Noticias 0706

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www.Beth-Shalom.com.br JUNHO DE 2007 • Ano 29 • Nº 6 • R$ 3,50 BETH-SHALOM

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Anne Frank

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  • www.Beth-Shalom.com.br JUNHO DE 2007 Ano 29 N 6 R$ 3,50 BETH-SHALOM

  • uma publicao mensal da OObbrraaMMiissssiioonnrriiaa CChhaammaaddaa ddaa MMeeiiaa--NNooiittee comlicena da VVeerreeiinn ffrr BBiibbeellssttuuddiiuumm iinn IIssrraaeell,,BBeetthh--SShhaalloomm (Associao Beth-Shalom paraEstudo Bblico em Israel), da Sua.

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    ISRAELNotcias de

    6

    11

    4 Prezados Amigos de Israel

    A Sndrome de Sanso

    HHOORRIIZZOONNTTEE

    O xeique antiterrorista que apia Israel - 11 O caso Dreyfus - 12 Uma viagem ao mundo de Anne Frank - 16

    ndice

    10 O Cnon das Escrituras Hebraicas - De Gnesis a Crnicas

  • 44 Notcias de Israel, junho de 2007

    O SENHOR levanta a voz diante do seuexrcito; porque muitssimo grande o seuarraial; porque poderoso quem executa assuas ordens; sim, grande o Dia do SENHORe mui terrvel! Quem o poder suportar?(Joel 2.11).

    Joel proclamou o juzo vindouro de Deussobre Jud, Israel e o mundo inteiro. Aqui est amensagem: Tocai a trombeta em Sio e daivoz de rebate no meu santo monte;perturbem-se todos os moradores da terra,porque o Dia do SENHOR vem, j estprximo (Joel 2.1). Sio o alvo imediato, oque corresponde ao que o apstolo Pedroescreveu no Novo Testamento: Porque aocasio de comear o juzo pela casa deDeus chegada... (1 Pedro 4.17).

    Aqui lemos como o juzo comear: dia deescuridade e densas trevas, dia de nuvens enegrido! Como a alva por sobre osmontes, assim se difunde um povo grande epoderoso, qual desde o tempo antigo nuncahouve, nem depois dele haver pelos anosadiante, de gerao em gerao. frentedele vai fogo devorador, atrs, chama queabrasa; diante dele, a terra como o jardimdo den; mas, atrs dele, um desertoassolado. Nada lhe escapa (Joel 2.2-3).Trata-se de algo nico, pois lemos: qual desdeo tempo antigo nunca houve, nem depoisdele haver pelos anos adiante. Portanto,esse acontecimento incomparvel na histria,sem precedentes e jamais voltar a ocorrer. Issonos faz lembrar das palavras do Senhor JesusCristo em Mateus 24.21: porque nesse tempohaver grande tribulao, como desde oprincpio do mundo at agora no temhavido e nem haver jamais. Por essa razo,devemos ser cautelosos em nossas tentativas deidentificar rapidamente um povo grande epoderoso. Aqui temos a descrio do juzo deDeus sobre um mundo rebelde, mas o executordo juzo no claramente identificado.

    Que espcie de juzo esse? Antes lemos:Ah! Que dia! Porque o Dia do SENHOR estperto e vem como assolao do Todo-Poderoso (Joel 1.15). Trata-se claramente daao de Deus: vem como assolao doTodo-Poderoso. Baseado nesse e em outrosfatos que analisaremos a seguir, temos deconsiderar a possibilidade de que a referncia no

    a um exrcito terreno, mas a forassobrenaturais.

    Vamos ler a descrio a seguir, que diferenteda de inimigos representados por naes vizinhas: frente dele vai fogo devorador, atrs,chama que abrasa; diante dele, a terra como o jardim do den; mas, atrs dele,um deserto assolado. Nada lhe escapa. Asua aparncia como a de cavalos; e, comocavaleiros, assim correm. Estrondeandocomo carros, vm, saltando pelos cimos dosmontes, crepitando como chamas de fogoque devoram o restolho, como um povopoderoso posto em ordem de combate(Joel 2.3-5).

    Obviamente, trata-se de destruio sobre aterra: a vegetao ser queimada, restando apenaso deserto. Mas, observe quem est fazendo isso:no se trata de pessoas, mas de criaturas comocavalos e como cavaleiros. Alm disso, lemos:como carros, como chamas. Essa descrioindica que se trata de foras demonacas.Entretanto, esses poderes esto nas mos doDeus Todo-Poderoso e so Seus instrumentos dejuzo.

    A seguir vem um descrio detalhada dasatividades desse exrcito: Diante deles,tremem os povos; todos os rostosempalidecem. Correm como valentes;como homens de guerra, sobem muros; ecada um vai no seu caminho e no se desviada sua fileira. No empurram uns aosoutros; cada um segue o seu rumo;arremetem contra lanas e no se detmno seu caminho. Assaltam a cidade, corrempelos muros, sobem s casas; pelas janelasentram como ladro (Joel 2.6-9). Esse sero evento mais chocante que j foi visto pelosseres humanos. Somos lembrados das palavrasque Jesus usou quando se referiu aos temposfinais: haver homens que desmaiaro deterror e pela expectativa das coisas quesobreviro ao mundo; pois os poderes doscus sero abalados (Lucas 21.26). Semdvida, essas so referncias Grande Tribulao,o julgamento sobre as naes que o Todo-Poderoso executar utilizando os poderes dastrevas.

    O versculo 7 revela outro detalhe com asfrases Correm como valentes; comohomens de guerra, sobem muros (Joel

  • 55Notcias de Israel, junho de 2007

    2.7). Novamente, esses no so valentes, no sohomens de guerra, mas entidades diferentes de qualquercoisa que j vimos no planeta Terra. Em linguagemmoderna, poderamos cham-las de super-homens,pois sobre a mesma espada se arremessaro, eno sero feridos (Joel 2.8, Almeida CorrigidaFiel ACF).

    Na terra estar acontecendo algo que nenhumhomem experimentou, nem jamais experimentar.Nesse tempo ser ...expulso o grande drago, aantiga serpente, que se chama diabo e Satans, osedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para aterra, e, com ele, os seus anjos (Apocalipse12.9). Qual ser o resultado? Por isso, festejai, cus, e vs, os que neles habitais. Ai da terra e domar, pois o diabo desceu at vs, cheio de grandeclera, sabendo que pouco tempo lhe resta(Apocalipse 12.12).

    Outra indicao que refora a idia de que se trata deforas demonacas que a linguagem usual relacionada aguerras e vtimas no est sendo usada. No h menoa matanas, mortes, saques e pilhagens. Apesar dessascriaturas entrarem pelas janelas como ladres, nadalemos sobre roubos.

    Que tipo de guerra ser essa? Eu arriscaria dizer quese trata de uma guerra das trevas, da qual ningumconseguir escapar. At mesmo o Universo estarenvolvido: Diante deles, treme a terra, e os cusse abalam; o sol e a lua se escurecem, e asestrelas retiram o seu resplendor (Joel 2.10).Nenhum exrcito na terra capaz de fazer tremer aterra, de abalar os cus, de afetar o brilho do sol, da luae das estrelas. Portanto, temos a confirmao de que asforas demonacas autorizadas por Deus tero plenoacesso ao planeta Terra e seus habitantes. Seperguntarmos porque Deus o permite, temos a respostaem Joo 1.5: E a luz resplandece nas trevas, e astrevas no a compreenderam (ACF).

    Observe no versculo introdutrio que O SENHORlevanta a voz diante do seu exrcito; porquemuitssimo grande o seu arraial. Essa a ao deDeus, no de um inimigo humano. Quando o Seu juzose abater sobre a terra, o povo reconhecer que no setrata da ao de homens, mas da interferncia de Deus.Este ser o testemunho dos homens do mundo: Osreis da terra, os grandes, os comandantes, osricos, os poderosos e todo escravo e todo livre seesconderam nas cavernas e nos penhascos dosmontes e disseram aos montes e aos rochedos:Ca sobre ns e escondei-nos da face daquele quese assenta no trono e da ira do Cordeiro,(Apocalipse 6.15-16). No haver arrependimento eno haver converses, apenas tentativas vs de seesconder da ira do Cordeiro.

