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  • 8/13/2019 Notas da traduo

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    Notas

    Costuma-se traduzir a expresso alem um Gottes willen com por causa de Deus . Usualmenteentendemos esse um-willen como causa final a modo de uma meta. Em latim dizemos: propterDeum. Diz-se que aqui propter significa propriamente prope, i. , perto, na cercania, naproximidade (um), junto a, ao lado de. Se entendemos propter Deum como por causa de Deus como causa final, colocamos Deus diante de ns como ponto de referncia ideal e meta dohomem enquanto eu-sujeito; se entendermos como junto, na cercania, ao lado parece que o tododa situao se transforma. Deus no est diante de ns, como meta, fim a ser alcanado comoutopia ou ideal, mas sim como condio da possibilidade do meu agir e do meu buscar,portanto, atrs de minhas costas, como apoio, como fundamento, a partir e sobre o qual sou e ajo;ou melhor, eu, no ser e agir, estou no mdium da plenitude do ser de Deus, de modo que nessaunio Dele comigo, Ele que e age em mim. Nesse sentido, fosse talvez melhor traduzir um Gottes willen: por e para Deus (?).

    O texto alemo diz Unwissenheit. Trata-se no somente de uma ignorncia que pode sercompletada com um saber posterior, mas sim uma espcie de impossibilidade de saber no sentidode total cegueira em referncia a certas dimenses. Por tanto, trevas. Para saber, aqui devemosser tocados pela coisa ela mesma. Assim, saber sabor. Conhecer receber.

    Aqui e em vrios outros lugares o termo alemo ledig , que geralmente traduzido por vazio (leer). No entanto, vazio usualmente conota carncia, privao. Como tal, no diz com preciso atonncia em que vibra a palavra ledig como quando usada nos sermes de Eckhardt. Aqui ledig no indica em primeiro lugar lacuna, algo como um buraco vazio, onde somente h o vcuo, ondeno h nada, mesmo que seja a modo de uma vasilha pronta para receber o lquido; mas sim ummodo de ser , todo prprio, positivo, digamos, solto, na dinmica de relaxe, portanto, livre, semobstculos, vontade, espontneo. o modo de ser des-prendido, isento de impedimentos, sempr-ocupao. Da, ledig conota tambm a acepo de ocioso. Hoje, lexicograficamente, noalemo moderno ledig significa antes de tudo solteiro, portanto livre de compromisso e amarraodo casamento. Parece ser de importncia decisiva para compreender o pensamento de Eckhart,precisar esse modo de ser ledig , i. , do des-prendimento, numa positividade toda prpria, bemdestacada na sua dinmica. Aqui, como tambm nas palavras como Abgeschiedenheit,abgeschieden (desprendimento, desprendido), traduzidas muitas vezes em referncia renncia,abnegao, podemos deformar o sentido prprio desses termos, se j as coloca no mdium daespiritualidade de privao, de sacarificao. O que vale tambm quando traduzimos ledig porvazio, livre de impedimentos etc., pois com isso j entendemos a soltura da plenitude daidentidade, nela mesma a partir do que a prende. Na nossa traduo, por falta de recurso,traduzimos ledig como solto, mas conforme o contexto como vazio, livre, desprendido, isento, emuitas vezes como virgem, virginal. O termo disposto, disposio, disponibilidade, quando visto noque ele acena como fenmeno vivo, poderia nos mostrar o que ledig que conota desprendido,vazio, livre, solto, solteiro etc. sempre a partir e dentro da experincia da pura e lmpidadisponibilidade e dis-posio cordial da existncia humana na doao e recepo no amor. apartir dali que o vazio de um clice afeito a receber o precioso vinho da hospitalidade p. ex. podenos acenar para o que a afeio pura da cordial recepo grata do ser humano no seu ser todoprprio da existncia livre.

    Aqui e tambm em alguns outros lugares, o termo alemo para o adjetivo puro, limpo, mero e svezes claro lauter . Lauter significa tud o isso que acima mencionamos, mas possui umaconotao, digamos, sonora. aquela qualidade de um som que lmpido, afinado, claro e cheio,como o som afinado e vigoroso de clarim. a tonncia da pura afinao da plenitude da auto-identidade, portanto da autenticidade.

    No alemo medieval , mit eigenschaft = eigen (prprio) + schaft: eu-prpri(o)+edade.

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    No alemo conceber empfangen. Empfangen significa propriamentereceber . Da, empfnglich pode ser traduzido por receptivo.

    Cf. Nota 7. Receptivo aqui conota conceptivo .

    O termo alemo Ziel. No significa propriamentefim, meta, limite conclusivo. Indica antes a plenitude de identidade, o prprio, a consumao ou acabamento ou remate. Nesse sentido remate no limite que impede o crescimento e a plenitude do ser, mas sim a medida plena consumadade um ente. Aqui a finitude, o finito no a carncia ou privao da infinitude, do infinito, mas sim a

    plenitude da prpria identidade do ser do homem.

    No texto In seinem freien Vermgen (em sua possibilidade livre) se entendermos possibilidade nosentido de abertura para vrias alternativas de ser, no captamos talvez com preciso o que freies Vermgen. Possibilidade como Vermgen significa potncia, poder no sentido danecessidade de ser que no outra coisa do que a dinmica da plenitude da identidade de ser.Livre quando se plenamente na total soltura de si, no seu prprio, de tal modo que se comgosto, no sabor da sua identidade. a necessidade livre do ser.

    Razo aqui, assim tambm Intelecto, Mente no deve ser entendido primria e preferencialmentedentro do esquema usual da indicao das faculdades do homem em: razo, corao, vontade.No se trata, portanto, em primeiro lugar das faculdades que emitem diferentes atos do pensar, dosentir, do querer. Indica antes diferentes nveis da intensidade qualitativa de ser, dentro daordenao do universo, em cuja estruturao, o homem ocupa um lugar todo prprio e privilegiado,como esprito encarnado. Razo, intelecto e mente dizem, pois o mesmo em diferentesintensificaes ascendentes do ser-homem como esprito. Como tal Razo no est comofaculdade ao lado das faculdades vontade e sentimento, mas como seu fundamento, como seuser, no as exclui, antes as inclui. Talvez possamos estabelecer graduao de intensificao domesmo ser do homem como esprito em ratio, intellectus, spirituse por fim mens. Mens, a mente,no alemo Vernunft (de vernehmen = carter a ao receptiva em plenitude) o modo de serprprio do Homem que penetra para dentro da divindade. nesse sentido que se deve entender ottulo do opsculo de So Boaventura Itinerarium mentis in Deum.

    A palavra usada por Eckhart no alemo antigo medieval Ungeschaffenheit. Quinnt ao verter otexto medieval de Eckhart para o alemo atual traduz Unerschaffenheit . Verbo erschaffen significacriar . Assim, traduzimos Unerschaffenheit por in-criaturidade, i. , o carter de no ser criado,entendendo a palavra Unerschaffenheit como indicando o fato de no ser criatura, como diferenantica entre Criador e criatura, entre Deus e os demais entes. Unerschaffenheit como umaqualificao de Deus Criador, enquanto opera ad extra, referido aos entes criados, embora atribuaa Deus uma diferena ntica, distinguindo-O de outros entes criados, no lhe garante a diferenaontolgica, i. , no diz propriamente o modo de ser prprio Dele, na sua identidade diferencial ab-soluta, nela mesma. Esta indicada pela palavra ungeschaffen, Ungeschaffenheit, traduzida aquipor incriado e Incriabilidade. Mas cfr. observao da nota 13. O texto em questo, na formulaodo original em alemo antigo medieval diz:

    Und got der ist aleine vri und ungescaffen und darumbe ist er ir aleine glich nch der vrheitund nit nch der ungeschaffenheit, wan si ist geschaffen. Swenne diu sle kumet in daz

    ungemischte lieht, s sleht si in ir nihtes niht s verre von dem geschaffenen ihte in demnihtes nihte, daz si mit nihte enmac wider komen von ir kraft in ir geschaffenen iht. Und gotder understt mit sner ungeschaffenheit ir nihtes niht und entheltet die sele in snem ihtesihte.

    A verso em alemo moderno diz:

    Gott allein ist frei und ungeschaffen, und daher ist er allein ihr gleich der Freiheit nach, nichtaber im Hinblick auf die Unerschaffenheit, dennsie ist geschaffen. Wenn die Seele in dasungemischte Licht kommt, so schlgt sie in ihr Nichts so weit weg von ihrem geschaffenen

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    Etwas in dem Nichts, dass sie aus eigener Kraft mitnichten zurckzukommen vermag in ihrgeschaffenen Etwas. Und Gott stellt sich mit seiner Ungeschaffenheit unter ihr Nichts undhlt die Seele in seinem Etwas.

    A verso em alemo clssico diz com preciso o que diz o original do alemo medieval?

    No alemo medieval do original vermgenheit . Seria Vermgenheit? Cf. a nota 11: poder = vigordo gosto da autoidentidade.

    Progresso aqui no est se referindo ao pro-cesso do mistrio da Encarnao, na qual Deus-homem e nele, todos os homens, se torna esprito, como Nele j filho e pai, portanto igual aDeus: Uno e Trino? Isto significaria que a Deidade de Deus no coincide simplesmente nem comDeus, nem com Divindade, nem mesmo com a Trindade? Todos esses modos de falar dizem aindarespeito ao Des-prendimento (Ab-geschiedenheit) da Deidade, enquanto considerado a partir daabordagem limitada do nosso compreender humano? Ou melhor, talvez esse enquantoconsiderado a partir da abordagem limitada do nosso compreender humano (cf. Teoria doConhecimento) no tem nada a ver com o que Eckhardt est querendo dizer, a saber: O Des-prendimento da Deidade consiste, no no ab-soluto afastamento de Deus do que criado, mas naab-soluta identificao (igualdade) do Deus de Jesus Cristo com o homem, de tal sorte que Deussomente pode ser compreendido como Homem-Deus, na incondicional participao do homem divindade e trindade de um Deus cuja essncia, cuja deidade, consiste justamente em querer serhumano como s um Deus o pode no amor de doao totalmente gratuita e livre, como aconteceuno mistrio da Encarnao. Encarnao nessa perspectiva a prpria compreenso, o nossoconhecimento do Deus na sua inacessibilidade, i . , na sua limpidez, pureza e radicalidade emassumir a natureza humana como a sua propriedade, de tal modo que a Criao e a Filiao dizemo mesmo. Assim o que se processa como procedncia da trindade, Pai-Filho-Esprito que adintra, se d como imagem (identidade- igualdade), como o ser do homem na sua qualidade, na suaexcelncia de ser filho no Filho, esprito no Esprito, pai no Pai. Tudo isso cai imediatamente sob asuspeita de pantesmo se continuamos abordando o que Eckhart diz, a partir do nosso inter-esseda teoria de conhecimento. Trata-se aqui do problema do conhecimento como eu sujeito homem,finito, limitado posso captar o inacessvel, infinito, absoluto? Do problema daanalogia entis eunivocitas entis? O que acontece conosco e com o universo se ad extra de Deus na Criao,diferenciando o do ad intra de Deus no est ali para salvaguardar a identidade da divindade de

    Deus contra a humanidade do ser-criado-homem, mas sim para acentuar a identidade absoluta doDeus de Jesus Cristo na sua diferena enquanto absoluta pureza e limpidez na doao de si, a talponto de ela ser o a priori de toda e qualquer identidade do ser humano, enquanto no amor iguala Deus: a nossa Filiao divina? O que acontece conosco se o que Eckhart prope for anterior atoda a nossa problemtica do conhecimento do sujeito em referncia ao seu objeto transcendente,ao enigma do conhecimento do Ente infinito por um ente finito, como o quer a teodiciatradicionalista, mas se antes referir a uma questo toda prpria da inaudita men sagem daEncarnao, de um Outro-Deus, de um Deus Non-aliud , cuja diferena ontolgica consiste

    justamente na sua igualdade conosco, no porque Ele coisa, criatura-humana, idia, energia,condio da possibilidade do nosso conhecer ou do existir , nem mesmo Deus, Transcendente,Infinito e Absoluto,mas sim Abgeschiedenheit , i., des-prendido, solto, Ele mesmo, a tal ponto desomente o compreendermos, se nos dispomos a ser como Ele , sem colocar nenhuma mediaoentre Ele ns? Portanto ser como Ele na pura e lmpida disponibilidade de se nos dar, pedindo

    que o recebamos como filhos, portanto como iguais a Ele na doao e na recepo grata ecordial? No poderia ser assim que conhecimento em Eckhart quer dizer unio real de amor eencontro livre e gratuitamente efetuada absoluta e limpidamente por quem no conhece a no sera pureza desprendida e absoluta de doao de si como descrito no processo Pai-Filho-EspiritoSanto?

