O advento das novas tecnologias como fator fundamental para a difusão da informação

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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Unesp O advento das novas tecnologias como fator fundamental para a difusão da informação Mateus NASCIMENTO Resumo O avanço tecnológico foi fundamental para que o acesso à informação fosse difundido entre as nações. Possuir e incentivar a criação de áreas de inovação que visem o desenvolvimento de novas tecnologias é estrategicamente essencial para um país em franca expansão. Será compreendida a importância da tecnologia para o surgimento da sociedade da informação, além de como a restrição à informação pode ser decisória para a estagnação econômica de um país. Somando o advento das novas tecnologias e o acesso à informação novos negócios na área de inovação são criados, as chamadas: startups. Palavras-chave: informação, tecnologia, startups, centralidade da informação, Brasil. Introdução

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O avanço tecnológico foi fundamental para que o acesso à informação fosse difundido entre as nações. Possuir e incentivar a criação de áreas de inovação que visem o desenvolvimento de novas tecnologias é estrategicamente essencial para um país em franca expansão. Será compreendida a importância da tecnologia para o surgimento da sociedade da informação, além de como a restrição à informação pode ser decisória para a estagnação econômica de um país. Somando o advento das novas tecnologias e o acesso à informação novos negócios na área de inovação são criados, as chamadas: startups.

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Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho Unesp

O advento das novas tecnologias como fator fundamental para a difuso da informao

Mateus NASCIMENTO

Resumo

O avano tecnolgico foi fundamental para que o acesso informao fosse difundido entre as naes. Possuir e incentivar a criao de reas de inovao que visem o desenvolvimento de novas tecnologias estrategicamente essencial para um pas em franca expanso. Ser compreendida a importncia da tecnologia para o surgimento da sociedade da informao, alm de como a restrio informao pode ser decisria para a estagnao econmica de um pas. Somando o advento das novas tecnologias e o acesso informao novos negcios na rea de inovao so criados, as chamadas: startups.

Palavras-chave: informao, tecnologia, startups, centralidade da informao, Brasil.

Introduo

O avano tecnolgico observado no mundo desde o perodo da Revoluo Industrial assume cada vez mais rpido uma velocidade de renovao e de novas descobertas. Estas novas tecnologias descobertas e introduzidas na sociedade produziram algo mais do que apenas a facilitao de processos antes manuais: elas alteraram de modo profundo as relaes sociais. Para alm da introduo de novos mecanismos e tecnologias, o que observamos so os impactos sociais, econmicos, culturais, polticos e trabalhistas gerados como consequncias desses novos tempos.Essas transformaes produzidas pelo incremento tecnolgico so sentidas mais ainda hoje em dia, onde os avanos desta natureza nos introduziu na chamada sociedade da informao. Para Levy, [...] novas maneiras de pensar e conviver esto sendo elaboradas no mundo das telecomunicaes e da informtica [...], um campo de novas tecnologias intelectuais, aberto, conflituoso e parcialmente indeterminado. (1999, p. 7-9). Essa sociedade que se apresenta diantes de ns, com todas as suas configuraes tecnolgicas e socioeconmicas, colocou a informao como ponto central em suas dinmicas. Burke e Briggs (2004) mostram que a informao j era valorizada no sculo XVII, nos crculos polticos e cientficos, contudo ganhou ainda mais importncia a partir do sculo XIX devido alteraes em noes de velocidade e distncia em consequncia do perodo industrial e comercial. Assim, a informao adquiriu ainda mais importncia com o avano tecnolgico e miditico, tornando-se uma centralidade nestes tempos orientados pela sociedade em redes, internet, mdias digitais, entre outros. Isso ocorre pela associao da informao ao processo de compartilhamento e difuso dos mais diversos contedos atravs dos mecanismos miditicos e digitais, corroborando com o informacionalismo indicado por Castells (1999) em A Era da Informao e mostrando a correlao existente entre informao e tecnologia, onde a segunda torna-se suporte e instrumento para a primeira, facilitando sua circulao e criando uma dualidade constante no mundo atual.

