O AEROPORTO DE MANGUINHOS. · Coordenador do projeto: Profª Mrs. Rubenita Vieira Revisão: Mrs....

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http://historiaunisuam.wordpress.com/ Setembro 2012 Ano 3 Nº 7 O AEROPORTO DE MANGUINHOS. O IMPÉRIO CORTUME CARIOCA: APOGEU E DECLÍNIO RAMOS: A FERROVIA, COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO JORNAL O ARAUTO LEOPOLDINENSE - Nº 7 Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM Curso de Graduação em História Coordenador: Profa.Dra.Adriana Patrícia Ronco Oficina de História e Memória da Região Leopoldina Coordenador do projeto: Profª Mrs. Rubenita Vieira Revisão: Mrs. Rubenita Vieira Edição Visual: Prof. Adalberto Larroque Projeto Gráfico/ Programação Visual: Patrick Tavares dos Santos Alunos colaboradores: Sheila Cristina Borges Linhares, Fernando Mauro Fonseca Chagas, José Américo Pontes dos Santos Junior, Diogo Rodrigues dos Santos, Leonardo Bastos Ferreira, Bruno da Silva Ogeda, Renata Oliveira Contatos: http://historiaunisuam.wordpress.com/ Distribuição Gratuita Tiragem 2000 Exemplares Edição Semestral

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Setembro 2012 Ano 3 Nº 7

O AEROPORTO DE MANGUINHOS.

O IMPÉRIO CORTUME CARIOCA: APOGEU E DECLÍNIO

RAMOS: A FERROVIA, COMO CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO

JORNAL O ARAUTO LEOPOLDINENSE - Nº 7 Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM Curso de Graduação em História Coordenador: Profa.Dra.Adriana Patrícia Ronco Oficina de História e Memória da Região Leopoldina Coordenador do projeto: Profª Mrs. Rubenita Vieira Revisão: Mrs. Rubenita Vieira Edição Visual: Prof. Adalberto Larroque Projeto Gráfico/ Programação Visual: Patrick Tavares dos Santos Alunos colaboradores: Sheila Cristina Borges Linhares, Fernando Mauro Fonseca Chagas, José Américo Pontes dos Santos Junior, Diogo Rodrigues dos Santos, Leonardo Bastos Ferreira, Bruno da Silva Ogeda, Renata Oliveira Contatos: http://historiaunisuam.wordpress.com/ Distribuição Gratuita Tiragem 2000 Exemplares Edição Semestral

O AEROPORTO DE MANGUINHOS *Fernando Mauro Fonseca Chaga *Sheila Cristina Borges Linhares

Muitas pessoas que hoje passam pela

Avenida Brasil não imaginam, que à

altura da região de Manguinhos,

durante mais 30 anos, funcionou um

aeródromo que foi fundamental na

formação de pilotos e na divulgação da

arte de voar. Porem, para chegarmos a

essa região da Leopoldina temos que

nos remeter primeiro ao inicio do

século XX quando Alberto Santos

Dumont no Campo de Bagatelle – Paris

– colocou o objeto mais pesado que o ar

em vôo e fez nascer a aviação. Nos

anos subsequentes temos a evolução da

criação de Santos Dumont e o

surgimento de um conflito - que nas

palavras de Eric Hobsbawm - mudaria a

geopolítica mundial do breve século

XX.

Na Grande Guerra o uso do avião

foi feito de todas as formas:

observação, bombardeio e caça. O

emprego dessa nova invenção era

observado por estrategas de todo o

mundo. Logo surgem defensores da arte

de voar não só como um meio da guerra

moderna, mas também como meio de

transporte e ligação entre as partes do

globo.