    Na transcrio para o alemo moderno das wesenhafte Ur-Sein . No original alemo medieval die weselche istikeit . Seria ist (est = 3 pessoa singular do verbo esse) = estheit?: dade? Ou seriaistic ou isthic (iste+hic) + heit (keit)?: este-aqui-dade? Ou istud-heit?: a istidade essencial? Nesseltimo caso o Ur-Sein jamais poderia ser compreendido como ser-geral, mas somente como uni-

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    versal (virado ao Um), i. , absoluta concentrao do ser encarnado como este aqui, isto aqui:istidade essencial? O mximo universal coincide com o singular. E o singular no o particular ouo individual. Cf. sermo 6.

    A palavra alem aqui, em vez de Frau, Weib. Virgem no alemo se diz Jungfrau que literalmentesignifica mulher jovem, moa.Weib se distingue da Jungfrau, por ser designativo de uma mulherde mais idade, de maior experincia na vida, digamos, calejada na vida. Designa de preferncia,embora no exclusivamente, a mulher casada.

    Usualmente, em Eckhart, palavras mente, mental, razo, racional no devem ser entendidasprimeiramente como designaes de uma das faculdades do sujeito-homem, chamada mente,razo, intelecto em diferenciao com vontade e sentimento. Indicam antes o grau de intensidadee qualificao do ser-homem enquanto este existncia humana. Assim mente no exclui vontadee sentimento, mas inclui vontade, sentimento e inteligncia num grau de intensidade e qualificao,o mais excelente do ser-humano.

    O termo aqui traduzido por virginal , em alemo magdlich. O mesmo vale para virginal quandopouco depois se fala que Jesus solto e livre e virginal nele mesmo. Na seguinte frase,quando se fala que: o homem deve ser serva (Magd ), virgem (Jungfrau), que deve receber o Jesusvirginal (magdlich), se torna difcil descobrir porque se introduz a palavra Magd e magdlich . Virgemem alemo soa Jungfrau e significa literalmente jovem-mulher (Jung = jovem;Frau = mulher).Palavra alem para dizer mulher jovenzinha, menina, Mdchen. Surgiu nos meados do sculo 17da palavra Mgdchen. Mgd-chen diminutivo deMagd . E Magd significa criada, a servente, aservial. A criadinha poisMgdchen, Md chen, i. : menina ou menininha servial. Mgdlich significaria, portantoservial a modo da menina, disposta no servio. Indicaria a disposio dcil,cheia de frescor da boa vontade, em se doar ao servio, diligente e aplicadamente: livre, solta, na

    jovialidade da virgem, i. , da jovem mulher, fonte da vida. Tudo isso pode estar associado a Maria,virgem e me, a serva do Senhor.

    A palavra aqui Weib. Cf. Nota 1.

    Cf. Nota 7 e 8 do sermo n. 1.

    1 Petrus diz tanto como conhecimento (besagt soviel wie) no deve ser entendido como: apalavra Petrus significa conhecimento, quer no sentido de um simbolismo, quer no sentido deuma filologia primitiva. Talvez se possa ler a frase assim: So Pedro, ao confessar: Tu s o Cristo,o Filho do Deus vivo se re vela na sua essncia: ser conhecimento da nua e pura verdade. Nopoderia ser assim que esse modo de fazer interpretao no pode ser entendido, se oencaixarmos nas classificaes literrias hoje conhecidas e padronizadas como metafricas,simblicas, primitivas etc.? Pois poderia ser que interpretao de Petrus como conhecimento estfeita inteiramente dentro da logicidade de uma evidncia, haurida na prpria experincia viva dacoisa ela mesma chamada conhecimento de Deus . No nosso caso, Petrus, Pedro a puraexistncia dessa evidncia onto-teolgica.

    2. Cf. ARISTTELES,De anima, I c. 2, 404 b 17.

    Cf. ARISTTELES,De anima, III c. 8, 431 b 21.Cf. TOMS DE AQUINO,Sum. Theol. I a, q. 89, a 5 e 6.

    ARISTTELES,Eth. Nicom. VII c. 12, 1152 b 24.

    Alma, anima o que anima, d vitalidade, vida ao corpo.

    A expresso alem nach Gott pode significardepois de Deus ou tambm segundo i. , conforme Deus. Em vez de segundo , dissemos seguindo para deixar a conotao de depois e conforme na

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    ambiguidade. Mas o que significadepois de Deus ? Significa que Deus foi criado primeiro e logodepois anjos? Mas Deus assim colocado no criatura, mas de algum modo referid o a toda acriao, portanto Deus enquanto ad extra. Cf. Diferena entre Deus, Deidade e Um.

    No texto alemo, a palavra Vermgen. Indica capacidade, faculdade. Vermgen contm em si overbo mgen que significa gostar no sentido de degustar, a saber, fruir o gozo de receber, acolheralgo como correspondente ao vigor da sua identidade. Do verbo mgen vem a palavra Mglichkeit que significa possibilidade. Cf. Sermo n. 1, nota 10.

    Cf. Sermo n. 1, onde se fala da alma em referncia excelncia do anjo. Cf. nota 12.

    Cf. TOMS DE AQUINO,Sum. Theol . I a, q. 16 a. 3.

    11. O texto alemo diz simplesmente in die erste Lauterkeit eingebildet . Eingebildet , particpioperfeito de einbilden contm a palavra ein (in com acusativo em latim; para dentro e Bild (figura,quadro, imagem). Aqui,eingebildet poderia se referir imagem no sentido de configurao comotomar corpo para dentro do puro vigor da primeira pureza (Lauterkeit = limpidez da afinao doclangor; cf. Sermo n. 1, nota 6), a qual como a limpidez na afinao percusso do irromper dadeidade como Deus perfaz a alma como repercusso da infuso da primeira pureza.

    Acaso (Zu-fall ) traduo do latim accidens (ad-cadens). Acidente o que no tem o modo de serda substncia (ens in se), mas cai sobre a substncia e adere a ela, por no ter consistnciaprpria e por isso mesmo mutvel, necessintado ser-no-outro, portanto ens in alio.

    Cf. TOMS DE AQUINO,Sum. Theol. I a, q. 50 a. 3.

    O termo alemo aqui , como nas frases anteriores, umfassend, umfassender. Somente nessafrase onde se fala do amor, traduziu-se o umfassen por abraar , para insinuar que para osmedievais a universalidade no consiste na extenso lgica de abrangncia generalizada, mas naintensidade da imensido, profundidade e criatividade de ser, portanto, do vigor e da nobreza daliberdade de ser. Esta vem fala como amor unitivo que tudo abraa: o Um unitivo.

    No original alemo medieval est: s ist im unrecht : assim isto lhe injusto.

    Quint anota: O texto aqui certamente deteriorado e com lacunas , Meister Eckharts Predigten.Ed.e traduzido por Josef Quint, vol. I, Stuttgart: W. Kohlhammer Verlag, 1958, p. 77, nota 1.

    Quint observa na nota 2 do op. cit. acima que esta citao idntica do seguinte sermo 5b. Acitao das palavras do mestre mencionado logo depois da primeira citao ( Diz tambm que... ) pode parecer aos leitores incautos que se trata de citao das palavras do mesmomestre anterior. No entanto, as afirmaes ali citadas so enunciaes de Eckhart, incriminadaspor seus sensores, e reconhecidas como suas e defendidas por prprio Eckhart. Assim, aquiparece que a citao das palavras de um mestre juntamente com algumas palavras deconsiderao do prprio Eckhart como tomada de posio diante de suas prprias afirmaesfundiram-se num texto como o que temos, fazendo-nos suspeitar que no texto h lacuna(s) e umtexto deteriorado. Cf. sermo 5b, onde diz Eckhart: Diz, pois, um mestre: Deus se tornou homemetc. ...(...). Esse mestre falou corretamente, mas na verdade eu no daria muito por isso.O texto alemo diz: denn mir tat es not , i. , pois isto fez-se me necessrio. Not umanecessidade de suprema indigncia.

    O alemo diz: die grosse Welt verstehen, in die die Engel schauen , compreender o grande mundo,para dentro do qual os anjos contemplam . Realidades como mundo,ser, cu, Deus, alma etc. no podem ser compreendidas propriamente, se as representamos comocoisa-objeto, pois so horizonte e ao mesmo tempo o ente concreto que vem luz a partir e dentrodo respectivo horizonte. Para indicar essa estruturao da constituio do ente no seu horizonte,

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    usa-se muitas vezes o verbo como p. ex. contemplar que tem a sua mira sobre determinadarealidade, mas nessa mira se faz presente o fundo a partir e dentro do qual se d um tal olhar.Nesse sentido contemplar o mundo e no mundo (em direo, para dentro de: in com acusativo): oqual e no qual.

    No original alemo medieval est:hatt es. Quint (op. cit. p. 80, nota 2) observa: es , i. , a unio dedeidade e de humanidade. A expresso fortemente elptica e certamente no dever seroriginria. Quint transcreve para alemo moderno: beweist es .

    No original alemo medieval est:ein luter nicht. Transcrito para o alemo moderno temos: einreines Nichts. Pergunta: no deveria ser ein lauter nicht? Quanto a lauter cf. Sermo 1, nota 6.

    Tudo em tudo, all in all aqui soa estranho. Quint observa na nota 1 que ele no compreende o allin all e insinua que poderia ser um texto corrompido. Com o risco de ser totalmente errado ediletante, no poderia all in all estar insinuando o avesso do modo de ser de Deus? Ele tudo emtodas as coisas como plenitude da presena, como o ser como tal ( ipsum esse ) e que sustenta oser de todas as criaturas no seu todo e na concreo de cada ente; ao passo que as criaturas,esquecidas de sua identidade agraciada so all in all na sua nihilidade. As criaturas s soenquanto suspensas em Deus, sustentadas por Ele, i. , sem Ele so nada. E, enquanto nada, ascriaturas so uma presena na totalidade das criaturas, no seu todo e na concreo de cada ente,um no a modo de tudo em tudo . As criaturas enquanto no fluxo e na cordialidade difusiva daplenitude do ens a se so na alegre positividade da dependncia de Deus como filhos de Deus.

    Aqui no se trata de carncia nem da privao, mas absoluta afirmao da Bondade do Pai. Nomomento em que se esquece essa natureza, ou melhor, essa nascividade prpria do ser criatura,comea-se a se enfocar como nada privativo, carente do infinito, comea-se a rejeitar apropriedade toda positiva de poder ser cada vez na finitude, i. , na definio concreta de ser algona doao do prprio Deus e comea a contaminar todas as coisas com o ressentimento de serimperfeito e privado da infinitude, e assim contamina tudo em toda a parte como tudo em tudo doente ressentido da sua nihilidade. Ao passo que em sendo nada agraciado na plenitude do ser doFilho, gerado do Pai que tudo em tudo de todas as coisas criadas, estas deveriam ser a plenade-finio, i. , finitude de gratido e louvor gratuidade do ser.

    Em alemo Sichversenken e literalmente se afundar, se abismar. Cf. original, p. 81. No originalest: und wellent got wber ain hon in ainer andaucht und in der ander nit = und sie wollen durchaus in einer Weise des Sichversenkens besitzen und in der andern nicht . Andaucht seria

    Andacht ? Andacht tinha naquele tempo que sentido? Devoo seria igual a Sichversenken? Esteno seria mais Contemplao?

    O texto vertido para o alemo moderno diz: Ich lasse es gut sein, aber es ist vllig verkehrt . Noalemo original medieval se diz:ich lausz es gut sin, aber im ist zumaul unrecht . O im no ihm(portanto Deus)?

