatro habilidades, mas

    sempre enfatizando a oralidade como prev a ementa.

    Apesar de trabalhar com as quatro habilidades, dedico maior importncia

    oralidade que o foco de todos os cursos no momento, diz a quinta professora.

    Em relao aos aspectos socioculturais que so mencionados nas ementas, as

    professoras entrevistadas disseram que procuram contextualizar suas aulas com

    questes do dia-a-dia e profissionais referentes a cada curso.

    Afirma a primeira professora que em todas as aulas, contextualizo o assunto do

    texto com as questes do dia-a-dia que envolvem atividades profissionais e/ou

    momentos de reflexo e exerccios conscientes de cidadania.

    J a terceira professora diz que subjaz ementa dos cursos general English o que

    ser requisitado fora da escola, como interview, cv, conversa ao telefone, dentre outras

    possibilidades. Os aspectos socioculturais vm associados a tudo isso; no possvel

    sectar. Algumas questes so levadas naturalmente ao debate por meio de exemplos e

    situaes trazidas pelos prprios alunos.

    As funes comunicativas, tambm destacadas nas ementas, foram abordadas

    pelas professoras, em suas aulas, por meio de situaes de performance, de pair work,

    de trabalho em grupos e adequao da linguagem formal e informal, dependendo do

    contexto.

    A quarta professora diz: Uma das avaliaes que submeto est centrada na

    parte oral, o que chamamos de performance (ainda no est do jeito que eu gostaria,

    mas est em germe). Para ela existe a criao, por eles, de uma situao, geralmente

    profissional, em que algumas funes lingusticas so requisitadas e nesta preparao,

    quase teatralizada, os alunos recuperam coisas j estudadas.

    Para a quinta professora: ...pode- se citar a questo de adequao de linguagem,

    ou seja, formal ou informal, dependendo do ambiente em que o indivduo esteja. Afirma

  • Acta Semitica et Lingvistica, v. 17, n.2, 2012 119

    ainda que outro exemplo seria o trabalho em equipe em que cada componente da equipe

    trabalha para que haja a unidade do grupo.

    A anlise das ementas e das entrevistas em lngua estrangeira (Ingls) encerra

    este momento de reflexo sobre o ensino/aprendizagem dessa lngua, na

    contemporaneidade.

    Algumas consideraes sobre o aprendizado de lngua materna (Portugus) e

    lngua estrangeira (Ingls)

    Com as ementas de Lngua Portuguesa e com as entrevistas, observa-se um

    conflito entre teorias tradicionais e contemporneas no ensino da lngua. Sabe-se que o

    conflito inerente a determinada formao discursiva que, aparentemente se ope a

    outra. Em verdade, no h oposio como pde ser visto nas ementas e entrevistas

    acima relacionadas. As teorias contemporneas, no estudo de LP, funcionam, algumas

    vezes, como referencial terico atualizado, mas o que na prtica conflitua com a

    tradio representada pelos estudos tradicionais de LP, isto , as referncias so atuais,

    mas os professores, quer por falta de conhecimento, quer por pouca experincia ou falta

    de vivncia da prtica pedaggica, se apoiam na tradio, modelo arraigado em seu

    imaginrio.

    Percebe-se que o sujeito-professor est dividido entre a tradio do ensino e a

    nova realidade terica que se apresenta para a sala de aula. Outros questionamentos se

    impem, na realidade, pois sempre houve mudana na realidade educacional, quer em

    termos tericos, quer na tradio presente na realidade escolar. H a resistncia ao novo,

    como mostram alguns depoimentos, ou sua valorizao excessiva, em outros.

    As novas teorias abrem para o professor diferentes possibilidades de

    conhecimento e impossvel negar sua fora na realidade educacional. Mas a

    superficialidade em tratar as novas teorias ou seu desconhecimento dificulta a

    atualizao do professor em sua realidade diria em sala de aula, pois no consegue

    aplic-las em sua vivncia educacional e s lhe resta a tradio esvaziada de significado,

    por pertencer a outra formao discursiva, distante no tempo, da o imaginrio se impor,

    com o esvaziamento de outras possibilidades. O saber do professor de Lngua

    Portuguesa passa por questionamentos que, em seu prprio dizer, mencionam a diviso

    entre as teorias tradicionais e as novas teorias utilizadas no ensino-aprendizagem.

    Para a Lngua Inglesa, com base nas anlises das ementas e nas entrevistas,

    verifica-se que, apesar das dificuldades, tais como classes heterogneas, falta de pr-

  • Acta Semitica et Lingvistica, v. 17, n.2, 2012 120

    requisito por parte dos alunos, grande nmero de alunos por sala, pouco tempo de aula,

    a viso e a preocupao que esta instituio pblica tem em relao ao ensino da lngua

    inglesa bastante animadora e comprometida. Privilegia a habilidade oral, proporciona

    o desenvolvimento de sua compreenso e expresso e, mesmo que os alunos apresentem

    um nvel de proficincia muito aqum do esperado de alunos universitrios, o fato de as

    ementas dos cursos e o trabalho das professoras assinalarem a oralidade e

    desenvolverem atividades comunicativas fazem com que os alunos interajam e

    produzam enunciados na lngua alvo, ao aprender uma lngua estrangeira falando.

    As pessoas, em geral, expressam o desejo de falar uma lngua estrangeira, mais

    que o desejo de dominarem outras habilidades. H tambm necessidades mais urgentes

    como acadmicas e profissionais. Alm disso, a competncia oral do ingls possibilita

    grande parte da comunicao e veiculao de ideias nos mais diversos setores da

    sociedade, tanto nos meios presenciais, como nos meios virtuais, como a Internet.

    Ensinar a oralidade pode ser tambm um fator de motivao para os alunos iniciantes,

    favorecendo o ensino das habilidades de leitura e escrita. Finalmente, a comunicao

    entre professor e alunos, por meio da lngua alvo, pode beneficiar o processo ensino-

    aprendizagem, principalmente se os alunos forem solicitados a falar na lngua-alvo

    contedos que lhes interessem. Para que isso ocorra, so necessrias ementas que

    contribuam com aulas provocativas, desafiadoras e que levem o aluno a produzir. Neste

    quesito, as ementas de lngua inglesa desta instituio cumprem com seu papel.

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