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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 3895 NOTAS ACERCA DO LIVRO CURSO ELEMENTAR DE PORTUGUEZ EM PEQUENOS EXERCÍCIOS PRÁTICOS (1921): CONTRIBUTOS À HISTÓRIA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA ESCOLA PRIMÁRIA Edna Telma Fonseca e Silva Vilar 1 Considerações iniciais Este artigo resultou do esforço empreendido pelo Grupo de Estudo e Pesquisa História da Educação, Cultura e Literatura, cuja preocupação em localizar, transcrever e reunir produções bibliográficas de professores, sobretudo as obras didáticas 2 , ensejou o acesso a fontes que constituíram novos objetos de pesquisa e que vêm possibilitando delinearmos não somente a História da Educação alagoana, mas também da leitura, da alfabetização, da escolarização primária, do ensino de Língua Portuguesa. Nos últimos anos, tem crescido o número de trabalhos que abordam esses temas, utilizando os impressos “livros” como fontes. Assim sendo, dar a conhecer os elementos materiais (livros), simbólicos (métodos e práticas de ensino, dentre outros), bem como os sujeitos que contribuíram com e para essa produção ganha relevância. O artigo insere-se nessa perspectiva ao analisar uma obra específica - o livro Curso Elementar de Portuguez em pequenos exercícios práticos 3 (1921), da literata e professora alagoana Rosália Sandoval, delineando aspectos compósitos à história da educação alagoana com temporalidade focada na década de 1920, considerando-se o ano de publicação do livro; mas também da história do ensino de Língua Portuguesa na escola primária. Adentrarmos à citada obra, analisando os elementos norteadores das práticas de linguagem e gramática, bem como as propostas de e para a conformação do ensino de Língua Portuguesa na escola primária, destacando os dispositivos práticos utilizados em seus 1 Doutora em Educação pela Universidade Federal da Paraíba. Professora Adjunta no Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas, Campus Maceió. E-Mail: <[email protected]>. 2 Referimo-nos ao Projeto de investigação “Recuperação da produção Bibliográfica de Docentes Alagoanos (1840- 1960)” coordenado pela Profa. Dra. Maria das Graças de Loiola Madeira.. 3 Ainda não localizamos informações acerca da adoção desta obra no Estado de Alagoas. Dentre os livros adotados para o ensino de Língua materna nos grupos escolares de Alagoas, constavam os seguintes títulos: Cartilha Analytica de Arnaldo Barreto, Leitura Preparatória de Francisco Vianna e Grammatica Portugueza de João Ribeiro. (REGIMENTO..., 1924, p. 30-1).

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NOTAS ACERCA DO LIVRO CURSO ELEMENTAR DE PORTUGUEZ EM PEQUENOS EXERCÍCIOS PRÁTICOS (1921): CONTRIBUTOS

À HISTÓRIA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA ESCOLA PRIMÁRIA

Edna Telma Fonseca e Silva Vilar1

Considerações iniciais

Este artigo resultou do esforço empreendido pelo Grupo de Estudo e Pesquisa História

da Educação, Cultura e Literatura, cuja preocupação em localizar, transcrever e reunir

produções bibliográficas de professores, sobretudo as obras didáticas2, ensejou o acesso a

fontes que constituíram novos objetos de pesquisa e que vêm possibilitando delinearmos não

somente a História da Educação alagoana, mas também da leitura, da alfabetização, da

escolarização primária, do ensino de Língua Portuguesa.

Nos últimos anos, tem crescido o número de trabalhos que abordam esses temas,

utilizando os impressos “livros” como fontes. Assim sendo, dar a conhecer os elementos

materiais (livros), simbólicos (métodos e práticas de ensino, dentre outros), bem como os

sujeitos que contribuíram com e para essa produção ganha relevância.

O artigo insere-se nessa perspectiva ao analisar uma obra específica - o livro Curso

Elementar de Portuguez em pequenos exercícios práticos3 (1921), da literata e professora

alagoana Rosália Sandoval, delineando aspectos compósitos à história da educação alagoana

com temporalidade focada na década de 1920, considerando-se o ano de publicação do livro;

mas também da história do ensino de Língua Portuguesa na escola primária.

