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CONHEÇA OS PROFESSORES VENCEDORES E SEUS PROJETOS REALIZADOS. 2014 – 2019 NOSSA EDUCAÇÃO MERECE UM PRÊMIO ASSIM.

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CONHEÇA OS PROFESSORES VENCEDORESE SEUS PROJETOS REALIZADOS.2014 – 2019

NOSSA EDUCAÇÃOMERECE UM PRÊMIO ASSIM.

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

Com tudo o que já vivemos nos primeiros meses de 2020, o ano de 2019 já parece uma lembrança longínqua para muitos. No entanto, para nós, da Shell Brasil, sempre é tempo de lembrar e homenagear o trabalho de professoras e professores que – desde 2016 – fazem a diferença na vida de seus estudantes e das comunidades onde vivem e trabalham. Também é o momento de celebrar gestores que fomentam a busca pela excelência educacional em ambientes tão desafiadores.

A edição 2019 do Prêmio Shell de Educação Científica mais uma vez reconheceu e reverenciou o papel fundamental da escola pública e do educador na transformação para uma sociedade que todos queremos, e para a construção de cidadãos que acreditam na ciência como vetor de progresso.

E é a criatividade que permeia todos os projetos que você lê na publicação que você tem em mãos (ou em suas telas). Se o saber científico é por muitos considerado frio e hermético, vimos nos últimos anos professoras e professores que colocam carinho, coração e paixão naquilo que fazem. E, por isso, merecem ser reverenciados.

Temos muito orgulho da história que o Prêmio Shell de Educação Científica escreveu. E se ele segue contemplando a inovação, é porque o terreno das ideias das professoras e dos professores do Rio de Janeiro e Espírito Santo segue fértil. É porque a ousadia, a superação e a criatividade continuam fervilhando no ensino público. É porque ainda há gestores, professoras, professores e estudantes inquietos e tocados pelo fascínio da ciência.

Que esta publicação sirva de referência a educadores de todo o Brasil. Que os resumos aqui contidos sejam o incentivo para que outros mestres queiram ir além. E que estes estudos continuem aumentando o legado do Prêmio Shell de Educação Científica para transformar o Brasil numa nação reconhecida pelo ensino das disciplinas ligadas a ciências, tecnologia, engenharia e matemática.

A Shell Brasil segue comprometida com o desenvolvimento da educação no país, e orgulhosa desta premiação, que coroa o calendário de eventos organizados por nós no Brasil.

Nossa educação merece um prêmio assim.

Maria Angert Poirson Relações Externas | External Relations

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Sumário

STEM: educar por projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4Luís Carlos de Menezes

Letramento científico e as competências socioemocionais. . . . . 6Mozart Neves Ramos

Professores são inventores . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8Cesar Callegari

Ampliar horizontes, fortalecer vínculos . . . . . . . . . . . . . 10Luis Felipe Serrao

Projeto didático e suas principais características. . . . . . . . . 12Maristela Sarmento

A cidade no plano cartesiano: um estudo aplicado de geometria analítica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16Professor Victor Hugo Vassallo

Luz na identificação de elementos químicos. . . . . . . . . . . 18Professora Rafaella Cruz Ferreira

Reperspectivando a inclusão: da vulnerabilidade ao protagonismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20Professor Roberto Irineu da Silva

Além da descoberta do vento. . . . . . . . . . . . . . . . . 22Professor Aristides Praxedes Dias Neto

Trilha e sabores: identificando PANCs para resgatar costumes alimentares. . . . . . . . . . . . . . . . . 24Professora Ariene Bazílio dos Santos

Clube de Ciências – Uma estratégia para o "aprender fazendo" . 26Professora Camilla Ferreira Souza Alô

Ensino de Química a partir da aprendizagem baseada na resolução de problemas: a temática do leite materno para a promoção da alfabetização científica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28Professora Pâmela Santos Galetti Almeida

Toda água irriga, mas qual a ideal para a produção agrícola?. . 30Professor Idolindo Gabrecht

Cientistas do futuro: a qualidade da água . . . . . . . . . . . 32Professor Welton da Silva Arruda

O jogo africano Mancala e o ensino de Matemática em face da Lei 10.639/03 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34Professor Rinaldo Pevidor Pereira

Desmistificando o ensino da Matemática através do Instagram . . 36Professora Daniela de Souza Pacheco

Consciência limpa: olho no óleo . . . . . . . . . . . . . . . 38Professor Wesley Alves Silva

Projetos sobre fontes de luz natural e artificial e sua relação com a vida humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40Professor Tobias de Assis Ricardo

Floresta, manguezal e restinga: Miécimo sem muros . . . . . . . 42Professora Luciana Mattos

Projeto Física em ação: Associação de polias ou roldanas . . . . 44Professor Rogério Gomes de Lima Tostas

Brincando com balanças e equações . . . . . . . . . . . . . 46Professor Alexandro Paes Peixoto

Aprendendo a aprender: ensino por investigação e aprendizagem colaborativa em aulas de Ciências . . . . . . . 48Professora Cláudia Vargas Vilar

Percepção de risco na perspectiva da educação de surdos . . . 50Professor Wellington Pereira da Silva

Produção de catalisador a partir da lama da barragem de Fundão (MG) e sua aplicação no tratamento de águas contaminadas por corantes: inovação e sustentabilidade de mãos dadas com a escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52Professora Júlia Raquel Peterle Monteiro de Barros

Parabolando – a parábola da ponte . . . . . . . . . . . . . 54Professor Rubens Marinho Monteiro

Quimicozinha. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56Professora Lucila Contreras Neris Novoa

Plantas que fazem bem! Ou não? . . . . . . . . . . . . . . . 58Professora Lussandra Marquez Meneghel

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Brincando de ser cientista: reflexões sobre o fazer científico na escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60Professor Guilherme Augusto Maciel Ribeiro

Cartografia e Matemática: geometria das representações da Terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62Professor Delano dos Santos Lorenzoni

A ciência que educa também transforma aplicando o modelo STEM Education para o ensino de valores . . . . . . . . . . . 64Professor Antonio Roberto Petali Júnior

Modelos de cidades sustentáveis na MOBFOG e os avanços das tecnologias aeroespaciais . . . . . . . . . . . . . . . . 66Professor André Gonçalves de Oliveira

Aprendendo Geometria com a pipa tetraédrica de Graham Bell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68Professor Fabiano Rapozo de Carvalho

Os da Silva e os da selva – o ensino de Ecologia e a preservação da Mata Atlântica . . . . . . . . . . . . . . . 70Professor Edevaldo da Silva Oliveira

Uma tacada de mestre facilitando o ensino da Matemática . . . 72Professor Emerson de Souza Queiroz

A Matemática que faz a música possível: aplicação das relações entre o solfejo e o estudo das frações . . . . . . . . . 74Professora Márcia Maria Viana Suriano

Preservando as raízes do mangue . . . . . . . . . . . . . . . 76Professora Ívina Langsdorff Santana

Resolução de problemas no processo de ensino – aprendizagem de matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78Professora Mirele Ferreira Brandão de Freitas

Cálculo de medidas inacessíveis: as alturas que nos cercam . . . 80Professora Larissa Vitorino de Oliveira e Lima Vial Pereira

Combate às 3 DS (Dengue, Zika e Chikungunya) e seus vilões!. . 82Professora Inês Maria Mauad

Os fungos: a presença no ambiente e seu uso na cozinha através da fermentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84Professora Daniele da Costa Marcal Oleinik

Do bolso para as mãos: o smartphone como uma nova alternativa na aula de Matemática . . . . . . . . . . . . . . 86Professor Marcos Paulo Henrique

O que há em comum entre pilhas, celulares, tablets e produtos de limpeza? Eletroquímica, a Química do cotidiano. . . . . . . 88Professor Saulo Paschoaletto de Andrade

Estudo das condições térmicas da sala de aula . . . . . . . . . 90Professor Hercílio Pereira Cordova

Utilizando funções na economia de energia elétrica . . . . . . . 92Professor Sebastião Luís de Oliveira

Receitas sem desperdício. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94Professora Rosana Zeitune

Investigação na sala de aula: uma proposta contextualizada para o ensino de Ciências no 8º ano por meio da perícia criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . 96Professora Mytse Andrade

Grêmio Ambiental Ernestina . . . . . . . . . . . . . . . . . 98Professor Duclécio Mendonça

Pães mofados e função exponencial, tudo a ver. . . . . . . . 100Professora Daniela Mendes

Aprendizado científico em Botânica no primeiro ano do Ensino Médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102Professora Deise da Silva

Geração e consumo consciente de energia elétrica . . . . . . 104Professor Luiz Cláudio de Almeida

Por dentro da célula: “animando” o seu funcionamento . . . . 106Professor Leandro Costa

Sequência didática para facilitar a apropriação dos conceitos da fotossíntese e da respiração aeróbica . . . . . . 108Professora Luciana Baptista

Plantando educação, colhendo cidadão . . . . . . . . . . . 110Professor Cristiano Maciel

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STEM, sigla de Science, Technology, Enginee-ring and Mathematics, é o novo paradigma da educação contemporânea. Porém não basta traduzir para ciência, tecnologia, engenharia e matemática sem compreender que não se trata de novo componente curricular, e sim orienta-ção para atividades dos estudantes, envolvendo de maneira prática diferentes áreas do conhe-cimento. Na educação básica, a matemática está autonomamente contemplada; tecnologias acompanham as ciências, como as máquinas térmicas na física, a eletrólise na química e os medicamentos em biologia. Mas, para comple-tar STEM, falta “engenharia”.

Para entender o que STEM significa na forma-ção escolar é preciso interpretar com amplitu-de o “E” de “Engineering”. O que distingue cientistas e matemáticos de engenheiros e mé-dicos é que os primeiros podem ou não lidar com problemas reais, ao passo que enfrentá-los é a razão de ser dos outros profissionais. Da mesma forma, o “E” de “STEM” envolve saberes práticos e problemas reais, com engenharia em seu sentido mais amplo, de tratar sob diferentes perspectivas mobilidade urbana, comunicações, saúde pública, economia energética, proteção ambiental e outras questões.

E fazer parte da formação não significa STEM ser “ensinado” por professores a seus estudan-tes, e sim esses, com boa autonomia, mobili-

zarem conhecimentos escolares em projetos coletivos com interesse real que escolham ou que lhes sejam apresentados. Quando escolas ou instituições afins dispuserem de laboratórios, oficinas ou onde se possa dispor de instrumen-tos para, por exemplo, fazer desmontes analíti-cos de motores e instrumentos, projetar, montar e manejar mecanismos e sistemas robóticos, comparar eficácia energética de equipamentos, combustíveis ou mesmo alimentos, conceber e criar circuitos elétricos ou de fibras óticas a laser, acoplar câmeras e outros dispositivos a sistemas digitais, estudantes poderão conduzir projetos ambiciosos para propor dispositivos de seguran-ça, compensar deficiências sensoriais, orientar práticas de consumo, conceber novas formas de comunicação, entre tantas outras possibilidades.

Mas é possível incorporar STEM a práticas es-colares, mesmo quando tais laboratórios e ofici-nas não estejam disponíveis, e pode-se ilustrar isso com exemplos de temáticas como energia e radiações, inspiradoras de projetos que po-dem ser colocados em prática com estudantes de qualquer escola.

Envolvendo energia, um grupo de estudantes analisaria contas de energia elétrica e de gás de residências, verificando que equipamentos consomem mais, comparando custos de banhos quentes em aquecimento elétrico ou a gás, e ve-rificando em quanto tempo a economia de uma

STEM: educar por projetosLuís Carlos de Menezes

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família pagaria a diferença de preço entre um chuveiro elétrico e um aquecedor a gás. Ou-tro grupo compararia o consumo energético de diferentes lâmpadas, entendendo a razão para as incandescentes terem sido proibidas e verifi-cando a economia mensal de seu município se passasse a usar LED (diodos emissores de luz) em toda a iluminação pública, e poderia ainda analisar as opções de energia da própria esco-la ou de uma padaria próxima, para verificar e propor alternativas mais eficazes e econômicas.

Envolvendo as várias formas de radiação, as investigações levariam a compreender a opção por uma delas em cada atividade. Um grupo de estudantes buscaria compreender o uso de radiofrequência em telefones sem fio e chaves eletrônicas de automóveis, ou o uso de infraver-melho em controles remotos de televisores, perce-bendo que infravermelho não atravessa paredes nem outras superfícies. Outro grupo questionaria

por que, em fornos de micro-ondas, copos de vidro não se aquecem se estiverem secos, ou por que muitos materiais plásticos não podem ser colocados nesses fornos, ou ainda que ris-co haveria se funcionassem de porta aberta. E em visita monitorada a hospitais, questionariam quando e por que se utiliza, em diagnósticos e terapias, raio X, ultrassom, ressonância magnéti-ca ou outras radiações.

Os exemplos mostram que STEM também pode ser feito sem se dispor de instrumentos, ainda que seja vantajoso e recomendável que haja la-boratórios e oficinas. Porém, com ou sem eles, seria interessante que os grupos de estudantes discutissem o sentido prático e os resultados de seus projetos com os demais colegas. Em qual-quer caso, o que precisa ficar claro é que STEM é base para projetos, ou não significa nada e, aliás, muito menos deve motivo para mais aulas expositivas!

Luís Carlos de Menezes é físico e educator, professor sênior na Universidade de São Paulo

FAZER PARTE DA FORMAÇÃO NÃO SIGNIFICA STEM SER “ENSINADO” POR PROFESSORES A SEUS ESTUDANTES, E SIM ESSES, COM BOA AUTONOMIA, MOBILIZAREM CONHECIMENTOS ESCOLARES EM PROJETOS COLETIVOS COM INTERESSE REAL QUE ESCOLHAM OU QUE LHES SEJAM APRESENTADOS.

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A chave para preparar as novas gerações pa-ra viver nos dias atuais e futuros é a educação integral. Num mundo cada vez mais complexo, dinâmico, diverso e incerto, é preciso preparar as crianças e os jovens para fazer e perseguir escolhas que resultem na sua autonomia e em realizações de seu projeto de vida. Isso envolve aspectos de autoconhecimento e de relaciona-mento com os outros e com o mundo ao seu redor. Requer uma educação que vá além do desenvolvimento de competências cognitivas, mas que seja capaz de introduzir, de forma ar-ticulada com elas, as chamadas competências socioemocionais, que incluem pensamento crí-tico, criatividade, autoconhecimento, colabora-ção, comunicação e abertura ao novo, entre outras. Essa articulação que se dá no contexto do currículo escolar – de forma intencional – é o que chamamos de educação integral.

Vários estudos mostram que alunos mais res-ponsáveis, colaborativos, persistentes, curio-sos e resilientes aprendem mais, concluem os estudos básicos na idade certa e saem da escola preparados para seguir aprendendo ao longo da vida; na idade adulta, tornam--se cidadãos mais conscientes e participativos, trabalhadores mais éticos, produtivos e reali-zados – enfim, seres humanos mais aptos a fazer boas escolhas e usufruir delas. Na pers-pectiva do incremento de tais competências e de um currículo mais flexível, que permita um

maior diálogo com o projeto de vida do aluno, é que se insere o desenvolvimento de projetos no campo dos eixos formativos. É dentro desse contexto, portanto, que surge a importância de se implementar no âmbito do currículo escolar o chamado letramento científico.

Camargo Filho, Zompero e Laburú1 têm ressaltado que as necessidades formativas dos alunos vêm sendo cada vez mais enfatizadas e direcionadas para a compreensão dos fenômenos naturais e so-ciais e para o entendimento das relações que se estabelecem entre a ciência, a tecnologia e suas implicações na sociedade, no intuito de prepará--los para a reflexão, as discussões e as tomadas de decisões concernentes aos impactos produzi-dos pelos avanços da ciência e da tecnologia na atualidade. Nesse aspecto, segundo eles, a es-cola assume papel preponderante, por propiciar aos estudantes a apropriação de conhecimentos, além de ensejar discussões acerca da prática so-cial. Por isso, atualmente, um dos principais ob-jetivos relativos à formação dos estudantes para o ensino das áreas que envolvem as ciências da natureza é o letramento científico – originário da expressão “alfabetização científica”.

É dentro desse cenário que entendemos a impor-tância de incentivar os alunos a percorrerem os caminhos da metodologia científica, permitindo--lhes assim desenvolver habilidades importantes para a vida: refletir, interpretar, raciocinar logi-

Letramento científico e as competências socioemocionaisMozart Neves Ramos

Referências

1 CAMARGO FILHO, Paulo S. de; ZOMPERO, Andreia F.; LABURÚ, Carlos Eduardo. XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (XI Enpec), Florianópolis, SC, 3 a 6 de julho de 2017.

2 BARONI, Maria Regina M.; SOUZA, Kawan de; PAGOTTO, Marta Pagotto. Comunicação interna do Instituto Ayrton Senna, São Paulo, 2017.

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camente, ouvir a opinião dos outros, persistir, ser criativos, posicionar-se criticamente – além de trabalhar a leitura, a escrita e a aquisição de um novo e rico vocabulário. Essas habilidades fazem parte, como dissemos, de um conjunto de compe-tências que compõem a educação integral e são essenciais para o sucesso na escola e fora dela.

A título de exemplo, apresentamos um esquema demonstrando como as competências associa-das à abertura, à colaboração e à comunica-ção podem ser desenvolvidas por meio de um projeto vinculado ao letramento científico, con-forme sugere o Instituto Ayrton Senna2:

Abertura Colaboração Comunicação

Querer descobrir coisas novas.

Oferecer a melhor contribuição possível para a solução de um problema ou situação.

Dialogar com alternância de momentos de escuta e de fala.

Fazer/levantar perguntas. Apoiar colegas na realização da experiência.

Conversar a respeito dos fatos e respeitar a fala do outro.

Questionar temas diversos. Oferecer ajuda aos outros e aproximar-se deles.

Fazer registros de suas observações e conclusões por meio de textos, frases, tabelas, gráficos e desenhos.

Alterar um procedimento, caso conclua que deva mudá-lo com base na análise de suas observações.

Entender que o sucesso do experimento é de toda a equipe.

Debater com os colegas as suas dúvidas e a viabilidade de suas conclusões.

Não ter medo de errar e corrigir seus erros para continuar suas investigações/seu trabalho.

Antecipar-se em buscar a solução de um problema que envolve a equipe.

Argumentar sobre os resultados observados

Como dissemos, esse é apenas um exemplo, mas a escola ou a própria rede escolar deve definir outras competências que podem ser adi-cionadas a essas, tais como a criatividade e o pensamento crítico.

É importante tratar os alunos como “pequenos cientistas”, valorizando seus questionamentos e dúvidas, incentivando a participação de todos, promovendo intencionalmente a colaboração entre eles e dando abertura para todos emitirem suas opiniões. O letramento científico é, assim, um caminho importante para desenvolver com-petências que vão além das cognitivas.

Mozart Neves Ramos é diretor do Instituto Ayrton Senna. Foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco e secretário de Educação de Pernambuco.

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Professores são inventores Cesar Callegari

Bons professores são inventores. Eles sabem que aprendemos quando criamos e refletimos sobre nossas criações. Imaginam situações que provoquem seus alunos a vivenciarem o processo criativo. E costumam inventar estraté-gias que provocam a descoberta até mesmo das teorias e conceitos mais estabelecidos, de forma que sejam inaugurais a cada vez que são apresentados.

Essa descoberta renovada para o professor é o processo de criação original para o estu-dante. Compartilhar esse momento do nasci-mento do conhecimento traz a cumplicidade, que deve ser própria das relações na escola. É essa cumplicidade questionante em face ao desconhecido e ao imponderável que faz da aprendizagem por projetos uma das metodolo-gias mais interessantes e mobilizadoras em uso nos dias atuais. Na aprendizagem por projetos realiza-se a descoberta fundamental de que o mais importante é desenvolver uma abordagem investigativa que, em diálogo com o entendi-mento conceitual, é capaz de produzir boas perguntas, as quais revelam interesse genuíno em conhecer. Contudo, esse não é um processo simples ou espontâneo: para produzir esse en-cantamento, professores precisam planejar, pro-vocar e acompanhar; dar diretrizes e fornecer insumos. Informações são insumos, assim como conceitos e teorias também o são. Como articu-lá-los e dar sentido a eles?

Trabalhar com projetos não é coisa trivial. Fazer educação nos tempos de hoje exige muito mais do que transmitir e armazenar informações. Os novos tempos cobram dos professores a capaci-dade de imaginar e desenvolver propostas curri-culares que superem a costumeira fragmentação disciplinar e avancem para uma visão articula-da, interdisciplinar e transdisciplinar. É preciso propor conexões aos estudantes e experimentá--las criativamente em contextos os mais variados.

Uma das dez competências gerais da educação básica estabelecidas pela nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC)1 trata justamente sobre isso. A BNCC dispõe que, a partir da educação escolar, todo estudante tem o direito de saber “exer-citar a curiosidade intelectual e recorrer à aborda-gem própria das ciências, incluindo a investiga-ção, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar hipóteses, formular e resolver problemas e criar so-luções (inclusive tecnológicas) com base nos conhe-cimentos das diferentes áreas”. Para isso, a Base traz um conjunto de referenciais expressos na forma de competências e habilidades essenciais que to-do estudante brasileiro tem o direito de desenvol-ver. Esses referenciais constituem uma espécie de celeiro de possibilidades destinadas a alimentar o processo crítico e criativo das escolas, seus profes-sores e seus estudantes. São eles que, no exercício de sua autonomia, examinarão a matéria-prima contida na BNCC e fazer as escolhas que resulta-

1. A Base Nacional Comum Curricular relativa ao ensino funcamental e à educação infantil foi aprovada em dezembro de 2017 pelo Conselho Nacional de Educação, conforme o Parecer CNE nº 15/2017 e a Resolução CNE nº 2/2017. A proposta de BNCC do ensino médio foi apresentada pelo MEC ao CNE em abril de 2018 e ainda estava em discussão quando esse artigo foi concluido, em outubro de 2018.

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rão no currículo, nas diferentes propostas pedagó-gicas, nos diversos planos de aula, nas pesquisas e nos projetos experimentais. Dessa maneira, a nor-ma nacional que instituiu a Base procura assegurar aos professores e seus estudantes a prerrogativa da criação autoral.

Esse cuidado é tão importante que, ao aprovar a BNCC, o Conselho Nacional de Educação fez questão de enfatizar que a Base não é currículo; não é currículo único, tampouco currículo mínimo. Em todo o texto da BNCC está claro que a forma de organização ali apresentada é apenas de um arranjo possível, entre outros que as escolas e re-des de escolas poderão elaborar. Os conteúdos e habilidades que o documento da Base relacio-na com as diferentes áreas e componentes, ano a ano, para todo o ensino fundamental, consti-tuem um conjunto de insumos, uma espécie de inspiração para a elaboração e implementação de diferentes concepções curriculares. Portanto, ao tomar a BNCC como referência, educado-res não devem se sujeitar a qualquer forma de alinhamento automático e acrítico. Nem se sub-meter a tarefas de simples adaptação ou pobres práticas de “copia e cola”. Reduzir a Base a um currículo significaria eliminar toda a rica diversi-dade, tão importante para uma educação que

queremos plural, comprometida com os valores da democracia, da justiça social e do desenvol-vimento sustentável. Significaria, ainda, eliminar a atuação inventiva dos professores, sem a qual não há possibilidade de descoberta compartilha-da ou de construção inaugural de conhecimento. A BNCC é um referencial, não uma receita. Des-ta maneira, uma educação baseada em projetos experimentais deve levar a Base em considera-ção, mas reinventá-la a cada momento.

Na área de ciências da natureza, incluindo aí os domínios da matemática, esse tipo de visão é essencial. A BNCC sugere a superação das con-cepções arcaicas de um experimentalismo sem teoria que pode resultar num fazer sem pensar, num ativismo meramente instrumental e desprovido de significado. E indica que o ensino não se limite a conceitos e fórmulas abstratos, buscando sempre conexões com as possibilidades de intervenção na realidade do mundo físico e social. Além disso, ao sugerir campos temáticos de experiência ( “Ter-ra e Universo”, “Matéria e Energia”, por exemplo), a Base enfatiza a importância de uma abordagem interdisciplinar do ensino e da aprendizagem. Es-se é o espírito que deve permear uma educação baseada em projetos que tenha como referência a Base Nacional Comum Curricular.

Cesar Callegari é sociólogo. Como conselheiro-menbro do Conselho Nacional de Educação, presidiu a Comissão de Elaboração da Base Nacional Comum Curricular. Foi secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, secretário de Educação Básica do MEC e secretário de Educação do Município de São Paulo. É presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada.

FAZER EDUCAÇÃO NOS TEMPOS DE HOJE EXIGE MUITO MAIS DO QUE TRANSMITIR E ARMAZENAR INFORMAÇÕES.

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Nos últimos cinco anos, a cada mês de janeiro, um grupo de docentes abre mão de suas férias para embarcar em uma jornada do outro lado do Atlântico.

Por uma semana, esse grupo troca o calor do verão no Espírito Santo e no Rio de Janeiro pelo inverno úmido de Londres, na Inglaterra, para não apenas curtir uma experiência de viagem internacional, mas sobretudo mergulhar de cor-po e alma na cultura científica britânica.

A programação anual preparada pelo British Council e pela Shell convida esses e essas do-centes para uma aventura única: adentrar uma cultura diferente da sua e se engajar em momen-tos de intercâmbio de conhecimento e práticas no campo da educação científica. E, como há sempre alguém zelando pela tradução, não é permitido deixar perguntas sem serem feitas ou reflexões sem serem compartilhadas.

Conhecer museus e centros de ciências como o Natural History Museum, o Science Museum e o Greenwich Royal Observatory é desbravar o terreno dos diálogos possíveis e necessários que a educação escolar pode e deve nutrir para o desenvolvimento do gosto pela ciência e cultu-ra científica. Em cada uma dessas instituições, há visitas guiadas especialmente concebidas a pedido do British Council para explorar os acer-vos permanentes e também algumas coleções

fora do alcance do público comum – como es-pécimes coletados por Charles Darwin e que atualmente compõem a coleção de zoologia do Natural History Museum.

Especialmente no Science Museum, seus edu-cadores exploram como articular atividades curriculares dentro de espaços museológicos. Revelam os princípios orientadores de seus trabalhos e compartilham aprendizagens e desafios cotidianos para encantar as ge-rações mais novas pelas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Já no Greenwich Royal Observatory, com uma bela vista do rio Tâmisa, o convite é para mergulhar na história da astronomia e da navegação e refletir sobre nossas convenções de tempo e espaço. A turma que passou por lá em janeiro de 2020 teve a oportunidade de participar de uma oficina especial sobre astronomia no Royal Observatory.

