NotiFax de 15 de Março de 2009

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Boletim Quinzenal do Instituto Português de Cultura

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Caracas, Venezuela * Ano IX – Época II * 15 de Março de 2009 RIF: J301839838

* Vergílio Ferreira: do neo-realismo ao existencialismo ou “entrar a escrever no paraíso

Além de professor, foi romancista, contista,

ensaísta e diarista. Também escreveu poesia, mas nunca a publicou se exceptuarmos alguns poemas incluídos nos seus diários. Conquistou o Prémio Camões, o mais importante da língua portuguesa e tem um prémio e uma biblioteca municipal que levam o seu nome. Entre 1943, data da publicação de O Caminho Fica Longe e 1996, ano da sua morte e da edição póstuma de Cartas a Sandra, escreveu perto de meia centena de obras. Ainda que nunca esteve emigrado, foi um escritor profundamente marcado pela emigração, na medida em que viu os pai partirem para os Estados Unidos quando tinha só 4 anos.

Com a devida vénia, transcrevemos de http://bmgouveiavf.blogspot.com/2006/10/biografia.html o seguinte esboço biográfico de este escritor que pediu ser sepultado, na sua terra natal, “virada para a serra”.

“Nasceu em Melo, no concelho de Gouveia, em Janeiro de 1916, filho de António Augusto Ferreira e de Josefa Ferreira. A ausência dos pais, emigrados nos Estados Unidos, marcou toda a sua infância e juventude. Após uma peregrinação a Lourdes, e por sugestão dos familiares, frequenta o Seminário do Fundão durante seis anos. Daí sai para completar o Curso Liceal na cidade da Guarda. Ingressa em 1935 na Faculdade de Letras, na Universidade de Coimbra, onde concluirá o Curso de Filologia Clássica em 1940. Dois anos depois, terminado o estágio no liceu D. João III, nesta mesma cidade, parte para Faro onde iniciará uma prolongada carreira como docente, que o levará a pontos tão distantes como Bragança, Évora ou Lisboa.

Este homem reuniu em si diversas facetas, a de filósofo e a de escritor, a de ensaísta, a de romancista e a de professor. Contudo, foi na escrita que mais se destacou, sendo dos intelectuais contemporâneos mais representativos. Toda a sua obra está impregnada de uma profunda preocupação ensaística.

Vergílio foi também um existencialista por natureza. A sua produção literária reflecte uma séria preocupação com a vida e a cultura. Este escritor confessou a Invocação ao meu Corpo (1969) trazer em si “a força monstruosa de interrogar”, mais forte que a força de uma pergunta. ”Porque a pergunta é uma interrogação segunda ou acidental e a resposta a espera para que a vida continue. Mas o que eu trago em mim é o anúncio do fim do mundo, ou mais longe, e decerto, o da sua recriação”. Este pensador tecia reflexões constantes acerca do sentido da vida, sobre o mistério da existência, acerca do nascimento e da morte, enfim, acerca dos problemas da condição humana.

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Ainda nos restou o imenso homem, que ficou dentro da obra, pois, como o próprio declarou, o autor nunca pode ser dissociado da sua obra porque nela vive, respira e dela fica impregnado. Vergílio entregava-se à escrita de corpo e alma, tinha essa obsessão; após a qual se sentia vazio, mas depois de um livro voltava a renovar-se para dar corpo a outro. “Escrever, escrever, escrever. Toma-me um desvairamento como o de ébrio, que tem mais sede com o beber para o beber, ou do impossível erotismo que vai até ao limite de sangrar. Escrever. Sentir-me devorado por essa bulimia, a avidez sôfrega que se alimenta do impossível”.(Pensar, 1992).