    Esse trecho em alemo medieval : Was ir gern oder ungern hond, so ist im recht, undwyssend, das im anders zemaul unrecht ist. Transcrito em alemo moderno fica: Was ihr dann gernoder ungfern habt, das isto dann recht, und wisset, dass es sonst vllig verkehrt ist . A mesmapergunta da nota anterior.

    Termos como aniquilamento ou rebaixamento de si ou auto-humilhao so ouvidos na suatonncia religioso-asctico-moral, digamos atribuda historiograficamente como caracterstica dosmedievais. Assim, pode ser que deixemos de observar que no aniquilamento ocorrem as palavrasnada (Ver nicht ung, Aniqui (nihil)lamento. Nada e Ser se referem dimenso onto-teolgica. Norebaixamento, humilhao ocorrem as palavras baixo ( Selbsternieder ung, Rebaixamento) e hmus(=cho frtil;humi lhao). Se lermos esses sermes a partir de uma mira, cuja tonncia religioso-asctico-moral, talvez no so muito interessante para ns hodiernos. Mas tambm possvelauscultar esses textos, tentando escutar a tonncia onto-teolgica das palavras como Nada, Ser,Deus, abaixo, acima, em tentando ler os textos no a partir de uma pr-compreenso

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    preestabelecida da tonncia religioso-asctico-moral, mas pelo contrrio comear a compreender oque religioso, asctico e moral dentro do eco do que Mestre Eckhart tenta nos dizer com termoscomo ser e nada.

    Sermo 5a a primeira verso; 5 b a segunda. So verses paralelas. Nessa primeira verso 5afalta a orao final.

    Cf. Toms de Aquino, Sum. Theol. III a q. 57 a.

    Cf. Toms de Aquino, II Set. d. 32 q. 2 a. 3.

    No alemo medieval do original est:d ht ein nsweben disiu natre. No alemo atual: daschwebt diese Natur mit ein. Significaein nsweben, mit ein schweben que essa natureza est noestado de suspenso i. , de imerso (cf. Fsico-Qumica) ali dentro da profundidade a maisntima? Traduo seria ento: ali dentro se acha imersa em estado de suspenso esta natureza.Ou ein nsweben, mit ein schweben significa estar dependurado ali? Traduo: ali dentro tambmadeja esta natureza.

    Aqui Quint acrescenta . Como essa natureza toda prpria da encarnao,deixamos de lado o acrscimo.

    Favor examinar o que significa literalmente: Hie mac wol etwaz zluogen und iht zuohangen.

    No op. cit. p. 88, nota 2, Quin coloca essa frase Em segundo lugar, deves ser de puro corao(...) que tem carter de criatura em paralelismo com a frase do sermo 5a Ele enviou-o aomundo. Um dos significados do mundum puro.E observa: O presente texto no pode sercompleto nem originrio, j que nada indica que o pregador nesse trecho est entregue a discorrersobre o mundum do texto da Escritura, cuja significao ele transforma em mundum = puro, comose torna claro no trecho correspondente da verso 5 a. Assim tambm, parece ser certo que otrecho do final desse sermo onde se diz Todas as coisas foram feitas do nada; por isso, suaverdadeira origem o nada pertence esta nossa frase de cima, atrs da que tem carter decriatura.

    Em alemo temos Ich lebe darum, dass ich lebe. Essa conjuno dass indica a pua facticidadeque se vive. Assim o que do por que indica a facticidade do ser simplesmente.

    Cf. Nota 18.

    Cf. Institutiones do Imperador Justiniano, sc. 6, : Juris praecepta sunt haec: honeste vivere,alterum non laedere, suum cuique tribuere ( Ins I, 1).

    O texto no original alemo medieval diz:Wigest d daz ein iht mr dan daz ander, s ist imunrecht . A verso em alemo moderno diz: Schlgst du das eine irgendwie hher an als dasandere, so ist es verkehrt . Como seria a traduo literal do alemo medieval?

    No alemo medieval est: dar in vellet gebreste. Na verso moderna: es steckt ein Makel darin.Como seria literalmente o sentido do original alemo medieval? Sairia do sentido se se traduzircomo se fosse uma ndoa maligna do cncer?

    No alemo medieval est: Man muoz ez vertragen, im ist aber unrecht. Im = ihm(?). A verso parao alemo moderno soa: Man muss es hingehen lassen, es ist aber das Rechte nicht .

    Justia, Gerechtigkeit diz respeito retido, ao modo de ser reto, sem curvas, sem desvios, semsenes e titubeios, de algum que est aberto na fidelidade da sua identidade ao que da

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    identidade do outro. O justo quem sabe corresponder identidade do outro, plenamente,deixando-o ser.

    O texto alemo diz: sie nicht die Bohne auf Gott achten wrden. Porque cada feijo em particularno tem quase nenhum valor feijo usado muitas vezes como dinheiro de brincadeira - apalavra feijo servia desde do sculo 13 para expressar nulidades (Cf. Trbners DeutschesWrterbuch, I volume, verbete Bohne). Em portugus temos a expresso: pouco estou me lixandocom isso.

    Quint transcreve o texto original do alemo medieval niht glch ist para o alemo modernonicht...gleich ist. Em vez de equnime deixamos simplesmente igual. Pois equnime(gleichmtig ) se refere mais ao estado anmico, ao passo que igual diz respeito ao ser do Homemenquanto sua essncia toda prpria, como referido ao encontro de Deus.

    Animar significa dar a alma. Alma significa propriamente vida, vitalidade, vigor. Cfr. Eckhardt, noComentrio sobre So Joo : Et secundum hoc optime dicit Augustinus quod anima ve rius est ubiamat quam ubi animat (In Joh. n.469). A nota 4 do sermo 6 observa na sua traduo francesados sermes de Eckhard, (Matre Eckhart, Ltinc elle de lme, Sermons I XXX, traduits epresentes par Gwendoline Jarczyk et Pierre-Jean Labarrire, Paris: Albin Michel, 1998, p. 281):Esta citao no pde ser reencontrada nos escritos de Agostinho.

    Em vez de Wesenheit , no alemo medieval isticheit = 3 pessoa do presente do verbo ser: est +heit ? Ou ishic + hei ? Ou iste + heit ? Cfr. nota 16, sermo 1.

    nio, poderia examinar se essa nota corresponde ao que Quint diz na nota correspondente? Nolugar de dass sie weder unter noch ber ihm wre na transposio para o alemo moderno, estno texto original do alemo medieval iguais a nada : daz si im waere weder vrouwe noch man. Quintobserva na nota 1 da p. 107 da sua obra Meister Eckharts Predigten, editada e traduzida, vol. I,Stuttgart: W. Kohlhammer Verlag, 1958) que a diferena entre o texto no alemo medieval e o noalemo moderno vem da escolha das variantes existentes nos manuscritos. Antes Quint escolheumanuscrito com o variante que est no alemo moderno. Hoje ele acha que o variante que foicolocado como texto por ele mesmo na edio dos sermes de Eckhart em alemo medieval mais originria.

    Na frase anterior Os que so iguais a nada (Die nichts gleich sind) e aqui A essncia divina iguala nada (Gttliches Wesen ist nichts gleich). Pergunta: Die nichts gleich sind seria Os que no soiguais a nada? Gttliches Wesen ist nichts gleich seria A essncia divina no igual a nada? Noalemo medieval do texto original est: Die niht glch sint; Gtlich wesen enist niht glch. Pergunta: Por que Quint verteu para alemo moderno: Die nichts gleich sind; Gttliches Wesen ist nichtsgleich? Niht pode tambm ser nichts ou apenas nicht? Cf, nota 16 abaixo.

    No original alemo medieval est in mner sele. Na transcriso para o alemo moderno: ausmeiner Seele. Parece que nenhum dos manuscritos traz aus. Se for aus o significado parecetornar-se mais radical. nio poderia voc ver esse ponto no Original do alemo medieval. Ser quein significa tambmaus?

    Aqui Eckhart afirma a igualdade entre o Pai que gera o Filho na alma e a alma que gerado comofilho. E ento depois dessa afirmao potencializa mais ainda a radicalizao dessa igualdadecomo identidade na Unidade. No se trata pois de excluso igualdade contra unidade, masincluso. Esse conjunto de frase que fala aqui da gerao do Filho no justo est no original emalemo medieval da Edio crtica de Quint na pgina 109, 1ss. Cf. Nota 16.

    Diz o texto original alemo medieval:er gebirt mich snen sun und den selben sun. Literalmenteseria: Ele me gera seu filho e o mesmo Filho. O als ( = como) deixado fora para indicar umaigualao toda prpria. Als destaca um aspecto e nele delimita o abismo de imensido, plenitude e

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    a generosidade da doao gratuita Filiao. O Pai me gera seu filho, e assim sou o mesmo Filho,enquanto sou gerado por Ele, Nele e com Ele.

    Segundo o original alemo medieval, Eckhart no usa o termo als (como). Assim diz:Ich sprichemr: er gebirt mich niht aleine snen sun, mr: er gebirt mich sich und sich mich und mich snwesen und sn natre. Seria ento: Eu digo mais: Ele no somente gera-meseufilho, mais: elegera-mese e -seme e mesuaessncia (ou ser) e mesuanatureza. Na verso ao alemo modernosoa: Ich sage noch mehr: Er gebiert mich nicht allein als seinen Sonh; er gebiert mich als sich undsich als mich und mich als sein Sein und als seine Natur.

    Sobre o texto Ele me opera como seu ser, como um, no como igual (dass er mich als sein Seinwirkt, als eines,nicht als gleiches = daz er wrket mich sn wesen ein unglch) Quint,na nota 1 da pgina 111 da obra j citada Meister Eckharts Predigten, diz que o texto que vem datradio dos manuscritos no unglch (nicht als gleiches) mas sim und gelch ou und glch.Baseado na traduo do texto feito pelos censores dos sermes de Eckhart (RS. II art. 39C, Thryp. 242; Gutachten art. 20, Pelster p. 1118, Bulle art. 10, Arch. II p. 638) onde em lugar de undglch est non smile. E tambm argumenta que: Eckhart rejeita pois no contexto todo a igualdadea favor da unidade. E na nota 2 da pgina 107 da sua Edio acima mencionada Meister EckartsPredigten, diz: Eckhar t rejeita em todo esse contexto o conceito de igualdade tanto para Deuscomo para os justos, porque igualdade inclui em si o conceito de nmero, da dualidade oupluralidade: mas o ser de Deus e o ser dos justos, assim tambm do relacionamento entre ambos,descansa sobre unidade, como as exposies de Eckhart sobre o nascimento do Filho no justo napgina 109, 1s s, acentuam expressamente. No poderia ser, porm que a igualdade estintimamente ligada com a unidade, quando se trata da dinmica da processo das pessoas divinasna Santssima Trindade, portanto, na vida ad intra da intimidade de Deus e da dinmica da difusodo amor gerativo de Deus no ato da filiao divinaad extra (mistrio da Encarnao = Criao) noqual atravs de, em, por e para o Filho somos realmente filhos de Deus. Cf. Nicolau de Cusa, De docta Ignorantia, a importncia do conceito de igualdade que parte da matemtica para se ampliarnuma compreenso da igualdade num sentido mais vasto, mais profundo e mais originrio, referidaao Universo e sua criao como mistrio da Encarnao de Deus no Filho. Aqui ficamos com otexto transmitido pelos manuscritos. Cf. Nota 13 acima.

