Nutrição Clínica

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  • DOCNCIA EM

    SADE

    NUTRIO CLNICA

  • 1

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    P842n Nutrio clnica / Portal Educao. - Campo Grande: Portal Educao,

    2012.

    161p. : il.

    Inclui bibliografia

    ISBN 978-85-8241-588-7

    1. Nutrio clnica. I. Portal Educao. II. Ttulo.

    CDD 612.3

  • 2

    SUMRIO

    1 CONCEITOS E DEFINIES EM NUTRIO CLNICA .......................................................... 7

    1.1 ALIMENTAO .......................................................................................................................... 7

    1.2 ALIMENTOS ............................................................................................................................... 8

    1.3 NUTRIENTES ............................................................................................................................. 8

    1.4 NUTRIO ................................................................................................................................. 9

    1.5 DIETA ......................................................................................................................................... 9

    1.6 DIETA MODIFICADA ................................................................................................................. 10

    1.7 DIETOTERAPIA ........................................................................................................................ 10

    1.8 OBJETIVOS DA DIETOTERAPIA ............................................................................................. 12

    1.9 PRINCPIOS DA DIETOTERAPIA ............................................................................................. 13

    2 ASPECTOS LEGAIS DA NUTRIO CLNICA ....................................................................... 14

    3 NUTRIO HOSPITALAR ....................................................................................................... 17

    3.1 SERVIO DE NUTRIO E DIETTICA HOSPITALAR .......................................................... 17

    3.2 REA PARA MANIPULAO DE NUTRIO ENTERAL ........................................................ 18

    3.3 LACTRIO HOSPITALAR ......................................................................................................... 20

    3.4 BANCO DE LEITE HUMANO .................................................................................................... 21

    4 ASSISTNCIA NUTRICIONAL E ALIMENTAR EM NUTRIO CLNICA .............................. 23

    4.1 O NUTRICIONISTA CLNICO ................................................................................................... 23

    4.2 FASES DO CUIDADO NUTRICIONAL ...................................................................................... 25

    4.3 CLCULO DE DIETAS EM NUTRIO CLNICA ..................................................................... 26

    4.4 INFORMTICA EM NUTRIO CLNICA ................................................................................. 27

    4.5 ORGANIZAO DA ASSISTNCIA NUTRICIONAL HOSPITALAR ......................................... 28

  • 3

    4.5.1 Prescrio da Dieta x Prescrio Diettica ................................................................................ 28

    4.5.2 O Pronturio de Nutrio ........................................................................................................... 29

    4.5.3 Manual de Dietas ....................................................................................................................... 30

    5 INTRODUO .......................................................................................................................... 32

    6 ESTADO NUTRICIONAL X DIAGNSTICO NUTRICIONAL ................................................... 35

    7 TRIAGEM NUTRICIONAL, AVALIAO NUTRICIONAL COMPLETA E

    MONITORAMENTO NUTRICIONAL ................................................................................................... 36

    8 AVALIAO DO ESTADO NUTRICIONAL.............................................................................. 39

    9 HISTRIA CLNICA .................................................................................................................. 41

    10 AVALIAO DA CAPACIDADE FUNCIONAL ........................................................................ 43

    11 EXAME FSICO NUTRICIONAL ............................................................................................... 45

    12 AVALIAO SUBJETIVA GLOBAL ........................................................................................ 47

    13 ANTROPOMETRIA ................................................................................................................... 48

    14 COMPOSIO CORPORAL .................................................................................................... 57

    15 CONSUMO ALIMENTAR .......................................................................................................... 68

    16 EXAMES BIOQUMICOS .......................................................................................................... 71

    17 A DIETA HOSPITALAR: MODELOS ALIMENTARES DE ROTINA ........................................ 75

    17.1 ALIMENTAO NO HOSPITAL: PRINCIPAIS MODIFICAES DIETTICAS ....................... 78

    17.2 Quanto aos Horrios.................................................................................................................. 79

    17.3 Quanto ao Sabor ....................................................................................................................... 79

    17.4 Quanto Temperatura .............................................................................................................. 80

    17.5 Quanto ao Volume ..................................................................................................................... 80

    17.6 Quanto ao Contedo de Resduo .............................................................................................. 81

    17.7 Quanto Consistncia .............................................................................................................. 81

    18 GASTRONOMIA HOSPITALAR ............................................................................................... 83

  • 4

    19 TIPOS DE DIETAS HOSPITALARES ....................................................................................... 87

    20 CARACTERSTICAS GERAIS, INDICAES E COMPOSIO ALIMENTAR DAS

    PRINCIPAIS DIETAS DE ROTINA EM HOSPITAIS ........................................................................... 88

    20.1 DIETAS LQUIDAS .................................................................................................................... 88

    20.1.1 Lquida Restrita ou Dieta de Lquidos Claros ou Dieta Hdrica ou Dieta Lquida Cirrgica ........ 88

    20.1.2 Dieta Lquida Completa ou Lquida Geral .................................................................................. 91

    20.2 DIETA SEMILQUIDA ................................................................................................................ 94

    20.3 DIETA PASTOSA ...................................................................................................................... 97

    20.3.1 Dieta Branda ............................................................................................................................. 100

    20.3.2 Dieta Leve ................................................................................................................................ 102

    20.4 DIETA GERAL OU DIETA NORMAL OU DIETA LIVRE ........................................................... 102

    21 CARACTERSTICAS GERAIS, INDICAES E COMPOSIO ALIMENTAR DAS

    PRINCIPAIS DIETAS MODIFICADAS EM NUTRIENTES ................................................................. 104

    21.1 QUANTO S CALORIAS ......................................................................................................... 104

    21.2 QUANTO S PROTENAS ....................................................................................................... 104

    21.3 QUANTO AOS LIPDIOS .......................................................................................................... 105

    21.4 QUANTO AOS CARBOIDRATOS ............................................................................................ 105

    21.5 QUANTO AO SDIO ................................................................................................................ 106

    22 CARACTERSTICAS GERAIS, INDICAES E COMPOSIO ALIMENTAR DAS

    PRINCIPAIS DIETAS TERAPUTICAS............................................................................................. 108

    22.1 DIETAS NAS DOENAS DO TRATO GASTROINTESTINAL ................................................. 108

    22.2 DIETAS NAS DOENAS CARDIOVASCULARES ................................................................... 109

    22.3 DIETA NAS DOENAS PULMONARES .................................................................................. 110

    22.4 DIETAS NAS DOENAS RENAIS (INSUFICINCIAS RENAIS) ............................................. 110

    22.5 DIETA PARA DIABETES MELLITUS ...................................................................................... 111

    22.6 DIETAS PARA PREPARO DE EXAMES .................................................................................. 111

    23 INTRODUO ......................................................................................................................... 115

  • 5

    24 DEFINIES ............................................................................................................................ 116

    24.1 NUTRIO ENTERAL (NE) E TERAPIA DE NUTRIO ENTERAL (TNE) ............................ 116

    24.2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA NUTRICIONAL (EMTN) ..................................... 118

    24.3 ATRIBUIES DO NUTRICIONISTA NA EMTN ..................................................................... 119

    25 SUPLEMENTAO ALIMENTAR VIA ORAL ......................................................................... 122

    25.1 INDICAES DE USO ............................................................................................................. 123

    25.2 CLASSIFICAO DOS SUPLEMENTOS ORAIS .................................................................... 124

    26 NUTRIO ENTERAL ............................................................................................................. 125

    26.1 INDICAES E CONTRAINDICAES DA NUTRIO ENTERAL ....................................... 125

    26.2 VIAS DE ACESSO E LOCALIZAO DA SONDA ................................................................... 127

    26.2.1 As Sondas ................................................................................................................................ 129

    26.3 ADMINISTRAO DA NUTRIO ENTERAL ......................................................................... 131

    26.4 MONITORIZAO DA NUTRIO ENTERAL ........................................................................ 131

    26.5 FRMULAS PARA NUTRIO ENTERAL .............................................................................. 132

    26.5.1 Dietas ....................................................................................................................................... 133

    26.5.1.1Dietas Enterais Quanto Forma de Preparo ......................................................................... 134

    26.5.1.2Dietas Enterais Quanto aos Objetivos da Terapia Nutricional ............................................... 136

    26.5.1.3Dietas Enterais Quanto ao Suprimento de Calorias ............................................................... 136

    26.5.1.4Dietas Enterais Quanto Complexidade de Nutrientes ......................................................... 136

    26.5.1.5Dietas Enterais Quanto Presena ou Ausncia de um Nutriente Especfico ...................... 137

    26.6 COMPOSIO DAS FRMULAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS ...................................... 140

    26.6.1 Protena .................................................................................................................................... 140

    26.6.2 Carboidratos ............................................................................................................................. 140

    26.6.3 Fibras........................................................................................................................................ 141

    26.6.4 Lpides ...................................................................................................................................... 141

    26.6.5 Micronutrientes ......................................................................................................................... 142

  • 6

    26.6.6 gua ......................................................................................................................................... 142

    26.7 COMPLICAES EM NUTRIO ENTERAL ......................................................................... 143

    27 NUTRIO PARENTERAL ..................................................................................................... 146

    27.1 NUTRIO PARENTERAL PERIFRICA (NPP) ..................................................................... 148

    27.2 NUTRIO PARENTERAL TOTAL (NPT) .............................................................................. 149

    27.3 NUTRIO PARENTERAL VIA INTRADIALTICA ................................................................... 150

    REFERNCIAS .................................................................................................................................. 154

  • 7

    1 CONCEITOS E DEFINIES EM NUTRIO CLNICA

    1.1 NUTRIO

    As definies mais simples enfocam apenas o aspecto fisiolgico da nutrio e limitam

    o seu verdadeiro sentido. De acordo com Borsoi (2004): Nutrio o processo de retirar do

    meio ambiente os alimentos necessrios para sustentar o organismo, tanto pela assimilao das

    substncias essenciais quanto pela eliminao daquelas que no podem mais ser aproveitadas.

    Whitney e Rolfes (2008) definem nutrio como combinao de processos por meio dos quais o

    organismo recebe e utiliza o material necessrio para obteno de energia, para manuteno de

    suas funes e para a formao e regenerao dos tecidos corporais.