A tecnologia e seu papel determinante na sociedade da informao

Como foi abordado at aqui, a informao e a tecnologia estabeleceram uma relao prxima ao longo da histria, onde a tecnologia propicia um cenrio cada vez mais adequado para a rpida difuso de informaes devido aos seus prprios avanos, o que acabou por colocar a informao em um papel central na sociedade.Porm, quando o oposto ocorre, ou seja, quando o avano tecnolgico fica travado em um determinado ponto, a sociedade sente esse atraso em suas dinmicas de troca de informaes. E isso pode ser extremamente prejudicial ao desenvolvimento de uma sociedade, como aponta Castells (1999) ao utilizar o exemplo da China. Durante muito tempo, os chineses estiveram na ponta em significantes avanos tecnolgicos, criando diversas inovaes de impacto conhecidas at hoje, como o caso do arado de ferro para as plantaes de arroz e dos alto-fornos para a fundio de ferro. Todo esse pioneirismo tecnolgico, contudo, ficou ameaado por causa da interveno do Estado chins.

Essa explicao pode ser proposta com base em trs fatores: a inovao tecnolgica ficou nas mos do Estado durante sculos; aps 1400, o Estado chins, sob as dinastias Ming e Qing, perdeu o interesse pela inovao tecnolgica; e, em parte, pelo fato de estarem empenhados em servir ao Estado, as elites culturais e sociais enfocavam as artes, as humanidades e a autopromoo perante a burocracia imperial. (CASTELLS, 1999, p. 28)

O resultado desse bloqueio das inovaes em tecnologia e, consequentemente, da maior precariedade informacional vivido pela China naquele momento resultou em um perodo amargo para o pas.

Quando, em 1842, as Guerras do pio motivaram as imposies coloniais da Gr-Bretanha, a China percebeu, tarde demais, que o isolamento no conseguia proteger o Imprio do Meio das consequncias malficas resultantes da inferioridade tecnolgica. Desde ento, a China levou mais de um sculo para comear a recuperar-se desse desvio catastrfico de sua trajetria histrica. (CASTELLS, 1999, p. 29)

O exemplo dado por Castells (1999) revela o poder determinante que a informao pode ter no curso da histria. Em um cenrio desprovido de qualidade e eficincia na troca de informaes, o Estado chins tornou-se vulnervel e teve seu desenvolvimento duramente comprometido como resultado disso. Mas a informao tambm pode ser deixada de lado com propsitos especficos, pelo prprio governo, gerando a consequncias terrveis para a populao. o caso de governos ditatoriais, por exemplo, onde a centralidade da informao vista como uma ameaa ao poder, sendo portanto restritamente controlada.No Brasil, isso ocorreu no perodo da ditatura militar (1964-1985), onde o governo aproveitou-se da incipincia tecnolgica em telecomunicaes no pas para implantar as modernizaes necessrias submetidas ao interesse estatal. Segundo Pieranti e Martins (2008), o governo militar tinha um pas com total falta de infraestrutura para a difuso de informaes quando assumiu o poder, em 1964. Como exemplo, citado que a telefonia era bastante atomizada naquele perodo, sendo oferecida por mais de 800 concessionrias e havia menos de dois telefones por cada 100 brasileiros, alm do servio de radiodifuso ser local ou regional e no dispor de registro das emissoras de rdio e TV. Uma vez que o ambiente das comunicaes no pas era um espao em construo e o Brasil no tinha ainda cultura democrtica no que se refere centralidade da informao, os militares no tiveram dificuldades para construir um ambiente de pouqussima democracia, o que pode ser observado no trecho abaixo:

Uma das primeiras incurses dos militares no campo da legislao brasileira referente s comunicaes foi o Decreto-Lei n 236 de 1967, cujo maior mrito foi o estabelecimento de limites para a posse de emissoras de radiodifuso. Alm disso, tratava-se de documento legal marcado j por um grau de autoritarismo que iria aumentar na legislao brasileira nos anos seguintes, como reflexo do endurecimento do regime militar nos mais diversos setores. Tornou-se passvel de punio, de acordo com esse decreto, o uso de emissoras de rdio e televiso para incitar a desobedincia s leis, ultrajar a honra nacional, fazer propaganda de guerra ou de processos de subverso, ofender a moral, insultar os poderes da Repblica e colaborar na prtica de rebeldia, entre outros. Note que esses so conceitos amplos, passveis de interpretao igualmente ampla e adaptveis a grande parte das notcias veiculadas pelos meios de comunicao (PIERANTI; MARTINS, 2008, p. 315).

