NUNES, Benedito - A Forma Do Conto in Leitura de Clarice Lispector

download NUNES, Benedito - A Forma Do Conto in Leitura de Clarice Lispector

of 8

Transcript of NUNES, Benedito - A Forma Do Conto in Leitura de Clarice Lispector

  • 8/13/2019 NUNES, Benedito - A Forma Do Conto in Leitura de Clarice Lispector

    1/8

    , , I

    FICHA CATALOGRAFICAPreparada pelo Centro de Catalogao-na.fonte,CAMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP

    INunes, Benedi to, 1929 -

    N923L Leitura de Clarice Lispector. So Paulo, Quiron, 1973.p. i1ust. E scritor es de hoj, 2

    1. LispectOf, Clarice, 1925 - Crtica e interpretao r.TItulo. n. Srie,

    740375 CDD-869.9309O1nd ic~ para o catlogo s is temti co:

    1. Contos : Literatura brasileira : Histria e critica 869.93092. Fico : Literatura brasileira : Histria e critica. 869.93093. Romances : Literatura brasileira : Histria e crtica. 869.9309

    reviso: CARLOS MARIO COELHO 1

    BENEDITO. :NUNES

    LEITURA DECLARICE LISPECTOR

    EDIOES QUfRoN 1973

    ::~

    0,,,

  • 8/13/2019 NUNES, Benedito - A Forma Do Conto in Leitura de Clarice Lispector

    2/8

  • 8/13/2019 NUNES, Benedito - A Forma Do Conto in Leitura de Clarice Lispector

    3/8

    que pode repetir,,:,se e contra o qual se acautela. A umaparada do bonde, Ana v, de sbito, um cego mascandochicles. Transtornada por essa cena, ela deixa cair aocho, com a arrancada violenta do veculo, o saco dascompras. Est por fim inerme diante do perigo que temia',estampado agora na fisionomia grotesca do homem. Atranqilidade de Ana desaparece com a sensao denusea que lhe vem boca.

    Ela aDaziguara to bem a vida, cuidara tanto paraque esta no explodisse. Mantinha tudo em serena compreenso, separava uma pessoa das outras, as. roupas eramclaramente feitas 'para serem usa.das e pl)dia-se 'scolherDelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo qUEa um dia se segmisse outro. E um cego mascando gomadespedaava tudo isso. E atravs da piedade aparecia aAna uma vida cheia de nusea doce at boca. (LF, 27).

    Domina-a essa sensao de nusea quando atravessao Ja.rdim Botnic'O para chegar casa. Ali, em ao nasrvores si lenciosas, desencadeia-se algo estranho e hostil que o cego lhe revelara, e que agora, fascinada. experimentando um estado de verdadeiro xtase, v estender-se sobre o mundo inteiro. Porm a repentinalembrana dos fi lhos arranca-a da sedil: .odesse horr-..vel espetculo que ainda continuar, menos intenso, nacozinha de casa, onde Ana procura sair do transe. Os. a fazeres domsticos envolvem-na de novo como as mosdo marido que a seguram, na tranqilidade aparente deseu dia a dia:

    :JrJ hora de dormir, disse ele, tarde. Num gesto queno era seu, mas Que Dareceu natural, segurou a mo damulher, levando-a consigo sem olhar para trs, afastando-ado perigo de viver . (LF, 32).

    ,o ncleo da histria desse. conto l :'1 ,quelemomentode tenso confli tiva, extensa e profunda, que seestabele ..

    II

    ceu entre 'a personagem e cego, e logo entre ela. e .ascoisas todas. O ce o ad . deumaJ ~ncompatibilida e ~n~~com o mundo que J~z .D2 m- ~.mo tt 1m. D C'nrmaneira, a sua fi'~o meCllao'nno dilere ds rvores do Jardim Botnico, que tambmext.eriorizam o per~go d ..yj:V:lr.Essa incompatibilidade