    Mas a nutrio bem mais ampla e complexa, envolvendo aspectos desde a seleo e

    escolha dos alimentos, passando pelo contexto de vida do indivduo at sua relao com a

    sade e doena, sem esquecer os aspectos fisiolgicos. Dessa forma inclui implicaes sociais,

    econmicas, culturais e psicolgicas relacionadas aos alimentos e alimentao. Portanto, uma

    definio mais completa aponta nutrio como:

    Cincia dos alimentos, dos nutrientes e outras substncias afins; sua

    atuao, interao e balano em relao sade e enfermidade, e o

    processo atravs do qual o organismo ingere, digere, absorve,

    transporta, utiliza e excreta as substncias alimentares; estando

    relacionada s implicaes sociais, econmicas, culturais e

    psicolgicas, entre o alimento e o indivduo (CARVALHO; RAMOS,

    2005.).

  • 8

    1.2 ALIMENTAO

    De acordo com Fisberg et al. (2002): Alimentao o processo pelo qual os seres

    vivos adquirem do mundo exterior os alimentos que compem a dieta. Santos (2004) amplia um

    pouco mais este conceito e diz: Alimentao o ato de selecionar, preparar e ingerir o alimento

    para satisfazer o nosso apetite, agradar ao paladar e suprir as necessidades nutritivas do

    organismo; o ato e o agente da nutrio, sendo que a alimentao voluntria e a nutrio,

    no!

    Nota-se que o conceito de alimentao est embutido no conceito de nutrio, tratando

    dos aspectos relacionados escolha e utilizao das substncias nutritivas. Para Fisberg et al.

    (2002), a seleo de alimentos bastante complexa e influenciada por vrios fatores, uma vez

    que na escassez de alimentos provvel que haja deficincias e na abundncia no h

    garantias de que a nutrio seja adequada. Aspectos como renda familiar, disponibilidade de

    alimentos e aspectos culturais influenciam diretamente a seleo dos alimentos.

    1.3 ALIMENTOS

    Alimento qualquer substncia slida ou lquida, de origem animal, vegetal ou

    sinttica que fornece aos indivduos a energia de que precisam para realizar suas funes

    metablicas. (TIRAPEGUI; MENDES, 2002). Outra definio de alimentos considera-os como

    substncias que uma vez deglutidas encerram em seu interior materiais a partir dos quais o

    organismo pode produzir movimento, calor ou qualquer outra forma de energia; materiais para o

    crescimento, reparao tecidual e reproduo; substncias necessrias para a regulao da

    produo de energia e dos processos de crescimento e reparao tecidual.

  • 9

    Os componentes alimentares que desempenham todas essas funes so os

    nutrientes. Os alimentos no so apenas o meio para adquirirmos os nutrientes, mas assumem

    um papel emocional importante, pois os alimentos ou substncias alimentares so produtos

    naturais dotados de certas qualidades sensoriais (consistncia, sabor e aroma), com certo apelo

    emocional, que excitam nosso apetite e encerra uma variedade de nutrientes, segundo sua

    composio qumica. Fisberg et al. (2002) dizem que nenhum alimento completo, com exceo

    do leite materno nos primeiros seis meses de vida; portanto, nenhum outro alimento possui todos

    os nutrientes em quantidade suficiente para suprir as necessidades do corpo. Dessa forma, a

    alimentao deve ser variada no fornecimento dos alimentos.

    1.4 NUTRIENTES

    Nutrientes so as substncias qumicas inseridas nos alimentos e que tem funes

    diversas no organismo. So eles: protenas, carboidratos, lipdios, vitaminas e minerais. Os

    nutrientes no agem isoladamente no organismo, pelo contrrio, sua ao interdependente. A

    gua o solvente universal e representa mais da metade do peso corporal dos seres humanos,

    portanto essencial para a vida e, assim como o oxignio, no considerado um nutriente.

    1.5 DIETA OU REGIME ALIMENTAR

    Dieta consiste na mistura de alimentos ingeridos diariamente. Carvalho e Ramos

    (2005) descrevem dieta como quantidade habitual de alimentos slidos ou lquidos que um

  • 10

    indivduo consome. Dieta tambm considerada como o conjunto sistematizado de normas de

    alimentao de um indivduo, seja ele saudvel ou enfermo, tendo uma finalidade preventiva

    e/ou teraputica destinada a indivduos ou grupos. Atualmente, o termo dieta tem sido usado de

    forma equivocada apenas referindo-se ao regime alimentar para emagrecimento. A Diettica a

    parte da Nutrio que se dedica ao estudo das dietas aplicadas aos indivduos e/ou coletividades

    sadias.

    1.6 DIETA MODIFICADA

    Dieta modificada aquela que em qualquer de suas caractersticas fsico-qumicas

    deve ser ajustada a uma alterao do processo digestivo e/ou funcionamento geral do

    organismo. quando h a necessidade de adaptaes do regime alimentar para preveno ou

    tratamento de enfermidades. Alteram-se as caractersticas da dieta, sejam elas fsicas

    (consistncia) ou qumicas (nutricionais), de acordo com as exigncias da proposta de mudana

    da dieta. Essas alteraes podem ser temporrias ou definitivas.

    1.7 DIETOTERAPIA

    Nominalmente significa o tratamento de patologias utilizando-se a dieta, tendo enfoque

    curativo e/ou preventivo. De uma forma mais ampla define-se como o tratamento dos indivduos

    portadores de determinada patologia por intermdio de uma alimentao adequada,

  • 11

    considerando-se no s a doena, mas tambm todas as outras condies, mantendo ou

    recuperando o estado nutricional.

    Para Longo e Navarro (2002), o conceito de dietoterapia pode ser representado por

    uma pirmide com quatro degraus, de acordo com as especificaes abaixo:

    a) Base da pirmide: encontra-se a qumica biolgica, bioqumica e composio

    dos alimentos, por intermdio do estudo dos nutrientes essenciais e suas reaes dinmicas

    independentes e codependentes.

    b) Primeiro degrau: esto os conhecimentos de nutrio normal e nutrio

    diettica, por meio dos estudos sobre os diferentes ciclos vitais (gestao, lactao, infncia,

    adolescncia, fase adulta e envelhecimento) e de outras condies da vida do ser humano

    (esportistas, nutrio do trabalhados, nutrio nas escolas, etc.) e suas relaes com as

    necessidades nutricionais de cada grupo para obter crescimento e desenvolvimento adequados,

    embasados pelos conhecimentos de anatomia e fisiologia.

    c) Segundo degrau: aqui esto os conhecimentos de tcnica diettica, pois se

    aplicam todas as sries de transformaes que se produzem nos alimentos para que sejam

    veculo adequado dos nutrientes at o organismo.

    d) Terceiro degrau: encontram-se os conhecimentos sobre a fisiopatologia dos

    processos de doena que acometem crianas, adolescentes, adultos e idosos, embasadas a

    partir do estudo de contedos sobre fisiologia e patologia.

    e) Topo da pirmide: sustentada pelas bases anteriores est nutrio teraputica

    ou dietoterapia, onde se aplicar uma alimentao adequada para manuteno da sade,

    preveno de doenas ou tratamento das mesmas.

    Convm destacar que o ser humano, objeto principal da dietoterapia, um ser

    indivisvel (biopsicossocial), pois as doenas no so unidades independentes e que no

    existem doenas, mas sim doentes. Dessa forma, todos os outros contedos dos cursos de

    Nutrio vm atender esta necessidade de tratamento nutricional completo do homem e no do

    tratamento da doena ou de suas partes.

    A dietoterapia , portanto:

  • 12

    O tratamento dos indivduos portadores de determinada patologia

    atravs da alimentao adequada, considerando-se no s a doena,

    mas tambm todas as outras condies em que se encontra o

    indivduo (viso holstica do atendimento); em que pacientes com a

    mesma patologia, conforme seu estado fsico, nutricional, psicolgico,

    alm de outras caractersticas, pode receber dietas diferentes, mesmo

    que alguns princpios sejam idnticos (AUGUSTO, 2002.).

    1.8 OBJETIVOS DA DIETOTERAPIA

    A finalidade bsica da dietoterapia oferecer ao organismo debilitado os nutrientes

    adequados da forma que melhor se adapte ao tipo de condio patolgica e caractersticas

    fsicas, nutricionais, psicolgicas e sociais do indivduo, recuperando-o. Para isso, necessrio

    que se estabelea se as necessidades do indivduo so de manuteno ou de recuperao. De

    uma forma mais didtica apresentaremos abaixo os objetivos da dietoterapia melhor

    visualizados:

    Objetivo Geral: Recuperar e/ou manter o estado de sade, levando o paciente s suas

    atividades normais.

    Objetivos Especficos:

    Ajustar a dieta capacidade do organismo em digerir, absorver e tolerar

    determinados alimentos, bem como capacidade em metabolizar os nutrientes.

    Contribuir para compensar estados especficos de deficincia nutricional.

    Estimular e/ou dar repouso a um determinado rgo.

    Educar pacientes e familiares para aquisio de hbitos alimentares compatveis

    com a sade e com seu estilo de vida.

  • 13

    1.9 PRINCPIOS DA DIETOTERAPIA

    Para uma correta aplicao dos objetivos da dietoterapia importante agregar os

    princpios da mesma, a fim de prescrevermos recomendaes dietoterpicas que possam ser

    prticas e viveis. Os princpios so:

    Utilizar, sempre que possvel, a dieta habitual como padro;

    Fundamentar a dieta ao estado nutricional e s condies do trato digestivo do

    indivduo;

    Utilizar, sempre que possvel, a via oral como preferencial;

    Conhecer o diagnstico das enfermidades e sua fisiopatologia;

    Considerar o perodo evolutivo da doena;

    Atender aos hbitos alimentares, de atividade fsica e de trabalho, padres

    culturais, condies socioeconmicas, bem como disponibilidade humana, material e financeira

    da instituio em que se trabalha;

    Instruir e orientar pacientes, acompanhantes e familiares quanto importncia

    da alimentao prescrita;

    A prescrio diettica deve ser clara, de fcil execuo e flexvel.

  • 14

    2 ASPECTOS LEGAIS DA NUTRIO CLNICA

    A regulamentao da profisso de nutricionista, no Brasil, ocorreu em 24 de abril de

    1967, pela Lei n 5.276, que dispe sobre a profisso de nutricionista e d outras providncias

    para o exerccio das atividades. Esta regulamentao foi revogada e atualizada em 17 de

    setembro de 1991 pela Lei n 8.234. A Resoluo do Conselho Federal de Nutrio (CFN) n

    380/2005 estabelece as atribuies especficas do nutricionista nas suas diversas reas de

    atuao. Em Nutrio Clnica as reas de atuao definidas pela resoluo acima esto

    apresentadas no quadro abaixo.