    Tudo isso ser iniciado pela trombeta em Sio.Muito poderia ser escrito sobre trombetas elas so

    mencionadas portoda a Escritura,comeando em xodo19.13 e terminando emApocalipse 9.14. Mas amaioria dessas trombetas especfica; elas servem a um certopropsito e no devem ser confundidas entre si. Htrombetas de ajuntamento e de guerra, de jbilo e dealegria, de paz e de confraternizao. H tambmtrombetas de juzo, sobre as quais lemos principalmenteno livro do Apocalipse. Aqui, porm, a trombeta emSio dirigida ao povo de Israel. Eu a chamarei detrombeta de graa, de convite, de reconciliao,indicando um espao de graa para o Seu povo. Por isso,ouvindo Sua voz, no endurea seu corao. Tome adeciso de seguir o Messias, tendo em vista aaproximao do juzo!

    Shalom!

    Arno Froese

  • 66 Notcias de Israel, junho de 2007

    Milhes de americanos esto sofrendo da Sndro-me de Sanso. Quase 20 milhes j compraram o li-vro Uma Vida com Propsitos, de Rick Warren, com-provando o fato de que esta gerao est buscandodesesperadamente um propsito e significado parasua vida. As pessoas sentem que tm potencial, maslhes falta a percepo e a disciplina necessrias pararealiz-lo. O homem mais forte que j existiu tambmera assim, e o seu fracasso ficou registrado na Bblia pa-ra que pudssemos aprender com seus erros.

    O livro de Juzes relata os feitos de vrios indivduos le-vantados por Deus para libertar Israel do castigo divino. Emgeral, eles eram pessoas comuns, que derrotavam os opres-sores de Israel depois que a nao se arrependia de seu pe-cado e clamava pelo Senhor. Sanso foi o nico designadocomo juiz antes mesmo de sua concepo.

    Esse livro bblico mostra os repetidos ciclos de rebelio,opresso, arrependimento e restaurao (atravs de umjuiz), pelos quais o povo de Israel passava periodicamente.Deus sempre foi fiel para restaurar Israel, mas cada novo ci-clo provocava uma degradao total na condio espiritualda nao israelita (Jz 2.19). Cada novo juiz que surgia eraum lder menos espiritual que seu antecessor, e Sanso foi oltimo da lista.

    O AnncioA profecia do nascimento de Sanso foi cheia de promes-

    sas. A me de Sanso viveu sem filhos por um tempo sufi-ciente para ser considerada estril, at que recebeu a visitado Anjo do Senhor*, trazendo-lhe a maravilhosa notcia deque teria um filho. Ele lhe ordenou que no tomasse vinho,

    nem bebida forte, e no comesse nada impuro,porque seu filho seria nazireu por toda a vida; atmesmo sua existncia pr-natal era importante pa-ra Jav.

    A mulher contou a epifania a seu marido, Ma-no, e narrou as exigncias do nazireado que o fi-lho prometido deveria cumprir. Dedicado a Deusdesde a concepo, ele comearia a livrar a Israeldo poder dos filisteus (Jz 13.5), aps anos de opres-so.

    Imagine s a surpresa de Mano. Ele pediu aDeus que tornasse a enviar o mensageiro e lhe des-se mais informaes. Assim, o Anjo de Jav visitoua mulher novamente. Quando ela trouxe seu mari-do, este perguntou: Qual ser o modo de viver domenino e o seu servio? (v. 12). Mas as instruesdadas a Mano repetiam apenas tudo o que j ha-via sido dito sua mulher, principalmente o quedizia respeito sua dieta. A Palavra de Deus afirmaexplicitamente que aquela criana seria um nazireudesde o ventre at o tmulo. Depois disso, o casalofereceu sacrifcios ao Senhor. O Mensageiro acei-tou a oferta e subiu aos cus na chama do altar (Jz13.20), enfatizando a origem divina da profecia.Ento, Mano temeu por sua vida e pela de sua es-

    * Quanto identidade do Anjo do Senhor, recomendamos ler o artigo Quem o Anjo do Senhor? na revista Chamada da Meia-Noite 6/07.

  • posa: Certamente, morreremos, por-que vimos a Deus (Jz 13.22). Massua esposa argumentou que eles es-tavam seguros, porque Deus tinhaaceitado sua oferta e prometera umlibertador. Isso nos leva a pensarque, possivelmente, a falta de visoespiritual de Mano contribuiu parao fracasso de seu filho.

    Uma visita angelical e uma de-clarao sobre o destino de Sansoj teriam sido suficientes, mas a re-petio enfatizou de forma aindamais clara o potencial da criana.Cumprindo as palavras que o anjodissera, nasceu Sanso (Shimshonem hebraico), o brilho do sol, oraio de luz do casal.

    Os Primeiros AnosA introduo (E o Esprito do

    SENHOR passou a incit-lo, Jz13.25) e o sumrio (Sanso julgoua Israel, nos dias dos filisteus, vinteanos, Jz 15.20), englobam os cap-tulos 14 e 15 num nico bloco. Co-mo essa insero mostra de formainequvoca, os eventos que cercamo casamento de Sanso represen-tam a descrio geral do seu pero-do como juiz. A ausncia de atos debravura realmente positivos, e degrandes livramentos de Israel daopresso dos filisteus, reforam oretrato de seu ministrio como ex-tremamente ineficaz. A narrativa

    uma mistura frustrante da capacita-o sobrenatural de Deus (fora) eda negligncia de Sanso em rela-o ao seu chamado.

    Mas, por que Sanso desdenhoutudo o que foi profetizado antes deseu nascimento? Por que preferiusatisfazer sua prpria vontade, emvez de obedecer a Deus, demons-trando no ter a menor noo deseu destino? Por que ele no de-monstrou ter conscincia do prop-sito de Deus para sua vida? A Bbliano menciona nenhum ato singularde patriotismo ou qualquer interes-se de Sanso em libertar seu povo.Fica claro que o Esprito do SE-NHOR de tal maneira se apossou deletrs vezes (Jz 14.6,19; Jz 15.14), re-velando que havia fora e habilida-de sobrenaturais sua disposio.Mas ele no usava essa capacitaodivina eficazmente, exceto para suaprpria preservao ou gratificao.

    A nica preocupao de Sansoera satisfazer seus prprios desejos.Vivendo em territrio danita, elegastava seu tempo livre procurandoprazer no vizinho reino filisteu. Aoinvs de buscar uma esposa israeli-ta, como Deus havia ordenado,Sanso insistiu em se casar comuma mulher timnita, dizendo sdesta me agrado (Jz 14.3). Emboraparea incrvel, sua insistncia vi-nha do SENHOR, pois este procuravaocasio contra os filisteus (Jz 14.4).

    Deus usou a proximidade de San-so com os filisteus para cumprirtodo o propsito da vida daquelehomem quebrar o jugo dos filis-teus embora Sanso e seus paisparecessem no enxergar esse fato.

    Em sua festa de casamento, San-so props um enigma a trinta ra-pazes (convidados pelos parentes danoiva), tendo como prmio, paraquem achasse a resposta, uma rou-pa nova para cada um. O clima mu-dou quando, no conseguindo deci-frar o enigma, os convidados amea-aram a mulher e seus parentes.Desesperada, ela chorou e imploroua Sanso que lhe dissesse a respos-ta. Imagine como Sanso deve ter-se sentido trado quando viu que aesposa com quem estava recm-ca-sado tinha revelado o segredo aseus novos amigos. Enfurecido,ele atacou e matou trinta filisteuspara pagar o que havia prometido e,muito provavelmente, aplacar suamgoa. Depois disso, em vez de re-tornar para sua esposa, ele voltoupara a casa de seus pais.

    Passado algum tempo, ele voltou casa de seu sogro, mas no lhepermitiram entrar, porque sua es-posa tinha sido dada a um de seusamigos. Irritado e desgostoso,Sanso deve ter gasto uma quanti-dade enorme de tempo e energiapara apanhar 300 raposas, junt-lasde duas em duas pelas caudas e sol-tar cada par, com tochas ardentesamarradas ao rabo, nas plantaesde cereais dos filisteus. Quando osfilisteus se vingaram queimando suaex-esposa e o pai dela, Sanso ata-cou-os impiedosamente com gran-de carnificina, dizendo: Se assimprocedeis, no desistirei enquanto nome vingar (Jz 15.7-8).

    Enfurecidos com o que tinhaacontecido, os filisteus marcharamcontra Jud para capturar Sanso.Os habitantes de Jud estavamamedrontados e frustrados, pois,

    77Notcias de Israel, junho de 2007

    > > umprindo as palavras que o anjo dissera, nasceu Sanso (Shimshon em hebraico), o brilho do sol, o raio de luz do casal.