    Na nota 1 da pgina 114 da Edio crtica dos sermes de Eckhart de Quint (op. cit.), se diz:Sobre a controvrsia, se a razo ou a vontade, o supremo princpio beatfico (...) Eckhart dprioridade razo (...) em referncia capacidade de possibilitar a unio e a unidade do homemcom Deus. Nos manuais da Histria da Filosofia Medieval essa controvrsia diz respeito adiferena existente entre a escola tomista (prioridade do Intelecto) e a escola franciscanaboaventuriana (prioridade do sentimento-corao) e escotista (prioridade da vontade,voluntarismo). Pelo texto de Eckhart p. ex. nesse sermo, no entanto, se torna questionvel seesse tipo de abordagem das questes medievais a partir de uma tal classificao, faz jus aointer -esse e a busca toda prpria, tanto de Eckhart como de outros pensadores, seuscontemporneos. Pois uma tal classificao como a acima mencionada (certamente numasimplificao manualstica) tenta compreender a coisa ela mesma do relacio namento entrehomem e Deus na unidade e unicidade do Uno a partir da pressuposio de que Razo e Vontade significam primariamente as faculdades do homem de conhecer e agir ou tambm amar = sentir,ou no sentido psicolgico ou da teoria do conhecimento, principalmente quando se fala do

    conhecer. Aqui em Eckhart, porm, conhecer parece estar dizendo bem outra coisa, a saber, oprincpio da ao de Deus no homem e da receptividade do homem para com essa ao de Deus. Assim, conhecer atuao (doao de si) de Deus e igualmente (aequaliter) a recepo dohomem dessa doao (unio, identificao na filiao): Deus e eu, ns somos Um. Pelo conhecer,recebo Deus para dentro em mim (i. , receber a doao de si de Deus na filiao divina, portantoo operar de Deus, para dentro em mim : Conhecer; e no o contrrio: no ato de eu entrar emcontato com Deus, primeiro eu conheo - teoria de conhecimento -) para ento depois amar.Portanto aqui receber no propriamente no sentido da teoria do conhecimento, um atopsicolgico ou epistemolgico do eu sujeito, mas um momento do Um ( Deus e eu, ns somosum), portanto do operar e devir que so um. Portanto nesse sentido conhecer , conhecimento

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    (conascimento, conhecer como unio do encontro do amor no qual p. ex. se d uma s carne euma s alma) : Deus e eu, ns somos um nesse operar: Ele opera e eu venho a ser. O fogotransforma nele o que se lhe acrescenta e o faz tornar-se sua natureza. No madeira que nelatransforma o fogo, mas antes o fogo nele transforma a madeira. Assim tambm ns somostransformados em Deus, de tal modo que o conheceremos como Ele . Nessa operao hinfinitamente mais ao, mais vontade, mais amor e mais intimidade do que um conhecer, umsaber epistemolgico que uma captar representativo de uma realidade, sem participar no seuser, ou um amar psicolgico que uma espcie de ao pela qual eu seguindo umarepresentao minha da realidade (aqui Deus) entro para dentro dessa realidade digamos virtualsegundo a minha imagem e semelhana. Uma tal operar e um tal devir, provavelmente paraEckhart (s para ele, ou no seria tambm para Toms, Boaventura e Scotus?) como operar edevir de madeira ensopada na gua que ao ser atingida pelo fogo da divina paixo, se satisfaz comfumaas e vapores levantados pela rejeio do fogo, por no ser igual ao fogo. E interessanteobservar que nesse sermo o conhecer operar de Deus e da nossa parte devir (i. , o ser aqui entendido na dinmica do agir e tornar-se).

    No original alemo medieval williclche = espontaneamente. Espontneo o que consiste todoele na liberdade da vontade (cfr. Alberto M.In XII Prophetas minores (Borgnet XIX p. 120b).Segundo nota 1 da pgina 117 da edio de Quint a tradio manuscrita d em vez de williclche,billche e tambm minneklichen. Segundo Quint esses dois variantes ou seriam corruptos ou leituraequiivocada de williclche.Favor examinar o que significabillche (billig ?) e minneklichen. Nodariam eses variantes um bom sentido?

    Favor examinar. No alemo medieval est: Rehte als verre in got, als verre in vride. Transcritopara o alemo moderno: Genau so weit wie in Gott, so weit in Frieden. Como seria o terxtomedieval traduzido literalmente?

    O que significa literalmente:Ist sn iht in gote, daz ht vride; ist sn iht z gote, daz ht unvride. Emalemo moderno: Was irgend von einem in Gott ist, das hat Frieden; ist dagegen etwas Von einemausserhalb Gottes, so hat es Unfrieden .

    A palavra aqui no alemo moderno Wissen, no alemo medieval kunst . Kunst vem do verboknnen que significa poder, mas no na acepo da dominao da fora bruta, digamos natural,mas sim de uma capacidade, de uma habilidade, obtida como dom de uma consquista, atravs doempenho de busca cheia de amor e desejo, e contnuos exerccios. Trata-se pois de um saber todoprprio, no qual quem busca se torna todo um corpo da dinmica do saber fazer e se perfazer noestar por dentro do que exerce. Nesse sentido a linguagem popular diz: pode quem pode. E certasregies do Nordeste do Brasil chamam de artista a quem pode assim, seja o que for. Nessesentido o latim dizars quando o termo usado p. ex. na expresso como ars latina, em portugusarte mdica, arte culinria etc.

    Toms de Aquino, sum. theol. Ia q. 21, a. 4.

    Cf. Nota 12 do sermo 1.

    Kunst , no alemo medieval.

    STO AGOSTINHO, inDe gen. Ad litt. VI c. 29 n. 40.

    Kunst .

    Quint na verso do alemo medieval do original para o alemo moderno acrescenta .

    O texto na verso para o alemo moderno acrescenta .

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    Cf. Nota 1.

    Cf.Toms de Aquino, sum. theol . Ia q. 4 a. 2 ad 3; St Agostinho. De libero arbitrio,II c. 3 n. 7; cf.nio o que segue no nota, mas tentativa de entende o texto de Eckhart. A formulao malfeita e no sei se fica claro. s para voc ver se d para compreender a Eckhart assim. Cf. nota 1da pg. 130, da edio crtica de Quint, Meister Eckharts Predigten, Vol. I; ali so citadas a obralatina de Eckhardt In Joh. n. 63 (Quint. .Lat. W., volume 3, pg.52,1ss); ibidem, op. cit. n. 141; n.500; e a Quaestio, Utrum in deo sit idem esse et intelligere? n. 6 (Quint,Lat. W., vol. 5, pg. 42,8ss.).Em todos esses textos mencionados, no que diz respeito ao relacionamento entre os modos deser, denominados no sermo 8 de conhecer (intelligere),viver (viver) e ser (esse) necessriodistinguirordo in abstracto (ordenao em abstrato) e ordo in concreto. Por serem consideradosabstratos esto no infinitivo. O infinitivo modo do verbo, no qual se abstraem de suas diferenasmodais para deixar o verbo na sua generalizao esttica neutra. Verbo dinmica, ao. Mas nomodo infinitivo a dinmica da ao achatada e fixada sob uma classificao generalizante neutracomo modos de ser. Aqui oser dos modos j est fixa num sentido do ser bem determinado,chamado algo como acidente, concomitante de uma substncia, de uma coisa subsistente em si.

    Assim temos: 1. a substncia dos entes simplesmente ocorrentes ou no vivos (coisas materiaisfsicos, p. ex. pedra, metal etc. = espcie nfima substncia que tambm gnero para a espciesuperior prximavivente) e o seu modo = ser ( esse ); 2. a substncia dos entes vivos (coisasvegetais, p. ex. plantas = espcie vivente e ao mesmo tempo gnero para espcie superiorprximoanimal ) e o seu modo = viver (vivere) Aqui se inclui de algum modo a substncia dos entessensveis (coisas animais, p. ex. gatos, pssaros = espcie animal e ao mesmo tempo gnero paraespcie superior prximo homem) e o seu modo = viver; 3. a substncia dos entes racionais(coisas humanas, p. ex. homens, mulheres, crianas etc. = espcie supremo homem) e o seumodo: conhecer. Nas trs modalidades de ser substncia : substncia 1. coisa; substncia 2. viva;substncia 3. racional o termo substncia parece ser analgico mas se examinando bem unvoco, pois sem as diferencias especficas (adjetivos = vo -viva; vivente, sensvel, racional) nofaz surgir diferena e se a diferena ali est como coisa material, vegetal, animal, e racional,subsume a diferena j de antemo como modalidades diferenciais referidas e acrescentadas substncia, entendida na realidade tendo como o sentido do ser o esse (e no vivere, nemintelligere). Com outras palavras, por viver e conhecer estarem j focalizados a partir de umaprvia pr-compreenso do ser (sentido do ser) como a do ser -simplesmente-ocorrente comocoisa -fsico-material, o verbo con hecer e viver aparece na neutralidade do infinitivo, como um

    modos, acidentes, atos, certamente diferentes, mas da mesma compreenso da substncia.Colocados assim o ser, viver e conhecer aparece na sua diferena ntica, mas no na suadiferena ontolgica. As diferenas nticas no so con-cretas, mas abstratas, enquanto soprodutos de um enfoque generalizante e naturalizante. Aqui o ontolgico identificado com acompreenso geral, abstrata do ser lgico na sua formalidade neutra. Dentro dessa perspectiva oser. o esse primeiro, o bsico, comum tanto ao viver como ao conhecer, pois primeiro se necessrio ser, para ser vivo, e racional. Quando, porm, ser, viver e conhecer ( esse, vivere,intelligere) vem de encontro a ns como verbo na sua dinmica prpria total, no ser da suadinmica cada vez diferente, no como modalidades especficas de um gnero, ou individuais deuma espcie, comum e geral, mas como em sendo todo ele, ele mesmo, portanto no seu ser, nasua diferena ontolgica, ento essa dinmica diferencial da sua identidade aparece naformulao: em conhecendo (intelligens), em vivendo (vivens) e em sendo ( ens ) e indica atotalidade na sua concreo, portanto in concreto. Por isso diz Eckhart: in abstrato, portanto, na

    ordenao dos modos de ser como esse , vivere e intelligere, esse perfectius intra tria; viverenobilius intelligere. Ao passo que in concreto no grau supremo est o intelligens, segue o vivens ena localizao a mais baixa est o ens . Repetindo o que j foi mencionado antes, como o fundodessa dupla ordenao in abstracto e in concreto temos a paisagem da escalao dos entes emesfera ou regio dos entes no-vivos (substncia como espcie nfima e gnero prximo ao vivente= mundo material-fsico:=esse ); regio dos entes vivos ou viventes (vivente como espcie egnero prximo para o animal = mundo vegetal ) =vivere; regio dos entes racionaiscomo espcie supremo homem, animal racional). Da espcie nfima substncia-coisa at a espciesuprema substncia homem temos uma grande regio dos entes chamados substnciascompostas. No homem se d a passagem da dimenso das esferas dos entes-substncias

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    compostas para a dimenso das substncias simples ou espirituais. E enquanto pertencente dimenso das substncias simples, embora pertena tambm dimenso das substnciascompostas, o homem, o animal ou o nimo racional no seu vigor essencial vem presena comoratio, intellectus, spiritus, mens (intensidades da ratio como nveis de pureza da essencialidade =mundo espiritual) =intelligere. E nessa dimenso, a escalao da intensidade de ser, aquiqualificada como espiritual se gradua em diferentes coros dos anjos at culminar na presena doipsum esse , o ens a se , Deus. Mas o termo esse ou ser aqui nessa dimenso das substnciassimples no o esse do sentido do ser da substncia nfima da dimenso das substnciascompostas, mas a plenitude da dinmica do ser que designada pelo termo conhecer, intelligere. Resumindo o que dissemos at agora: se tomo o sentido do ser-coisa como medida do ser, e odesigno por termo esse, ento esse vem por primeiro, mais excelente na sua consistncia fsico -material do que vivere e intelligere. Se porm entendermos intelligre, vivere e esse in concreto como concreo do sentido do ser, no mais tendo como ncleo dereferncia a compreenso coisificada esttica do esse , mas sim como a vigncia essencial dapresena concrescida, como a potencializao da intensidade diferenciada em nveis de dinmicado ser como em sendo , ento o em sendo o mais intenso, mais vasto, mais profundo e originrio a dimenso concreta intelligens, a saber a dimenso que no mais nem gnero, nem espcie,nem indivduo, mas sim, o sentido do ser vindo presena como a dinmica da liberdade querecebe ento o nome de esprito ou dimenso espiritual = mundo humano e sua transcendncia =mundo espiritual em direo ao mundo divino. Esse in concreto intelligens, vivens, ens o quepropriamente chamaramos de ontolgico, mas no mais como o conceito geral, formalmente omais comum, abstrado das especificaes e individuaes diferenciais dentro do horizonte dosentido do ser dos entes coisas, mas sim como dimenses de totalidade da presena do sentidodo ser; como intensidades da concentrao na totalidade no uno: universal, a totalidade conversaao uno: simplex.

    Rinc , Ring , esfera? Crculo? Anel?