    es-t em clrrelaao com.. .a.~tr,nheza e a yi.Qlncta ~~Qa vida que gri~m a p_ersonag.eJ)L~ctl_~mIa gr,fesca do cego, quando ela sente a comoo d~nausea ~orear-S de ':'sl. A'tensao coni'htiva vem,portanto, qUliItcacUt pela nasea, que precipita a mu-lher num estado. de . alheiamento, verdadeiro xtase'_htiante das~oisas, que ~~za e ~svazia,. por instan- f S.tes, de sua vida pessoal. h lido. pela ma extensMJstjprofundeza, essa mesm crise arma-a de uma percep-o visual penetrante, que lhe d a conhecer as coisasem sua nudez, revelando-lhe a existncia nelas. repre-sada, como fora. impulsiva e catica, e desligando-a darealidade cotidiana, 'do mbito. das relaes familiares.Momento privilegiado sob o aspecto de descortnio daexistncia, maldio' e fatalidade sob' o aspecto da rup~tura, esse instante assiriala o cl imax do desenvolvmen-to da narrativa. No entanto, IIAmorll no termina coma tenso conflitiva levada aos dois extremos que setocam, do rompimento com a realidade habitual e dacontemplao exttica. Depois de atingir o pice, his-tria continua 'maneira de um anticlimax. De fato,a situao que se desagregou recompe-se no' final doconto, quando Ana regressa a casa' e normalidade en-tre os braos do marido. O lesfecho de Amor deixa~':nos entrever que o confl ito apenas se apazigou, voltan'do latncia de onde emergira. ;

    Em outro conto exemplar, O falo LF I o desfecho da narrativa ocorre no climax .'''':-momento cuImi:'nante de. uma crise que o ,amor no correspondido,causara. Diante deuro bfalo, nozool6gico, para onde' a

    81:,

  • 8/13/2019 NUNES, Benedito - A Forma Do Conto in Leitura de Clarice Lispector

    4/8

    conduz seu conflito interior, a personagem v refletidonos olhos do animal o dio que sente pelo homem quea despreza.O bfalo voltou-se, imobillzou-se, e distncia encarou-a. Eu te amo, disse ela ento com Mio para o homemcujo grande crime impun1ve era o de no quer~la. Eute odeio, disse implora.ndo'amor ao bfalo. Enfim provocado, o grande b .faloaproximou-s~ sem pressa. Ele seaproximara, a poeira erguia-se. A mulher esperou de braospendidos ao longo' do casaco. Devagar ele se aproximava.Ela no re.cuou um s passo..At que ele chegou s grades-e ali parou. L estavam o bfalo e a mulher, frente a:frente. Ela no oihou a cara, nem a boca, nem os cornos.Olhou seus olhos. E os -olhos do bfalo, os olhos olharamiSeus olhos. E uma palidez' to funda foi trocada que a.mulher se entorpeceu dormente. De p, em sono profnnd.o.Olhos pequenos e vermelhos a olhavam. (LF, 161).

    A tenso conflitiva, mediada pela fera, como antes,em Amor fora mediada pelo cego, resolve-se na autodestruio de personagem;, rompendo definitivamentecom a realidade. .Inocente, curiosa, entrando (lada vez mais fundo dentrodaqueles olhos que sem pressa a fitavam, ingnua, numsuspiro de sono, sem querer nem poder fugir. presa aomtuo assassinato. Presa como se SUa mo se tivessegrudado para sempre ao punhal que' ela mesma cravara.Presa, enquanto escorregava enieitlada ao longo dasgrades. Em to lenta vertigem que antes do corpo baquearmacio a mulher viu o cu inteiro 'um b llfalo. (LF, 16 2).

    o conto tem o seu desfecho nesse ponto' que assinalao elimax da histria. Mas tambm. como na composio anteriormente examinada, aparec'e em 11 O Bfalo ,condicionando a crise no seu pice, o confronto peloolhar, - -. desta vez troca de olhres entre a-mulher e o82,