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  • aos olhos deles, Sanso era maisuma grande dor de cabea do queum lder teocrtico. Assim, 3.000homens de Jud foram atrs delepara amarr-lo e entreg-lo aos filis-teus; e ele se deixou prender. Ao serentregue, Sanso, capacitado peloEsprito de Deus, matou 1.000 filis-teus com uma queixada de jumen-to. Feito isso, ele se gabou de suaproeza e depois clamou a Deus,porque estava com sede. Surpreen-dentemente, Deus o abenoou fa-zendo jorrar gua fresca de uma ro-cha. Ele fez a vontade de Deus, masfoi movido apenas por razes egos-tas.

    Em conseqncia dessa buscada satisfao de seus desejos car-nais, Sanso desprezou o estilo devida nazireu que lhe fora impostopor Deus. Os nazireus no podiamconsumir nenhum produto da vide,nem cortar o cabelo, nem tocar emnenhum corpo morto (Nm 6.1-8).A palavra nazireu vem do verbo he-braico nazir, que significa separarou consagrar, indicando a total se-parao do indivduo para Deus,

    enquanto durava o voto. Sansopraticou alguns aspectos fsicos des-se voto (ele nunca cortou o cabelo),mas ignorou o espiritual: a consa-grao a Jav. Seus contatos comcoisas mortas (leo, carcaa, roupasdos homens mortos, queixada, etc.)no parecem ter representado nadademais para ele. Da mesma forma,a charada que props mostra suaatitude negligente em relao suaconsagrao, assim como a peaque pregou com as raposas, animaiscerimonialmente impuros.

    Embora no fossem explicita-mente condenados pela lei do nazi-reado, o casamento de Sanso comuma filistia e seus outros relacio-namentos amorosos certamentecontradizem sua separao paraDeus. Sanso confraternizou com acomunidade filistia em vez decombat-la, e foi guiado, principal-mente, pelo impulso de seus dese-jos egostas. Esse homem no eranenhum Josu, Samuel, Gideo oumesmo Jeft. Quando examinadomais de perto, o ministrio de San-so se desfaz como uma miragem.

    A Queda

    A derrota e a morte acabamocorrendo porque Sanso conti-nuou a se relacionar com aquelesque tinha nascido para destruir. Domesmo modo que (literalmente)prostituiu sua consagrao ao Deusque o criou, ele tambm prostituiuo propsito e o destino de sua vida.Como numa tragdia grega, sua vi-da, to cheia de potencial e de pro-messas, desgastou-se melancolica-mente at o triste final.

    Apanhado numa armadilha du-rante um encontro amoroso comuma prostituta filistia em Gaza,Sanso usou a fora que Deus lhedeu para se livrar. Levantando-se meia-noite, ele arrancou os portes,ombreiras e trancas da cidade e le-vou-os para o alto da montanha.Mais uma vez, ele escapou ileso de-pois de desobedecer abertamente lei de Deus. Mas ningum zombade Deus indefinidamente.

    Surge Dalila. Nesse relaciona-mento mais duradouro, o embota-mento espiritual e emocional deSanso demonstrou claramente queele tinha a iluso de que poderia vi-ver eternamente na beira do preci-pcio. Dalila, uma filistia, tentoupersuadi-lo a revelar a fonte de suafora para que os filisteus pudessemescraviz-lo. A Bblia diz: Importu-nando-o ela todos os dias com as suaspalavras e molestando-o, apoderou-seda alma dele uma impacincia de ma-tar (Jz 16.16). Ignorando os b-vios sinais de alerta, ele finalmentecontou-lhe seu segredo. Dalila o fezadormecer nos seus braos, raspou-lhe a cabea e o entregou (vv. 19-20). O mundo de Sanso desmoro-nou; ele desprezara sua consagraopela ltima vez. O Senhor se tinharetirado dele, e ele perdeu toda afora (v. 20). claro que Sanso ja-mais imaginou que uma coisa des-sas pudesse acontecer.

    88 Notcias de Israel, junho de 2007

    > > anso deve ter gasto uma quantidade enorme de tempo e energia para apanhar 300 raposas, junt-las de duas em duas pelas caudas e soltar cadapar, com tochas ardentes amarradas ao rabo, nas plantaes de cereais dos filisteus.

    S

  • Seus senhores filisteus foram toimpiedosos com ele quanto o peca-do. Primeiro, eles vazaram seusolhos as portas do caminho desensualidade que ele havia trilhado.Depois, o levaram para Gaza e oprenderam com correntes de bron-ze roda do moinho da priso.Dessa vez, no houve sada. Prova-velmente substituindo um boi, eleagora servia, sem qualquer dignida-de, ao povo cuja destruio tinha si-do o propsito de seu nascimento.

    Porm, Deus muitas vezes mi-sericordioso at mesmo com aque-les que desprezam Seu chamado.Pouco tempo depois, os filisteus sejuntaram para adorar seu deus, aquem atribuam o mrito de entre-gar Sanso em suas mos. Trans-bordantes de alegria por causa dacomemorao, eles mandaram bus-car Sanso para divertir-se s suascustas no templo, mas no sabiamque seu cabelo j havia crescido.Sanso implorou a Deus que o ca-

    pacitasse pela lti-ma vez e, deslo-cando os pilarescentrais que sus-tentavam o teto,fez ruir o edifcio,matando todos osque ali estavam.Assim, destruiumais filisteus nahora da morte doque durante suavida inteira.

    Que exemploimpressionante deuma vida desper-diada! O homemque Deus haviacapacitado paraacabar com aopresso realizoumais na sua mortedo que ao longode seus vinte anoscomo juiz. Ser

    que as pessoas iro dizer o mesmosobre ns? Que fizemos mais emprol do reino de Deus no nosso fu-neral do que durante a vida toda?

    A Sndrome deSanso pode sermortal. Suas ca-ractersticas so:ignorar nosso cha-mado celestial, vi-vendo exclusiva-mente para a sa-tisfao de nossosapetites carnais;desprezar a santi-dade que Deusexige para satisfa-zer nossos anseiosterrenos; e anularnossa eficcia noReino de Deuspela busca do pra-zer em outro rei-no.

    Como pode-mos evitar a Sn-

    drome de Sanso? Do mesmo mo-do que Sanso poderia t-la evita-do. A chave do sucesso foi registra-da para ele por Moiss (Dt 30.15-20) e Josu (Js 1.8): amar aoSenhor, meditar na Sua Palavra,obedecer a Ele e servi-lO. Paulo re-sumiu muito bem esse princpio pa-ra os romanos (Rm 12.1-2; 13.13-14). Chafurdar na lama do mundotraz destruio.

    Em sua primeira visita Ingla-terra, D. L. Moody ouviu o evange-lista Henry Varley dizer: O mundoainda est para ver o que Deus po-de fazer com, atravs e pelo homemque se consagra inteiramente aEle. Moddy respondeu: Farei tu-do o que puder para ser esse ho-mem. E voc? (Israel My Glory)

    Richard D. Emmons professor titular de B-blia e doutrina na Universidade Bblica da Fi-ladlfia e pastor presidente da Bible BaptistChurch, em Hamilton/NJ (EUA).

    99Notcias de Israel, junho de 2007

    > > anso implorou a Deus que o capacitasse pela ltima vez e, deslocando os pilares centrais quesustentavam o teto, fez ruir o edifcio, matando todos os que ali estavam. Assim, destruiu mais filisteus na hora da morte do que durante sua vida inteira.

    >> chave do sucesso : amar ao Senhor, meditar na Sua Palavra, obedecer a Ele e servi-lO. Chafurdar

    na lama do mundo traz destruio.

    S

    A

  • O cnon das Escrituras He-braicas (o Tanakh) no est dis-posto na mesma ordem em quese encontra o nosso Antigo Tes-tamento. Dividido em trs se-es a Lei [no hebraico, Tor],os Profetas [no hebraico, Nevi-yim] e os Escritos [no hebraico,Ketuvim] o cnon das Escritu-ras Hebraicas comea pelo livrode Gnesis e se encerra no livrode 2 Crnicas.

    Essa ordem explica a razodo comentrio de Jesus acercados lderes religiosos corruptosregistrado em Mateus 23.34-35:

    Por isso, eis que eu vos envioprofetas, sbios e escribas. A unsmatareis e crucificareis; a outrosaoitareis nas vossas sinagogas e per-seguireis de cidade em cidade; paraque sobre vs recaia todo sangue jus-to derramado sobre a terra, desde osangue do justo Abel at ao sanguede Zacarias, filho [i.e., descendente]de Baraquias, a quem matastes entreo santurio e o altar.

    Jesus se referia aos justos queforam assassinados desde o pri-meiro at o ltimo livro das Es-crituras Hebraicas. O assassinatode Abel foi relatado em Gnesis4.8; o assassinato de Zacarias foidescrito em 2 Crnicas 24.20-22,onde se faz o registro de que o reide Jud, Jos, numa atitude dedesprezo para com o amor lealque o falecido sumo sacerdoteJoiada lhe devotara, mandou as-sassinar Zacarias, neto de Joiada,no templo do Senhor.

