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Abertos a todos, agora, vamos à obra! António Serzedelo – Director [email protected] ano: 2011 . nr 14 . mês: março . director: António Serzedelo . preço: 0,01 € 03 . 11 NR 14 O SUL é propriedade da cooperativa Prima Folia, primafolia.blogspot.com, uma cooperativa cultural, sem fins lucrativos, que o edita em Setúbal, e por cujos princípios se rege. Atente-se que a coop- erativa não recebe apoios do Estado, nem do Poder Local. Quanto ao jornal já vai na terceira geração. Recuemos então até 1901, ano da criação do jornal O SUL, um semanário republicano, em plena monarquia, para o qual escreveram personalidades como Ana de Castro Osório ou Paulino de Oliveira. Na altura era o que hoje se chamaria um jornal alternativo, como este continua a ser, e por isso agradou e marcou a região, como este pretende marcar. Passando a O SUL na versão de 2010, segunda geração, trata-se de um órgão de informa- ção, que visa ser um jornal de cul- tura e promoção de debates e partilha do conhecimento. Por isso este mensário tem sido composto de reportagens, entrevistas, artigos de opinião das mais diversas sensibilidades, dando relevância à problemática do género, e publicando textos de divulgação do património histórico, cultural e natural en- volvente. O jornal está ao serviço do desenvolvimento nacional e regional, que neste distrito não é fácil, devido ao conservadorismo dos poderes fácticos. Somos pela promoção do progresso económi- co, social e cultural das popula- ções, com atenção para os mais desfavorecidos, tendo em conta os princípios da sustentabilidade e da verdade. Somos contra os discursos únicos, que tanto gras- sam na nossa sociedade, fruto de uma mentalidade herdada do passado que fez com que, em muitas cabeças dos nossos concidadãos, haja sempre ou um polícia ou um padre. Para isso queremos contribuir para a existência de uma opinião pública infor- mada, activa e interveniente, contra a iliteracia reinante, pois isto é condição fundamental da democracia, e do exercí- cio pleno de uma Cidadania activa e não reactiva, como a que vimos vivendo, que não gera alternativas, e quer simultânea- mente isto, e o seu contrário. Contem portanto, os nossos leitores, com um jornal que vai promover a construção de uma cultura viva alternativa ao centro, ao invés de uma cultura suburbana como a que estamos vivendo, lutaremos pela compreensão da globalização, sem deixar de dar atenção ao global. Contem portanto também que vamos defender acrisoladamente o Património, um riqueza cultural que os portugueses e os poderes de- sprezam, por baixa auto-estima, da mesma forma que vamos defender a promoção da criação artística. Vamos defender o bom-trato dos animais, como forma de acrescentar um “plus” à Democracia. Vamos dar oportunidades aos jovens da geração dita “à rasca” que agora começa a acordar. Quanto às Mulheres contem connosco! O SUL em terceira geração “Um jornal impresso tem de se reinventar ou tornar-se-á irrelevante”, dizíamos nós no primeiro número. Isto aplica-se perfeitamente a O SUL, que se vem reinventando sempre, e tem como slogan, “O SUL quando nasce é para todos”. Mas apresentemo-nos desde já aos nossos leitores desta nova viagem no SemMais. Esta é a terceira geração do O SUL, como “upgrade” para o SemMais, resultando de um “casamento” que, como em todos os contratos de casamento, vai trazer um enriqueci- mento dos nubentes, neste caso no domínio dos conteúdos, e uma maior visibilidade e amplitude para O SUL.

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Contem portanto também que vamos defender acrisoladamente o Património, um riqueza cultural que os portugueses e os poderes de- sprezam, por baixa auto-estima, da mesma forma que vamos defender a promoção da criação artística. Vamos defender o bom-trato dos animais, como forma de acrescentar um “plus” à Democracia. Vamos dar oportunidades aos jovens da geração dita “à rasca” que agora começa a acordar. Quanto às Mulheres contem connosco!

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Abertos a todos, agora, vamos à obra!António Serzedelo – Director

[email protected]

ano: 2011 . nr 14 . mês: março . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €

03.11 NR

14

O SUL é propriedade da cooperativa Prima Folia, primafolia.blogspot.com, uma cooperativa cultural, sem fins lucrativos, que o edita em Setúbal, e por cujos princípios se rege. Atente-se que a coop-erativa não recebe apoios do Estado, nem do Poder Local. Quanto ao jornal já vai na terceira geração.

Recuemos então até 1901, ano da criação do jornal O SUL, um semanário republicano, em plena monarquia, para o qual escreveram personalidades como Ana de Castro Osório ou Paulino de Oliveira. Na altura era o que hoje se chamaria um jornal alternativo, como este continua a ser, e por isso agradou e marcou a região, como este pretende marcar.

Passando a O SUL na versão de 2010, segunda geração, trata-se de um órgão de informa-ção, que visa ser um jornal de cul-tura e promoção de debates e partilha do conhecimento.

Por isso este mensário tem sido composto de reportagens, entrevistas, artigos de opinião das mais diversas sensibilidades, dando relevância à problemática do género, e publicando textos de divulgação do património histórico, cultural e natural en-volvente. O jornal está ao serviço do desenvolvimento nacional e regional, que neste distrito não é fácil, devido ao conservadorismo dos poderes fácticos. Somos pela promoção do progresso económi-co, social e cultural das popula-ções, com atenção para os mais desfavorecidos, tendo em conta os princípios da sustentabilidade e da verdade. Somos contra os discursos únicos, que tanto gras-sam na nossa sociedade, fruto de uma mentalidade herdada do passado que fez com que, em muitas cabeças dos nossos concidadãos, haja sempre ou um polícia ou um padre.

Para isso queremos contribuir para a existência de uma opinião pública infor-mada, activa e interveniente, contra a iliteracia reinante, pois isto é condição fundamental da democracia, e do exercí-cio pleno de uma Cidadania activa e não reactiva, como a que vimos vivendo, que não gera alternativas, e quer simultânea-mente isto, e o seu contrário.Contem portanto, os nossos leitores, com um jornal que vai promover a construção de uma cultura viva alternativa ao centro, ao invés de uma cultura suburbana como a que estamos vivendo, lutaremos pela compreensão da globalização, sem deixar de dar atenção ao global.