Adentrarmos à citada obra, analisando os elementos norteadores das práticas de

linguagem e gramática, bem como as propostas de e para a conformação do ensino de Língua

Portuguesa na escola primária, destacando os dispositivos práticos utilizados em seus

1 Doutora em Educação pela Universidade Federal da Paraíba. Professora Adjunta no Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas, Campus Maceió. E-Mail: <[email protected]>.

2 Referimo-nos ao Projeto de investigação “Recuperação da produção Bibliográfica de Docentes Alagoanos (1840- 1960)” coordenado pela Profa. Dra. Maria das Graças de Loiola Madeira.. 3 Ainda não localizamos informações acerca da adoção desta obra no Estado de Alagoas. Dentre os livros adotados

para o ensino de Língua materna nos grupos escolares de Alagoas, constavam os seguintes títulos: Cartilha Analytica de Arnaldo Barreto, Leitura Preparatória de Francisco Vianna e Grammatica Portugueza de João Ribeiro. (REGIMENTO..., 1924, p. 30-1).

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delineamentos - a exemplo do ditado, da cópia e das composições - além dos aspectos

atinentes aos conteúdos veiculados nos textos que integram o livro.

O aspecto autoria também é destacado no artigo, considerando-se que Rosália Sandoval

escreveu além desta, outras obras didáticas. Além disso, sua condição de literata, uma vez

que já era reconhecida como tal, aliada a de professora levou-nos a colocá-la em um lugar de

destaque, considerando-se a importância de sua produção para o contexto de feminização da

autoria de livros no Estado de Alagoas.

Tomamos o livro de Rosália Sandoval como fonte para uma discussão acerca da história

do ensino de língua materna em Alagoas, analisando alguns dados tais como instruções

dadas ao professor e configurações textuais e práticas das lições. Assim sendo, intentamos

enveredar pelas tendências metodológicas de um período e mesmo por questões ideológicas

que ele enceta.

Dar visibilidade a uma obra de modo a possibilitar o conhecimento de aspectos da

história do decurso do ensino da matéria/disciplina escolar Português para o ensino primário

constitui o nosso principal objetivo, neste texto.

Para tanto, apoiamo-nos nos aportes teóricos da história das disciplinas escolares

(CHERVEL, 1990) e na história (material) do ensino na perspectiva de que os livros escolares

ou manuais estabelecem vínculos com o processo de escolarização, principalmente no que diz

respeito à modernização dos métodos e processos pedagógicos.

Algumas notas sobre Rosália Sandoval e o livro-fonte

[...] Falar do nome de um “autor” não é falar do registro civil de um indivíduo, mas do seu lugar no espaço dos discursos que essa pessoa instaurou e fez circular, sempre em relação com outros livros, teorias, tradições, disciplinas e autores. (SILVA, GALEGGO & VICENTINI, 2014, p. 133).

Nascida em Maceió, provavelmente no ano de 1876 e falecida em 1956, aos 80 anos de

idade, no Rio de Janeiro, Rita de Souza Abreu adotou o nome literário de Rosália Sandoval,

estendendo-se pelas demais produções autorais, inclusive, a dos impressos livros didáticos.

Reconhecida escritora desde o início do século XX, Rosália Sandoval teve seu nome

registrado no livro Sonetos Brasileiros de Laudelino Freire (1904), além de ter sido

colaboradora de diversos jornais e revistas4 e publicado muitos poemas em periódicos

brasileiros e até internacional, a exemplo do Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro.

4 Dentre outros, destacamos o jornal A Estrela, no Ceará (1906); o Lyrio, no Recife (1902) e a revista Alvorada em Alagoas (1910).

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Organizou também um periódico intitulado O Rosal - uma composição de Rosália com

Sandoval e atuou como professora primária pública, tendo também exercido a docência em

escolas particulares de Maceió. Em um artigo produzido por Madeira (2015) destaca-se um

registro mais completo acerca da atuação de Rosália Sandoval no âmbito do magistério5:

En lo que se refiere a la docencia, se convirtió en profesora primaria nombrada por el Gobierno del Estado de Alagoas en 1905 para las ciudades de Porto de Pedras y União dos Palmares. En 1905 asumió un cargo de instrucción primaria en Maceió, y en el año siguiente fue transferida para Piquete, actualmente conocida como Ibateguara. No se sabe por cuánto tiempo ella permaneció profesora pública, dadas las noticias con relación a ella en la dirección de los colegios particulares, juntamente con Cecília Silva. Una de ellas fue al Parthenon Alagoano, externado para niñas y jóvenes de Maceió, ofertando el curso infantil, primario y segundario, incluyendo lãs enseñanzas de piano, música, aprendizaje doméstico y de la lengua francesa, con el método Berlitz. Más adelante, en 1912, estuvo como directora y profesora del colegio Auta de Souza «nuestra colaboradora sabe enseñar, por el resultado que vimos de sus alumnas en la distribución de premios».16 Alrededor de 1917 asumió el cargo de profesora en El recién-inaugurado colegio Pritaneu Alagoano, de propiedad de Esmeralda Roza e Silva. Allá enseñaba letras y artes juntamente con Anna Sampaio Duarte, hija de María Lucia, otra escritora y profesora alagoana de Brasil-Imperio. (MADEIRA, 2015, p. 336)6.

Rosália Sandoval escreveu suas obras didáticas em um período próximo a década de

1920, tendo publicado o livro de leitura Através da Infância7 (1918) e o livro de e para o

ensino da língua materna Curso elementar de Portuguez em pequenos exercícios práticos

(1921). Publicou posteriormente na Revista de Ensino8 de Alagoas uma crônica intitulada “O

primeiro dia de aula”. No referido texto problematiza acerca do que se recordam os adultos

daquele então estranho universo escolar.

O período no qual se inscreve suas produções didáticas está em consonância com as

propostas de inovações para o ensino primário, notadamente nos grupos escolares alagoanos.

Assim sendo, reformas na organização, nos currículos, nas metodologias das escolas, dos seus

5 Ainda que não tenhamos localizado nenhum documento que registre a participação de Rosália Sandoval em viagens pedagógicas com vistas à modernização do ensino em Alagoas é provável que tenha sido a única das professoras a viajar para o Rio de Janeiro com vistas a “estudar organisações de escolas profissionaes” (FONSECA, 1945, p.16), conforme registrado em Mensagem enviada ao Congresso Alagoano em 15 de abril de 1915 pelo então governador Clodoaldo da Fonseca, referindo-se a professora D. Rita Rosalia de Abreu.

6 No excerto transcrito, Madeira apresentou algumas notas referentes às fontes consultadas, a saber: Revista Comercial das Alagoas, set. n.06, 1912 e Diário do Povo, Maceió, 02 de enero 1917. Sobre o método Berlitz, escreveu: “divulgado como método fácil y divertido, él se refiere a la creación en los EUA de escuelas de idiomas,

fundadas en 1878, por el alemán M. D. Berlitz (1852-1921). Cf. BERLITZ, M. D.: O Ensino dos Idiomas Modernos, M. D. Berlitz, 1919. 7 Trata-se de um livro de leitura composto por 27 textos, publicado em Recife no ano de 1918. Ver Vilar (2016). estaba compuesto de 27 cuentos, con un principio moralizador de la infancia 8 Revista de Ensino, ano Iv, n. 19, p. 29, jan.-fev. 1930.

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anos, níveis e/ou modalidades, constituíam as mudanças em prol da modernização escolar no

Estado de Alagoas nas primeiras décadas da República.

O livro aqui focalizado nos provoca, desde o título, a fazer algumas indagações, a saber:

A quem estava sendo dirigido o curso proposto? Quais seriam esses exercícios práticos? O

livro poderia ser considerado um manual didático?

Considerando que a produção do livro/curso resultou da experiência docente da autora,

conforme afirmou Sandoval na apresentação da obra, mas também que não se exime das

discussões atinentes ao ensino de Língua Portuguesa, principalmente de gramática, dizemos

que pode ser considerado um manual didático. Sobre essa categorização Bufrem et al. (2006)

acrescenta:

Destinados aos professores, esses livros podem ser tomados como fontes para investigar a presença de elementos que, em dados períodos históricos, demarcaram as formas de pensar e de desenvolver o ensino no país. Desta forma, incluem-se, teórica e metodologicamente, entre as fontes privilegiadas para a investigação e análise da história das disciplinas e das formas de ensinar. (BUFREM, SCHMIDT & GARCIA, 2006, p. 121).

Com efeito, o livro em destaque apresenta-nos mais que indicações de práticas

pretéritas para o trabalho com a gramática e a escrita na escola, mas também uma afiliação

de sua autora ao método intuitivo, cuja preocupação apontava para a necessidade de dar um

cunho prático ao ensino e, particularmente, ao ensino de Língua Portuguesa. Decerto, a

igualmente afiliação da autora a Filologia e ao ensino pelo processo analítico a fez optar pela

veiculação de muitos textos sempre acompanhados das indicações para o trabalho a ser feito

na sala de aula ou mesmo em casa, fosse com gramática, redação, composição, cópia ou

ditados.