    A Bblia Hebraica segue estadisposio:

    Tor: Gnesis, xodo, Lev-tico, Nmeros e Deuteronmio.

    Neviyim: Os Primeiros Profe-tas Josu, Juzes, 1 e 2 Samuel,1 e 2 Reis. Os ltimos Profetas Isaas, Jeremias, Ezequiel e OsDoze (i.e., os doze Profetas Me-nores).

    1100 Notcias de Israel, junho de 2007

    Ketuvim: Os Livros Poticos Salmos, Provrbios, J. Os Cinco Megil-loth (i.e., Rolos) Cantares de Salomo, Rute, Lamentaes, Eclesiastes,Ester. Os Livros Histricos Daniel, Esdras, Neemias, 1 e 2 Crnicas. (Is-rael My Glory)

    Thomas C. Simcox diretor de The Friends of Israel no Nordeste dos EUA.

  • 1111Notcias de Israel, junho de 2007

    Nos dias atuais, poucos muul-manos tm a coragem de darapoio existncia de Israel e decondenar o terrorismo. Dentre es-ses poucos, destaca-se o xeiqueAbdul Hadi Palazzi, um homemtremendamente culto que ima-me [i.e., lder religioso muulma-no], professor, co-fundador e co-diretor da Islam-Israel Fellowship[Associao Isl-Israel], alm deser lder da comunidade islmicaitaliana.

    Ele conversou recentementecom Jamie Glazov, editor-chefeda revista eletrnica FrontPage-Magazine.com, o qual nos deupermisso para publicar as opi-nies e comentrios do Prof. Pa-lazzi. Seguem, abaixo, trechos se-lecionados dessa entrevista.

    Palazzi: Israel existe por Direito Di-vino que se confirma tanto na Bbliaquanto no Alcoro. Eu constato no Al-coro que Deus concedeu a Terra deIsrael aos filhos de Israel e que lhesdeu ordens para que l se estabeleces-sem (cf., Alcoro, Sura 5:21). Consta-to, ainda, que antes do ltimo Dia,Deus levar os Filhos de Israel a reto-marem a posse de sua terra, trazendo-os de diversos pases e naes para lreuni-los (cf. Alcoro, Sura 17:104).Por conseguinte, como um muulmanoque permanece fiel ao Alcoro, creioque opor-se existncia do Estado deIsrael significa colocar-se contra umdecreto divino.

    Todas as vezes que os rabes luta-ram contra Israel sofreram derrotashumilhantes. Ao contrariarem a vonta-

    de de Deus guerreando contra Israel,os rabes, na realidade, guerreavamcontra o prprio Deus. Eles ignoraramo Alcoro e Deus os puniu. Agora, de-pois de sucessivas derrotas e de noaprenderem nada com isso, os rabestentam obter atravs do terrorismoaquilo que no conseguiram por meioda guerra, ou seja, a destruio do Es-tado de Israel. O resultado de tais in-tentos completamente previsvel, poisassim como foram derrotados no pas-sado, sero novamente derrotados.

    Em 1919, o emir Feisal (i.e., lderda famlia hashemita, ou seja, o lderdos descendentes do profeta Maom)chegou a um acordo com ChaimWeizmann para a criao de um Esta-do Judeu e de um Reino rabe sepa-rados pela fronteira natural do rio Jor-do. O emir Feisal escreveu: Percebe-mos que rabes e judeus so primos,quanto raa, e que sofreram opres-ses semelhantes nas mos de potn-cias mais fortes do que eles, mas que,por feliz coincidncia, foram capazesde, juntos, darem os primeiros passosrumo conquista de seus ideais nacio-nais. Os rabes, particularmente osmais cultos e esclarecidos entre ns,olham com a mais profunda simpatiapara o Movimento Sionista.

    Na poca de Feisal, ningum ale-gou que o ato de aceitar a criao doEstado de Israel e de ser simptico aoMovimento Sionista era contra o isl.

    At mesmo os lderes rabes que eramcontrrios ao acordo entre Feisal eWeizmann nunca lanaram mo deum argumento islmico para conden-lo. Infelizmente, esse acordo nuncachegou a ser concretizado, porque osbritnicos se opuseram criao doReino rabe e optaram por entregarnas mos dos saqueadores de IbnSaud [os antepassados da famlia deSaud, ou seja, da famlia real saudi-ta], a soberania sobre a Arbia.

    A partir do momento em que ossauditas comearam a governar umreino rico em petrleo, tambm come-aram regularmente a investir umaparte de sua riqueza na propagaodo wahhabismo ao redor do mundo.O wahhabismo uma seita totalitriaque apia o terrorismo, o massacre decivis, bem como a guerra permanentecontra judeus, cristos e muulmanosque no sejam adeptos do wahhabis-mo. No mundo rabe da atualidade,a influncia do wahhabismo to

    O xeique antiterroristaque apia Israel

    O xeique Abdul Hadi Palazzi.

  • 1122 Notcias de Israel, junho de 2007

    Horizonte

    grande, que muitos rabes muulma-nos mantm a convico de que paraser um bom muulmano precisoodiar Israel e almejar sua destruio.

    Conseqentemente, nos pases on-de o wahhabismo no se difundiu, es-sa idia avessa a Israel no se consoli-dou. Uma organizao chamada Mus-lims For Israel [Muulmanos em Prolde Israel] foi recentemente fundadano Canad. Uma jornalista muulma-na pr-Israel afirma que alguns muul-manos a apiam declaradamente, en-

    quanto muitosoutros lhe dizem:Ns concorda-mos com voc,mas temos medode diz-lo. Omesmo acontececomigo.

    A Al-Qaida uma organiza-o saudita, cria-da pela famliade Saud, finan-ciada pela fam-lia real saudita

    com o lucro dos petrodlares e utiliza-da pela famlia de Saud para realizaratos de terrorismo em massa primeira-mente contra o Ocidente e, tambm,contra o resto do mundo.

    Glazov: Para onde vai a alma deum terrorista suicida a exemplo doshomens-bomba?

    Palazzi: Todas as pessoas quemorrem na prtica de pecados capi-tais, tais como suicdio e assassinato,sero lanadas no fogo do inferno,com exceo daquelas que se arre-

    penderem antes que a morte as atinja.No islamismo, tanto assassinato quan-to suicdio so pecados capitais de cu-ja natureza nenhum muulmano podeduvidar, muito menos alegar ignorn-cia. Todo muulmano tem a obrigaode saber que as prticas de suicdio eassassinato so proibidas no isl, exa-tamente como todo muulmano sabeque as oraes dirias so em nmerode cinco, que o ms do jejum o Ra-mad, que o destino da peregrinao Meca, etc.

    Logo, aquele que morre na condi-o de um homem-bomba suicida, poracreditar erroneamente que seu atoest de acordo com o isl, na realida-de, morre sem ter uma correta f dou-trinria e sem qualquer outra oportuni-dade de arrependimento. Desse modo,tal pessoa nunca ser admitida no cue passar sua existncia eterna no fo-go do inferno. (Israel My Glory)

    Site oficial do xeique Abdul Hadi Palazzi(em ingls): www.amislam.com

    A Al-Qaida uma organizao saudita, criada pela famlia deSaud, financiada pela famlia real saudita com o lucro dos petrodlares...

    No dia 12 de julho de 2006a Frana celebrou 100 anos dareabilitao do capito AlfredDreyfus. O jovem oficial judeu foiprotagonista do infame e mun-dialmente conhecido Caso Drey-fus.

    Acusado de espionagem a favorda Alemanha, o militar foi julgado su-mariamente por alta traio, submeti-do degradao militar em 1895, econdenado priso perptua na fami-gerada priso na Ilha do Diabo (naGuiana Francesa). Apesar das contun-dentes provas de sua inocncia, foicondenado por um tribunal militar, pe-

    la segunda vez, em 1899,sendo em seguida indultado.Sua inocncia s foi verda-deiramente reconhecida em

    1905 e, no ano seguinte, foi reabilita-do pelo governo francs.

    Na verdade, Dreyfus foi vtima fla-grante do anti-semitismo fortemente ar-raigado na sociedade e nas ForasArmadas francesas. Sua primeira con-denao, baseada em provas forja-das, foi puramente ideolgica. Parao exrcito, ele se encaixava comouma luva no papel de culpado, ouseja, era o bode expiatrio perfeito.Ainda mais grave foi o fato de quequando a verdade veio tona, ofi-ciais franceses de alta patente tudo fi-zeram para a ocultar. O Caso Drey-fus foi, sem sombra de dvida, uma

    das mais escandalosas fraudes judi-ciais da histria moderna da Frana.