Ao longo de sete dias em Londres, a delegação também entra em contato com outras instituições comprometidas com a valorização e o desen-volvimento da cultura científica. Enquanto a Royal Institution, fundada em 1799 e que sedia o laboratório original do cientista Michael Fa-raday, apresenta suas atividades de educação e divulgação científica, a Royal Academy of Engineering, uma sociedade científica, sempre traz um presente para a delegação brasileira –

Ampliar horizontes, fortalecer vínculos Luis Felipe Serrao

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em janeiro de 2019, foi uma caixa recheada de dicas e materiais para experimentos sobre o tema cinema e ciência, por meio dos quais os professores e as professoras simularam, em Lon-dres, atividades que posteriormente aplicaram em suas aulas no Brasil.

E, claro, não podem faltar escolas e universi-dades na programação. Visitas já foram feitas ao King’s College London e ao Imperial Colle-ge, instituições que são referenciais nas áreas de pesquisa, ensino e extensão em ciências. Ora destacando aspectos centrais da formação inicial de professores, ora buscando explorar laboratórios voltados a trabalhos que se con-vencionaram chamar de extensão universitária no Brasil, a delegação tem a oportunidade de entender o papel central da educação superior nesse ecossistema.

Por fim, nenhum ecossistema é completo se não falar de educação básica. Em todos os anos, a Lampton School aceitou receber a delegação brasileira. Ao longo de todo um dia, é possível compreender como o currículo de ciências é pensado e como, na sala de aula, ele é pra-ticado nessa que é uma escola de referência de ensino e de formação inicial e continuada. A delegação, em janeiro de 2020, também teve tempo de apresentar seus projetos premia-dos e colocá-los em discussão com seus e suas pares britânicos. Vale destacar que, tanto em

Lampton quanto na Imperial College, técnicas de aprimoramento profissional em serviço, ba-seadas no sistema de formação de lideranças escolares da Inglaterra, foram abordadas e discutidas.

E não é porque quase nove mil quilômetros se-param Brasil e Reino Unido que somente os professores e as professoras premiados pude-ram dar esse mergulho na educação científica britânica. Nos últimos anos, foi possível obser-var que muitos dos aprendizados não só se tra-duziram em novas experimentações em sala de aula como também foram compartilhados com colegas de profissão por meio de seminários, apresentações e oficinas práticas. Mais recen-temente, participantes das missões dos últimos anos ajudaram tanto na concepção quanto na implementação do Inspira Ciência, programa de formação continuada oferecida anualmente na cidade do Rio de Janeiro pelo British Coun-cil e Museu do Amanhã.

Para o British Council, ser parceiro do Prêmio Shell de Educação Científica é gratificante. É sentir na pele que contribuímos para a melhoria da educação e que somamos esforços para valorizar a profissão docente. Sobretudo, é poder mostrar que laços de solidariedade e de cooperação superam qualquer oceano de distância. Ampliamos horizontes ampliando vínculos.

Luis Felipe Serrao é Gerente Sênior de Educação Básica do British Council.

O BRITISH COUNCIL, PARCEIRO DO PREMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTIFICA DESDE SUA PRIMEIRA EDIÇÃO, TEM COMO COMPROMISSO PROPORCIONAR AOS PROFESSORES E ÀS PROFESSORAS VENCEDORES UMA EXPERIENCIA INESQUECIVEL NO REINO UNIDO

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Sabemos que os processos de aprendizagem não são plenamente controláveis, pois são inter-nos aos sujeitos. Sabemos também que as apren-dizagens significativas ocorrem quase sempre a partir dos esforços dos nossos alunos para resol-ver um problema. Sabemos ainda que cabe ao professor criar intencionalmente situações que tor-nem as aprendizagens possíveis. Sabemos, por fim, que a fragmentação dos conteúdos não cor-robora com as aprendizagens dos nossos alunos.

Com essas premissas que hoje permeiam o universo de reflexão de vocês, professores, os projetos didáticos, como uma modalidade or-ganizativa dos conteúdos, vêm ganhando des-taque nas ações educativas. Muitas vezes visto como uma novidade e/ou como o salvador dos males que acometem as estratégias de ensino, trabalhar por meio de projetos didáticos não é coisa nova. Dewey, em 1896, foi o percussor dessa discussão e teve inúmeros seguidores ao longo do tempo. Mesmo que há anos o traba-lho com projetos didáticos venha sendo desen-volvido em nossas salas de aula e nossos resul-tados educacionais continuem não alcançando os indicadores almejados, trabalhar com essa modalidade é, sem dúvida, um forte aliado das práticas docentes comprometidas com a apren-dizagem dos alunos.

Quando bem desenvolvido, o trabalho por meio de projetos didáticos confere significados espe-

ciais às atividades curriculares, uma vez que proporciona condições adequadas para que os alunos aprendam não apenas os conteúdos curriculares. Eles aprendem a aprender, desen-volvem maior autonomia intelectual, bem como habilidades e competências relacionadas ao trabalho cooperativo e à capacidade de fazer escolhas e tomar decisões. Além disso, proje-tos didáticos, se bem estruturados, superam a fragmentação dos conteúdos, o que acaba por contribuir, sobremaneira, com a aprendizagem.

Mas, ao final, o que é um projeto didático, quais as principais características? Quais os cui-dados que devemos ter ao trabalhar com essa modalidade organizativa?

Vamos, mesmo que brevemente, ampliar essa discussão e propor outras perguntas para que você, professor, intensifique ainda mais a sua prática e dê maior densidade ao seu trabalho com projetos didáticos.

Para começar, precisamos ter a clareza de que a principal característica de um projeto didático é ter um propósito transparente e ter seu desen-volvimento desembocando na elaboração de algum produto tangível.

Mas isso não basta! Para que essa modalidade alcance seus objetivos, é necessário que o pro-jeto esteja inserido dentro do planejamento pe-

Projeto didático e suas principais característicasMaristela Sarmento

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dagógico do professor como uma ação educa-tiva. Perguntas, como as relacionadas a seguir, devem pautar o planejamento dos professores na hora de organizar o projeto didático: – O que será aprendido com esse projeto? – Por que deve ser aprendido? – Como será aprendido? – Como serão avaliadas as aprendizagens?

Sem responder a essas perguntas, um projeto didático, certamente, servirá para trabalhar de-terminados temas, mas, muitas vezes, os alunos não conseguirão entender quais aprendizagens estavam em jogo.

Há outros pontos que precisam ser pensados e indagados, para que os projetos didáticos cum-pram seus propósitos. Por sair da forma de orga-nização das ações educativas mais tradicionais – com o uso, quase predominante, da lousa e

do giz –, os professores precisam antecipar al-gumas questões fundamentais:

■ Como definir com os alunos um bom proble-ma de pesquisa a ser averiguado por meio de projetos didáticos? Um caminho possível é partir de dados da realidade dos alunos que, em consonância com os conteúdos curricu-lares, deem sentido a uma proposta de pes-quisa. Para tanto, é necessário começar dos conhecimentos prévios dos alunos sobre o te-ma; averiguar por meio de pesquisas, usando diferentes recursos, questões relacionadas à temática; verificar se o tema é relevante para a comunidade escolar e/ou do entorno. Um dado importante a ser considerado é que os alunos devem, desde o início, fazer parte do processo de escolha/definição do tema/pro-blema a ser tratado em um projeto didático.

■ O que é necessário considerar no plane-jamento do projeto didático? A primeira preocupação que se deve ter é se é factível desenvolver esse projeto no tempo e espa-ço disponíveis. Além disso, verificar quais recursos são necessários – sejam eles físicos ou humanos – é outro fator fundamental pa-ra o sucesso. Há outras questões não menos importantes: Como desenvolver um encadea-mento significativo das etapas do projeto, em complexidade crescente? Como favorecer a interação entre os alunos? Como organizar a dinâmica do trabalho coletivo com os alunos?

PROJETOS DIDÁTICOS, SE BEM ESTRUTURADOS, SUPERAM A FRAGMENTAÇÃO DOS CONTEÚDOS, O QUE ACABA POR CONTRIBUIR, SOBREMANEIRA, COM A APRENDIZAGEM.

Maristela Sarmento é pedagoga, mestre e doutora em Educação pela PUC-SP. É especialista em gestão de projetos em redes públicas e privadas, em formação de professores e em tecnologias aplicadas à educação.

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Como envolver os gestores das escolas, pais, comunidade? Não se deve esquecer que um trabalho colaborativo, de parceria, ocorre de forma mais consistente quando os envolvidos são chamados desde o início do processo e têm claro os objetivos e propósitos de sua participação. Há aqui um ponto de requer atenção: é muito rico o desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas de co-nhecimento, mas isso deve acontecer se os co-nhecimentos de outras áreas estiverem, de fa-to, vinculados ao tema do projeto e, portanto, façam sentido para a resolução do problema colocado, contribuindo com a aprendizagem das crianças.

■ Como monitorar o trabalho dos alunos? Uma consequência interessante de se traba-lhar com essa modalidade é que os alunos se tornam protagonistas do seu processo de aprendizagem. Se bem envolvidos, eles se comprometem e “compram” a ideia. No pro-cesso de monitoramento, mais do que averi-guar se estão fazendo, é como estão fazendo; se têm dúvidas; se há caminhos que precisam ser corrigidos; se estão cumprindo os prazos estabelecidos e se não se perderam do obje-tivo principal.

■ Como estabelecer o produto final? Os erros mais comuns em execução de projetos são certo descaso pelo processo de aprendiza-gem, com um excessivo cuidado em relação à chamada culminância. A proposta deve ser não somente a de fazer algo bonito, mas con-

duzir uma série de atividades que resultem em algo concreto e que deem sentido à aprendi-zagem.

■ Como avaliar as aprendizagens? Trabalhar de forma não tradicional e avaliar de forma tradicional é uma incoerência que não se de-ve cometer. Há diferentes formas de se ava-liar a aprendizagem dos alunos quando eles trabalham com essa modalidade organizativa – avaliação no processo, portfólio, autoava-liação, discussão sobre o que fizeram e as correlações com os conteúdos curriculares, construção da curva de crescimento do que sabiam sobre o tema e o que sabem agora. Enfim, o professor deve escolher, a partir de sua realidade, a melhor opção. Só não pode deixar de avaliar, até mesmo porque o resulta-do da avaliação é o resultado do cumprimen-to ou não de suas intencionalidades didáticas ao propor o projeto.

Trabalhar com projetos é um grande desafio. São mudanças das práticas educacionais – exi-gem arranjos diferentes na organização dos tempos e espaços, na gestão dos grupos, na correlação do trabalho com os conteúdos cur-riculares, na forma de avaliar etc. Mas é uma maneira efetiva de conectar a aprendizagem com o interesse dos alunos pelos problemas da realidade, do seu entorno, do seu campo de in-teresse e de vivência. E, portanto, é uma forma de conectá-los com a aprendizagem.

Experimente, professor!!!

TRABALHAR COM PROJETOS É UM GRANDE DESAFIO, UMA MANEIRA EFETIVA DE CONECTAR A APRENDIZAGEM COM O INTERESSE DOS ALUNOS PELOS PROBLEMAS DA REALIDADE.

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PROJETOSCONTEMPLADOS

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ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Três RiosColégio Estadual Condessa do Rio Novo

2019A CIDADE NO PLANO CARTESIANO: UM ESTUDO APLICADO DE GEOMETRIA ANALITICADiante da alta vulnerabilidade social e da grave deficiência na aprendizagem de Matemática, no Colégio Estadual Condessa do Rio Novo, o professor Victor Hugo Vassallo procurou melho-rar esta realidade, propondo uma abordagem diferente no estudo. Para isso, tem trabalhado com recursos computacionais, aulas de robótica e materiais concretos fornecidos no Laboratório de Aprendizagem, modelo que tem se mostra-do eficaz no envolvimento dos alunos. Para con-cretizar essa proposta, o professor desenvolveu o projeto “A Cidade no Plano Cartesiano: um estudo aplicado de geometria analítica”, cujo desafio foi relacionar os conceitos básicos da matéria, como distância entre dois pontos, ali-nhamento de três pontos, ponto médio de um segmento, área de triângulo e estudo de retas com imagens, obtidas por meio do Google Maps, de regiões conhecidas da cidade.

Na execução do projeto, os alunos trabalharam em duplas, cada uma com um plano cartesiano feito em placas de EVA, utilizando régua, alfi-netes coloridos e linhas para marcar os pontos. Como não há laboratório de informática na es-cola, o professor disponibilizou um computador, na própria sala de aula, ligado a um projetor, com o programa Geogebra, para que os alunos pudessem a qualquer momento conferir suas ati-vidades e replicar os resultados em um ambiente computacional. Na primeira etapa, foi desen-volvido o embasamento teórico, aplicando defi-nições fundamentais. Na segunda, empregaram o conceito do plano cartesiano sobreposto à

imagem de uma região da cidade, obtida pelo Google Maps. Na terceira, o desafio foi encon-trar a área aproximada de uma famosa praça da cidade, reproduzindo e aprofundando as atividades da etapa anterior. Com a ajuda do professor, os alunos perceberam que poderiam dividir a área em triângulos menores, e depois calcular e somar as áreas destes para assim ob-terem a área total do espaço pesquisado.

“O envolvimento que houve por parte dos estu-dantes foi o que de melhor pudemos destacar. O trabalho colaborativo entre as duplas foi importan-te para que alunos com mais dificuldade pudes-sem arriscar mais. Com todas essas experiências, verificamos que os conceitos matemáticos foram consolidados em uma experiencia única na vida destes alunos”, relatou o professor Victor Hugo.

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Professor Victor Hugo VassalloEm 2018, eu havia participado do Prêmio Shell de Educação Científica como finalista, e já naquele momento, nossa escola ganhou muita notoriedade; depois disso, muitos veículos de comunicação divulgaram nosso trabalho.

Em 2019, a expectativa de toda a comunidade escolar e das famílias era muito grande, visto que novamente tínhamos a oportunidade de não só concorrer ao Prêmio Shell como também ter a ratificação de que o trabalho estava no rumo certo.

Hoje, profissionalmente, vejo a importância de ter participado. Há reconhecimento da Secretaria Estadual de Educação, dos colegas de trabalho, dos alunos da instituição e também de todo o município de Três Rios.

Embora o trabalho que venho realizando há 15 anos nesta

mesma escola sempre tenha tido como foco o aprendizado dos estudantes, o prêmio abriu meus olhos para que esta importância fosse ainda maior. Analisando todo o projeto desenvolvido, além das questões técnicas e específicas da minha disciplina (Matemática), foi muito importante ter um olhar amplo para conseguir, de alguma forma, associar a Matemática às questões sociais dos meus alunos, resultando na possibilidade de oferecer um aprendizado diferenciado e, sobretudo, conferindo sentido ao que estava sendo ensinado.

Desde a preparação para a viagem – transfer, hospedagem, programação –, foi tudo meticulosamente pensado pela Shell e pelo Conselho Britânico. Detalhistas, nos deram a oportunidade de não só conhecer lugares incríveis, e outros que sequer

imaginaríamos pisar, como os laboratórios visitados.

A visita à Lampton School, para mim, foi a mais impactante. A oportunidade de conhecer um pouco do sistema educacional britânico, participar de conversas com líderes de algumas disciplinas, conhecer a dinâmica de uma aula bem como a postura dos estudantes, fez-nos repensar nossas práticas de ensino. Com isso, também pude reconhecer que a metodologia STEM já se fazia presente em minhas aulas, entretanto, eu a desconhecia. Isso me possibilitou, agora, ter uma base para realizar pesquisas e buscar informações sobre o assunto. Além disso, os museus e centros de pesquisa compartilharam atividades que podem ser desenvolvidas aqui no Brasil, mostrando-nos horizontes que, mesmo sem muitos recursos, podem ser aplicados em nossa escola.

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ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Campos dos GoytacazesColégio Estadual Benta Ribeiro

2019LUZ NA IDENTIFICAÇÃO DE ELEMENTOS QUÍMICOS“A prática docente é um constante reinventar--se.” Foi assim que a professora Rafaella Ferreira refletiu sobre sua prática pedagógica. A profes-sora, que trabalha com as disciplinas de Física e Química, no Ensino Médio da modalidade EJA de ensino, desenvolveu uma sequência di-dática ancorada nas UEPS (Unidades de Ensino Potencialmente Significativas) como subsídio pa-ra a promoção da aprendizagem significativa de conceitos necessários à compreensão da es-pectroscopia como um método de identificação de elementos químicos por intermédio da luz, formulando, assim, o projeto “Luz na identifica-ção de elementos químicos”.

Segundo a professora, baseando-se em refe-rências teóricas, a aprendizagem significativa ocorre progressivamente, portanto, devem-se en-fatizar as evidências encontradas ao longo do processo e não apenas comportamentos finais. Somado a isso, foi utilizado um estudo de caso

interdisciplinar como estratégia didática diferen-ciada que foque no aluno e na construção de seu próprio conhecimento. A partir disso, o processo de validação das UEPS envolveu oito etapas de investigação, que contribuíram para a busca de indícios que apontassem para a efetivação da aprendizagem significativa da matéria.

Na primeira parte do projeto, os alunos reali-zaram atividades em grupos com o intuito de identificar a composição química de estrelas fictícias, por meio da análise comparativa en-tre linhas espectrais das estrelas e os espec-tros de emissão de alguns elementos químicos. Para a observação de espectros contínuos e discretos de diferentes fontes de luz, foram utilizados espectroscópios feitos de cano de PVC. Como conclusão do projeto, os discen-tes construíram um mapa conceitual no qual a compreensão dos conceitos abordados foi demonstrada com êxito.

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Professora Rafaella Cruz FerreiraA valorização da minha profissão, enquanto formadora de alunos protagonistas e autônomos no processo de aprendizagem, que se tornam agentes modificadores da realidade que os cerca, foi, para mim, o principal impacto do Prêmio Shell de Educação Científica. Além disso, o PSEC trouxe visibilidade não só para o projeto que desenvolvi como para a comunidade escolar em que atuo.

Em Londres, tive experiências incríveis, o que me permitiu

voltar repleta de novos conhecimentos e inspirações, além da oportunidade que tive de realizar minha primeira viagem internacional. O contato direto com a História da Ciência, tanto no laboratório original do químico e físico Michael Faraday, na Royal Institution, quanto no National History Museum, onde nos foi apresentada uma coleção de espécies obtidas por Charles Darwin, me deslumbrou. A equipe organizadora do Prêmio Shell e a do British Council, de

fato, se empenharam muito na elaboração do roteiro de estudos e também na dinâmica e atenção para com os professores vencedores.

Depois de vencer o Prêmio, acredito que meu maior desafio seja aplicar a metodologia STEM para desenvolver formas mais instigantes e atraentes de compreender o conteúdo e o mundo que cerca os alunos. Por outro lado, os conhecimentos adquiridos em Londres certamente me ajudarão a superá-lo.

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ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Rio de Janeiro Colégio Pedro II

REPERSPECTIVANDO A INCLUSÃO: DA

VULNERABILIDADE AO PROTAGONISMO

Com o objetivo de tornar alunos com deficiên-cias sensoriais protagonistas no próprio pro-cesso de inclusão, o professor Roberto Irineu da Silva elaborou o projeto “Reperspectivando a inclusão: da vulnerabilidade ao protagonis-mo”. Ele trabalhou a aprendizagem inclusiva, promovendo continuamente princípios que desen volvessem a autonomia destes alunos, para que, assim, pudessem reconhecer suas potencialidades.

O projeto foi dividido em duas temáticas defini-das de acordo com as necessidades dos alunos. A primeira relaciona-se à membrana plasmáti-ca, pois foi elaborada para alunos cegos; de-senvolveu-se uma sequência didática em cinco módulos, na qual foram utilizados modelos de significação táteis, isto é, o tato foi o instrumento mediador da cognição. A segunda objetivava promover a inclusão de uma estudante surda no Laboratório de Biociências, ou seja, melhorar a participação em aulas práticas que requerem a utilização de termos específicos da matéria. Pa-ra isso, a aluna aprofundou o contato com equi-pamentos e vidrarias básicos.

Como certificação de que cada grupo alcan-çou suas metas de aprendizagem, o primeiro apresentou os modelos didáticos produzidos por eles, enquanto a aluna elaborou vídeos

em que executa os experimentos, demonstran-do o uso dos equipamentos e vidrarias, de for-ma explicativa, comunicando-se em Libras sob a supervisão de um intérprete certificado. Além disso, todos os alunos envolvidos no projeto participaram de uma jornada científica, como autores, isto é, protagonistas, tendo um stand próprio para apresentarem seus trabalhos e re-cebendo certificados de participação ao final da jornada.

O professor Roberto concluiu que “... a pro-dução de trabalhos deste gênero é importante porque desestabiliza preconceitos próprios de quem não teve a experiência de interagir, en-quanto docente, com estudantes com necessida-des especiais”.

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Professor Roberto Irineu da SilvaO Prêmio Shell de Educação Científica me possibilitou ressignificar minha prática docente, porque, durante a viagem educativa a Londres, pude ter contato com a metodologia STEM. A partir disso, me convenci de que o conhecimento deve ser transmitido por meio de proposições objetivas e que visem solucionar problemas buscando formas de inovação. De agora em diante, é assim que assumo minha jornada docente.

O Prêmio também fez com que eu me sinta capaz de buscar novos empreendimentos, como aprofundar-me em pesquisas científicas e buscar um pós-doutoramento em alguma

das instituições que visitei na Inglaterra.

Além de ter sido minha primeira viagem internacional, o maior impacto que tive em Londres foi compreender a necessidade de uma reengenharia na Educação Científica no âmbito do Ensino Fundamental e Médio no Brasil. O foco deve ser resolver problemas de forma objetiva e transformadora, portanto, não devemos nos concentrar somente em pressupostos metodológicos de produção do conhecimento científico ou em contextualizar o conteúdo com a realidade do aluno, como preconizam as metodologias didático-pedagógicas hegemônicas, mas em ministrar aulas objetivas e inovadoras.

O Science Museum foi uma excelente amostra de que há concepções tecnológicas capazes de resolver problemas em seus contextos históricos e sociais de maneira prática e arrojada.

Em minhas reflexões, depois de ganhar o Prêmio Shell, acredito que seja preciso implementar este modelo de escolarização de forma sistematizada no Brasil, criando polos regionais que atuem desde o nível de Educação Infantil até o fim do Ensino Médio, que, além da finalidade pedagógica quanto à formação de seus estudantes, tenham como meta condutora a preparação de uma geração intelectualmente formada para produzir inovações científicas e tecnológicas.

“... a produção de trabalhos deste gênero é importante porque desestabiliza preconceitos próprios de quem não teve a experiência de interagir, enquanto docente, com estudantes com necessidades especiais”.

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ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Paraíba do SulEscola Municipal Antonino Arcanjo Lopes

ALÉM DA DESCOBERTA DO VENTOO ensino e a aprendizagem a partir da elabora-ção de projetos, com instrumentos que despertas-sem a curiosidade dos alunos, foram a solução en-contrada pelo professor de Matemática Aristides Praxedes ao se deparar com uma turma extrema-mente indisciplinada. A ideia foi executada por meio da criação do projeto “Além da descoberta do vento”, desenvolvido em uma estação meteo-rológica. Nesta, oficinas foram desenvolvidas, nas quais os alunos puderam descobrir e explorar as ferramentas disponíveis com o intuito de com-preender e aprofundar os conceitos matemáticos, dos modelos mais rústicos aos mais elaborados.

A primeira foi a oficina de anemometria. Nessa tarefa, os alunos utilizaram cata-ventos de papel para entender o funcionamento de um anemôme-tro, além de poderem observar figuras geomé-tricas. Eles contaram as rotações do objeto em intervalos de tempo determinados, registrando as informações obtidas, de forma organizada, em tabelas e, a posteriori, em gráficos de linhas. Es-ta atividade também foi significativa para que os alunos trabalhassem a conversão da velocidade do vento de m/s para km/h.

A oficina seguinte foi a de pluviometria. Com o objetivo de desenvolver modelos manuais e au-tomáticos do pluviômetro de báscula, feitos com garrafas PET, de início, os alunos construíram mo-delos de papel destes objetos. Trata-se de uma

atividade que requer muita habilidade manual, porque devem ser feitos movimentos delicados para colar as peças e vincar o papel corretamen-te. Estes modelos foram utilizados para explorar o funcionamento do equipamento antes de obte-rem os resultados finais com as garrafas. Além disso, o estudo de escalas, conceitos de razão e proporção, ângulos, linhas paralelas e perpendi-culares e dimensões também foram explorados. Ainda nessa etapa, os alunos produziram uma biruta, utilizando régua, esquadro de 60°, borra-cha e meio lápis. Esta última atividade consistia em aprender a localizar o Norte real do planeta para que pudessem registrar a direção do vento.

“O objetivo [do projeto] foi mostrar aos diversos atores sociais, como professores, alunos e pais, a importância de aprender ciência e tecnologia pa-ra o futuro profissional dos estudantes, e também transmitir efetivamente o conteúdo abordado pela disciplina”, disse o professor Aristides. Desse mo-do, os resultados do projeto foram expostos em oficinas de sensibilização à comunidade escolar, pais de alunos, além de outras instituições esco-lares. O projeto permitiu que o professor pudesse ressaltar aos pais a importância do cuidado para com o futuro profissional dos alunos, mas também ressignificou a matéria, pois os alunos demons-traram interesse por Matemática e, ainda mais significativo, o comportamento em sala de aula mudou para melhor.

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Professor Aristides Praxedes Dias NetoCom a participação no Prêmio Shell de Educação Científica, sinto-me mais cuidadoso e criterioso ao planejar aulas e atividades, além de disponibilizar mais tempo a essa tarefa. Também busco valorizar mais o interesse e a evolução pessoal dos alunos, embora um dos benefícios não possa ser aferido objetivamente, que é ver o orgulho dos alunos ao vencerem cada etapa. O Prêmio me fez perceber que, intuitivamente, trabalhava com aspectos da metodologia STEM; depois disso, decidi que quero me especializar na área para avançar profissionalmente, mas também

para ampliar o acesso a esse sistema no Brasil.

A viagem a Londres me proporcionou experiências culturais e científicas únicas, o que é inesquecível. Agora, qualquer referência à cidade me faz rememorar estes momentos e querer voltar para conhecer mais. De fato, o Prêmio Shell me incentivou a crescer na profissão e continuar formulando projetos, como o de exploração de minerais preciosos em Marte que tenho desenvolvido com uma turma do 7º ano, em 2020, para estudar técnicas de contagem, construção de tabelas de frequências, gráficos de linhas, barras e setores.

“O objetivo [do projeto] foi mostrar aos diversos atores sociais, como professores, alunos e pais, a importância de aprender ciência e tecnologia para o futuro profissional dos estudantes”.

