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NOTAS DE INVESTIGAÇÃO XXIV —O PROJECTO HISLAMPÁ Um projecto conjunto de membros das Faculdades de Letras de Lisboa e de Santiago de Compostela, intitulado HISLAMPÁ sigla que está por Hispanorum Index Scriptorum Latinorum Medii Pçste- riorisque Aeui acaba de ser anunciado no volume XII (Nova Série) da revista Euphrosyne. Compõem-no os professores Manuel C. Diaz y Diaz, José Manuel Diaz de Bustamante e José Eduardo López Pereira, do lado espanhol, e Aires Augusto Nascimento e Maria Isabel Rebelo Gonçalves, do lado português. As breves notas que vão seguir-se são oferecidas no melhor espírito de colaboração, pois há bem trinta anos que, em Coimbra, estudamos o Humanismo Renascentista Português e muitos dos auto- res deste índice são humanistas nossos conhecidos. Com efeito, apesar de o título do projecto se referir especialmente ao estudo dos autores da Tdade Média que escreveram em latim, aquele cómodo Posterions Aeui abre-lhe as portas do Renascimento e pro- longa a Idade Média pelo século XVI fora e, num caso pelo menos, até o fim do século XVII. Sobre a apresentação dos nomes escolhidos, dizem os autores: «Como primeiro critério seguiu-se o da latinização do nome próprio apenas, e não o do apelido, a não ser quando se tratasse de um apelativo que era também vertido para latim (ou mantido, quando registado em alguma das fontes)». Não obstante tão sensatos propósitos, os autores esqueceram-se de ver como é que os escritores novilatinos se designaram a si próprios nas suas obras e acabaram rebaptizando tantos deles, que a sua enu- meração tornaria este artigo demasiado longo. Assim, por exemplo, na p. 285, «DIOGO...uide DIDACUS». Ora acontece que DIOGO pode também ser vertido por IACOBVS ou IACOB, e ocasionalmente por DIEGHVS. Tal aconteceu com Didacus Mendes

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NOTAS DE INVESTIGAÇÃO

XXIV —O PROJECTO HISLAMPÁ

Um projecto conjunto de membros das Faculdades de Letras de Lisboa e de Santiago de Compostela, intitulado HISLAMPÁ sigla que está por Hispanorum Index Scriptorum Latinorum Medii Pçste-riorisque Aeui acaba de ser anunciado no volume XII (Nova Série) da revista Euphrosyne. Compõem-no os professores Manuel C. Diaz y Diaz, José Manuel Diaz de Bustamante e José Eduardo López Pereira, do lado espanhol, e Aires Augusto Nascimento e Maria Isabel Rebelo Gonçalves, do lado português.

As breves notas que vão seguir-se são oferecidas no melhor espírito de colaboração, pois há bem trinta anos que, em Coimbra, estudamos o Humanismo Renascentista Português e muitos dos auto­res deste índice são humanistas nossos conhecidos.

Com efeito, apesar de o título do projecto se referir especialmente ao estudo dos autores da Tdade Média que escreveram em latim, aquele cómodo Posterions Aeui abre-lhe as portas do Renascimento e pro­longa a Idade Média pelo século XVI fora e, num caso pelo menos, até o fim do século XVII.

Sobre a apresentação dos nomes escolhidos, dizem os autores: «Como primeiro critério seguiu-se o da latinização do nome próprio apenas, e não o do apelido, a não ser quando se tratasse de um apelativo que era também vertido para latim (ou mantido, quando já registado em alguma das fontes)».

Não obstante tão sensatos propósitos, os autores esqueceram-se de ver como é que os escritores novilatinos se designaram a si próprios nas suas obras e acabaram rebaptizando tantos deles, que a sua enu­meração tornaria este artigo demasiado longo.

Assim, por exemplo, na p. 285, «DIOGO...uide DIDACUS». Ora acontece que DIOGO pode também ser vertido por IACOBVS ou IACOB,

e ocasionalmente por DIEGHVS. Tal aconteceu com Didacus Mendes

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de Vasconcelos, cujo nome latino é usualmente lacobus Menoetius Vasconcellus, ou com Didacus Pacheco que subscreveu a sua oração de obediência ao Papa Júlio II como Dieghus Pacettus, ou com Didacus de Teive que se chamou constantemente lacobus Teuius.