A obra de Vergílio Ferreira recebeu influências do existencialismo de Sartre, de Marco Aurélio, Santo Agostinho, Pascal, Dostoievski, Jaspers, Kant e Heidegger. Os clássicos gregos e latinos como Ésquilo, Sófocles e Lucrécio, também assumiram uma importância vital nos pensamentos deste escritor. No livro Mito e Obsessão na Obra de Vergílio Ferreira, Eduardo Lourenço afirma que “faz parte que se considere Vergílio Ferreira numa perspectiva ideológica, como autor de ruptura e tentativa de superação e reformulação do ideário neo-realista; numa perspectiva metafísica, como romancista do existencial no sentido que ao termo foi dado pela temática chamada existencialista; e, finalmente, numa perspectiva simbólica, como romancista de uma espécie de niilismo criador ou, talvez melhor, do humanismo trágico ou tragédia humanista”.

Os romances Uma Esplanada sobre o Mar (1987), pelo qual recebeu o prémio da Associação Portuguesa de Escritores, e Em Nome da Terra (1990) retomam o tema da transitoriedade da vida, sujeita ao passar do tempo. Em 1993 edita em Na Tua Face, uma das suas obras mais exemplares, em que desenvolve uma reflexão aprofundada acerca da beleza e da sua transitoriedade. Este escritor, que aos 80 anos declarou “vou entrar a escrever no paraíso”, veio falecer a 1-3-1996. Deixou um livro entregue ao editor, publicado posteriormente intitulado Cartas a Sandra (1996), em que se pode reencontrar a personagem Xana, filha do narrador do romance Para Sempre, apresentando ao leitor cartas escritas pelo pai à sua mãe. Após a morte do escritor a Câmara Municipal de Gouveia e a Universidade de Évora criaram prémios literários em memória de Vergílio Ferreira.

O espólio do escritor composto por prémios, livros e alguns objectos pessoais foi doado a Gouveia, concelho de onde Vergílio Ferreira era natural e estão em exposição na Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira. O seu espólio de originais manuscritos de quase todos os seus romances foi doado à Biblioteca Nacional.”

* Assembléia Anual do IPC….

Conforme rezam os estatutos da Fundação Instituto Português, de Cultura decorreu no passado dia 29 de Fevereiro a assembleia anual, no decurso da qual foram apresentadas as contas da nossa organização, as quais foram aprovadas por unanimidade. Na mesma reunião foi apresentado o relatório de actividades correspondentes a 2008, e a assistência considerou que tinha sido um ano positivo para a divulgação da cultura portuguesa na Venezuela, dada a quantidade e variedade de iniciativas que foi possível realizar.

O acto começou com um minuto de silêncio em homenagem a Sérgio Alves Moreira, falecido recentemente e quem fora um dos fundadores da Comissão Fernando Pessoa e do Instituto Português de Cultura.

www.institutoportuguesdecultura.blogspot.com Visite o nosso blogue!

Informações em português, castelhano, inglês e francês. Actualizações frequentes

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* Ano Vieirino: Exposição e conferência...

No dia 20 de Março será inaugurada nos espaços do Centro Português, de Caracas, uma exposição dedicada ao religioso, político e grande orador, que vivendo entre Portugal e o Brasil, atravessou quase todo o século XVII e que, apesar de membro da Companhia de Jesus e de favorito do poder real durante muitos anos, foi ferozmente perseguido pela Inquisição do seu tempo. Conhecido pelos índios do Brasil como Paiaçu – grande pai na língua tupi – o Pe. António Vieira é o autor de alguns dos mais belos sermões em língua portuguesa, em muitos dos quais aponta o dedo crítico aos colonos portugueses interessados quase exclusivamente no enriquecimento rápido nas terras do Brasil. A exposição estará patente até 27 de Abril.

No mesmo dia da inauguração da exposição, o professor Miguel Moiteiro, leitor do Instituto Camões, proferirá uma conferência sobre o Pe. António Vieira e a Ideia do V Império, no Cantinho da Cultura do CP.

* Herberto Hélder: Reeditar? Eu não!

Herberto Hélder é um dos melhores poetas portugueses contemporâneos. Apesar de ser madeirense – nasceu no Funchal em 1930, no seio de uma família judaica – atrevemo-nos a dizer que é pouco conhecido pelos madeirenses que vivem neste país. Nos anos finais da década dos 50 e começos dos 60, é emigrante na França, Holanda e Bélgica, onde trabalha em profissões marginais e pobres, chegando mesmo a viver algum tempo na clandestinidade e a ser guia dos marinheiros no sub mundo da prostituição do porto de Antuérpia.

