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Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte Nós,doRN... Suplemento DO A República A República Editorial Ano I - Nº 12- Novembro de 2005 O EO APÓSTOLO MECENAS

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Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte

Nós,doRN...Suplemento

DOA RepúblicaA RepúblicaEditorial

Ano I - Nº 12- Novembro de 2005

O E OAPÓSTOLO MECENAS

2 Natal - Novembro de 2005 nós, do RN Suplemento

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTEASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

WILMA MARIA DE FARIAGOVERNADORA DO ESTADO:CARLOS ALBERTO DE FARIA

GABINETE CIVIL DO GOVERNO DO ESTADO

RUBENS MANOEL LEMOS FILHOASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

RUBENS MANOEL LEMOS FILHODIRETOR GERAL EM EXERCÍCIO

HENRIQUE MIRANDA SÁ NETOCOORDENADOR DE ADMINISTRAÇÃO

E EDITORAÇÃO

JURACIR BATISTA DE OLIVEIRASUBCOORDENADOR DE FINANÇAS

EDUARDO DE SOUZA PINTO FREIRESUBCOORDENADOR DE INFORMÁTICA

nós, do RNeditor-geralMIRANDA SÁ

chefe de redaçãoMOURA NETO

equipe redacionalPAULO DUMARESQ - REPORTAGEMANCHIETA FERNANDES - PESQUISAJOÃO MARIA ALVES - FOTOGRAFIA

diagramação e arte finalEDENILDO SIMÕES

ALEXANDRO TAVARES DE MELO

Programação VisualEMANOEL AMARAL

ALEXANDRO TAVARES DE MELO

CapaEMANOEL AMARAL

ColaboradoresCARLOS MORAISCARLA XAVIER

EDSON BENIGNOCARLOS DE SOUZA

JOÃO RICARDO CORREIA

Coordenação GráficaWILLAMS LAURENTINO

VALMIR ARAÚJO

D.E. I.

DEPARTAMENTO ESTADUAL DE IMPRENSAAV. CÂMARA CASCUDO, 355 - RIBEIRA - NATAL/RN

CEP.: 59025-280 - TEL.: (084) 3232-6793SITE: www.dei.rn.gov.br - e-mail: [email protected]

Apresentação

Rubens Lemos Filho

Completando um ano deexistência, o suplementocultural do Diário Oficial,

"nós, do RN", já ocupa um lugarde honra nos meios intelectuaisdo Rio Grande do Norte, divul-gando com originalidade os va-lores espirituais da NaçãoPotiguar.

Em nossa avaliação, a sagapercorrida por este encarte espe-cial do D.O., manteve o charmeinicial do suplemento e o entusi-asmo dos jornalistas e gráficosseus responsáveis, tornando-semotivo de orgulho dos dirigentese servidores do DepartamentoEstadual de Imprensa - DEI.

Como produto qualificado

da Imprensa Oficial, "nós, doRN" leva aos quatro cantos doBrasil a capacidade criadora eo desempenho produtivo danossa gente nos diversos estágiosespaciais e temporais, registrando-os, sem a pretensão de ser umproduto final da História.

Estamos comemorando oprimeiro aniversário deste suple-mento participando das comemo-rações do Centenário da Morte doPadre João Maria, promovidas peloCentro de DocumentaçãoCultural Eloy de Souza, da FundaçãoJosé Augusto.

Esta edição pretende fazer asimbiose das artes gráficas, daimagem e do texto com a crença

popular, documentando a pre-ciosa vida do sacerdote avançadopara a sua época, como jornalistacombativo e agitador social.Espelhamos, também, a projeçãodo humanista despido devaidades, do amor pelo próximo eda solidariedade presente na mis-são sacerdotal.

Realçando e aprofundandoa pesquisa histórica, este tra-balho tentará elucidar osmotivos transcendentais dopadre João Maria ser eleitosanto pelo povo norte-riograndense, antes mesmo deconcluído o processo canôni-co de sua beatificação.

Um breve histórico

Mal dá para acreditar que a iniciativa de lançaro suplemento cultural do Diário Oficial "nós,do RN", ficou um ano para trás. O espraiar

da vida e as circunstâncias do trabalho profissionalfazem o tempo passar em câmera lenta e, quando nosdamos conta, acordamos para a realidade. E o caráterdesta realidade é a conquista de um objetivo, no nossocaso, a distribuição da cultura norte-riograndenseencartada no Diário Oficial do Estado.

De forma translúcida e variada, este trabalho doDepartamento Estadual de Imprensa - DEI e daAssessoria de Comunicação Social, leva às escolas ebibliotecas do Rio Grande do Norte uma epítome dasmanifestações culturais, o perfil de personalidadeshistóricas e o nosso rico folclore.

É por aí que se revela o reconhecimento da sociedade

norte-riograndense ao vigor da política cultural desenhadapela Excelentíssima Senhora Governadora Wilma Mariade Faria, deliberadamente voltada para prestigiar a terra eo povo.

Advém também deste projeto abrangente acalorosa resposta obtida pelo exemplar que reportoua intelectualidade do País de Mossoró, na ediçãolançada especialmente na I Feira de Livros da capitaldo Oeste.