Deste modo, os exercícios práticos propostos no livro focalizado são atividades meio

para o ensino da leitura e da escrita comuns à época, consoante às finalidades postas à

escolarização das crianças, conforme fez notar Souza:

O ensino da leitura e da escrita consistia em cópias, exercícios orais, leitura de textos em prosa e verso, ditados, gramática, composição e caligrafia. Ler e escrever eram habilidades fundamentais para a inserção numa sociedade da escrita e constituíam-se em oportunidades inequívocas de formação do caráter. (SOUZA, 1996, p. 170).

Com efeito, todos os exercícios propostos, desenvolvidos e sedimentados pela escola

primária, nesse período, constituíram-se como dispositivos práticos que contribuíram para o

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estabelecimento de uma cultura escolar, a qual foi sendo historicamente construída e

assentida pelos professores.

Ademais, tais atividades expressam sentidos e delineamentos de práticas educativas e

pedagógicas que se inscrevem na história da educação e das disciplinas escolares na medida

em que, historicamente, são repetidas e/ou alter(n)adas; recomendadas ou até contestadas.

De acordo com Chervel (1990, p. 204) “se os conteúdos explícitos constituem o eixo central

da disciplina ensinada, o exercício é a contrapartida quase indispensável”.

Embora situados em um único livro aqui analisado, consideramos como Chervel (1990)

que esses exercícios apontam para a dimensão que a escola apresenta como produtora da

cultura escolar em seu caráter, relativamente autônomo, o que sugere não somente à cultura

que se adquire na escola, mas à cultura que não se adquire fora dela.

Feitas estas considerações apresentamos na seção seguinte as análises realizadas no

diálogo com a nossa fonte de base: o livro Curso elementar de Portuguez em pequenos

exercícios práticos (1921).

Adentrando as páginas do livro/Curso de Portuguez

O livro em tela é constituído por 75 páginas e foi impresso pela Typografia Econômica

no ano de 1921, na cidade de Viçosa/AL. Como paratextos destacam-se os elementos

dedicatória e apresentação feita pela autora. Nessa direção, a apresentação do livro pode nos

dar algumas pistas acerca de aspectos importantes, tais como: finalidade, destinatários,

referências utilizadas para a produção da obra, dentre outros.

O livro oferecido ou dedicado nas palavras de Sandoval “às creanças pobres da minha

terra” sugere uma preocupação da autora com a chamada educação popular, cuja expansão

estava em franca discussão à época. Ademais, registra a autora já na capa do livro:

“Adaptados [os exercícios] ao methodo do illº philologo JOSÉ PORTUGAL9” (SANDOVAL,

1921)10.

Ao apresentar o livro sob a nominação de “Palavras necessárias”, Sandoval indica os

destinatários por meio da expressão registrada entre parênteses (“Aos mestres”).

Transcrevemos na íntegra a apresentação feita pela autora por considerarmos que esta diz

muito do contexto de produção da obra em foco.

9 Destaque da autora. 10 Com base em Pintassilgo (2006) avaliamos que, ao citar a fonte de base do seu trabalho, a autora demonstrou

honestidade intelectual, uma vez que esta atitude era rara nas práticas de escrita da época.

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Não espereis encontrar aqui alguma cousa que mereça a qualificação de novidade. Nada criei, quasi: modifiquei, remodelei, conforme a necessidade que tinha de um compendio, neste genero, para o curso elementar. Temos um livro magnifico – << O Curso Pratico de Portuguez >>, por José Portugal – que satisfaz ao professor mais exigente e avido de progresso. Este livro, porem, não pode ser comprehendido pelos que pertencem ainda aos primeiros cursos. Demais, as ultimas edicções desse precioso livro apresentam-se em orthographia phonetica, trazendo assim um grande inconveniente para os que manuseiam compendios cujos autores seguem a orthographia mixta. Sendo excellente o methodo do distincto philologo procurei imital-o, adaptando-o aos meus pequenos exercicios. Trazendo para aqui (por ser indispensavel) definições de diversos autores, procurei simplifical-as, algumas vezes, para tornal-as accessiveis ás intelligencias ainda não desenvolvidas. E assim compuz este livrinho, impellida pelo desejo de facilitar o estudo da língua vernacula a essas creaturinhas que necessitam de chegar mais cedo ás portas do ganhapão. Para ellas e que escrevi este modestissimo trabalho, esperando que outros venham substituil-o vantajosamente. (SANDOVAL, 1921, p. 6).