O Aeroclube do Brasil tem sua

ata de fundação em 14 de outubro de

1911, mas passa a ocupar em 1912 o

Campo dos Afonsos - área pertencente

ao exército que originalmente era uma

fazenda particular. Nesse período a

aviação no Brasil tem um incentivo

civil já que as verbas para as forças

armadas eram muito limitadas. Os

primeiros aviões comprados são

cedidos ao exército para servirem as

tropas legalistas como observadores na

Guerra do Contestado. Só em janeiro

de 1919 é que a aviação militar tem o

seu verdadeiro inicio, porém não houve

como manter o programa de instrução

de aviadores porque o governo federal

não disponibilizou fundos. Em 6 meses

o Campo dos Afonsos é cedido ao

Aeroclube do Brasil. No ano de 1927

quando finalmente será criada a 5ª arma

do exército – a Aviação Militar – é que

o Aeroclube do Brasil mudará a sua

sede para São Paulo deixando os

Afonsos para o exército.

A década de 20 chega ao seu fim

e com ele a República Velha. Em 1930,

com Getulio Vargas à frente, os

tenentes assumem o governo e as

antigas oligarquias paulistas e mineiras

tem o seu poder diminuído. O

aeroclube do Brasil é transferido em

1936 mais uma vez para o Rio de

Janeiro e vem a ocupar um espaço que

pertence à Fundação Oswaldo Cruz. Os

acertos para a instalação do Aeroclube

no terreno pertencente à FIOCRUZ foi

um casamento do governo federal e do

estadual. O terreno de Manguinhos foi

aplainado tendo uma elevação abatida e

área de manguezal aterrada para a

construção do aeroporto.

O Aeroporto de Manguinhos

contava com torre de controle, vários

hangares para a guarda e manutenção

das aeronaves alem de um hotel para os

associados poderem descansar. A

Campanha para a criação de aeroclubes

pelo Brasil a fora idealizada por Assis

Chateaubriand e abençoada pelo

governo federal .Assim, nos hangares

de Manguinhos há uma das

plataformas de lançamento.

Foto arquivo da casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

O aeroclube do Brasil durante as

décadas de 30 e 40 serviu como escola

de aviação para uma geração de pilotos

e instrutores civis. Muitos pilotos

tiveram o seu lâche1 daquela pista. Dos

seus hangares, Vargas presidia a

semana da asa e a população carioca

comparecia para apreciar o ralys1

aéreos e os shows acrobáticos. Anésia

Pinheiro Machado1 – a primeira mulher

brevedada1 – participava com suas

acrobacias aéreas.

Com a construção da Avenida

Brasil o Aeroporto teve seu terreno

diminuído. Os aviões agora tinham que

repartir parte do terreno com os

automóveis que transitavam pela via. A

expansão do perímetro urbano da

cidade do Rio de Janeiro e por

consequência o aumento populacional

fez crescer o tráfego tanto em terra

como no ar. Nos anos 50 o Aeroporto

do Galeão e o antigo Aeródromo do

Calabouço - Aeroporto Santos Dumont

tinham um tráfego grande de aeronaves.

Em 1959 um cadete da Escola de

Aviação dos Afonsos pilotando uma

nave de instrução fazia manobras sobre

à casa de sua namorada e colidiu com

um avião comercial levando à morte 42

pessoas entre tripulantes, passageiros e

moradores do Bairro de Ramos. Logo

se iniciou uma especulação que as

naves do Aeroporto de Manguinhos

seriam um risco para a segurança aérea.

Apesar de nenhuma aeronave do

Aeroporto de Manguinhos ter se

envolvido em outro acidente em 1961,

a região da Leopoldina perdia o seu

aeroporto sendo o Aeroclube do Brasil

transferido para o bairro de

Jacarepaguá.

Hoje a aérea que outrora foi o

Aeroporto de Manguinhos está ocupada

por uma comunidade – a Vila do João

– e um depósito de containers. A torre

de controle e os hangares são coisas de

um passado ,muito distante da memória

mesmo dos antigos dos moradores da

região .