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ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO PiraíColégio Municipal Presidente Castelo Branco

TRILHA E SABORES: IDENTIFICANDO PANCS PARA

RESGATAR COSTUMES ALIMENTARES

A professora Ariene dos Santos buscava uma prática educacional que valorizasse os saberes e vivências dos alunos, além de construir uma aprendizagem significativa, conferindo sentido aos conteúdos ensinados. Desse modo, saben-do que muitos de seus alunos vivem em cháca-ras ou fazendas, ou seja, tinham conhecimentos prévios propícios ao trabalho, a professora criou o projeto “Trilha e Sabores: Identificando PAN-Cs para Resgatar Costumes Alimentares”.

As PANCs (Plantas Alimentícias Não Conven-cionais) são plantas comestíveis com muitos nutrientes, consumidas desde a Antiguidade, porém, não são produzidas ou comercializa-das em grande escala. Tendo isso em vista, os alunos puderam conversar com anciões da família ou conhecidos, que possuíam conhe-cimento empírico sobre as PANCs, mas não tinham a oportunidade de compartilhá-lo. O projeto atuou, ainda, como instrumento para a conservação e valorização da flora local e contribuiu para a conscientização sobre hábi-tos alimentares.

O projeto foi executado por meio de aulas ex-positivas dialogadas; vídeos reflexivos; ativida-

des de campo com trilhas e plantio; atividades práticas em que foram feitas maquetes e uma oficina gastronômica com as PANCs; e apli-cação de questionários de percepção. Como produto final, os alunos construíram uma carti-lha de divulgação com as PANCs do entorno escolar.

“Os alunos foram capazes de aprender o con-teúdo curricular integrando-os com a resolução de problemas sociais, isto é, alcançando a inter-disciplinaridade”, declarou a professora Ariene. Hoje, ela percebe sua sala de aula como um ambiente mais lúdico e repleto de significados tanto para ela quanto para os estudantes.

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TRILHA E SABORES: IDENTIFICANDO PANCS PARA

RESGATAR COSTUMES ALIMENTARES

Professora Ariene Bazílio dos SantosAntes de ganhar o Prêmio Shell de Educação Científica, eu só tinha participado de feiras, de modo que não tinha dimensão das proporções que o projeto poderia alcançar. O prêmio, por meio de uma banca especializada, confirmou que nosso trabalho tem muita importância e pode atravessar os muros da escola. Agora, sinto-me estimulada a engajar projetos que antes idealizava, mas não acreditava que fossem realizáveis.

A formação em Londres e a possibilidade de compartilhar experiências com outros colegas de profissão me permitiram aprender e compreender maneiras para efetivar tais

projetos em ações práticas e eficazes. Isso me tornou apta a incentivar outros colegas da minha própria escola, de várias disciplinas, assim nos tornamos uma corrente; cada um apresenta uma ideia ou proposta didática diferenciada para tornar mais significativa a aprendizagem dos alunos.

Optar pelo Museu do Amanhã como local para a realização da cerimônia de premiação foi fenomenal. O lugar, além de lindo e inspirador, retrata perfeitamente a proposta do Prêmio Shell de Educação Científica: a valorização do trabalho de professores que fazem a diferença para o amanhã da sociedade. Não

menos importante, o prêmio financeiro nos incentiva a investir concretamente em nossa profissão.

Além disso, o prêmio me ofereceu a oportunidade de conhecer outro continente com a visita a Londres. A viagem proporcionou o contato com museus, oficinas, treinamentos e exemplares científicos que marcaram a História da Ciência, os quais me capacitaram de maneira extraordinária, legando uma bagagem cultural e de aprendizados, mas também física, com materiais impressos que servirão como guia e fonte de pesquisa para minha profissão.

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ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Niterói Escola Municipal Levi Carneiro

CLUBE DE CIENCIAS – UMA ESTRATÉGIA PARA O

"APRENDER FAZENDO"Quando três de seus alunos relataram que se reuniam, uns nas casas dos outros, para estudar Ciências, a professora Camilla Ferreira Souza Alô se propôs a acompanhar esses estudos. A partir disso, eles fundaram um Clube de Estudos, que resultou no projeto “Clube de Ciências: uma estratégia para o ‘aprender fazendo’”.

O Clube trabalha com alunos de 8º e 9º ano, dispondo de uma metodologia extremamente prática, o que logo interessou a novos alunos, embora o grupo não se proponha a trabalhar com um grande número deles. Há um período de inscrição para a seleção de vinte alunos. Isso ocorre porque o foco é desenvolver a Alfabeti-zação Científica de estudantes que tenham ta-lento para a matéria, e despertar o interesse dos dedicados aos estudos.

O processo de Ensino-Aprendizagem segue as metodologias ativas, em que o estudante é res-ponsável por seu estudo, desenvolvendo todas as etapas do projeto, desde a elaboração até a apresentação. Nesse processo, o professor é apenas um facilitador. Como consequência disso,

o projeto se insere atualmente no Projeto Político Pedagógico da escola, segundo o qual o aluno é parte atuante do seu processo de aprendizagem.

O projeto é desenvolvido em quatro etapas. A primeira fase é a observação do problema e es-colha do objeto de estudo em conjunto com os participantes do Clube. Em seguida, há o levan-tamento dos materiais e metodologias necessá-rios para o desenvolvimento do trabalho, além da pesquisa bibliográfica. No terceiro momento, os integrantes do Clube realizam os experimen-tos e análise dos resultados. Por fim, realizam a divulgação dos resultados em feiras científicas.

“Desde que ingressei na Rede Municipal de Educação, questionava o porquê de as escolas desenvolverem muitos projetos para atender am-plamente os alunos que têm resistência aos estu-dos, são indisciplinados ou têm dificuldade de aprendizagem. Ficava incomodada ao perce-ber que vários alunos interessados e esforçados perdiam a vontade de aprender, devido à falta de um olhar individualizado, de incentivo...”, declarou a professora Camilla.

“O processo de Ensino-Aprendizagem segue as metodologias ativas, em que o estudante é responsável por seu estudo, desenvolvendo todas as etapas do projeto, desde a elaboração até a apresentação”.

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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Professora Camilla Ferreira Souza AlôA participação no Prêmio Shell de Educação Científica teve um enorme impacto na minha vida, em especial na minha autoestima como profissional da Educação. Sou professora por opção, por amor. Sou Bióloga antes mesmo de saber o que isso significava. Porém, antes da premiação, eu vivia um momento de desânimo decorrente da desvalorização da Educação e da Ciência pela sociedade. Ser premiada por uma empresa tão reconhecida nacional e internacionalmente propiciou-me entusiasmo ímpar e me fez voltar a acreditar que, se fazemos nosso melhor, temos o retorno; este que vai além da relação entre professor e aluno em sala de aula.

É fato que aprendi muito com o Prêmio Shell; hoje sou uma professora bem diferente. Além de técnicas

– como trabalhar com tempo reduzido – e teorias científicas que me desenvolveram como profissional, tive a comprovação de que muitos dos meus pensamentos, visões e práticas, em relação à educação de Ciências e Tecnologia, estavam de acordo com os posicionamentos de outros profissionais brasileiros e internacionais.

O respeito, a valorização e a atenção que recebemos, desde o comunicado da indicação, passando pela cerimônia de premiação, reunião na Shell e culminando com a viagem a Londres, foram excepcionais. Eu nunca tinha vivido algo assim. Acredito que todos os professores que lutam por uma educação básica de qualidade mereçam vivenciar essa premiação.

A experiência em Londres foi indescritível. Tive a

oportunidade de conhecer lugares essenciais à ciência, instituições que contribuíram para a consolidação do conhecimento científico e atuam como importantes centros de divulgação científica, como o Natural History Museum e a The Royal Institution, além de uma universidade com trabalhos reconhecidos internacionalmente, a Imperial College. Também pude ter contato com espécimes coletados por Charles Darwin, e ter em mãos um cartão-postal assinado por inúmeros pesquisadores renomados. Estes momentos foram a realização de um sonho daquela criança que sempre foi Bióloga e descobriu sua paixão pela área no Ensino Médio, portanto, qualquer palavra fica aquém dos momentos de aprendizado vivenciados em Londres.

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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2019

ENSINO MÉDIOESPÍRITO SANTO GuarapariEscola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Lyra Ribeiro Santos

ENSINO DE QUIMICA A PARTIR DA APRENDIZAGEM BASEADA NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: A TEMÁTICA DO LEITE MATERNO PARA A PROMOÇÃO DA

ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA

A gravidez na adolescência é uma realidade na comunidade escolar da professora de Quí-mica Pâmela Almeida. Assim, após 12 anos le-cionando, ela decidiu trabalhar o tema “Leite Materno”, elaborando um projeto que desenvol-vesse a Alfabetização Científica de seus alunos. A ideia surgiu quando uma aluna adolescente retornou às atividades escolares muito antes de terminar sua licença-maternidade, pois entendia que não tinha “nada para fazer em casa”. Logo, refletindo sobre o impacto que o conteúdo pro-posto nas aulas de Química traz para o futuro dos alunos, a professora resolveu trabalhar uma temática social que pudesse apoiar a aprendi-zagem, visando a formação de cidadãos mais críticos e éticos.

A metodologia aplicada foi a Aprendizagem Baseada em Problema, pois o projeto aborda questões de ordem social e ambiental condi-zentes com a realidade dos alunos, de forma contextualizada e transdisciplinar. O projeto foi desenvolvido em quatro etapas: criação e apre-sentação do cenário; levantamento de fatos e

formulação das questões; aprofundamento das causas dos problemas e suas possíveis soluções, a partir do método investigativo; e, por último, os alunos analisaram as informações coletadas, para depois apresentarem o trabalho desenvol-vido para toda a turma.

A partir do tema “Leite Materno”, foi possível trabalhar conteúdos da Química da Vida, co-mo carboidratos, lipídeos, proteínas, hormônios e vitaminas. Entretanto, para a docente, o valor dessa proposta extrapola o conteúdo teórico. O principal foi abordar e debater questões sociais como: amamentação, licenças-maternidade e paternidade, políticas públicas para o incentivo ao aleitamento materno, melhor qualidade de vi-da e uso consciente de substitutos do leite mater-no. “Desenvolvemos uma bagagem para a vida do estudante, pois abordar uma temática que, em algum momento, fará parte de sua realidade e permitirá uma tomada de decisão consciente sobre a escolha ou não do aleitamento materno é imprescindível, devido aos benefícios nutricio-nais”, relatou a professora Pâmela.

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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Professora Pâmela Santos Galetti AlmeidaO Prêmio Shell de Educação Científica foi a valorização de um trabalho realizado com muita dedicação e esforço, mas que muitas vezes não é reconhecido pela sociedade. Isso nos motiva a realizar novos projetos que gerem mais conhecimento científico aos estudantes, de forma crítica e contextualizada, para incentivá-los a resolver problemas do cotidiano.

A participação no Prêmio Shell me proporcionou novas ferramentas pedagógicas que podem ser muito úteis dentro de sala de aula para fomentar o processo de ensino-aprendizagem. O melhor é que os benefícios dessa experiência podem ser compartilhados com outros professores das áreas de Ciências e Matemática.

Além disso, a experiência de viajar a Londres foi inesquecível, com uma programação excelente, o que, certamente, contribuiu muito para a minha formação profissional e pessoal. Os impactos foram tantos que, este ano, tenho pensado em fazer doutorado na área da Educação, desenvolvendo um projeto relacionado à saúde.

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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2019

ENSINO MÉDIOESPÍRITO SANTO ItararanaEscola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Alto Jatibocas

TODA ÁGUA IRRIGA, MAS QUAL A IDEAL PARA A

PRODUÇÃO AGRÍCOLA?

Buscando envolvê-los e desmistificar-lhes a dis-ciplina de Física, o professor Idolindo Gabre-cht elaborou com seus alunos uma situação-pro-blema, propondo uma metodologia ativa que fomentasse a Educação Científica. O objetivo era que eles pudessem ser protagonistas, atuan-do como pesquisadores, no processo de apren-dizagem do conteúdo, bem como valorizar a vivência cotidiana desses jovens. Desse modo, por tratar-se de uma escola inserida em uma co-munidade agrícola, o projeto desenvolvido foi “Toda água irriga, mas qual a ideal para a pro-dução agrícola?”

O primeiro passo foi realizar uma pesquisa so-bre o tema água, relacionando-o à poluição, à agricultura e à saúde. Depois disso, os alunos testaram diferentes qualidades de água. Os di-ferentes “tipos”, como a água da chuva e a po-

tável fornecida pelas redes de abastecimento, foram utilizados para a germinação e desenvol-vimento de mudas e sementes. Ao observar os resultados, os alunos aprofundaram a pesquisa sobre os poluentes e as formas de contamina-ção das águas. Os dados foram registrados em planilhas, de acordo com o cronograma do Pro-jeto, para serem analisados e discutidos entre os diferentes grupos.

Na última etapa, os alunos foram induzidos a pensar sobre a origem da água das lavouras. Com o fechamento das análises, a turma toda concluiu que a “água limpa” é essencial para o bom desenvolvimento da agricultura. Além disso, os alunos puderam entender que, muitas vezes, os produtos químicos e orgânicos utiliza-dos nas próprias lavouras contaminam o solo, nascentes e mananciais.

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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Professor Idolindo GabrechtA participação no Prêmio Shell de Educação Científica foi muito positiva para mim, assim como para a escola e alunos. Ao longo do projeto pudemos conciliar bem teoria e prática, propiciando a conscientização ambiental e social, além de desenvolvermos a metodologia científica. Isso resultou em uma melhora significativa na aprendizagem da turma envolvida no projeto, o que pode ser constatado nas

avaliações externas, bem como com a melhora no IDEB.

A premiação e a organização, desde o acolhimento inicial até o fim do evento, foram incríveis. Sem dúvidas, trata-se de um estímulo muito importante para o professor ter seu trabalho, desenvolvido ao longo do ano, reconhecido dentro e fora da escola.

Além disso, parte da premiação financeira, investi

na aquisição de equipamentos que podem me auxiliar a pesquisar dados em novos projetos e trabalhos voltados para o campo científico.

Como consequência do Prêmio Shell, meu desafio para este ano é desenvolver um trabalho científico, com uma equipe de alunos, relacionado aos hábitos culturais e à saúde da população.

“O objetivo era que os alunos pudessem ser protagonistas, atuando como pesquisadores, no processo de aprendizagem do conteúdo bem como valorizar a vivência cotidiana desses jovens.”

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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2019

ENSINO MÉDIOESPÍRITO SANTO Baixo GuanduEEEFM José Damasceno Filho

CIENTISTAS DO FUTURO: A QUALIDADE DA ÁGUA

Buscando acolher crianças e adolescentes de diferentes idades e classes sociais, o professor Welton da Silva Arruda utilizou o ensino de Bio-logia para aproximar seus alunos do conteúdo. Com o objetivo de produzir uma cultura científi-ca em sala de aula, ele buscou o protagonismo dos alunos por meio da relação entre Ciência, Tecnologia, Sociedade e Meio Ambiente. O en-sino investigativo e a interação dos alunos foram o eixo central do projeto “Cientistas do Futuro: A Qualidade da Água”, que analisou a quali-dade, potabilidade, escassez e importância da água. Além disso, a microbiologia também foi muito trabalhada ao longo do projeto.

O percurso metodológico da sequência didática contou com nove etapas: levantamento de co-nhecimentos prévios e apresentação da temáti-ca; problematização; levantamento de hipóteses;

elaboração de plano de trabalho; montagem do arranjo experimental e saída de campo/coleta de dados; análise de dados; elaboração dos re-latórios finais; sistematização do conhecimento; avaliação da metodologia e questionário final.

Considerando a divulgação como parte impres-cindível da ciência, os alunos propuseram que o trabalho fosse divulgado para toda a comunida-de escolar. Desse modo, eles redigiram textos e prepararam banners com as etapas dos traba-lhos e os resultados de cada grupo. Isso apenas confirma o quanto os alunos estiveram envolvi-dos com dedicação e empenho durante a ela-boração do projeto, validando as descobertas que realizavam, reconhecendo a importância dos seus trabalhos na prática e percebendo a possibilidade de buscar o conhecimento para participarem do mundo científico.

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Professor Welton da Silva ArrudaO Prêmio Shell de Educação Científica foi um divisor de águas para mim, como profissional e como pessoa. Através da premiação, pude perceber que empresas podem colaborar com a melhora da educação, tendo responsabilidade social, neste caso como a Shell do Brasil. Estar no pódio foi extremamente gratificante, ainda mais dividindo-o com grandes profissionais. Eu gostaria que todos os professores pudessem compartilhar esse momento e sentir o prazer do reconhecimento. Não que ser professor seja melhor do que outras profissões, mas todos conhecem a luta

dessa classe por condições justas de trabalho, estrutura e remuneração adequadas.

Nesse âmbito, percebi que a prática pedagógica, que desenvolvi em conjunto com a professora doutora Fernanda Souza de Oliveira Assis, pode se tornar um embrião de práticas de Alfabetização Científica. Além disso, ao presenciar os trabalhos excepcionais dos demais vencedores do Prêmio Shell e vivenciar toda a competência e lisura da banca, pude absorver parte do espírito científico que pairava ali e me motivar para melhorar minha prática, transformando-a em um curso de letramento científico a ser

ofertado anualmente na escola em que trabalho.

Pensando nisso, sinto-me nutrido com a habilidade de transmitir o pensamento científico, desenvolvendo questionamentos, mas também a ética, o respeito ao meio ambiente e a importância do trabalho em equipe. Entretanto, isso requer uma equipe unida, coesa e multidisciplinar, pois, dentro do universo pedagógico, é impossível desenvolver práticas que alterem a forma de os alunos encararem positivamente o conhecimento científico, mudarem sua forma de estudar, passando a construir seu saber científico sem esses elementos.

“Os alunos estiveram envolvidos com dedicação e empenho durante a elaboração do projeto, validando as descobertas que realizavam, reconhecendo a importância dos seus trabalhos na prática e percebendo a possibilidade de buscar o conhecimento para participarem do mundo científico.”

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2019

ENSINO FUNDAMENTAL IIESPÍRITO SANTO VitóriaEMEF Heloisa Abreu Júdice de Mattos

O JOGO AFRICANO MANCALA E O ENSINO DE MATEMÁTICA EM FACE DA LEI 10.639/03

Após conhecer a Lei 10.639/03, que trata da obrigatoriedade do ensino de História e cultu-ra afro-brasileira no âmbito de todo o currículo escolar dos estabelecimentos oficiais e particu-lares da Educação Básica, o professor Rinaldo Pereira buscou maneiras de tratar a temática no seu campo de atuação, a Matemática. Buscan-do melhorar seu relacionamento com os alunos e sua prática pedagógica, passou a realizar au-las mais dinâmicas, que pudessem contribuir pa-ra aumentar a autoestima dos alunos em relação à matéria e à cultura afro-brasileira.

A partir disso, o professor desenvolveu o projeto “O jogo africano Mancala e o ensino de Mate-mática em face da Lei 10.639/03”. Com esse jogo, ele fez com os alunos uma imersão na cul-tura africana, inicialmente, pesquisando dados sobre a árvore baobá, que fornece as sementes utilizadas no jogo, além dos aspectos culturais e filosóficos. A busca por aulas mais dinâmi-cas concretizou-se, tornando-as mais divertidas e, consequentemente, melhorando o relaciona-mento entre o professor e os alunos. Além disso, a investigação sobre a temática transformou as atitudes e olhar do professor: “Digamos que eu

estava com os olhos cobertos pelo preconceito, assim não combatia com medidas socioeduca-tivas os conflitos sociais contra o aluno negro e sua cultura no cotidiano escolar”, declarou o professor.

Visto que não havia tabuleiros e peças disponí-veis, os alunos utilizaram caixas de ovos como tabuleiro e feijões como peças para jogar. A prática fez com que eles desenvolvessem, de forma espontânea, a leitura das peças e assim estimassem situações de ataque e defesa, além de calcular probabilidade (mesmo sem saber o conceito). A partir do jogo, o professor traba-lhou operações aritméticas; estimativas; raciocí-nio lógico; probabilidade e estatística; porcen-tagem e resolução de problemas.

A construção de conhecimentos sobre História e cultura afro-brasileira contribuiu para elevar a autoestima do aluno em relação ao ser negro, realidade da maioria das turmas. Além disso, os alunos expressaram sentimentos de pertenci-mento e autoafirmação com relação à cultura afro-brasileira, colaborando com a diminuição de falas preconceituosas e pejorativas.

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Professor Rinaldo Pevidor PereiraO Prêmio Shell de Educação Científica trouxe reconhecimento a um trabalho feito em sala de aula, o que teve como consequência uma produção acadêmica. Além disso, a valorização não é apenas do meu trabalho, não impacta apenas a minha vida, mas, também, a de outros colegas. De fato, é muito bom ser reconhecido, pois o ser humano tende a produzir mais, e é isso o que a Shell Brasil tem feito: valorizado a produção científica de professores de escolas públicas do Espírito Santo e Rio de Janeiro.

O maior benefício que obtive ao participar do PSEC foi sistematizar, rever, refletir, atualizar e compartilhar minhas práticas pedagógicas. Isto é, automaticamente, durante o processo de escrita do projeto, revemos todo o seu processo de elaboração. Também, ver meu trabalho sendo reconhecido e valorizado durante a cerimônia de premiação, que foi perfeita, foi um momento único. Não menos importante, o prêmio financeiro me ajudou a realizar um sonho de consumo pessoal.

A viagem a Londres foi incrível, superando minhas expectativas. Além de ter sido uma oportunidade inédita para conhecer e aprender sobre a cultura local, a experiência educativa foi muito produtiva. Conhecer museus, o Imperial College, o Planetário, a proposta STEM Education, a estrutura da escola de educação básica britânica, bem como saber o quanto a Shell tem apoiado os projetos educacionais, principalmente no Brasil, foi relevante para a minha atualização profissional.

“A busca por aulas mais dinâmicas concretizou-se, tornando-as mais divertidas e, consequentemente, melhorando o relacionamento entre o professor e os alunos.”

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2019

ENSINO FUNDAMENTAL IIESPÍRITO SANTO Serra EEEFM “Campinho”

DESMISTIFICANDO O ENSINO DA MATEMÁTICA

ATRAVÉS DO INSTAGRAM

De forma inovadora, a professora Daniela Pa-checo utilizou a rede social Instagram para tra-balhar com a Matemática, desenvolvendo o projeto “Desmistificando o ensino da Matemá-tica através do Instagram”. De início, foram di-vulgados desafios de raciocínio lógico para que os alunos pudessem responder através do apli-cativo, sendo que os acertos foram aumentando com o decorrer das publicações. Depois disso, foi promovido um duelo matemático: cada aluno deveria gravar um vídeo explicando uma par-te do conteúdo e, ao final, desafiar outro cole-ga a responder a alguma questão. Os desafios abordaram conteúdos de raciocínio lógico, con-juntos numéricos, raiz quadrada, potenciação, regra de sinais, polinômios, expressões numéri-cas, expressões algébricas e plano cartesiano.

Também houve o interesse da comunidade do entorno escolar pelo projeto, logo perfis diferen-tes começaram a acompanhar as postagens e a interagir. Um dos empecilhos foi a dificuldade de acesso à internet aberta, bem como a falta de laboratório de informática na instituição, todavia, os alunos se ajudaram em sala de aula, e em ca-sa utilizaram os celulares dos responsáveis. Com esses estímulos extras, o resultado observado foi o de que a turma responsável pela elaboração do projeto obteve melhores respostas na aprendiza-gem e também no aumento da assiduidade em sa-la de aula, ainda mais se comparada com turmas do mesmo ano que não participaram do projeto.

Agora, outros professores também interagem com seus alunos por meio da conta do Insta-gram da escola. Este projeto é um exemplo de como o uso da tecnologia pode facilitar a com-preensão de competências novas. Ele obteve resultados além do esperado, como ampliar os conhecimentos, evoluir o ensino-aprendizado e interferir positivamente em toda a comunidade escolar. “Atualmente, independentemente da situação financeira, a tecnologia faz parte da realidade dos educandos... Portanto, a utiliza-ção desses recursos desperta e mantém a aten-ção dos alunos”, afirmou a professora Daniela.

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Professora Daniela de Souza PachecoO Prêmio Shell de Educação Científica foi um marco de suma importância na minha vida profissional e pessoal. Reinventar a matemática de maneira lúdica, divertida e com a linguagem que os alunos gostam trouxe muitos pontos positivos, dentre eles o reconhecimento do meu trabalho. Embora desenvolver um projeto que envolva a tecnologia possa ter algumas dificuldades, como a falta de internet e equipamentos,

principalmente em uma comunidade carente como é a escola em que leciono, a premiação me mostrou que preciso continuar com criatividade, entusiasmo e muita persistência na busca de construir uma Educação Pública de qualidade.

O maior ensinamento que o Prêmio Shell me trouxe foi que nós, profissionais da educação, temos que acreditar no nosso trabalho e, a cada dia mais, nos aperfeiçoarmos

e nos reinventarmos, não desanimando com as dificuldades, pois precisamos construir uma sociedade melhor.

Outro ponto importante é que o prêmio aumentou consideravelmente a aceitação do projeto e o interesse pela disciplina de Matemática. Hoje, percebo, inclusive, que outras escolas próximas estão desenvolvendo-o em diferentes disciplinas, o que demonstra a importância desse trabalho.

“Atualmente, independentemente da situação financeira, a tecnologia faz parte da realidade dos educandos... Portanto, a utilização desses recursos desperta e mantém a atenção dos alunos.”

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2019

ENSINO FUNDAMENTAL IIESPÍRITO SANTO São Gabriel da PalhaEscola Municipal de Ensino Fundamental Bértolo Malacarne

CONSCIENCIA LIMPA:

OLHO NO ÓLEO

No primeiro trimestre de 2019, a partir de in-dagações sobre o descarte adequado do resí-duo do óleo domiciliar, o professor Wesley Silva pensou em uma forma sustentável de descartar o óleo de cozinha aproveitando tópicos discuti-dos nas aulas de Ciências. Desse modo, obje-tivando motivar famílias e a comunidade esco-lar a preservar o meio ambiente, desenvolveu com seus alunos o projeto “Consciência limpa: olho no óleo”. Para a execução do projeto, tra-balharam conteúdos como: reações químicas; transformações, propriedades e composição da matéria; reciclagem; Educação Ambiental; inter-pretação de dados em gráficos e tabelas; leitura e escrita.