Já Didacus Pires usou dois nomes, o de Didacus Pyrrhus Lusitanus e o de lacobus Flauius (ou Flauius lacobus) Eborensis. Note-se que estes dois nomes, um começado por Didacus e o outro por lacobus, pertencem à mesma pessoa. No índice do HISLAMPA figuram como duas pes­soas diferentes.

Nos exemplos dados atrás, pode ver-se como os humanistas não utilizaram apenas o nome próprio em latim (1) mas gostavam de lati­nizar também os apelidos, por vezes, com a intenção de formar a tríade onomástica romana, v.g. em Lucius Andreas Resendius (ou L. Andreas Resendius) ou Antonius Pinarius Portodemaeus.

Daí também que muitos acrescentaram Lusitanus ao seu nome (só me interessam aqui os portugueses), quer para se identificarem no conjunto dos Hispani, quer para conseguirem o almejado tríplice nome. Assim, o humanista de Évora, criador da palavra Lysiades, não chamou a si próprio Andreas de Resende, como é rebaptizado no Index (2).

E a propósito : aquele Lucius, Portuensis da p. 297 é ainda Lucius Andreas Resendius, como tive ocasião. de mostrar no artigo «Lúcio, poeta-fantasma, e Luís de Camões», Biblos LVII, Coimbra, 1981, pp. 365-378. E já que toco neste assunto, desejo aqui lembrar que no volume CXL-CXLI de O Instituto, 1980/81 (mas saído em 1984), na p. 97, aparece identificado como André de Resende o destinatário de uma ode de Diogo Pires «Ad Lucium Lusitanum poetam», graças ao meu artigo qus, todavia, foi omitido. Trata-se de uma distracção de quem corrigiu o artigo em Portugal (o original identificava Lucius com Luís de Camões), emendando o texto recebido da Jugoslávia, onde o Autor se encontra, mas esquecendo-se de fazer a devida citação.

(1) A tendência para latinizar apenas o nome próprio é, normalmente, pos­terior ao século XVI.

(2) Sobre as questões relativas ao seu nome, ver A. Costa Ramalho, «Lucius Andreas Resendius. Porquê Lucius?», Humanitas XXI-XXII, Coimbra, 1969-70, pp. 353-364; e Paul Teyssier, «Lucius Andreas Resendius. Pourquoi Lucius?», Humanitas XXXI-XXXII, Coimbra, 1979-80, pp. 155-165.

O primeiro artigo foi reimpresso em Américo da Costa Ramalho, Estudos sobre o Século XVI, Paris, Fondation Gulbenkian, 1980; 2.a edição aumentada, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983.

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Os humanistas tinham os seus gostos e as suas pequenas manias. Jorge Coelho não estimaria certamente ver-se tratado por Georgius Coelho, ele que laboriosamente fabricou Coelius e a si mesmo chamou Georgius Coelius. De igual modo, aquele Nicolaus Coelho do Amaral se intitulou Nicolaus Coelius Maralius. E D. Miguel da Silva, o bispo--humanista que fugiu a D. João III e foi cardeal em Roma, perderia muito da sua aura de poeta novilatino, se não se chamasse Michael Siluius (ou Syluius), como era tratado em latim, e não Michael da Silva como no Index.

Dos Gouveias, vejo na lista do HISLAMPA Andreas de Gouveia, Antonius de Gouveia, Martialis de Gouveia e faltam lá alguns mais. Todavia, os dois primeiros, pelo menos, chamavam-se em latim, quando eram vivos, Andreas Goueanus e Antonius Goueanus.

O apelido dos Teixeiras era Tessira, pelo menos nos documentos literários. O dos Meneses era Menesius: o bispo que primeiro uti­lizou Lusitanus para Português, ao discursar em Roma perante Sisto IV. em 31 de Agosto de 1481, a si mesmo apelidou de Garsias Menesius; e o 2.° conde de Alcoutim, que falou na Universidade de Lisboa, em 18 de Outubro de 1504, chama-se, no título da sua oratio, Peirus Menesius. O Index conhece-os, respectivamente, por Garsias de Meneses e Petrus de Menezes.