Contem portanto também que vamos defender acrisoladamente o Património, um riqueza cultural que os portugueses e os poderes de-sprezam, por baixa auto-estima, da mesma forma que vamos defender a promoção da criação artística.Vamos defender o bom-trato dos animais, como forma de acrescentar um “plus” à Democracia. Vamos dar oportunidades aos jovens da geração dita “à rasca” que agora começa a acordar. Quanto às Mulheres contem connosco!

O SUL em terceira geração

“Um jornal impresso tem de se reinventar ou tornar-se-á irrelevante”, dizíamos nós no primeiro número. Isto aplica-se perfeitamente a O SUL, que se vem reinventando sempre, e tem como slogan, “O SUL quando nasce é para todos”. Mas apresentemo-nos desde já aos nossos leitores desta nova viagem no SemMais.

Esta é a terceira geração do O SUL, como “upgrade” para o SemMais, resultando de um “casamento” que, como em todos os contratos de casamento, vai trazer um enriqueci-mento dos nubentes, neste caso no domínio dos conteúdos, e uma maior visibilidade e amplitude para O SUL.

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Identidade da Margem Esquerda?Procurar promover um discur-

so cultural para a região do Distrito de Setúbal não é tarefa de pouca dificuldade, até porque, em qual-quer análise mais rigorosa, nos apercebemos que a região aparece desprovida de uma identidade co-mum. Calibramos a nossa bússola e trocamos impressões com o Go-vernador. Ele aponta para o Sul, pois Norte não há. De um ponto de vista geográfico temos dentro da província sadina regiões bem distintas. No extremo Norte situa-se uma vasta área estuarina, com as suas especificidades. Segue-se-lhe uma zona plana, arenosa e razoavelmente fértil – a char-neca, que abrange os concelhos a Norte do Distrito. Depois temos outra, central, que corresponde a uma micro-região serrana. Segue-se-lhe uma vasta área estuarina, com as suas especificidades. Por fim, a Sul, temos a área do litoral alentejano, com características diferenciadoras bem vincadas. O Distrito não é nenhum continente geograficamente evidente, pelo que a ser algo mais do que um conjunto de linhas arbitrárias traçadas por um qualquer político da capital, terá de trata-se de um conceito cultural e histórico, um território de fronteiras imateriais.

Quando abordamos o proble-ma identitário numa perspectiva histórica, também não lhe vislum-bramos homogeneidade. Avieno e Plínio descrevem diversos povos, de diferentes origens e com graus civilizacionais distintos, para este território, antes da conquista ro-mana. Politicamente não houve unificação desta zona nem em período romano, nem nos seus subsequentes, à excepção da época em que todas estas terras foram doadas à Ordem de Santiago e Espada. Foi um fogo-fátuo, pois pouco depois as propriedades antes ofertadas foram anexadas à Coroa, extirpando qualquer se-mente identitária. Mesmo a criação do actual distrito é de data muito recente. Trata-se de um território de fronteiras novas.

É quando analisamos este território de um ponto de vista socioeconómico, que nos aperce-

bemos de ténues laços comuns. Há uma importante tradição operária em toda a região, em parte dela porque ali se fixaram as unidades industriais, noutra parte porque era quem as abastecia de forma directa, tanto em víveres, como em mão-de-obra barata, mercê das migrações dentro da região. A tradição operária também não é uniforme, pois pouco tem a ver a CUF (Barreiro) com a indústria conserveira (Setúbal), a corticeira

Mundet (Seixal) com a Lisnave (Ca-cilhas, Almada). A análise social do fenómeno industrial oferece-nos finalmente um ligante em comum. Tratam-se de grandes indústrias, mesmo as agro-industriais (vi-ticultura), que são detidas desde finais do Século XIX por um núme-ro limitado de famílias burguesas bem conhecidas. Do outro lado estavam os proletários, mão-de-obra massificada, que se formou dentro das ideologias anarquistas,

socialistas e comunistas, tudo isto bem cimentado e consolidado com o muito de sangue que jorrou dos trabalhadores para se defenderem da cobiça. Esse vínculo histórico semelhante, por vezes até parti-lhado em acções contestatárias concertadas, permite talvez falar de uma ligação solidária entre todo o território. Aliás, nesse fenóme-no assenta muito da explicação da Margem Sul ser a Margem Esquerda do Zeca Afonso, ou mais prosaicamente, um “Comunistão”. Essa força política vê-se, actualmente, reduzida à esfera local. O siste-ma de empregabilidade mudou, passando da indústria para os serviços. Essa transformação no sector do trabalho não implicou o enriquecimento dos trabalhadores, como é evidente, mas erradicou definitivamente a formação mar-xista das massas proletárias, o que coloca em causa essa matriz iden-titária. Tal é particularmente visível através de dois fenómenos, um primeiro indiscutivel-mente político, que é o facto de a nível nacio-nal os resultados das eleições cada vez se aproximarem mais da média do resto do país, baseada na polarização PSD/PS e, um segundo, de natureza demográ-fica, com o êxodo de habitantes de Lisboa para áreas com habitações a preços mais mó-dicos na periferia, o que amolece o sentido de pertença local.

Outro fenómeno cultural rele-vante é habitualmente subvalori-zado. Setúbal, para além de Distrito é, igualmente, uma Diocese. Apesar da história da Igreja ser longa e importante, ela não deixou de ser muitas das vezes apagada. Setúbal é a Diocese com menor prática católica do país, mas talvez por isso mesmo possui uma das igrejas mais pujantes e interventivas. Os desafios da contemporaneidade, que têm afastado os portugueses da prática católica nos últimos 30-40 anos, pouco eco tiveram

nesta Diocese. Aqui essa prática diminuída em muito antecede a queda do Estado Novo, está li-gada ao surto industrializante já aludido de finais de Oitocentos, que teve causas e consequências demográficas, sociais, culturais e políticas profundas. Trata-se de uma Igreja com rotina centenária de resistência e sacrifício, de traba-lho efectivo de “trincheiras”, o que

explica em muito o seu poderio e eficaz capacidade de res-posta, bem como das suas ONG’s (directas e indirec-tas), em território particularmente difícil e, quantas

vezes, declaradamente hostil. Ao contrário do que vemos no resto do país, aqui existe uma Igreja em crescimento. Mas se com D. Manuel Martins ainda podia ha-ver, para os mais distraídos, uma interpretação das acções da Igreja local como inspirada na “Teolo-gia da Libertação”, actualmente já ninguém pensa nisso.