A sensibilização dos alunos ocorreu ao longo das aulas teóricas da própria disciplina, mas, para garantir a efetividade da proposta do pro-jeto, o professor organizou, em parceria com outros profissionais, no contraturno das aulas, o curso sobre “Reciclagem de óleo de cozinha”, além de uma “Oficina de fabricação do sabão ecológico”. Tendo em vista que o objetivo da re-ciclagem do óleo era a produção de sabão, de-pois da oficina, os alunos desenvolveram uma máquina feita com sucatas. Além disso, aconte-ceram encontros esporádicos na biblioteca para o levantamento de dados e leitura de materiais didáticos. Isso culminou na criação do grupo de

estudos chamado Associação Amigos Gota do Óleo (AAGO), ressaltando a importância do tra-balho em equipe.

Para isso, os alunos aplicaram questionários aos donos de estabelecimentos e residências para obter informações sobre o descarte e quantida-de utilizada do óleo, bem como sobre a prática de reciclagem. Os dados coletados foram ta-bulados; depois, foram elaborados gráficos em cartazes para expor os resultados da pesquisa. Os alunos estavam tão envolvidos com o traba-lho que, para divulgarem e lançarem o projeto, desenvolveram um selo verde e um ímã de gela-deira que, além de conter a receita do sabão, pedia a doação do óleo de cozinha. Também criaram panfletos, mídias nas redes sociais, in-clusive, deram entrevistas na rádio comunitária da cidade e no jornal Hoje Notícias.

Para expor os resultados e transmitir os conheci-mentos adquiridos ao longo de sua elaboração, no dia 9 de agosto de 2019 foi realizado o 1º Workshop de Sabão Ecológico e Sustentá-vel. Neste evento, os alunos convidaram toda a comunidade escolar e ensinaram-na a produzir o sabão de forma sustentável a partir de ingre-dientes de origem natural. Ao final do projeto, toda a produção de sabão foi doada a morado-res carentes do entorno escolar.

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Professor Wesley Alves SilvaO Prêmio Shell de Educação Científica foi a ratificação da qualidade do árduo trabalho que tenho desenvolvido por meio de projetos em escolas públicas. Certamente, é muito bom ver o nosso trabalho ser valorizado. Depois da premiação, sinto-me determinado a me comprometer cada vez mais com a qualidade da educação. E mais, fiquei lisonjeado com o reconhecimento das pessoas da cidade onde eu moro, em especial de ex-alunos e ex-gestores, os quais eu nunca imaginei que tivessem tanta confiança e admiração pelo meu trabalho.

Mesmo trabalhando em uma escola sem materiais pedagógicos adequados, laboratório e sinal de internet, a indicação ao Prêmio Shell me estimulou a continuar com os projetos e a incentivar os alunos a pensar como cientistas.

Depois, com a classificação que obtive, sinto-me capaz de avançar cada vez mais, contribuindo para a educação científica para que, num futuro próximo, meus alunos, como protagonistas do processo de ensino-aprendizagem, possam transmitir os conhecimentos científicos produzidos na escola para fora dos seus limites.

Além disso, tornar-se um professor inovador pode ser

uma tarefa desanimadora se não temos estímulos, o que faz com que nos sintamos sós. Desse modo, deparar-se com um prêmio dessa dimensão, responsável por dar tamanha visibilidade ao nosso trabalho, certamente faz com que nos empenhemos mais, buscando empregar práticas pedagógicas eficazes que sejam replicáveis para influenciar a qualidade da educação.

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PROJETOS SOBRE FONTES DE LUZ NATURAL E ARTIFICIAL E SUA RELAÇÃO COM A VIDA HUMANA

Segundo o professor Tobias de Assis Ricardo, conectar o ensino da física com a realidade é uma estratégia que contribui para alunos e pro-fessores estabelecerem uma relação com con-teúdos até então explorados de maneira insa-tisfatória, mas de imprescindível importância na formação de nossos discentes.

Com este objetivo, foram desenvolvidos quatro projetos de Física Moderna. A culminância dos projetos deu-se numa Feira do Conhecimento aberta ao público, por onde passaram aproxi-madamente 650 pessoas. Os projetos trabalhados foram: - O uso de películas e de diferentes tipos de vidros para um aproveitamento eficiente da luz solar.

- Lâmpadas: qual a mais eficiente, econômica e adequada para os diversos usos e ambientes?

- Testando a qualidade e a eficiência de diferen-tes marcas de lâmpadas LEDs.

- Telas LEDs – O que precisamos saber?

As atividades se iniciaram 60 dias antes da fei-ra. Os alunos se organizaram em quatro equi-pes, e cada equipe escolheu um projeto, co-meçando então as pesquisas. Paralelamente, passou-se ao uso dos espectroscópios e dos aplicativos de celular. De posse dos dados obti-dos, os alunos buscaram mais informações para entender melhor os resultados encontrados, re-

lacionando-os com as pesquisas feitas. Foram introduzidos então alguns conceitos de eletrici-dade, óptica, ondulatória e Física Moderna, as-suntos importantes para o trabalho.

Após seis semanas de trabalho, e a duas sema-nas da feira, os alunos apresentaram suas produ-ções em sala de aula, compartilhando os resul-tados alcançados, fazendo algumas correções e sugerindo ideias novas. Estavam muito empolga-dos e orgulhosos em exibir o folder que haviam confeccionado para o dia da feira. As sugestões foram discutidas e adaptadas por eles.

O folder apresentava informações sobre diferen-tes tipos de vidros e o uso ideal de cada um deles e de que maneira esses materiais afetam a qualidade da luz e a luminosidade que os atra-vessa. Os alunos chegaram então à conclusão de que as películas usadas nos carros absorvem uma grande parcela da luminosidade, o que po-de prejudicar o motorista ao dirigir à noite. Ou-tra conclusão importante foi sobre o vidro fumê utilizado em residências, o qual absorve muita luminosidade, o que pode exigir o uso de lâm-padas mesmo durante o dia. A solução que os alunos deram para quem quer privacidade em casa foi a utilização do vidro fosco ou do vidro liso com película fosca, permitindo que se apro-veite o máximo da luminosidade do Sol.

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Natividade –Colégio Estadual Francisco Portella

2018

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Professor Tobias de Assis RicardoO Prêmio Shell de Educação Científica impactou muito positivamente na minha vida, uma vez que fui reconhecido pelo trabalho que desenvolvo nas escolas em que leciono. A repercussão do prêmio me fez referência e exemplo para outros professores e alunos, o que deu mais credibilidade e visibilidade ao meu trabalho. O prêmio também me estimulou

a continuar pesquisando e  desenvolvendo projetos inovadores com foco no que os alunos de hoje precisam aprender a fim de que eles contribuam para a construção de uma sociedade melhor. 

Uma das dificuldades na elaboração do projeto foi criar um espectrômetro de baixo custo, pois um espectrômetro

profissional é relativamente caro. Tive que construir todos os kits utilizados no projeto. Para desenvolver projetos inovadores, é preciso dedicação, estudo e principalmente estar aberto a novas metodologias, sobretudo as ativas, adequando os conteúdos às necessidades e ao contexto dos alunos.

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FLORESTA, MANGUEZAL E RESTINGA: MIÉCIMO SEM MUROSO projeto da professora Luciana Mattos surgiu de sua preocupação com a conscientização dos jovens sobre a preservação dos ecossiste-mas. Para ela, é fundamental trabalhar conceitos de sustentabilidade dentro dos diversos ecossis-temas, mas principalmente naqueles frequente-mente visitados pelos alunos, como praias, rios, mangues, restingas e florestas, promovendo o co-nhecimento relativo à biodiversidade de cada um e sobre a importância das atividades de mane-jo e conservação das áreas que sofrem grandes ameaças antrópicas.

A visitação ao manguezal da Barra de Guarati-ba objetivou o conhecimento da sua fauna, da sua flora e de seus fatores abióticos, e também da biologia da carcinofauna, economicamente importante e por consequência antropicamente ameaçada de extinção.

0s caranguejos Ucides cordatus (carangue jo-uçá) – na lista regional de espécies ameaçadas – e Cardisoma ganhumi (guaiamum) – na lista de es-pécies nacionalmente ameaçadas – sofrem inten-sa exploração comercial e estão expostos aos ris-cos de bioacumulação por metais pesados. Antes da visitação, foi realizada uma breve abordagem em sala de aula sobre a aprovação do Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espé-cies Ameaçadas e também sobre a Importância Socioeconômica do Ecossistema Manguezal.

Foram priorizadas aulas dinâmicas e interativas, dentro e fora do espaço escolar (ecologia de campo), por intermédio das seguintes ações: - Pesquisa a respeito das consequências de alte-rações antrópicas sobre os ecossistemas.

- Musicalização em sala de aula trazendo como exemplo a música “Súplica cearense”.

- Coleta de dados bióticos e abióticos usando o espaço escolar externo.

- Identificação de interações ecológicas em ma-teriais coletados.

- Visita guiada a uma área de floresta atlântica ma-nejada no Parque Estadual da Pedra Branca (RJ) para o estudo de técnicas de manejo e conser-vação, bem como da observação das espécies.

- Visita guiada a ecossistemas costeiros como manguezais (Barra de Guaratiba) e restingas (Marambaia).

- Pesquisa sobre a lei de defesa do carangue-jo-uçá, vendido em cordas na Estrada Roberto Burle Marx, na Barra de Guaratiba.

- Avaliação do tamanho da carapaça dos espé-cimens comercializados.

- Modelagem matemática para analisar o cres-cimento relativo de estruturas corpóreas.

- Avaliação se os caranguejos em ecdise estão sendo comercializados.

- Troca de informações entre os discentes relativas às aulas de campo, bem como aos aspectos ecológicos abordados em artigos científicos.

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Rio de Janeiro Centro Interescolar Estadual Miécimo da Silva

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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Professora Luciana MattosO Prêmio Shell de Educação Científica trouxe para minha vida profissional uma grande motivação para continuar me reinventando e mediando projetos inspiradores e que concretizem a ciência, fazendo com que os discentes percebam e realizem investigações científicas em várias situações do cotidiano. Com este incentivo, pude abrir o meu Clube de Ciências para Crianças, um espaço “maker” dedicado à divulgação e fomento de projetos de iniciação científica já no primeiro segmento do ensino fundamental. 

Um dos desafios foi encontrar soluções para envolver e incluir todos os PNEs. Por isso, criei,

além das aulas de campo, aulas de reconhecimento de relações ecológicas por meio da percepção táctil, no laboratório da escola, intitulando-as de Ecologia “Indoor”. O aluno cego pode então utilizar o seu aguçadíssimo tato para “enxergar” parasitismo em estruturas vegetais, forésia entre crustáceos, simbiose em liquens presentes em alguns caules, entre outros elementos. 

Necessitamos de políticas públicas que reconheçam de fato o nosso papel como agentes mediadores para a transformação de uma sociedade, permitindo a promoção de projetos inovadores.

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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PROJETO FISICA EM AÇÃO: ASSOCIAÇÃO DE POLIAS OU ROLDANASO primeiro ano do ensino médio é também o primeiro contato dos alunos com a física como disciplina separada de ciências, e percebe-se uma grande dificuldade em associar conceitos que são ensinados em sala de aula com aspec-tos práticos, além da deficiência dos alunos em operações fundamentais matemáticas, dificultan-do a realização dos cálculos necessários em al-gumas atividades dentro da física.

Para romper com essa realidade, o professor Rogério Gomes de Lima Tostas organizou uma série de atividade práticas que foram batizadas de Projeto Física em Ação. Cada atividade vi-sa trabalhar diferentes aspectos do currículo.

"A partir de perguntas sobre o custo da execução de obras em andares elevados, devido ao esfor-ço no deslocamento de materiais, evidenciei que seria possível a elevação de materiais pelo uso da física, utilizando-se polias/roldanas, que são máquinas simples e permitem alterar a direção e o sentido de forças aplicadas em cordas quando estão fixas; quando móveis, as roldanas permi-tem duplicar a força aplicada na corda", explica o professor.

A atividade foi executada como ponto inicial do bimestre. Mesmo tendo apresentado poucos conceitos teóricos até o momento da atividade, o objetivo principal desse experimento era des-pertar nos alunos um maior interesse pela física.

O projeto foi desenvolvido em três fases:

Parte teórica:Foram apresentados os conceitos teóricos a se-rem aplicados, bem como o projeto e os cál-culos dos resultados esperados no experimento.

Parte experimental:Foram realizados em sala experimentos de le-vantamento de pesos com diferentes associa-ções de polias. Os materiais foram apresenta-dos aos alunos, e lhes foi explicado que seria possível sem muito esforço levantar um peso até mesmo maior que o seu peso corporal.

Separaram-se 20 quilos de livros, e o material foi pesado e amarrado com a cinta de carga. Com a utilização de apenas uma polia, os alu-nos foram desafiados a tentar levantar o peso.

Parte computacional:Utilizando um simulador de levantamento de po-lias, o objetivo desta etapa foi analisar e compa-rar dados simulados com dados reais. A vanta-gem das simulações é a possibilidade que temos de criar diferentes tipos de associação de polias sem a necessidade da construção de uma estru-tura adequada para a execução do experimen-to. A fase computacional permite que o aluno com um computador ou celular que tenha acesso à internet possa verificar em tempo real os resul-tados de seus cálculos.

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO QueimadosCIEP 355 Roquete Pinto

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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Professor Rogério Gomes de Lima TostasO Prêmio Shell de Educação Científica foi uma das conquistas mais importantes que já aconteceram na minha carreira como professor. Significa um reconhecimento por todo o trabalho que temos realizado em sala de aula. O prêmio e a viagem me permitiram conhecer uma nova cultura e os desafios que professores em outras partes do mundo também enfrentam.

Ser um dos vencedores do prêmio mostra que estou no caminho certo, o que me motiva a fazer cada vez mais e melhor.

O nosso maior desafio tem sido encontrar novas formas de motivar os alunos a desejar aprender e se apaixonarem por matemática e física. 

Para que isso aconteça, é fundamental tentar inovar e realizar novas práticas que levem os alunos a questionar seu aprendizado. Quando mostramos para os alunos que a matemática e a física vão além de fórmulas e equações, são coisas vivas e nos cercam a todo momento, o aprendizado se torna divertido e marcante.

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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BRINCANDO COM

BALANÇAS E EQUAÇÕESPara explicar de modo prático os fundamentos de uma equação e sua aplicabilidade no dia a dia, o professor Alexandro Paes Peixoto desen-volveu a seguinte sequência didática:

Foram construídos uma balança e sólidos geo-métricos, reutilizando materiais descartados e outros recursos simples. A balança e seus res-pectivos “pesos” foram apresentados aos alu-nos, e, neste primeiro momento da aula, foi dis-cutido com eles que “existem recursos à nossa disposição e que é possível realizar trabalhos interessantes gastando pouco”, conta ele.

1- Ao observar a balança vazia, os alunos per-ceberam que ela se encontrava em equilíbrio, ou seja, não pendia para nenhum dos lados, um fe-nômeno que se chama “equilíbrio estático”.

2- Um objeto cúbico foi colocado em um dos pratos da balança causando um desequilíbrio. Os alunos perceberam que existe um “peso” que desequilibra a balança. Foi abordada a di-ferença entre “massa” e “peso”.

3- Um peso idêntico foi posto no outro prato da balança equilibrando-a novamente. Eles com-preenderam que os objetos possuíam massas congruentes. Ambos os objetos foram retirados, e a balança permaneceu em repouso.

4- Foram apoiados um cubo em um dos pratos e um cone no outro: a balança desequilibrou. Dis-cutiu-se aqui que a mesma letra “X” pode repre-

sentar valores diferentes em situações distintas.

5- Dois cones idênticos foram colocados em um dos pratos da balança e, no outro, um cone e um prisma, este de valor conhecido. O concei-to de equação foi explicado como sendo um equilíbrio entre os dois “pratos da balança”: na equação, cada lado da balança se chama membro e o valor desconhecido se chama in-cógnita. Um cone de cada lado da balança foi retirado, e ela continuou em equilíbrio. Em segui-da, a equação foi realizada matematicamente.

6- A balança foi organizada com três cilindros iguais em um dos pratos e um cubo no outro. Intuitivamente, os alunos chegaram à conclusão de que a massa do cubo deveria ser dividida igualmente em três partes iguais. A equação foi montada matematicamente dividindo ambos os lados por três.

7- Foi feita nova montagem, e assim os alunos entenderam a resolução da equação.

Deste passo em diante, os alunos fizeram suas próprias montagens, equilibrando os lados da ba-lança, e apresentaram suas respectivas soluções.

Esse trabalho mostrou-se totalmente funcional, de fácil aplicabilidade, e permitiu a abordagem de conceitos de física, meio ambiente, raciocí-nio lógico, geometria espacial, entre outros, em uma aula rica em conteúdos e ao mesmo tempo divertida e agradável para o aluno.

ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Nova Iguaçu CIEP 351 Ministro Salgado Filho

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Professor Alexandro Paes PeixotoSinto-me honrado por ter participado desse projeto que valoriza o trabalho dos professores de forma objetiva e profissional. O Prêmio Shell de Educação Científica representa para mim o reconhecimento de um trabalho árduo, contínuo e pulsante em busca da educação de qualidade, não importando

quão frágil seja a realidade socioeconômica onde atuo.

Sempre desenvolvi projetos com muito entusiasmo e satisfação. Em termos práticos, não encontrei dificuldades com o projeto em si, mas com a gestão do tempo, na minha opinião o grande desafio

que os professores enfrentam hoje para realizar projetos inovadores. Vários professores têm ótimos “insights”, que não saem do papel, uma vez que muitos trabalham em outras escolas para melhorar seus ganhos financeiros.

Um bom projeto é o que causa impacto social e busca a otimização de recursos. Em qualquer ferro-velho, encontramos recursos suficientes para fazer a diferença em qualquer área do conhecimento, sobretudo na área de ciências. O Brasil joga no lixo muita riqueza de materiais, há um grande desperdício, com o mau uso dos recursos materiais.

Se o professor tiver um olhar sensível ao seu entorno, poderá encontrar soluções e superar as barreiras, e, assim, fazer o melhor para seus alunos com aquilo que está ao seu alcance. Isso é ser professor!

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APRENDENDO A APRENDER: ENSINO POR INVESTIGAÇÃO E APRENDIZAGEM COLABORATIVA EM AULAS DE CIENCIAS

O projeto da professora Cláudia Vargas Vilar objetivou, entre outras ações, desenvolver a autonomia do estudante, o gosto pelo aprendi-zado de ciências, as competências de leitura de textos próprios das ciências naturais, a com-preensão da metodologia científica e o incre-mento da capacidade de expressão e argumen-tação por meio da escrita autoral, visando ao letramento científico.

No laboratório de ciências, os alunos ouviram a leitura do conto “A máscara da morte rubra”, de Edgar Allan Poe, traduzido e adaptado por Clarice Lispector. Nele, o personagem principal tenta escapar da peste negra que assolava o país. A leitura foi precedida de atividade de sensibilização e sucedida de debate, e ajudou a introduzir de forma lúdica e contextualizada diversos conceitos sobre algumas doenças.

Os alunos realizaram então estudos dirigidos em grupos e em aula, utilizando textos como fontes de consulta.

Além disso, foram realizadas duas visitas: - Museu da Vida: para pesquisar a relação da Fundação Oswaldo Cruz com a peste.

- Parque Natural Municipal da Prainha – RJ: os alunos fizeram uma das trilhas disponíveis,

guiados pelos monitores, que contaram a his-tória do parque, mostrando espécies nativas, enquanto os alunos tiravam fotos.

Os alunos elaboraram vídeos com narração de contos de terror produzidos por eles próprios, tendo a peste negra como elemento desenca-deador da trama. O trabalho se desenvolveu em várias etapas:- a partir da leitura do conto foram desenvolvidos estudos sobre a doença na aula de ciências;

- nas aulas de história, definição e descrição dos cenários em que se desenvolveriam as tramas;

- nas aulas de sociologia, discussão sobre senso comum e conhecimento científico;

- nas aulas de português, planejamento e corre-ções do conto;

- nas aulas de informática educativa, escrita e reescrita textual, gravação da narrativa, sele-ção de imagens e produção dos vídeos;

- nas aulas de música, gravação da sonoplastia;- nas aulas de desenho geométrico, produção de um cartaz.

A partir da parceria entre ciências, educação física, geografia e informática educativa, os alu-nos montaram murais colaborativos com fotos da saída ao Parque Natural Municipal da Prainha.

ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Rio de Janeiro Colégio Pedro II Campus Realengo II

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Professora Cláudia Vargas VilarPassar meu trabalho para o papel para submetê-lo ao Prêmio Shell de Educação Científica foi uma grande oportunidade de repensá-lo. Além disso, conhecer outra estrutura educacional ampliou meus horizontes como educadora. Não há como separar o educador do cidadão. A educação deve ser olhada como prioridade. Sempre!

“O projeto objetivou, entre outras ações, desenvolver a autonomia do estudante, o gosto pelo aprendizado de ciências, as competências de leitura de textos próprios das ciências naturais, a compreensão da metodologia científica e o incremento da capacidade de expressão e argumentação por meio da escrita autoral, visando ao letramento científico.”

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PERCEPÇÃO DE RISCO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS

A inclusão de alunos especiais requer o desen-volvimento de metodologias diferenciadas que priorizem os aspectos visuais e as vivências que pos sibilitem uma aprendizagem significativa. No curso de ciências para alunos surdos, diante dos desafios metodológicos impostos, o professor Wellington Pereira da Silva buscou estratégias pe-dagógicas que mostrassem como o conhecimen-to científico estava inserido no cotidiano e que, aprendendo ciências, os alunos poderiam com-preender fatos socioambientais de sua cidade.

Foram escolhidas atividades práticas que pos-sibilitassem o contato com o objeto de estudo:1ª etapa – Conhecendo a granulometria do solo. Foram apresentadas amostras de três tipos de solos (arenoso, argiloso e terra preta). Os alunos colocaram pequenas amostras de solo em saquinhos de sacolé, aprenderam os nomes em português e explicaram as diferenças obser-vadas em Libras.2ª etapa – Construção de filtros com garrafas PET com diferentes tipos de solo para distinguir a permeabilidade de cada tipo (solo arenoso, solo argiloso, terra preta e mistura de todos os solos).3ª etapa – Erosão do solo. Construção de um modelo representativo com diferentes situações de cobertura do solo. Com a utilização de gar-

rafas PET, foram organizadas quatro unidades experimentais:(A) terra preta(B) plantaram-se sementes de alpiste(C) plantaram-se sementes de girassol(D) serrapilheiraOs alunos simularam a chuva com um regador para diferenciar o carreamento de partículas do solo.4ª etapa – Mostra de vídeos e imagens sobre deslizamentos de terra e inundações, com o apoio do intérprete de Libras. Foram apresen-tados relatos de funcionários da escola sobre o acidente ocorrido em 2010.5ª etapa – Atividade de campo: visualizar a cicatriz no Morro da Carioca. Os alunos pude-ram conhecer de perto o local do acidente de 2010 e também constatar como se deu a ocu-pação da área de encosta do morro. Tiveram o relato de um dos funcionários da defesa civil que trabalharam no resgate dos moradores no dia do acidente.6ª etapa – Construção de maquetes: área sujei-ta a deslizamento de terra e área sujeita a alaga-mento. Os alunos constataram os conceitos traba-lhados e organizaram suas conclusões em Libras. Essas conclusões foram apresentadas para todos os alunos da escola numa Feira de Ciências.

ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Angra dos Reis Escola Municipal de Surdos

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Professor Wellington Pereira da SilvaO Prêmio Shell de Educação Científica marcará para sempre minha vida como educador. Ele demonstrou que é possível acreditar numa educação transformadora, pois foi um grande desafio trabalhar para a inclusão de alunos surdos. Com a premiação da viagem de estudos a Londres, tive a oportunidade de conhecer outra realidade educacional, além de ampliar muito minha

bagagem cultural. O Prêmio Shell de Educação Científica é uma importante forma de reconhecimento e valorização de trabalhos dos educadores do Brasil.

O projeto foi desenvolvido para promover o conhecimento científico como forma de inclusão, inserindo o surdo nas ações de prevenção aos desastres naturais; a maior

dificuldade foi buscar novas metodologias que fossem significativas no processo de aprendizagem.

Vale relembrar que é muito importante e gratificante investir na formação do profissional da educação, valorizar o planejamento pedagógico, de forma a incentivar o desenvolvimento de projetos educacionais inovadores.

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Nas últimas décadas, a poluição do ecossiste-ma aquático por efluentes industriais e domésti-cos tem aumentado gradativamente, e uma das substâncias que causam um grande impacto são os corantes sintéticos, classificados como “con-taminantes emergentes”.

No entorno da escola Irmã Maria Horta, locali-zada no bairro Praia do Canto, há rios e praias que encontram-se contaminados por corantes. Muitos pescadores dependem destes recursos hídricos para a sua sobrevivência.

Procurando melhorar o ensino-aprendizagem de química e inserir a cultura da inovação na es-cola, a professora Júlia Raquel Peterle Monteiro de Barros desenvolveu a proposta de um trata-mento para a degradação de corantes em siste-mas aquosos, utilizando um processo oxidativo avançado (POA) e tendo como catalisador um material sintetizado a partir da lama do desastre ambiental ocasionado pelo rompimento da bar-ragem de Fundão (MG). O POA escolhido para o tratamento foi a reação foto-Fenton, de baixo custo e fácil aplicação.

Segundo a professora, "é um projeto científico inovador, que alinha uma mudança de cultura dentro da escola aos valores de autonomia, co-

laboração e experimentação; utiliza um catali-sador sintetizado de um resíduo sólido (lama) oriundo de uma grande tragédia ambiental do Brasil, dando um destino sustentável para este resíduo; faz uso de metodologias ativas de ensi-no em um espaço em que predominam as aulas tradicionais".

O projeto se desenvolveu com as etapas de es-tudo, trabalho conjunto, pesquisa e cocriação e teve a sua práxis pautada em uma ética da responsabilidade e da relação dialógica. Os alunos, sentindo-se pertencentes àquela comuni-dade, se empenharam muito na busca de solu-ções que contribuíssem para a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida de todos os moradores.

Os resultados mostraram que o projeto impac-tou positivamente os alunos e favoreceu a com-preensão dos conteúdos químicos, melhorando a qualidade da aprendizagem, a motivação para os estudos e aumentando o interesse por pesquisas e práticas científicas. O tratamento proposto para a redução dos corantes na água se mostrou eficiente nas condições analisadas, podendo, certamente, beneficiar toda a comuni-dade em um futuro próximo.

ENSINO MÉDIOESPÍRITO SANTO Vitória Escola Estadual de Ensino Médio Irmã Maria Horta

2018PRODUÇÃO DE CATALISADOR A PARTIR DA LAMA DA BARRAGEM DE FUNDÃO (MG) E SUA APLICAÇÃO NO TRATAMENTO DE ÁGUAS CONTAMINADAS POR CORANTES:

INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE DE MÃOS DADAS COM A ESCOLA

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Professora Júlia Raquel Peterle Monteiro de BarrosO Prêmio Shell de Educação Científica é a minha maior realização profissional até hoje, fruto da dedicação em algo que acredito.