E os Nunes? Apelidar o conhecido matemático de Petrus Nunes é privá-lo do nome por que foi conhecido na Europa, Petrus Nonius, e da razão de chamar-se «nónio» o instrumento de cálculo a que ele deu origem. Aliás, o seu nome completo, bem humanístico, foi Petrus Nonius Salaciensis.

Também o médico Ludovicus Nunes se chamou Ludouicus Nonius e é de notar que este nome designa duas pessoas diferentes, possivel­mente avô e neto, que fizeram a sua carreira nos Países Baixos. Aliás, não percebo porque é que um terceiro médico, talvez filho do primeiro e certamente pai do segundo, apesar da sua origem portuguesa, deixa de ser Aluarus Nonius (3) para se tornar no índice do HISLAMPA, Alvarus Núfiez.

Acrescente-se que um sujeito a quem os autores rebaptizaram de Antonius de Pina Portodomem se chamava em latim Antonius Pinarius

(3) Cf. A. Costa Ramalho, «O 'Doctor Ludovicus Nonius' retratado por Rubens», Mundo da Arte 16, Dezembro de 1983, pp. 15-18.

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Portodemaeus ou Antonius Pinus Portodemaeus, e era o humanista António Pinheiro, natural de Porto de Mós, que morreu bispo de Leiria, em 1582.

Faltam na lista uns tantos humanistas conhecidos, de textos impressos ou manuscritos, como os irmãos Sanches ou Sanchez (Sanctii ou Sancii), de origem castelhana, que vieram para Portugal com a rainha D. Catarina, mulher de D. João III. Eram eles Rodericus Sanctius e Petrus Sanctius. Também lá não figura o importante dra­maturgo Michael Venegas; o orator Saluator Ferdinandus que saudou em 1509, em Vila Real, o 2.° Marquês, D. Fernando de Meneses na entrada na cabeça do seu marquesado; o apóstolo do Brasil, loseph de Anchieta, grande poeta latino; e alguns mais, como Cataldus Parisius Siculus que, embora nascido na Sicília, passou em Portugal a maior parte da sua. vida e aqui morreu (4).

Sobre todos, ou quase todos, os humanistas aqui citados, há artigos com bibliografia em Verbo: Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (não esquecer o Suplemento, vols. 19 e 20), fonte de informação mais segura do que a Biblioteca Lusitana de Barbosa Machado, onde os erros e confusões são moeda corrente.

AMéRICO DA COSTA RAMALHO

XXV —DAMIÃO DE GÓIS PLAGIADO

Com «introdução, leitura e notas de Leonel Cardoso Martins», saiu em 1984 o Tratado da Cidade de Portalegre de Diogo Pereira de Sotto Maior. Trata-se da 2.a edição, poisa primeira, segundo informa o Dr. Leonel Martins, publicada em 1919 por Luís Keil em 165 exem­plares, se tornou um livro raro.

O texto provém dum manuscrito datado de 1616 que esperou, portanto, trezentos anos, para ver a luz da publicidade. Dele falarei, possivelmente, em outra ocasião.

(4) Sobre o Sículo, há abundante informação em dois livros nossos, Estudos sobre a Época do Renascimento, Coimbra, Centro de Estudos Clássicos e Humanís­ticos, 1969; e Estudos sobre o Século XVI, atrás citado.

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Agora interessa-me apenas o «capítulo XV e último» onde se trata, entre vários sucessos, da «Pressiguição dos cristãos novos em Lisboa, ano de mil e quinhentos e um».

Esta narrativa nada tem a vei com a história de Portalegre, à qual apenas a liga a circunstância de o 3.° bispo da cidade ter sido Frei Amador Arrais que se referiu aos judeus e à sua conversão ao Cato­licismo nos bem conhecidos Diálogos.

A falta de pertinência do capítulo sentiu-a o próprio P.e Sotto Maior, ao escrever no fim dele : «Quis aqui trazer esta história, por ser cousa aconticida no nosso Portugal, que devia ser nos primeiros anos que esta gente veio a ele. Suposto que o bispo Dom Amador não trata, nos seus Diálogos, mais que da entrada deles e da maneira que receberam a nossa santa fé católica, e nesta presiguição não fala, que porventura ou não teve notícia dela ou a tiria por fabulosa como eu a tenho, por a não achar em autor autêntico mais que em um livro de curiosidades que um amigo meu bem curioso de antigualhas me mostrou, e conforme o achei iscrito assi o vendo.»