    QUADRO 1 - REAS DE ATUAO DO NUTRICIONISTA EM NUTRIO CLNICA

    REA ESPECIFICAES

    Nutrio Clnica

    Hospitais e Clnicas em geral

    Ambulatrios e Consultrios

    Instituies de longa permanncia para idosos

    Bancos de Leite Humano e Lactrios

    Centrais de Terapia Nutricional

    Spas

    Atendimento domiciliar

    FONTE: Conselho Federal de Nutricionistas, Resoluo n 380/2005.

  • 15

    Ainda de acordo com a Resoluo CFN n 380/2005, na rea de Nutrio Clnica:

    Compete ao nutricionista prestar assistncia diettica e promover

    educao nutricional a indivduos, sadios ou enfermos, em nvel

    ambulatorial, hospitalar, domiciliar e em consultrios de nutrio e

    diettica, visando promoo, manuteno e recuperao da sade.

    (RESOLUO CFN n 380, 2005)

    Para uma atuao profissional mais segura o nutricionista clnico deve se orientar,

    tambm, pelas seguintes resolues:

    a) Resoluo CFN n 222/1999: dispe sobre a participao do nutricionista em

    equipes multiprofissionais de terapias nutricionais (EMTN) para a prtica de terapias nutricionais

    enterais (TNE).

    b) Resoluo CFN n 223/1999: dispe sobre o exerccio profissional do nutricionista

    na rea de Nutrio Clnica.

    c) Resoluo CFN n 304/2003: dispe sobre critrios para prescrio diettica na rea

    de Nutrio Clnica.

    d) Resoluo CFN n 306/2003 (revoga a de n 236/2000): dispe sobre solicitao de

    exames laboratoriais na rea de Nutrio Clnica.

    e) Resoluo CFN n 390/2006: regulamenta a prescrio diettica de suplementos

    nutricionais pelo nutricionista.

    f) Resoluo CFN n 402/2007: regulamenta a prescrio fitoterpica pelo nutricionista

    de plantas in natura frescas, ou como droga vegetal nas suas diferentes formas farmacuticas.

    g) Resoluo CFN n 417/2008: dispe sobre procedimentos nutricionais para atuao

    dos nutricionistas.

  • 16

    Com base nessas resolues o nutricionista clnico pode atuar de forma mais segura e

    acertada, encontrando diretrizes para uma atuao profissional de qualidade e respaldada na

    legislao.

  • 17

    3 NUTRIO HOSPITALAR

    Os servios de nutrio e alimentao hospitalar so meios para proporcionar ateno

    nutricional adequada para usurios e trabalhadores de tais instituies. Administrativa e

    financeiramente este setor no apresenta lucratividade.

    3.1 SERVIO DE NUTRIO E DIETTICA HOSPITALAR

    O servio de nutrio e diettica hospitalar um subsistema do sistema hospitalar,

    devendo estar situado em rea tcnica, quanto subordinao junto organizao hospitalar,

    para que haja a possibilidade de um pleno desenvolvimento do processo de assistncia

    nutricional. (BALCHIUNAS, 2005).

    Para Garcia (2006), a dieta hospitalar importante para prover o aporte de nutrientes

    para o paciente internado e, assim, preservar seu estado nutricional pelo seu papel coteraputico

    em enfermidades agudas e crnicas. Agrega-se s suas atividades o desenvolvimento de ensino

    e pesquisa. O servio de nutrio e diettica hospitalar formado pelas seguintes reas:

    a) rea de administrao: com um nutricionista responsvel tcnico (RT) pelo setor,

    gerenciando e coordenando a unidade. Com relao a esta coordenao, pode haver um

    coordenador de nutrio clnica e outro coordenador da unidade de alimentao e nutrio,

    ambos, obrigatoriamente nutricionistas.

    b) rea de recebimento e estocagem de gneros perecveis e no perecveis.

    c) rea de pr-preparo e preparo das refeies normais (dietas gerais) e modificadas

    (dietas especiais).

  • 18

    d) reas de produo especializada: Lactrio, Bancos de Leite Humano, Sala de

    Manipulao de Dietas Enterais: podendo estar presentes, ou no, dependendo do porte do

    hospital.

    e) rea de distribuio das refeies (refeitrio) para funcionrios e acompanhantes

    autorizados. Alguns servios dispem de rea para distribuio de refeies e lanches para

    visitantes e acompanhantes (lanchonete, restaurante prprio), estando subordinada ao servio

    de nutrio do hospital.

    f) rea para a distribuio das refeies dos clientes internados nas vrias unidades de

    atendimento da instituio hospitalar. Dois tipos de fornecimento (entrega) de refeies so

    usados para entreg-las aos pacientes: centralizado e descentralizado. No servio centralizado a

    refeio confeccionada e porcionada completamente na rea de produo dos alimentos ou

    prximo a ela, sendo entregue pelos copeiros por um sistema de transporte adequado (carrinhos

    trmicos) com elevador de uso exclusivo para tal (quando for o caso). O servio descentralizado

    refere-se ao mtodo no qual o alimento ou refeio seja transportado para uma copa de servios

    localizada na ala de atendimento ao paciente e s ento confeccionada a refeio

    (normalmente pequenas refeies como lanches) e levada ao paciente pelo copeiro hospitalar.

    Neste contexto verifica-se que a populao atendida pelo servio de nutrio do

    hospital bastante diversificada, tanto com relao faixa etria, tipo(s) de patologia(s), hbitos

    alimentares e culturais, quanto com relao presena de indivduos sadios que prestam

    assistncia aos pacientes institucionalizados. Alm disso, verifica-se que a presena do

    profissional nutricionista envolve tanto o gerenciamento de unidades de alimentao e nutrio

    como a assistncia direta a indivduos enfermos, cabendo ao nutricionista clnico prestar o

    cuidado nutricional adequado a estes ltimos.

    3.2 REA PARA MANIPULAO DE NUTRIO ENTERAL

  • 19

    Nutrio enteral a administrao de nutrientes pelo trato gastrointestinal atravs do

    artifcio de sondas (BAXTER; WAITZBERG, 2007). O paciente em uso dessa forma de

    alimentao categorizado no esquema de terapia nutricional enteral e recebe dietas

    especficas para tal finalidade, que devem ser manipuladas em ambiente apropriado conforme a

    legislao vigente sobre o tema.

    As dietas enterais podem ser industrializadas ou artesanais e so ricas em macro e

    micronutrientes e, por isso, tornam-se excelentes meios de crescimento de micro-organismos,

    devendo ser manipuladas por pessoal tcnico devidamente capacitado e em local adequado

    para evitar os riscos de contaminao do produto final (MAURCIO; GENTA; MATIOLI, 2005). A

    contaminao dos componentes deste tipo de formulao pode prejudicar a recuperao e o

    restabelecimento do paciente a ela submetido, contribuindo para o aumento no risco de

    infeces e retardo da recuperao (MEDINA; NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2008). Todas as

    etapas de manipulao dessas dietas ficam sob a responsabilidade do profissional nutricionista.

    A Resoluo n 63, de 06 de junho de 2000, da Secretaria de Vigilncia Sanitria do

    Ministrio da Sade, que aprova o Regulamento Tcnico para fixar os requisitos mnimos

    exigidos para a Terapia de Nutrio Enteral, apresenta todas as orientaes acerca desta

    modalidade de alimentao, desde definies de termos usados na rea, passando pelas

    atribuies dos profissionais da equipe de terapia nutricional, inclusive nutricionista, at as

    recomendaes sobre a rea de manipulao de dietas enterais.

    No anexo II do referido documento esto as Boas Prticas de Preparao de Nutrio

    Enteral BBPNE, com a fixao dos procedimentos a serem adotados pela unidade hospitalar

    na manipulao de dietas enterais. Destaca-se, desse documento, que as dietas enterais podem

    ser manipuladas tanto em ambiente hospitalar (em rea exclusiva ou compartilhada com o

    lactrio do servio, desde que atenda s especificaes do regulamento tcnico) como em

    Empresas Prestadoras de Bens e Servios (EPBS) que se destinem manipulao destas

    formulaes.

    Assim, a Unidade de Alimentao e Nutrio Hospitalar pode ter em seu organograma

    uma rea destinada manipulao das dietas enterais ou pode terceirizar o servio, recebendo

    tais dietas de empresas especializadas que tambm possuem o profissional nutricionista como

  • 20

    responsvel tcnico das atividades. Tanto uma, como a outra forma, devem seguir as diretrizes

    do regulamento tcnico mencionado acima.

    3.3 LACTRIO HOSPITALAR

    Lactrio a unidade do Servio de Nutrio e Diettica Hospitalar destinada ao

    preparo, higienizao e distribuio de preparaes lcteas e frmulas infantis, seguindo

    rigorosas tcnicas de controle higinico-sanitrio e microbiolgico das formulaes preparadas

    em tal unidade. (ROCHA; NOGUEIRA, 1997). Deve existir em todas as Unidades Hospitalares

    que possuam atendimento peditrico e/ou obsttrico, obedecendo Resoluo da Diretoria

    Colegiada RDC n 307, de 14 de novembro de 2002.

    Nos hospitais que utilizam dietas enterais em sistema aberto a Resoluo n 307,

    citada acima, orienta que a rea de preparo e envase de frmulas lcteas e no lcteas pode ser

    compartilhada com a rea de preparo e envase de dietas enterais, desde que exista sala

    separada para fogo, geladeira, micro-ondas e freezer e constem, por escrito, nos

    procedimentos e rotinas do servio, horrios distintos para as duas manipulaes.

    No caso de manipulao exclusiva de nutrio enteral em sistema fechado, o hospital

    fica dispensado da rea de manipulao, quando em conjunto com o lactrio, obedecendo-se

    rigorosamente as orientaes de uso do fabricante e respeitando-se horrios diferenciados para

    envase das dietas. Segundo Tanaka, Reis e Ambrsio (2007), o lactrio responsvel pelo

    desenvolvimento das seguintes atividades, sempre com a responsabilidade tcnica do

    nutricionista:

    a) Higienizao de mamadeiras, copos e outros utenslios utilizados para oferta das

    frmulas lcteas em reas destinadas recepo e lavagem desses materiais.

    b) Desinfeco das mamadeiras, copos e outros acessrios usados.