Utilizar o rejeito de um acidente tão grave que foi o desastre ambiental de Mariana para fazer algo bom, promovendo assim a

sustentabilidade, foi um tema que causou um estranhamento, pois foi necessário demonstrar aos alunos que, por meio do conhecimento científico, é possível escrever uma nova história.

Tudo que é fora do modelo convencional, tradicional, é desafiador. A mudança de

mindset é o principal desafio, uma vez que o professor ainda está preso ao modelo convencional.

Além disso, boas parcerias fazem toda a diferença. Para o desenvolvimento deste projeto foi fundamental a parceria da Universidade Federal do Espírito Santo.

“Os alunos, sentindo-se pertencentes à comunidade, se empenharam muito na busca de soluções que contribuíssem para a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida de todos os moradores.”

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PARABOLANDO – A PARÁBOLA DA PONTE

A sequência didática proposta pelo professor Rubens Marinho Monteiro utiliza conceitos mate-máticos para determinar a altura do vão central da ponte de Guarapari/ES, utilizando o softwa-re de geometria dinâmica GeoGebra a partir de uma imagem digital da ponte.

Para realizar a sequência, várias habilidades são exigidas além da matemática. Vejamos: a história está presente durante o levantamento do passado da construção das pontes; a biologia quando trata-se dos impactos ambientais gera-

dos na construção de uma ponte; a língua por-tuguesa na redação dos episódios e na constru-ção de um blog para o relato de experiências; a geografia na utilização de mapas e escalas; a arte na fotografia da ponte; a computação na utilização do CAS do GeoGebra para a cons-trução de modelos matemáticos e a engenharia e física na aplicação dos cálculos matemáticos.

O GeoGebra utilizado de forma correta con-tribui de forma direta no modo com que o alu-no se relaciona com o conteúdo de funções em matemática, e o uso de temas que fazem parte do seu cotidiano colabora com o processo de ensino-aprendizagem.

A “Parábola da Ponte” está dividida em epi-sódios postados no blog http://parabolan-doaponte.blogspot.com.br, onde cada episódio trata de aspectos históricos, técnicos e matemáti-cos, com o objetivo de conduzir o aluno a cons-truir a definição de uma parábola e a investigar suas aplicações em um exemplo da arquitetura da cidade de Guarapari. "Observamos que é possível aplicar uma sequência didática que tor-ne o ensino de funções menos abstrato, demons-trando a grande utilidade do GeoGebra", diz o professor.

ENSINO MÉDIOESPÍRITO SANTO Guarapari Escola Estadual de Ensino Fundamental Angélica Paixão

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Professor Rubens Marinho MonteiroA participação no Prêmio Shell de Educação Científica foi um marco na minha carreira como professor. Vem a ser um reconhecimento crítico de minha atividade e ao mesmo tempo uma valorização do meu trabalho. 

É recompensador saber que meu trabalho foi avaliado por jurados como Mozart Neves, César Callegari, Maristela Sarmento e Rafael Vassallo Neto. Essas trocas de informações, essa experiência, na verdade constituem o nosso verdadeiro prêmio. Além de nos enriquecer, ele muda a nossa prática como professores. Foram marcantes as palavras do César Callegari: “Olha, Rubens, gostei muito da poesia do seu trabalho”. Como professor de matemática, não

estou acostumado a ouvir esse tipo de elogio! É muito bom ver uma empresa com esse olhar para a ciência, para a educação científica e com foco no professor.

Infelizmente, para muitos alunos do ensino médio, cursar uma universidade ainda é um sonho muito distante. Assim, trazer para a escola uma pesquisa que desenvolvi em minha dissertação de mestrado foi um desafio muito grande. Outra dificuldade encontrada durante a execução do projeto foi o pouco conhecimento do software GeoGebra pelos alunos.  

A escola deve ser atraente ao aluno e inserida em sua realidade. Nós professores temos que mudar

constantemente a maneira de ensinar, para acompanhar as mudanças no mundo. 

Precisamos aprender a lidar com a tecnologia e torná-la aliada dos recursos tradicionais utilizados atualmente. 

O ambiente escolar não é mais o único espaço para a aprendizagem. É preciso sair da sala de aula, relacionar o conhecimento teórico com as situações vivenciadas pelos estudantes. As disciplinas precisam conversar entre si; vivemos em um mundo globalizado e nada está desconectado.

Precisamos estimular nossos alunos a produzir conhecimento, pesquisar, resolver problemas do seu cotidiano.

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QUIMICOZINHANo início do ano letivo de 2018, a Escola Es-tadual de Ensino Médio Dr. Silva Mello teve o Laboratório de Ciências interditado, dificultando a realização das práticas pedagógicas que ali seriam desenvolvidas. A professora Lucila Contre-ras Neris Novoa propôs então este projeto, onde receitas eram preparadas extraclasse e analisa-das nas aulas.

O projeto se converteu em uma ação prazero-sa no processo de ensino-aprendizagem, forta-lecendo o conhecimento aplicado de cada con-ceito e método de cálculo a serem estudados. Foi desenvolvido em quatro etapas, e, a cada etapa, os alunos elaboraram, matematicamente, questões relevantes do conteúdo estudado.

Reação química (Lei de Lavoisier e Lei de Proust). Cada grupo recebeu uma receita de massa e, no dia da apresentação, trouxe 40 por-ções. Foram analisados os princípios de conser-vação e proporção das massas de acordo com as Leis de Lavoisier e Proust, juntamente com a comparação de massas que possuem os mesmos tipos de ingredientes, mas com concentração e forma de preparo diferente, resultando em dife-rentes produtos.

Soluções (conceitos básicos, análise de mas-sa e volume, densidade). Cada grupo recebeu uma receita de suco e, no dia da apresenta-ção, trouxe 2 litros de suco, juntamente com ½ quilo de patê, acompanhado de biscoitos e/ou torradas, que foram distribuídos e analisados. Foram analisados também os conceitos básicos de soluções, juntamente com o estudo de massa e volume, resultando na densidade.

Soluções (concentração). Cada grupo recebeu dois ingredientes surpresa, tendo que pesquisar e escolher duas receitas que demonstrassem a consistência do produto final. No dia da apre-sentação, cada grupo trouxe dois pudins, que foram distribuídos e analisados. Foram estuda-dos conceitos básicos de concentração (como, por exemplo, homogeneidade, consistência e ri-jeza, entre outros), juntamente com a análise de formas de interação das moléculas.

Termoquímica (cálculo e análise de calorias dos alimentos). Cada grupo recebeu uma receita pa-ra preparar e montar uma tabela de calorias. No dia da apresentação, cada grupo trouxe 20 a 40 porções. Foram analisados os princípios de pro-porção das massas, juntamente com os cálculos de calorias dos alimentos, resultando na quantida-de total de calorias de cada receita, expressa em quilocalorias (kcal) e em quilojoules (kJ).

"A maioria dos alunos envolvidos aprendeu, além de boa parte dos conteúdos de físico-química es-perados na 2ª série do ensino médio, a serem estudantes mais interessados, integrados, respon-sáveis e compromissados", conta a professora.

ENSINO MÉDIOESPÍRITO SANTO Guarapari Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Silva Mello

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Professora Lucila Contreras Neris NovoaAutoconfiança está sendo o grande crescimento em minha vida profissional e pessoal. Sempre busquei fazer algo diferente em sala de aula para motivar os alunos e despertar neles o desejo de aprender cada vez mais, mesmo que eles tenham dificuldades nos princípios básicos do conteúdo de química. Porém, o medo de desenvolver atividades fora da sala de aula era um obstáculo que eu precisava enfrentar.

Participar do Prêmio Shell de Educação Científica e, principalmente, ser uma das ganhadoras me fez ser reconhecida pela comunidade

escolar. Pude buscar parcerias para as novas etapas de 2019 e ter a felicidade de ver os alunos ansiosos para um gostoso aprendizado.

O projeto Quimicozinha foi sendo criado e desenvolvido à medida que o conteúdo de físico-química foi sendo aplicado e as inspirações foram surgindo. Os alunos abraçaram o projeto com muito entusiasmo e carinho, tornando tudo mais fácil em sua aplicação. Tive o apoio da equipe pedagógica, colegas e direção.

A maior dificuldade foi enfrentar os meus próprios

medos ao não acreditar que era capaz; mas, com o desenvolvimento da atividade, fui ganhando confiança e pude vislumbrar o meu crescimento.

Muitas vezes, ao desenvolver novos projetos, encontramos dificuldades ligadas ao custo ou à necessidade de parcerias.

Outro desafio é mostrar que uma visita técnica com os alunos não é só um “passeio”, e sim um momento de aprendizado e interação, tornando-se um link com a realidade. Podemos superar cada desafio focalizando nossos objetivos e pensando no nosso crescimento educacional.

"...a maioria dos alunos envolvidos aprendeu, além de boa parte dos conteúdos esperados, a serem estudantes mais interessados, integrados, responsáveis e compromissados"

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2018PLANTAS QUE FAZEM BEM! OU NÃO? O uso de plantas medicinais é difundido nacio-nalmente, e isso não seria diferente em Itarana. Porém, como todas as formas de automedica-ção, o uso de plantas medicinais pode represen-tar um risco para a saúde humana.

Atrelando a educação científica, conteúdos pro-gramáticos de ciências e problemas da comu-nidade, a professora Lussandra Marquez Me-neghel organizou o projeto Plantas que fazem bem! Ou não?, uma pesquisa científica sobre a utilização de plantas medicinais nas comunida-des onde residem os estudantes.

Durante a aula de ciências, foram formuladas perguntas para estabelecer junto aos usuários a forma de utilização das plantas medicinais, o conhecimento sobre os métodos de preparação, a proporção e a forma de utilização das plan-tas, a frequência de utilização, se houve melho-rias no problema de saúde e quem os ensinou a respeito das plantas. Os alunos realizaram a entrevista com familiares ou vizinhos, e tabula-ram os dados na forma de gráficos.

A partir da leitura de um texto, foram discutidas a importância do desenho em botânica e ainda a importância dos herbários; foram estudadas também as partes e as respectivas funções das

plantas. Os alunos selecionaram as plantas me-dicinais citadas nas pesquisas e investigaram a correta utilização das mesmas no Laboratório de Informática. Eles produziram, em casa, mudas das plantas medicinais pesquisadas.

Construiu-se nas dependências da escola um jardim vertical das mudas produzidas. Cada aluno realizou seu trabalho individualmente, mas todos os trabalhos foram discutidos em grupos, e no compartilhamento de informa-ções havia sempre a ajuda de todos. Foi fei-to o registro das informações com introdução, desenvolvimento, resultados, análise e discus-são e demais etapas da pesquisa. Esta foi a etapa onde os alunos apresentaram maior di-ficuldade.

Realizou-se uma apresentação para os alunos da escola dos conhecimentos científicos e das curiosidades pesquisadas; foi oferecido para os visitantes chás com efeito calmante (erva-cidrei-ra) e mudas com a forma correta de utilização. Para cada pessoa entrevistada foi entregue a forma correta de utilização da planta.

O projeto resgata nos alunos o interesse no sa-ber popular, e mostra como o conhecimento é construído com base na educação científica.

ENSINO FUNDAMENTAL IIESPÍRITO SANTO Itarana Professora Aleyde Cosme

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Professora Lussandra Marquez MeneghelO Prêmio Shell de Educação Científica deu visibilidade, notoriedade e credibilidade a uns dos trabalhos que desenvolvo na escola, e assim valorizou muito o “ser professora” em minha cidade. O título de vencedora do Prêmio Shell de Educação Científica deixou-me certificada do meu papel de educadora e pesquisadora responsável em fazer a diferença no aprendizado dos meus alunos e de minha comunidade.

Viajar para a Europa foi realmente uma imersão científica, fiquei encantada com cada lugar, cada visita, cada nova experiência... Nunca imaginei ir para a Europa acompanhada pelo Bristish Concil, como ganhadora de um prêmio na área de educação. Vivenciar outras metodologias, outras culturas, foi grandioso. Conhecer outros professores que estão inseridos num contexto diferente do meu, além da troca de experiências, nos aproxima da vivência

educacional voltada para o aluno, independente da localização geográfica.

Observar alunos neste início de ano, principalmente alunas planejando e sonhando tornarem-se pesquisadoras na área de ciências e já traçando metas e ações, fez-me enxergar mais uma vez minha responsabilidade docente em ciências.

O Prêmio Shell de Educação Científica significou renovação, valorização, conhecimento e vontade de melhorar, entre outros aspectos.

Fazer acreditar que um trabalho científico pode ser realizado em uma escola do interior com estudantes do ensino fundamental, e incluir a grande maioria na realização de todas as etapas de um trabalho, conquistando a equidade na sala de aula, foi um grande desafio. Conseguir a empatia da turma, pensar em um trabalho exequível, fazer com que cada aluno torne-se essencial para a conclusão do trabalho, ser teimoso ao acreditar que dá certo faz com ele se concretize da melhor forma possível.

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2018BRINCANDO DE

SER CIENTISTA: REFLEXÕES SOBRE O FAZER CIENTIFICO NA ESCOLA

Levar os alunos a compreender e a refletir sobre as implicações do desenvolvimento da ciência e do método científico na sociedade viabiliza a discussão sobre os conteúdos sociocientíficos no ensino de ciências, além de estimular um diálogo sobre as representações sociais da ciência sob os aspectos histórico, cultural e social.

O professor Guilherme Augusto Maciel Ribeiro colocou-se como pergunta motivadora a ques-tão: como os alunos articulam os conhecimentos sobre os processos constitutivos da ciência e de seus métodos às implicações sociocientíficas, his-tóricas e culturais na sociedade?

Foi organizada com os alunos uma roda de conversa com a questão: “Vocês sabem o que é ciência?”. Essa abordagem serviu para diag-nosticar o nível de entendimento dos alunos so-bre o que é ciência. Após suas apresentações, foi solicitada uma pesquisa sobre o conceito de ciência em dicionários escolares.

Foi-lhes então apresentado o método científico. Manuseando uma caixa surpresa, onde haviam sido encerrados previamente objetos de diferentes tipos, os alunos deveriam descobrir o que havia no interior dela e justificar suas hipóteses: o peso da caixa, o barulho feito durante o balanço, o tama-nho dos objetos, o cheiro, entre outros componen-tes. A partir da apresentação de imagens envol-vendo diferentes usos da tecnologia, incluindo a guerra civil na Síria, os alunos foram convidados

a pensar sobre os impactos das tecnologias em nossa sociedade.

Foi distribuído “O Conto do Mistério”, de Sérgio Porto, sem que o desfecho lhes fosse apresenta-do. Foi perguntado aos alunos de qual mistério tratava o texto, e, na medida em que a leitura prosseguia, as hipóteses levantadas pelos alu-nos eram refutadas ou validadas.

Na etapa de aplicação do conhecimento, foi en-tregue a cada aluno um Diário de Bordo, conten-do explicações passo a passo. Uma semente de feijão ficaria dentro de uma caixa de sapatos pin-tada internamente de preto, com apenas um furo circular na lateral para a entrada de luz, e outra semente ficaria do lado externo da caixa. Ambas as semeaduras deveriam ficar sob o abrigo da luz direta e serem supervisionadas por 15 dias. Os resultados deveriam ser observados e registrados dia a dia no Diário de Bordo.

Ao final das atividades, os alunos formaram no-vamente uma roda de conversa, onde apresen-taram seus resultados e produções. Embora o estudo sobre a germinação de sementes fosse algo já conhecido na dinâmica escolar, o fato de eles serem ativos e protagonistas na mon-tagem, análise e interpretação dos resultados constituiu um fator diferencial, com eles atuando como cientistas. Foi a partir dessa análise dos relatos dos estudantes que o título dessa sequên-cia didática foi escolhido.

ENSINO FUNDAMENTAL IIESPÍRITO SANTO Rio Novo do Sul EEEFM Waldemiro Hemerly

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Professor Guilherme Augusto Maciel RibeiroSer um dos finalistas do Prêmio Shell de Educação Científica 2018 foi inesperado e enobrecedor.

O prêmio nos motiva a sairmos de nosso lugar-comum enquanto docentes, transformando nossa práxis em algo mais dinâmico e envolvente; significou ainda a valorização das ações científicas e educativas promovidas na escola pública e o encorajamento para que novas incursões científicas e pedagógicas sejam realizadas no ensino de ciências, e também o convite para a divulgação do trabalho para outros professores das redes estadual e municipal.

As dificuldades na elaboração do projeto foram muitas e variadas. Como pensar uma possibilidade de investigação científica por alunos recém-chegados ao ensino fundamental II?

Quais as possíveis situações de aprendizagem viáveis para o ensino de ciências por meio da investigação científica? Como acessar os conhecimentos prévios dos alunos? Quais recursos utilizar? Quais métodos? Como fazer? Quando? Onde? Por que e para quê?

O maior desafio de um professor é a escassez de tempo para pensar em novas possibilidades de ensino e o medo de ousar ou de expor suas atividades docentes.

Sempre é possível fazer mais e melhor, diferente do que já foi feito, buscando-se, no trabalho colaborativo com outros colegas, novas formas de articulação teórico-prática sobre os conteúdos a serem ensinados.

É necessário que o professor tenha em mente que a profissão docente exige muito. Mais do que reproduzir, o

professor deve se sensibilizar com o novo... e ousar! Sempre é possível fazer algo diferente. Estar atento às novas tecnologias de informação e comunicação é fundamental para um bom planejamento das atividades, sua execução e acompanhamento constante.

A escola tem o compromisso de possibilitar novas construções científicas na formação de seus alunos. Ter empatia, motivar pessoas, fortalecer os vínculos socioemocionais, respeitar os ritmos e formas de aprendizagem e resgatar o protagonismo do estudante são itens que desafiam o trabalho docente, mas são essenciais para a boa execução de um projeto didático.

O professor deve acreditar que é possível progredir, sempre, independente das dificuldades; são elas que tornam uma ação digna de reconhecimento. Por isso, inovar é tão encantador e transformador.

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2018CARTOGRAFIA E MATEMÁTICA: GEOMETRIA DAS REPRESENTAÇÕES DA TERRA

Com base na análise dos resultados de 2017 em matemática da Escola Estadual de Ensino Fundamental Germano André Lube, o professor Delano dos Santos Lorenzoni percebeu a neces-sidade de fortalecer vários conteúdos de geo-metria e cartografia.

A atividade envolveu os professores e a equi-pe pedagógica da escola, a profª. Patrícia Leal (professora da EEEFM Jacaraípe, professora Vo-luntária da Graduação em Geografia da UFES e doutoranda pela mesma universidade), alunos de iniciação científica do PIC JR da EEEFM Jaca-raípe (ensino médio) e estudantes da disciplina de cartografia escolar do curso de Licenciatura em Geografia da UFES.

Inicialmente, os estudantes foram introduzidos ao funcionamento do GPS e foram trabalhados conceitos de localização e plano cartesiano em duas e três dimensões. Em seguida, a profª. Pa-trícia, junto com os alunos da EEEFM Jacaraípe, promoveu a primeira parte da oficina, onde fo-ram apresentados conceitos iniciais de cartogra-fia. Os alunos receberam plantas da escola e foram orientados a, primeiramente, encontrar a escala, e depois a sala onde era executada a oficina. Para tanto, foi calculado o tamanho real da sala.

Os alunos foram apresentados então ao aplica-tivo GPS Essentials, onde observaram o funcio-

namento da bússola e os conceitos de latitude e longitude, bem como aprenderam a encontrar a localização deles e o que são fotos georrefe-renciadas.

Retornando à sala, foram mostradas fotos de satélite da escola e foi-lhes solicitado que as comparassem com a planta da escola. Foram também convidados a identificar locais conhe-cidos nas imediações, como as ruas que eles usam para chegar à escola e casas de colegas.

Na semana seguinte foi executada a segunda parte da oficina. Alguns alunos de graduação em geografia da UFES, matriculados na disci-plina de cartografia escolar, trouxeram várias formas de observar os conteúdos trabalhados na primeira parte da oficina: cálculo de figu-ras planas; triangulação de pontos de interesse; análise de área dos países comparando com os estados do Brasil; geocaça; cálculo de escala utilizando imagens de satélites e Field Papers; desenvolvimento de mapas de hipsometria para o entendimento vertical da superfície terrestre; montagem de globos terrestres com formatos di-ferentes; análise de fotos de satélites, fotogra-fias em 3D e fotos aéreas com estereoscópio.

A integração entre os estudantes do ensino fun-damental, ensino médio e superior deu aos alu-nos a oportunidade de visualizar os próximos passos de suas vidas acadêmicas.

ENSINO FUNDAMENTAL IIESPÍRITO SANTO Serra EEEF Germano André Lube

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Professor Delano dos Santos LorenzoniReceber o Prêmio Shell de Educação Científica mostra que o nosso trabalho nas escolas é reconhecido, mesmo com todas as dificuldades. Além disso, pessoalmente, me dá energia para continuar inovando no que faço, buscando maneiras alternativas de ensinar matemática, com mais vivacidade e significância.

Um grande desafio durante o projeto foi garantir o acesso dos alunos a tudo que a equipe trouxe de novidade e associar isso às diversas outras atividades que tanto a equipe

quanto os alunos precisavam desenvolver.

Temos várias dificuldades no trabalho escolar: o tempo, que é bem corrido; os recursos disponíveis, nem sempre tão disponíveis assim; e a falta de valorização do professor, por exemplo.

O papel do professor na sociedade é imensamente maior do que a atenção e o reconhecimento que são dados a ele. A superação disso tudo já é prática diária da maior parte dos professores, adaptando os projetos ao que

a escola pode disponibilizar, dedicando muito de seu tempo à escola, lembrando que a educação dos alunos é primordial para uma sociedade melhor.

É necessária uma mudança de pensamento: deixar de ver a escola como gasto e tratá-la como o grande investimento que ela realmente é.

Iniciativas como o Prêmio Shell de Educação Científica já mostram essa mudança no setor privado. Cabe agora ao setor público seguir essa tendência. 

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2017A CIÊNCIA QUE EDUCA TAMBÉM TRANSFORMA APLICANDO O MODELO STEM EDUCATION PARA O ENSINO DE VALORES

Partindo das deficiências comuns no ensino pú-blico brasileiro e, consequentemente, da falta de equipamentos nas escolas, o professor An-tonio Petali criou a oportunidade de os alunos produzirem seus próprios equipamentos com objetos do cotidiano – como papelão, sobras de canos, fios, garrafas PETs –, estimulando ne-les não apenas os conhecimentos científicos de química, física e matemática, mas também o im-pulso empreendedor de entender como os ob-jetos funcionam e como construí-los a partir do zero, lidando com tentativas e erros. “Vislumbrei objetivos, como aprendizado colaborativo, pro-tagonismo, trabalho em conjunto, resolução de problemas reais, pensamento crítico e divulga-ção científica como habilidades para a vida”, declarou o professor.

Os estudantes foram divididos em grupos, e ca-da grupo montou seu equipamento: centrífuga,

estufa e destilador, além de produzir um tutorial sobre a montagem. Com o destilador, os alu-nos estudaram e compreenderam, entre outras coisas, o processo químico de separação de misturas, destilação simples e fracionada e re-conheceram o uso da química para criar e so-lucionar problemas socioambientais. Além dis-so, foram abordados conhecimentos biológicos das células como unidade de todas as formas de vida, conhecimentos de física com o caráter vetorial da velocidade e da aceleração, as cau-sas ou efeitos dos movimentos de partículas, o estudo do cálculo de área, medidas e unidades de medida.

A riqueza do projeto resultou na união entre pro-fessor e alunos, os quais, criando seus próprios instrumentos, puderam compreender melhor os processos de aprendizagem e se envolver mais com o conteúdo aprendido.

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Nova IguaçuCIEP 117 Carlos Drummond de Andrade

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Professor Antonio Roberto Petali JúniorO Prêmio Shell de Educação Científica me proporcionou crescimento cultural, visão de mundo, quebra de paradigma, dentre outras alterações em minha vida pessoal e profissional.

A viagem a Londres serviu para aprender muita coisa nova e também para entender que estou caminhando no sentido certo. Trabalhar com um modelo novo requer estudar e testar tudo, desde o início. O STEM ainda é uma novidade, embora eu já conhecesse e trabalhasse com essa metodologia. E como toda novidade, precisa ser estudada, precisa criar

a cultura, montar modelos, ser testada, para então ver os resultados. Levou quase dois anos para eu estruturar o projeto em minha escola.

O projeto não surgiu por causa do prêmio, e sim o contrário. Hoje, estamos melhorando nossos protótipos, preparando oficinas para ensinar em outras escolas e elaborando equipamentos novos.

Na viagem a Londres, tive contato com escolas e empresas que trabalham com essa abordagem, o que serviu para ajustar meu modelo de trabalho no Brasil e entender como devo investir nessa caminhada.

Por fim, o prêmio ainda significa que posso desenvolver boas ideias quando acredito que sou capaz, mesmo que nem sempre saia como foi planejado.

“Vislumbrei objetivos, como aprendizado colaborativo, protagonismo, trabalho em conjunto, resolução de problemas reais, pensamento crítico e divulgação científica como habilidades para a vida.”

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2017MODELOS DE CIDADES SUSTENTÁVEIS

O projeto do professor André Gonçalves intro-duz ensinamentos de física e química ao propor aos alunos do segundo ano a construção e o lançamento de foguetes.

A prática busca, por meio de um ensino multidis-ciplinar, fazer com que os alunos consigam co-nectar geografia, física, química, português, ar-tes e filosofia para não apenas aprender sobre as reações químicas na junção e manipulação de substâncias, mas também questionar o papel da ciência e suas consequências e reflexos na sociedade.

Ao aprender como preparar um foguete, os alunos debatem e questionam seu uso, inclusi-ve pensando de maneira mais abrangente, le-vando em conta a história da Guerra Fria e os primeiros usos dos foguetes pelo homem. O pro-jeto fez com que os alunos, em grupos de qua-tro, fossem, além da teoria, à prática, após uma apresentação com explicações e dicas forneci-das pelo professor. As novas tecnologias criadas como reflexo dessas tecnologias aeroespaciais também são colocadas em questão, como uso de satélites e as novas formas de comunicação criadas nas últimas décadas.

Para a elaboração do projeto foram usados os seguintes materiais: garrafa PET, tubo de PCV, papelão, cola, tesoura, fita crepe, bexiga, bi-carbonato de sódio e vinagre.

Dentre os objetivos pretendidos estavam apre-sentar aos alunos “diversos campos do saber abertos por novas tecnologias espaciais ainda não amplamente explorados, como os avanços aeroespaciais apresentam [...], desfazer os mi-tos envolvendo a exploração do espaço [...], compreender a importância dos satélites brasi-leiros colocados em órbita para mapeamento e controle do território nacional” etc.