Tanta lhaneza é comovente. Mas o relato encontra-se já em Damião de Góis e quase ipsis verbis, para o ano de 1506:

D. Góis D. P. Sotto Maior

No mosteiro de sam Domingos da dita cidade esta Ma capella aque chamão de Iesu, & nella hum Cruci­fixo, em que foi entam visto hum sinal, a que dauão cor de milagre, com quanto hos que se na egreja acharam julgauam ho contraire dos quaes hû christão nouo dixe q lhe parecia Ma candea acesa que estaua posta no lado da imagem de Iesu, ho que ouuindo algûs homes baixos, ho tiraram pelos cabellos arrasto fora da egreja, & ho mattaram, & queimaram logo o corpo no resio. Aho qual aluoroço acodio muito pouo, aquém hum frade fez Ma pregaçam conuocandoho contra hos christãos nouos, após ho que sairão dous frades do mosteiro, com hum Crucifixo nas mãos bradando, heresia, heresia, ho que imprimio tanto

No mosteiro de Sam Domingos da dita cidade está ûa capela que cha­mam a capela de Jesus. Nela está um crucifixo em o qual então foi visto um sinal a que davam cor de milagre, suposto que os que se acharam na igreja julgaram o contrário, dos quais um, cristão novo, disse que paricia ûa candeia que estava posta no lado da imagem de Jesus, o que ouvindo alguns homens baixos, o tiraram pelos cabelos, arrastrando fora da igreja e o mataram, e queimaram logo o corpo no Rissio. Ao qual alvoroço acodiu muito povo, a quem um frade fez ûa pregação, convocando-o contra os cristãos novos. E logo saíram dous frades do mosteiro com um crucifixo nas mãos, bradando «heresia, heresia», o que imprimiu tanto em a gente

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em muita gente estrangeira, popular, marinheiros de naos q entam vieram de Holãda, Zelanda, Hoestelãda, & outras partes, assi homes da terra, da mesma condiçam, & pouca calidade, que jûtos mais de quinhentos, come­çaram a mattar todolos christãos nouos que achauam pelas ruas, & hos corpos mortos, & meos viuos lan-çauão & queimauam em fogueiras que tinham feitas na ribeira, & no resio, aho qual negocio lhes seruião escrauos, & moços, que cõ muita diligencia acar-retauam lenha, & outros materiaes pêra acender ho fogo...

estrangeira e popular, marinheiros de naus, que então havia vindo de Holanda e Gelanda e de outras partes, e assi homens da terra ' da mesma condição e pouca calidade que, juntos mais de quinhentos, começaram a matar todos os cristãos novos que acharam pelas ruas, e os corpos meios vivos os lançavam e queimavam em fogueiras que tinham feitas na Ribeira e no Rissio, no qual negóceo lhe ser­viam escravos e moços que com muita diligência acarritavam lenha e outros materiais pêra acenderem o fogo...

Com ligeiras diferenças, o paralelismo da nanativa continua até o fim.

Terão o autor da Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel e o amigo de Sotto Maior usado uma fonte comum?

Não me parece. Creio que o texto copiado por Sotto Maior ou por um amigo (possivelmente inventado), vem directamente da Cró­nica de Damião de Góis, parte I, cap. CII onde os acontecimentos pertencem ao dia 19 de Abril de 1506, de facto domingo de Pascoela ou domingo in albis. Para o autor do Tratado da Cidade de Porta­legre eles ocorreram em 29 de Abril de 1501, dominica in albis; mas esse dia foi uma quinta-feira da segunda semana depois de domingo de Páscoa...

Damião de Góis, falecido em 1574, estivera preso na Inquisição. Assim, o Padre Sotto Maior, em 1616, evitava citar quem, aos seus olhos, era talvez um herege. E pilhava-o...silenciosamente.

A. C. R.

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5 —OS TOPÓNIMOS «SÃO SALVADOR» E «SALVADOR»

Há tempos, alguém nos consultou sobre se devia dizer-se Rua de São Salvador ou Rua do Salvador. A pergunta tinha a sua origem nas placas toponímicas que se encontram na AJta de Coimbra, junto à igreja do respectivo titular. De facto, consultando o Guia Informa­tivo de Coimbra, edição de J. M. P. da Fonseca (3.a edição, 1970, p. 53) lá se encontra: «S. Salvador (largo de) —entre as ruas de S. Salvador, Loureiro e Cabido ; S. Salvador (rua de) — principia na rua do Lou­reiro e termina no Arco do Bispo ; S. Salvador (travessa de) — prin­cipia na rua do Cabido e termina na rua de S. Salvador». Note-se que para um dos topónimos já não há agora ponto de referência: — o Arco do Bispo.