    Origens de um dramaA longa e dramtica trajetria que

    envolveu o jovem oficial Alfred Dreyfusteve incio em meados de 1894, quan-do uma agente de contra-espionagemfrancesa, que servia na Embaixada daAlemanha, em Paris, disfarada de fa-xineira, descobriu no cesto de lixo doadido militar uma carta, em francs,que continha a promessa de passaraos alemes preciosas informaes so-bre a artilharia francesa. Imediata-mente, entregou-a ao coronel Sand-herr, chefe do Departamento de Inteli-gncia Militar, e ao seu subordinado,o coronel du Paty de Clam. As evidn-

    O caso Dreyfus

  • cias eram claras: havia um traidor nasfileiras do exrcito que precisava serdescoberto. Peritos em caligrafia fo-ram, em vo, convocados para deter-minar o autor do Le Bordereau, co-mo passou a ser chamado o documen-to. Mas as Foras Armadasprecisavam de um culpado e Sandherrse deixou facilmente convencer porseu ajudante, o coronel Hubert-JosephHenry, de que o provvel culpadoera o capito da artilharia AlfredDreyfus.

    Dreyfus era judeu e rico, o traidorideal, e evitaria que um francs cristofosse apontado traidor da ptria. Poucoimportava que sua caligrafia s tivesseuma vaga semelhana com aquela doautor da carta. Nascido na Alscia-Lo-rena (regio ento ligada Alema-nha), filho de uma famlia abastada ebastante assimilada, era o primeiro ju-deu a servir no Estado-Maior do Exrci-to, e sua presena irritava os oficiais,todos eles da elite, todos catlicos.

    As Foras Armadas e o governofrancs agiram rapidamente para dar

    um desfecho ao caso. O prprio coro-nel du Paty de Clam se incumbiu deefetuar a priso, aconselhando ao ofi-cial judeu que a melhor soluo era osuicdio, por serem incontestveis asprovas de sua traio. InutilmenteDreyfus jurou inocncia. Nem os doismeses de priso, em meio aos quaisum confinamento na solitria, nem ou-tras formas de tortura psicolgica fo-ram suficientes para provocar sua con-fisso. Um julgamento sumrio, reali-zado por um tribunal militar a portasfechadas, em dezembro de 1894,condenou-o priso perptua. O tri-bunal hesitara em conden-lo frente sprovas, escassas e inconsistentes,apresentadas, a principal sendo lau-dos periciais que atestavam uma se-melhana entre a letra de Dreyfus e ado documento encontrado. Mas, apso testemunho do coronel Henry, queafirmara ter outras importantes in-formaes que implicavam Dreyfus,que, no entanto, no podiam ser reve-ladas sem colocar em risco a seguran-a militar da Frana, o tribunal o con-siderou culpado de traio.

    Em janeiro de 1895 foi realizada acerimnia pblica de degradao mili-tar, os gales de sua patente arranca-dos e a espada, quebrada ao meio.Enquanto Dreyfus clamava sua inocn-cia, do lado de fora se ouvia o bradoda turba que pedia morte aos ju-deus. No dia 21 de fevereiro ele foiembarcado para a priso, na Ilha doDiabo, onde sofreria por longos anos,acometido por malria, disenteria emuitas outras enfermidades fsicas, to-das, no entanto, infinitamente menoresque a dor da injustia e do abandono.O caso parecia encerrado; ningum,quela altura dos acontecimentos, po-deria sonhar com a tormenta que de-sabaria sobre a Frana, nos anos se-guintes.

    O pano de fundo para o casoDreyfus era uma Frana assolada porforte crise econmica, tenses sociais econfrontos polticos. O pas estava di-

    vidido entre uma direita reacionria,fortemente ligada s Foras Armadase Igreja; os republicanos liberais eas foras de esquerda. Enquanto osconservadores pediam o retorno damonarquia, os republicanos e a es-querda defendiam a continuidade daRepblica. Nessa confrontao, asForas Armadas desempenhavam umpapel importante, principal sustentcu-lo da ordem vigente que eram. Desta-ca-se tambm o papel da imprensa dedireita muito ativa, ultra-reacionriae anti-semita, na incitao do povocontra os judeus especialmente o jor-nal La Libre Parole, de douard Drum-mont, que se aproveitou do episdiopara desencadear uma generalizadacampanha antijudaica. Drummont, umanti-semita intrnseco e militante, pu-blicara, em 1886, um devaneio anti-judaico de dois volumes, intitulado LaFrance Juve (A Frana Judaica). Dossegmentos conservadores se ergueramas principais foras de acusao con-tra Dreyfus. Mesmo quando confronta-dos com provas contundentes da farsa

    1133Notcias de Israel, junho de 2007

    Horizonte

    O capito Alfred Dreyfus.

    Em janeiro de 1895 foi realizada a cerimnia pblica de degradao militar,os gales de sua patente arrancados e a

    espada, quebrada ao meio.

  • cruel que fora montada para condenaro oficial judeu, recusaram-se, aindaassim, a aceitar mudar o veredito,afirmando que tal atitude poderia de-negrir a imagem das Foras Armadasjunto sociedade francesa, desestabi-lizando o pas.

    Vale a pena lembrar que entre asvozes que se levantaram em defesa deDreyfus encontrava-se a de Rui Barbo-sa, brilhante advogado e escritor bra-sileiro. Vivendo, poca, na Inglater-ra, onde se auto-exilara aps seu rom-pimento com o governo do MarechalFloriano Peixoto, Rui Barbosa escreveuum inflamado artigo denunciando osfatos que envolveram o oficial judeu.Datado de 7 de janeiro de 1895, doisdias antes da degradao do capitofrancs, foi publicado no Brasil, noJornal do Comrcio, no ms seguinte.

    A histria da diablica conspira-o, como diria o famoso escritormile Zola, provavelmente ter-se-ia en-cerrado com o desterro de Dreyfus,no tivesse o tenente-coronel Picquartassumido a chefia do Departamentode Contra-Espionagem do Exrcito.

    Em maro do ano seguinte, a mesmaagente do caso Dreyfus encontrou, nomesmo escritrio do adido militar ale-mo, uma nova carta na qual o reme-tente prometia entregar aos alemesmais segredos militares franceses.Com Dreyfus encarcerado, era maisdo que evidente que o traidor estava solta. Picquart tomou a si as investiga-es e conseguiu relacionar a letracom a de outro oficial, o major Char-les Ferdinand Esterhazy, aventureirode origem hngara com vultosas dvi-das de jogo. Mas, ao revelar suas des-cobertas a seu assistente, o coronelHenry, Picquart ficou surpreso com areao do subordinado que, enraive-cido, lhe perguntou como cogitava pe-dir que as Foras Armadas francesasadmitissem ter errado. Henry alertouseus superiores de que Picquart estavaprestes a reabrir o caso. Assim, antesque Picquart pudesse agir, foi transfe-rido para a Tunsia. Porm, na vspe-ra de sua partida, o tenente-coronelcomunicou suas suspeitas a seu advo-gado que, por sua vez, as revelou aAuguste Scheurer-Kestner, deputado li-beral e vice-presidente do Senado. Pa-ra o deputado, a determinao dasForas Armadas em preservar suahonra minava o princpio da igual-dade dos cidados perante a lei, umconceito que incorpora a prpria es-sncia de qualquer governo republica-no. E, tanto ele quanto outros deputa-dos liberais iniciaram uma campanhapela reabertura do caso, com um novojulgamento.

    Desde a condenao a famlia deDreyfus estava se movimentando paraconseguir a reabertura do processo.Mathieu, irmo de Alfred, conseguiuum fac-smile do memorando originalusado para a acusao e o submeteua vrios peritos que, em poucas sema-nas, determinam que a letra era, comefeito, de Esterhazy, no de Dreyfus.Quando a informao chegou im-prensa, o exrcito no teve outra sa-da a no ser levar Esterhazy corte

    marcial. Ainda que sobre ele pesas-sem graves provas, mesmo assim foiabsolvido. Os juzes militares acredita-vam que as dvidas levantadas contraa sentena imposta a Dreyfus atingi-riam em cheio as Foras Armadas, en-fraquecendo seu poder de mando eseu prestgio. Um exrcito falvel signi-ficava uma Frana fragilizada. A ver-so original da traio judaica seriamantida a qualquer preo.

    Theodor Herzl, ento um jovem jor-nalista sediado em Paris, disse poste-riormente que o Caso Dreyfus conven-ceu-o de que no havia nenhum lugarseguro para os judeus na Dispora, oque tornava imperativo terem seu pr-prio Estado.