  • 21

    c) Preparo e envase de frmulas lcteas e no lcteas (ex: base de soja).

    d) Esterilizao terminal que consiste na autoclavagem das mamadeiras j

    porcionadas e prontas para serem encaminhadas s unidades de internao hospitalar.

    e) Estocagem e distribuio das formulaes preparadas.

    f) Recebimento das prescries das frmulas peditricas e das dietas enterais, seja de

    forma manual ou informatizada.

    g) Limpeza e sanitizao dos insumos usados no setor.

    h) Alm das reas especficas para cada atividade acima mencionada, o lactrio

    hospitalar tambm deve dispor de vestirio para paramentao adequada dos funcionrios e

    depsito para material de limpeza.

    Conforme observado, as especificaes para funcionamento do lactrio hospitalar

    necessitam do profissional nutricionista gerenciando e coordenando todas as etapas das

    atividades do setor.

    3.4 BANCO DE LEITE HUMANO (BLH)

    um centro especializado e obrigatoriamente ligado a um hospital materno e/ou

    infantil, responsvel pela promoo, proteo e apoio ao aleitamento materno (aproximadamente

    75% das suas atividades) e execuo das atividades de coleta do leite excedente, do

    processamento, controle de qualidade e distribuio do leite humano, conforme prescrio do

    mdico ou nutricionista (BANCO DE LEITE HUMANO, 2008).

    Ressalta-se que uma instituio sem fins lucrativos, sendo vedada a comercializao

    dos produtos de sua responsabilidade. Segundo Heck (2007), a responsabilidade tcnica do BLH

    somente deve ser atribuda ao profissional nutricionista, enfermeiro, mdico, bioqumico ou

  • 22

    engenheiro de alimentos, sendo que, normalmente, na prtica clnica, fica sob a

    responsabilidade de enfermeiro ou nutricionista.

    A Resoluo RDC n 171, de 04 de setembro de 2006, dispe sobre o Regulamento

    Tcnico para o Funcionamento de Bancos de Leite Humano com o objetivo de garantir a

    segurana sanitria do leite humano ordenhado. Mais recentemente, em 2008, a ANVISA

    publicou um manual de orientaes sobre atividades do processamento do leite humano, tendo

    como base a resoluo citada acima e intitulado Banco de Leite Humano: funcionamento,

    preveno e controle de riscos. Este documento est disponvel para download no endereo

    eletrnico .

    Os principais objetivos do BLH so:

    Fornecer leite humano ordenhado pasteurizado aos prematuros e recm-

    nascidos de baixo peso e doentes internados em unidades hospitalares.

    Prestar assistncia s mes doadoras e s mes com dificuldades na

    amamentao.

    Atualmente o Brasil conta com uma Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, com

    mais de 186 unidades instaladas, sendo considerada a maior e melhor Rede Nacional de Bancos

    de Leite Humano do mundo.

  • 23

    4 ASSISTNCIA NUTRICIONAL E ALIMENTAR EM NUTRIO CLNICA

    4.1 O NUTRICIONISTA CLNICO

    O nutricionista foi educado na cincia da nutrio humana com a finalidade de assumir

    a responsabilidade pelo acompanhamento nutricional de indivduos e grupos, portanto, o

    nutricionista clnico um membro das equipes de atendimento sade que atua na assistncia

    nutricional de indivduos e grupos para a manuteno das condies de sade.

    Ao atuar em uma instituio que fornece servios alimentares (ex: hospitais), o

    nutricionista clnico colabora com os outros membros da equipe administrativa do setor de

    nutrio e pode coordenar atividades no setor. Para Frangella, Tchakmakian e Pereira (2007),

    cabe ao nutricionista clnico as seguintes atividades:

    a) Adequar e atualizar seus conhecimentos nutricionais e fisiopatolgicos.

    b) Realizar inqurito alimentar para conhecer os hbitos alimentares e culturais do

    paciente e sua famlia.

    c) Avaliar o estado nutricional dos pacientes, utilizando-se de mtodos subjetivos e

    objetivos.

    d) Planejar e implementar a dieta mais adequada para a situao nutricional e de

    doena do paciente, determinando as necessidades calricas e nutricionais pertinentes ao caso.

    e) Viabilizar a elaborao e distribuio adequada da dieta planejada.

    f) Acompanhar a distribuio das refeies aos pacientes para avaliar a aceitao

    alimentar.

    g) Rever e replanejar a conduta diettica, sempre que necessrio.

  • 24

    h) Participar efetivamente da equipe multidisciplinar de terapia nutricional, quando

    existir na unidade hospitalar.

    i) Trabalhar a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade com os diferentes membros

    da equipe de sade.

    j) Fomentar a pesquisa para contribuir com o avano da cincia da nutrio.

    importante destacar que, j na dcada de 80, Anderson et al. (1988), alertava que o

    nutricionista clnico nunca poder delegar sua responsabilidade pela qualidade da assistncia

    nutricional de qualquer paciente a outro membro da equipe de sade que no seja outro

    nutricionista.

    Os setores de atuao do nutricionista clnico em unidade hospitalar so: chefia e

    coordenao do servio de nutrio clnica da instituio, membro do corpo clnico diretor do

    hospital, atendimento dos pacientes nas unidades de internao (enfermarias), atendimento

    nutricional em ambulatrio hospitalar, responsvel tcnico pelo lactrio, banco de leite humano e

    equipe multidisciplinar de terapia nutricional EMTN (preferencialmente, conforme a legislao

    vigente, um responsvel tcnico para cada setor citado anteriormente), bem como em qualquer

    atividade que esteja exercendo pode desenvolver e coordenar estudos e pesquisas na rea de

    nutrio clnica.

    Para poder desempenhar adequadamente suas funes assistenciais, o nutricionista

    clnico deve desenvolver uma srie de qualidades e condies tais como: sagacidade para

    interpretar todos os componentes pessoais de seus pacientes; flexibilidade mental para adequar-

    se e adaptar-se s diferentes circunstncias da atuao profissional; poder de deciso para

    assumir a responsabilidade em determinar a conduta diettica; capacidade de trabalhar em

    equipe para compreender as diferentes nuances do trabalho em equipe e, principalmente,

    conviver com outras categorias profissionais, respeitando seus limites de atuao e sentido

    existencial e humano, no rgido, nem estrito e, tampouco esquemtico, sendo sensvel diante

    dos problemas humanos. Mas, antes de tudo, o nutricionista deve assumir sua tarefa com atitude

    positiva, manter-se permanentemente atualizado e amar sua profisso, respeitando-a com uma

    excelente atuao e valorizando-a com tica e profissionalismo.

  • 25

    4.2 FASES DO CUIDADO NUTRICIONAL

    O atendimento nutricional pode ser definido como:

    A prtica de prestar assistncia nutricional a um indivduo ou grupo,

    sendo uma das principais reas de atuao do nutricionista, pois tem

    como meta orientar condutas dietticas para garantir hbitos

    alimentares saudveis e promoo de melhorias na qualidade de vida

    dos indivduos, saudveis ou enfermos (AQUINO; PHILIPPI, 2009.).

    Para Cintra (2003), as fases do cuidado nutricional compreendem:

    a) Avaliao do estado nutricional: so informaes obtidas a partir do prprio

    paciente, familiares ou acompanhantes, relativas ao estado nutricional do mesmo, hbitos

    alimentares e estilo de vida; para compor uma avaliao inicial. Estas informaes esto

    contidas na ficha de anamnese nutricional.

    b) Anlise: estudo cuidadoso de todos os dados coletados para interpretaes

    acertadas.

    c) Planejamento: estabelecimento das metas de tratamento dietoterpico a partir dos

    problemas nutricionais detectados na anlise das informaes.

    d) Implementao: viabilizao prtica do planejamento diettico. Requer superviso e

    acompanhamento dos outros profissionais envolvidos nesta etapa (tcnicos de nutrio, copeiros

    e at enfermeiros, pois administram a dieta) para a certificao do cumprimento adequado da

    dieta planejada.

    e) Evoluo e acompanhamento: verificao constante e reviso, se necessrio, de

    todo o cuidado nutricional.

  • 26

    f) Preparao para alta: realizar orientaes nutricionais de alta de acordo com as

    necessidades clnicas e nutricionais do paciente, sem esquecer os aspectos econmicos, sociais

    e culturais que envolvem este processo.

    4.3 CLCULO DE DIETAS EM NUTRIO CLNICA

    Para realizao da dietoterapia h a necessidade de um amplo conhecimento sobre os

    nutrientes, sua proporo nos diferentes alimentos e produtos alimentcios, as alteraes

    sofridas durante preparo e elaborao das tcnicas culinrias sobre a composio desses, para

    assim valorizar as mudanas dietticas pertinentes a cada paciente. As tabelas de composio

    dos alimentos assumem um papel importantssimo na teraputica diettica, pois apresentam

    informaes sobre a composio nutricional dos alimentos.

    Apesar de instrumentos essenciais, sabe-se que no so totalmente precisas, pois o

    valor nutritivo exato de um alimento influenciado pelo solo onde foi plantado, variedade,

    origem, poca do ano, colheita, armazenamento, transporte e manipulao do mesmo; sofrendo

    tambm modificaes dependendo do tipo de preparo. Alm disso, importante optar pelo uso

    de tabelas adequadas nossa realidade que apresentem anlise de alimentos comuns em

    nosso meio e aceitos na nossa cultura e de fcil acesso na regio onde nos encontramos.

    Apesar dessas limitaes as tabelas de composio qumica dos alimentos so

    instrumentos teis para o clculo das dietas e o xito teraputico obtido at hoje. Na prtica

    clnica demonstra que as tabelas possuem exatido suficiente para atingir tais objetivos, uma vez

    que so resultados de numerosas pesquisas, bastando para tal escolher a (as) tabela (as) que

    melhor se adapte (m) s necessidades de trabalho do nutricionista clnico.

    Longo e Navarro (2002) afirmam que o nutricionista no precisa ser uma tabela de

    composio qumica dos alimentos ambulante, mas que deve ter um conhecimento geral que

  • 27

    lhe permita responder, sem dificuldades, s consultas que lhe sejam feitas acerca dos aspectos

    qualitativos dos alimentos.

    4.4 INFORMATIZAO DA NUTRIO CLNICA

    Para Frangella, Tchakmakian e Pereira (2007), o uso da informtica em nutrio clnica

    auxilia na elaborao e aplicao de impressos, bem como na operacionalizao e

    desenvolvimento de vrias atividades. Tais programas de informtica, atualmente, utilizam

    tabelas, realizam clculos, armazenam dados e formam verdadeiros bancos de dados do

    pacientes e, tambm, da rea de produo das refeies, conforme o interesse e a necessidade

    do Servio de Nutrio e Diettica Hospitalar.