Não dá entrevistas. Não aceita prêmios é difícil de fotografar e não permite reedições da sua obra.

A Faca Não Corta o Fogo – súmula inédita saiu do prelo no final do ano passado – com edição de três mil exemplares – e apesar de já não haver inventário nos armazéns da casa editora a obra não verá nova edição por decisão do poeta de Os passos em volta. Como era de esperar, o livro recebeu excelente aceitação por parte da crítica especializada, o que não demove a decisão do autor, que só poderá pensar numa eventual reedição sempre e quando inclua novos poemas.

* Berlinale Kamera para Manoel de Oliveira

Cineastas e romancista sempre têm visto com receio a passagem de um romance para o cinema. Manoel de Oliveira não parece ter esse temor. Agustina, Camilo e Eça são alguns dos autores que já passou para o celulóide com aplauso da crítica especializada. Singularidades de uma rapariga loira é a mais recente incursão do realizar no campo da literatura. O filme teve estreia mundial no Festival de Berlim, que homenageou Manoel de Oliveira com a Berlinale Kamera, que distingue personalidades com grande ligação ao certame. “Já tinha filmado obras de um autor romântico como Camilo Castelo Branco – afirmou – e agora foi a vez de filmar Eça de Queiroz, que trouxe para Portugal o realismo romanceado”. Ao comentar a sua chegada aos 100 anos, disse tratar de um “capricho da

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natureza (…) Mas, quanto aos filmes, bons ou maus, sou responsável por eles”.

* Efemérides * 6 de Março de 1992. Morte da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1930, já no estrangeiro, casou com o pintor húngaro Arpard Szenes, que foi seduzido pelo seu trabalho: «Quadros a tal ponto poéticos, simples, adultos, que fiquei profundamente impressionado». Vieira da Silva perdeu a nacionalidade portuguesa pelo casamento e na altura da 2.ª Guerra Mundial Silva viu recusado o pedido de nacionalidade portuguesa pelo regime salazarista. * 8 de Março de 1915, nasce em Londres o poeta Ruy Cinatti. A partir de 1917 começou a viver em Lisboa e nesse mesmo ano perdeu a mãe, a quem dedicaria Nós não somos deste mundo, o seu primeiro livro. * 10 de Março de 1768. Data do nascimento do pintor Domingos Sequeira. É de sua autoria o quadro A Morte de Camões, exibido no Salon de Paris, no ano de 1824.

* Lançamento de Siete Poetas Portuguesa na UniMet

A 26 de Março será apresentado na Sala de Exposições da Universidad Metropolitana (Caracas) o livro Siete Poetas Portugueses, uma antologia de Nidia Hernández, condutora de La Maja Desnuda, programa rafiofónico com vários anos no ar e premiado em repetidas ocasiões pela sua qualidade. A antologia, que inclui versos de Sophia de Melo, Nuno Júdice,

Casimiro de Brito, António Ramos Rosa, Ana Luísa Amaral, Rosa Alice Branco e Eugénio de Andrade, será apresentada ao público venezuelano – o lançamento para a Comunidade foi a 6 de Dezembro de 2008 – com um recital na voz de vários poetas venezuelanos.

O evento está programa para as 17 horas.

* Ao fechar ... O romance Combateremos a Sombra, de Lídia Jorge, editado em 2007 pelas publicações Dom

Quixote, foi distinguido com o Prémio Charles Bisset 2008, atribuído pela Associação Francesa de Psiquiatria, informou hoje a editora da escritora.

Segundo a Dom Quixote, Lídia Jorge é a primeira autora portuguesa a receber este prémio, que começou a ser atribuído em 1987 e que distingue obras que, pela sua qualidade, "evocam e aprofundam a problemática humana e que respeitem a verdade dessa problemática".

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