Além dos conhecimentos científicos, o professor André ainda integrou a área de artes ao propor um tema para a decoração dos foguetes: o dia da África (comemorado em maio) em 2016 e as cidades com propostas de turismo sustentá-veis em 2017.

Além da apresentação e lançamento dos fogue-tes, os alunos ainda redigiram relatórios e os entregaram ao professor André, de física, e à professora de química.

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Rio de Janeiro Colégio Estadual Erich Walter Heine

NA MOBFOG E OS AVANÇOS DAS TECNOLOGIAS AEROESPACIAIS

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MODELOS DE CIDADES SUSTENTÁVEIS

Professor André Gonçalves de Oliveira Depois que fui vencedor do Prêmio Shell de Educação Científica, muitas mudanças ocorreram na minha vida profissional e pessoal. Recebi propostas de trabalho, muitas solicitações para conceder entrevistas, fui reconhecido nas ruas pelas reportagens, realizei palestras e oficinas, consegui parceriais importantes, conheci e me associei a professores fantásticos e ganhei experiência e confiança para outras conquistas. Neste momento, escrevo de Genebra. Fui selecionado entre vinte professores de física de todo

o país para participar de uma escola de física no acelerador CERN e conheci o maior acelerador de partículas do mundo, o LHC.

Continuo trabalhando com o projeto na escola e minha percepção é a de que ele ganhou mais força após a conquista do prêmio. Neste ano conseguimos um fato inédito: vamos participar da Jornada Nacional de Foguetes. O grupo de alunos que conseguiu a primeira colocação irá nos representar nessa jornada, competindo

com os melhores colégios de todo o Brasil, num total de duzentas equipes. Essa conquista é fruto de muito trabalho e do incentivo obtido pelo reconhecimento do prêmio.

Ao aprender como preparar um foguete, os alunos debatem e questionam seu uso, inclusive pensando de maneira mais abrangente, levando em conta a história da Guerra Fria e os primeiros usos dos foguetes pelo homem.

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2017APRENDENDO GEOMETRIA

COM A PIPA TETRAÉDRICA DE GRAHAM BELL

Sendo a pipa um objeto muito comum no codi-tiano de seus alunos do ensino médio, o profes-sor de matemática Fabiano Rapozo decidiu en-sinar geometria através da construção de pipas tetraédricas propostas por Alexander Graham Bell. Com a pipa, os alunos puderam medir e calcular áreas e volumes, tornando o estudo da matemática mais prazeroso. “Optei especi-ficamente pela pipa tetraédica porque suas ca-racterísticas privilegiam estudar tanto geometria plana como espacial”, colocou o professor em seu projeto, além de estimular a percepção da matemática no dia a dia.

Antes da confecção das pipas, o professor fez questionamentos aos alunos para verificar o co-nhecimento que eles tinham sobre cálculo de área, quantidade de papel necessário (em vir-tude do tamanho e da quantidade de pipas a serem produzidas) etc., e foi constatado que os alunos não conseguiam diferenciar área de vo-lume, nem mesmo fazer os cálculos necessários. O projeto, então, foi aprofundado e os concei-tos explicados.

“Enquanto uns duvidavam que a pipa alçaria voo, outros usaram seus smartphones para pes-quisar na internet e já queriam até encapar logo a pipa e colocá-la para voar”, contou o pro-fessor Fabiano. O processo foi explicado e o experimento deu certo. “Os alunos aprenderam a fazer medições e calcular áreas e volumes, mas acredito que a maior aprendizagem foi conquistar a percepção de que podem utilizar a matemática para resolver problemas práticos do dia a dia.”

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Rio de Janeiro Colégio Estadual Leonel Azevedo

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Professor Fabiano Rapozo de Carvalho Minha vida profissional se divide em antes e depois do Prêmio Shell de Educação Científica. Antes, embora já houvesse reconhecimento dos alunos e de alguns colegas educadores, eu ainda sentia certo descrédito por parte de algumas pessoas em relação aos projetos que desenvolvia. Depois da premiação tudo mudou. Veio a valorização profissional e mais liberdade para desenvolver meu trabalho, além de diversas reportagens em jornais. Cheguei até a ser reconhecido nos locais que costumo frequentar.

A premiação em dinheiro ajudou a equilibrar meu orçamento doméstico, mas a melhor parte foi a viagem a Londres, onde pude conhecer outras técnicas pedagógicas

e um ambiente cultural que enriqueceu minhas aulas.

Recebi uma Moção de Aplausos e Congratulações na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – mais um fruto decorrente dessa premiação, que é considerada o Oscar da educação científica no Brasil. 

Atualmente, estou com alunos do primeiro ano do ensino médio e não reeditei o projeto porque fugiria do conteúdo programático deles, mas consegui colocar em prática o “Desafio das Torres”, aprendido com professores ingleses no Science Museum.

Tenho outros projetos em mente. Pretendo trabalhar com tecnologia e reciclagem de materiais. A meta agora é aproveitar a bagagem adquirida

na Inglaterra para ampliar os horizontes aqui no Brasil. 

Além dos canudinhos e fita adesiva, também são utilizados tesouras e uma trena, materiais baratos e fáceis de adquirir, o que faculta a reprodução da prática em qualquer escola. Vence o grupo que monta a torre mais alta, com aplicação de raciocínio lógico quantitativo, geometria e muita habilidade de nossos futuros engenheiros.

Tenho outros projetos em mente. Pretendo trabalhar com tecnologia e reciclagem de materiais, mas só posso revelar os detalhes depois que acontecer. Estou aberto a parcerias, e a meta agora é aproveitar a bagagem adquirida na Inglaterra para ampliar nossos horizontes aqui no Brasil. 

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2017OS DA SILVA E OS DA SELVA O ENSINO DE ECOLOGIA E A PRESERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Bom Jardim C.E. Dr. Péricles Corrêa da Rocha

O projeto do professor Edevaldo da Silva Olivei-ra obteve o primeiro lugar na edição de 2017 do Prêmio Shell de Educação Científica na cate-goria ensino fundamental II.

Com o intuito de “investigar o comportamento dos alunos em relação à fauna silvestre após te-rem estudado ecologia”, o professor levou suas turmas a campo para que conversassem e entre-vistassem moradores de uma pequena reserva da mata atlântica sobre os animais silvestres ali presentes. Isso porque, com tantos preconceitos e lendas rondando esses animais, muitos alunos tinham uma postura distanciada e até agressiva em relação a eles e à natureza.

Assim, a partir de um roteiro, os estudantes partiram para a aula de campo na Pedra de Santa Tereza, no município de Bom Jardim, onde, como forma de levantamento, entrevis-taram os moradores da região como se fossem jornalistas, além de terem como tarefa obser-var a área e perceber vestígios de animais no entorno. Com as entrevistas, “esperava-se que os alunos pudessem aumentar suas percepções

em relação à riqueza do ambiente em que vi-vem e, também, se dar conta das modificações que ocorreram”, além do impacto da presença humana nessas áreas e na diminuição da bio-diversidade.

Eles descobriram que muito do que se propagava eram crendices e que a falta de conhecimento levava a atitudes negativas por parte das pes-soas. Após o levantamento e a análise, os alunos fizeram uma possível teia alimentar da região.“O esquema da teia deu origem a um jogo no qual cada aluno representa uma população. A ideia principal do jogo é fazer com que os alunos per-cebam a fragilidade de um fragmento de mata atlântica. Por isso as populações são tão peque-nas e as interferências antrópicas tão devastado-ras. Não há um vencedor individual. Se todas as populações tiverem, pelo menos, a metade do número de indivíduos ao final de três rodadas, quem vence é a mata atlântica.”

Em campo, os alunos puderam estudar fotossín-tese, relações ecológicas, teias e cadeias ali-mentares, além de espécies exóticas.

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Professor Edevaldo da Silva OliveiraApós ganhar o prêmio, o carinho e o respeito dos alunos e colegas de trabalho aumentaram ainda mais. Sinto que os alunos, especialmente os da escola pela qual ganhei o prêmio, dividem comigo o orgulho de eu ter sido um dos vencedores. Sinto que alguns acreditam mais na escola e no futuro deles. Certamente, com a viagem a Londres, tenho uma bagagem muito maior, com muito mais conhecimento e experiências para oferecer e contribuir com a formação deles.

Tenho sido convidado para participar de eventos pelo CEDERJ/Polo Nova Friburgo para falar sobre a premiação e, consequentemente, mostrar a importância dessa instituição em minha vida, bem como

sobre sua qualidade de ensino. Também fui convidado para falar sobre o Prêmio Shell e a importância da conservação do meio ambiente no município de Bom Jardim, onde se localiza o C. E. Dr. Péricles Corrêa da Rocha. Foi um evento que visou estimular o comércio e o turismo ecorrural no município.

Na vida pessoal, o Prêmio Shell de Educação Científica coroou uma história de muita luta, persistência e fé, pois vindo de uma família muito pobre e problemática, não havia quem pudesse acreditar em tamanha reviravolta... A premiação deixou uma grande vontade de ir além, de aprender mais, conhecer mais, fazer mais...

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2017UMA TACADA DE MESTRE FACILITANDO O ENSINO DA MATEMÁTICA

ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Nova Iguaçu CIEP 394 – Cândido Augusto Ribeiro Neto

Além da dificuldade com o aprendizado de matemática, que pode ser algo comum entre os estudantes, o professor Emerson de Souza Quei-roz ainda enfrentava um obstáculo maior: mui-tos de seus alunos vinham de um contexto de violência e de falta de estrutura familiar, vivendo em meio ao tráfico de drogas, facções crimino-sas e homicídios no bairro em que a escola se situa, na Baixada Fluminense. A baixa frequên-cia e baixo rendimento escolar eram, portanto, comuns. Para lidar com isso da melhor forma possível, ele usou como tática observar os alu-nos e apreender algo do próprio lazer deles: uma brincadeira chamada taco. Decidiu, então, aplicar a ela conceitos matemáticos, além de usar música como ferramenta para memoriza-ção. “Ao analisar as regras e a dinâmica da brincadeira, resolvi propor aos alunos uma par-tida de taco, atividade baseada na trajetória da bolinha e na distância entre os jogadores no momento da tacada. A notícia de que a turma jogaria taco se espalhou, alcançando os alunos faltosos”, disse Emerson.

O projeto foi posto em prática em três etapas: observação, construção e análise de gráficos de funções quadráticas. Primeiro, os alunos ob-servaram a brincadeira e produziram um relató-

rio com os conceitos de matemática e física que conseguiam identificar. A partir daí construíram funções quadráticas para entender a trajetória da bolinha, fazer o cálculo de raízes e vérti-ces da parábola. Uma vez que os alunos fazem grande uso da tecnologia, o professor aprovei-tou para utilizar um aplicativo gratuito de smart-phone chamado Mathstep, que possibilita cálcu-los matemáticos complexos.

A música foi empregada para fazer com que os alunos pudessem memorizar a fórmula de Bhaskara, utilizada para o cálculo das raízes da função. Por fim, o professor fez avaliações personalizadas para verificar a compreensão dos conceitos estudados na brincadeira. Assim, as funções de segundo grau e sua utilização para resolução de problemas foram aprendidos de forma lúdica e com resultados muito melho-res comparados com os das aulas tradicionais. “Analisando o desempenho dos alunos no pri-meiro e no segundo bimestre, conclui-se que a experiência foi positiva, pois as médias do pri-meiro bimestre ficaram abaixo do esperado. Já no segundo, mais de 65% dos alunos obtiveram média superior de 70 pontos, o que mostra a evolução na aprendizagem”, declarou o pro-fessor.

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Professor Emerson de Souza QueirozSer premiado pelo Programa Shell de Educação Científica significa o reconhecimento e a valorização dos meus projetos dedicados à educação, a motivação para continuar realizando boas práticas de ensino. A oportunidade de conhecer o sistema educacional de um país europeu e os conhecimentos adquiridos na visita de estudos com possibilidade de implantação no meu país significaram crescimento profissional, pois, além de agregarem valor ao meu currículo, ampliaram meus

conhecimentos no campo da educação científica.

Na vida pessoal, o contato com outra cultura, lugares que só conhecia por meio de livros e uma viagem que não tinha a expectativa de realizar naquele momento da minha vida, tudo isso foi muito importante. Meu filho, de nove anos, relatou para a sua professora que o dia da premiação foi o momento mais feliz da vida dele e que deseja ganhar um prêmio também. Fui para ele um referencial de sucesso e dedicação aos estudos!

Este ano não tive a oportunidade de ministrar aulas para turmas com os descritores aplicados no projeto, contudo realizo outros projetos com jovens e adultos do período noturno. No entanto, disponibilizei meu trabalho aos professores que o desejam aplicar com seus alunos. Pretendo ainda realizar um desdobramento do projeto em forma de oficina para atender outras escolas das redondezas, incentivando boas práticas na educação.

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2017A MATEMÁTICA QUE FAZ A MÚSICA POSSÍVEL APLICAÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE O SOLFEJO E O ESTUDO DAS FRAÇÕES

ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Petrópolis Escola Municipal Bataillard

Pretendendo “estabelecer conexões entre a matemática e a música através da exploração da pauta musical com enfoque no estudo das frações”, a professora Márcia Viana criou uma atividade envolvendo música e criatividade pa-ra aplicação de conhecimentos já fornecidos anteriormente aos alunos: frações, frações equi-valentes, adição de frações com o mesmo de-nominador e com denominadores diferentes. Propôs então a contagem informal dos tempos de músicas trabalhando a representação das frações, tornando o que poderia ser abstrato e meramente decorado em algo mais bem com-preendido, além de ter a música como instru-mento de estímulo e participação dos alunos.

Dentro da consolidação do ensino de funções e frações, os alunos realizaram operações de

adição através do formato do pentagrama, em que as notas são separadas por compasso e pela fórmula desse compasso em uma música.

O projeto se deu em duas etapas: aulas ex-positivas com ênfase na utilização de recur-sos, materiais e experimentos; discussão sobre a relação entre a matemática e a música. A representação de frações se dá com a conta-gem das palmas (tempos) em músicas variadas – que serão depois apresentadas em partitu-ra impressa. As partituras são discutidas, e um painel coletivo é montado com a fórmula do compasso das músicas escolhidas. A dinâmica entre os alunos termina com uma apresentação de um jogo de perguntas e respostas, tendo como fundo musical as próprias músicas que eles escolheram analisar.

As partituras são discutidas, e um painel coletivo é montado com a fórmula do compasso das músicas escolhidas.

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Professora Márcia Maria Viana Suriano

O prêmio foi uma vitória pessoal e profissional muito marcante e obviamente sem precedentes. Trabalhar com projetos e atividades diferenciadas é uma paixão. Porém o reconhecimento desse tipo de trabalho não é aparente na maioria das vezes. Dificilmente o professor tem o apoio necessário. Foi uma oportunidade de mostrar

o potencial e a importância desse tipo de trabalho.

O projeto não foi desenvolvido com o intuito de me inscrever no prêmio. Nunca havia pensado em nada do tipo, mas sou muito grata pela inspiração de fazê-lo. O prêmio tanto reafirmou a qualidade do trabalho desenvolvido por mim e pela escola quanto me motivou ainda mais.

Minha formação me deu subsídio para o desenvolvimento desse tipo de proposta. Trabalhar de forma diferenciada é uma meta diária, nem sempre fácil de ser alcançada. No meu caso, precisei despender tempo extra para aprender o necessário, bem como para elaborar a proposta e as atividades. Mas busquei utilizar

recursos que estivessem ao nosso alcance, pois esse é outro desafio do cotidiano escolar.  

Foi a segunda vez que apliquei o projeto, e a ideia é fazê-lo anualmente, pois é específico para a sexta série e tem vínculo com o currículo e com a nova Base Nacional Comum Curricular. Atividades similares, de investigação e que estimulam a criatividade e o raciocínio fazem parte do cotidiano dos meus alunos ao longo do ano e em todas as séries. Atualmente, os alunos da sexta série estão na expectativa de participar do projeto, e os que participaram o ano passado terão um projeto similar com novo conteúdo e nova abordagem dentro do mesmo perfil de partir do assunto de interesse deles.

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2017PRESERVANDO

AS RAÍZES DO MANGUE

ENSINO MÉDIOESPÍRITO SANTO Vitória Escola Estadual Almirante Barroso

O projeto da professora Ivina Langsdorff San-tana colocou os alunos para aprender química em campo, na prática. Com o intuito de esti-mular a participação dos estudantes do ensino médio, já desmotivados com o estilo padroni-zado de aulas teóricas, a professora colocou como desafio que eles encontrassem um pro-blema na comunidade na qual a escola está inserida e encontrassem uma solução usando conhecimentos químicos de sua disciplina. A questão encontrada e escolhida foi a produ-ção de panelas de barro da Associação das Paneleiras de Goiabeiras (AGP), uma vez que para fabricarem seus produtos, as paneleiras extraem argila e madeira do mangue, sendo que da madeira é retirado o tanino para tingi-mento das panelas. Essa extração degrada o meio ambiente da região, uma vez que exige a retirada da casca da árvore do mangue ver-melho, danificando a árvore.

Com a proposta, então, de reduzir esses da-nos, foram colocados em prática os princípios da química verde, no qual, “para que o pro-cesso seja ambientalmente favorável e sustentá-vel, deve-se reduzir a quantidade de átomos do processo e estimular a catálise, ou seja, buscar minimizar o tempo e aumentar a eficiência do

processo”. Os alunos estudaram os processos que interferem na extração e que alteram a ve-locidade de reação, fizeram testes em labora-tórios, experimentaram uma produção de tinta de maneira diferente e levaram o resultado para que fosse aprovado pelas paneleiras. Ajustando as variáveis, como temperatura e área superfi-cial de contato, conseguiu-se melhorar a veloci-dade e diminuir o uso de matéria-prima, o que reduz os danos e aumenta a produtividade das paneleiras. O projeto é um ótimo exemplo de como os alunos podem participar mais e inter-ferir em sua comunidade, contextualizando os conhecimentos da sala de aula.

Os processos químicos abordados foram: dife-renciação de soluções, coloides e suspensões; classificação da tinta de tanino como um coloi-de; concentração de cascas por litro de água usada na extração da tinta; montagem de uma escala de cores relacionando a intensidade da cor e a concentração; estudo de fatores que interferem na velocidade de extração de tinta de tanino; desenvolvimento de um méto-do mais rápido e sustentável para a extração da tinta de tanino e aplicação da solução de tanino aprimorada na fabricação de panelas de barro.

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Professora Ívina Langsdorff SantanaApós receber o prêmio, me senti mais segura de ter escolhido a profissão certa e mais motivada a continuar trabalhando e inovando em sala de aula. O prêmio também me trouxe reconhecimento perante a escola e a sociedade, bem como ajudou a divulgar minha prática pedagógica entre professores.

A formação oferecida durante a viagem expandiu meus horizontes profissionais e pessoais. Conheci aulas práticas que hoje aplico em sala de aula, conheci mais sobre o método STEM, pude perceber a importância de uma educação científica de

qualidade, bem com conhecer novas ideias e formas de organização do ensino que podem melhorar o problema do ensino médio brasileiro.

Costumo dizer que o prêmio foi um divisor de águas na minha carreira e, claro, a mudança foi para melhor e seus frutos não ficaram estagnados. Compartilhei a experiência e o material que trouxe de Londres com os demais professores da escola, que, assim como eu, querem inovar suas aulas.

Nós trabalhamos com a Associação das Paneleiras em Vitória. Para produzir a panela de barro capixaba, elas produzem uma tinta a partir da árvore Rhizophora

mangle. Essa extração leva à morte do vegetal ao longo do tempo, causando degradação ambiental.

Em 2017, com o projeto, conseguimos desenvolver uma nova extração que utiliza menos casca de árvore e protege o mangue. Este ano, uma outra turma da escola, inspirada em nosso projeto, deu continuidade à ação junto às paneleiras, desenvolvendo um outro método de extração de madeira que protege a árvore por mais tempo. Esse trabalho foi uma parceria entre as áreas de química e biologia da Escola Almirante e a Associação das Paneleiras de Goiabeiras.

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2017RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO PROCESSO DE ENSINO –

APRENDIZAGEM DE MATRIZES

ENSINO MÉDIOESPÍRITO SANTO Ibatiba EEEFM Professora Maria Trindade de Oliveira

“Sabe-se que a tecnologia por si só não é ca-paz de resolver os problemas de aprendizagem dos conteúdos matemáticos, mas pode ser uma ferramenta auxiliar com potencial para direcio-nar o aluno para um novo olhar sobre a ma-temática.” Essa é a tese da professora Mirele Ferreira, uma das vencedoras do Espírito Santo. O projeto apresentado por ela teve o intuito de ajudar os alunos a exercitar o raciocínio lógico e o uso prático da matemática, sem ter que re-correr às regras decoradas.

Os alunos começaram por analisar uma situa-ção-problema e, em grupos, tentar solucioná-la através do raciocínio matemático. O recurso tecnológico usado foi o vídeo, que apresentava uma cooperativa de produtores de leite – o cál-culo feito pelos alunos pretendia descobrir qual o melhor local para a construção de um tanque entre as fazendas, de modo a ser justo com to-dos os produtores da cooperativa.

A seguir, um segundo exercício teve como objeti-vo demonstrar de “maneira significativa, a partir da análise, debate e resolução de uma situação do cotidiano, os conceitos de operações de adi-ção, subtração e multiplicação com matrizes”. Uma série de perguntas foi feita para cada situa-ção, fazendo com que os alunos analisassem e descobrissem os cálculos necessários a ser feitos em cada momento.

“Concluímos que após demonstrarmos as técni-cas de resolução de problemas junto com inova-doras formas de aplicabilidades, nosso objetivo com a realização desse trabalho foi alcançado, pois idealizamos e realizamos uma aula com sugestões de problemas de matrizes para serem trabalhadas abordando exclusivamente os con-teúdos do ensino médio.”

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Professora Mirele Ferreira Brandão de FreitasNós, profissionais da educação, infelizmente ainda somos pouco valorizados. Temos grandes talentos na área que a cada dia se reinventa, que cria, busca motivação no amor pela educação para fazê-la acontecer. O Prêmio Shell é uma iniciativa muito importante, pois me fez acreditar ainda mais em meu potencial profissional e serviu como incentivo para sempre inovar minha prática docente.

Todo reconhecimento alcançado em nossa vida profissional reflete em nossa vida pessoal, pois nossos familiares e amigos compartilham dessa alegria.

Meu esposo foi sempre um grande incentivador na minha vida profissional e me encorajou a realizar a inscrição no Prêmio Shell. Ele esteve comigo na viagem realizada, na qual tivemos a oportunidade de conhecer o Museu do Amanhã, o AquaRio e viver momentos maravilhosos que ficarão sempre em nossa memória.

Mas o meu incentivo em desenvolver essa aula diferenciada partiu de um aluno, quando iniciava o estudo do conteúdo de matrizes em sua turma, que questionou: “Pra que estudar esse conteúdo? Qual aplicação

que esse monte de números enfileirados terá no meu dia a dia?”.

Percebi que se continuasse a explicação do conteúdo de forma descontextualizada, não seria bem-sucedida, não iria despertar interesse por parte dos alunos e, consequentemente, não haveria aprendizado. Então elaborei o meu projeto trabalhando o conteúdo de matrizes de maneira contextualizada, e o resultado foi excelente, pois os alunos conseguiram atingir a maior média no PAEBES nessa habilidade.

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2017CÁLCULO DE MEDIDAS INACESSIVEIS

AS ALTURAS QUE NOS CERCAM

ENSINO MÉDIOESPÍRITO SANTO Colatina CEEMTI Conde de Linhares

Seguindo o modelo educacional da Escola Vi-va, onde os estudantes são incentivados a refle-tir sobre quem são e quem gostariam de ser e a construir um currículo diversificado, a profes-sora de matemática Larissa Vitorino, do Espírito Santo, faz com que semanalmente seus alunos apliquem conhecimentos abstratos ensinados em aula a situações reais do cotidiano. Um des-ses conceitos trabalhados foi o da relação de semelhança de triângulos, que ajuda no cálculo de objetos por vezes inacessíveis, projeto que deu a Larissa o terceiro lugar da edição 2017 do prêmio.

“A matemática no ensino médio tem um valor formativo, que ajuda a estruturar o pensamento e o raciocínio dedutivo, porém também desem-penha um papel instrumental, pois é uma ferra-menta que serve para a vida cotidiana e para muitas tarefas específicas em quase todas as atividades humanas”, colocou ela em seu tex-

to. Com a intenção de se aproximar dos alu-nos e ouvir suas demandas, o projeto propôs o enfrentamento de desafios de profissionais das áreas de engenharia e arquitetura – sonho de muitos ali. Após revisarem conceitos, os alunos formaram grupos, e cada um decidiu uma altu-ra inacessível para ser descoberta através da geometria.

“A atividade possibilita que os alunos procu-rem saber como diferentes profissionais envol-vidos em planejamento, execução de projetos e construção desenvolvem suas tarefas e reali-zam as medições. Possibilita ainda resolver uma situação-problema envolvendo conhecimentos numéricos, conhecimentos geométricos de es-paço, forma e medidas de grandeza.” Ao final do processo, que exigiu criatividade, iniciativa e esforço por parte dos estudantes, os grupos produziram vídeos para expor como e em que trabalharam.

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Professora Larissa Vitorino de Oliveira e Lima Vial PereiraO prêmio foi um divisor de águas na carreira e na vida pessoal. Saber que suas realizações em sala de aula podem fazer diferença imediata na vida das pessoas é mais do que gratificante; é maravilhoso. Ter conseguido dividir esse momento com meus alunos e ouvir deles que

estudar vale a pena foi ter ganho o maior de todos os troféus. Valeu a pena viver para ser educadora.

Levei o projeto para outra escola e também foi um sucesso. Inclusive fizemos algumas variações dele. Esse é o sentido de trabalhar de forma diferenciada.

“A matemática no ensino médio tem um valor formativo, porém também desempenha um papel instrumental, uma ferramenta que serve para a vida cotidiana e para muitas tarefas específicas.”

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2016COMBATE ÀS 3 DS (DENGUE, ZIKA E CHIKUNGUNYA) E SEUS VILÕES!

ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Rio de Janeiro Escola Municipal Minas Gerais

O projeto da professora de ciências Inês Mauad teve por objetivo conscientizar os alunos do Clu-be de Ciências, e posteriormente de suas turmas do 8º ano, sobre dengue, zika e chikungunya, doenças muito presentes no Rio de Janeiro, bem como sobre suas formas de transmissão através da coleta, identificação e análise das larvas do mosquito Aedes aegypti.