    Em 1898 o Caso Dreyfus incen-diou a opinio pblica francesa e dila-cerou o pas, que se dividiu em doiscampos: de um lado, os que acredita-vam na culpa de Dreyfus e viam comojusta sua condenao, opondo-se,portanto, reabertura do processo de outro, os que acreditavam na ino-cncia do condenado e denunciavamas irregularidades do julgamento, lu-tando pela reviso imediata do pro-cesso. A famlia de Dreyfus e BernardLazare, um influente jornalista judeu,conseguiram o apoio de figuras pbli-cas, como os escritores Anatole Francee mile Zola, e de polticos republica-nos, como George Clemenceau e Aris-tide Braind. Pouco depois, Lazare pu-blicou um trabalho chamado O errojudicirio: a verdade sobre o casoDreyfus.

    Em agosto daquele ano os aconte-cimentos chegaram ao clmax. Um pa-rente de Esterhazy denunciou que asprovas secretas contra Dreyfus eramum embuste. O novo chefe das ForasArmadas, General Cavaignas, apesarde no ser partidrio da Repblicanem amigo dos judeus, viu-se obriga-do a investigar as acusaes. Convo-cou Henry e exigiu a entrega imedia-ta do suposto dossi secreto do Ca-so Dreyfus. Descobriu, em questo de

    1144 Notcias de Israel, junho de 2007

    Horizonte

    Vale a pena lembrar que entre as vozes que se levantaram em defesa de Dreyfus encontrava-se a de Rui Barbosa, brilhante advogado e escritor brasileiro.

  • minutos, que os documentos entreguespelo coronel Henry forjados por eleprprio eram falsos. Henry admitiuo crime e foi sumariamente preso. Namesma noite, suicidou-se na priso. OCaso Dreyfus estava em plena eferves-cncia. Aumentavam as presses po-pulares para um novo julgamento. Umdos mais conhecidos smbolos dessaluta foi a clebre Lettre la France(Carta Frana), de autoria de mileZola, endereada ao ento presidentefrancs, Flix Faure, intitulada JAc-cuse! (Eu acuso!). Publicada na edi-o do dia 13 de janeiro de 1898,foi impressa em letras enormes na pri-meira pgina do jornal LAurore, queteve mais de 300 mil exemplares ven-didos em um s dia. No artigo, Zolarevelou sua profunda indignaodiante da teia de intrigas e preconcei-tos que envolveram o caso. Acusou,um a um, os ministros do governo eos oficiais do Estado-Maior de cons-

    pirao, compl, falso teste-munho, mentira e fraude. Dezdias mais tarde, Zola foi pre-so. Processado, foi condena-do a um ano de priso e aopagamento de 3.000 francosde multa, alm de posteriorexlio na Inglaterra. O pro-prietrio do LAurore, por suavez, foi condenado a 4 me-ses de priso e 3.000 fran-cos de multa.

    Em junho de 1899 o casofoi finalmente reaberto. Opresidente eleito, mile Lou-bet, liberal e defensor convic-to de Dreyfus, preparou a re-viso do processo. Alm dedividir a Frana, o CasoDreyfus estava assumindopropores internacionais,pondo em risco a to acalen-tada entrada de investimentosestrangeiros para a grandeExposio Internacional de1900, em Paris. No fim dosculo 19, a doutrina de

    igualdade perante a lei ocupava umplano importante e o seu desrespeitodespertava mais indignao do queum pogrom*.

    Dreyfus, que desde o incio de1895 apodrecia, j meio enlouqueci-do, em uma cela na Ilha do Diabo, foitrazido de volta para a Frana. Nosanos em que ficara preso acreditavater sido esquecido, pois nunca lhe forarevelado o furor que sua priso provo-cara na Frana.

    A Corte de Cassao, o mais altoTribunal de Justia da Frana, anulouo veredicto anterior e determinou arealizao de novo julgamento militar,desta vez aberto ao pblico, na cida-de porturia de Rennes. Centenas dejornalistas de vrios pases assistiram,estarrecidos, ao espetculo de dio e

    preconceito despudorados contra oacusado. No havia dvida de que onico objetivo era confirmar a conde-nao do ru. Apesar de todas as irre-futveis evidncias da falsificao dasprovas e de que o traidor era Este-rhazy, em apenas uma hora os oficiaisdo tribunal voltaram a pronunciar overedito de culpado a Dreyfus, destavez condenando-o a apenas dezanos de priso. A sentena provocouindignao generalizada na Frana eno resto do mundo.

    Em uma tentativa de pacificar opas e o capital estrangeiro, o pre-sidente mile Loubet indultou Dreyfusem 19 de setembro de 1899. O per-do devolvia-lhe a liberdade, masno a dignidade perdida. Dentre osdefensores do oficial judeu haviaquem o criticasse por ter aceitado oindulto. Para estes, ele respondeu queno teria sobrevivido mais tempo napriso e, morto, no poderia conti-nuar lutando para provar sua ino-cncia, o que, de fato, fez. Em ju-nho desse mesmo ano, mile Zola,uma das mais fortes vozes da defe-sa de Dreyfus, fora autorizado a re-gressar do exlio na Inglaterra. Ogrande defensor no conseguiria, noentanto, ver a reabilitao de Drey-fus. Foi encontrado morto, asfixiado,em seu apartamento, em circunstn-cias misteriosas e, at hoje, no es-clarecidas, em 29 de setembro de1902. Em seu enterro, Dreyfus foi pu-blicamente insultado.

    Somente em 1906, quando Cle-menceau, um dos defensores de Drey-fus, assumiu a presidncia da Frana,fez-se justia. Em 12 de julho desseano, a Corte de Cassao finalmenteanulou o julgamento de Rennes e o ca-pito Dreyfus foi reabilitado, reinte-grado ao exrcito como major e con-decorado com a Legio de Honra. Emparalelo, Picquart foi nomeado minis-tro da Guerra.

    A resposta da Justia foi tardia efoi preciso recorrer a um subterfgio

    1155Notcias de Israel, junho de 2007

    Horizonte

    Theodor Herzl, ento um jovem jornalista sediadoem Paris, disse posteriormente que o Caso Dreyfusconvenceu-o de que no havia nenhum lugar seguro para os judeus na Dispora, o que tornava imperativo terem seu prprio Estado.

    Movimento popular de violncia contra os judeus.

  • 1166 Notcias de Israel, junho de 2007

    Horizonte

    legal, pois, como ressaltou HannahArendt, renomada cientista poltica ju-dia, a Corte de Cassao no tinhacompetncia legal para julgar casos

    militares. Somente um tribunalmilitar poderia reverter o vere-dicto dado por um outro tribu-nal militar e nenhum destes ja-mais chegou a fazer a pronn-cia da no-culpabilidade deDreyfus.

    Em 1985, o presidente Fran-ois Mitterrand ofereceu umaesttua de Dreyfus Escola Mi-litar. O Exrcito recusou-se aexibi-la e, hoje, ela est expos-ta nos Jardins das Tulherias. So-mente em 1995, mais de um s-culo aps a deportao do ca-

    pito para a Ilha do Diabo, suainocncia foi reconhecida pelas ForasArmadas. Esse fato ocorreu apenasdepois que um historiador oficial do

    Exrcito provocou um escndalo aoquestionar publicamente a injustiahumana e histrica cometida. (extra-do de www.morasha.com.br)

    Bibliografia: Sachar, Howard, The Course of Modern Je-

    wish History, Vintage Books, 1990 Cain, Fabrice, LAffaire Dreyfus, publicado

    em maro de 1994 no Rak Rega, publica-o do Departamento de Juventude e Heha-lutz do O.S.M.

    Baltz, Matthew, The Dreyfus Affair, Its Cau-ses, and its Implications, 25 de janeiro de1999.

    Schechter, Ronald, The Ghosts of AlfredDreyfus, publicado no jornal Forward, TheJewish Daily, 7 de julho de 2006.

    Em 1985, o presidente Franois Mitterrand ofereceu uma esttua de Dreyfus Escola Militar, mas o Exrcito recusou-se a exibi-la.

    Milhes de pessoas leram An-ne Frank: Dirio de uma Jovem,obra que narra o cotidiano deuma garota judia e sua famlia, de1942 a 1944, enquanto viviam noanexo secreto, um esconderijo emAmsterd (Holanda).