    O texto em alemo medieval diz com conciso: Gotes eigenschaft ist wesen. (O prprio de Deus Ser (no sentido dinmico verbal: plenitude da vigncia da presena: Ser.

    Cf. Toms de Aquino, Sum. Theol Ia q. 58 a. 6 ad 2; Sto Agostinho, De Gen. Ad litt.1.IV.c.23n.40.

    Cf. Sto Agostinho,Conf. XII.

    Avicena, De anima, 1 parte, c. 5, flio 6ra: O vnculo da alma com o corpo (...) est ordenadopara que o intelecto contemplativo seja consumado, santificado e purificado.

    Eckhardt se re fere a Lber 24 philosophorumdo Pseudo-Hermes Trismegistus, ed. por Denifle eBaeumker, in: Festgabe z.70. Geburtstag Georg Freiherrn von Hertlings , pg. 17-40.

    Vernnfticheit , Vernunft em alemo. Traduzimos essa palavra, ora com intelecto, razo, ora comomente. Cf. nota 12 do sermo 1.

    Essa terceira citao entre aspas remete ao livro mencionado na nota 1.

    Cf. TOMS DE AQUINO,Sum. Theol. Ia q. 10. 2 ad 4 .

    Cf. SO BERNARDO, De diligendo Deo, c. 1 n. 1 e c. 6 n. 16.

    O texto alemo diz: wie gesund , i. , como saudvel.

    Cf. STO. AGOSTINHO,De Trin. 1. V c. 1 n. 2.

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    Provavelmente se referem aos baccalaurii theologiae, os que ensinavam os elementos da filosofia,p. ex. as categorias de Aristteles, para os iniciantes na escoltica.

    A palavra alem para comunicar mitteilen e diz propriamente compartilhar . Conota, portanto aacepo de se dar, se doar.

    Traduzimos de preferncia a palavra Vernunft (que vem de vernehmen) como correspondente palavra latina mens. O uso das palavras ratio, intellectus e mens no pensamento medieval nocorresponde sem mais ao uso que fazemos das palavras razo, intelecto e mente . Para ns hojeesses termos so praticamente sinnimos, um ao lado do outro. Ao passo que no pensamentomedieval mens indica o que o mais prprio do homem, o pice do ser do homem, onde se d otoque de contacto com divindade. Cf. intinerariummentis in Deum de So Boaventura. Intellectus eratio devem ser ento entendidos a partir da mens como uma presena de intensidade menor damens como ser do homem.

    Podemos entender ramo como broto, rebento, renovo?

    A representao aqui no a representao no uso na psicologia e teoria de conhecimento. Otermo alemo Vorstellung, vor-stellen indica uma fora criativa do pro-duzir, de fazer vir presena.

    Talvez se refira a uma das disputationes realizada durante a estadia de Eckhardt em Paris (1310-1311). Disputatio era uma espcie de debates (disputatio ordinria, uma reunio quizenal entreprofessor e alunos para aprofundar temas das preleies; disputatio generalis ou communis ou dequolibet, debate solene pblico realizado duas vezes por ano - no Advento e na quaresma sobretemas mais gerais, onde poderia haver confronto ente diferentes escolas teolgicas. SegundoGwendoline Jarczyk e Pierre-Jean Labarrire, Matre Eckhart , Sermons I XXX, Albin Michel, Paris1998, nota 11 do serno 9, pg. 283, O representante da outra escola poderia ter sido ministrogeral franciscano Gonsalvus de Balboa, que na sua quaestio:Utrum laus dei in ptria sit nobilioreius dilectione in via?Polemisa a concepo de Eckhart.

    Talvez a discusso aventada em certos manuais da histria de filosofia medieval, principalmentede inspirao franciscana, onde se contrape pretensa tendncia racionalista de Sto Toms atendnc ia boaventuriana de acentuar o corao e escotista de dar prioridade vontade, estejanum nvel especulativo bem enfraquecido, se observarmos o que Mestre Eckhhart diz da mente edo pensar. Mente e pensar (tambm razo,intelecto, inteligncia) e muitas vezes o conhecer econhecimento devem ser entendidos como indicativos da auto-identidade de Deus como sendo

    Abgeschiedenheit (Desprendimento-Liberdade) e da auto-dentidade do que o prprio do homemenquanto filho de Deus, portanto da sua Abgeschiedenheit , onde no desprendimento da liberdade o homem igual a Deus e Deus igual ao homem. Assim os termos como razo,intelecto,inteligncia, mente, vontade, devem ser entendidos a partir da Abgeschiedenheit (Deusnu) e no vice-versa. Ao falarmos do intelecto, da mente de Deus ou da vontade de Deus ns ovestimos com a compreenso que temos a partir da psicologia ou da teoria do conhecimentoacerca das faculdades do homem: intelecto, vontade e sentimento.

    Gramaticlamente o Verbo substantivo. Mas aqui na sua acepo verbo, portanto ns devemos

    ser advrbios.Sexta-feira no alemo Freitag (frei = livre;Tag = dia). Frei, proveniente da palavra germnicafrija- que indica o estado de uma pessoa que no traz ao pescoo a argola de escravo, e cidado livre.Frija- encontra na palavra prijs no ind antigo sua correspondncia, que significaamvel, caro, desejvel, e como substantivo, o amante, esposo, tambm a esposa, filha, mulher deorigem nobre. Assim se chamou a deusa, esposa do deus germnico Wotan, de Prija. Freitag poderia assim significar o dia da deusa Prija. Freitag (Frija-tag ) seria ento correspondentegermnico do dia de Vnus, (aphrodtes hemra em grego) que em latim se diz Veneris, indicandoo planeta Vnus. Da sexta-feira em francs vendredi , em itlianovenerd . O nome do planeta foi

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    sentido sempre como nome da deusa Vnus. Os germnicos ento buscaram a sua deusacorrespondente a Vnus, a saber, Prija, esposa do deus Wotan: Dia da Prija, ou da Frija-, Freitag,sexta-feira. Da tambm a estrela de Frija der freie Stern.

    ...Na ao da mente voltada para dentro, no alemo im Einwrtswirken der Vernunft .Einswrts pode significar voltado para dentro (ein oposto a aus ), mas talvez pudesse tambmsignificarvoltado para um (ein(s)?

    Uma aqui no artigo indefinido, mas significa uma nica una.

    Eckhart se re fere a Lber 24 philosophorumdo Pseudo-Hermes Trismegistus, ed. por Denifle eBaeumker, in: Festgabe z.70. Geburtstag Georg Freiherrn von Hertlings , p. 17-40.

    Vernnfticheit , Vernunft em alemo. Traduzimos essa palavra, ora com intelecto, razo, ora comomente. Cf. nota 12 do sermo 1.

    Essa terceira citao entre aspas remete ao livro mencionado na nota 1.

    Cf. TOMS DE AQUINO,Sum. Theol. Ia q. 10. 2 ad 4 .

    Cf. SO BERNARDO, De diligendo Deo, c. 1 n. 1 e c. 6 n. 16.

    O texto alemo diz: wie gesund , i. , como saudvel.

    Cf. STO AGOSTINHO,De Trin. 1. V c. 1 n. 2.

    Provavelmente se referem aos baccalaurii theologiae, os que ensinavam os elementos da filosofia,p. ex. as categorias de Aristteles, para os iniciantes na escoltica.

    A palavra alem para comunicar mitteilen e diz propriamente compartilhar . Conota, portanto aacepo de se dar, se doar.

    Traduzimos de preferncia a palavra Vernunft (que vem de vernehmen) como correspondente palavra latina mens. O uso das palavras ratio, intellectus e mens no pensamento medieval nocorresponde sem mais ao uso que fazemos das palavras razo, intelecto e mente . Para ns hojeesses termos so praticamente sinnimos, um ao lado do outro. Ao passo que no pensamentomedieval mens indica o que o mais prprio do homem, o pice do ser do homem, onde se d otoque de contacto com divindade. Cf. Intinerariummentis in Deum de So Boaventura. Intellectus eratio devem ser ento entendidos a partir da mens como uma presena de intensidade menor damens como ser do homem.

    Podemos entender ramo como broto, rebento, renovo?

    A representao aqui no a representao no uso na psicologia e teoria de conhecimento. Otermo alemo Vorstellung, vor-stellen indica uma fora criativa do pro-duzir, de fazer vir presena.

    Talvez se refira a uma das disputationes realizada durante a estadia de Eckhardt em Paris (1310-1311). Disputatio era uma espcie de debates (disputatio ordinria, uma reunio quizenal entreprofessor e alunos para aprofundar temas das preleies; disputatio generalis ou communis ou dequolibet, debate solene pblico realizado duas vezes por ano - no Advento e na quaresma sobretemas mais gerais, onde poderia haver confronto ente diferentes escolas teolgicas. SegundoGwendoline Jarczyk e Pierre-Jean Labarrire, Matre Eckhart , Sermons I XXX, Albin Michel, Paris1998, nota 11 do serno 9, pg. 283, O representante da outra escola poderia ter sido ministro

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    geral franciscano Gonsalvus de Balboa, que na sua quaestio:Utrum laus dei in ptria sit nobilioreius dilectione in via?Polemisa a concepo de Eckhardt.

    Talvez a discusso aventada em certos manuais da Histria de Filosofia medieval, principalmentede inspirao franciscana, onde se contrape pretensa tendncia racionalista de Sto Toms atendncia boaventuriana de acentuar o corao e escotista de dar prioridade vontade, estejanum nvel especulativo bem enfraquecido, se observarmos o que Mestre Eckhhardt diz da mente edo pensar. Mente e pensar (tambm razo,intelecto, inteligncia) e muitas vezes o conhecer econhecimento devem ser entendidos como indicativos da auto-identidade de Deus como sendo

    Abgeschiedenheit (Desprendimento-Liberdade) e da auto-dentidade do que o prprio do homemenquanto filho de Deus, portanto da sua Abgeschiedenheit , onde no desprendimento da liberdade o homem igual a Deus e Deus igual ao homem. Assim os termos como razo,intelecto,inteligncia, mente, vontade, devem ser entendidos a partir da Abgeschiedenheit (Deusnu) e no vice-versa. Ao falarmos do intelecto, da mente de Deus ou da vontade de Deus ns ovestimos com a compreenso que temos a partir da psicologia ou da teoria do conhecimentoacerca das faculdades do homem: intelecto, vontade e sentimento.

    Gramaticalmente o Verbo substantivo. Mas aqui na sua acepo verbo, portanto, ns devemosser advrbios.

    Sexta-feira no alemo Freitag (frei = livre; Tag = dia). Frei, proveniente da palavra germnicafrija- que indica o estado de uma pessoa que no traz ao pescoo a argola de escravo, e cidado livre. Frija- encontra na palavra prijs no ind antigo sua correspondncia, que significaamvel, caro, desejvel, e como substantivo, o amante, esposo, tambm a esposa, filha, mulher deorigem nobre. Assim se chamou a deusa, esposa do deus germnico Wotan, de prija. Freitagpoderia assim significar o dia da deusa prija. Freitag (Frija-tag) seria ento correspondentegermnico do dia de Vnus, (aphrodtes hemra em grego) que em latim se diz Veneris, indicandoo planeta Vnus. Da sexta-feira em francs vendredi, em itliano venerd. O nome do planeta foisentida sempre como nome da deusa Vnus. Os germnicos ento buscaram a sua deusacorrespondente a Vnus, a saber, prija, esposa do deus Wotan: Dia da prija, ou da frija-, Freitag,sexta-feira. Da tambm a estrela de frija der freie Stern.

    ...Na ao da mente voltada para dentro no alemo im Einwrtswirken der Vernunft . Einswrtspode significarvoltado para dentro (ein oposto a aus), mas talvez pudesse tambm significarvoltado para um (ein(s)?

    Uma aqui no artigo indefinido, mas significa uma nica una.

    Eckhardt aqui segue a opinio de que o nome Iohannes signica aquele em que a graa.

    Cf. Sermo 12, onde Eckhardt enumera os trs empecilhos, mas colocando o tempo no ltimolugar.

    No alemo medieval meinunge, transposto por Quint no alemo atual para Streben.