Consideramos que na apresentação transcrita, Sandoval diz muito do contexto e/ou do

pretexto de produção da obra, sobretudo, em consonância com a época. Contudo, é o motivo

da necessidade e não da novidade que parece tê-la movido a escrever esse manual.

Estabelecendo uma relação com o contexto de atuação profissional de Rosália Sandoval, que

além de ter desempenhado a função de professora primária, lecionou também Letras no

colégio Pristaneu Alagoano11 de propriedade de Esmeralda Roza e Silva dizemos que,

possivelmente, essa experiência tenha influenciado a feitura do livro/curso.

A autora dá inicio ao texto do livro propriamente dito, colocando em destaque o título

“Gramática”, embora não apresente nenhuma definição a esse respeito, introduzindo a lição

ou conteúdo recorrendo à definição do “phonema” e dos “signaes diacríticos”, ou seja, os

acentos gráficos.

Neste contexto, o primeiro exercício proposto tem a tipologia de “exercício oral”, cuja

consigna ou nas palavras da autora: “nota”; consistia em empregar em lugar do travessão os

fonemas que estavam faltando em uma série de frases. Apresentamos duas delas para fins de

exemplificação: “A la_anja é sa_orosa. A ca_idade é a mais b_llla das virtudes” (SANDOVAL,

1921, p. 7).

Ao longo do livro uma indicação recorrente diz respeito à orientação sobrescrita pela

expressão “no quadro negro”. Vejamos um excerto: “O professor dictará diversas palavras

primitivas que o alumno escreverá em columna, fazendo por si a respectiva derivação.

Mandará escrever palavras simples e compostas” (Ibid.).

11 (Cf. MADEIRA, 2015).

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De modo geral, os exercícios orais, escritos e gramaticais vão abordando os

saberes/conteúdos propostos para o ensino de Língua Portuguesa, incluindo-se nesse rol o

estudo da formação das palavras, divisão silábica, acentuação; além do estudo dos

substantivos, dos adjetivos, dos pronomes e dos verbos.

Como “exercício escripto”, a autora propôs uma atividade de redação, apresentando o

texto de base, bem como o encaminhamento a ser feito com os alunos, conforme indicação

constante na nota:

Redacção – Quem merece o nome de bom menino? (Aquelle que estuda bem as lições e obedece a seus paes e a seus mestres e porta-se na aula como um homenzinho). Quem merece o nome de mau menino? (Aquelle que não estuda as lições, perturba os companheiros na classe, risca as paredes e os cadernos, e responde mal aos collegas). Quem não quer pertencer à ordem dos maus meninos? (Eu). Que deve fazer o alumno para ser querido de seus mestres? (Estudar bem as lições, obedecer ás ordens que elle lhe dá, e cumprir todos os seus deveres). Que merece o alumno que se distingue na aula? (Premio). Nota: Fazendo desapparecer as interrogações, o alumno redigirá o exercicio aproveitando todas as palavras necessarias ao assumpto. Ex: “merece o nome de bom menino aquelle que estuda”, etc. (Ibid., p. 8).

O texto de base para a redação expressa uma preocupação com a formação moral dos

alunos, bem como visa ensinar-lhes os bons comportamentos, ao tempo que aponta como se

davam essas relações na escola. Erige-se assim uma das finalidades maior da escola

republicana: civilizar pelo ensino. Vejamos outro texto apresentado para o exercício de

redação e seu respectivo encaminhamento:

Ir o Antonio para a escola. No caminho encontrar um grupo de meninos vadios que o convidam para o gazeio. Não acceitar o convite porque é um menino exemplar. Os collegas vadios zombaram do Antonio. Não lhes dar ouvido e seguir para a escola. Nesse dia obter notas optimas e voltar para casa muito contente. No caminho encontrar de novo os companheiros. Um delles ia nos braços de um policia, com a cabeça rachada. Os outros, tristonhos, seguirem o doente. Envergonharem – se todos ao verem Antonio que vae contente para casa. Nota: Com estes elementos compor uma historia (Ibid., p. 23).