Portanto, conscientizar o leitor

leopoldinense sobre sua história local

como integrada à história da cidade do

Rio de Janeiro ;o conhecimento dos

imóveis ,monumentos e outras formas

materiais construídas no passado e no

espaço em que a comunidade circula

todos os dias ;as atividades culturais

ainda existentes e outras já

desaparecidas mas ainda presente na

memória dos antigos moradores é

tarefa urgente do historiador ,frente a

uma sociedade que sofreu,

principalmente a partir dos anos 50 e

60 do século XX ,mudanças

impulsionadas em grande parte por uma

economia crescentemente

internacionalizada hoje com o nome de

globalizada ,absorvendo com ela novos

papéis no decorrer do processo

histórico.

DC-3 sem as asas na pista de subida para Bonsucesso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

WANDERLEY, Nelson Freire Lavanére. História da Força Aérea Brasileira. 1ª Ed.

Guanabara: Biblioteca do Exército, 1966.

http://www.aeroclubedobrasil.com.br/default.htm visitado em 22 de abril de 2012 as 20 horas.

Fotos : Museu Aéreo Espacial – Campo dos Afonsos. Rio de Janeiro.

CENDOC - Centro de Documentação da Aeronáutica. Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro.

Ramos: A ferrovia, como caminho para o desenvolvimento.

*Bruno da Silva Ogeda * Renata Oliveira

A área que forma hoje o bairro de Ramos pertencia à sesmaria de Inhaúma registrada na época do governador da colônia Estácio de Sá. Estas terras tinham um bom potencial agrícola, o que atraiu alguns engenhos e fazendas para a região, entre eles a fazenda do Engenho da Pedra, que depois foi chamada de Fazenda de Nossa Senhora do Bonsucesso. Em meados de 1620 grandes parcelas destas terras foram adquiridas pela

família Souto Mayor. Com o passar do tempo as terras foram mudando de donos e o seu cultivo principal também foi modificado passando da cana-de-açúcar para o café.

Sobre a freguesia de Inhaúma, Noronha Santos relatava que na virada do século Inhaúma começou a progredir dia a dia, edificando-se em vários pontos da vasta e populosa freguesia confortáveis prédios que podiam competir com os melhores das freguesias urbanas. ”Foram retalhados os terrenos das antigas fazendas que ainda existiam. Bem poucos vestígios ficaram daqueles tempos em que o braço escravo era o cooperador valioso da fortuna pública e particular” (SANTOS, 1965). Nas plantas de 1900(...),Ramos( a não ser ao longo da estrada da Penha) ainda não figurava nos mapas do Rio ,nem o seu popular Sargento Ferreira havia trazido para os seus habitantes a devoção de N.S.das Mercês,primeiro numa casa de família,depois e a partir de 1933,na igreja da Rua Roberto Silva,”erguida sob a liderança do Monsenhor João Barros,seu primeiro Vigário,e hoje aos cuidados dos padres mercedários”.(GERSON,2000).

Já no século XIX a Fazenda Nossa Senhora do Bonsucesso chegou às mãos de Dona Leonor Mascarenhas de Oliveira, que solteira, deixou treze lotes em testamento a serem divididos entre parentes e amigos. A região que forma hoje os bairros de Bonsucesso e Ramos foram herdadas pelo Dr. João Torquato de Oliveira, filho de escrava e que fora criado pela testamenteira. Em 1870, a viúva do Dr. João Torquato de Oliveira vendeu algumas terras ao Capitão Luiz José Fonseca Ramos, que teria o sobrenome utilizado para nomear a parada de trem que posteriormente seria o nome do bairro.