Neste número, emolduramos os traços humanosde dois heróis, Alberto Maranhão e Padre JoãoMaria. Um, político, o pioneiro multifacetado dasartes e da ciência; e o outro, sacerdote católico, san-tificado pela observância dos princípios humanistase cristãos. Ambos, dignificantes exemplos deunidade espiritual, coerência e dignidade.

EditorialSoprando a velinha do bolo

Miranda Sá

CorrespondênciasSenhor Editor-GeralÉ impressionante a vitalidade cul-

tural de Mossoró, de fundas raízeshistóricas, como revelado na excelenteedição de número 11/outubro de2005 de “nós do RN”, que mostratambém a precedência da cidade emaspectos do campo político, como seupionerismo no exercício do direito devoto pelas mulheres, e o destemor do

povo mossoroense na resistência e naimposição de derrota a Lampião.

Quero felicitá-lo pelo seu emo-cionado perfil póstumo do jornalista eescritor Dorian Jorge Freire, assimcomo Anchieta Fernandes pelareportagem sobre e com Vingt-unRosado, a Tácito Costa pela reportagemsobre Raibrito, a Carlos de Souza, aPaulo Jorge Dumaresq, a Carlos Morais,

a Carla Xavier; enfim, felicitar a todosos que fizeram uma edição que deveencher de orgulho Mossoró e suagente. Parabéns!

Com as expressões do meu justi-ficado apreço, firmo-me

CordialmenteMaurício Azêdo

Presidente da ABI

3Natal - Novembro de 2005 nós, do RNSuplemento

Moura Neto

Padre João Mar ia : o an jo car idoso com os pobres, a tendendo a todos s e m d i s t i n ç ã o Alber to Maranhão: duas vezes governador

Um tinha a aparência de sertanejo.Pele morena, sempre queimadado sol pelas caminhadas que

empreendia em nome de qualquer pes-soa que precisasse de sua ajuda - uminfeliz, um doente, um moribundo.Andava de batina preta, tinha olhosvivos e penetrantes, segundo registraramos cronistas de sua época, testemunhastambém de sua inestimável obra de cari-dade em favor dos aflitos. Sorria pouco,mas tinha bom humor. Gostava de fazertrocadilhos com as palavras. De famíliahumilde, era extremamente simples eafetuoso.

O outro pertencia a uma das oligar-quias mais poderosas do Rio Grande doNorte. Alto, forte, másculo, de bonitacabeleira, trajava costumeiramente um

fraque. "Possuía, dentro de si, o encantolírico de uma poesia que sempre se fir-mou como característica do seu caráterprivilegiado", afirmou Paulo Viveiro,autor de "Um governo, um homem".Concluiu o curso de Direito no Recife ejá no ano de sua formatura assumia umcargo importante no governo de seuirmão. Foi secretário de Estado,Procurador Geral do Estado e diretor dojornal "A República" antes de ser eleito,ele mesmo, governador do Estado paradois mandatos.

Quando o primeiro faleceu, em 1905,o segundo ocupava uma cadeira de de-putado federal, tendo já exercido oprimeiro mandato de governador.Ambos foram populares no seu tempo,arregimentando seguidores no seu

campo de atuação. Cem anos depois damorte de um e sessenta e um da dooutro, eles continuam em evidênciaentre seus conterrâneos norte-rio-grandenses.

Padre João Maria, cujo centenário demorte ora é comemorado, não foi ape-nas o anjo caridoso com os pobres. Foio fundador da imprensa católica,trincheira na qual defendeu também osideais abolicionistas. A ele foi consagra-da a cadeira de patrono nº 11 daAcademia Norte-Rio-Grandense deLetras. Seu irmão caçula, AmaroCavalcanti, jurista, ministro do SupremoTribunal Federal e político, também temuma cadeira no mesmo colegiado, a denº 12.

O traslado dos restos mortais de

Alberto Maranhão para o Rio Grandedo Norte, no mês passado, ensejou arealização de uma cerimônia que mobili-zou não apenas os principais expoentesda administração pública, mas tambémos baluartes da cultura local. O cortejoque desaguou no velho teatro da Ribeira,onde agora jaz seu construtor, fez lem-brar a todos que ali estava sendo home-nageado alguém cujo sobrenomeimprimiu sua marca na história dasociedade nordestina e, particularmente,do Rio Grande do Norte, desde o inícioda colonização portuguesa.

Eles fizeram e ficaram na História doRio Grande do Norte. Cada um a seumodo, cada qual do seu jeito.

Eles fEles f izizereram e fam e f icaricaram na Históriaam na História

4 Natal - Novembro de 2005 nós, do RN Suplemento

Cem anos depois de sua morte, a popularidade étão grande quanto a que tinha na Natal do finaldo século 19 e início do 20. Nascido em 23 de

junho de 1848, na zona rural de Caicó, numa localidadeque hoje pertence ao município de Jardim de Piranhas,a figura do padre João Maria continua alimentando a fédas novas gerações de devotos. Para uns, é um mito;para outros, santo. Para todos, um exemplo de vida.

Residiu em Natal durante 24 anos, tempo suficientepara se tornar uma das personalidades mais admiradasdo seu tempo. Seu velório reuniu cerca de 5.000 pes-soas, mais da metade da população da cidade. Nocortejo até o cemitério do Alecrim, onde foi sepultado,estavam presentes desde o governador AugustoTavares de Lira até o pastor protestante.