    Os autores acima citados comentam uma srie de vantagens na informatizao dos

    servios como: maior velocidade e confiabilidade dos clculos, armazenamento de dados que

    podem ser resgatados e aperfeioados, facilidade no registro, tabulao e organizao das

    informaes, maior organizao na rotina diria e menor acmulo de papis, fichas e anotaes

    que podem ser extraviadas e comprometer o andamento das atividades do setor.

    Os sistemas de prescrio diettica automatizados exigem a instalao de terminais de

    computador em cada unidade de internao hospitalar, os quais podem aceitar dados oriundos

    da central do servio de nutrio e diettica da instituio, de modo que possam receber,

    processar, armazenar e imprimir as informaes nutricionais (LONGO; NAVARRO, 2002). Vale

    ressaltar que a tecnologia facilita as atividades, mas o nutricionista que precisa alimentar

    essas informaes e, principalmente, refletir e analisar sobre o volume de resultados

    encontrados para bem usar no seu servio.

  • 28

    4.5 ORGANIZAO DA ASSISTNCIA NUTRICIONAL HOSPITALAR

    4.5.1 Prescrio Da Dieta X Prescrio Diettica

    Ainda existem interpretaes equivocadas sobre qual profissional deve realizar a

    prescrio da dieta do paciente. Primeiramente necessrio entender estes termos: prescrio

    da dieta a definio da dieta a ser oferecida ao paciente com base no seu diagnstico clnico e

    prescrio diettica o detalhamento da prescrio da dieta, levando em considerao outros

    fatores, principalmente, o resultado da avaliao nutricional do enfermo.

    O mdico legalmente responsvel pelo plano de assistncia mdica do paciente,

    incluindo a prescrio da dieta, que pode ser encontrada nos pronturios escritos por ele j a

    partir da admisso hospitalar, sendo o primeiro item da prescrio mdica no pronturio do

    paciente. Essa responsabilidade recai sobre o profissional mdico, pois ele tem os

    conhecimentos necessrios para definir o estado clnico do paciente, dando o diagnstico de

    doena(s). A partir deste diagnstico, a dieta solicitada (prescrio mdica da dieta no

    pronturio), sendo modificada sempre que a condio do paciente sofra alteraes importantes,

    a ponto de haver a necessidade de mudanas da dieta prescrita.

    Assim, a prescrio diettica de competncia do nutricionista, conforme orienta a

    Resoluo n 304, de 28 de fevereiro de 2003, do Conselho Federal de Nutricionistas. A

    prescrio diettica apresenta um detalhamento de outros aspectos da dieta prescrita

    (necessidades calricas e nutricionais, consistncia e fracionamento da refeio, alimentos

    proibidos, etc.), associada s condies nutricionais do paciente; por isso uma atribuio

    especfica do nutricionista, uma vez que somente este profissional detm os conhecimentos

    necessrios para realizar uma avaliao completa do estado nutricional, estando inclusive

    respaldado legalmente para tal.

  • 29

    Na resoluo do CFN n 304 de 2003 constam todas as orientaes sobre as etapas

    da prescrio diettica, inclusive com recomendaes sobre quais itens devem ser registrados

    em pronturio. Por vezes, a prescrio diettica envolve restries drsticas e modificaes

    importantes dos hbitos alimentares do paciente, resultando em rejeio da dieta. Nesses casos,

    a abordagem de uma equipe multiprofissional e a ateno nutricional individualizada dispensada

    ao paciente torna-se imprescindvel para que haja esclarecimentos necessrios sobre seu

    estado patolgico e nutricional e a importncia da dieta no seu tratamento (AUGUSTO, 2002).

    O mdico pode delegar a formulao do pedido da dieta ao nutricionista clnico ou

    pode formular a prescrio da dieta em conjunto com o nutricionista. Entretanto, ele no pode

    delegar sua responsabilidade final pelo pedido ao nutricionista nem a qualquer outro membro da

    equipe, assim como o nutricionista no pode faz-lo com relao prescrio diettica.

    Se o nutricionista clnico vai participar na formulao do pedido da dieta ele

    responsvel por se familiarizar com o problema clnico do paciente antes de tomar quaisquer

    decises ou emitir recomendaes acerca da prescrio da dieta (ANDERSON, et al., 1988).

    Para tal ele precisa estar atualizado sobre a teoria e a prtica da dietoterapia e aspectos

    fisiopatolgicos das doenas.

    4.5.2 O Pronturio de Nutrio

    O pronturio um documento jurdico e formal que deve armazenar todos os

    documentos coletados (resultados de exames, relatrios de profissionais, descrio de

    procedimento cirrgico, etc.), teraputica utilizada e orientaes fornecidas ao paciente, inclusive

    a anamnese alimentar deve ser arquivada no pronturio. Em realidade, o pronturio um

    documento do paciente, pois contm informaes pessoais e sigilosas daquele indivduo; o

    hospital arquiva tal documento e os profissionais anotam e inserem as informaes referentes

  • 30

    quele atendimento. Portanto, o paciente e seus familiares podem ter acesso s informaes

    nele contidas sempre que solicitarem (AQUINO; PHILIPPI, 2009).

    Recomenda-se guardar o pronturio por um perodo mnimo de cinco anos, preservar a

    integridade dos documentos e manter as informaes resguardadas do conhecimento pblico,

    disponibilizando-as a outro profissional que atenda o paciente, sempre que necessrio. Todo o

    pessoal envolvido com a assistncia a este paciente igualmente responsvel por compartilhar

    as informaes do pronturio. Ressalta-se a importncia do profissional nutricionista em escrever

    suas condutas no pronturio do paciente, assinando e datando tais anotaes, pois s assim

    mantm-se visvel a outros profissionais da rea de sade e refora a importncia da sua

    participao nas equipes multiprofissionais e interdisciplinares.

    Destaca-se que as anotaes devem ser legveis, em terceira pessoa, concisas e

    concretas, sem nenhuma expresso de opinio ou julgamento acerca do comportamento do

    paciente. Nele, o nutricionista deve registrar os dados referentes avaliao e diagnstico

    nutricional, o planejamento dietoterpico adotado, a aceitao ou rejeio dos alimentos

    oferecidos e a evoluo do tratamento diettico e nutricional.

    4.5.3 Manual de Dietas

    uma compilao dos planos dietticos e teraputicos da rotina do servio de nutrio

    e diettica hospitalar e inclui uma explicao da base lgica, com fundamentao terico-

    cientfica de cada plano. Para Cintra (2003), o manual de dietas funciona como um guia quanto

    aos tipos e s quantidades de alimentos e bebidas que a unidade de alimentao e nutrio

    hospitalar fornece para atender requisio da dieta prescrita para o paciente. Assim, cada

    servio de alimentao hospitalar deve ter seu manual de dietas, sendo este especfico de tal

    unidade, pois reflete as caractersticas da assistncia nutricional prestada.

  • 31

    Serve tambm para facilitar a comunicao entre os membros da equipe de sade,

    principalmente entre nutricionistas, mdicos e enfermeiros, pois estes esto envolvidos em

    algumas etapas da assistncia nutricional; seja na prescrio da dieta (mdico), prescrio

    diettica (nutricionista) ou na administrao das refeies (enfermeiro), todos devem conhecer

    os tipos de dietas oferecidas por aquele servio de nutrio, facilitando o uso das diferentes

    nomenclaturas das dietas de rotina em um hospital. Recomenda-se que uma cpia do manual

    esteja disponvel em cada unidade clnica da instituio hospitalar para maior convenincia dos

    profissionais envolvidos com a alimentao do paciente.

    De acordo com Anderson (1988), como regra geral, a primeira parte do manual de

    dietas descreve os planos dietticos de rotina das dietas padres (geral, branda, pastosa e

    lquida) com exemplos de cardpios e anlise qumica da composio dos alimentos. Nas partes

    seguintes apresentam-se as inmeras dietas teraputicas oferecidas naquela instituio (dieta

    para diabetes mellitus, dieta hipossdica, dieta para insuficincia renal crnica, etc.) com seus

    respectivos cardpios e clculos qumicos.

    Podem constar, tambm, as dietas usadas para preparo de determinados exames

    (dietas de prova), bem como normas e rotinas do servio, inclusive com a descrio das

    atribuies dos profissionais envolvidos com o servio de nutrio e diettica. O manual de

    dietas precisa ser flexvel e periodicamente revisto e atualizado para se adequar s mudanas

    dentro do setor de nutrio. Todos os nutricionistas da unidade hospitalar devem estar

    envolvidos na elaborao e atualizao do mesmo.

  • 32

    5 INTRODUO

    Avaliao nutricional um procedimento tcnico-cientfico que busca interpretar o

    estado nutricional de indivduos ou grupos populacionais, a partir da anlise de informaes

    acerca da condio diettica, clnica, bioqumica, antropomtrica e funcional (SOARES, 2007). O

    objetivo da avaliao nutricional em indivduos hospitalizados o de determinar a condio de

    nutrio no momento da admisso e, com isso, impedir ou retardar a evoluo de uma condio

    de malnutrio para auxiliar na resposta teraputica.

    Como malnutrio entende-se qualquer situao em que o equilbrio orgnico-

    nutricional est afetado (oferta inadequada de calorias e nutrientes, absoro ou utilizao

    incorreta e eliminao de resduos insuficientes ou ineficientes), sendo desnutrio e obesidade

    os extremos dessa condio, mas no podemos esquecer as inmeras variaes de uma

    situao de malnutrio, em indivduos distintos e impostas por diferentes situaes. Assim, a

    avaliao do estado nutricional deve ser feita utilizando-se critrios, mtodos e equipamentos

    adequados e ser adaptada s diferentes condies individuais e clnicas.

    Segundo a Associao Americana de Sade Pblica apud (ROSA, 2008), estado

    nutricional a condio de sade de um indivduo influenciada pelo consumo e utilizao de

    nutrientes e identificada pelo somatrio de informaes obtidas de estudos fsicos, bioqumicos,

    clnicos e dietticos. O interesse em se conhecer o estado nutricional da populao hospitalar

    reside no fato de que, principalmente, a desnutrio agrega complicaes situao clnica

    desses indivduos, retardando a melhora ou at contribuindo para um mau prognstico e at

    bito, sendo as principais: maior nmero de episdios infecciosos, tempo de internao

    prolongado (aumentando gastos hospitalares e diminuindo a oferta de leitos), pior resposta aos

    tratamentos e aumento na morbimortalidade.