Até a chegada do trem, essa região comunicava-se de modo bastante irregular com o centro da cidade, fosse através do litoral ou de antigas estradas abertas desde os tempos coloniais. Dos caminhos e picadas que surgiram ainda no século XVII, foram pioneiras a Estrada Velha do Engenho da Pedra - hoje simplesmente Estrada do Engenho da Pedra e a Estrada Nova do Engenho da Pedra, cortada agora pela rua Teixeira de Castro, assim denominada em homenagem ao médico e benfeitor de Bonsucesso. Havia também outros caminhos, como o de Mariangu. Por meio deles, a fazenda comunicava-se com o Arraial da Penha e com o litoral, onde chegava ao lendário Cais da Pedra, referência à enorme pedra que ficava junto ao litoral e até hoje pode ser vista na praia de Ramos. Comunicava-se também com o porto de Mariangu, cujo nome inspirou-se na ave que habitava a região. Deste porto, partiam embarcações para o centro do Rio de Janeiro colonial, permitindo o escoamento do açúcar, aguardente, frutas, hortaliças e tudo o mais que fosse produzido nessas propriedades rurais. Em 1968, um trem partiu da Estação Barão de Mauá e chegou a Ramos. Mas não era um trem moderno. Era uma máquina 59, uma locomotiva de madeira movida a carvão e construída no ano da fundação da Estrada de Ferro do Norte, em 1866. Foi chamado de

"Trem da Saudade", pois trazia de volta as lembranças do dia em que a primeira Maria-fumaça chegou a esta estação. Nesse dia, os moradores de Ramos comemoraram com muita festa o centenário do bairro.

Os historiadores que têm se dedicado ao assunto , acentuam o papel indutor do desenvolvimento da região a partir da Leopoldina Railway ,mostrando que embora atravessando terras mais baixas, sujeitas a inundações periódicas ,próximas que estavam da orla da baía de Guanabara ,a Rio de Janeiro Nothern Railway Company,também chamada Estrada do Norte( futura Leopoldina Railway) teve um papel indutor muito mais importante que a Rio D’Ouro .Sua primeira linha,inaugurada em 23/4/1886,entre São Francisco Xavier e Mirity(atual Duque de Caxias) interligou uma série de núcleos semi-urbanos pre-existentes( como Bonsucesso,Ramos ,Olaria, Penha, Brás de Pina,Cordovil Lucas e Vigário Geral ),que “ devido á grande acessabilidade do centro proporcionada agora pela ferrovia, passaram então a se desenvolver em ritmo bastante acelerado”( ABREU, 2008 ).

Eram quatro trens de subúrbios que trafegavam diariamente ,antes de 1897,na única linha que existia até Mirity ,com desvios em Bonsucesso ,Penha e Parada de Lucas .O primeiro núcleo de habitantes dessa zona que mais acentuadamente prosperou foi Bonsucesso .Esta localidade e as de Ramos ,Olaria e Penha, em pouco tempo-entre os anos de 1898 e 1902-tiveram os seus terrenos divididos em lotes organizando-se simultaneamente

empresas para construção de prédios .Ramos transformou-se em empório comercial e num dos centros de maior atividade na zona da Leopoldina Railway”.(SANTOS,1934).

Até então esta região só se comunicava com o centro da cidade através do litoral ou de caminhos abertos ainda nos tempos coloniais, que se encontravam em condições precárias. Foi quando em 1886 a expansão da linha de trens Leopoldina Railway chegou às terras da fazenda. Através de um acordo com os descendentes do já citado Capitão Ramos, ficou certo que os proprietários cederiam terras para a passagem dos trilhos e em troca a companhia ferroviária construiria ali uma parada para a família. Assim surgia à Parada de Ramos, que estava ligada à estação inicial de São Francisco Xavier (centro da cidade) e tinha seu término na estação de Meriti (atual Duque de Caxias), com duas viagens diárias, uma pela manhã e outra à tarde.