É neste caldo, em que catolicismo e marxismo se en-contram reunidos numa mesma pane-la, com implicações económicas, socio-lógicas e psicológi-cas profundas, em que cada povoado os pondera nas

devidas proporções próprias es-pecíficas, mas sempre presentes, que vislumbramos um ligante neste território. E sendo estes os factores que condicionam a priori qualquer abordagem cultural, é com eles que teremos de reflectir. Tratam-se de dois fenómenos determinantes, mas, por si mesmos, não consti-tuem uma identidade, mas sim duas totalmente distintas e, a fazer fé nos pareceres de Bento XVI e Karl Marx, totalmente irreconciliáveis. Não deixa por isso de ser um território nas fronteiras da solidariedade … e isso é importante.

José Luís [email protected]

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Puxar pela excelência do distrito de SetúbalNeste primeiro número em que

O SUL é distribuído para o distrito de Setúbal com o semanário Sem Mais/Expresso, associo-me com gosto ao inicio desta relação.

Faço-o convocando à reflexão os agentes que representam os vários sectores da Sociedade Civil e os políticos do nosso distrito para a necessidade de criarmos uma estratégia concertada, que lhe reforce a identidade, supor-tada num projecto claro de qua-lidade em que todos os cidadão se revejam, para além das opções individuais de cada um.

Por múltipla razões o distri-to está hoje, ainda associado, no imaginário colectivo às dificul-dades da vida, simbolizadas no que foram as bandeiras negras e infelizmente menos às invulgares

e excepcionais potencialidades que encerra, para além da sua centralidade policroma que se estente do Litoral Alentejano ao Arco Ribeirinho-Sul.

Sucede, como a realidade o demonstra, que mesmo para a superação das dificuldades dos que mais sofrem, é decisivo prio-rizarmos a criação de riqueza, puxarmos pelo bem estar e pela qualidade de vida, e integrarmos estes objectivos na referida es-tratégia, de futuro e de reforço da nossa identidade.

Essa estratégia passa pela compreensão da centralidade do distrito, quer no plano interno que no da relação com o nosso único vizinho continental, a Espanha, para além da importância que o distrito tem para a ligação euro-

atlântica, a favorecer a valoriza-ção dos portos, sobretudo os de Sines e Setúbal.

Em função desta centralidade melhor se compreendem os es-forço que se têm levado a efeito nos últimos anos, com a programação de in-fra-estruturas essen-ciais para a afirmação de Portugal no mun-do, traduzidos entre outros na plataforma logística do Poceirão, nos investimentos na plataforma industrial de Sines, na dinami-zação turística da península de Tróia, para além do novo aero-porto no Campo de Tiro de Al-cochete, na nova travessia sobre o Tejo e no TGV, ainda que estes

últimos estejam condicionados agora pelos constrangimentos decorrentes da crise.

Estes objectivos não preclu-dem a necessidade de, face a esta crise, centrarmos também esfor-

ços na valorização de todo o sector primário, ou seja, na agricultura e nas pescas, para além da reindus-trialização, essen-ciais à criação de riqueza, numa ló-gica coerente que contr ibua para

responder ao próprio endivida-mento externo. Como é sabido não produzimos o suficiente para a nossa própria auto-sustentação alimentar, importante a maior

parte dos bens, o que não pode persistir. O distrito deve contri-buir fortemente para a alteração deste estado de coisas e não o fará se muitos continuarem a puxar para baixo.

Não temos tempo para perde-mos tempo para a concretização desta estratégia para o distrito.

Esta é a grande prioridade, incompatível, em absoluto, com a persistência da exploração do miserabilismo. Como está à vista de todos e que a persistir deve ser penalizada.

Temos que puxar pela exce-lência do nosso distrito! É este o caminho.

Vitor RamalhoPresidente da Federação

do PS do Distrito de Setúbal

Animais, Democracia e Poder LocalEm Dezembro do ano passa-

do, num sobressalto de cidadania, duzentas figuras públicas envia-ram ao ministro da agricultura um abaixo – assinado a favor de uma campanha nacional de “es-terilização de cães e gatos”.

Preconizava-se que esta cam-panha fosse feita em estreita cola-boração com os municípios, canis, médicos veterinários e associações, para levar a cabo este objectivo.

O século passado ficou co-nhecido pela erradicação da raiva, com a vacina. Pretende – se que este fique reconhecido, por ter reduzido o mau trato dos animais, diminuído a sobrepo-pulação dos de companhia, o abandono de animais, (que a crise económica pode agravar)

e por pôr termo ao seu abate, que é superior a 100 mil/ano e tende a aumentar.

É que a qualidade da Demo-cracia, e da Cidadania, também se mede pelo bom ou mau trato que dá aos animais, e infelizmente, em Portugal eles são muito mal tratados, havendo muito pouca consciência disso.

Não vamos aqui falar de touradas, nem de lutas de cães. Aque-las que tanto dividem a opinião pública, apesar do mau tratam que publicamente é infli-gido aos animais como espectá-culo. Setúbal é aqui uma cidade pecadora.

Mas estes problemas que pa-recem óbvios, e para os quais o ministério da agricultura numa reunião a que estive presente declarou “dar todo o apoio para

resolver”, mas lem-brando as “ restri-ções orçamentais “ tem outros busílis a ultrapassar.

Primeiro, é pre-ciso dialogar com a associação nacional de municípios, que em muitos casos não tem a mesma

sensibilidade do ministério, depois, é preciso fazer uma “abordagem estratégica “que passa pela con-trolo das populações, identificação de todos os animais, pelo abate dos

animais problemáticos, e esterili-zação dos restantes. Passa ainda pela criação de protocolos com associações de animais, de sensi-bilidades diferentes, universidades, ONG´s internacionais, e de novo o Poder Local. Entretanto, há que avaliar os recursos municipais e sobretudo impulsionar as associa-ções intermunicipais, que apontam desígnios mais vastos, com baixas de custos, mas a que alguns mu-nicípios são reactivos, por razões ideológicas. As associações ficaram de apresentar um projecto-piloto com custos, estratégias, e popu-lações abrangidas. Sugerimos a intervenção dos “media”, e in-formações no site do ministério, mas constatei certas reservas em mobilizar a cidadania.