    Cf. TOMS DE AQUINO,De Ver. Q. 26 a. 1 ; cf. SO JOO DA CRUZ,O Monte do Armelo,1. II c.

    8; A noite obscura, 1. II c. 10.No alemo medieval s envulte ez niht . Transposto por Quint para o alemo atual: so wrde esnicht fllen.

    Cf. De lib. Arb. 1. II c. 12 n. 33.

    A palavra alem aqui Mgde, traduzida por virgens. Mgde plural de Magd . Da palavra Magd vem Mdchen, pequena Md (Magd ) que hoje significa menina. que a significao da Magd

  • 8/13/2019 Notas da traduo

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    menina. Virgem em alemo Jungfrau que literalmente significa mulher nova. Aqui traduzimosMgde por virgens, seguindo o pensamento do sermo 2, nota 3.

    Cf.Sermo 11, nota 2.

    No alemo medieval original isticheit (seria ist +dade? = istidade) , transposto para o alemomoderno como Seinsheit. Cfr. a observao * da pg. 133 da traduo desse sermo por Jarczyk eLabarrire, em: Matre Eckhart,Ltincelle de lme, Paris: Albin Michel, 1988: isticheit: la qualitde celui qui est soi -mme celui qui se possde lui-mme ( istic ist sn selbes).

    Cf. sermo 10, nota 11; sermo 12, nota 3; sermo 13, nota 9.

    Cf. STO TOMS DE AQUINO,Sum. Theol. Ia q. 64 a. 4 ad 3. Conferir essa citao...

    Cf. HEGEL, G.F. Wilhelm,Vorlesungen ber die Philosophie der Religion, Teil 1, Der Begriff derReligion. Vorlesungen Bd. 3, Felix Meiner Verlag 1983, p. 148. Hegel diz ter encontrado num dossermes de Eckhardt a seguinte frase: Das Auge, mit dem mich Gott sieht, ist das Auge, mit demich ihn sehe; mein Auge und sein Auge ist ein ( O olho, com o qual Deus me v, o olho, com oqual eu o vejo; meu olhoe e seu olho um).

    Termo alemo Geschaffenheit.

    Crescimento-transmutao uma traduo inadequada do verbo alemo entwachsen. Compe-sede ent + wachsen. Wachsen significa crescer, aumentar, avolumar, entumecer. O prefixo ent - entreinmeros significados conota surgimento, no sentido de que de algo nasce, surge, brota um novoser que uma vez nascido se pe diante do ser, do qual surgiu como contra-posto ou ante-posto (anti grego, ante latim) enquanto um ser novo, transmutado. Assim o surgir de uma nova vida, deum novo ser que con-cresce, como que irrompendo de dentro da sua matriz para fora, se diz emalemo entwachsen.

    O termo alemo angetraut , confiado, mas tambm prometido (noivos), desposado. O alemooriginal medieval getrvet = angetraut. antnimo de entrvet = entfremdet (alienado,estranhado )

    Versagt = negado, abnegado, denegado; no alemo medieval entrvet = alienado. Trata-se doantnimo do relacionamento de confiana mtua, referida unio esponsal. Refere-se, portantono tanto ascese. Mas muito mais ao encontro de amor.

    Mosteiro de dominicanos em Strassburg.

    Distinguimos em Eckhart igualdade em trs intensidades crescentes: glchnisse = Gleichnis =semelhana, comparao, igualao; glcheit = Gleichheit = igualdade; eein = Um, oueinsn = ser Um;

    BOCIO,De conbsol. Phil. 1. III poeia IX.

    Cf. STO AGOSTINHO,Confessiones , 1. X c. 41 n. 66.

    Em Eckhardt distinguimos no homem que criatura, uma realidade que a sua mais ntima eabissal identidade como filho de Deus, o ser Um com Deus em Jesus Cristo . Assim, ele nuncaafirmou que o homem no seu todo, p. ex., a sua corporalidade etc., fosse in-criado e incrivel. Cf.Sermo 52. Trata-se da questo da diferena existente em Eckhardt de Deus (deus) e deidade quenos orienta a considerrmos a igualdade (no gleichnis, no Gleiheit ) referida ao Um, ao einsn.

    No alemo medieval in snen istigen wesene; no alemo atual in seinem wesenhaften Sein .

  • 8/13/2019 Notas da traduo

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    Niht glch mit derglcheit ; nicht gleicht in der Gleicheit.

    Em alemo medieval gehochnysse , em alemo atual Gedchtnis.

    Quint Meister Eckharts Predigten, ed. e trad. por Quint, Vol. I, sermo 14: intgegenwordicheit ,transposto para o alemo moderno Vergegenwrtigung , cf. nota 2, referindo-se a Tauler (DiePredigten Taulers , hers. Ferdinand Vetter [Deutsche Texte des Mittelalters Bd. XI] 1910, p. 426,9)menciona a palavra entgegenwerdicheit = praesentialitas.

    Essa diviso tripla das foras da alma em memria (Pai), inteligncia (Filho), e vontade (EspritoSanto) formulao e esquema agostiniano, na poca usuais, da doutrina trinitria. Em Eckhart,esse esquema no to usual. Nele ocorre mais a diviso dupla: inteligncia e vontade.

    Cf. Op. cit.Meister Eckhart Predigten, ed. Quint, Vol I, pg. 231, nota 4 e 5. Quint observa que aquicertamente o texto est incompleto e corrupto. fora irascvel deveria seguir as duas outrasforas, a saber concupiscibilis (begerunge, cobia, desejo) e rationalis (bescheidenheit ,verstendicheit , discrio, compreenso). Como no caso de irascvel, relacionada ao Pai, serelacionariam respectivamente ao Filho e ao Esprito Santo.

    Cf. Quint, op. cit. pg. 231, nota 6 (e tambm 232 nota 1), onde constata que o texto est corrupto eh lacunas. Por isso aqui na transposio do texto de alemo medieval para o alemo atual, Quintomite a frase incompleta que diz Got der hait eynen [ge]gegen natoirlichen kreich, dat (...) Deusconduz uma guerra contra natureza...

    No alemo medieval est: in deme alle goit besloissen is, dat sy an in einne wesen. Transcritopara o alemo moderno temos: in dem alle Gut beschlossen sind, so dass sie in ihmeins sind. Como seria a traduo literal da frase no alemo medieval? Alle goit singular ou plural?(=singular = Gut?). Ficaria sem sentido ou muito estranho se dissesse: no qual est implcito todoo bem, de modo que nele todo o bem Um-ser?

    Quint, op. cit. sermo 14, pg. 234, nota 2 confessa no saber de onde Eckhardt tem essa opinioacerca do sol. Sugere conferir Empdocles, em: Diels, H., Die Fragmente der Vorsokratiker, 5.

    Aufl., ed. Por Von W. Kranz, vol. 1, p. 288, 31 A 30. Empdocles ensinava que o sol, segundo asua natureza, no era fogo, mas sim reflexo do fogo.

    Favor dizer o significado do texto em alemo medieval Also is de oitmodicheit eyne wortzele allesgoiden inde dar na volgende is. Em alemo atual: Die Demut hingegen ist eine Wurzel alles Guten,und ...folgt ihr nach. Cf. QUINT, op. cit. p. 235, nota 1, Quint observa que atrs do e (raiz de todobem e) falta algo. Ou no poderia significar: A humildade raiz de todo o bem e segue-a?

    Cf. Quint, op. cit. sermo 14, p. 235, nota 3 e p. 372. Trata-se provavelmente de um mosteiro debeneditinas na cidade de Colnia.

    No alemo medieval est inthoeget , i. , enthht . Ent-hhen (hoch, Hhe). Diramos talvez des-altado, des-altura. Ent - no entanto nem sempre conota uma de- privativo. Antes pode evocar umsurgimento, num nascer totalmente novo que d ou restitui ao que vem luz, vem ser, a suaprpria nascividade. Assim esse a-baixamento de Deus restituiria ento ao Deus da experinciamstica a sua prpria identidade, a sua prpria altura, e pode nos levar a uma des-methafiskaoda deidade, nos colocando ao mesmo tempo na questo da essncia da metafsica.

    No original almo medieval est simplesmente neit ey mer in = transcrito para o alemo atual nicht hinaus , vielmehr hinein. Cf. Quint, o. cit. Sermo 14, p. 238,nota 1; Cf. Jarczyk e Labarrire, sermo 14, nota 13, pg 289: neit ey mer in. Selon Quint, il se peutque le texte soit ici dfectueux. Le plus vraisemblable est quil veuille dire que lhomme ne procdepas de Dieu la manire naturelle du Fils par rapport au Pre, mais que le fait de natre de Dieu est ralit aussi bien intrieure Dieu qu lhomme.

  • 8/13/2019 Notas da traduo

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    Cf. QUINT, op. cit. sermo 24, p. 240, nota 5. Quint observa que h lacuna no texto. Ele conjeturaque a frase originariamente teria sido: allet, dat der mynsche wirket, dat wirket got, want myneoitmodicheit geit gode syne gotheit. Como seria a traduo?

    QUINT, op. cit., p. 244, linha 10 =die geschaffenheit ; transcrito para alemo atual = dasGeschaffene.

    QUINT, op. cit. p. 244, 12:Gueti in sich, gueti ; transcrito para Gutheit in sich, Gte.

    QUINT, op. cit. p. 244, linha 12-14: si loket der seele vnd[er] si bestt, vnd lget her us. gutberaitschaft in alles, das gut ist in ainer gemainsami, vnd gnad beliebt bi der bigerung. und; cfr.nota 6. Observa Quint que h aqui lacuna; e ele deixa de transcreve o texto do alemo medievalpara o alemo moderno, devido a dificuldade de entender esse texto defeituoso. E diz na nota: Inbereinstimmung mit den Ausfhrungen Pf.(Pf. = Meister Eckhart, hrs. Von Franz Pfeiffer, 4.unvernderte Auflage [Deutsche Mystiker des 14. Jahrhunderts, Bd. II, 1924] S. 124,29. (vgl. AuchPf. 121, 11ff.)wird der Prediger in dem verderbten Text zum Ausdruck gebracht haben, dass dieGte Gottes (=der Wille Gottes = der Hl. Geist), weil sie auslugt, weil sie sich allen (guten)Creaturen gemeint, die Seele nicht befrieden und stillen kann, vielmehr ihr Begehren lockt imGegensatz zur Einheit oder Einigkeit Gottes, die nicht ausschmilzt und sich nicht den Kreaturengemeint, in der also auch alles Begehren der Seele erst zur Ruhe kommt.

    O texto original defeituoso. QUINT, op. cit. p. 488 diz: eu melhorei e trad uzi o texto corrompido (= op. cit. p. 246, linha 9-10:Die sine antwurtend got nach sinem hoechsten tail in seiner grundlosentieffi in siner t iefen der demuetikait ) conforme pg. 235, linha 5-7 (de sonne antwert gode, dat alrehoegestenin syner grondeloesser gotheit antwert dem alrer nedersten in der doifden deroitmoedicheit = sermo 14), cf. p. 247, nota 1. nio poderia examinar a Quint sob a dvida: qualfoi o texto original defeituoso? O que est na pg. 246, 9? Ou este j texto corrigido segundo otexto do sermo 14?

    Cf. JARCZYK E LABARRIRE, op. cit., p. 290, nota 6: Ce livre dAristote auquel Eckhart serfrera encore une fois dans ce sermon est la Mtaphysique.

    Cf. QUINT, op. cit. pg. 249, 4-5 =mit redlichen vnd mit vnredlichen. Qual o sentido literal dessaspalavras? Jarczyk e Labarrire, op. cit., p. 290, nota 7: il sagit de la capacit ou de lincapacit dese livrer une argumentation.

    Cf. THOMAS,S. Theol. I q. 57 a. 2.

    Bocio, De Consol. Phil. 1. III poesia IX.

    Aristteles, Metafsica, lambda c. 8. Quint, op. cit. p. 251, nota 3: Na Escolstica medieval com adenominao puros espritos (abgeschaidenen gaiste) se pensava nas substncias separadas ousimples, que eram identificadas muitas vezes com os anjos.

    Qu em latim quid . Refere-se a definio da substancia, quod quid erat esse ( t ti n enai ), ocerne de uma coisa. cf. Quint, op. cit. pg. 251, nota 4.