Esse trabalho envolveu não apenas os conhe-cimentos de ciências, mas também de portu-guês, já que os alunos produziram um jornal informativo para ser distribuído à comunidade escolar. Dessa forma, puderam se ver e atuar como “cidadãos ambientais” de uma comunida-de, capazes de, através de seus conhecimentos, conscientizar outras pessoas sobre aumento do número de casos das doenças e a proliferação das larvas. A influência das mudanças climáti-cas nesse processo também foi discutida, estimu-lando uma compreensão do mundo ao redor e os impactos climáticos na vida cotidiana.

Os alunos também aprenderam a utilizar a lupa e o microscópio para fazer análise e detectar a presença das larvas do mosquito.

O projeto foi desenvolvido após a participação da professora no Masterteachers, da Nasa, que

deu aos selecionados a oportunidade de estu-dar e desenvolver protocolos de ação preven-tiva do Aedes aegypti. Tais protocolos foram adaptados à realidade da comunidade escolar pelos alunos, que, por ocasião do Dia do Meio Ambiente, promoveram a feira de ciências, na qual outros alunos e convidados puderam obser-var as fases de desenvolvimento das larvas do Aedes aegypti pelo microscópio e foram pro-movidas atividades lúdicas.

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacio-nais, citados pela professora Mauad no proje-to, “a principal função do trabalho com o tema meio ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e a atuar na realidade socioambiental de modo compro-metido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, tanto local quanto global”.

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Professora Inês Maria MauadO prêmio mudou a minha vida profissional e pessoal de diversas maneiras: em 2017, fui convidada para assistir a cientista Russanne Low do NASA/GLOBE em três workshops no Brasil e em mais três em 2018; conquistei o título de primeira master trainer de hidrologia – mosquitos, do NASA/GLOBE, associada à Agência Espacial Brasileira; em 2018, fui convidada para proferir palestras em um workshop internacional, em Foz do Iguaçu, e em dois nacionais – Manaus e Brasília; ganhei o Grant Award 2017 do consulado americano para montar três workshops em escolas do município do

Rio de Janeiro com a mesma temática: coleta, identificação e mitigação de criadouros de mosquitos que transmitem doenças.

Além disso, porém não menos importante, o clube de ciências da E. M. Minas Gerais ganhou o primeiro lugar na Feira Virtual de Ciências do GLOBE, o que permitiu a apresentação do projeto no Simpósio Internacional do GLOBE – GLE na Irlanda.

Com a projeção desse trabalho com alunos e professores em coleta, identificação e mitigação de criadouros de mosquitos que transmitem doenças, fui convidada pelo

consulado americano para, com meus alunos do clube de ciências, ministrar três workshops para escolas do município do Rio de Janeiro com a mesma temática.

A E. M. Minas Gerais sob minha orientação foi escolhida, pelo Departamento de Estado Americano, para participar do Projeto GLOBE Zika Education and Prevention, com patrocínio para apresentação de projetos sobre o zika em simpósio internacional na Irlanda.

Todos esses reconhecimentos são frutos de um trabalho realizado em equipe e impulsionado pelo Prêmio Shell de Educação Científica.

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ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Porto Real CIEP 487 Oswaldo Luiz Gomes

OS FUNGOS A PRESENÇA NO AMBIENTE E SEU USO NA COZINHA ATRAVÉS DA FERMENTAÇÃO

Professora de ciências há mais de dez anos, Da-niele Oleinik, vencedora do prêmio em 2016, propôs a seus alunos do ensino fundamental um estudo mais prático, sobre o aparecimento de fungos, lançando mão da técnica da pirâmide invertida, na qual o professor dá elementos para que os alunos construam seus próprios conhe-cimentos. “Em uma escola em que os alunos apresentam baixo interesse, padrão mínimo de sobrevivência e falta de expectativa em relação ao futuro, situação bem diferente da divulgada pela mídia, o professor torna-se o principal for-mador de sonhos e ampliador de horizontes”, colocou ela.

Tendo essa abordagem prática como base, os alunos tiveram a oportunidade de descobrir fun-gos em seu próprio ambiente: com um cotone-te, fizeram coletas em bebedouros, banheiros e passaram esses cotonetes “contaminados” em pequenos potes com gelatinas. Uma semana depois, eles já podiam perceber colônias de microrganismos, além de aprenderem, com o uso do microscópio, como os fungos podem es-tar em muitos locais, mesmo quando não são vistos a olho nu.

Os estudantes, então, realizaram um processo de compostagem com casca de alimentos e

ovos. Com o tempo, foram aprendendo a ob-servar a decomposição dos resíduos, perceben-do então a importância da ação dos fungos, que também são usados pela indústria farma-cêutica na produção de antibióticos. A profes-sora introduziu textos de leitura, além de pedir aos alunos para que relatassem suas experiên-cias por escrito.

Já para o processo de fermentação, os estudan-tes puderam observar a liberação do gás carbô-nico, que infla uma bexiga colocada na boca de uma garrafa com fermento e vinagre. Para deixar a experiência ainda mais interessante, os alunos produziram seus próprios pães, obser-vando o crescimento da massa pela produção do gás carbônico e, posteriormente, aprende-ram a fazer requeijão a partir de leite azedo. Compreenderam então a importância de manter os alimentos sob refrigeração para que isso im-peça o crescimento de microrganismos.

“Abordar o assunto permitiu que os alunos veri-ficassem que o homem se beneficia dos fungos por meio da fermentação”, colocou Daniele. Pa-ralelamente a isso, a atividade de fazer pão, “além de ser enriquecedora, possibilitou que muitos alunos pensassem em fazer pães como fonte de renda”.

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OS FUNGOS A PRESENÇA NO AMBIENTE E SEU USO NA COZINHA ATRAVÉS DA FERMENTAÇÃO

Professora Daniele da Costa Marcal Oleinik

Ganhei o prêmio com um trabalho sobre fungos, utilizando as metodologias ativas da aprendizagem e partindo das experiências que foram as situações motivadoras para dar significado ao conteúdo. As aulas práticas fazem parte da minha rotina, e nos anos posteriores ao prêmio realizei a mesma atividade com outros olhares e enfoques. Assim, no lugar de pão, fiz

pizza na escola. Mesmo com algumas dificuldades para desenvolver o projeto (infraestrutura e custos), continua valendo a pena trabalhar dessa forma, tanto no que se refere à motivação dos estudantes quanto em relação ao rendimento apresentado.

Após a notícia da premiação, a empresa Shell enviou uma produtora à escola para que eu repetisse a aula e eles pudessem fazer um vídeo, o qual foi exibido na premiação. Hoje temos mais de 7 mil visualizações no facebook da escola e centenas de comentários, o que indica a valorização e a ampla divulgação que houve por parte da comunidade escolar, pais de alunos, professores etc.

A viagem a Londres foi uma oportunidade de muito aprendizado. Pude

compreender como a história da colonização interfere inclusive nos dias de hoje, pude conhecer diferentes práticas pedagógicas e também tive a oportunidade de entrar em contato com novas culturas, pessoas e lugares. Hoje sinto-me valorizada e venho sendo uma disseminadora dessa mudança junto a outros profissionais da minha escola.

Além disso, após ser premiada, promovi diversas oficinas, participei de palestras e reuniões com inúmeros professores. Participei ainda do processo seletivo para o mestrado em ciências e matemática na UFRRJ, e ter sido ganhadora desse prêmio fez toda a diferença em minha pontuação, levando-me a conquistar o primeiro lugar, o que talvez tenha sido o maior prêmio.

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2016DO BOLSO PARA AS MÃOS:

O SMARTPHONE COMO UMA NOVA

ALTERNATIVA NA AULA DE MATEMÁTICA

ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Rio Claro Colégio Estadual Alfredo Pujol

O projeto do professor de matemática do en-sino fundamental Marcos Paulo Henrique, um dos vencedores do prêmio em 2016, abordou o papel cada vez maior que a tecnologia e os smartphones exercem na vida dos jovens (mesmo em uma cidade do interior tipicamen-te rural). Assim, traz o uso de um aplicativo, o GeoGebra, para que seus alunos de doze e treze anos possam aprender os conceitos de retas paralelas cortadas por uma transversal. “A ênfase dada à localidade em que a escola está inserida deve-se ao fato de que a carência de oportunidade de trabalho na região repercute na falta de expectativa que, de certa forma, é disseminada entre os alunos que não identifi-cam no conhecimento a oportunidade de cres-cimento pessoal e profissional”, justificou Mar-cos Paulo.

Com os smartphones em mãos cria-se um am-biente de “laboratório de informática” indepen-dente de salas de computação, propondo uma nova forma de ensino e aprendizado e que po-de acontecer em qualquer espaço.

Como base teórica, o professor trouxe Bairral, Assis e Silva (2015): “Os autores argumentam que o uso do smartphone como ferramenta pe-dagógica pode aguçar a curiosidade dos estu-dantes, promover a criticidade e a autonomia por intermédio de atividades investigativas, agregando significados com possibilidade de uma aprendizagem mais eficiente”.

Com o GeoGebra, então, os estudantes pude-ram testar seus conhecimentos prévios e apren-der as relações entre pares de ângulos formados a partir de uma paralela com uma transversal, gerando conversas e debates em grupo. “O que deixa claro que o smartphone pode ser, sim, um aliado, mas antes é preciso identificar singulari-dades da turma, percebendo as peculiaridades do local em que a escola se encontra inserida, a fim de construir um planejamento que se adeque às demandas. Enfatizamos que o acesso e a aula no laboratório agora não têm hora marca-da para acontecer. Do bolso dos alunos para a palma das mãos podem estar novas alternativas para aprender matemática.”

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Professor Marcos Paulo HenriqueSer vencedor do Prêmio Shell é dar luz ao reconhecimento do trabalho desenvolvido. De alguma forma esse reconhecimento traz mais credibilidade ao trabalho, e aquilo que antes era visto com desconfiança – no meu caso, o uso do smartphone em sala de aula –, se tornou algo inovador e digno de atenção até mesmo por parte dos mais céticos.

Lecionar em uma escola pública é um desafio constante. Penso que o professor tem duas opções: fazer mais do mesmo e aceitar que todas as dificuldades impostas estão em uma esfera macro e que ele jamais conseguirá mudar ou

arregaçar as mangas e tentar, pelo menos tentar. E desde que ingressei no magistério tenho escolhido a segunda opção. Às vezes você acerta, outras não.

Destaco também a oportunidade de conhecer um pouco da maneira como uma outra nação se organiza em torno da cultura e seu sistema de ensino (visitar escolas, universidades, museus etc.). Foi fantástico!

Como desdobramento, saliento a necessidade de uma constante atualização que veio por intermédio do ingresso no doutorado em 2017. 

"O smartphone pode ser, sim, um aliado, mas antes é preciso identificar singularidades da turma, percebendo as peculiaridades do local em que a escola se encontra inserida, a fim de construir um planejamento que se adeque às demandas.”

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2016O QUE HÁ EM COMUM ENTRE PILHAS, CELULARES, TABLETS E PRODUTOS DE LIMPEZA?

ELETROQUÍMICA, A QUIMICA DO COTIDIANO

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Rio Claro CIEP 456 Marco Polo

Como parte do currículo mínimo de química no ensino médio consta o estudo da eletroquími-ca. Com o objetivo de apresentar uma ativida-de mais lúdica para o ensino de seus alunos, o professor Saulo Paschoaletto propôs a confec-ção de pilhas, baterias e componentes de lim-peza utilizando materiais reutilizáveis, reapro-veitáveis, bem como equipamentos e reagentes simples para verificação. O projeto também foi considerado interdisciplinar, uma vez que no pri-meiro bimestre os alunos haviam trabalhado o tema eletricidade.

Um dos objetivos colocados pelo professor Sau-lo, vencedor da edição de 2016, foi o de que os alunos desenvolvessem um “censo crítico so-bre questões ambientais, envolvendo o descarte inadequado, no meio ambiente, de metais pe-sados, presentes em pilhas e baterias”. Entre os conteúdos apresentados na atividade estavam: reconhecer o agente redutor e o agente oxidan-te por meio do cálculo do número de oxidação, prever a espontaneidade ou não de uma rea-ção de oxidorredução a partir de uma série de reatividade; reconhecer o processo de eletrólise na obtenção de substâncias.

O projeto intercalou aulas teóricas e práticas, com exposição dos conceitos, pesquisa na inter-net e discussões em grupos. Ao final do proces-so, os estudantes redigiram um trabalho sobre as consequências de se descartar pilhas e bate-rias no meio ambiente.

Sem esquecer de considerar o uso de tecnolo-gias pelos jovens de hoje, Saulo compartilhou links e sugestões para um grupo de Whatsapp, facilitando e estimulando a participação dos alunos, que tiveram que recorrer à internet para ver sugestões de como construir pilhas e baterias.

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Professor Saulo Paschoaletto de AndradeSer reconhecido pelo trabalho docente, numa sociedade na qual a grande parcela menospreza o profissional da educação, já é algo admirável. Chegar na escola há pouco tempo, se comparado aos demais colegas, e ter o privilégio de conquistar o Prêmio Shell de Educação Científica com a escola é, sem sombra de dúvida, gratificante para qualquer professor que almeja desenvolver seu trabalho com dedicação, carinho e, acima de tudo, respeito pela educação pública. Hoje, meu trabalho é valorizado, meus projetos

não são “coisas para dar mais trabalho aos alunos”, e o relacionamento com os discentes é muito tranquilo.

Minha vida pessoal mudou bastante: logo após a premiação e a viagem educacional, fui convidado para fazer parte de uma equipe maravilhosa na rádio local, para falar sobre projetos educacionais; recebi o título de Mérito Legislativo da Câmara Municipal de Três Rios, pelos excelentes trabalhos prestados à comunidade; comecei a trabalhar com educação científica (aulas de laboratório) numa instituição

de ensino privado e continuei a desenvolver esse e outros projetos no CIEP 456 Marco Polo, que conquistaram premiações locais em feiras de ciências.

Continuo trabalhando com o projeto nas turmas da terceira série do ensino médio. A compreensão do conteúdo é facilitada dessa forma, e os alunos adoram trabalhar no laboratório. Neste ano fiz uma pequena adaptação para atender o excedente quantitativo de alunos, uma vez que o espaço físico nos laboratórios de informática e de ciências é limitado.

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2016ESTUDO DAS CONDIÇÕES TÉRMICAS DA SALA DE AULA

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Rio de Janeiro Colégio Estadual Professor José de Souza Marques

Considerando o forte calor do Rio de Janeiro, o projeto do professor de física do ensino médio Hercílio Pereira Codova consistiu em analisar as condições de conforto e sensação térmica da sala de aula. Para isso, usou uma placa Arduí-no, que registra os dados obtidos em um cartão. Sua proposta era que os alunos não fizessem um projeto simples e rápido, durante o período de uma aula, mas sim entendessem a dificuldade e o esforço que exigem uma pesquisa científica de longo prazo e bem-feita.

Para isso, eles fizeram medições durante três semanas. Com os dados compilados, puderam compará-los e ter uma noção mais precisa do conforto térmico e da sensação térmica na sala.

“A física por trás da sensação térmica é comple-xa. Temos a abordagem das formas de transmis-são de calor entre meios, a pressão de vapor que resulta na umidade relativa do ar, as me-didas de temperatura, a velocidade do ar que remove o nosso suor, causando a sensação de frescor. Essa prática pedagógica permite abor-dar os termos de termodinâmica, que vão des-de a temperatura às máquinas térmicas, já que todos representamos, em certo grau, máquinas

que liberam calor. Isso resulta não em uma opi-nião sobre a temperatura da sala, mas em uma pesquisa que indica a condição térmica do lo-cal no qual estudamos.”

Para as medições, os alunos utilizaram uma pla-ca microcontroladora chamada Arduíno, com um sensor de umidade (ambos fazem parte do kit Stem Brasil), além de um anemômetro, cons-truído pelo professor com bolinhas de pingue--pongue, varetas de solda, parafusos e motor ejetor de CD.

O kit coletou variáveis de temperatura, umidade e velocidade do ar, registrando os dados em um cartão de memória SD.

A participação no projeto, que começou com apenas dez alunos, se estendeu para o resto da sala, sendo que alguns estudantes querem repetir as medições e testes no final de dezem-bro, como forma de comparar a realidade em diferentes épocas do ano. Além disso, o pro-jeto estimulou a consciência sociopolítica dos alunos. “Eles estão planejando uma forma de mostrar as condições às quais estão sujeitos e reivindicar melhores condições térmicas para a sala de aula.”

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Professor Hercílio Pereira CordovaO Prêmio Shell abriu diversas portas para mim. Mas a principal foi a dose de ânimo que o colégio ganhou. Um ano antes a instituição seria fechada. Após intensa campanha nas mídias sociais, o colégio continuou, porém com inúmeras dificuldades. E no ano seguinte eu, professor ali recém-chegado, recebi o Prêmio Shell de Educação Cientifica. Com isso, a nova gestão conseguiu afirmar que pode, sim, fazer um bom trabalho, mesmo enfrentando adversidades. E nos anos seguintes conseguimos várias conquistas, mostrando que podemos ser cada vez melhores.

Desenvolvi outros projetos, muitos com base no que aprendi nas reuniões da viagem a Londres. Fiz, inclusive, uma exportação do meu projeto para auxiliar um amigo, professor de física no CE. Ele estendeu o projeto de pesquisa para três escolas e o apresentou em uma feira de ciências.

O projeto recebeu pontuação máxima pela banca de avaliadores do IFCE. O equipamento foi montado, parte no Rio de Janeiro, com base no que eu havia feito no Prêmio Shell, e parte no Ceará, para se adequar às condições locais. Foi uma boa demonstração de parceria entre professores da rede estadual de estados diferentes. Afinal, aluno é aluno, e não importa o local do país, todos devem ter as mesmas oportunidades.

Em 2017 fiz um projeto em parceria com outra professora de física, voltado para a produção de hidrogênio gasoso provindo de eletrólise da água com o uso de painel solar. O objetivo era determinar a eficiência energética de armazenar energia solar em forma de hidrogênio.

Em 2018 construímos o Clube do Arduino (experiência que conheci em um colégio visitado em Londres). Depois

de uns meses de aula sobre programação, fizemos um projeto para estudar a produção energética de um painel solar, também usando o Arduino para registro massivo de dados. O projeto ainda está em andamento. A ideia é obter pelo menos 10 mil pontos de dados e fazer a analise estatística da produção energética de um painel solar.

Afinal, a ciência não se resume somente a experimentos bonitos, mas engloba também o estudo de milhares de dados em softwares de matemática e planilhas.

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2016UTILIZANDO FUNÇÕES NA

ECONOMIA DE ENERGIA ELÉTRICA

Ensino MédioRIO DE JANEIRO Barra Mansa CIEP 493 – Professora Antonieta Salinas de Castro

“A prática docente nos dias atuais não deve se restringir somente à transmissão do conhecimen-to. É necessário que, além dos saberes cogniti-vos, ela desenvolva nos alunos saberes huma-nos e sociais que os preparem para um mundo cada vez mais globalizado.”

Dessa forma, tentando ir além dos conteúdos programáticos de matemática que leciona para turmas do ensino médio, o professor Sebastião Luís de Oliveira apresentou um projeto no qual, com base no Project-Based Learning (PBL), o alu-no é estimulado a pensar, analisar, julgar e to-mar decisões por conta própria.

No caso, os alunos tiveram contato com algo do seu próprio cotidiano: o consumo de ener-gia em suas casas. Cada um verificou quantas lâmpadas possuía em casa e calculou, a partir das funções de primeiro grau, o consumo diário de cada equipamento e o consumo mensal da família. Baseados em vídeos e em pesquisas, os alunos propuseram, ao final de cada projeto, alternativas e formas de redução do consumo de energia – algo que não só transforma a vida deles, mas também os coloca na posição ativa

de entender um problema e ser capaz de fazer os cálculos na “vida real”, para além de fórmu-las decoradas e descoladas do cotidiano. “Os avanços tecnológicos, a globalização, o au-mento exponencial da população trazem novos desafios aos cidadãos do mundo atual. Além de saber utilizar os recursos tecnológicos disponí-veis, é necessário utilizá-los de forma produtiva e sustentável”, colocou Sebastião em seu proje-to. “Logo, a escolha por utilizar o PBL nesse tra-balho com os alunos foi tanto pela oportunidade de aplicar um método ativo de aprendizagem, quanto por desenvolver com os alunos aspectos cognitivos da matemática, o trabalho em equi-pe, a aprendizagem colaborativa e a comunica-ção de ideias.”

Os alunos, além de terem que trabalhar em gru-po e debater as questões problemáticas do con-sumo de energia e fazer os cálculos, puderam: identificar uma função polinomial de 1o grau, relacionar a função com o conceito de grande-zas proporcionais, representar graficamente as funções, identificar uma função por meio de grá-fico cartesiano e compreender o significado dos coeficientes da função.

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Professor Sebastião Luís de OliveiraSer vencedor significou mais autoconfiança em lecionar conhecimentos científicos por meio de projetos de aprendizagem, unindo conteúdos curriculares com experimentos práticos, de modo a proporcionar ao aluno uma aprendizagem significativa e duradoura. Neste sentido, cito Confúcio: “O que eu ouço, eu esqueço. O que eu vejo, eu lembro. O que eu faço, eu entendo”.

Na vida pessoal, foi a oportunidade de conhecer uma nova cultura. As visitas realizadas a museus e escolas de Londres foram sensacionais,

tanto nos aspectos histórico e artístico, quanto no científico. Não posso deixar de citar o reconhecimento dos demais colegas de profissão, quando em alguma reunião ou encontro sou apresentado como um dos vencedores do Prêmio Shell de Educação Científica.

Por fim, foi bom saber que a metodologia de ensino que adoto está alinhada com a nova Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que estimula, em seu texto, a formação do aluno com as habilidades e competências do século XXI. Ou seja, colaboração entre pares, resolução de

problemas, pensamento crítico, comunicação e uso de ferramentas de tecnologia da informação.

O projeto que apresentei ao prêmio continua sendo realizado. Já o apliquei em sala de aula em três anos letivos distintos, além de acrescentar projetos relacionados a outros conteúdos curriculares.Criei um canal no YouTube com o objetivo de utilizar a metodologia Blended Learning, que está disponível em: <https://www.youtube.com/channel/UC16Iw9JWE6BMg 2OKqLHeybQ>.

“É necessário que, além dos saberes cognitivos, a prática docente desenvolva nos alunos saberes humanos e sociais que os preparem para um mundo cada vez mais globalizado.”

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2015RECEITAS SEM DESPERDÍCIO

ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Rio de Janeiro Escola Municipal Rodrigues Alves

Professora de ciências do fundamental II, Ro-sana Zeitude foi responsável por um projeto no qual os alunos puderam analisar e refletir sobre a própria alimentação. Para estimular o debate, ela fez uma “Sessão Pipoca”, na qual exibiu o filme Muito além do peso, da diretora Estela Renner, que discute a obesi-dade infantil e os problemas de consumo de alimentos que contêm muita gordura e açúcar, como a Coca-Cola.

Como coloca Rosana, sua atividade foi basea-da no Projeto Político Pedagógico da Escola Ro-drigues Alves, “Saúde e Educação: Qualidade de Vida”, e teve como produto final um livro de receitas feito pelos alunos, que aprenderam a produzir pratos que aproveitassem os ingre-dientes na sua totalidade, como cascas e talos. Assim, os estudantes fizeram reflexões sobre seu próprio cotidiano, prepararam apresenta-ções sobre obesidade, gordura trans, bulimia, anorexia, e, depois de produzirem o livro de

receitas, organizaram um evento em que eles e seus familiares puderam degustar os quitutes preparados.

“O projeto proporcionou aos alunos a oportu-nidade de entrar em contato com o conceito de alimentação saudável de maneira interativa e agradável, por meio de filmes, registros pes-soais e seminários. Além disso, levou cada um a refletir a respeito da importância de se evitar o desperdício de alimentos, sendo esta a ma-neira mais viável de se combater a fome e um dos elementos centrais da transição para uma sociedade mais sustentável.”

Além do documentário, os alunos também assis-tiram ao programa Desperdício de Alimentos, da Globo, que mostra a extensão do desper-dício desde o plantio até a distribuição de ali-mentos. Fica o questionamento e a provocação da professora aos alunos: “Enquanto membros dessa sociedade, o que podemos fazer para reverter essa situação?”.

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Professora Rosana ZeituneReceber o Prêmio Shell de Educação Científica foi a constatação de que minha trajetória profissional estava no caminho certo, que meu objetivo junto aos meus alunos havia sido alcançado e, mais do que isso, foi reconhecido por profissionais da área. Na vida pessoal, representou um momento de “reencontro comigo mesma”, já que, depois de muitos anos, pude

curtir momentos de lazer e aprendizagem longe das atribulações de nossa rotina diária.

Sabendo bem da realidade onde estava inserida, o projeto foi planejado com etapas simples e de fácil execução. Tive o apoio da coordenação e da direção pedagógica e total envolvimento por parte dos alunos.

“O projeto proporcionou aos alunos a oportunidade de entrar em contato com o conceito de alimentação saudável de uma maneira interativa e agradável, através de filmes, registros pessoais e seminários.”

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2015INVESTIGAÇÃO NA SALA DE AULA: UMA PROPOSTA CONTEXTUALIZADA PARA O ENSINO DE CIENCIAS NO 8º ANO POR MEIO DA

PERÍCIA CRIMINAL

ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Queimados Escola Municipal Professor Joaquim de Freitas

Notando o pouco interesse dos alunos por ciências e, principalmente, vendo o baixo re-sultado do Brasil no Programa International de Avaliação de Estudantes (PISA), que analisa o conhecimento científico de alunos na faixa dos quinze anos, a professora Mytse Andréia de Melo Andrade resolveu fazer um projeto que estimulasse a prática da pesquisa científica. “No exame de 2013, apenas 55,3% dos alu-nos brasileiros alcançaram o nível 1 de conhe-cimento, ou seja, são capazes de aplicar o que sabem somente a poucas situações de seu cotidiano e dar explicações científicas que são explícitas em relação às evidências”, colocou ela em seu projeto, que partiu de uma atividade lúdica simples: a análise de umas caixas mis-teriosas, diante das quais os alunos deveriam formular perguntas e hipóteses, fazer testes e discutir possibilidades. “O aluno que adquire a competência da pesquisa sai da condição de objeto e torna-se sujeito parceiro que atua junto ao professor, reconstruindo o seu conhecimento de forma ativa e participativa” (Demo, 1998).Assim, os alunos discutiram e decidiram o tema de suas próprias pesquisas: a turma de sexto ano decidiu estudar o aumento dos casos sus-peitos de dengue, zika e chikungunya e, para tanto, desenvolveu questionários e entrevistou

moradores do bairro. Para que a pesquisa não ficasse apenas na constatação do problema, a Secretaria Municipal de Saúde foi acionada, e equipes da campanha 10 Minutos Salvam Vidas compareceram no dia de aplicação dos questionários, entregando panfletos e fazendo o trabalho de conscientização.