Não era apenas sacerdote. Era médico e assistentesocial dos necessitados, a quem sempre atendia compresteza e solicitude. Percorria a pé ou montado numjumento os bairros mais pobres de Natal, transmitindomensagens de esperança aos miseráveis, levando aosdoentes medicamentos homeopáticos preparados porele mesmo ou prestando conforto espiritual aos mori-bundos, a quem era comum, naquela época, concederextrema unção na hora final. Tinha um lema, quecumpriu a risca: "Ser tudo para todos".

Seu pai, Amaro Cavalcanti, era professor primário elhe ensinou as primeiras letras. Sua mãe, Ana de BarrosCavalcanti, gerou mais quatro filhos, além dele, que erao mais velho: Militana, Ana, Josefina e AmaroCavalcanti. Este último, o caçula, tornou-se renomadojurista, chegando a ocupar os Ministérios da Justiça e daFazenda. Foi, também, seu protetor, enviando-lhemesada que era, quase sempre, repassada aos pobres.

Padre João Maria nasceu na fazenda Logradouro,no Seridó, onde desde cedo, acompanhou o drama dasvítimas da estiagem que ainda hoje assola a região.Cresceu em ambiente católico, o que contribuiu paralhe despertar a vocação religiosa. Oriundo de famíliapobre, mas respeitada na vizinhança, contou com aajuda financeira de fazendeiros amigos para custearseus estudos no Seminário de Olinda (PE), para ondeviajou a cavalo aos 13 anos, acompanhado do pai, parafazer o curso eclesiástico. Na pouca bagagem, levavauma carta de apresentação do vigário de Caicó, padreFrancisco Rafael Fernandes.

Virtuoso, não tardou a conquistar a admiração decolegas e professores. O último ano de teologia foi cur-sado no Seminário de Prainha, em Fortaleza, cidade naqual seu irmão morava e já gozava de prestígio. PadreJoão Maria ordenou-se aos 23 anos, rezando suaprimeira missa no domingo dia 10 de agosto de 1871,em Caicó, onde ficou trabalhando como auxiliar dovigário. Depois foi vigário em Jardim de Piranhas,Santa Luzia do Sabugi (PB), Acari, Papari (hoje NísiaFloresta) e, por fim, Natal, onde tomou posse daparóquia de Nossa Senhora da Apresentação em 7 deagosto de 1881, substituindo o padre José Hermínio.

Sacerdote, médico e assistente social

Sua fama já era conhecida de todos quando chegoua Natal, principalmente pela obra de caridade que rea-lizou em Papari, numa época em que levas de flagela-dos abandonaram suas terras em busca de trabalho ecomida na cidade, fugindo de uma grande seca, emuitos só encontraram, isto sim, acolhida na suaparóquia. O padre que atendia a todos, sem distinção,começou a ser chamado de João de Deus. Improvisoupalhoças para abrigar os flagelados, a quem dava decomer com o que recebia da população.

Também ministrava medicação natural para osenfermos e cuidava das crianças. Tinha uma preocu-pação especial com a higiene destas pessoas, orien-tando sobre os modos de como prevenir as doenças.Seu prestígio levou o governo a enviar roupa, di-nheiro e comida para suprir as necessidades do seurebanho desgarrado.

Foi na capital, porém, que seu trabalho ganhoumais visibilidade. Residiu na esquina da praça quehoje tem seu nome e uma estátua erigida em sua ho-menagem, onde muitos ainda se curvam para suplicarpor socorro e agradecer bênçãos alcançadas. Tambémali, quando ainda vivia, era destino de romaria dosinfelizes que o procuravam para pedir consolo mate-rial ou espiritual. Padre João Maria costumava cederseu próprio almoço para quem estava com fome, suaprópria rede para quem não tinha onde dormir, con-forme cita monsenhor Eymard L'E. Monteiro, autordo livro Esboço Biográfico do Pe. João Maria, publi-cado em 1979.

O dia, para ele, começava com o raiar do sol. Àscinco da manhã, celebrava missa. Depois atendia noconfessionário. O resto do dia, da noite e durante amadrugada dedicava ao trabalho de assistência.Empenhou-se na construção de uma nova Catedral,na Praça Pio X, que não conseguiu concluir. Aosdomingos, tomava à frente de procissões, até a Praiado Meio, onde ele e cada um dos fiéis traziam nosbraços as pedras que seriam usadas na obra da igreja.

Ao redobrar esforços para atender as vítimasde uma peste de varíola que se propagou nacidade, em 1905, começou a demonstrar, elemesmo, os pr imeiros s ina i s de debi l idadeorgânica . Provavelmente resultado das noites maldormidas, passadas em claro nos casebres onde vela-va pelos doentes. O médico diagnosticou diabetes,em estado avançado. Por recomendação médica, teveque procurar clima sadio e puro para ajudar no trata-mento, sendo removido, por isso, para um sítio depropriedade da família Moreira Brandão, no AltoJuruá, hoje Petrópolis.