    O dirio um comovente testemu-nho sobre a maldade perniciosa dosnazistas. Sobre a obra, o escritor so-vitico Ilya Ehrenburg escreveu: Umavoz fala pelos 6 milhes de judeusmortos; a voz no de um sbio, nemde um poeta, mas de uma jovem comotantas e tantas outras. A voz de Annerevestiu o Holocausto de uma face tan-gvel, dando-lhe uma dimenso maisfcil de ser entendida, apesar da difi-culdade da mente humana em lidarcom tamanho horror.

    Ao ler o dirio, o leitor pessoal-mente confrontado com a realidadeda perseguio contra os judeus, sen-

    do, portanto, compreensvel o interesseem ver de perto o lugar onde Anne, amais conhecida e discutida vtima doHolocausto, escrevia. Desde a primei-ra publicao do dirio, em 1947, oAnexo tem sido visitado por milha-res de pessoas. Em 1960 foi transfor-mado no museu denominado The An-ne Frank House.

    A visita ao museu uma viagemno tempo ao mundo de Anne, dosocupantes do Anexo e de seusAjudantes os quatro funcionriosde Otto Frank, pai de Anne, que osajudaram e protegeram nos dois anosem que viveram escondidos. O panode fundo so os terrveis anos da Sho(Holocausto). H, no entanto, uma di-ferena em relao ao livro. Enquantoa narrativa do dirio termina algunsdias antes dos ocupantes serem presospela Gestapo (a polcia poltica nazis-ta), o museu vai alm, revelando o

    destino de cada um deles medianteimagens, documentos e depoimentos.

    Para recordar o 75 aniversrio donascimento da jovem, o museu publi-cou o livro Inside Anne Franks House,an Illustrated Journey through Annes

    Uma viagem ao mundo de Anne Frank

    Anne Frank.

  • World (Por Dentro da Casa de AnneFrank Uma Jornada Ilustrada Atra-vs do Mundo de Anne). O ttulo daobra revela o intuito de seus editores permitir a um nmero ainda maior depessoas conhecerem a adolescente e omundo em que viveu. No h dvidade que as imagens reproduzidas soparte do testamento e do legado deAnne, que permanece vivo. Um lega-do sobre o qual ela se manifestou nodia 5 de abril de 1944, ao escrever:Eu quero continuar a viver depois daminha morte e, por isso, sou grata aDeus por ter me presenteado com odom de escrever, de conseguir expres-sar tudo o que est dentro de mim.

    Uma curta vidaA vida da jovem destinada a ser a

    voz dos milhes de judeus mortos du-rante o Holocausto foi curta, mas sig-nificativa. Annelise Marie nasceu em12 de junho de 1929, em Frankfurt, eera a segunda filha de Otto e EdithFrank, abastados judeus alemes. Ospais a chamavam de Anne.

    Em 1933, com a ascenso deAdolf Hitler ao poder, os Frank decidi-ram viver em Amsterd, na Holanda.Otto se mudou imediatamente, pois seapresentara a oportunidade de montar

    uma franquia, a Opekta Works, paraa comercializao de pectina, subs-tncia usada na fabricao de gelias.Edith, Anne e a irm Margot se junta-ram a ele, tempos depois. Em Amster-d, voltaram a desfrutar de liberdadee relativa tranqilidade, apesar dasalarmantes notcias sobre a intensifica-o da discriminao aos judeus emoutras partes.

    Nem a tolerante e pacfica Holan-da conseguiu escapar da fria que seabateu sobre a Europa. Em maio de1940, os exrcitos alemes ocuparamo pas, a monarquia foi deposta e oaustraco Artur Seyss-Inquart, conheci-do por seu brutal anti-semitismo, assu-miu o governo, dando incio campa-nha de perseguio judaica.

    Otto, que no tinha iluses sobreos nazistas, imediatamente tomou me-didas para proteger sua famlia. Emsetembro de 1941 transferiu a titulari-dade da firma a um dos ajudantes, Jo-hannes (Jo) Kleiman, apesar de conti-nuar frente do empreendimento.Kleiman o ajudou a planejar o mer-gulho, como era chamada a passa-gem de judeus para a vida na ilegali-dade. Eles transformaram num escon-derijo perfeito um anexo vazio nacasa 263 da rua Prisengracht. Era umprdio atrs do escritrio onde ficava

    o depsito da firma. Algum tempo de-pois, Otto pediu ajuda a mais trs an-tigos e fiis funcionrios: Victor Kru-gler, Miep Gies e Bep Voskuij. Juntocom Jo Kleiman, compunham o quar-teto dos Ajudantes.

    No dia do seu 13 aniversrio, 12de junho de 1942, Anne recebeu depresente um dirio. Ela no imaginavaa importncia que este teria. Quando,em 5 de julho, sua irm Margot foiconvocada pela Gestapo, os Frank de-cidiram que no podiam adiar nemmais um minuto o mergulho. Assim,

    1177Notcias de Israel, junho de 2007

    Horizonte

    Margot, Otto, Anne e Edith Frank emMerwedeplein (Amsterd), 1941.

    Otto Frank, pai de Anne. O dirio de Anne.

  • no dia seguinte, passaram para aclandestinidade. Uma semana maistarde, juntou-se a eles o casal VanPels, scios e amigos, e o filho Peter.Em novembro chegou o ltimo ocu-pante, Fritz Pfeffer.

    Um velho rdio, ao qual viviam co-lados, era, alm dos Ajudantes, seunico contato com o mundo exterior.Todos os cuidados eram necessriospara que a vizinhana e os demaisfuncionrios da empresa, principal-mente os que trabalhavam no depsi-to, no suspeitassem que ali havia ju-deus escondidos.

    Surpreendendo pela sua maturida-de apesar dos 14 anos, Anne descre-veu no dirio, com pormenores, seucotidiano e o dos outros ocupantes.A sensao de estarem presos sem po-der ver ainda que uma nesga do cu eo medo de serem descobertos estavamsempre presentes. Em vrios trechosAnne d detalhes das crescentes restri-es e perseguies nazistas contra osjudeus. Em maro de 1944, a adoles-cente ouviu uma transmisso da rdioinglesa em que Gerrit Bolkestein, mi-nistro do governo holands no exlio,

    convidava os cidados a preservaremdocumentos e histrias pessoais sobrea guerra. A jovem ento decidiu que,ao trmino do conflito, publicaria umlivro baseado em seu dirio.

    Apesar do medo e do sofrimento,Anne ainda nutria esperanas provade que desconhecia a real face do Ho-locausto. Em uma de suas ltimas ano-taes, em 15 de julho de 1944, es-creveu: Vejo o mundo se transformar,gradualmente, em um grande deserto,ouo o trovo se aproximando, o mes-mo que nos destruir a todos. Sofrocom o sofrimento de milhes e, no en-tanto, se levanto os olhos aos cus, seique tudo acabar bem, toda essacrueldade desaparecer.... O diriode Anne Frank termina no dia 1 deagosto, trs dias antes de sua priso.Foram as ltimas palavras que escre-veu.

    A prisoEm 4 de agosto de 1944, aps a

    denncia, a Gestapo invadiu o escrit-rio da empresa e imediatamente se di-rigiu entrada do Anexo Secreto,obrigando Victor Kugler a abri-lo. Seusocupantes, o prprio Victor e Jo Klei-man foram presos. Assim que os nazis-tas deixaram o local, Miep Gies e BepVoskuijl voltaram ao esconderijo e en-contraram cadernos e anotaesde Anne espalhados pelo cho,que recolheram e guardaram jun-tamente com vrios lbuns de fo-tos. As jovens decidiram, ento,que Miep os guardaria para de-volv-los a Anne assim que aguerra terminasse. A moblia doAnexo foi confiscada e removida,por ordem da Gestapo.

    Os presos tiveram destinos diferen-tes. Os oito ocupantes foram levadospara o campo de trnsito de Wester-bork, de onde saam os trens rumoao Leste. Por no serem judeus, osdois Ajudantes, Victor e Johannes,foram enviados para Amersfoort, umcampo de trnsito. Kleiman acabousendo libertado e Kugler conseguiu fu-gir.

    No dia 3 de setembro todos osocupantes do Anexo foram juntados aoutros mil judeus, no ltimo trem quesaiu de Westerbork para Auschwitz,na Polnia. Testemunhas contam queAnne, Margot e Edith ficaram juntasat as duas irms serem transferidas,em outubro, para Bergen-Belsen, naAlemanha. No ms seguinte, Edithadoeceu, morrendo em janeiro de1945, aos 44 anos.

    Em Bergen-Belsen, para onde asjovens foram levadas, as condies devida eram ainda piores que em Aus-chwitz e as duas irms logo contra-ram tifo. Doente e muito fraca, Margotno resistiu, vindo a falecer em maro,com apenas 19 anos. A morte da irmfez em Anne o que nada at ento fo-ra capaz de fazer quebrar seu esp-rito. Alguns dias mais tarde, faleceu.No se sabe ao certo quando, mas adata universalmente aceita 31 demaro de 1945. Anne tinha 15 anos.