Pouco depois da chegada da linha férrea a fazenda foi vendida para o português Teixeira Ribeiro que ao lado de seu filho João Teixeira Ribeiro Júnior lotearam as terras, abriram ruas de chão batido, sem calçamento, iluminação ou esgoto, mas que foram os marcos iniciais da urbanização do local Portanto os responsáveis pelos primeiros traços urbanísticos do bairro. O bairro, naturalmente, adotou o nome de sua primeira parada de trem. Surgem as primeiras ruas de Ramos: as atuais Uranos, Professor Lace, Aureliano Lessa, Euclides Farias, Roberto Silva e Teixeira Franco. E nelas, os primeiros casarões, onde moravam famílias abastadas, ao lado de pequenas chácaras. Surge também a primeira escola, Paraguai, hoje chamada Padre Manoel da Nóbrega.

Na primeira metade do século XX o bairro se desenvolveu. A ferrovia trouxe novos moradores, além de fomentar o comércio local tendo em vista que Ramos estava diretamente ligado ao centro da cidade. A Parada do

Ramos se desenvolve. Pouco depois, o Sítio dos Bambus foi vendido para o já citado Teixeira Ribeiro, casado com a filha do médico João Torquato, herdeiro da antiga fazenda, que também possuía terras próximas.

A praia de banhos era a Praia de Ramos, conhecida também pelos antigos nomes de Praia do Apicu, que em tupi-guarani significa brejo de água salgada, e Mariangu, nome indígena da ave abundante na orla marítima. Havia projetos para urbanizar também os terrenos junto à orla, criando uma avenida paralela à praia, o que traria a Ramos o apelido de "Copacabana do Subúrbio". Com apoio do prefeito Henrique Dodsworth, a praia chegou a ter balneário com cabines e aluguel de trajes de banho e até um projeto para a construção de um cassino. Os planos de urbanização dos terrenos junto á orla,entretanto, não seguiram adiante. Poucos anos depois, alegando que a área pertencia à marinha - as terras estariam na faixa de preamar definida em 1831-a prefeitura rejeitou o projeto, a área tornou-se pública e nada foi realizado. Abandonada, transformou-se em local de banhos pouco salubres. Pouco a pouco, uma ocupação desordenada surgiu ao redor da praia, dando lugar aos primeiros barracos. A Praia de Ramos, única da região da Leopoldina, com seus cajueiros, caçadas aos caranguejos, e banhos de lamas medicinais hoje sobrevive apenas na memória de quem um dia conheceu a "Copacabana dos Subúrbios".

Novos empreendimentos surgiam desde armazéns e lojas até os cinemas, que marcaram época no bairro. Os moradores mais antigos sentem muitas saudades de quando o bairro tinha mais opções de diversão e era mais bem conservado. A primeira grande inovação foi o primeiro cinema da Leopoldina, o Cinematógrafo Ideal, fundado em 1914 e localizado na Rua Uranos.

Ramos também receberia a grande arte do teatro, primeiramente na Rua Barreiros, e em 1914 seria fundado

o Teatro Ramos Clube na Rua Leopoldina Rego, no prédio que se tornaria no futuro um dos destaques do entretenimento do bairro: o Cine Rosário, que quando inaugurado em 1938 tinha capacidade para 1.442 expectadores e se manteve em funcionamento até 1981. Os quase 50 anos de existência marcaram a história e a vida dos moradores do bairro. Hoje ,o prédio onde era a sede do Cine Rosário encontra-se fechado. Entretanto ,há um projeto de restauração da Prefeitura do Rio de Janeiro que visa reabrir o Cine Rosário e outros seis cinemas na cidade.

O depoimento de antigos moradores do bairro traz a memória de tempos que não voltam mais e ainda se identificam com valores e costumes não apenas ligados ao fenômeno da globalização intensiva que tem assolado a região da Leopoldina.” Além do cinema(o que está acima á direita ,retrata o Cine Rosário ,na Rua Leopoldina Rego) tínhamos o Cacique de Ramos que também era um lugar de lazer. No Cacique aconteciam desfiles de carnaval. O filme mais visto era a Paixão de Cristo Juntávamos um grupo e íamos. Prefiro o bairro com era antigamente, porque se tinha menos violência e naquela época as pessoas se

respeitavam mais”. são as lembranças de Elizabete de Oliveira, antiga moradora .Maria Helena, outra antiga moradora tem lembranças do Bloco” Bafo de Onça” e gostaria que o bairro de Ramos fosse como antigamente, quando havia menos violência.