Foi ali que ele viveu seus últimos dias. Foi para láque o povo acorreu para rezar pelo seu restabeleci-mento. Às 8 horas do dia 16 de outubro daquele ano,aos 57 anos, padre João Maria faleceu na casa ondeposteriormente foi erguida, em sua homenagem, aIgreja Nossa Senhora de Lourdes. Seu exemplo devida, de dedicação e amor ao próximo, no entanto,não desapareceu com ele. Ficou gravado na memóriada cidade. E do Rio Grande do Norte. (MN)

Igre ja Nossa Senhora de Lourdes, erguida no mesmo local onde Padre João Maria faleceu

Bondoso, era chamado de João de Deus

5Natal - Novembro de 2005 nós, do RNSuplemento

Avida do Padre João Maria (1848-1905) semprese caracterizou pelo enfrentamento dedesafios. Na condição de homem da imprensa

católica não foi diferente. Seguindo orientação doPapa Leão XIII, que em 1891 divulgou a EncíclicaRerum Novarum, chamando a atenção da Igreja e domundo para a situação de penúria que vivia o lumpem-proletariado e recomendando aos católicos a prática dadifusão dos ensinamentos cristãos, por intermédio daimprensa, o 'santo de Natal' funda em 8 de setembrode 1897 o primeiro periódico católico do Rio Grandedo Norte.

Intitulado "Oito de Setembro - Periódico Religiosoe Popular", o jornal ganha as ruas no dia da Natividadede Nossa Senhora, sendo o seu nome uma home-nagem a este dia e tendo como máxima a frase doEvangelho de São Mateus: Adveniat regnum tuum.Circula inicialmente no 1º e no 16º dia de cada mês,com oito páginas, passando depois a ser veiculadosemanalmente com quatro páginas. O jornal é manti-do por contribuições e pelo pagamento de assinaturas.Seus primeiros números são impressos na TipografiaCentral, localizada na esquina da rua da Estrela (hoje,José de Alencar) com a rua dos Preguiçosos (atualProfessor Zuza), na Cidade Alta.

Consta ainda que o tipógrafo Antônio LustozaCabral, chefe das oficinas de "A República", jornal ofi-cial do Estado, convidou os artistas gráficos DiógenesPinheiro, Joaquim Rodrigues e João Estevão para acomposição do "Oito de Setembro". Da redação par-ticipam os jovens intelectuais católicos Rafael Garcia,Gotardo Neto, João Soares de Araújo e Vicente deSouza. Também merece destaque a poetisa Auta deSouza.

No editorial do primeiro número, o Padre JoãoMaria expõe os objetivos do jornal e convida os fiéis aparticiparem do mesmo, numa antecipação da açãodos leigos na pastoral da Igreja. O escritor Verísssimode Melo, no livro Patronos e Acadêmicos da AcademiaNorte-Rio-Grandense de Letras, transcreve este edito-rial. O parágrafo inicial é revelador: "O Oito deSetembro, pois está às vossas portas; estendei-lhemãos protetoras; ele mui legitimamente vos pertence;sua causa é de todos os Filhos da Santa Igreja".

Durante oito anos o vigário João Maria mantém ojornal em circulação. Um mês depois do seu faleci-mento é editada em Natal uma poliantéia (coleção deescritos em homenagem a um homem ilustre ou emcomemoração de acontecimento célebre) de onzepáginas.

Com o falecimento do seu diretor, o "Oito deSetembro" passa a circular sob a direção de seu su-bstituto, Cônego Severiano Figueiredo; daí por dianteregistra na sua apresentação, o subtítulo ÓrgãoFundado pelo Padre João Maria. Esta publicação émantida até dezembro de 1907. É importante destacarque o Instituo Histórico e Geográfico do Rio Grandedo Norte abriga a coleção completa do "Oito deSetembro".

Além de visitar os necessitados, Padre João Maria fundou a I m p r e n s a C a t ó l i c a

Devoto da pobrezae da imprensa

Legado para a posteridadeInspirada nos ensinamentos do Padre João Maria, a

imprensa católica só veio a ter outro órgão de divulgaçãoem julho de 1921, sob a responsabilidade da CongregaçãoMariana de Moços. Nesta época, Natal já era Dioceseindependente da Paraíba e estava sob a administração doseu segundo bispo, Dom Antônio Cabral, incentivador daparticipação dos jovens no trabalho da Igreja. Com oapoio do Bispo, os jovens marianos criam o jornal "APalavra". São responsáveis pelo seu funcionamento LauroWanderley (diretor) e Ulisses de Góis e Perceval Caldas(redatores).

Em 1924, tendo como bispo de Natal, Dom JoséPereira Alves, é criado o Centro de Imprensa Católica, queedita e faz circular o terceiro jornal, "Diário de Natal".Conforme o professor aposentado de Sociologia e CiênciaPolítica da UFRN, Jardelino de Lucena, "era uma folhamatutina e diária" dirigida por Antônio Soares, gerenciadapelo padre João da Matha Paiva e redigida por AlbertoRoseli e José Ferreira de Souza. No editorial de seuprimeiro número, do dia 19 de outubro, consta a seguintereferência ao Padre João Maria: "E nesta alvorada triunfalem que damos o primeiro passo para o porvir, não é, sememoção que, nós beijamos a pedra álgida do túmulo de JoãoMaria, primeiro apóstolo da imprensa católica de nossaterra". O "Diário de Natal" circula até o ano de 1930.