    A palavra alem para compreender begreifen. Greifen conota pegar, prender, agarrar, dacopreender. Begriff que vem do begreifen conceito, usualmente entendido como uma imagemmental da coisa. S que em portugus conceito vem do conceber. Diz respeito, portanto concepo , portanto gestao.

    QUINT, op. cit. p. 258, 9 =subtijll ; p. 491,5 = schwierig .

    Cf. Missal da Ordem dos Pregadores (Dominicanos), epstola na festa de Sto Agostinho.

  • 8/13/2019 Notas da traduo

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    QUINT, op. cit. p. 264, 4, zwei dinc an im = p. 492: zweierlei .

    Favor examinar: QUINT, op. cit. pg. 265, 10: obe dem willen; pg. 492: unwillkrlcih. Obe demwillen no significa literalmenteacima da vontade?

    QUINT, op. cit. p. 266, 3-6 = refletir-se ali numa imagem] ab-gebildet; se forma na imagem]erbildet ; se forma] erbildet ; forma]erbildet : em todas essas variantes de formar imagem, formaretc., no alemo medieval usado o verbo erbilden. Quint transcreve uma vez esse erbilden comoabbilden. Er-bilden conota (er) uma ao originria que se chama bilden. Neste est a palavra Bild que costumamos traduzir como quadro, imagem, configurao, forma. No entanto, tanto a palavraforma (em latim) comoBild , bilden parece contar uma compreenso que se refere criatividadeque se d nas obras da existncia artstica (no sentido originrio, e no j reduzido esttica).

    Aqui no se trata de cpia, reproduo, figurao, mas sim de vir fala, da concreo; da concepo, tornar-se obra , sim gerar a si mesmo como prolongamento de si mesmo , portanto, emgerando o filho, se gerar no filho como na imagem e semelhana ( igualdade) de si mesmo: er-bilden. Cf. Jarczyk e Labarrire, op. cit. p. 290, na nota 5. erbildet . Il sagit donc de limage de lui -mme que Dieu forme dans lme.

    Cf. nota 3.

    QUINT, op; cit. p. 266, 8:wan daz bilde vrsetet dem willen; p. 492: denn das Bild setzt dem Willenein Ziel . Favor conferir.

    QUINT,op. cit., p. 269, 1: merken, p. 493: erkennen.

    Segundo Aurlio, erva da famlia das labviadas ( salvia officialis), nativa na regio mediterrnea,usada como medicinal, de folhas lanceoladas e belas flores azuis, agrupadas em racemosalongadas.

    Cf. nota 4.

    O adjetivo justo em alemo gerecht . Na palavra ge-rechet , est a palavra recht que significareto. Retido um modo de ser muito querido dos medievais.

    Cf. AVICENNA,De anima, p. 4 c. 2 (18vb). Cf. QUINT op. cit. p. 275, 11-12:in wirt aber wolgegeben ein glchez bilde einer ngedrcketheit , p. 495: wohl aber wird ihnen die Einprgung eines hnlichen Bildes zuteil.

    O termo alemo aqui gleich. Significa literalmenteigual, igualmente.Significa tambm, em breve,logo. Aqui em Eckhardt, embreve, logo parece incluir igual, igualmente por conotar de imediato,sem demora e mediao , disposto corpo a corpo, de igual para igual na disponibilidade de Deus.

    Cf. ARISTTELES,De partibus animalium, IV c. 5 (Lambda 681 a 12ss.)

    QUINT, op. cit. p. 499, acrescenta .

    Ibidem, Quint acrescenta .

    Ibidem, Quint acrscenta .

    Ibidem, Quint acrescenta .

    QUINT, op. cit. p. 300, nota 2: Eckhardt se refere a Avicenna; cf. STO TOMAS DE AQUINO,S.theol . I q. 47 a. 1.

  • 8/13/2019 Notas da traduo

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    QUINT, op. cit. p. 301, 7:ez smilzet in; p. 500: es schmilzt ein.

    Em alemo, a palavra Ursprung . Literalmente significa (Ur) originrio; (Sprung) salto = saltooriginrio.

    QUINT, op. cit. p. 303, 3:in der mgelchen kraft ; p. 500: in der vermgenden Kraft. Cf. Sermo 1,nota 11.

    QUINT, op. cit. p. 304, 7:vernnfticheit ; p. 500: Vernunft . Cf. Sermo 1, nota 12. nio, no sei seno se deveria traduzir vernnftlicheit por mente (mens, -tis). Mas como intellectus, ratio sodiferentes graus da intensidade da mente, conforme diferenciao de grau poderia ser traduzidaora por intelecto, ora por razo. S que no guardei muita coerncia nesse ponto. Talvez sepudesse examinar isso?

    Cf. Aristteles,De animalibus IX t. XX (Theta c. 6 612, XX).

    QUINT, loc. cit. p. 307, 2:zesamen stzent ; p. 501: zusammenstossen . O verbo propriamentesignificaentrechocar-se ; parece, pois indicar a dinmica da convergncia e ao mesmo tempo daexpanso no em-contro na identidade da diferena e na diferena da identidade. Seria algo como oolho, o centro de furaco, no movimento simultneo centripetal e centrifugal.

    QUINT, op. cit. p. 375, 6:kleinheit ; pg. 517: Niedrigkeit .

    Quanto palavra Jung-frau, cf. Sermo 2, p. 1, nota 1. A traduo de Jung-frau por virgem, podeconotar o uso religioso da palavra, indicando mulher consagrada, jovem ou de idade, a Deus, emcastidade. H quem tente evitar essa conotao, traduzindo Jung-frau por moa, mulher jovem. EmEckhart til manter o termo virgem, l onde virgindade no significa simplesmente a castidade ,mas um modo de ser espiritual, ns diramos ontolgico (alis muito ruim, pois o ontolgico nocoincide com o ser prprio do que ntica e oto logicamente chamamos de religioso ou espiritual)que se refere tanto mulher como ao varo, tanto a(o) jovem como idosa(o). til, pois, deixar apalavra virgem na sua ambigidade crist-medieval.

    QUINT, op. cit. p. 376, 10:s ruowe ich f dem bilde; p. 517: verweile ich bei der Vorstellung .

    Intelecto aqui traduo da Vernunft. Puro intelecto seria pois reine Vernunft (cf. o uso da palavraVernunft , p. ex. em Kant, Kritik der reine Vernunft ). Vernunft vem do verbo vernehmen quesignifica: receber em acolhida. Ao passo que intelecto, intellectus, vem do intelligere que significainter-legere, a saber, ler entre (linhas).

    Aquiele significa sem dvida Deus. Deixamos na traduo assim na ambigidade de podertambm significarhomem, i. , de o homem ter se tornado homem, a saber, o fato de o serhumano existir, - e o ser humano s fato de existir como ex-sistncia humana -, pelo simples fatode assim ex-sistir o bem, o maior de todos os bens, pois significa ser igual a um tal Deus que setornou ser humano.

    Nicolau de Cusa utilizou essa estria, em duas diferentes verses ampliadas, na sua pregao.Cf. J. Koch, Cusanus-Texte I. Predigten 2./5. Vier Predigten im Geiste Eckharts (Si. Ber. DerHeidelberger Ak. D. Wiss. Phil.-hist. Kl. Jg. 1936/37 2. Abh.) pg. 46ss.

    Cf.p. ex. STO TOMS,S. c. gent. IIIc. 21.

    QUINT, op. cit. p. 380, 6:waere; pg. 518: war.

    QUINT, op. cit. p. 380, 7: bilde; pg. 518: Urbilder.

  • 8/13/2019 Notas da traduo

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    QUINT, op. cit. p. 380, 5, nota 3: Quint observa que frase quando Deus criou todas as criaturas,no tivesse ele gerado primeiramente algo, que seria incriado, que trazia em si as imagens detodas as criaturas anacoluto, i. , frase quebrada, onde a gramaticalmente esperada fraseseguinte no dita, e vem uma outra frase. E diz que quase certo que o texto est corrompido e praticamente impossvel reconstruir a frase como teria sido, seguindo os manuscritos disponveisat agora.

    QUINT, op. cit. p. 380, 7:Sant Magfire; p. 518: Sankt Makkaberkloster. Cf. A explicaointrodutria ao sermo 22, pg. 372; cf. Sermo 14, Quint op. cit. p. 235, nota 3. Segundo Quint,trata-se provavelmente de um mosteiro debeneditinas em Colnia. nio acho bom no fim estudarmelhor a localizao mais exata desses nomes, e conferir p. ex. com o nome do mosteiro deMariengarten em Strassbourg; cf. Quint, p. 209, segundo pargrafo, de baixo para cima.

    QUINT, op. cit. 381, 1:ist ein einic ein ungeschieden; pg. 518: es ein einiges Eines ist ;unterschiedlos; Enio, voc traduziu: um um singular . Favor examinar o termo einic . NB: No sei emque sermo, mas deve ser nos sermes de 1 a 10 mais ou menos, ocorreu mesmo problema.Einigno seria unitivo?

    Cf. nota acima 9.

    Cf. nota acima 9.

    Segundo Quint, op. cit. p. 381, nota 2: no studium generale dos dominicanos na Colnia.

    QUINT, op. cit. p. 381, 3: pfaffen; p. 518: Theologen. NB: seria bom se pfaffen tivesse o sentido dehoje, i. , padrecos.

    QUINT, op. cit. p. 382: sunnch der ungebornheit ; p. 518: Sohn gemss der Ungeborenheit.Ungeborenheit poderia se referir diferena existente entre o ser incriado e ser incrivel. Serincriado se refere a Deus enquanto ainda considerado a partir do criado, portanto deus, e nodeidade. Ser incrivel se refere Deidade, ao Um. A filiao divina, o ser em Deus um Um nico,parece no somente significar que filho unignito de Deus na participao da filiao divina,entendendo a Deus como deus, portanto filiao enquanto referida participao na criao, noser continuamente engendrado eviternamente de deus criador, mas tambm ser semelhante aoFilho Unignito do Pai no mistrio da Trindade, participao essa possibillitada pela Encarnao.Somos filho no Filho. Mas h ainda um ser igual a Deus no sentido de, em sendo filho no Filho,ser igual a Ele na participao de ser Filho como quando deus ainda no era, i. , repousar naDeidade, no Um, ser como quando ainda no eramos. Como tudo isso, toda essa igualdade aatuao da prpria deidade, e atuao na deidade ser, o verbo ser sempre adquire duplo sentidode ser e no ser. Da a resposta de Eckhardt: filho e no filho. Cfr. Jarczyk e Labarrire, op. cit.pg. 212, nota no roda-p *: nch der ungebornheit : conformment ce qui nest pas engendr.Selon ce qui en lui est incr et incrable, lhomme est non seulement ternellement engendrmais, comme le Fils, il est partie prenante du repos ternl de la dit, avant tout engendrement.Voir un propos semblable dans le Sermon 52.

    Verborgenheit , velamento. Verbergen significa esconder, mas o verbo bergen significa guardar,conservar sob proteo como velar significa esconder, encobrir, mas ao mesmo tempo proteger.

    QUINT, op. cit. p. 378, 2:alle winkel sint im ein offenbrunge; pg. alle Winkel offenbaren ihn.

    A palavra alem para secreto aqui heimlich. Heimlich conota Heim, o lar, o em casa, o familiar, oque est prximo de ns mesmos, mais do que ns a ns mesmos. Indica, pois familiaridade coma origem abscndita que guarda, oculta o mistrio (Geheimniss) do nosso ser. Oculto, secretoconota guarda, proteo, o velamento do que nos o mais precioso, o tesouro.

  • 8/13/2019 Notas da traduo

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    Quint, op. cit. pb. 388, 9: leit sne pne Von minne; pg. erlitt seine Pein aus Liebe. Em vez deentender von minne como aus, no se poderia entender como pertencendo a? O Pein conotaaflio, castigo pela ousadia de ter amado, compaixo, pena, desejo de estar no lugar de, a livreparticipao.

    Cf. Aristteles,De an. III c.4 (429 15-22).

    Cf. Aristteles,Meteor. I c.4 (A c.9 346 b 23-26); cf. Alberttus Magnus,Isagoge in librosMeteororum pars IV c.6 (ed. Borgnet Bd. V p. 483); cf. Sto Toms, In Meteor. I lect. 4 n. 3, III 335 b.