Reconheçamos que se torna um pouco intrigante que o Salvador, Jesus Cristo, seja tratado como se de uma pessoa se tratasse que se distinguiu pelas suas virtudes, como dizemos de S. Pedro, S. João ou S. Cristóvão, para apenas citar locais da antiga Coimbra. Vamos, pois, fazer uma breve investigação.

A. Ernout — A. Meillet, no Dictionnaire étymologique de la langue latine (4.e éd., Paris, 1959) conta saluator entre os derivados de saluus, dizendo-o «usado sobretudo na língua da Igreja».

Albert Blaise, no Dictionnaire latin-français des auteurs chrétiens (Éd. Brepols, Turnhout, 1954) menciona saluator apenas como nome comum, aplicado tanto a Deus como a Cristo.

J. F. Niermeyer, no Mediae Latinitatis Lexicon Minus (Leiden, 1976), além do Salvador (termo cristão que nem documenta), cita dois exem­plos, em que saluator tem o significado comum de «aquele que exerce um direito de protecção» (documentos franceses de 1082-1103 e de 1166).

Saindo, porém, dos nomes comuns e passando à onomástica, já Albert Blaise, no Dictionnaire latin-français des auteurs du Moyen-Age (Turnholti, 1975) cita o Ordo S. Saluatoris (Ordem de São Salvador) como sendo a Ordem de Santa Brígida.

Mais nos importa investigar qual o mais antigo uso na nossa região. O documento n.° 1 dos Diplomata et Chartae (edição de Ale­xandre Herculano, Lisboa, 1867) tem este passo: quorum baselica discernimus et funãamus loci illius sancti loannis Baptiste et Sancti Saluatoris.

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Nos Diplomata et Chartae, n.° 5, temos: Domnis inuictissimis (...) Sancti Donati presbyteri, Sancti Saluatoris et relíquias eorum.

No doc. n.° 6 dos Dipl. et Ch. lemos também: Ego Car ternir o ei Astrilli (...) fundaui ecclesiam (...) uocabulo Sancti Saluatoris, Sancti Andrée Apostoli.

Não vale a pena insistir para saber qual o uso na linguagem do nosso território nos séculos IX e X. Apenas, a título confii mativo, nos vamos servir de uma obra recente, que é uma colectânea de estudos do medievalista americano que tanto se dedicou à Hispânia, Charles Julian Bishko, Spanish and Portuguese Monastic History, 600-1300 (Variorum Reprints, London, 1984). Consultando o índice de loca­lidades citadas, encontramos: São Salvador de: — Celanova, Guima­rães, Leça, Leire, Sobrado, Vacariça, Villafrio e ViUaverde. Nunca aparece a designação simples de «Salvador», entre os topónimos.

Podíamos recorrer a dicionários geográficos para encontrar a mais abundante documentação. Bastará, no entanto, consultar a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, que retrata, suficientemente, a situação actual, para verificarmos que estão em uso, nos nossos dias, com uma designação toponímica que vem muito detrás, duas desi­gnações : — a de. Salvador, menos documentada, e a de São Salvador, muito mais abundante. Registemos, pois, todos os topónimos, por ordem alfabética.

G.E.P.B., vol. XXVI, p. 818-819: SALVADOR de —Beja, do Monte (Amarante), do Mundo (Bardez, Goa), Odemira, Penamacor, Torres Novas. É mencionado ainda o cachão do Salvador, no Douro (S. João da Pesqueira).

G.E.P.B., vol. XXVII, p. 621-626: SãO SALVADOR de—-Adro, Aljustrel, Amares, Angra do Heroísmo, Aramenha, do Campo, Elvas, Galegos, Gandra, Ílhavo, Lamas, Lousada, Matosinhos, Miranda do Corvo, Mirandela, do Mundo (Bombarral), Negrelos, Padreiro, Parada, Quiroz, Ribadouro, Ribeira de Pena, Sabrosa, Sandim, Santarém, Santo Tirso, Sines, Souto, Souto de Rebordões e Viseu.