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    Horizonte

    Vista atual da casa de Anne Frank.

    A entrada para o Anexo,escondida por uma estante de livros.

  • Apenas algumas semanas depois, em15 de abril, o campo foi libertado pe-lo exrcito ingls.

    Das oito pessoas do Anexo Secre-to, apenas Otto sobreviveu, por mila-gre. Havia sido enviado para o barra-co de doentes de Auschwitz, em no-vembro de 1944, enquanto outrosprisioneiros do campo, cerca de 11mil, evacuados pelos nazistas medi-da que os russos avanavam, foramlevados a p nas terrveis Marchas daMorte, das quais poucos sobrevive-ram. E o pai de Anne se encontravaainda l quando, no dia 27 de janeirode 1945, o campo foi libertado pelasforas soviticas.

    Dos 140 mil judeus que viviam naHolanda e se registraram junto s au-toridades alems, 107 mil foram de-portados. Desse total, apenas 5.500retornaram. Cerca de 24 mil pessoasconseguiram esconder-se, 8 mil dasquais foram capturadas. Apenas 35mil judeus conseguiram sobreviver aoHolocausto na Holanda. Ou seja, 70%dos judeus holandeses foram vtimasda Sho, um ndice superior a qual-quer outro registrado nos pases ocu-pados pela Alemanha, na EuropaOcidental.

    A viagem de Otto de volta paraAmsterd durou vrios meses. No tra-

    jeto, foi informado por uma amiga deEdith sobre a morte dela, em Aus-chwitz. Em junho, ele chegou capitalholandesa, onde encontrou, ainda fun-cionando, sua empresa Opekta, agoradirigida por Jo Kleiman. Procurou, de-sesperado, qualquer informao sobreo paradeiro das duas filhas, mas noms seguinte foi obrigado a aceitar ofato de que no haviam sobrevivido.Miep lhe entregou ento os cadernosque encontrara, dizendo: Este o le-gado de sua filha Anne para voc.

    Otto nunca desconfiara da existn-cia daqueles registros. Estimulado poramigos, decidiu publicar o dirio, masno encontrou nenhuma editora inte-ressada. Os manuscritos acabaramnas mos do casal Romein, historiado-

    res holandeses. Impressionado com omaterial, o Dr. Romein escreveu umartigo, A Voz de uma Criana, parao renomado jornal Het Parool, ondeafirmou: Este dirio de aparncia in-fantil incorpora toda a hediondez donazismo de forma muito mais visvel econtundente do que todo o conjuntode evidncias apresentadas perante oTribunal de Nuremberg.

    O artigo despertou o interesse deuma editora e, em junho de 1947, oDirio de Anne Frank foi publicadona Holanda, pela primeira vez. Ottoconseguira realizar o desejo da filha:ser escritora. Desde sua publicao, oDirio foi traduzido para 67 idio-mas, tornando-se um dos livros maislidos no mundo. Seu texto deu origema produes de televiso, cinema, tea-tro e, at mesmo, uma pera.

    Museu Anne FrankComo vimos acima, a publicao

    da primeira edio do Dirio des-pertou o interesse do pblico sobre olocal onde aconteceram os eventosnarrados por Anne. Assim, de manei-ra informal, comeou a visitao aoAnexo Secreto.

    Entre 1950 e 1953, a construtoraBerghaus, interessada na aquisio depropriedades antigas para transform-las em novas edificaes comerciais,adquiriu vrios imveis da rua Prin-sengracht, inclusive a casa onde ficava

    1199Notcias de Israel, junho de 2007

    Horizonte

    O campo de concentrao de Bergen-Belsen.

    Fritz Pfeffer.O casal Van Pels.

  • o Anexo. Paralelamente, crescia a fa-ma do Dirio. Nos Estados Unidosanunciou-se tambm o projeto demontagem de uma pea. O diretor doespetculo visitou o Anexo e pediu fotgrafa Maria Austria fotos detalha-das de todos os ngulos do local.Quando a pea O Dirio de AnneFrank estreou na Holanda, em no-vembro de 1956, fez aumentar, aindamais, a fama do esconderijo.

    Otto Frank passou a se dedicar in-tegralmente ao dirio da filha. Com aajuda principalmente de Kleiman, lu-tou pela preservao do edifcio ondea famlia se escondera. Entre a popu-lao de Amsterd havia um consensogeral de que o local deveria ser pre-servado. O jornal holands Het VrijeVolk organizou, em 23 de novembro,data em que o prdio seria derruba-do, um protesto no local contra a de-molio. Como resultado, a empresarecebeu ordens de interromper os tra-balhos. O governo municipal de Ams-terd, em troca, ofereceu companhiaum terreno alternativo.

    No dia 3 de maio de 1957 foicriada a fundao The Anne FrankHouse que visa a preservao e a re-novao do nmero 263 da Prisen-gracht, alm da divulgao do legadode Anne. Em outubro, a construtoraBerghaus fez a doao oficial do pr-dio. Aps dois anos de restaurao,no dia 3 de maio de 1960, a AnneFrank House foi oficialmente aberta aopblico. Mais de nove mil pessoaspassaram pelo local, em seu primeiroano, multiplicando-se rapidamente es-te nmero na dcada seguinte. O vo-lume crescente de visitantes tornou ne-cessrias algumas reformas a pri-meira, em 1970. As demaisocorreram entre 1996 e 1999, sendoampliado o museu. Foram incorpora-dos novos espaos para exposies,um novo prdio foi construdo prximoao museu, facilitando a reconstituioda frente da casa onde ficava o es-conderijo ao seu estado original.

    Os escritrios, que ficavam emfrente, foram reconstrudos exatamentecomo eram em 1940. Os trabalhosduraram at 1999. Durante todo otempo da reforma o Anexo Secretopermaneceu aberto ao pblico. Em2004, o museu recebeu aproximada-mente um milho de visitantes.

    O local estruturado para contar ahistria das oito pessoas que l se re-fugiaram e tambm daqueles que asajudaram. Os visitantes podem ver deperto objetos pessoais dos ocupantescomo, por exemplo, um pster com fo-tos de artistas de cinema colocado naparede por Anne; um papel de paredeno qual Otto Frank registrava a alturade suas filhas em fase de crescimentoe um mapa no qual marcava os avan-os das foras aliadas. Nos quartosesto expostos trechos do dirio deAnne, para que as pessoas possam teruma idia de como transcorriam osdias no Anexo Secreto.

    Viagem no tempoO livro Inside Anne Franks House

    conduz os leitores atravs da mesmarota que os visitantes fazem no tourpela casa e reproduz pginas doDirio expostas no museu, bem co-mo o testemunho de Otto e de vriaspessoas que ajudaram ou tiveram con-tato com a jovem. H tambm comen-trios sobre o impacto que suas im-presses causaram nos leitores.

    Muitas das fotografias em preto ebranco, tiradas em 1954 por MariaAustria, podem ser vistas no livro. Fo-ram tambm includas outras imagenscoloridas do mobilirio provisrio, pa-ra que os leitores pudessem ter umamelhor percepo da vida dos ocu-pantes do Anexo Secreto.

    Atravs de imagens da famliaFrank, da casa, dos amigos de Anne edas pessoas que os ajudaram, pode-se reviver a poca. Essa documenta-o fotogrfica representa parte cru-cial na reconstituio da histria dos

    judeus durante a 2 Guerra Mundial edo Holocausto. Coloridas ou em pretoe branco, as imagens provocam pro-funda emoo.

    Em 9 de abril de 1944 Anne escre-veu: Um dia, esta guerra terrvel aca-bar. H de chegar a hora em quenovamente seremos considerados se-res humanos e no apenas judeus.

    Como j dissemos, seu dirio ter-mina no dia 1 de agosto de 1944.Ela no deixou nada escrito sobre osmeses que passou nas mos dos nazis-tas e sobre os campos de concentra-o. Anne Frank tornou-se para mui-tos a face de milhes de vtimas daSho, sem rosto e sem nome. O escri-tor Primo Levi, que sobreviveu a Aus-chwitz, explica: Uma nica AnneFrank nos emociona mais do que mi-lhares de outros que sofreram tantoquanto ela, mas cujos rostos permane-ceram na sombra. Talvez seja melhordesta forma, pois se tivssemos queabsorver o sofrimento de todas essaspessoas, talvez no estaramos maisvivos. (extrado de www.moras-ha.com.br)

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