No dia 14 de julho de 1935, em comemoração aosdezessete anos da Congregação Mariana, passa a circular"A Ordem", de propriedade do Centro de Imprensa. Eraum jornal de 16 páginas, em tamanho grande e composto

na então moderna máquina linotipo. Segundo informaJardelino de Lucena, a folha circulava diariamente e tinhacomo principais características a informação, a polêmica ea doutrinação. Mantém-se em funcionamento até 1953.

Para homenagear o Padre João Maria, na data de seufalecimento, o devoto José Carlos Vasconcelos, imprimeem 1960 um tablóide anual, intitulado "16 de Outubro". Osegundo número desta publicação sai em 16 de outubro de1961, contando com a colaboração de MonsenhorLandim, Monsenhor Walfredo Gurgel, Antônio Fagundes,e com poesias de Dom Marcolino Dantas, DamascenoBezerra e Ricardo da Cruz.

Em 1959, o jornal "A Ordem" volta a circular, por ini-ciativa do bispo auxiliar de Natal, Dom Eugênio de AraújoSales, responsável pela reativação do Centro de Imprensa.Dom Eugênio adquiriu novas impressoras e transferiu asantigas máquinas das oficinas da Ribeira para a Praça Pio X,na Cidade Alta. Com salas recém-construídas no mesmolocal, onde sessenta anos atrás o Padre João Maria tinhacomeçado a construir a nova matriz da cidade, monta par-que gráfico para editar o moderno jornal. Em sua segundafase, "A Ordem" circula aos sábados pela manhã, com oitopáginas. Classifica-se como "órgão independente e noti-cioso - pela verdade com a caridade".

O último órgão de orientação católica editado emNatal é "A Verdade", publicação mensal de responsabili-dade da Fundação Cultural Padre João Maria, criada porUlisses de Góis, o mesmo que participou do jornal "APalavra" e da instalação do Centro de Imprensa, respon-sável por "A Ordem" nas suas duas fases. "A Verdade" sus-tenta-se com êxito de 1989 a 2004.(PJD)

Reprodução

6 Natal - Novembro de 2005 nós, do RN Suplemento

Nossa missão era rastrear a presença do padreJoão Maria em sua terra natal. Intuíamos quepossivelmente existiam ainda restos das pare-

des da casa onde o santo sacerdote nasceu, porque umfuncionário do DEI, que também nos acompanhou aJardim de Piranhas, Arnaldo Andrade de Carvalho,soubera da existência delas, tempos atrás, quandoatuou como árbitro de futebol em partidas naquelacidade.

Chegamos a Jardim de Piranhas e procuramos umafuncionária da Prefeitura Municipal (em cuja área deentrada existe um busto do irmão jurista do padre,Amaro Cavalcante - já que ele é o patrono do prédioda prefeitura -, e que foi inaugurado naquela área a 23de dezembro de 1998, por ocasião do cinqüentenáriodo município), Suely, que imediatamente convocou osacristão da paróquia (a padroeira de Jardim dePiranhas é Nossa Senhora dos Aflitos) a comparecer àprefeitura.

Conhecido pela alcunha de Neto Sacristão, cujonome verdadeiro é Manoel Germano de Araújo, é umpatrimônio da paróquia. Há 27 anos que exerce o seuofício junto aos vários párocos, atendendo os fiéis comuma simpatia a toda prova - como soubemos e com-provamos. Nunca o afastaram do cargo, porque temuma receita de vida dividida em quatro itens: 1) Deusno coração; 2) fé; 3) paciência; e 4) amor pelo trabalho.

Neto Sacristão realmente nos levou às ruínas dacasa do padre, que ainda permanecem junto ao açude

Edson Benigno e Anchieta Fernandes

NoJardim do

padre, as ruínasda casa onde

nasceu

Revista & notícia

Conhecemos a "Revista Jardim emFesta" (que tem website na Internet:www.jardimemfesta.com), órgão ofi-cial da festa da padroeira de Jardim doPiranhas, lançada em setembro, tãobonita graficamente quanto informati-va graças à competência de um editor,Geovane Pereira de Araújo. E capta-mos a repercussão da homenagem querelembrou os cem anos de falecimento

do padre João Maria, na praça com oseu nome em Jardim do Piranhas,ocorrida no dia 16 de outubro, commissa celebrada pelo padre Franciscode Assis Dantas de Lucena, admi-nistrador paroquial, além de uma con-ferência biográfica pronunciada porUbiratan Queiroz, da qual nos foi gen-tilmente cedida uma cópia pelo profes-sor Gutenberg Dantas de Queiroz -Gute (do Centro de EducaçãoProfessora Maria Norma Alves), licen-

ciado bacharel em História e licencia-do em Matemática pela UFRN.

Gutenberg também acrescenta que acasa que padre João Maria morou,quando criança, foi a primeira escola deJardim de Piranhas, e teve seu pai,Amaro Soares de Brito, como oprimeiro professor a lecionar na cidade.

O local onde estão hoje as ruínasda casa onde nasceu o padre JoãoMaria poderia ser aproveitado para uminvestimento cultural e religioso.