A freguesia de Touvedo (Ponte da Barca) é apresentada tanto em Salvador de T. como em S. Salvador de T.

Fora de Portugal, vimos mencionado SãO SALVADOR — na ilha de Santiago (Cabo Verde), a capital da República do SALVADOR, da Baía, do Campo de Goitacazes (Rio de Janeiro), condes de São Salvador de Matosinhos, visconde de São Salvador de Tangil, São Salvador do Congo.

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Esta investigação faz-nos concluir que a designação de São Sal­vador é muito mais frequente que a de Salvador. Por conhecimento pessoal podemos testemunhar que, por vezes, ambas as designações estão em uso, para a mesma localidade. No concelho de Marvão, quando se menciona o nome completo de uma das suas freguesias diz-se: São Salvador da Aramenha; mas quando se fala de modo abre­viado usa-se apenas: o Salvador. Acentuámos propositadamente a última sílaba, para referir a pronúncia local. Aliás já observámos que a freguesia do concelho de Penamacor, com este nome, é designada, na região, com a última sílaba aberta: Salvador.

Deveria dizer-se sempre e apenas Salvador ? —• Talvez. Na rea­lidade, a tradição, muito antiga entre nós, prefere o nome de São Sal­vador. E com razão. Se a uma simples criatura se aplica, por parti­cipação atribuída, o título de Santo, muito mais Jesus Cristo tem direito até ao superlativo Santíssimo Redentor ou Divino Salvador. O povo lá tem as suas razões para consagrar a designação de São Salvador.

JOSé GERALDES FREIRE

6 — «QVINQUE SCVTA IN SVO BRACHIO»

O doutor Aires Augusto Nascimento teve a feliz oportunidade de encontrar um texto latino, datado de 1416, que é a mais antiga fonte conhecida do «milagre de Ourique». O mesmo passo (que transcre­veremos a seguir) permite uma interpretação mais perfeita das armas dos reis de Portugal, atribuindo um tríplice simbolismo aos cinco escudos que nelas estão representados.

O texto foi publicado e traduzido, pela primeira vez, no Livro de Arautos (De ministério armorum), aparecido em Lisboa, em 1977 (p. 258-259). Posteriormente, Aires A. Nascimento reviu a leitura do texto latino, e a tradução, no artigo O milagre de Ourique num texto latino-medieval de 1416, publicado na Revista da Faculdade de Letras de Lisboa (IV série, n.° 2, 1978, p. 365-374).

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Deste esplêndido artigo vamos comentar, apenas a parte referente à interpretação que nas duas traduções foi dada aos cinco escudos das armas heráldicas de Portugal. Diz a passagem em causa:

Alteroque die, bello parato inter sarracenos et christianos, dicti quinque reges perierunt cum eorum exercitu, atque dicto

3 regi Christi nouiter facto quinque scuta in eius uiguroso brado rupta fuerunt. Et quoniam antequam istud bellum esset, idem

5 rex christianus in uisione Dominum Nostrum Ihesum Christum cum quinque stimatibus uiderat, et ipsius Christi fouente gratia dictos V reges infidèles uicerat, et in illo bello quinque scuta in

8 suo brachio fuerant lacerata, signa seu arma sibi suisque succes-soribus designauit.

Nós não temos presente o manuscrito latino 28, da J. Rylands Library de Manchester, o único onde este texto se encontra. Não podemos por isso pronunciar-nos sobre a sua transcrição. As dife­renças entre a edição de 1977 e o artigo de 1978 são mínimas. É sem dúvida do manuscrito a divergência de escrita entre brado (linha 3) e brachio (8). Talvez se deva apenas a um aperfeiçoamento de leitura a grafia grada na edição e gratia (6) no artigo. A única dificuldade poderia surgir no termo lacerata (8), como vem na edição, apresentado como lancerata no artigo. Se esta última forma fosse a genuína, teríamos que procurar a sua recta interpretação, certamente a partir de lancea. Como não a encontrámos registada, preferimos o texto da edição, apesar de anterior.