Com todo o desenvolvimento do bairro chega em 1912 o sistema de iluminação pública, sendo Ramos a primeira localidade da Leopoldina a receber este sistema. Já em 1920 as Ruas Uranos e Cardoso Morais receberiam a luz elétrica com lâmpadas de 60 velas. Todo esse desenvolvimento que o bairro apresentava já na década de 20, deu ao bairro o título de “Capital do subúrbio Leopoldina”.

Após o período de grande desenvolvimento trazido com a ferrovia e que teve seu auge na metade do século passado, o bairro enfrenta hoje, alguns problemas como a necessidade de melhorias na segurança, na conservação das ruas e novas opções de diversão para os moradores, que sentem falta dos tempos áureos em que a ferrovia trazia desenvolvimento e soluções para o problemas do bairro.

Referencias bibliográficas: ABREU, Maurício de A. Evolução Urbana do Rio de Janeiro.4ª ed. RJ: IPP,2008. GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio.5ª ed.RJ: Lacerda Ed,2000 NORONHA SANTOS,F.A. Meios de Transporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Typografia do Jornal do Commercio,1934 vol. 1. http://www.museudapessoa.net/sescrio/artigos_penha.shtml Acesso: 10/06/2012 http://portalgeo.rio.rj.gov.br/armazenzinho/web/BairrosCariocas/main_bairro.asp?area=041 – Acesso: 19/05/2012 http://fotolog.terra.com.br/znorte Acesso: 19/05/2012 http://odia.ig.com.br/portal/rio/um-final-feliz-para-cinemas-de-rua-1.415062 Acesso: 19 /05/ 2012 http://www.museudapessoa.net/sescrio/artigos_penha.shtml - Acesso: 10/06/2012

O IMPÉRIO CORTUME CARIOCA: APOGEU E DECLÍNIO

*José Américo Pontes dos Santos Junior *Diogo Rodrigues dos Santos *Leonardo Bastos Ferreira

Pintura em tela retratando o Curtume nos anos 50

Ainda não havia algumas edificações do complexo industrial mais conhecido da região da Leopoldina-, mais especificamente na Penha- e suas palmeiras imperiais ainda nem haviam chegado à altura para sobreporem aos prédios que viriam testemunhar seu apogeu e seu declínio. Em 12/06/1920 foi inaugurada a indústria de couros, peles e curtumes – O CORTUME CARIOCA – que com seu apito característico, chamava à obrigação do trabalho. Uma indústria de couros e similares, com uma construção em estilo Art nouveau. Com a inauguração da indústria, a região da Penha (que só foi transformada em bairro oficialmente no dia 22 de julho de 1919) e seus arredores – que antes se dedicavam basicamente a atividades rurais – foi transformada em polo comercial, atraindo para a área um grande contingente de proletários e suas famílias. A conseqüência foi a grande procura por domicílios que ficassem próximos à fábrica por causa da facilidade de deslocamento. Outro fator

que contribuiu para o aumento populacional desta região – consequência do progresso da cidade – foi a inauguração da Avenida Brasil, no meio da década de 40, impulsionando ainda mais o desenvolvimento industrial e comercial. O Cortume Carioca S.A teve uma importância significativa para o comercio da região e foi durante décadas o centro de produção do bairro. O forte dinamismo econômico impulsionou o comércio de muitas manufaturas dedicadas à produção de cintos, sapatos, bolsas e outras relacionadas ao couro. Sua produção era escoada através do porto de Maria Angú de onde a produção se destinava ao porto do centro da cidade.