Quanto ao tipo de exercício “redacção” foi possível perceber pelos encaminhamentos

dados que esta era uma espécie de composição textual dirigida, que dispensava a imaginação

e com finalidade precípua de ensinar valores e comportamentos. Todavia, em outras

propostas para esse tipo de exercício vão sendo agregados elementos e/ou condições várias, a

exemplo de uma proposta que solicita resposta a uma carta:

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Caro Paulinho: Meus votos de felicidade. Tenho estado apprehensiivo porque soube que andavas doente. Mamãe me escreveu hontem dizendo que o teu estado não inspirava cuidado; mas a ausencia augmenta tudo o que nos fala ao sentimento; eis por que estou melancolico desde que soube da alteração de tua saude. Escreve me, Paulinho. Uma cartinha escripta por ti, seria bastante para que me voltasse a alegria e o praser de estudar, como outrora. Aguardo ancioso a tua resposta. Beija por mim a mamãe e o papae; e a cada um dos nossos irmãozinhos trasmitte o osculo que lhes envio do meu quarto collegial. Adeus. Crê sempre no affecto que te devota. O irmão ausente. LUCIANO. Nota - O alumno responderá esta carta, procurando ser tão affectuoso quanto Luciano. (Ibid., p. 30).

Para uma melhor caracterização e/ou singularização de cada um dos diversos exercícios

propostos ao longo do livro, optamos por organizá-los em um quadro visando melhor situar o

leitor acerca de algumas facetas de um exercício, sobretudo, no que se refere ao modo de

encaminhá-lo:

QUADRO 1 TIPOS DE EXERCÍCIOS E ORIENTAÇÕES PROPOSTAS POR

ROSÁLIA SANDOVAL

TIPOS DE EXERCÍCIOS

ORIENTAÇÕES/ NOTAS

OBSERVAÇÕES

Oral

O alumno lerá o exercicio classificando os monosyllabos, dissyllabos, etc. O professor arguirá sobre a tonicidade das syllabas dos vocábulos (p. 13).

Desses três tipos de exercícios podemos dizer que, além de apontarem eixos para o ensino e/ou trabalho com a Língua materna, podem ser considerados “exercícios-tipos” em função dos aspectos padronização e recorrência que os integram ou caracterizam.

Escripto

O aluno escreverá o exercicio do seguinte modo:“Veio do “Rio de janeiro” (nome próprio de locallidade), o coronel Francisco Mendonça (nome próprio de pessoa). E assim por diante (p. 16)..

Gramatical

Collocar os pronomes pessoaes no lugar do travessão (p. 60).

Collocar os verbos em todos os tempos do Indicativo (p. 61).

Fraseológicos

Com as palavras do exercicio, o alumno formará phrases completas. Ex: “O cêo é lindo”. “O ouro e um metal precioso”. “O mar é azul”.

Com as palavras do exercício formar phrases grammaticaes. Ex: “HOMEM é um substantivo commum”. “BOM é um adjectivo qualificativo, biforme”. “VER é um verbo irregular, de 2ª conjugação.

O professor multiplicará os exercicios, a vontade, applicando-os ao assumpto das lições. (p. 42)

Para o exercício de formar frases havia, geralmente, um direcionamento a partir do conteúdo gramatical em estudo.

O alumno copiará em casa o exercicio procurando não cometter um só erro. No dia

O exercício de cópia visava tanto à correção quanto o

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Cópia

seguinte o mostrará ao professor que fará as correcções precisas (p. 10).

Os exercicios de copia devem ser multiplicados a vontade pelo professor que escolherá trechos apropriados ao adiantamento dos alumnos, preferindo sempre os melhores escriptores (p. 25).

adiantamento dos alunos via textos. Por meio dela os alunos tinham acesso a conhecimentos relevantes. Textos como “América do Sul” e “A terra” foram utilizados para esse tipo de exercício.

Dictado

Exercicios de dictados devem ser repetidos até que o alumno escreva sem cometer erros (p. 12).

O alumno copiará em casa todos os dictados, depois de corrigidos pelo professor (p. 12).

Esse tipo de exercício era feito com textos e não apenas com palavras. Tinha finalidades várias, a saber: uma escrita livre de erros, além de formar e informar os alunos por meio da escrita de temas diversos, a exemplo de “A mentira”; “O sal”; “Os deltas”.