Sugerimos que ali seja construída uma"Casa do Padre João Maria", onde opovo católico jardinense pudesse culti-var sua fé no santo filho da cidade.Uma espécie de pequeno museu, ondeo turista encontrasse material (docu-mentos, fotos) sobre a memória dopadre. Ter-se-ia ali, num município quejá é Jardim, um jardinzinho onde opovo sentisse a aura de santidade destenome: Padre João Maria Cavalcante deBrito.

na fazenda Três Riachos, nome que substituiu o antigoLogradouro, fazenda então pertencente ao municípiode Vila Nova do Príncipe (nome depois mudado paraCaicó), já que Jardim de Piranhas, na data do nasci-mento do padre João Maria (1848), pertencia à referidaVila Nova do Príncipe.

Para se chegar às ruínas, tivemos que deixar o carrona sombra da casa da fazenda Três Riachos, e fazeruma boa caminhada ao sol, entre a galharia e a terraseca do sertão. Mas ficamos recompensados, porque

tivemos o privilégio de tocar em tijolos da moradia queabrigou o corpo recém-nascido do futuro vigário daparóquia de Nossa Senhora da Apresentação, de Natal.

Além das ruínas, conhecemos outros lugares mar-cantes da história do padre João Maria em Jardim dePiranhas. O seu busto, inaugurado na Praça Padre JoãoMaria, em 1955, por ocasião do cinqüentenário do seufalecimento. A casa em que ele morou na cidade, quan-do criança. A rua Padre João Maria. O Centro Social ePastoral Padre João Maria.

Os t i jo los da casa onde João Mar ia nasceu no munic íp io de Jard im de Pi ranhas

Fachada da casa onde o Padre João Maria morou em Jardim de Piranhas: lembrança que o povo perpetua

Edson Benigno

Cedida

7Natal - Novembro de 2005 nós, do RNSuplemento

Omundo acadêmico e religioso reservou o dia 27 deoutubro, no Palácio da Cultura, para dedicar todaa sua atenção ao santo natalense, padre João

Maria. O encontro intitulado Bom Dia Padre João Mariareuniu professores, intelectuais, estudantes e religiosos. Aparte da manhã foi dedicada aos estudos acadêmicos sobreo padre e se revezaram na mesa, os professores Irene deAraújo van dem Berg, da UFRN; Rodson Ricardo doNascimento, da UERN; o pesquisador Cláudio Galvão; opoeta Paulo de Tarsso Correia de Melo, da ANL e IndiraRosado, que fez uma comunicação.

A parte da tarde foi reservada para a poesia, literatura ehistória potiguar na vida do padre João Maria. O escritorTarcísio Gurgel, que não pôde participar do encontro,enviou representantes para falar do padre João Maria napoesia de Segundo Wanderley, Ivo Filho, FranciscoPalma, Gotardo Neto, Carolina Wanderley, DamascenoBezerra, Jorge Fernandes, Palmira Wanderleye.Segundo Tarcísio Gurgel, esta "é uma produção que seme permitem a redundância, tipicamente secundina, acomeçar da grave invocação às musas para que sejafeito o elogio fúnebre".

Musa do luto, musa da tristeza,Toma o saltério roxo da saudade,Vamos cantar o Sol da caridade.Vamos carpir o Anjo da pobreza.

Em seguida, Tarcísio Gurgel comenta os poemasUma Lágrima e Sublime Ocaso, da autoria dos poetas IvoFilho e Francisco Palma, que lamentam o falecimento dopadre João Maria. Segundo ele, o primeiro e o segundopoema "são bem aparentados na proposta lírica: os doisquartetos de cada um enfocam diretamente, e em tom deforte dramaticidade, o ocorrido. Não se invoca a musa.Deplora-se diretamente o triste ocorrido. Porém, detalhe no

mínimo curioso, Ivo Filho parece querer transmitir a idéia deuma dor contida e, ao invés de investir na tradição dos fiéispotiguares que tinham o sacerdote na condição de um quase-santo, opta por fazer alusões a um tipo de ceticismo que fre-qüentou a poética de alguns dos nossos românticos (...)".

Tarcísio Gurgel destaca o gosto da época peloslugares-comuns, como "empíreo augusto" ou "fatal tris-teza", recursos que empobrecem a linguagem poética.Mas se regozija com o poema À Memória de um Justo,de Gotardo Neto, que "busca descrever com isenção ejusteza a figura samaritana de João Maria". Para ele, "todoo poema prima pelo equilíbrio - em alguns momentos atéinsinuando um certo distanciamento - como se, buscan-do racionalizar o seu sentimento, o eu-lírico descrevesseo ocorrido, preocupando-se em conter a tristeza, admi-ração e a emoção causadas pelo desenlace".

Quanto aos poemas de Carolina Wanderley eDamasceno Bezerra, receberam análise idêntica aos poe-mas de Ivo Filho e Francisco Palma. A influência do par-nasiano Segundo Wanderley na vida literária de Natal eratão forte que "certos procedimentos de composição queviriam a se tornar irritantemente obrigatórios, entre osparnasianos, impunham fatalmente coincidências".

Antes de comentar o penúltimo poema de autoriado nosso maior poeta modernista, Tarcísio Gurgelpreferiu antecipar a análise do poema de PalmiraWanderley. "Numa recolha como essas, não poderiafaltar a comovente simplicidade do lirismo de PalmiraWanderley e ela ressalta no poema Oferendas deAniversário que é certamente um dos melhores escritossobre o padre João Maria".