Já os estudantes do oitavo ano escolheram ana-lisar o excesso de consumo de refrigerantes por parte dos adolescentes, levando em conta os malefícios da bebida. Ambas as pesquisas fo-ram viáveis, feitas no contexto em que vivem os estudantes, e permitiram que eles se vissem como agentes do conhecimento, percebendo a vasta gama de possibilidades a serem estuda-das. Ao final do processo, as pesquisas escritas foram impressas e encadernadas, integrando o acervo da escola e sendo entregues também às secretarias municipais de Saúde e Educação.

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Professora Mytse AndradeO prêmio tem gerado, até hoje, grande impacto em minha vida. Logo após conquistá-lo, fui para a defesa de dissertação de meu mestrado na UFRJ, e como o projeto vencedor do Prêmio Shell (BG) era tema de minha pesquisa, percebi, de imediato, o reconhecimento de meu trabalho e até certo constrangimento em criticar algo que havia sido premiado. Fui aprovada com A. Algumas matérias foram publicadas, entre elas, uma nos jornais O Globo e Extra.

O mesmo projeto reconhecido pela Shell/BG foi laureado logo depois no I Prêmio

de Ensino de Bioquímica e Biologia Molecular e fui convidada a apresentá-lo na 46ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq), em Águas de Lindoia (SP). Muitos outros reconhecimentos vieram... Fui convidada a assumir a Coordenação da Educação Básica do Município de Queimados e hoje sou também redatora de Currículo de Ciências da Equipe de Implementação da Base Nacional Comum Curricular pelo MEC do Rio de Janeiro. Sou reconhecida na Secretaria de Educação em que atuo como professora vencedora de

vários prêmios e, sem dúvida, o da Shell/BG é o de maior relevância.

Fui convidada, pelo Museu do Amanhã, a participar da oficina que pensaria/debateria o histórico de ações do museu para o programa de formação de professores da educação básica em ciências para o ano de 2018. Tenho convites para realizar oficina no museu este ano e também para participar do Encontro Nacional dos Museus de Ciências.

Relembrando todo esse percurso, concluo que minha vida profissional se divide em antes e depois do Prêmio Shell/BG.

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2015GRÊMIO AMBIENTAL ERNESTINA

ENSINO FUNDAMENTAL IIRIO DE JANEIRO Tanguá Escola Municipal Ernestina Ferreira Muniz

Percebendo o quanto seus alunos de ensino fundamental tinham apenas conhecimentos su-perficiais sobre educação ambiental, o profes-sor de ciências biológicas Duclécio Mendonça propôs um projeto no qual os alunos discutis-sem temas e questões ambientais que pode-riam ser melhoradas na comunidade escolar e em seu entorno. O propósito era transformá-los “em pessoas que enxerguem o mundo sob a perspectiva do combate ao desperdício e da necessidade de soluções inteligentes para es-cassez de recursos”.

Os temas debatidos foram o ciclo da água, recursos naturais, poluição, combustíveis reno-váveis e não renováveis, biodiversidade, reci-clagem, saneamento básico e transformações químicas, todos assuntos do cotidiano e para os quais muitas vezes não se dá a devida atenção.

Os alunos que fizeram parte do grêmio começa-ram, então, a notar problemas e propor medidas

de conscientização, como: uso desnecessário de ventiladores em salas vazias, desperdício de água por torneiras mal fechadas, desperdício de alimentos nas refeições, entre outros. Além de propor placas de aviso pedindo para que luz e ventilador fossem desligados, os alunos ainda aprenderam receitas com partes de ali-mentos normalmente descartados, como cascas de banana e de abacaxi, e criaram um adubo orgânico para reciclagem.

No encerramento do ano letivo o grêmio pro-moveu uma feira de ciências com o tema “Meio ambiente e saúde: bens essenciais à vida”, na qual foram apresentados diversos trabalhos rea-lizados ao longo do ano, como um terrário, um modelo de casa sustentável, um robô hidráulico, entre outros. O grêmio também elaborou um re-latório com todas as questões e más práticas verificadas na escola e suas possíveis soluções e o apresentou à direção.

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Professor Duclécio MendonçaGanhar o Prêmio Shell de Educação Científica foi a confirmação da minha identidade como professor, que acredita na educação como meio de transformação social, bem como que todo aluno tem potencial para aprender.

Na vida pessoal, o prêmio acelerou alguns acontecimentos na minha vida com os quais sempre sonhei, mas não tinha ideia de quando conseguiria realizá-los: conhecer a Europa e falar outra língua, por exemplo.

...transformá-los “em pessoas que enxerguem o mundo sob a perspectiva do combate ao desperdício e da necessidade de soluções inteligentes para escassez de recursos”.

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2015PÃES MOFADOS E FUNÇÃO EXPONENCIAL,

TUDO A VER

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Rio de Janeiro Colégio Estadual Hebe Camargo

O estudo da matemática pode ser algo penoso para os estudantes do ensino médio que têm que decorar fórmulas e processar cálculos comple-xos, muitas vezes distantes da realidade deles. Pensando nisso, a professora Daniela Mendes, do Colégio Estadual Hebe Camargo, elaborou seu projeto a partir da Taxonomia de Bloom, uma estrutura de conhecimento que propõe níveis de complexidade crescentes, em que os alunos pre-cisam dominar e adquirir um conhecimento ou habilidade para seguir para o próximo nível – no caso, o conteúdo sendo função exponencial, par-tindo de curvas de crescimento ou decrescimento. Com base nos seis graus da taxonomia – lembrar, entender, aplicar, analisar, sintetizar e criar –, os alunos puderam retomar seus conhecimentos em funções exponenciais, identificar a representação algébrica e/ou gráfica de uma função e resolver problemas do cotidiano usando a fórmula. Isso foi essencial para que pudessem ligar esse tema, muito utilizado na matemática e outras disciplinas citadas pela professora, como química, biologia, física e economia, a conhecimentos da vida real, como aumento populacional, taxa de juros, rendi-mento de capital aplicado, entre outros.

O projeto também buscou dar maior consciên-cia ambiental aos alunos, através do uso de ma-teriais reciclados para a construção de objetos de aprendizagem.

Para a consolidação de conhecimentos, foi pro-posto o “Jogo da Pirâmide”, em que os grupos deveriam montar pirâmides de base quadrada com vinte peças planificadas, levando em con-sideração funções e gráficos representados em cada uma das peças.

Trazendo ainda mais os conhecimentos matemá-ticos para a realidade do cotidiano, a professo-ra propôs a observação de um pacote de pão de forma mofado, analisando “o crescimento de uma colônia de fungos em fatias de pão e a pos-terior análise do fenômeno a partir da função exponencial”, cujo processo biológico se cha-ma meiose, tendo sua reprodução representada pela função y = 2x , de acordo com o professor de biologia. Com isso, os alunos puderam reali-zar um experimento, enxertando um pedaço de pão mofado em uma fatia nova, aplicar o plano cartesiano a esse exemplo específico, observar o crescimento dos fungos, analisá-lo e compro-vá-lo, empregando também um software livre de matemática chamado GeoGebra.

Ao final do processo, como relata Daniela, “os alunos passaram a aplicar os conhecimentos da função exponencial em situações cotidianas [...], já eram capazes de transpor os conceitos aprendidos para outras situações, como o cres-cimento exponencial da população de insetos em locais com acúmulo de lixo doméstico”.

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Professora Daniela MendesO reconhecimento que o prêmio trouxe ao meu trabalho e ao Laboratório Sustentável de Matemática, que coordeno desde 2014, abriu para mim inúmeras portas no âmbito profissional. Percorri o Brasil a convite e às expensas de diversas instituições (universidades, institutos federais e escolas) com o Laboratório Sustentável de Matemática itinerante, proferindo palestras e coordenando oficinas nas quais apresento o ensino de matemática por meio de experimentos científicos para professores em exercício e em formação, bem como para estudantes do ensino básico.

A visibilidade que o prêmio me trouxe foi fundamental

para o meu doutorado (obterei o título em 2020!) e também fui admitida em uma grande universidade particular na qual leciono metodologia de ensino de matemática para as licenciaturas em matemática e pedagogia e para a pós-graduação em ensino de matemática.

Estamos no ano V do Laboratório Sustentável de Matemática. Hoje temos um grande acervo registrado na web sobre multimeios para aprender matemática. E dentre eles, com grande destaque, a nossa expertise, que são os experimentos científicos para aprender a disciplina (modelagem matemática).

“Os alunos passaram a aplicar os conhecimentos da função exponencial em situações cotidianas, já eram capazes de transpor os conceitos aprendidos para outras situações.”

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2015APRENDIZADO CIENTIFICO EM

BOTÂNICA NO PRIMEIRO ANO DO

ENSINO MÉDIO

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Rio de Janeiro Centro Interescolar Estadual Miécimo da Silva

Deise da Silva Jaks é professora de biologia do ensino médio. Percebendo a distância que a maioria de seus alunos tinha em relação aos ve-getais, bem como entre a vida cotidiana deles e os temas estudados em sala de aula, a profes-sora criou o projeto com o intuito de contextuali-zar o ensino da botânica, tendo o conhecimento empírico dos alunos como ponto de partida.

De início, a turma discutiu temas como a origem da vida e do universo, e um debate foi proposto para que eles pensassem quais as contribuições das culturas africana e indígena no emprego de vegetais na culinária e para a cura de en-fermidades. Dessa forma, além de perceberem semelhanças em culturas diferentes, os alunos puderam partir para experimentos nos quais tes-taram os conhecimentos populares, provando ou não sua eficácia e despertando sua “atitude científica”.

Um dos experimentos, que consistia em utilizar vegetais conhecidos popularmente por serem antibióticos, foi acidentalmente contaminado por fungos, havendo então um redirecionamen-to da pesquisa para vegetais com ação antifún-gica: alho e gengibre. “Este redirecionamento não constituiu de modo algum um obstáculo. Ao contrário, foi excelente para demonstrar a dinâ-mica da ciência, como os organismos interagem com seu ambiente, adaptando-se, e possuem es-tratégias para se perpetuar”, colocou a profes-sora em seu projeto.

Os exercícios comprovaram a ação fungicida das espécies, “o que despertou nos alunos um comportamento ativo e uma atitude científica e questionadora ao longo de todo o processo de aquisição do conhecimento, além de ter permi-tido a inclusão de um conteúdo negligenciado (botânica) no primeiro ano do ensino médio”.

“...despertou nos alunos um comportamento ativo e uma atitude científica e questionadora ao longo de todo o processo de aquisição do conhecimento...”

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Professora Deise da SilvaO prêmio foi um reconhecimento pelo meu compromisso com a educação, pelo meu esforço em oferecer estratégias diferenciadas que valorizem o aprendizado científico. Nesse sentido, houve um respaldo, já sabido mas não esperado, de estar no caminho certo. Passei a ser considerada mais importante no meu ambiente de trabalho. O prêmio deu visibilidade ao meu projeto e encorajou outros professores a tentar também, haja vista que dispunham de um exemplo próximo e real da sua idoneidade. Outro impacto interessante e positivo é que o prêmio me proporcionou a chance de estabelecer mais contatos para futuros projetos.

Porém o impacto dessa conquista foi maior na minha vida pessoal, pois sempre

quis conhecer Londres. Assim, além de concretizar um sonho, fiz uma imersão científica em museus e instituições de ensino. Respirei ciência. Vi crianças utilizando micropipetas, às quais só tive acesso na faculdade. Vi pessoas dando valor à educação. Meu maior achado foi perceber que eu não estava sozinha. Havia outros professores que, como eu, amam a educação, e elas estavam lá. Pude vivenciar a metodologia STEM e adquirir experiência para passar adiante. Foi uma imersão não só científica, mas também cultural. Conheci pessoas, comidas, roupas, lugares e aromas diferentes. Foi enriquecedor.

O projeto com o qual ganhei o prêmio foi incorporado em todas as

minhas aulas para aquela série a partir daquele ano, com adequações, é claro. Todos os anos trabalho com projetos, aulas de campo, representações, massinha, materiais criados por mim e/ou pelos alunos, práticas diferenciadas, visitas, passeios, trilhas.

Mas a maior contribuição do Prêmio Shell é reunir, pinçar, conseguir coletar, na rede, profissionais que têm a “educação na veia”. O prêmio reúne pessoas especiais, que possuem uma forma diferenciada de trabalhar, e as integra. Faz com que seja reacesa a chama da credibilidade e a fortalece. Saber que não estamos sós, que há uma série de anônimos lutando em outra instituição de ensino é encorajador.

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2015GERAÇÃO E

CONSUMO CONSCIENTE DE ENERGIA ELÉTRICA

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRO Rio de Janeiro CIEP Luiz Gonzaga Junior – Gonzaguinha

No ensino de matemática, muitos propõem uma situação-problema que, em grupo, deverá ser so-lucionada através do raciocínio e de fórmulas. O professor Luiz Cláudio de Almeida não seguiu esse caminho em seu projeto. “O objetivo geral das atividades propostas não foi criar ou verificar uma situação-problema e traçar estratégias para sua solução, e sim analisar no contexto da sala de aula algo realmente presente na natureza, a observação de algumas estruturas químicas for-madas por carbonos, sua estrutura geométrica poliédrica e, portanto, a verificação da relação de Euler.” A investigação científica, no caso, ge-rou debates e trouxe à tona temas atuais, como a nanociência e a geometria molecular.

A importância do tema se mostra na relevância que ele tem no mundo moderno, influenciando informática, telecomunicações, setor energético, entre outros. “Aliado a esse fato surge a neces-sidade da percepção matemática em contextos não convencionais. Especificamente quando se trata da visualização geométrica, é comum ob-servar diversas formas no cotidiano, mas é im-

pensável num primeiro momento conceber que objetos microscópicos e até nanoscópicos as-sumam um comportamento geométrico familiar. É o caso dos carbonos e suas alotropias, que exibem em suas moléculas fascinantes formas poliédricas, como, por exemplo, uma molécula do Buckminsterfullerene.”

A estrutura poliédrica das moléculas de carbono permite ao professor de matemática a verifica-ção da lei de Euler, que relaciona vértices, fa-ces e arestas de um poliedro, num contexto não usual, além de abrir espaço para a discussão de temas associados à nanociência, já que tais moléculas encontram-se na escala nanométrica. Para análise de tais formas geométricas tridimen-sionais, o professor fez uso da plataforma Geo-Gebra, que traz inclusive conteúdos multimídia para facilitar o aprendizado.

Ao final do projeto, os alunos, que também fize-ram uso de microscópio, construíram, com ma-teriais de baixo custo, modelos das partículas estudadas.

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Professor Luiz Cláudio de AlmeidaO Prêmio Shell de Educação Científica chegou num momento em que eu começava a duvidar se valeria a pena ser professor. Descobri que vale e muito!

Contudo, o maior impacto se deu na comunidade escolar. Muitos alunos que não pensavam em prosseguir seus estudos em nível universitário assim o fizeram. Ter podido contribuir de forma tão enfática na vida deles foi revigorante.

A experiência em Londres foi ímpar e, possivelmente, eu não a viveria sem o auxílio do prêmio.

O projeto recebeu uma menção honrosa da Câmara de Vereadores de São Gonçalo e a partir dele fui convidado para trabalhar no programa Dupla Escola da Seeduc, atualmente extinto.

“O objetivo geral das atividades propostas não foi criar ou verificar uma situação-problema e traçar estratégias para sua solução, e sim analisar no contexto da sala de aula algo realmente presente na natureza.”

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2014POR DENTRO DA CÉLULA “ANIMANDO” O SEU FUNCIONAMENTO

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIROTeresópolis Colégio Estadual Edmundo Bittencourt

Em 2014, um dos vencedores do Prêmio Shell de Educação Científica foi o professor de bio-logia Leandro Costa, do Colégio Estadual Ed-mundo Bittencourt. O projeto parte do estudo da citologia e do funcionamento das células do corpo e procura tornar o conhecimento mais di-nâmico e interessante para os alunos do ensino médio, que, muitas vezes se frustram ao receber uma informação “estática”, através de desenhos e observações em microscópios que não dão conta da realidade do funcionamento celular.

Para tornar o conhecimento mais palpável, o professor propôs aos alunos que, partindo do conhecimento básico sobre o funcionamento das células, se reunissem para pensar o que aconte-ce, por exemplo, quando nos machucamos (al-go que a maioria já viveu no cotidiano). Além disso, deveriam montar com massa de modelar o passo a passo das células. O processo serviu para quebrar o padrão de construção de micros-cópios, utilizando resíduos como isopor e gar-rafas que depois iriam para o lixo. Além disso, facilitou o entendimento do funcionamento das células. Na vida real, as células estão constan-temente “animadas”, e nem sempre imaginamos o que está acontecendo dentro do nosso corpo. A prática de discutir em grupo, imaginar o que acontece com as células, modelar as massinhas e fotografar todo o processo empoderou os alu-

nos, conforme a teoria de aprendizagem de Au-subel citada pelo professor em seu projeto, pelo processo de comunicação e relação do conheci-mento apresentado com seus conhecimentos an-teriores. “A linguagem é um importante catalisa-dor da aprendizagem, pois permite ao aprendiz manipular conceitos e proposições.”

Para superarem os estudos a partir de desenhos, os alunos também construíram suas próprias lâ-minas com tecido de cebola e experimentaram um processo de coloração que foi documenta-do e postado nas redes sociais. As postagens e comentários também serviram de base para a discussão em sala de aula.

A situação apresentada pelo professor envolvia conceitos ainda não aprendidos e, portanto, exigiu uma pesquisa adicional por parte dos alunos. “Desta forma, seria possível perceber o quanto os estudantes conseguiriam relacionar os conhecimentos acadêmicos desenvolvidos nas aulas anteriores em uma situação real ain-da não discutida pelos mesmos, mas certamente vivenciada direta ou indiretamente por todos.” Com as imagens produzidas pelos alunos com as massinhas foram criados vídeos de todo o processo. “A troca de experiências e saberes é potencializada quando os estudantes podem manipular e discutir entre eles o tema estudado.”

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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Professor Leandro CostaO prêmio mudou muito a minha prática em sala de aula. Percebi que posso fazer a diferença na formação de meus alunos ao inserir elementos de investigação no percurso de minhas aulas.

Para tanto, precisei voltar a estudar coisas que nunca pensei ser capaz conhecer. Estudei programação para inserir tecnologia nas aulas. Analisei a viabilidade de desenvolver pesquisas junto aos alunos, buscando soluções para questões importantes tanto para eles quanto para a comunidade.

Junto a toda essa mudança de práticas educativas,

mobilizei professores da rede pública estadual e municipal, em Teresópolis, para o desenvolvimento de uma feira de ciências que hoje está na sua quarta edição e reúne trabalhos de Teresópolis, São José do Vale do Rio Preto, Magé e Itaboraí.

A viagem para Londres aguçou a minha curiosidade sobre o mundo científico e sobre questões pedagógicas no que se refere ao ensino de ciências.

Continuo a aplicar a técnica de Stop Motion com meus alunos. Neste momento estou em processo de mudança de técnica de animação.

Comecei a utilizar, de forma experimental, um programa chamado Scratch, que permite realizar animações interativas. Os alunos estão aprendendo a programar enquanto estudam biologia.

Consegui desenvolver um laboratório Maker, ainda bem modesto. Nele desenvolvo projetos de iniciação científica que passam por diferentes áreas da ciência, como robótica, programação etc. Estamos com esse projeto inserindo os alunos em um contexto STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts and Math).

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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2014SEQUENCIA DIDÁTICA PARA FACILITAR A APROPRIAÇÃO DOS CONCEITOS

DA FOTOSSÍNTESE E DA RESPIRAÇÃO AERÓBICA

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIRORio de Janeiro Ciep 117 – Carlos Drummond de Andrade

No ensino médio, um dos grandes assuntos da biologia é o estudo da fotossíntese e da respi-ração, envolvendo fórmulas e conceitos bioquí-micos para explicar como as plantas fazem a troca do CO2 por oxigênio e produzem energia para sua sobrevivência.

Para facilitar os alunos do oitavo ano a melhor compreender esse processo de maneira menos abstrata, a professora Luciana Baptista, vence-dora da primeira edição do Prêmio Shell em 2014, formulou uma sequência didática para que eles pudessem entender melhor o metabo-lismo energético, além de terem mais interesse e participação durante a aula, já que a práti-ca proposta unia elementos conceituais e temas contemporâneos, contextualizando, por exem-plo, a importância dos gases na vida dos seres vivos e na preservação da fauna e da flora.

Para dar início ao processo didático, os alu-nos responderam a um questionário sobre a fo-tossíntese e a respiração aeróbica, de forma a checar quais os conhecimentos que já possuíam e quais as suas dificuldades. Além disso, foram solicitados a dar exemplos de seres vivos que realizam esses dois tipos de processos. A partir daí, um jogo foi elaborado, com a leitura de um texto e com os alunos montando as equa-ções químicas. Questões ambientais também foram discutidas.

O exercício foi importante, pois, através do diá-logo entre professora e alunos, por meio de per-guntas, conversas e pela dinâmica do jogo, a participação foi estimulada e o conhecimento foi expandido, saindo da forma “dualista” de como as coisas eram vistas, com fotossíntese de um lado e respiração aeróbica de outro.

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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Professora Luciana BaptistaO Prêmio Shell foi uma reafirmação de que o caminho que escolhi para minha vida profissional está certo, pois, apesar das adversidades, é possível um ensino prazeroso e colaborativo. Pessoalmente, sinto orgulho de ser a professora que sou hoje, de ter esse olho mais humano e

acolhedor em relação ao aluno.

Uso o jogo tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio e na educação de jovens e adultos. O jogo que foi premiado ganhou o mundo! Tenho artigos publicados em revistas acadêmicas da área

de ciências da natureza, já

o levei a eventos nacionais

e internacionais de ensino e

educação. Vivi experiências

incríveis por conta de ter

acreditado no ensino de

qualidade como forma de

justiça social, apesar das

intempéries e ventos contrários!

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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2014PLANTANDO EDUCAÇÃO,

COLHENDO CIDADÃO

ENSINO MÉDIORIO DE JANEIROCampos dos GoytacazesColégio Estadual José Francisco de Salles

Com o intuito de mudar a rotina dos alunos e oferecer-lhes a oportunidade de ver e obter co-nhecimentos em campo, o professor de química Cristiano Peixoto desenvolveu o projeto que exis-te há nove anos no Colégio Estadual José Fran-cisco de Salles, em Campos dos Goytacazes. Durante um domingo, proporcionando transpor-te e alimentação aos alunos (que também po-dem levar familiares), o professor os leva, após algumas aulas introdutórias sobre meio ambien-te e ecossistemas, para entender tais conceitos em três praias diferentes do município de São João da Barra, localizado a aproximadamente quarenta quilômetros da escola.

“É esperado que os alunos aprendam os con-teúdos programáticos de forma diferente, mas que também possam assimilar outras informa-ções além das descritas nos livros, seja sobre a história local, a geografia, o clima, a eco-nomia, legislação ambiental e, principalmente, como usufruir desse ambiente sem degradá-lo”, declara o professor.

Assim, seus alunos do ensino médio, com ida-des bastante variadas, têm a possibilidade de aprender sobre a história local, cadeia alimen-tar, funcionamento dos ecossistemas e sistemas de maré, formação de restinga e manguezal, entre outros conteúdos, incluindo aí elementos

de cidadania. Os impactos da presença huma-na podem ser vistos e analisados, como o des-carte de resíduos e lixo em lagos e mangues, a aproximação de construções urbanas muito próximas das áreas de preservação e/ou ocu-pações irregulares, sem saneamento básico, às margens da lagoa.

“Os alunos ficam sabendo o que ocorre devido ao assoreamento, poluição, retirada de água para abastecimento de casas e indústrias, des-matamentos das matas ciliares”, abordou Cris-tiano em seu projeto.

Além de ser uma oportunidade de saírem do padrão tradicional de aulas, os estudantes têm um dia prazeroso em conjunto, fazendo do domingo um programa de lazer e conhecimento gratuito, diferente do que estão acostumados. Ao voltar para a sala de aula, eles comparam os conhecimentos que tinham com o que apren-deram no campo, por meio de questionários e desenhos propostos pelo professor.

“Os alunos aprendem também que é possível adquirir conhecimento de forma prazerosa e fo-ra dos limites do colégio. Ao término da aula, eles solicitam que façamos mais aulas como es-sas. Estamos estudando ampliar o projeto com saídas de barco pelo estuário do rio Paraíba.”

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PRÊMIO SHELL DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

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Professor Cristiano MacielGanhar o Prêmio Shell de Educação Científica serviu para me motivar e me fazer acreditar ainda mais na educação pública. O sentimento de valorização do trabalho, coroado com esse prêmio, mostra que é possível desenvolver projetos na escola pública e ser reconhecido.

Acompanhar as experiências nas escolas, museus e universidades britânicas foi um ganho profissional enorme. O conhecimento adquirido equivale para mim a uma pós-graduação.

Hoje, continuo trabalhando com o projeto, as aulas em campo acontecem uma vez por semestre. Juntamos ao que havia sido elaborado a produção de sabão com óleo de fritura usado, que desenvolvemos no laboratório, e plantamos, com os alunos, mudas de árvores na escola.

Impulsionado pelo prêmio, escrevi um livro de educação ambiental, com viés lúdico e informativo, cujo título é Aventura ambiental do oceano ao rio. Pretendo doar a verba resultante da venda da

primeira edição para escolas públicas, e em cada uma que for contemplada irei ministrar uma palestra cujo tema será educação ambiental.

Criei também uma página no facebook chamada “Conversando sobre educação ambiental”, a qual atualmente possui mais de 2100 seguidores.

A abertura, que é o vídeo do prêmio, está disponível em <https://www.facebook.com/conversandosobre educacaoambiental/>.

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Gerente Executivo de Relações ExternasGlauco Paiva

Gerente de Performance SocialMaria Angert Poirson

Assessora de Investimentos SociaisLeíse Duarte

Produção editorial, organização e coordenaçãoMaristela Sarmento

Assistente de coordenaçãoMariana Mieko Sakamoto

Preparação e revisão de textos

Ana Maria Barbosa, Paulo Roberto de Moraes, Thais Cerveni

Design

Mare Magnum

Fotografia

Arquivo Shell, Arquivo Pessoal, Alessandro Costa

ContatoAv. República do Chile, 330

Centro – Rio de Janeiro – RJ

[email protected]

2020

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PRÊMIO SHELL DE

EDUCAÇÃOCIENTÍFICA