Em 1925 o Cortume Carioca foi incorporado à firma suíça C.F.Bally S.A verificando-se a captação de mão-de-obra e incremento na atividade comercial. Por volta dos anos 50 tornava-se a maior indústria de curtição das Américas e a segunda maior do mundo.

Uma curiosidade era o mau cheiro exalado pelo Curtume que se sentia até Bonsucesso apesar das ruas ao seu redor estarem sempre limpas onde observava-se seus funcionários trabalhando a todo vapor.

No ano de 1952 o Cortume Carioca sofreu seu quarto incêndio. Este foi o mais sofrido e o pior devido à explosão de um tambor de tinta que logo se alastrou, queimando totalmente um galpão da antiga fábrica de couro. Prosperou nos próximos anos, e em 1965 criou seu próprio departamento químico. Em seu auge, o curtume chegou a empregar cerca de 3.500 trabalhadores, o que representava para o bairro da Penha e adjacências , o mesmo que hoje a Companhia Siderúrgica Nacional representa para Volta Redonda.

Em 1990 a fábrica deixou de prosperar e começou a sofrer com a retração do mercado com o surgimento do produto sintético e a crise econômica vivida pelas indústrias nacionais. 1998 representou o fim do Império Curtume, uma vez que foi decretada sua falência depois de oito anos de crise. Foi o fim da maior indústria de curtume da América Latina após 78 anos, deixando um grande número de desempregados e uma área física de aproximadamente 100.000m2.Com este episódio perderam não só os trabalhadores, mas também a comunidade e o Estado que deixou de ter arrecadação fiscal.

O fechamento da empresa foi marcado por sua transferência para outros Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul.

Em 2006 foi criada uma equipe coordenada pela Secretaria Municipal de Urbanismo visando a recuperação de imóveis abandonados no Rio. O Curtume Carioca está incluído nesse rol.

De acordo com os relatos do nosso entrevistado, Sr. Oswaldo Mendez, comerciante do bairro da Penha, “com o fim do Curtume Carioca a área ficou muito deserta, e o comércio em sua volta que vivia de seus operários fechou. Ocorreu também o empobrecimento da região da Leopoldina, pois várias empresas fecharam suas portas ou se mudaram por conta da violência que tomou conta do bairro.” Ele declara sentir-se um herói por insistir em continuar tendo negócios no bairro “mesmo no meio dos tiroteios que eram quase diários no Complexo do Alemão antes da pacificação”.

As instalações do antigo Curtume ficaram abandonadas e várias outras atividades comerciais começam a se instalar no local: depósitos, lava à jato, oficinas mecânicas e até a instalação da Igreja Evangélica Renovada Monte Muriá , entre outras. Era lá que o médium Rubem Faria tinha seu galpão de curas do Dr. Fritz. Por outro lado, a Prefeitura projetou demolir o prédio e transformá-lo em uma vila olímpica. Entretanto, o projeto não saiu do papel.

Enquanto a Prefeitura se ocupa em realizações como a Rio +20, as Olimpíadas e a Copa do Mundo, a história do patrimônio da região leopoldinense vai se perdendo no tempo e no esquecimento popular. Torna-se urgente ,portanto, uma política voltada à recuperação da história e memória da região.

Vista do Curtume Carioca nos tempos de hoje

Referencias bibliográficas: PECHMAN, Robert Moses. A gênese do mercado urbano de terras, a produção de moradias e a formação dos subúrbios no Rio de Janeiro. 1985. 85 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de janeiro, 1985 LESSA, Carlos. O Rio de Todos os Brasis: uma reflexão em busca de auto-estima. Rocord, 2000, 478p. BONDUCKI, N. G. Origens da Habitação Social no Brasil. 4ª edição. 4. Ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2004. 344p. RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Urbanismo. A história do planejamento da cidade do Rio de Janeiro. Disponível em <htpp://WWW.rio.rj.gov.br/>. Acessado em 22 de maio de 2012.