    Indivduos desnutridos ou em risco de desnutrio apresentam 3,8 vezes maior

    probabilidade de morte que aqueles sem risco nutricional (MEDEIROS; MARQUES, 2007). Ainda

    segundo esses autores a desnutrio proteico-calrica pode ocorrer em 19% a 80% dos

    pacientes hospitalizados, em diversas condies de doena. Para Carvalho e Sales (1992), a

    desnutrio um estado dinmico que inclui desde simples desequilbrios da ingesto em

  • 33

    relao s necessidades at profundas alteraes funcionais e estruturais de rgos, tecidos e

    sistemas.

    Esses autores mencionam que a definio de desnutrio gera conflitos, pois pacientes

    com exames normais podem estar em plena evoluo para a desnutrio grave e, por outro lado,

    indivduos com exames alterados, mas com o fator desencadeante da malnutrio, controlado e

    tratado e, em realimentao, esto em plena evoluo para a recuperao nutricional. Em geral,

    um processo de desnutrio comea quando ocorrem uma ou mais dessas condies: ingesto

    de calorias e nutrientes insuficientes para atender as necessidades orgnicas dirias, aumento

    das necessidades dirias e utilizao incorreta.

    No incio do processo no existem modificaes na composio corporal, apenas

    alteraes funcionais, nem sempre detectveis pelos exames convencionais. Se a situao

    persiste por tempo prolongado ou h estresse associado, ocorre uma debilitao orgnica, em

    que os indicadores bioqumicos e, eventualmente, os antropomtricos tornam-se anormais. As

    alteraes metablicas impostas pela desnutrio comprometem as reservas corporais de

    energia e afetam significativamente a massa magra e reserva muscular. Mais tardiamente, se o

    processo no for interrompido e corrigido, o organismo torna-se incapaz de manter sua

    homeostase, resultando, definitivamente, na elevao dos ndices de morbimortalidade.

    No Brasil, os dados do Inqurito Brasileiro de Avaliao Nutricional Hospitalar

    (Ibranutri), estudo multicntrico, realizado em 1996, com 4.000 pacientes internados na rede

    pblica hospitalar de 12 estados brasileiros e do Distrito Federal, mostraram que 48,1% dos

    pacientes hospitalizados estavam desnutridos, sendo 12,6% com desnutrio grave e 35,5%

    com desnutrio moderada (CORREIA; CAIAFFA; WAITZBERG, 1998). Alm disso, o estudo

    constatou que a desnutrio piora significativamente com a progresso do tempo de internao e

    se d por vrios motivos, tais como: dor, ansiedade, ambiente e rotina diferente, mudanas

    alimentares, uso e interao de tratamentos agressivos/invasivos e medicamentos, alm da

    desateno da equipe de sade com o estado nutricional dos pacientes (MEDEIROS;

    MARQUES, 2007; ROSA, 2008).

    Por todo o exposto anteriormente, a avaliao do estado nutricional em indivduos

    hospitalizados torna-se fundamental para identificar distrbios nutricionais a fim de possibilitar

    uma interveno nutricional adequada de forma a auxiliar na recuperao e/ou manuteno do

  • 34

    estado de sade do indivduo.

  • 35

    6 ESTADO NUTRICIONAL X DIAGNSTICO NUTRICIONAL

    O estado nutricional um dos componentes da condio de sade do indivduo e

    influenciado pelo consumo e utilizao de nutrientes e pelas necessidades individuais, sendo

    identificado pela correlao de informaes obtidas a partir dos exames clnicos, dietticos,

    fsicos, bioqumicos e antropomtricos (BORGES, et al., 2007). Um adequado estado nutricional

    permite manter a composio corporal e as funes celulares do organismo. Dessa forma,

    alteraes no estado nutricional, por carncia ou excesso, correlacionam-se intimamente com o

    surgimento de diversas doenas, como tambm, com a piora de patologias j existentes.

    As mudanas no estado nutricional de um indivduo precisam ser muito bem

    identificadas para que sejam adotadas medidas corretas de interveno nutricional. Para tal,

    utilizam-se diferentes mtodos de avaliao do estado nutricional, objetivos e subjetivos,

    recomendando-se uma combinao entre os dois tipos, para uma avaliao mais completa e,

    consequentemente, maiores chances de realizar uma interveno alimentar satisfatria.

    O diagnstico nutricional resulta da anlise final de todos os mtodos adotados de

    avaliao do estado nutricional e requer do avaliador conhecimento das vantagens e

    desvantagens de todos os procedimentos empregados, bem como adequao dos mesmos ao

    indivduo ou grupo avaliado (gestante, criana, idoso, etc.). O diagnstico nutricional de

    competncia e responsabilidade do nutricionista, devendo ser constantemente revisto durante o

    perodo de internao, principalmente em indivduos crticos e/ou com muitas patologias

    associadas e os pertencentes aos grupos mais vulnerveis, como crianas e idosos.

  • 36

    7 TRIAGEM NUTRICIONAL, AVALIAO NUTRICIONAL COMPLETA E

    MONITORAMENTO NUTRICIONAL

    Existem diferentes modalidades de operacionalizao da avaliao nutricional,

    podendo ser realizada por inquritos, vigilncia, rastreamento, avaliao completa e

    monitoramento (SOARES, 2007). A escolha da forma de avaliao depende dos recursos

    humanos e materiais disponveis e tambm dos objetivos pretendidos pela instituio. Em

    ambiente hospitalar recomenda-se a realizao da triagem nutricional para identificao dos

    pacientes de risco nutricional, avaliao nutricional completa dos pacientes diagnosticados como

    desnutridos e monitoramento nutricional das intervenes dietticas adotadas.

    Por definio, triagem ou rastreamento nutricional, o processo de identificao das

    caractersticas que se sabe estarem associadas a problemas dietticos ou nutricionais e consiste

    na realizao de inqurito simples, direcionado ao paciente ou aos seus familiares, com o intuito

    de identificar o risco nutricional (DIAS; ALVES, 2009). Risco nutricional diz respeito

    probabilidade de deteriorao do estado nutricional em decorrncia dos requerimentos

    nutricionais aumentados pelo estresse metablico da doena em curso (BARENDREGT et al.,

    2008).

    Para Longo e Navarro (2002), os pacientes que apresentam dois ou mais fatores de

    risco nutricional so candidatos avaliao nutricional completa. Como fatores de risco

    nutricional essas autoras citam:

    a) Peso

    - Insuficiente: < 80% do peso habitual.

    - Perda involuntria de peso: 10% do peso habitual nos ltimos seis meses.

    b) Valores laboratoriais alterados:

    - Albumina srica: < 3,5g/dL.

    - Contagem total de linfcitos:

  • 37

    c) Mudanas dietticas: reduo significativa de a ingesto alimentar ( 3 semanas.

    - Outras alteraes clnicas: desnutrio preexistente, neoplasia e tratamento antineoplsico,

    doenas gastrointestinais, demora na cicatrizao, presena de lceras de presso.

    A triagem nutricional deve ser uma tarefa simples e rpida, passvel de ser executada

    por profissionais capacitados para tal, no momento da admisso do paciente ou at 48 horas da

    aceitao hospitalar; pois aps este perodo as prprias alteraes impostas pelo tratamento

    clnico (jejuns, exames, cirurgias, suportes invasivos como sondas, cateteres, etc.) associadas a

    mudanas dietticas e ambientais, passam a interferir no estado nutricional.

    A maioria das ferramentas de rastreamento nutricional contempla quatro questes

    bsicas: histria recente de perda de peso sem inteno, ingesto alimentar recente, ndice de

    massa corporal e gravidade da doena. A European Society for Parenteral and Enteral Nutrition

    (ESPEN), recomendou, em 2002, que para rastreamento nutricional em indivduos adultos

    hospitalizados fosse aplicado o instrumento intitulado Nutritional Risk Screening (NRS, 2002) ou

    Rastreamento de Risco Nutricional (KONDRUP et al., 2002).

    O mesmo tem como vantagens: poder ser aplicado em qualquer indivduo adulto

    independente da doena ou da idade, no agregar custo adicional ao servio e ser utilizado por

    diferentes profissionais. Os pacientes identificados na categoria de risco nutricional, a partir da

    triagem nutricional, devem ser submetidos avaliao nutricional completa para classificar seu

    estado nutricional e fazer a interveno diettica mais adequada.

    A avaliao nutricional completa identifica o estado nutricional do paciente, mas vai

    alm; detecta a gravidade dos estados de desnutrio e permite a coleta de informaes que

  • 38

    auxiliem no tratamento nutricional (RASLAN, et al., 2008). Para Soares (2007) a avaliao

    nutricional completa inclui, na maioria das vezes, a obteno das seguintes informaes:

    Dados demogrficos: sexo idade, endereo, ocupao e renda.

    Dados da histria clnica: doenas, sintomas gastrointestinais, presena de febre,

    tabagismo ou etilismo, perda ou ganho de peso, uso de medicamentos e suplementos, nvel de

    atividade fsica, estado psicossocial.

    Dados de a histria alimentar: recordatrio alimentar habitual, registro e frequncia

    alimentar.

    Dados de a ingesto alimentar: mudanas alimentares e dietticas recentes? O que

    mudou? H intolerncias? Efeitos adversos? Alergias? Apetite?

    Dados do exame fsico: antropometria, sinais fsicos de alteraes nutricionais, sade

    bucal.

    Dados sobre a capacidade funcional: autocuidado e atividades dirias.

    Dados laboratoriais: hemograma completo, protenas plasmticas, ureia urinria,

    creatinina srica e urinria, glicose e lipdios sricos, cido rico, sensibilidade cutnea, etc.

    O monitoramento nutricional envolve os mesmos parmetros utilizados no

    rastreamento e na avaliao completa e consiste no acompanhamento da evoluo dos dados

    nutricionais coletados com o intuito de manter o tratamento quando tiver obtendo xito e rever

    condutas quando se identificarem involues ou falhas no tratamento.

  • 39

    8 AVALIAO DO ESTADO NUTRICIONAL

    Os objetivos da avaliao nutricional compreendem: identificar pacientes com risco

    aumentado para complicaes associadas ao estado nutricional, fornecer subsdios para

    determinao e implementao do cuidado nutricional e monitorizar a eficcia da interveno

    dietoterpica. A realizao da avaliao nutricional envolve uma srie de indicadores, os quais,

    quando avaliados em conjunto, diagnosticam e categorizam processos de malnutrio.