Enfim, há que enfrentar o tema dos animais errantes. O zootécnico Pedro Vieira alertou para a gravida-de do que se passa na Serra da Ar-rábida, onde uma matilha de 6 cães, em 2003, se transformou em mais de 100, ameaçadores para pessoas, e rebanhos, depois de destruírem toda a fauna de raposas e coelhos da ser-ra. A DGV empurra para a Câmara de Setúbal, cujo canil não é modelo, que por sua vez empurra para DGV, que empurra para a direcção do Parque Nacional da Arrábida.

Todos reconhecem ser um caso grave de “saúde pública”. Até à data não tomaram decisões.

Mobilizem-se os cidadãos!

António Serzedelo – [email protected]

“ Por múltiplas razões o distrito está hoje ainda associa-do, no imaginário colectivo, às dificul-dades de vida

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“ (...) a qualidade da Democracia, e da Cidadania, também se mede pelo bom ou mau trato que dá aos animais

“ De um ponto de vista geográfico temos dentro da pro-víncia sadina regiões bem distintas.

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“ É quando analisamos este ter-ritório de um ponto de vista socioeconó-mico, que nos aper-cebemos de ténues laços comuns

Lenin, The New Brush That Sweeps Clean

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Indignação e alternativaDesta vez foram tanto a Sul

como a Norte as centenas de mi-lhar que vieram para a rua mos-trar a sua indignação na jornada da “Geração à Rasca”. Indignação por lhes ser negado o acesso às virtudes que o sistema costumava prometer: acesso ao emprego e razoável possibilidade de ascensão social, pelo menos ao nível do que os pais tinham conseguido.

Pode até recriminar-se a gera-ção anterior pelo bloqueio a que deixou chegar as coisas, mas, para além do fantasma de conflito ge-racional, o que transparece “é a descrença nestas elites políticas”, naqueles que “são supostos sa-ber conduzir” os representados. O que é deveras perturbador é a experiência colectiva da “ansieda-de associada ao reconhecimento de que têm de ser as pessoas”, os representados, a ensaiar realmente uma resposta (as aspas são para citar livremente Slavoj ZiZek no Seu “Da Tragédia à Farsa”).

Se este primeiro momento é o de desejar ainda (re)conquistar o direito a re-entrar no sistema, a verdade é que pode acontecer uma

aprendizagem adaptativa, mesmo que se desfaçam algumas ambi-guidades presentes no movimen-to. Desde logo porque não poderá abrir-se o sistema sem que acon-teça uma remodelação económica e política de tal forma que sejam

os excluídos de hoje a co-modelar o novo sistema também.

Essa remodelação tem obvia-mente de atingir o próprio modelo de democracia parlamentar que cultiva a passividade do voto de 5 em 5 anos e que gera uma adminis-

tração partidária e do Estado opa-cas. E tem de envolver igualmente a rigidez do arco da representação partidária na medida em que são ne-cessários novos protagonistas com novas soluções partidárias e novas lideranças em partidos tradicionais mais permeáveis ao poderoso sen-timento que vem de baixo, da rua. O evolucionismo que se advinha é o de ser necessário abordar a questão programática com um forte pendor para assumir as dores concretas da governação e que permita ir experi-mentando trans-formações que relancem a pros-peridade e o emprego. Só uma nova disposição para discutir estratégias de governo, na praça pública e em aberto confronto negocial com os potenciais parceiros que gerem maiorias viabilizadoras, poderá trazer à esquerda o protagonismo na construção da prosperidade, ao invés do que tem sido o seu enfoque no protesto e em meros ganhos elei-

torais. Importa portanto que haja à esquerda o amadurecimento de um combate pela boa administração do país só possível de resto com reformas inadiáveis na economia e no Estado.

E é chegados aqui que se tor-nam imperativas as discussões sobre os eixos transformadores.

Devem suscitar um amplo debate proble-mas como a evolução do sistema assalariado que comprometa os trabalhadores num empreendimento de prosperidade, nome-adamente na esfera da economia pública e no apoio à inovação, e na

questão europeia com a resposta a dar às orientações neoliberais que prevalecem amplamente na direc-ção da União Europeia. No fundo a mensagem é esta: a “geração à rasca”, para ganhar o seu lugar na história e na construção do país, tem de se desenrascar.

Paulo FidalgoRenovadores Comunistas

FICHA TÉCNICA:Propriedade e Editor: Prima Folia - Cooperativa Cultural, CRL . Morada: Rua Fran Paxeco nr 178, 2900 Setúbal . Telefone: 96 388 31 43 . NIF: 508254418 . Director: António Serzedelo . Subdirector: José Luís Neto Consultores Especiais: Fernando Dacosta e Raul Tavares . Conselho Editorial: Catarina Marcelino, Daniela Silva, Hugo Silva, Leonardo da Silva, Maria Madalena Fialho, Paulo Cardoso . Directora de Arte: Rita Oliveira Martins . Consultor Artístico: João Raminhos . Morada da redacção: Rua Fran Pacheco n.º 176 1.º andar 2900-374 Setúbal . E-mail: [email protected] . Registo ERC: 125830 . Depósito Legal: 305788/10 . Periodicidade: Mensal . Tiragem: 45.000 exemplares . Impressão: Empresa Gráfica Funchalense, SA – Rua Capela Nossa Senhora Conceição, 50 – Moralena 2715-029 – Pêro Pinheiro

Um impressionante e inconsequente protestoNo último 12 de Março, uma

suposta “geração à rasca” saiu à rua numa dúzia de cidades do país. Em protesto. Por Lisboa, contaram-se umas 200 mil pes-soas. Por entre as restantes, outras 100 mil. Os números, diga-se, im-pressionaram toda a gente.