Do trecho acabado de transcrever dá Aires A. Nascimento uma tradução com pequenas variantes entre a edição e o artigo. A deste é a melhor e por isso a transcrevemos:

No dia seguinte, travado combate entre sarracenos e cristãos, os cinco reis caíram mortos com o seu exército, e ao dito rei cristão recém-aclamado foram quebrados cinco escudos no seu vigoroso braço. E, porque antes daquele combate, tal rei cristão vira numa aparição a Nosso Senhor Jesus Cristo com as cinco chagas, e pelo auxílio da graça do mesmo Cristo vencera esses cinco reis infiéis, e naquele combate cinco escudos haviam sido despedaçados no seu braço, traçou para si é para os seus sucessores as suas armas.

A diferença fundamental entre as duas traduções feitas por Aires A. Nascimento consiste no facto de, na edição, ter considerado como

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instrumental o in de in eius uiguroso brado (3) e de in suo brachio : — «e pelo rei cristão recém-aclamado foram quebrados cinco escudos com a força do seu vigoroso braço» (2-4); «e nesse combate havia des­pedaçado cinco escudos com a força do seu braço» (7-8).

Já dissemos que preferimos a tradução do artigo. Com o que não concordamos é com a interpretação que Aires A. Nascimento dá desta nova e boa tradução. Com efeito, baseado nos dois passos subli­nhados, diz que o Autor quer referir-se às «marcas deixadas no corpo do rei pelo embate das armas» (p. 371); acentua que entre os novos valores do texto (em relação à Crónica Geral de Espanha de 1344 e à Crónica dos Sete Primeiros Reis, de 1419) está a menção das «feridas recebidas em combate» (p. 372); e conclui que «o simbolismo das armas é triplo: vitória sobre os cinco reis mouros, cinco chagas de Cristo na cruz, feridas recebidas pelo rei no combate de Ourique (heral-dicamente expressas através dos cinco escudos partidos no seu braço» (p. 374).

Em nosso entender, as únicas chagas ou feridas a que o texto faz referência são as de Cristo. Os «cinco escudos quebrados no seu vigoroso braço» (linhas 3-4 e 7-8) querem dizer que, se por um lado D. Afonso Henriques matou os cinco reis mouros, também cada um destes, por sua vez, se bateu valentemente contra ele e lhe quebrou o escudo. Combatendo contra cada um dos reis de per si, venceu os cinco reis mouros, mas cada um deles conseguiu também atingi-lo e quebrar-lhe o escudo. Daí os cinco escudos quebrados no seu vigoroso braço. O texto não dá margem explícita a pensar em feridas no braço ; e muito menos em cinco chagas no braço de D. Afonso Henriques.

Sendo assim, nas armas de Portugal encontram-se três referências ao número cinco: foram cinco os reis mouros vencidos; a visão apresentou as cinco chagas de Cristo; no combate de Ourique foram quebrados cinco escudos a D. Afonso Henriques. Bravos eram tam­bém aqueles cinco reis mouros!

Movimentando o braço esquerdo, D. Afonso Henriques tentava proteger-se com o escudo. Cada um dos cinco reis mouros conseguiu quebrar-lhe um escudo; porém, o valente rei português, brandindo com a mão direita a sua pesada espada, não só quebrou o escudo de cada um dos.cinco reis mouros, mas feriu-os de morte irremediável.

Esta é, quanto a nós, a verdadeira interpretação do passo em causa do Livro de Arautos.

JOSé GERALDES FREIRE

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7 —TELLO «COR EPISCOPI» GVNDISALVI

Numa apreciação global que tivemos de fazer à valiosa produção científica do doutor Aires Augusto Nascimento, professor da Facul­dade de Letras de Lisboa, mereceu-nos muita atenção o estudo inti­tulado «Corepiscopus». Um arcaísmo não compreendido na «Vita Tellonis», saído na revista Didaskalia, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica, vol. X, 1980, p. 381-389.

O manuscrito da Vita Tellonis, que se encontra no chamado Livro Santo, ido de Santa Cruz de Coimbra para a Torre do Tombo, foi sujeito a um profundo exame. Contra a opinião autorizada de Rui de Azevedo, que tem o manuscrito como autógrafo, Aires A. Nasci­mento prova, com argumentos convincentes que, de facto, se trata de um apógrafo, em que o copista já não compreendeu várias palavras do original ou do modelo que tinha diante de si.