    No h um nico mtodo, disponvel atualmente, que seja, ao mesmo tempo, sensvel

    e especfico o suficiente na deteco dessas alteraes. Mesmo que houvesse um mtodo

    padro-ouro, as condies clnicas que ocorrem durante a hospitalizao podem alterar

    significativamente os dados utilizados na avaliao nutricional, reforando-se mais uma vez a

    necessidade de se utilizar o maior nmero possvel de parmetros subjetivos e objetivos na

    avaliao nutricional em ambiente hospitalar em virtude das condies especficas desse local.

    De acordo com Bastos et al., (2008), os mtodos de avaliao nutricional podem ser

    divididos em: no convencionais e convencionais. Os mtodos no convencionais so,

    geralmente, mais sensveis em detectar o estado nutricional do que os convencionais,

    entretanto, utilizam equipamentos de alto custo e possuem dificuldades tcnicas para sua

    execuo, ficando, seu uso, destinado a centros de pesquisa. Incluem: provas funcionais para

    avaliar a capacidade funcional e a imunidade celular, densitometria computadorizada, pesagem

    hidrosttica ou hidrodensitometria, anlise da ativao de nutrons in vivo, ressonncia

    magntica, istopos marcados pela medio da gua corporal total, estudos de excreo de

    metablitos.

    Literatura pertinente a esses mtodos j est disponvel e acessvel, inclusive em livros

    de nutrio, onde se encontram detalhes sobre os mtodos, vantagens e desvantagens no uso.

    Os mtodos convencionais so aqueles usados habitualmente e que apresentam utilizao

    validada tanto na prtica clnica quanto em estudos epidemiolgicos. Apresentam as seguintes

    vantagens: praticidade, custo aceitvel e so precisos em identificar o estado nutricional do

    indivduo. So apontados como mtodos convencionais:

  • 40

    a) Histria Clnica e Nutricional;

    b) Exame Fsico (detectar sinais de carncias nutricionais);

    c) Antropometria: peso, altura, combinaes de altura e peso, medidas de dobras cutneas,

    circunferncias corporais, largura ssea, compleio fsica;

    d) Exames Laboratoriais: hematcrito, hemoglobina, linfcitos totais, protenas sricas, ndice

    creatinina-altura, colesterol srico, balano nitrogenado;

    e) ndices Prognsticos;

    f) Impedncia Bioeltrica.

    A discusso que se segue mostrar os mtodos convencionais que so utilizados com

    maior frequncia em ambiente hospitalar; destacando-se que a escolha do mtodo depende de

    condies estruturais (disponibilidade de recursos humanos e materiais) e, principalmente, das

    condies em que se encontra o indivduo hospitalizado (se est totalmente acamado, se

    deambula, se consegue sentar-se, se est consciente e orientado, etc.).

  • 41

    9 HISTRIA CLNICA

    A histria clnica ou anamnese clnica na avaliao nutricional direcionada para a

    identificao de uma nutrio insuficiente ou inadequada. Algumas questes podem ser

    respondidas pelo paciente ou acompanhante e, outras, podem ser colhidas diretamente do

    pronturio sem a necessidade de sobrecarregar o paciente com perguntas j respondidas

    anteriormente a outros profissionais. Sob o aspecto nutricional os pontos mais relevantes a

    serem considerados durante a anamnese clnica so (AUGUSTO, 2002, ACUA; CRUZ, 2004,

    BORGES et al., 2007):

    a) Histria de perda ou ganho de peso recente: uma das variveis mais

    avaliadas. Qualquer perda de peso, no intencional, maior que 10%, considerada significativa.

    Investiga-se tambm como ocorreu a perda ou ganho, se de forma contnua ou com

    recuperaes, associada a sintomas gastrointestinais ou uso de medicamentos, bem como a

    situao mais recente do processo (as duas ltimas semanas anteriores internao).

    b) Presena de sintomas gastrointestinais: anorexia (ausncia de apetite),

    hiporexia (reduo do apetite), hiperexia (aumento do apetite), disgeusia (alteraes do paladar),

    disfagia (dificuldade de deglutir), odinofagia (dor ao deglutir), pirose, dor retroesternal associada

    pirose, dispepsia (m-digesto), nusea, vmitos, diarreia, constipao, flatulncia (excesso de

    gases no trato gastrointestinal), eructao (eliminao de gases pelo trato gastrointestinal alto),

    meteorismo (eliminao de gases pelo trato gastrointestinal baixo). Alm desses aspectos,

    convm avaliar a situao da cavidade oral e suas estruturas, uma vez que tambm fazem parte

    do aparelho digestivo os dentes, a lngua, os palatos e a mucosa oral.

    c) Alteraes do padro alimentar: investiga-se a durao da mudana e o tipo de

    mudana alimentar (se na quantidade, qualidade dos alimentos ou em ambas). Por exemplo, o

    paciente pode relatar que nos ltimos dias antes da internao no fazia mais refeies slidas,

    tolerando melhor apenas refeies pastosas e apresentando averso carne bovina.

    d) Uso de medicamentos que podem afetar o estado nutricional interferindo na

    absoro e utilizao dos nutrientes como: furosemida, hidroclorotiazida, digitlicos (reduzem o

  • 42

    apetite), cido acetilsaliclico, anfetaminas (alteram ou diminuem o paladar), anti-histamnicos,

    corticosteroides, psicotrpicos (aumentam o apetite), anticoncepcionais orais, suplementos de

    ferro e vitamina C (alteram a absoro de outros nutrientes).

    e) Antecedentes mdicos pessoais e familiares: presena de doenas crnicas,

    internaes e/ou cirurgias prvias e motivo e investigao do carter hereditrio e gentico da(s)

    patologia(s). Com relao aos antecedentes familiares sugere-se indagar apenas as condies

    de sade de parentes de primeiro grau (pais, irmos e avs).

    f) Aspectos da histria social, econmica e cultural: alguns dados sobre estes

    questionamentos podem interferir na adeso ao tratamento como ocupao, escolaridade,

    estado civil, religio, condies de moradia, renda familiar e/ou individual, presena de etilismo,

    tabagismo e/ou uso de substncias ilcitas.

    Os pontos acima descritos esto em uma ordem de apresentao puramente didtica,

    ficando a critrio de o profissional elaborar seus formulrios a partir das questes que considerar

    mais relevantes, de acordo com os casos atendidos. Tambm importante ressaltar que durante

    a entrevista o roteiro de perguntas no deve seguir uma rotina sequencial rgida, podendo o

    nutricionista concluir a entrevista em outros momentos durante o acompanhamento, pois

    algumas vezes no possvel colher todas as informaes necessrias no primeiro atendimento,

    por vrios motivos como: a recusa do paciente por cansao, sonolncia, etc., procedimentos de

    urgncia a serem executados imediatamente, horrio para realizao de exames, etc.

  • 43

    10 AVALIAO DA CAPACIDADE FUNCIONAL

    As alteraes da capacidade funcional so os sinais mais precoces da desnutrio e

    ocorrem muito antes das mudanas na composio corporal (TEIXEIRA, 2003). Essa avaliao

    identifica modificaes funcionais que ocorrem associadas s alteraes antropomtricas e

    dietticas. Segundo Duarte e Castellani (2002), a perda de peso sem modificao funcional

    representa um melhor prognstico nutricional. Caso o paciente refira que modificou suas

    atividades dirias, em casa e/ou no trabalho, deve-se avaliar o tempo da alterao e o grau de

    reduo na atividade fsica diria.

    Independente do nvel da atividade, o importante descartar se as alteraes no

    esto relacionadas a enfermidades do aparelho locomotor e do sistema nervoso central e

    perifrico. Existem mtodos objetivos de avaliao funcional, usados em pesquisas, e que

    apresentam resultados promissores que indicam seu uso como indicadores do estado

    nutricional.

    O desenvolvimento desses testes est ligado ao fato de que o enfraquecimento

    muscular um efeito direto da desnutrio e que a recuperao das alteraes funcionais ocorre

    antes mesmo da recuperao na composio corporal, sendo usado como um indicador precoce

    de recobramento nutricional (TEIXEIRA, 2003, SOBREIRO, et al., 2004).

    Ressalta-se que so testes que no fazem parte das rotinas clnicas na maioria dos

    servios hospitalares brasileiros. So eles: Teste de Fora Muscular Involuntria ou Grip

    Strength, Teste de Fora Muscular Voluntria ou Handgrip Strength e Testes de Funo

    Muscular Respiratria. A avaliao subjetiva da capacidade funcional pode integrar a histria

    clnica do paciente, sendo esta a forma de avaliao funcional mais usada na prtica clnica

    hospitalar. Deve-se dar ateno especial s seguintes condies:

    Presena de cansao fcil e reduo da resistncia ao exerccio fsico nas

    atividades dirias que requerem esforo muscular como subir escadas, andar grandes

    distncias, correr rapidamente por curto tempo, etc.

    Verificar dificuldades de cicatrizao.

  • 44

    Observar como se d a locomoo do indivduo pelo quarto hospitalar (se rpida,

    com agilidade, com dificuldade, arrastada, com necessidade de apoio, etc.).

    Avaliar a fora como ele aperta o indicador e o dedo mdio do examinador quando

    solicitado; que o faa fortemente por 10 segundos, ou mesmo avaliar a fora do aperto de mo.

    Solicitar que o paciente sopre uma tira de papel para mant-la cerca de 10 cm dos

    lbios.

    Observar o flego do paciente durante a conversao, em repouso e ao realizar as

    refeies.

    Uma piora funcional grave observada quando essas atividades so feitas com

    dificuldade ou no so feitas. No se esquecer de associar essas condies idade, sexo,

    hbitos corporais e presena de enfermidades motoras, musculares, nervosas ou respiratrias.

  • 45

    11 EXAME FSICO NUTRICIONAL

    Para Bento et al. (2008), o exame fsico geral parte integrante da avaliao do estado

    nutricional e se aplica para identificar sinais e sintomas clnicos de malnutrio, principalmente

    desnutrio. O contato inicial com o paciente hospitalizado feito por meio do exame fsico e em

    alguns momentos ser o nico elemento a ser usado na avaliao nutricional desses indivduos.