Ou nem toda a gente. Uma leitura do ‘manifesto’ da rapaziada (o oficial) – uma coisa pobre, desinteressante e insípida – não deixa de ajudar a explicar o fenómeno. Engendra-do para não excluir nada nem ninguém, o dito ‘movimento’ propunha-se a abria a porta a todos os que se decidissem a protestar contra a ‘precariedade’. Sem limite de idades, credos, ideias, ou a falta delas, todos estavam convocados. E se a coi-sa começava como intencionalmente vaga, veio naturalmente a terminar particularmente confusa. Por entre anarquistas, nacionalistas, e outros tantos anacronismos célebres, não faltou quase ninguém. Pelos partidos

com assento parlamentar – que, coi-tados, não possuem outra forma de expressão – as ‘jotas’ do BE, do PCP e do PSD marcaram a sua presença. Os dos do PS, apesar de fisicamente ausentes, espiritualmente não deixa-ram de trautear umas músicas; afinal, não fora o próprio Primeiro-ministro José Sócrates quem viria a revelar que “compreendia” muito bem o senti-mento dos manifestantes, enquanto

desculpava a sua au-sência pelas presen-tes obrigações de um trabalho que hoje em dia ele próprio sente como ‘precário’?

É claro que, no meio de todas as ‘cantigas de inter-

venção’ e ‘palavras de ordem’, ninguém gastou um momento da sua ocupada vida a pensar no que realmente o havia ali levado. Afinal, nem nisso “a geração com o maior nível de formação na história do país” quis ser muito diferente de qualquer outra, tendo faltado a algumas aulas básicas.

A duas pelo menos. Uma sobre economia e outra sobre educação. Por esta ordem. Muito simples-mente, Portugal não tem uma economia intermédia sólida; e por isso, muito logicamente, não se demonstra capaz de gerar qualquer forma de trabalho intermédio. O que existe, e já existe há muito tempo, é al-gum (pouco) emprego para pessoas com altas qualificações e um vasto emprego para pessoas com baixas qualificações – algo que não implicam muito mais que uma formação de 9º ano. Enquanto foi possível, o emprego na máquina do Estado foi absorvendo todos aqueles que estavam no meio – uma solu-ção desde logo a prazo e em última análise ruinosa, mas que servia para esconder a crua realidade. Agora isso acabou. Agora, a mentira em que o sistema educativo português se tem baseado, e que muitos se esforçaram por alimentar, chegou ao seu limite:

a de que uma licenciatura dava ga-rantias automáticas de emprego. E com uma agravante: a qualidade da

dita educação piora de dia para dia. Hoje não se ensina; ‘qua-lificam-se’ pessoas para um mercado de trabalho inexis-tente.

Perceber como se chegou a esta miséria deveria ter sido o primeiro e único objectivo de toda aquela gente.

Infelizmente, não foi, tendo-se pre-ferido antes exigir acéfalamente “um futuro digno, com estabilida-de e segurança em todas as áreas da nossa vida”: na educação, no trabalho, na saúde, na família, no amor. Uma loucura claustrofóbica que ignora uma premissa base de toda a existência: na vida não há garantias. De nada.

Por esta razão não deixa de ser sintomático a ‘frase de ordem’ que fecha o dito ‘manifesto’: “Protestamos

por uma solução e queremos ser par-te dela.” Uma frase simples que en-cerra em si mesma todo um projecto: a “geração à rasca”, longe de desejar uma reforma de um Estado falido e de um regime falhado, exige, isso sim, que esse mesmo Estado e regime os absorva, como durante anos, aliás, absorveu muitos outros.

Sim, as pessoas têm plenas ra-zões para estarem insatisfeitas. E sim, o número de manifestantes impressionou. Quase tanto como a clara inconsequência da coisa. O protesto de 12 de Março poderia ter sido importante e marcar o prin-cípio de uma mudança de menta-lidades. Infelizmente, não o foi. Ao invés de procurar responsabilizar os vários governos que se têm de-leitado a gerir irresponsavelmente e mentirosamente este país desde 1974, a “geração à rasca” preferiu antes exigir ao país a cota parte do bolo de que se acha merecedora. No fundo, nada mudou.

Tiago Apolinário BaltazarEstudante Universitário

A censura contra a economia parva

No dia em que o Bloco de Es-querda apresentou a sua moção de censura, o primeiro-ministro garantia no parlamento que o or-çamento estava controlado e que estava tudo de acordo com o guião. Deixem-nos trabalhar, repetia, lem-brando alguém do passado.

Sabemos agora que, à mesma hora, já o governo tinha negociado com a União Europeia e o BCE um novo pacote de austeridade que implica reduzir para um terço as

indemnizações por despedimento, congelar as pensões e diminuir mesmo algumas, cortar no serviço de saúde, aumentar os preços da electricidade, liberalizar as rendas de casa dos inquilinos mais velhos e provavelmente cortar nos sub-sídios de férias e de Natal.

Para um país que entra agora em recessão, graças às medidas nego-ciadas pelo PS e PSD, não está mal. Curamos a economia através das medidas parvas, para parafrasear os

Deolinda – a solução do governo é continuar a facilitar despedimentos, diminuir salários e pensões e finan-ciar o sistema financeiro.

Não sei onde estão agora os que diziam que a moção de censura era inoportuna, radical e extremista. Já vemos onde estão os radicais, ino-portunos e extremistas: no governo e na direita, cujas políticas provocam o maior desemprego da nossa história. Precisamos de alguma prova mais de que esta economia é destruidora?

De que não traz nenhuma solução? De que persegue os salários e pen-sões? De que só garante aos jovens que os vai expulsar cá dentro? Não precisamos. Esta política tem que ser parada e já.

Foi esse o sentido da gigantesca manifestação das “gerações à ras-ca”. A maior moção de censura já conhecida. Um governo isolado e uma direita aflita. Continuar esse combate é hoje a única garantia que temos de recuperar a democracia

e de estabelecer uma economia decente, que proteja os salários e crie emprego, que tribute o sistema financeiro e ataque as desigualda-des. Esse é o sentido da acção do Bloco de Esquerda, porque só por esta via se pode conseguir a força, a maioria, a determinação para uma governação de esquerda para uma política socialista.

Francisco LousãDeputado – Coordenador do BE

Agora sim, damos a volta a isto?Agora sim, damos a volta a isto! / Agora sim, há pernas para andar! / Agora sim, eu sinto o optimismo! / Vamos em frente, ninguém nos vai parar!