Assim, podemos ver como a informao tem fundamental importncia na constituio de uma sociedade mais livre e justa, sem a qual os cidados ficam expostos jogos de poder e podem ter seus direitos civis e sociais violados. Para uma constituio social de tal maneira, a informao precisa vir acompanhada dos avanos tecnolgicos, facilitando sua disseminao e garantindo que ela no seja submetida interesses escusos de setores da sociedade, mas que seja de acesso comum para que todos possam usufruir de seu poder transformador.

Startups, inovao tecnolgica e os novos horizontes para a centralidade da informao

As tecnologias da informao tm passado por muitas transformaes ao longo dos ltimos tempos. A velocidade das inovaes para o setor tem sido assombrosa e novidades surgem a cada dia explorando reas que antes no eram sequer vislumbradas, novidades essas que se materializam na forma de produtos e servios de base tecnolgica que tem por base, muitas vezes, algo to comum como o telefone celular. E algumas das grandes responsveis por essas inovaes so as startups.Startups so empresas de baixo investimento, com grande risco envolvido, focadas em inovao e com um modelo de negcios altamente escalvel, isto , que podem multiplicar seu alcance e seus ganhos em um curto perodo de tempo se seu produto for validado (KIDDER, 2012). As startups, embora possam ser de qualquer segmento de mercado, tm grande conexo com o setor de tecnologia, haja visto que iniciar uma empresa de software, por exemplo, exige muito menos capital do que uma indstria.Devido esse foco tecnolgico, as startups tm inovado de maneira consistente ao introduzir no mercado novas opes para a comunicao e para a difuso de informaes. Muitas vezes, estes novos produtos e servios chegam at ns como simples aplicativos para os dispositivos mveis que possumos, mas por trs do banal ato de fazer o download de um aplicativo para o celular est a funo que aquele mesmo produto carrega, e esta funo tem um impacto muito grande em uma sociedade to conectada quanto a sociedade moderna. Redes de milhes de pessoas se conectam com facilidade e velocidade to grandes que tornam a disseminao de informaes algo constantemente presente em seus cotidianos, de forma j bastante naturalizada.Essa necessidade por informao e por tecnologia tem criado novas demandas de mercado, que se apresentam como oportunidades de negcios para as startups, aquecendo ainda mais o ritmo de inovao e criao de novos modelos de comunicao.

O avano tecnolgico tem sido de tal ordem, que requer um nmero muito maior de empreendedores. A economia e os meios de produo e servios tambm se sofisticaram, de forma que hoje existe a necessidade de se formalizar conhecimentos, que eram apenas obtidos empiricamente no passado. Portanto, a nfase em empreendedorismo surge muito mais como consequncia das mudanas tecnolgicas e sua rapidez, e no apenas um modismo. A competio na economia tambm fora novos empresrios a adotar paradigmas diferentes. (DORNELAS, 2001, p. 4)

Assim, o conceito startup tem se mostrado til ao ser inserido nesse novo cenrio econmico e tecnolgico, onde solues para a vida moderna tm sido desenvolvidas em formato de aplicativos disponveis nos 1,5 bilhes de smartphones em uso no mundo[footnoteRef:1], alm da forma como a tecnologia tem propiciado evolues em praticamente todos os segmentos de mercado, abrindo ainda mais espao para o surgimento de novos negcios baseados em inovao e contribuindo de forma decisiva para a informao ocupar seu papel central na sociedade. [1: Dado disponibilizado por ABI Research e divulgado por Heather Leonard, em Business Insider. Disponvel em: Acesso em 14 mai 2014.]