Entre as emendas que a cópia precisaria de sofrer, o doutor Aires A. Nascimento procura provar que se encontraria corepiscopus no lugar onde o texto transmitido escreve cor episcopi. Vejamos este ponto em pormenor.

Pedro A.lfarde, o autor da Vita Tellonis, descreve longamente as qualidades de D. Telo que, já no tempo de D. Maurício, bispo de Coimbra, era archidiaconus do Cabido da Sé.

Usando de uma grande uariatio na forma de se referir a D. Telo, o Autor só no n.° 2 da edição dos Scriptores (dos Portugaliae Monu­mento. Histórica, Lisboa 1856, p. 64-65), utiliza as seguintes designações: Tello archidiaconus, três vezes; simplesmente archidiaconus, nove vezes; presbyter, três vezes; Dei sacerdos, uma vez; uir tantae sapientiae prae-ditus, uma vez. Pretende Aires Nascimento que também uma vez seja tratado por corepiscopus.

No passo em discussão lê-se: Cumque sani indeque incólumes repe-darent ad propria, defuncto sanctissimo Bracare archiepiscopo Giraldo, domnus Mauricius illius subrogatur loco, Colimbrie uero sublimatur bone memorie Gundisaluus, pro episcopo, et efficitur cor episcopi Tello.

Trata-se do regresso de uma peregrinação que D. Mauiício fizera à Terra Santa, acompanhado de D. Telo. Ao chegarem a Portugal, tendo morrido o arcebispo de Braga S. Geraldo, foi D. Maurício trans­ferido para lá. À sé de Coimbra foi elevado como bispo D. Gonçalo, do qual D. Telo se tornou cor episcopi.

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Aires Nascimento reconhece que, para o texto significar que D. Telo foi nomeado corepíscopo, deveria ler-se corepiscopus (em nominativo). Entende, porém, que, como esta palavra estava fora de uso, o copista não compreendeu o original e a deformou em cor episcopi. O copista criaria assim uma «expressão metafórica» (p. 382), estranhamente classificada de «banal e inadequada» (p. 387).

Longe de se tratar da restauração de um cargo caído em desuso na administração eclesiástica e que, aliás, sempre foi desconhecido na Hispânia, como muito bem observa Aires Nascimento, no texto e em eruditas notas, parece-nos antes estar em causa uma outra forma de sublimação das funções de D. Telo.

O bispo D. Maurício tinha-o não só como «familiar», mas até o encarregou per triennium tocius curie et episcopi curam apud se gerens, et cuncta pro suo nutu componens. Diríamos que além de seu conse­lheiro, D. Telo era também o vigário geral ou chanceler da cúria epis­copal e também o administrador diocesano, procedendo em tudo com grande liberdade.

Em nosso entender, o Autor da Vita Tellonis contrapõe a grande estima que D. Maurício nutria por D. Telo, a ponto de ser este que tinha episcopi curam, a um apreço ainda maior que por ele tinha o novo bispo D. Gonçalo, para quem D. Telo era, verdadeiramente, cor episcopi. Qualificar um familiar do paço episcopal de «coração do bispo» não tem nada de «banal e inadequado». É antes uma suprema expressão da profunda amizade e confiança que D. Gonçalo tinha por D. Telo. Em termos vulgares, dir-se-ia que, para D. Gonçalo, D. Telo, mais que o seu «braço direito», era o seu «bem-amado», o seu «menino bonito» ou (para usar uma expressão horaciana) «dimidium animae».

Sendo assim, cor episcopi de D. Gonçalo sobrepõe-se a cura episcopi de D. Maurício. Além disso, a redacção de Pedro Alfarde parece utilizar um certo jogo de palavras e correspondência quase exacta de sons quando constrói paralelisticamente : sublimatur Gundisaluus pro episcopo / et efficitur cor episcopi Tello. Entre pro e cor há quase identidade de sons.

Quanto a nós, D. Telo não seria mais exaltado se fosse nomeado corepíscopo por D. Gonçalo do que ao ser reconhecido «coração do bispo» (cor episcopi) por D. Pedro Alfarde. Achamos, pois, justa a interpretação feita por Álvaro da Mota na única tradução da Vita Tellonis até agora conhecida : «E este Dom Gonçalo amava muito a Dom Tello e o chamava seu coraçom».

JOSé GERALDES FREIRE

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