    )I

    I

    ~r

    himal, que mutuamente se refletem, um, vendo o outro ) ~.se vendo no outro, um, espelhandillil outro o ~ ~n~ue osul:e SM 3s separa:' -. 'orno nci hlst6ria, a tenso conflitiva est diferentemente qualificada nos contos de Clariee ,Lispector: transe nauseante ( Amor e Os Desastres deSofia , LE); acesso de ,C'lera ( Feliz Aniversrio, , LF);de ira ( O Jantar , LF) t de dio ( O Bfalo ), ,de loucura ( Imitao da Rosa , LF); de medo ( Preciosidade , LF): de angstia ( A Mensagem , LE) e de culpa( O Crime d PiM\9Ssorde Matemtica , L). Momentoprivilegiado, cujo pice d algumas vezes o elimax danarrativa, essa crise acha-se, via de regra, condicionadapor uma wtua.~ gt: ~WJtxontR..J1o6 de pessoa a pessoaO Jantar'\ Qr , Laos de Famlia , Legio Estrangeira ), e no apenas entre pessoas ( Feliz Aniversrio ),mas tambm de p~~~~~~J6gj,,a( 4,Mensagem , Amor ,O Crime do Professor de Matemtica~', r tntao daRosa ), seja esta um objeto ou um ser vivo, animal ouvegetal. Num bom nmero de contos, associam-se a esseconf11>nto,4,Ys.p atllteZja. Vj~J.mJ, os dois motivos, que sof~Mrrentes nos romances de Clarice Lispector, da 1? ?:..tncia mgica do o~h.ac e ,do ...e.s.c.ortniQ contemZ ,lafvo--gmmetoso,este interceptando, o circuito ver1:ial. --A velha' de nus Aniversarw C'OSPI;lo cno, de dio, w;ao olhar, colrica, os filhos maduros, reunidos para festejar-lhe adata natalcia, e que v c.omo ra'tos se cotovelando em torno dela. O olhar recproco revela, noConto liOS Laos de Famlia , a mtua afeio ,inconfe,s-sada que une m:ee filha. Em liOS Desastres de SofiqP',a personagem narradora fixa os olhos do profes~ortemido, olhos nus -.: que tinham muitos cHios ,e quea paral1zam de terror como se estivesse diante de umarealiq.ade estranha:

    Eu era uma menina muito purlosa, e,. para a minhallalidez, eu vi. Eriada, prestes a vomitar, embora, at hoje:~3

  • 8/13/2019 NUNES, Benedito - A Forma Do Conto in Leitura de Clarice Lispector

    5/8

    --/7 . :-~.- _._.....-.,.-. ..----. / ..._ ..- _._--...... -~-------------------------no saiba ao certo o q ue vi. Mas sei que v-i. Vi t.o fundI)quanto numa boca, de chofre eu via o abismo do mundo. .Aquilo que 6 2' via era annimo como uma barriga abertapara uma operao de intestinos. Vi uma coisa se, fazendona sua cara - o mal estar j petrificado subia comesforo at a sua pele, via a careta vagarosamente hesi~tando e quebrando uma crosta - mas essa coisa que emmuda catstrofe se desenraizava, essa coisa ainda separeda to pouco com um sorriso como se um ffgado uum p tentassem sorrir, no sei. O que vi, vi to de pertoque no sei o que vi. Como se meu olho curioso se tlvessecolado ao buraco da fechadura e em choque deparassedo outro lado com outro olho colado me olhando. E1t videntro de ~WL olho. O que era incompreenslvel como umolho. Um olho aberto com sua gelatina m6vel. Com suaslgrimas org-nicas. (LE, 22/23).

    A semelhana do que sucede nesse conto, a crise e' a;viso dramtica coincidem em Amor , tpreciosidade eHO Jantar :Ento ela viu, o cego mascaVa chicles ... Um homemcego mascava (;bicle,'. :.. O movimento da mastigao.fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir.e deixar de sorrir - como se ele a tivesse insultado, Ana,olhava-o. E quem a vis,se teria a impresso de umamulher com dio. ( Amor , LF, 25). - Com' bruscarigidez olhou-os. Quando menos esperava traindo o voto. desegredo, viu-os rpida... No deveria ter visto. Porque,'vendo, ela por Um instante' arriscava-se a tornar-se individual. .. (Preciosidade, LF, 105) - No momento emq:ue eu levaViL o garfo boca, olhei-o. Ei-Io de olhos.,.fechados mastigando po com vigor e mecanismo, os dois.punhos . cerrados sobre a mesa .. Continuei comendo e.olha.ndo~ . (O Jantar, LF 91),

    A exceo de (tOSDesastres de SOfia e d tIO Jantar ~,os: :butros contos mencionados adotam a forma da ter~

