NOTÍCIA 6 de julho de 2016 ARQUITETURA As muitas ... · História, o corpo tem sido o grande mote...

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NOTÍCIA 6 de julho de 2016 ARQUITETURA JOSÉ DE ARIMATHÉIA D esde que o ser humano começou a representar a si mesmo em imagens de duas ou três dimensões, ainda na Pré- História, o corpo tem sido o grande mote para tais expressões. Igualmente, desde que os seres humanos começaram a criar abrigos e habitações, o corpo tem sido referencial para a concretização de tais projetos. Estes são os pontos de partida do pro- jeto de ensino “Corpo humano: forma e função”, coordenado pelo professor Jorge Marão Carnielo Miguel (Departamento de Arquitetura e Urbanismo). Forma e função são conceitos da Arquitetura. A primeira designa a figura e o aspecto exterior dos corpos materiais, enquanto a segunda é o atendimento às necessidades apresentadas à arquitetura. Elas coexistem em relativa tensão, porque uma preocupação excessi- va com a forma pode comprometer a função, e vice-versa. O equilíbrio está no que hoje é chamado de ergonomia. Auxiliado por quatro alunos de Arqui- tetura, dos quais dois são bolsistas, o professor Jorge Marão já levantou mais de 200 imagens, entre pinturas, esculturas, desenhos e até imagens de ultrassonografia e raio X, que têm representado o corpo humano sob diversas perspectivas, desde a personificação da fertilidade das Vênus pré-históricas, passando pelos homens ligados ao Cosmos da Idade Média, pelas lições de anatomia dos pintores modernos como Rembrandt, até chegar aos homens máquinas dos séculos XX e XXI. As imagens selecionadas não repre- As muitas representações do corpo humano na História Projeto de ensino mapeia as representações imagéticas do corpo humano, desde a Pré-História, e produz material didático para uso em sala de aula sentam apenas ideais de beleza de cada época. Há imagens de corpos abertos e de órgãos expostos, assim como representa- ções de feios, loucos, deformados, muti- lados, malformados, sem falar na chama- da bodyart, isto é, na arte contemporânea que usa o próprio corpo como suporte – tatuagens, por exemplo. O professor Marão lembra que o estu- do destas imagens extrapola a Arquitetura e entra em outras áreas, como Arte, Filo- sofia, Medicina e História. Por isso, ele pretende envolver docentes destas áreas em algumas fases do projeto e, além disso, os alunos participantes realizam pesquisas e leituras complementares. No momento, por exemplo, eles estudam a obra “O homem máquina: a ciência manipula o corpo”, do filósofo, jornalista e professor Adauto Novaes (Companhia das Letras). Selecionadas as imagens, os alunos – auxiliados pelas leituras – vão produzir textos de apoio para o material visual, montado em slides de Powerpoint por ordem cronológica, e gravados em DVD. Depois de pronto, poderá ser disponibilizado. Além disso, os alunos estão produzindo artigos para serem pu- blicados e trabalhos para serem apresen- tados em eventos científicos. História – O professor lembra que a representação do corpo sempre esteve ligada a questões fundamentais, como a fertilidade e a morte. Os gregos definiram o corpo humano como referência para as coisas, e sua arte mostrava corpos perfei- tos. As colunas gregas antigas também eram relacionadas aos corpos do homem e da mulher. Na Idade Média, foi estabelecida a sacralidade (e consequente inviolabilidade) do corpo humano. Isso só se modificou no Renascimento, quando as dissecações foram permitidas, e se passou a olhar tanto dentro quanto fora do corpo. Paralela- mente, os padrões de beleza foram mu- dando. E assim se chega aos tempos contemporâneos, quando próteses e im- plantes artificiais substituem partes do corpo e imitam suas funções – aí estão, novamente, forma e função. Na Arquitetura, o suíço naturalizado fran- cês Le Corbusier (Charles-Edouard Jeanneret-Gris) cunhou a expressão “má- quina de morar”. Expoente da arquitetura moderna mundial, ele defendia que uma casa deve ser confortável, agradável, bela, mas também funcional, eficiente, apta a atender as necessidades dos moradores – como uma máquina. Para os modernistas, segundo Marão, a forma deve seguir a função. Participantes - Integram do projeto os alunos Mateus da Silva Fraga, Priscila Meira Ramos Amorim, Patrícia de Almeida Vieira e Vitória Sanches Lemes Soares, todos do terceiro ano do curso de Arqui- tetura da UEL. O professor Jorge Marão conta com o apoio de alunos do curso de Arquitetura da UEL “O Homem como fábrica”, de Fritz Kahn (1926) “Formas Únicas de Continuidade no Espaço”, de Umberto Boccioni (1913) “O homem universal”, de Hildergard de Bingen (século XII) “O zodíaco anatômico do homem”, dos irmãos Limbourg (século XV)

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NOTÍCIA 6 de julho de 2016 ARQUITETURA

JOSÉ DE ARIMATHÉIA

Desde que o ser humano começou arepresentar a si mesmo em imagens

de duas ou três dimensões, ainda na Pré-História, o corpo tem sido o grande motepara tais expressões. Igualmente, desdeque os seres humanos começaram a criarabrigos e habitações, o corpo tem sidoreferencial para a concretização de taisprojetos.