Redacção

O alumno redigirá o exercicio, retirando as

interrogações (p. “Redacção é a operação que consiste em

coordenar e subordinar as ideias e os pensamentos, e as palavras e as phrases necessarias para se exprimirem”.

Agregava-se ao exercício de redação uma preocupação com o bem escrever, de modo a coordenar e subordinar as ideias, conforme palavras de Sandoval (1921, p. 53-4).

Invenção

REFLEXÕES DE UM CADERNO DE ESCRIPTA O caderno julga-se feliz porque o seu possuidor é cuidadoso e aplicado. Conversar o caderno com outros cadernos menos felizes e compadecer-se do destino de seus companheiros que não estão, como elle, cheio de notas optimas, bella letra, sem um borrão nem uma palavra raspada. O alumno desenvolverá o assumpto (p. 64).

Os temas e/ou objetos selecionados para este tipo de exercício se aproximava mais do universo das crianças.

Imaginação

A MENINA CORTEZ Conheço bem a Mathildinha. Morena, corada, cabellos pretos, é linda, muito linda. Seus paes a educam com esmero. Aproveitando o trecho, compor uma historia,

salientando os modos delicados da menina. Narrar o caso de um alumno que ficou preso

na escola por ter praticado uma maldade. Dizer que o mal acarreta uma serie antipathias sobre quem o pratica. Salientar o conselho que o professor deu ao alumno perante toda aula. Falar sobre o arrependimento do alumno e suas promessas de corrigir-se (p.32)

Geralmente, esse exercício consistia na proposta de dar continuidade a uma história iniciada. Contudo, mantinha-se o aspecto direcionamento.

Fonte: Excertos transcritos do livro Curso Elementar de Portuguez em pequenos exercícios práticos (1921)

Além desses exercícios, os categorizados como “adivinhações” chamaram nossa atenção

tanto pela formulação textual quanto pela escolha de elementos que constituíam as respostas

às adivinhações feitas. Vejamos no fragmento seguinte:

Minha patria são os terrenos das usinas. Nasci dos canaviaes cultivados com trabalho pelos agricultores. Fui seiva, caldo e mel. Depois crystalisei-me e

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vim para o commercio. Toda a humanidade me procura e a todos sou muito util. Encontram-me em toda a parte. E as crianças adoram- me quando me vêem transformado em bombons. Quem não sabe o meu nome? - Chamo-me assucar. (Ibid., p. 67)

Com relação à construção do texto para a adivinhação avaliamos que a preocupação

com a dimensão lúdica, geralmente presente nesse tipo de texto não aparece. Além disso, o

texto de modo geral tem muito mais um caráter de informação e contextualização com o local

(Alagoas) do que uma preocupação ou adequação ao público infantil, destoando do formato

de adivinhação que conhecemos e/ou acessamos da cultura de tradição oral e/ou popular.

Todavia, o prolongamento do exercício sob a proposta de que os alunos também

formulassem as suas próprias adivinhações revelou uma inquietação de Sandoval em

aproximar-se do universo infantil. A “nota” apresentada sugere uma preocupação da autora

acerca dos aspectos aludidos: “Imitando estes exercicios, as creanças escolherão de

preferência objectos escolares para compor as primeiras adivinhações” (Ibid., p. 67).

Com efeito, o entendimento basilar que se erige nos exercícios propostos por Rosália

Sandoval é que o ensino da leitura, da escrita e da gramática não prescinde do trabalho com o

texto. Nesse sentido, reafirmou via exercícios práticos que são as relações exploradas e

apre(e)ndidas no texto que constituem a gramática prática e possibilitam a compreensão de

seus aspectos normativos. Ao longo das indicações feitas aos professores, há uma

preocupação com o bem escrever, de modo que por meio dos exercícios visa-se atingir essa

finalidade.

Com relação aos textos constantes no livro, destaca-se a adoção de um léxico cristão,

patriótico, mas também científico; muito possivelmente escritos por Sandoval e outros

selecionados de autores diversos, a exemplo de Aristóteles, Paul Janet e George Sand. Assim

sendo, a autora optou por veicular no seu livro textos que visavam instruir e educar para o

trabalho com a leitura e a escrita, mas também com a gramática.