    :~.\

    Jr~

    ceira pessoa do singular. As variaes C'oncorhHantesdb tipo de desenvolvimento da histria' at' aqui estudado,e do' discurso narrativo, que j podemos 'divisar em t OsDesastres de SOfia , relacionam-se quase sempre como uso da primeira pessoa, excepcional em tlLaos deFamilia e .mais freqente em etA Legio Estrangeirae tlFeZicidade Clandestina 4,

    A personagem narradora reflete, no anticlimax quearremata Os Desastres de Sofia, ao qual j nos referimossob o aspecto do motivo do ,olhar, acerca do efeito inesperado, entre amor e entusiasmo generoso, que a suacomposio esclar improvisada causara no professortaciturno e temido, com quem ela se defrontou, e cujorosto se descontrara num. sorriso grotesco. Por meio datenso conflitiva que decai aps esse confronto, e quecrresponde a um momento privilegiado de descortnio,Sana compreende a sua vocao de escritora e o destinointranqtiilo que o

  • 8/13/2019 NUNES, Benedito - A Forma Do Conto in Leitura de Clarice Lispector

    6/8

    \

    ;De ch.ofre explicava-se :para que eu ,nascera com modura, e para que eu nascera sem n,ojo da dor. Para quete servem essas unhas longas? Para te arranhar de mortee para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobodo homem. Para que te serve essa cruel boca de fome?Para te morder e para soprar a fim d~ que eu no te doademais, meu amor, j que tenho que te doer, eu sou olobo Inevitvel pois a vida me foi dada. Para que teservem essas mos que ardem e prendem? Para ficarmosde mos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto - uivaram08 lobos, e olharam intimidados as pr6pras garras antesde se aconchegarem um no ocutro p ara amar e dormir.H(LE, 28/29).

    Mas o comentrio lrico, como esse trecho d a perceber, uma prtica meditativa. A confidncia e o me~moralismo no diluem a presena do eu-narrador, quecontrabalana a efuso lrica pelo seu enquadramentoparodstico duas vezes assinalado. Alm daquele quemarC a a identificao literria da personagem, rplicamalgna da travessa Sofia, da Condessa de Sgur 5, outrondice de pardia o lobo da histria do ChapeuzinhoVermelho, assimilado ao lobo do homem.

    A digresso em torno do acontecimento sob a formade um comentrio que o interpreta, integra-se, por conseguinte, ao desenvolvimento da histria. No fim doconto, a narradora, que nele se investiu, divisa a possibil idade de principiar outras histrias: . . . E foi assim que no grande pteo do colgio lentamente co~cei s. aprnder a ser amada, suportando o

    5. O conto de Clarice Lispector adota o Utulo que tomou emportugus L68 Malhewrs de SOlJhie, parte da obra edificante da.Comtesse de Sgur (Sophie Rostopchine). A.a travessuras de irrequieta e inocente: Sophie desse Jivro, no ambiente da alta burguesia f1n-de-sicle , no falta uma certa malIgnIdade infantilque o onto de Lispector r.evela e acentua na sua personagemhomnima.8

    i

    .~}~

    , sacrlf[clo de no, merecer, apenas para suavizar a. dor deque:m.no ama. No, esse foi somente um dos motivos. Eque os outros fazem outras hist6rias . .. (LE, 29).