O ambiente tecnolgico brasileiro e sua perspectiva informacional

Historicamente, o Brasil sempre esteve atrasado no que diz respeito avanos tecnolgicos. Considerando o caso das startups, precisamos remontar tradio empreendedora do pas, que no muito forte.O empreendedorismo, no Brasil, algo relativamente recente. Os proprietrios de negcios, no comeo de nossa histria, eram os grandes latifundirios, donos de grandes plantaes e escravos. Isso no representava necessariamente o empreendedorismo, uma vez que esses proprietrios tinham laos com a coroa portuguesa, o que explicava sua posio na nova sociedade (FAORO, 2008). De fato, o cenrio era pouco oportuno para o empreendedorismo, pois o Brasil ainda no era uma sociedade livre, nem econmica nem socialmente; e Portugal detinha o monoplio sobre a economia no Brasil colnia. Somente com a introduo do trabalho assalariado, aps a abolio da escravatura, que o Brasil passou a oferecer um ambiente que propiciasse o nascimento de empreendimentos (FAUSTO, 2003). Mas, como veremos at mais tarde com o surgimento das grandes empresas estatais, o Estado sempre teve o papel de principal propulsor econmico por aqui.Apenas na dcada de 1930 o Brasil assumiu aspectos capitalistas, entretanto o pas manteve o cenrio econmico estagnado para o empreendedorismo. Fausto (2003) aponta que a economia sentia falta de agentes empreendedores individuais nesse perodo. E mesmo com o avano da indstria durante o perodo ditatorial, fase de maior crescimento econmico at ento, o cenrio permaneceu carente de fatores que condicionassem um ambiente prspero para o empreendedorismo no Brasil.Somente na dcada de 1990, com o surgimento de rgos como o Sebrae (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas) e Softex (Sociedade Brasileira para Exportao de Software), o empreendedorismo comeou a ser de fato difundido no Brasil e conceitos da rea comearam a ser melhor explorados, como o plano de negcios, antes ignorado pelos empresrios brasileiros. Foi tambm nesse perodo, em consonncia com o boom das empresas ponto com americanas, que o modelo startup comeou a surgir no pas com as empresas de tecnologia brasileiras, fomentadas pela Softex, e criando as origens do cenrio que se encontra hoje em dia para essas empresas escalveis (DORNELAS, 2001).Acerca do processo histrico do empreendedorismo no Brasil, Prando (2010, p. 100) faz uma interessante observao ao apontar que sempre houve grande dificuldade no desenvolvimento de novos negcios, criando um cenrio onde surge o [...] empreendedor por necessidade dadas as crises econmicas e m distribuio de renda e bem menos o empreendedor por oportunidade.. Entretanto, este cenrio tem se alterado e o surgimento de novos empreendimentos tem se intensificado, o modelo de negcio startup aparece como uma soluo para o empreendedorismo no emergente cenrio brasileiro, devido s suas caractersticas adaptadas a ambientes de incerteza e capacidade de gerao de novos mercados. A consequncia desse ambiente favorvel ao empreendedorismo em startups sugere que a capacidade de inovao deve aumentar por aqui, criando solues que contemplem a questo da centralidade da informao e sejam mais adaptadas s necessidades brasileiras.

Consideraes finais

Como possvel observar, a questo da centralidade da informao est intimamente atrelada tecnologia. Esta, por sua vez, dita os moldes em que a informao ser transmitida, regula a facilidade de acesso pelas pessoas e as conecta, gerando uma dinmica social de distribuio de informao capaz de gerar inmeros impactos. Estes impactos podem ter ressonncia na poltica, na economia, na vida social e civil, etc, pois, como a histria nos mostra, a informao tem um poder transformador que no pode, e no deve, ser menosprezado.Seja para conscientizar, seja para informar, seja para libertar, a informao capaz de gerar um capital social muito importante, constituindo um elemento que no pode ser depreciado. Ao contrrio, ela deve ser difundida e seu acesso deve ser facilitado o mximo possvel, o que alcanado de forma cada vez mais eficiente graas aos avanos tecnolgicos observados atualmente. Neste cenrio, surgem as empresas e empreendedores com esprito inovador, buscando novas solues e inserindo novos produtos no mercado que contribuem para que o acesso informao seja contnuo e democrtico.No basta, contudo, delegar esta tarefa iniciativa privada. Por mais que existam exemplos onde a atuao estatal prejudicou a centralidade da informao, o Estado ainda mantm a responsabilidade de verificar o modo como ela ocorre e atravs de quais meios. Seu papel fiscalizador se torna fundamental para, em conjunto com a capacidade de inovao da iniciativa privada, fazer com que a informao esteja disponvel a cada vez mais pessoas e que as ajude a utilizar seu poder para trazer benefcios concretos para a sociedade.

Referncias

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