    Cf.Quint, op. cit. p. 396, 1, nota 1: Quint observa: a significao do termonoch atestado pelatradio manuscrita (Wrket si noch in verstantnisse = Wirkt sie noch) alis questiovel. Ediz: Besser wrde aleine oder niuwan passen.

    Quint, op. cit. p. 397. 6:blz ; p. 522: rein.

    Irrompeu e jorrou (....formou-se), em alemo: es brach aus und floss (... .es ward gebildet): emportugs como dizer esse es? Na traduo foi deixado sem sujeito de propsito; s o es wardgebildet , em vez de foi formado, se traduziu formou-se e nesse caso o corpo ficou sujeito. Comoest parece que o corpo sujeito do irrompeu e jorrou; ao passo que o significado parece ser:uma fora irrompeu e jorrou...

    Cf. STO AGOSTINHO,Sermo 311 c. 4.

    Como j foi dito em algumas notas anteriores em anteriores sermes, aqui tambm, no original,em vez de Erkenntnis est verstantnisse e em lugar do intelecto est vernunft . Em portugues temoso termo entendimento. H tambm o problema de no latim termos diferena entre ratio, intellectus,spiritus e mens. Essas distines no teriam importncia, se elas no estivessem indicandonuances de momentos diferenciados na estruturao da igualao no UM da deidade. nio, favordepois da reviso da prof. Mrcia, definir esses assuntos e rapidamente uniformizar os termos.Continuo aqui com a diferena conhecimento e intelecto que foi assumido pela traduo francesade Jarczyk e Labarrire

    QUINT, op. cit. p. 399: 12: ne gete enminnet si niht : pg. Ohne Gutheit liebt sie nichts. Quintobserva na nota 6 que texto corrompido. O sentido da frase seria: nichts, das ohne Gutheit ist,kann die Liebe lieben (nada que sem bondade, pode o amor amar.

    berschwebendes.

    Cf. STO TOMAS,S. th. I q. 16 a. 3 c.

    STO AGOSTINHO,De Vera religione c. 36 n. 66.

    QUINT, op. cit. pg. 401, 7/8:mr doch daz selbe, daz d abgeleget ist, daz selbe daz istzuogeleget, in dem daz ez andert ; pg. 522: aber doch ist dasselbe, das da abgelegt ist, zugelegt, damit, dass es Anderheit setzt . Cf. ibidem, pg. 401, nota 4: Quint observa que aqui otexto est corrompido. E diz: O que Eckhardt aqui expe sobre Deus como Um, no que dizrespeito ao contedo, concorda com longas explanaes do sermo 21 sobre Unus deus et pateromnium. E acrescenta: daz selbe, daz d abgeleget ist, daz selbe daz ist zuogeleget, no dizoutra coisa do que a negatio negationis e o que Sto Tomas, Quodlibet X q.1a. 1 ad 3 diz: In rationemultitudinis includitur negatio rei; sed in ratione unius negatio negationis et rei simul. Est enimunum quod non dividitur tali divisione quod sit in eo accipere hoc et non hoc. Et sic unum, inquantum negat affirmationem et negationem simul, est negatio rei et negationis simul. E a respeitode in dem daz ez andert (401, 8) diz: soviel ich sehe, ist dieses andert bei Eckhart ein hapacxlegmenon. Seine Bedeutung ist schwer wiederzugeben,ich habe es durch: Anderheit setztbersetzt. Der Sinn ist, dass man zur Bestimmung des Einen al ander ablegen, d. h. negieren

  • 8/13/2019 Notas da traduo

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    muss, man eben durch dieses Ablegen zugleich ein e, wenn auch negative Aussage macht, d. h.aber das Eine in einen, wenn auch negierenden Bezug setzt zu allem andern, das man auf dieseWeise setzt und das eben muss die Bedeutung ds ez andert sein und das also druch seineNegierung (daz d abegeleget ist ) doch auch wieder zuogeleget wird. (nio, no sei se devemoscolocar essas anotaes que p. ex. se for latim devemos traduzir. A gente no tem nenhum desejode ficar colocando coisas da erudio, mas pode ser necessrio tais anotaes, para que o textotraduzido se torne mais compreensvel...?! No ser metafsico simples, por ser impossvelquando se metafsico. Como a simplicidade do no metafsico no metafsico, como fazer sevoc quer publicar algo como o texto de um Eckhart?

    QUINT, op. cit. p. 402, 5:wesenlicheit ; p. 522: Seinsheit.

    QUINT, op. cit. p. 404,51: verstn; p. 522:Erkennen.

    STO AGOSTINHO,De spiritu et anima, c.47.

    QUINT, op. cit. p. 405, 9 e 10:nch geistlicheit () nch der slicheit ; p. 523: nach seinem Geist-Sein () nach seinem Seele-Sein. Cf. p. 405, nota 3: Quint observa que slicheit corresponde aolatimanimalitas (anima litas; anima alma) em So Boaventura, Itiner. Ment. C.1 n.4, Opera V,297 : Mens nostra tres habet aspectus principales. Unus est ad corporalia exteriora, secundumquem vocatur animalitas seu sensualitas; alius intra se et in se, secundum quem dicitur spiritus;tertius supra se, secundum quem dicitur mens; cf. ALCHER v. Clairvaux,De spiritu et anima c. 38,PL 40, 808 ; cf. Um trecho da traduo latina do comentrio de Eustratius ao livrotica deNicmaco de Aristteles 1099 a 8 (ton psykon): hoc autem nomen animalium non est genitivushuius nominis animal, quod graece dicitur son, sed est genitivus huius adiectivihic et haecanimalis et hoc animale , sumpti non ab hoc nomine animal, sed ab hoc nomine anima , quodgraece dicitur psyche , et ubi nos habemus animalium , graecus sermo habet psychicon , quodest animalium ab anima, non sooticon , quod est animalium ab animali. (cod. Vaticanus latinus2171 f. 21ra. (B. Geyer).

    Favor examinar: QUINT, op. cit. p. 407, 7:des minniclchen gttliches underscheides vluz ; p. 523:der Strom der Liebe gttlicher Anschauung. underscheides +? Alteridade? Diferena?

    QUINT, op. cit. p. 407, 9:d durch dranc diu minne von berunge der gotheit ; p. 523: durch diedrang die Liebe kraft des Gebrens der Gottheit.

    QUINT, op. cit. p. 409,2:ein ursprunc ; p. 523: ein Urprung . J ocorreu anteriormente muitas vezeso mesmo problema. Esse ein bem determinado, pois parece indicar a referncia ao Um. Comoacenar para isso? vlido dizer origem uma? Ou a origem; a origem uma?

    Essa parte suprema, e no simplesmente superior o pice, o vrtice, o cume da alma, oaltssimo da alma que est na eternidade e no tem nada a ver com o tempo e nada sabe dotempo nem do corpo. Trata-se da centelha da alma , algo na alma, a ratio superior (cf. QUINT, op.cit. volume 2, p. 24, nota 2).

    Vontade e intelecto (vernnfticheit ), como foras efluentes da parte suprema da alma, no tem

    muito a ver com a nossa maneira usual psicolgico-antropolgica de entender vontade e intelecto.Por isso, na discusso tomistas versus escotistas (intelecto versus vontade), tomistas versusboaventurianos (cabea versus corao) como ns muitas vezes abordamos numa compreensosuperficial a questo, possui um nvel de penetrao da questo muito baixo. Aqui em Eckhardt necessrio sempre de novo observar que a questo de intelecto e vontade diz respeito suprema

    parte da alma, centelha , luz divina na sua estruturao interna. Como os termos como razo,intelecto para ns hodiernos j esto contaminados pela compreenso usual psico-antropolgica,traduzir a vernnfticheit ou mesmo vernunft questionvel. No latim haveria o termo mens (cf.itinerarium mentis in Deum de S. Boaventura) para indicar o intelecto enquanto fora que emanada centelha, como a fora superior na estruturao interna da dinmica da prpria centelha. Mas

  • 8/13/2019 Notas da traduo

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    em portugus mente e mental implica no mesmo problema da perda do sentido maisvigorosamente especulativo desses termos. Na orientao dessa questo da prioridade entreintelecto >< vontade, necessrio com preciso guardar a diferena de acuidade de observaoque a reflexo especulativa de Eckhardt mantm, quando fala do relacionamento de intelecto evontade como de momentos constitutivos estruturais da centelha, portanto quando fala de intelectoe vontade e de seu relacionamento mtuo, referidos face superior da alma ; e quando fala dorelacionamento de intelecto e vontade e de seu relacionamento mtuo, referidos face inferior daalma. Se agora tomo o termo intelecto referido face inferior da alma que olha um tanto para baixoe dirige os sentidos e identifico sem mais com intelecto referido face superior da alma quecontempla todo o tempo a Deus , e ainda por cima dessa generalizao neutra dos termos,introduzo a questo do relacionamento intelecto versus vontade ou sentimento , de nvel dosproblemas psico-antropolgicos, ento se torna muito difcil entender a Eckhardt quando ele fala de

    prioridade do intelecto sobre a vontade.

    QUINT, op. cit. vol. 2, p. 31, 2/3:der krefte volkomenheit liegt an der obersten Kraft, diu d heizetvernnfticheit ; p. 643: Die hchste Vollendung dieser Krfte , liegt in der obersten Kraft, dieda Vernunft heisst.

    Portanto, intelecto aqui deve ser lido com plena preciso, no simplesmente identificado com ointelcto, quando se disse: Uma chama-se vontade, a outra intelecto. Pois, intelecto aqui (que ali sechama intelecto) a mais alta realizao dessas foras que est na suprema fora, que ali sechama intelecto. Isto significa que aqui intelecto deve ser entendido como centelha da alma.

    Ele, o intelecto, i. , a suprema fora que ali se chama intelecto.

    Favor examinar: QUINT, op. cit. vol. 2, p. 34:diu sele gesmucket und geschelet von der cratre ;pg. 644: die Seele sivh vn der Kreatur abwendet und abschlt ; cfr.pg. 35, nota 2: p. 34, 8s.sich...gesmucket = sich zusammenzieht vor, sich duckt vor, sich abwendet von den Kreaturen,also nicht sich schmckt...

    Justia em alemo Gerechtigkeit. Gerecht igkeit contm a palavra recht que significa reto, direitono sentido de ereto, endireitado. Ser reto, ereto conota estar de p, cabea erguida, no naempfia da pretenso orgulhosa, mas no erguer-se, no identificar-se com, no levantar-se a partirda sua nascividade, da sua natureza. Quem natural assim, o filho, livre, com o direito herana, que se move no cl como quem est em casa, e no como escravo, encurvado debaixode um poder superior. O homem justo, isto , reto, ereto, est na medida verdadeira, i. , ajustada da sua identidade, do seu ser. E o ser do homem, sua essncia igualdade com Deus, i. , serfilho no Filho de Deus, i. , na filiao divina. Estar solto, livre, sem nada, nada tendo nem acima,nem abaixo, nem direita, nem esquerda, estar assim vontade, em casa no ser filho de Deus a liberdade. Esse modo de ser a retido, a Gerechtigkeit, a justia. Cf. nota 4.

    No se sabe de que livro se trata, cf. Quint, op. cit. vol. 2, p. 62, nota 2.

    Aqui parece ser a repetio da afirmao anterior tanto ma is ele a prpria liberdade. S queaqui tanto mais significa: nesse ser tanto mais, na medida desse ser cada vez mais prximo da

    justia, na medida dessa justeza, dessa justia, i. , da retido, ele a liberdade.

    Cf. QUINT, op. cit. vol. 2, p. 63, nota 2. Quint observa que na edio dePfeiffer , esse contra otestemunho da tradio manuscrita, troca o termo wrheit por unwrheit (=O homem injusti serve inverdade) numa conjetura que demonstra a no compreenso desse trecho por Pfeiffer. E diz:Eckhardt disse antes (p. 62, 3 ss.) que o homem justo no serve nem a Deus nem s criaturas(portanto ele tambm no serve a verdade, ele no seu escravo, mas a prpria verdade), eento diz Eckhardt do homem injusto o contrrio: O homem injusto serve verda