    o eu-narrador , p ois, O sujeito e objeto da histria,como repositrlo de outros contos possveis, que sero,partes diferenciadas de uma mesma matria narrativaatualizvel em cada um deles. O comentrio lrico.anuneia o retorno da narrao que se limita a lnter-,romper. Em vez de aditar-se histria, cmo um acrscimo caprichoso, o elemento expressivo mobiliza a narrao e condiciona a possibilidade de-seu recomeo. Emsimetria com a alternncia dos discursos direto e indiretonos romances, verifica-se em Os Desastres de SOfia )uma constante oscilao do narrativo ao expressivo e do ~xpressivo ao narrativo ~ o piC o e o lrico inter-rela-danados e se delimitando mutuamente., Mas a posio do eu, assim firmada, como sujeito e()bjeto da narrao, delimita a histria por uma pers,:,pectiva memorialista. ,autobiogrfica 6. Em outros Gontosporm; essa posio a de um agente emissor, que asse-,gura histria, como em O Ovo e a Galinha e a Quinta Histria . por associao e por desdobramento de6. Em IIOS DesaStres de SofiCL a posio do e~~,como sujeito objeto da narrao, tem a franquia da reminiscncia, e o tomoCon,ficlenciale Fdcidade m indest i1~CL)J, Restos do Garn.avalH e~(aem Anos de Perdo . Essa atitude tambm encontramos emcertas narrativas alutas, que tanto podem merecer a designao< Ieconto ou de crnica, -:.. como, entre outros, Africa e Berna- inclufdas em Fundo de G ] // )e ,ta , onde a autora reune aquelassuas composies clrcunstanclais ou Inacabadas, e que lhe interessam por esse aspecto da imperfeio e da feitura tosca ( PorQueo que presta tambm no presta. Alm do mais, que obviamente no presta sempre me interessa multo. Gosto de um modo-carinhoso do inacabado, do mal-feito, da(}iulloque desajeitadamentetenta um pequeno vo e cal sem graa no cho - uFundo de{}aveta , LE, Parte lI, pg. 127). Desse ponto de vista, e paratais composies,a distino entre conto e cr6nica, absorvida pela:(Iexibllidade que a, narrativa curta adquire em Clarlce Lispector,torna-se irrelevante.

    81

  • 8/13/2019 NUNES, Benedito - A Forma Do Conto in Leitura de Clarice Lispector

    7/8

    unidades narra tivas-de-:,extenso- desgul-;: ::Um-desenvolVim~n~-trhsbjetivo, independente daquela perspeCtiva,, 0 primeiro conto, /0 Ovo e a Galinha (LE), todoum jogo de linguagem entre palavra e coisa. Como numafantasia verbal onrica, as frases-feitas, semelhantes OSdos antigos livros escolares de leitura ( O co v o ov01\ s as mquinas vem o ovo. O guindaste v o ovo ): ' ,- dispara~e ( Ao ovo dedico a nao c'hinesa: ~ o~o. ~~um:---COIsasuspensa. Nunca pensou ); a pardlall1osoflCa-('Sera-Clli-sBil1u-bW?- quase cerfo que sei. Assim:existo, logo sei ); o paradXO._.C~O-que,eu,n~9_sei do ovo o q ue r~almente-imprta. O que eu no sei d Ovo-m.ed o'--ov propriamente dito ), sucedem-se, Rlternm:.:-S'-- ')-

    ,, e misturam-se num ritmo febril e alucinatrio, retomado~e pargrato a pargrafo ao longo de cadeias de Sign,iU~cantes em que a palavra ovo reiterada: Olho o ovo ~/- 1d l s olhar ... / Ver o ovo impossvel. .. / O.ovo-------no exis:te-ma:i~\lo - uma cisa suspensa ... /O ovo uma exteriorizao ... ; O ovo a alma dagalinha ... / O ovo coisa que precisa tomar cuidado /Com o tempo o ovo se tornou um ovo de galinha etc. etc .

    Essas cadeias de significantes so, ao mesmo tempo, .unidades narrativas que se desdobram dentro de cadapargrafo ou de pargrafo a pargrafo, reiterando omesmo nome. De uma a outra cadeia, fala-se de uma scoisa, de um s objeto; mas o significado se evadequanto mais cresce a teia das definies por eles formada em torno do objeto ovo definido de diversas ma..:neiras. Dessa forma, como unidades narrativas que s.eassociam, as cadeias constituem aspectos desdobrados deuma ~Jlita.~vl1illE..?-dirigida a um objeto e deJ~separada pela seqncia infindvel de frases que o envol.,vem: partindo da,reiterao das palavras que o nomeiam~7. Expresso usada pela autora em A Paixo S Jg1~ndoGH paradesignar o carter das vises encadeadas da personagem. '

    Ii:~

    I

    I

    \,

    iI~,.H

    Ainda tendo' um nome, ainda sendo ','ovo , aquilo de querepetidamente se fala, passivel de receber outros nomes,ser at o fim do conto excedentrio aos smbolos destindos a circunscrev-lo,reaparecendo sempre,' objetovisvel de significado indizvel, atravs dos elos quecompem. a teia-l1ngustc~s defini~~-o-transpor.taID;.---~---~': '--~

  • 8/13/2019 NUNES, Benedito - A Forma Do Conto in Leitura de Clarice Lispector

    8/8