Foram 300 mil as pessoas que, por todo o país, aderiram ao Protes-to da Geração à Rasca. Um mar de gente e de opiniões divergentes que – partilhando a urgência de fazer algo para contrariar aquilo que Salgueiro Maia designaria por “o estado a que isto che-gou” – saiu às ruas e deu mediatismo a uma insatisfação latente – e crescente – há muito.

Com esta força popular transversal às gerações, vamos começar, por fim, a construir um país melhor, um Portugal mais justo.

A matéria-prima existe e a von-tade de criar alternativas foi visível nos últimos três anos, com a fun-dação de cinco novas forças partidárias – uma efervescên-cia que só encontra paralelo nos anos 70 e que se torna mais notável pelo facto de, em 2003, PSD, PS e CDS-PP terem aumentado em 50% o número de assinaturas exigidas para legalizar um partido, a par de outras medidas tendentes a dificul-

tar a sobrevivência das forças de menor expressão.

Então, o que nos pode travar?

Agora não, que falta um impres-so... / Agora não, que o meu pai não quer... / Agora não, que há engar-rafamentos... / Vão sem mim, que eu vou lá ter...

Nós mesmos. Apesar de terem superado as barreiras institucio-

nais, quatro dessas cinco novas forças políticas (o Parti-do pelos Animais e pela Natureza ainda não se submeteu a eleições) tiveram uma fraca presta-ção eleitoral.

Então e a ne-cessidade de novos actores? Não supera a resistência à mudança? Estaremos assim tão apegados à lógica de “mais vale um diabo conhecido...”? Se a descrença nos

partidos que gover-naram o país nos úl-timos 35 anos atinge o nível expresso a 12 de Março, como con-tinuam essas forças a ter mais de três quar-tos da representação parlamentar?

Entre os inúmeros factores que contribuem para este cenário, destacaria dois. Em primei-ro lugar, temos um sistema eleitoral

que, ao dividir o país em 20 círculos, favorece os dois maiores partidos, quando um círculo nacional único permitiria aumentar a pluralidade no parlamento. Em segundo, preva-lece no discurso político e mediático uma lógica maniqueísta inerente à suposta “eleição do primeiro-ministro” nas legislativas, quando estas visam, na realidade, eleger os 230 deputados da Nação.

Se é verdade que as mudanças de que o país carece passam por todos e não apenas pela classe política, também é certo que esta

assume um lugar privilegiado na definição dos rumos colectivos. Por isso se torna tão premente eleger melhores representantes – parlamentares mais conscien-tes do impacto das medidas que votam e que não verguem o seu “sim” ou “não” às indicações de um líder ou o condicionem à mera proveniência das propostas.

Num momento em que as le-gislativas antecipadas são um dado adquirido, os eleitores devem assu-mir a responsabilidade de recusar o facilitismo da abstenção, do voto

nulo ou do voto em branco, e es-colher entre as opções disponíveis – e não apenas entre os alegados “candidatos a primeiro-ministro” – deputados que, à semelhança da vi-talidade cívica que inundou as ruas a 12 de Março, inundem de vida (e de soluções) o debate político.

Porque, afinal, como se lia num mural pintado há uns anos em Setúbal, “mais vale um deputado acordado do que dez a dormir”.

Luís Humberto [email protected]

“ Temos um sistema eleitoral que, ao dividir o país em 20 círculos, favo-rece os dois maiores partidos

“ Foram 300 mil pessoas que, por todo o país, aderi-ram ao Protesto da Geração à Rasca

“ o que trans-parece “é a descrença nestas elites políti-cas”, naqueles que “são supostos saber conduzir” os repre-sentados

“ Uma leitura do ‘manifesto’ da rapaziada (o oficial) – uma coisa pobre, desinteressante e insípida – não deixa de ajudar a explicar o fenómeno“ Por entre

anarquistas, nacio-nalistas, e outros tantos anacronismos célebres, não faltou quase ninguém

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Decrescimento, Crise, EcologiaAssim, visto que não há no planeta lugar para sete mil milhões de consumidores, a nossa primeira obrigação consiste em reduzir sensivelmente as nossas ilusões a esse respeito.

Carlos Taibo

Ao ritmo alucinante que os tele-jornais e outros media nos intoxicam com esse espectáculo de variedades chamados notícias, vamos-nos aper-cebendo de que algo anda mal por aqui. Mas a intoxicação que pouco permite pensar dá-nos uma ideia confusa da crise que vivemos. De-crescimento é uma palavra assusta-dora no meio de tudo isto, mas que funciona, não como uma solução, mas como um convite à reflexão.

Vivemos uma crise, é certo. Mas que tipo de crise? Ou de que crises? Este debate tenta centrar-se sobretudo na crise dos recursos naturais. É um debate difícil porque precisamente por cima desta aná-lise padecemos da intoxicação que nos colonizou o imaginário e nos faz olhar para a economia como o deus supremo do mundo. O convite então fica em tentar perceber que economia teríamos sem recursos? Sem petróleo, sem trigo, sem mine-rais... E quem acredita que podemos consumir eternamente num planeta onde os recursos são finitos, ou é louco, ou é economista.

O debate do decrescimento centra-se muito aqui. Se consi-derarmos o consumismo como indústria, falaremos com certeza

da maior actividade económica mundial. Plasmas, gps’s, roupa e calçado, automóveis, turismo, portáteis, telemóveis... voam a um ritmo alucinan-te das prateleiras do consumo para as casas das con-sumidoras. A eco-nomia de um estado mede-se pelos ín-dices de confiança do consumo e não pela nossa felici-dade real. Se não há consumo, não há economia, se não há economia não há em-pregos e por aí adiante... Espirais loucas e sem fim que parecem não ter soluções nem fins.

E é complicado procurar outras soluções, requer um esforço indivi-dual enorme pensar de outra forma que não a imposta pelas 3000 men-

sagens diárias que uma pessoa recebe da publicidade a diá-rio. Seja pela tv, pelos jornais ou pelos cerca de 40kg de panfletos que cada pessoa dei-ta ao lixo por ano... A publicidade já é a se-gunda maior indústria mundial a seguir à do

armamento. Por isso, juntando-a às indústrias que nos permitem este modo de vida irresponsável, certa-mente temos o consumismo como grande motor da nossa economia.