    Destaca-se que para a realizao do exame fsico necessrio o uso das seguintes tcnicas:

    inspeo, palpao e ausculta. Na inspeo usam-se os sentidos da viso, olfato e audio para

    observao da cor, formato, textura e tamanho das estruturas corporais. A palpao

    complementa a inspeo e tambm verifica, pelo exame ttil, pulsaes e vibraes nas

    estruturas corporais. Por fim, os sons corporais podem ser auscultados com, ou sem, o uso do

    estetoscpio. necessrio treinamento e experincia clnica para avaliao fsica correta.

    Quando se direcionam alguns aspectos do exame fsico para identificar sinais de

    carncias nutricionais especficas chama-se exame fsico nutricional. Esta avaliao busca

    perceber sinais de depleo das reservas corporais de tecido subcutneo (adiposo e muscular),

    sinais sugestivos de hipoalbuminemia (presena de edema e ascite) e alteraes estruturais da

    pele, mucosas, olhos, cabelos e unhas.

    A avaliao das reservas adiposas subcutneas pode se iniciar pelo exame do trceps,

    subescapular e trax, por serem regies onde essas perdas so mais perceptveis (TEIXEIRA,

    2003). Para avaliao da reduo de tecido muscular pode-se examinar a regio do deltoide,

    temporal, masseter, quadrceps e panturrilha. Convm ressaltar que o repouso prolongado leva

    atrofia muscular (ACUA; CRUZ, 2004).

    A pesquisa de edema se faz com uma presso suave e contnua do polegar ou dos

    dedos indicador e mdio na regio a ser examinada; na qual a presena de edema verificada

    quando, aps esta presso, ao retirar o dedo, fica uma depresso no tecido que demora voltar

    ao normal, chamado de Teste do Cacifo ou Sinal de Godet (DUARTE; CASTELLANI, 2002). A

    presena de edema nutricional pode ser examinada na regio sacral e nos tornozelos, devendo

  • 46

    seguir a pesquisa do edema por toda a perna para identificar at onde vai o edema (fazer

    bilateralmente). Quando o edema generalizado (corpo inteiro) chamado de anasarca.

  • 47

    12 AVALIAO SUBJETIVA GLOBAL (ASG)

    um mtodo simples, prtico, fcil, de baixo custo, no invasivo, de boa

    reprodutibilidade e confiabilidade, tendo sido desenvolvido por Detsky et al. (1987) apud Duarte e

    Castellani (2002) para avaliar pacientes cirrgicos em perodo ps-operatrio e, segundo tais

    autores, foi o melhor ndice de prognstico para complicaes infecciosas ps-operatrias em

    comparao com outros mtodos de avaliao nutricional (albumina srica, avaliao

    antropomtrica e ndice creatinina-altura).

    Quando realizada por um examinador bem treinado propicia o diagnstico de pacientes

    desnutridos com base em dados coletados a partir de sua histria clnica e exame fsico. Para

    Rosa (2008), a ASG seria um instrumento tanto para o prognstico quanto para o diagnstico

    nutricional.

    A ASG contempla os seguintes pontos (KAMIMURA et al., 2002, BORGES et al., 2007,

    ROSA, 2008):

    Alteraes no peso corporal: considera-se o percentual de perda de peso e

    relaciona-se com o tempo de perda.

    Modificaes na ingesto alimentar: pode ser quantitativa ou qualitativa e avalia-se o

    tipo e durao da modificao, bem como se descarta qualquer intencionalidade.

    Presena de sinais e sintomas gastrointestinais: consideram-se essas alteraes

    significativas quando ocorrem diariamente por mais de duas semanas.

    Capacidade funcional: relata alteraes na durao e intensidade das atividades

    dirias.

    Demanda metablica resultante de doena catablica (queimadura, sepse,

    neoplasia, etc.).

    A avaliao subjetiva global tem sido amplamente estudada e, atualmente, encontram-

    se adaptaes validadas para atender situaes clnicas diversas como nefropatias, oncologia,

    hepatopatia, HIV/AIDS e pacientes geritricos.

  • 48

    13 ANTROPOMETRIA

    A antropometria uma tcnica desenvolvida por antropologistas no final do sculo XIX,

    usando medidas simples para quantificar diferenas na forma humana. Mtodo no invasivo,

    simples, preciso, de grande acurcia e universalmente aplicvel, disponvel para avaliar o

    tamanho, propores e composio do corpo humano e que utiliza equipamentos de baixo custo,

    portteis e durveis. Apesar de todas essas vantagens ainda um mtodo relativamente

    insensvel, pois no detecta alteraes nutricionais agudas e as deficincias de nutrientes

    especficos (TEIXEIRA, 2003, ROSA; PALMA, 2008).

    Fazem parte da avaliao antropomtrica os seguintes itens:

    a) Peso Corporal

    um padro antropomtrico global. a soma de todos os compartimentos corporais e

    o parmetro mais adotado na prtica clnica. O peso deve ser aferido em uma balana

    calibrada com o paciente de p, descalo, aps urinar e, de preferncia, em jejum. Entretanto,

    segundo Barendregt et al. (2008), nem todo paciente internado pesado, devido ausncia de

    equipamentos, incapacidade do paciente em deambular e at mesmo negligncia ou indiferena

    da equipe de sade. Esses mesmos autores referem que o peso indispensvel sempre que se

    deseja estimar o gasto energtico, a prescrio nutricional e a dosagem de medicamentos.

    Na prtica clnica podemos obter trs diferentes tipos de peso: peso atual, peso

    habitual ou usual e peso ideal ou desejvel. Peso atual se refere ao peso obtido no momento da

    avaliao nutricional em balana calibrada, plataforma ou mecnica. O peso habitual ou usual

    aquele peso referido pelo paciente como sendo o peso mdio mantido por ele (investigar quando

    e como foi obtido este peso e h quanto tempo), sendo usado como referncia na avaliao de

    mudanas recentes de peso. J o peso ideal ou desejvel aquele obtido por meio de diversos

    clculos, sendo mais comum e prtico o clculo desse peso por meio da relao inversa do

    ndice de massa corporal (IMC), onde:

  • 49

    PESO IDEAL OU DESEJVEL = IMC DESEJADO X ALTURA (m2)

    FONTE: Kamimura, Sampaio e Cuppari, 2009.

    O peso terico ou ideal tambm pode ser calculado considerando-se o sexo, bitipo e

    altura (cm). Para tal o paciente deve ser classificado em brevilneo (trax largo e membros

    curtos), normolneo (harmnico entre o tamanho do trax e dos membros) e longilneo

    (apresenta musculatura e tecido subcutneo escasso, sendo, em geral, alto e esguio) (DUARTE;

    CASTELLANI, 2002). Abaixo encontramos a tabela para clculo do peso terico segundo bitipo.

    BIOTIPO HOMENS (VARIAO PESO) MULHERES (VARIAO PESO)

    Brevilneo h-100 at (h-100)-5% (h-100)-5% at (h-100)-10%

    Normolneo (h-100)-5% at (h-100)-10% (h-100)-10% at (h-100)-15%

    Longilneo (h-100)-10% at (h-100)-15% (h-100)-15% at (h-100)-20%

    FONTE: Augusto, 2002.

    Onde h = altura (cm).

    Diante da incapacidade de se obter o peso atual do paciente hospitalizado pode-se

    recorrer estimativa de peso atual, considerando que o indivduo possa, pelo menos, sentar-se,

    pois sero necessrias algumas medidas para se incluir na frmula descrita abaixo:

    Homem = [(0,98 x CP) + (1,16 x AJ) + (1,73 x CB) + (0,37 x PCSE) 81,69] Mulher = [(1,27 x CP) + (0,87 x AJ) + (0,98 x CB) + (0,4 x PCSE) 62,35]

    FONTE: Chumlea, 1985 apud Kamimura et al., 2002.

    Onde: CP circunferncia da panturrilha

    AJ altura do joelho

    CB circunferncia do brao

    PCSE prega cutnea subescapular

  • 50

    Com os dados de peso ideal e peso atual podemos fazer o clculo para conhecer a

    adequao de peso do paciente. Esta adequao mostrar o quanto adequado ou inadequado o

    peso atual do indivduo est em relao ao que deveria ser (ideal ou desejvel). A frmula para o

    clculo da adequao de peso e o valor de referncia mais utilizado est logo abaixo.

    Adequao do peso (%) = peso atual x 100 / peso ideal

    ADEQUAO DO PESO (%) ESTADO NUTRICIONAL

    70 Desnutrio grave

    70,1 - 80 Desnutrio moderada

    80,1 - 90 Desnutrio leve

    90,1 110 Eutrofia

    110,1 - 120 Sobrepeso

    120 Obesidade

    FONTE: Blackburn; Thornton, 1979 apud Kamimura et al., 2002.

    Quando o resultado da adequao de peso for < 95% e > 115%, pode-se corrigir o

    peso para a determinao das necessidades energticas. Esta correo chamada peso

    corrigido ou peso ajustado. Obtm-se por meio da seguinte frmula:

    Peso ajustado = (peso ideal peso atual) x 0,25 + peso atual

    FONTE: Kamimura et al., 2002.

  • 51

    Em pacientes amputados deve-se corrigir o peso ideal a partir da subtrao do peso da

    extremidade amputada, seguindo-se os clculos abaixo:

    MEMBRO AMPUTADO PROPORO DE PESO (%)

    Mo 0.8

    Antebrao 2.3

    Brao at ombro 6.6

    P 1.7

    Perna abaixo do joelho 7.0

    Perna acima do joelho 11.0

    Perna inteira 18.6

    FONTE: Winkler; Lysen, 1993; Pronsky, 1997, apud Kamimura, Sampaio e Cuppari, 2009.

    Obs.: Para amputaes bilaterais as porcentagens dobram.

    Peso Ideal de Amputados = (100% - % segmento amputado) / 100 x peso ideal

    IMC de Amputados = peso corrigido (kg) / altura (m2) (1 - % amputao)

    A perda involuntria de peso constitui uma importante informao para avaliar a

    gravidade da situao clnica e nutricional do paciente, em virtude de sua elevada correlao

  • 52

    com a mortalidade. Assim, tambm podemos verificar se a variao de peso (reduo)

    encontrada no indivduo hospitalizado foi significativa em relao ao tempo que ocorreu.

    A frmula para clculo do percentual de perda de peso e sua significncia com relao

    ao tempo esto abaixo e esta avaliao chamada de mudana de peso ou mudana ponderal

    relacionada ao tempo.

    Perda de peso (%) = (peso habitual peso atual) / peso habitual x 100

    Tempo Perda Significativa de Peso (%) Perda Grave de Peso (%)

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