Dos exercícios previstos temos os de gramática, de redação, de imaginação, de

invenção, de cópia, além dos fraseológicos e os de adivinhações para o ensino dos saberes

elementares da leitura, da escrita e da gramática. Como anexo, veicula-se a conjugação dos

verbos auxiliares: ter, haver e ser em todos os modos e tempos.

Contudo, o pressuposto que está subjacente em todo o livro produzido por Rosália

Sandoval é o de que a gramática não é um mero conteúdo, mas, sobretudo, um objeto de e

para a prática. Desse modo, seu livro institui-se como obra didática voltada para o ensino de

língua materna na escola primária e não apenas um livro de leitura ou mesmo um

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compêndio. Trata-se, portanto, de um manual produzido para os professores, conforme

caracterização feita por Guerreña, Ossenbach e Pozo nos seguintes termos:

Este tipo de textos son representativos de uma concepción de la Pedagogia como un saber práctico acerca de las estratégias para la enseñanza de determinadas matérias, distinta de la Pedagogia como un conocimiento fundamental con aspiraciones de cientificidad, que hemos visto reflejada en los otros manuales. (GUERREÑA, OSSENBACH & POZO, 2005, p. 28).

Por fim, vale enfatizar que a relevância da obra aqui analisada deu-se, igualmente ou

concomitantemente pela preocupação recorrente de Rosália Sandoval de fazer da escrita um

elemento da prática docente ou vice-versa. Ademais, o elemento autoria revela também uma

produção didática feminina que se apresentava num campo ainda dominado pelos homens.

Por certo, a trajetória da literata e professora Rosália Sandoval, assim como a de outras

professoras, nos permitem “perceber um movimento de mulheres - a maioria delas

esquecidas e de memórias irremediavelmente perdidas - não só para conquistar o magistério

primário, mas também para alargar a inserção feminina no campo educacional e no espaço

público” (SCHUELER et al, 2010, p. 26).

Considerações Finais

Extrair de uma área do conhecimento uma “disciplina curricular” é, fundamentalmente, escolarizar esse conhecimento, ou seja, é instituir um certo saber a ser ensinado e aprendido na escola, um saber para educar e formar através do processo de escolarização (SOARES, 2004, p. 155).

O livro de base para a produção desse artigo pode ser considerado representativo ou

indicativo, ao menos do que se refere à produção didática de Rosália Sandoval, de um

movimento em que o ensino de gramática ganha destaque em detrimento dos livros de

leitura e do próprio ensino da leitura e da escrita.

Deste modo, o livro Curso elementar de Português em exercícios práticos (1921) seguiu

a tendência de inovar os métodos de ensino da gramática de língua portuguesa baseado no

método intuitivo. Por meio dele foi possível circular saberes padronizados sobre a língua

vigente, mas também práticas de ensino inovadoras.

Concluímos reafirmando que a obra analisada pode ser vista como um manual didático

que além de veicular práticas modernas, integra-se ao movimento de conformação do

processo de escolarização, de modo geral, e do ensino de Língua Portuguesa, em particular,

via elementos temático-conteudísticos, mas também de dispositivos para o seu ensino, além

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de apresentar (-se como) estratégia de divulgação de um método (o intuitivo) viabilizado por

meio do processo analítico.

Por fim, cabe ainda realçar que no espectro da docência que lhe era contemporânea,

Rosália Sandoval esteve muito próxima de mulheres escritoras e professoras que atuaram nas

primeiras décadas do século XX. Ademais, a relevância desta obra como manual destinado à

orientação do professor, quando essa modalidade de impresso escolar ainda não havia se

consagrado, permitiu-nos colocar, concomitantemente, autora e obra em um lugar de

destaque.

Referências

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Portugal - 1870-1970). In: Revista Brasileira de Educação em Geografia, Campinas, v. 4, n. 8, p. 130-145, jul./dez., 2014. SOARES, Magda. Português na escola: história de uma disciplina curricular. In: BAGNO, Marcos (Org.) Linguística da norma. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2004, p. 155-177. SOUZA, Rosa Fátima. Templos de Civilização: um estudo sobre a Implantação dos Grupos Escolares no Estado de São Paulo (1890-1910). São Paulo: Faculdade de Educação da USP, 1996. (Tese de Doutorado). VILAR, Edna Telma F. S. O livro Através da infância (1918), da literata e professora Rosália Sandoval. In: Anais do VII Encontro Norte e Nordeste de Pesquisa em História da Educação. Natal: UFRN, outubro de 2016.