Para o poema de Jorge Fernandes dedicado ao padreJoão Maria, o comentarista reservou palavras de grandesensibilidade. Encontramos aqui um "Jorge Fernandesenvelhecido e amargurado, porém capaz de imagens degrande beleza em sua coloquial ironia modernista".

Meu pobre levita não voltes ao mundo!Se aqui tu voltares verás assombradoA cruz mutilada por bombas aéreasOs templos por terra ao rugir dos canhões.

Segundo Tarcísio Gurgel tais versos têm "a marca incon-fundível da ironia jorgeana, apelando ao bom senso dosanto a quem definitivamente se opõe a insanidade terrena".Em seguida à leitura do texto de Tarcísio Gurgel, o coorde-nador da mesa, jornalista Vicente Serejo chamou o poetaDiógenes da Cunha Lima para falar de episódios marcantesna vida do padre João Maria, que costumava doar sua roupaou a alimentação pessoal para os mais necessitados. Um tipode homem santo que não temia tratar de doentes infectadospela varíola e se expôs tantos, passou tantas privações queacabou pagando com a própria saúde.

Logo após a palestra do presidente da AcademiaNorte-riograndense de Letras, foi chamado o folcloristaGutemberg Costa que fez um relato minucioso da pre-sença do padre João Maria na cultura popular. Além dosmuitos ex-votos que as pessoas costumavam apor nasproximidades do busto do santo potiguar, GutembergCosta também apresentou provas da existência de váriosfolhetos de cordel em homenagem ao padre João Maria.Logo após esta fala, o professor Coquinho situou a figurado padre João Maria em um contexto histórico em que sedestacaram o padre Ibiapina, padre Cícero e AntonioConselheiro.

A palestra de Vicente Serejo foi concisa, mas de muitainformação sobre três textos fundamentais da literaturapotiguar sobre o padre João Maria: Henrique Castriciano,Eloy de Sousa e Câmara Cascudo. Para encerrar, o bió-grafo de padre João Maria, Manoel do Rego apresentouresultados de sua pesquisa. No final da tarde, o jornalistaMiranda Sá falou sobre o padre João Maria e sua militân-cia histórica na imprensa potiguar.

Carlos Souza

Seminár io rea l izado pe la Fundação José Augusto reuniu os maiores estud iosos da f igura do santo sacerdote pot iguar

O religioso na literatura potiguar

8 Natal - Novembro de 2005 nós, do RN Suplemento

A praça do santo:velas e promessas

Onome da praça, hoje, repre-senta uma homenagem a ele,o santo ainda não canoniza-

do oficialmente. Antes disso, porém,lá pelo século 19, o terreno situadopor trás da Igreja-matriz de Natal eraconhecido como Praça da Matriz. Porali, desfilavam as procissões e oscortejos fúnebres que iam para oAlecrim. Mas, além destas cenastristes ou de caráter religioso, a praçaera também local onde artistasamadores improvisavam teatrinhospara representarem suas peças.Grupos de políticos e intelectuaistambém ali se reuniam, no que erachamado "Cantão da Gameleira",para prosearem alegremente.

Daí que a praça passou também aser "um ponto de animação dacidade" - como informou JeanneFonseca Leite Nesi em seu livro"Caminhos de Natal" (2002) - e o seunome mudou para Praça da Alegria.Para o que contribuiu também a saúdeambiental: abundância de árvores e

cantos de pássaros.Pela Resolução municipal no 105,

de 11 de Julho de 1906, a praça pas-sou a ser chamada Praça Padre JoãoMaria. Pedro Soares de Araújo Filho,funcionário do Tesouro do Estado,era um devoto do padre João Maria.Teve então a idéia de mandar constru-ir na praça um monumento home-nageando o sacerdote falecido. Juntoudinheiro e fez campanha. Vítima dagripe ou influenza, faleceu a 14 deMaio de 1918.

Mas o governo do Estado e o clerocompletaram a obra: a 07 de agostode 1919, era inaugurado o busto,sobre pedestal de granito, em meio àgameleira e os pés de "fícus-ben-jamins" que davam grande sombra emtoda a extensão da praça, atraindopessoas a se sentarem nos bancos demadeira que existiam. Com a presençado busto, os fiéis transformaram olocal em foco de crendice popular,acendendo velas e depositando ex-votos em pagamento de promessas.

Além de fitas coloridas, palmas bentas eretratos de pessoas beneficiadas com osmilagres conseguidos por intercessão dopadre.

Alguns prédios importantes, seja pelasua arquitetura, seja pela marcaçãohistórica, situaram-se na Praça PadreJoão Maria. Residências, como o sobra-do de Aureliano Medeiros, ainda hoje depé. O prédio do Instituto de Música, no

local onde atualmente é o Banco doNordeste. O prédio da Loja Maçônica21 de Março, que é atualmente oEdifício 21 de Março, que, segundo a jámencionada escritora Jeanne FonsecaLeite Nesi, "era um prédio de relevantevalor arquitetônico, ostentando traços ecaracterísticas neoclássicas". O prédioda Irmandade do Senhor Bom Jesus dosPassos.

Um local com muitas histórias

A Praça Padre João Maria, ao longo dotempo, deu origem a registros históricos e lem-branças de fatos curiosos nela ocorridos, quesão relembrados ou na própria tradição popu-lar, ou em livros e pela imprensa escrita. Dentremuitos outros, mencionam aqui os seguintes.