Juntando a facilidade ao crédito para continuar a consumir e a ob-solescência programada, vemos que estamos dentro de uma teia bem montada para nos prender a esta forma de viver.

Tendo em conta o fim do petró-leo e ainda não termos encontrado alternativas viáveis para manter o mesmo modelo (biocombustíveis e automóveis eléctricos não são solução) os caminhos para en-contrar viabilidade escasseiam, pois tal acontece com os recursos. O modelo agro-industrial ameaça a soberania alimentar das pessoas, como vemos acontecer no Médio Oriente e noutros lugares. A resposta é complicada, mas o movimento do decrescimento aponta soluções

nada desprezáveis. Mas parece que repensar o nosso modo de vida, o do norte opulento, que se alimenta vorazmente à custa dos países afri-canos, americanos e asiáticos é cada vez uma questão mais urgente.

Menos é mais. Menos consumo é mais qualidade de vida. Menos tra-balho é mais tempo e lazer. Menos velocidade é mais eficiência. Decres-cer não significa atirar-nos para a idade da pedra. Agora, um modelo capitalista que para alimentar um europeu exige 2 ha de terra pode bem atirar-nos para um lugar bem pior. Se o planeta tem 13 biliões de hectares de superfície e somos 7 biliões de habitantes é fácil fazer as contas.

João de Sousa Gomes

Viver e Conviver Positivamente com o VIHHoje, na África e no resto do

Mundo (onde o problema é escas-sez de antiretrovirais), resolvido o problema da sobrevivência ao SIDA fica o problema social do VIH.

Quanto maior a distância dos grandes centros, maior o fenóme-no de “insularidade” e isolamen-to dos portadores VIH e menor a probabilidade de es-tes, nas suas regiões, encontrarem formas de sociabilizarem e de combaterem a auto-exclusão.

Surge por isso a Rede Positivo, uma rede reconhecida e ao serviço da CPLP, como uma resposta sob a forma de uma rede social destinada a sero-positivos e a todos aqueles que se preocupam e que de algum modo se relacionam com os assuntos que lhes dizem respeito e que dispõe de Chat, Fóruns, Blogues, Deba-

tes e Informação VIH/SIDA e Co-Infecções (www.redepositivo.org) e que está presente em diferentes localizações na internet e enquan-to marca, tais como: Facebook/Orkut/Blogger/Badoo/GNP+/Aidsspaces (ONUSIDA).

Reflectindo sobre este pro-blema e no que ele constitui

para quem vive e sobrevive com esta patologia, importa falar-se – e na nossa sociedade sobretudo – do enorme proble-ma do estigma e ao preconceito ligado ao VIH e ao peso de ser portador, à con-

sumação dos afectos apesar do que isso implica no ato de reve-lar ao outro o estatuto serológico, como ainda nas relações laborais e familiares.

Nenhuma outra patologia tem tanto estigma e preconceito as-

sociado, mas existem as mesmas pessoas com os mesmos estigmas sociais em todas elas. Só no VIH as pessoas se interrogam primeiro como a con-traiu e depois, como se sente ou como o porta-dor/paciente lida com o assunto.

Todos temos direito à integração social. O estigma e o preconcei-to existem e seria um erro crasso negá-lo. Numa comunidade de seroposi-tivos, qualquer pessoa com VIH/Sida se sente segura e na socieda-de em geral, juridicamente, todos temos o direito à não discrimina-ção que lhe é constitucionalmente garantida.

A revelação do estado serológi-co é opção do indivíduo. A atitude de revelar a sua condição de saúde, tal como a opção sexual, é algo de muito íntimo e não deve ser toma-

da de ânimo leve. A prevenção sim, é obrigação de todos. Devemos gostar de nós mesmos e respeitar

o outro, de na dúvi-da (ou não), usar o preservativo.

O VIH é hoje, nos países desen-volvidos, nos casos onde os antiretro-virais estão razoa-velmente disponí-veis, um Síndrome Inflamatório Cró-

nico Adquirido e uma doença que predispõe os pacientes para problemas cardiovasculares e para depressões, cujo mecanis-mo ainda não compreendemos completamente.

Embora não exista cura para o VIH, podemos ter esperança nisso e no avanço em melhores tratamentos, que aliás estão em fase de desenvol-vimento (quase todos os dias saem novidades sobre isso ao contrário

de há anos). Existem esperanças re-dobradas saídas do mapeamento de processos feito durante o sucesso de cura do Homem de Berlim.

Não afirmamos isto sob o pressuposto que o VIH é hoje uma doença letal (mas pode ser), mas porque é uma doença crónica, complicada, pode muito bem não ser a única que venha por essa via e o tratamento é caro e fica con-nosco para a vida toda.

Temos é sim, a obrigação con-nosco próprios de procurar formas de sociabilizar abertamente e sem-pre que possível duma forma segu-ra, para que nos possamos sentir mais iguais, mais libertos e menos sós e sem preconceitos. Qualquer que seja a situação é nossa missão lutarmos pelo direito que nos assis-te a todos de sermos felizes.

Luís SáREDE POSITIVO

www.redepositivo.org

"Minha pátria é a língua portuguesa", Fernando PessoaComo é sabido, a revista A Águia

foi uma das mais importantes do início do século XX em Portugal, em que colaboraram algumas das mais relevantes figuras da nossa Cultura, como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Le-onardo Coimbra, António Carneiro, António Sérgio, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva. A ideia de re-lançar a revista, agora sob o nome de NOVA ÁGUIA, pretende ser uma homenagem a essa tão importante revista da nossa História, procuran-do recriar o seu “espírito”, adaptado aos nossos tempos. Não se trata, nessa medida, de fazer uma revista voltada para o passado, meramente revivalista. Trata-se, antes, de fazer uma revista para os tempos de hoje, para o século XXI.

Tal como n’ A Águia, procurare-

mos o contributo das mais relevantes figuras da nossa Cultura, que serão chamadas a reflectir sobre deter-minados temas. O tema do sexto número, que agora lançamos, é “Fernando Pessoa: “Minha pátria é a língua portuguesa” (nos 15 anos da CPLP)”. Uma vez mais, a NOVA ÁGUIA celebra, de forma assumida e descomplexada, as figuras maiores da nossa Cultura.