Estes são os pontos de partida do pro-jeto de ensino “Corpo humano: forma efunção”, coordenado pelo professor JorgeMarão Carnielo Miguel (Departamento deArquitetura e Urbanismo). Forma e funçãosão conceitos da Arquitetura. A primeiradesigna a figura e o aspecto exterior doscorpos materiais, enquanto a segunda é oatendimento às necessidades apresentadasà arquitetura. Elas coexistem em relativatensão, porque uma preocupação excessi-va com a forma pode comprometer afunção, e vice-versa. O equilíbrio está noque hoje é chamado de ergonomia.

Auxiliado por quatro alunos de Arqui-tetura, dos quais dois são bolsistas, oprofessor Jorge Marão já levantou mais de200 imagens, entre pinturas, esculturas,desenhos e até imagens de ultrassonografiae raio X, que têm representado o corpohumano sob diversas perspectivas, desdea personificação da fertilidade das Vênuspré-históricas, passando pelos homensligados ao Cosmos da Idade Média, pelaslições de anatomia dos pintores modernoscomo Rembrandt, até chegar aos homensmáquinas dos séculos XX e XXI.

As imagens selecionadas não repre-

As muitas representaçõesdo corpo humano na História

Projeto de ensino mapeia as representações imagéticas do corpo humano, desde a Pré-História,e produz material didático para uso em sala de aula

sentam apenas ideais de beleza de cadaépoca. Há imagens de corpos abertos e deórgãos expostos, assim como representa-ções de feios, loucos, deformados, muti-lados, malformados, sem falar na chama-da bodyart, isto é, na arte contemporâneaque usa o próprio corpo como suporte –tatuagens, por exemplo.

O professor Marão lembra que o estu-do destas imagens extrapola a Arquiteturae entra em outras áreas, como Arte, Filo-sofia, Medicina e História. Por isso, elepretende envolver docentes destas áreasem algumas fases do projeto e, além disso,os alunos participantes realizam pesquisase leituras complementares. No momento,por exemplo, eles estudam a obra “Ohomem máquina: a ciência manipula o

corpo”, do filósofo, jornalista e professorAdauto Novaes (Companhia das Letras).

Selecionadas as imagens, os alunos –auxiliados pelas leituras – vão produzirtextos de apoio para o material visual,montado em slides de Powerpoint porordem cronológica, e gravados em DVD.Depois de pronto, poderá serdisponibilizado. Além disso, os alunosestão produzindo artigos para serem pu-blicados e trabalhos para serem apresen-tados em eventos científicos.

História – O professor lembra que arepresentação do corpo sempre esteveligada a questões fundamentais, como afertilidade e a morte. Os gregos definiramo corpo humano como referência para ascoisas, e sua arte mostrava corpos perfei-

tos. As colunas gregas antigas tambémeram relacionadas aos corpos do homeme da mulher.

Na Idade Média, foi estabelecida asacralidade (e consequente inviolabilidade)do corpo humano. Isso só se modificouno Renascimento, quando as dissecaçõesforam permitidas, e se passou a olhar tantodentro quanto fora do corpo. Paralela-mente, os padrões de beleza foram mu-dando. E assim se chega aos temposcontemporâneos, quando próteses e im-plantes artificiais substituem partes docorpo e imitam suas funções – aí estão,novamente, forma e função.

Na Arquitetura, o suíço naturalizado fran-cês Le Corbusier (Charles-EdouardJeanneret-Gris) cunhou a expressão “má-quina de morar”. Expoente da arquiteturamoderna mundial, ele defendia que uma casadeve ser confortável, agradável, bela, mastambém funcional, eficiente, apta a atenderas necessidades dos moradores – como umamáquina. Para os modernistas, segundoMarão, a forma deve seguir a função.

Participantes - Integram do projetoos alunos Mateus da Silva Fraga, PriscilaMeira Ramos Amorim, Patrícia de AlmeidaVieira e Vitória Sanches Lemes Soares,todos do terceiro ano do curso de Arqui-tetura da UEL.

O professor Jorge Marão conta com o apoio de alunosdo curso de Arquitetura da UEL

“O Homem como fábrica”,de Fritz Kahn (1926)

“Formas Únicas de Continuidade noEspaço”, de Umberto Boccioni (1913)

“O homem universal”,de Hildergard de Bingen (século XII)

“O zodíaco anatômico do homem”,dos irmãos Limbourg (século XV)