Para além de Fernando Pessoa, outros autores são abordados neste número da Nova Águia – nomeada-mente, António Feliciano de Castilho, Carlos Queiroz e António Quadros, de quem publicamos um texto, “Da língua portuguesa para a filosofia portuguesa. Neste número, quisemos ainda homenagear Malangatana, recentemente falecido, dada a sua importância para a cultura lusófona.

Para além das rubricas habituais, publicamos ainda um longo ensaio de cariz pedagógico, bem como al-gumas recensões, a maior parte delas de títulos da “Colecção Nova Águia”, em que se publicaram já mais de vinte títulos (ver lista no final).

Incluindo este número todos esses textos, mais alguns po-emas – a Nova Águia tem sempre publicado poesia –, tivemos que sacrificar em parte a secção “Minha pátria é a língua portuguesa” (nos 15 anos da CPLP)”, apesar da importância do tema para nós – como se pode ler no “Manifesto da Nova Águia”, publica-do no primeiro número da revista:

“Portugal não pode ser pensado fora da grande comunidade dos cerca de 240 milhões de falantes, em todo o mundo”. Alguns dos textos que

não couberam neste número serão, contudo, publicados no próxi-mo, cujo tema maior será: “O Pensamento da Cultura de Língua Portuguesa: nos 30 anos da morte de Ál-varo Ribeiro”.

Como tem acon-tecido semestre após semestre, também este número será lançando

por todo o país e em vários locais do espaço lusófono, dado o apoio que o MIL: Movimento Internacional Lusófono (www.movimentolusofono.org) tem dado a este projecto. O MIL

é um movimento cultural e cívico, registado notarialmente no dia 15 de Outubro de 2010, que conta já com mais de 5 MIL adesões, de todos os países da CPLP. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por meia centena de pes-soas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países lusófonos – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procu-rando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.

Renato EpifâneoNOVA ÁGUIA: REVISTA

DE CULTURA PARA O SÉCULO XXIwww.novaaguia.blogspot.com

A persistência do NaturalismoOs pintores que a partir de 1830

escolheram a aldeia de Barbizon para pintar fundaram o Naturalis-mo e lançaram a semente de uma revolução na pintura. O seu sucesso não se deveu a um consistente su-porte teórico, que não existia, nem à realização de obras especialmente elaboradas ou inovadoras, o que de um modo geral também não acon-tecia; deveu-se, sim, a uma atitude que marcou a diferença.

Os pintores da escola de Barbi-zon recusaram o ensino académico, fechado, previsível e sempre agar-rado aos mestres do passado, onde apenas eram considerados os temas tidos como nobres, como a mitolo-gia, a história e o retrato (nesta altu-ra, em França, a religião já não era tema que tivesse muitos adeptos). Pretendiam apenas pintar o dia-a-dia do espaço onde estavam inseri-dos, com especial destaque para as paisagens e para o trabalho rural. Duas décadas depois esta atitude viria a ter reflexos também no meio urbano de Paris, numa primeira fase através do Realismo.

A focagem no presente retirou exclusividade aos temas admitidos pelos académicos. O ar livre per-mitiu descobrir coloridos, reflexos, sombras, brilhos, texturas e am-bientes impossíveis de discernir nos estúdios. E para isso bastou-lhes trocar a escola de belas-artes pela “escola das belas árvores”, como lhe chamavam.

O colorido de ar livre tornou-se o principal pilar do Impressionis-mo. A valorização da cor nos seus múltiplos aspetos (atmosféricos,

simbólicos, emocionais, etc.) vai estar também presente no Pós-impressionismo, no Simbolismo e no Expressionismo. A partir daqui surge um rol de movimentos e de grupos que, ao longo do século XX, fizeram com que a pintura não mais voltasse a ser como antes.

O Naturalismo continuou e es-palhou-se por toda a Europa e até fora dela após 1870, quando a escola de Barbizon se desintegrou. Con-tudo, este movimento foi relegado para segundo plano, trucidado por

outros que não teriam existido sem ele, assim como por historiadores e teóricos que valorizam no séc. XX apenas os que se afastavam da rea-lidade objetiva. O Naturalismo pas-sou a ser um movimento de artistas dispersos e sem organização, tendo como suporte teórico o de sempre, primordial e básico, apenas acres-centando à sua temática original a paisagem urbana e o retrato.

Contudo, o Naturalismo não de-sapareceu. São naturalistas os pinto-res que registam as paisagens da sua

terra; são naturalistas aqueles que pintam as coisas comuns à sua volta, com um razoável grau de fidelidade. Alguns entre eles são senhores de um elevado domínio técnico.

Ora, um movimento artístico que resistiu a mais de cem anos de desprezo pelos fazedores da histó-ria, que não alinhou em inovadoras propostas estéticas, mesmo que aliciantes, obviamente tem de ser visto com respeito. Não se tenham dúvidas de que, além dos poucos conhecidos, outros nomes de valor se escondem ainda, merecendo ser valorizados e divulgados.

No Naturalismo português do séc. XX ainda são poucos os no-mes sonantes que marcam o seu lugar na história, como Abel Manta e Henrique Medina. Por que não incluir nesse grupo o setubalense Luciano dos Santos, com uma obra coerente e de qualidade, de quem se comemora presentemente o cen-tenário do seu nascimento?

António GalrinhoProfessor

NOVA ÁGUIA, Nº 7 (nos 15 anos da CPLP)

Luciano dos Santos - O Ensino e o Trabalho, fresco do átrio da Escola Secundária de Sebastião da Gama, em Setúbal, 244x697, 1955

“ Tal como n’ A Águia, procurare-mos o contributo das mais rele-vantes figuras da nossa Cultura, que serão chamadas a reflectir sobre de-terminados temas

“ Todos temos direito à integração social. O estigma e o preconceito existem e seriaa um erro crasso negá-lo

“ (...) um mo-delo capitalista que para alimentar um europeu exige 2 ha de terra pode bem atirar-nos para um lugar bem pior

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“ Temos é sim, a obrigação conosco próprios de procurar formas de sociali-zar abertamente e sempre que possível duma forma segura

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Sede: Rua Cabral Adão lote 18 – loja 16 – 2900 – 679 Setúbal Tel. 265 571 316 / Fax 265 548 189 - [email protected]

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