Quando a praça era totalmente arboriza-da com "fícus-benjamins" (teve uma adminis-tração municipal que mandou derrubar estasárvores, embora recentemente tenham sidoreplantadas algumas, que começam a darsombra às barracas da feira de artesanato quehoje existe na praça),o oxigênio protegia aspessoas. Então, foliões de alguns grupos car-navalescos, para dormirem um pouco após oalmoço, antes de chegar à hora das batalhasde confetes e dos desfiles, armavam redesnos galhos das árvores e gozavam de umaboa sesta, sem nenhuma preocupação comroubos, ainda não existentes ali.

A 07 de setembro de 1908, foi inaugura-do o serviço de bondes (puxados a burro) emNatal. Os meninos gostavam de passearneles. Não pagavam. Queriam passear. Maslogo se aborreciam. Aproximando-se o fimda linha, que era a Praça Padre João Maria,desciam, dizendo: "não quero mais não..."Mas corriam de imediato para a praça, ondecomeçavam a imitar Tarzan, pulando degalho em galho nas árvores. Os adolescentesestudantes "se revezavam junto ao busto doSanto Padre, desmanchando-se em promes-sas em vésperas de prova escolar", segundo

conta Procópio Júnior em artigo no jornal"O Potiguar".

Em dias da Semana Santa, jornalistas sedebruçavam das janelas do prédio nº 58, ondeficava a redação do "Correio do Povo", paraverem a saída dos "irmãos dos Passos", todostrajados com suas opas roxas, desfilando paracomparecerem à "Procissão do Encontro",num clima de unção religiosa. Mas a noite napraça trazia para ali personagens irreverentes. Aaltas horas, com o frio da madrugada, atoresque haviam saído de uma jornada de ensaios noTeatro Alberto Maranhão, chegavam ao bustodo padre João Maria e não resistiam: desviavampara o próprio acervo ex-votos artísticos.

À Praça Padre João Maria, além dopróprio nome do santo sacerdote, estão liga-dos nomes de outras figuras que tiveram algoa ver com sua história. Por exemplo: JoaquimGuilherme de Souza Caldas, que era o propri-etário da casa onde os políticos do Cantão daGameleira organizavam seu núcleo. HostílioDantas, escultor, autor do busto do PadreJoão Maria. Miguel Micussi, autor do pedestalde granito (pedras vindas de Lajes) onde estebusto foi colocado. Professora Joana Bessa,responsável pela confecção de um gradil deferro que circundava o referido busto.

E ainda: Joaquim Ferreira Chaves, gover-nador do Rio Grande do Norte, que em 1915mandou começar os serviços de calçamentoda praça. Waldemar de Almeida, pianista emaestro, fundador do Instituto de Música doRN, cuja sede foi construída na praça, ondehoje é o prédio do Banco do Nordeste. (AF)

Devotos rezam e fazem promessa diante do busto do Pe. João Maria

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Omenino de vida simples, que enfren-tou a varíola e a seca, entregando-sepor inteiro à causa humanitária,

poder ser elevado à glória dos altares deDeus. O processo de beatificação do PadreJoão Maria, também conhecido como o"Santo de Natal", foi aberto em 2002 e, de lápara cá, está sendo feita uma pesquisa históri-ca, com recolhimento de documentos,escritos e tudo que possa dar uma visão níti-da da vida do candidato a beato.

Antes da abertura do processo de beatifi-cação é necessária a escolha do postulador, queé uma espécie de coordenador das ações queserão realizadas. Monsenhor Francisco de AssisPereira, postulador da causa do Padre JoãoMaria, também conduziu a Causa dos MártiresCunhaú e Uruaçu e, mais recentemente, abriu oprocesso de beatificação do Padre Monte.Também é necessário enviar um pedido deautorização a Roma para iniciar o processo debeatificação, que já foi concedida para a causado Padre João Maria no dia 16 de maio de 2005.

O processo é dividido em duas fases. Aprimeira, intitulada Fase Diocesana, ocorre nacidade onde o candidato exerceu seu sacerdó-cio e faleceu. Nesta fase ocorre a reunião dedocumentos, escritos e depoimentos que con-cedam respaldo à beatificação do candidato."Para auxiliá-lo, o postulador nomeia umaComissão Histórica, composta por três ouquatro historiadores do Rio Grande do Norte,que tenham conhecimento sobre o Padre JoãoMaria", informou Monsenhor Assis.

A conclusão da Fase Diocesana se dá coma constituição, pelo arcebispo metropolitanoDom Matias Patrício, de um TribunalDiocesano, com a função de ouvir as teste-munhas que deverão relatar tudo que sabemsobre o candidato a beato. Como já faz 100anos que o padre faleceu, não existem teste-munhas oculares - que tenham convivido comele - vivas e, sendo assim, serão ouvidas aque-las pessoas que tiveram contato com essastestemunhas.

Então, com os dados históricos coletados ea reunião dos depoimentos, o processo seráconcluído em Natal e enviado para Roma,onde terá início a Fase Romana. Nessa fasetambém há a nomeação de um postulador, quepode ser o da primeira fase. Em Roma, asinformações passarão pelo crivo daCongregação da Causa dos Santos, em trêsníveis. Primeiro, os consultores históricosanalisarão se há fundamento histórico. Emseguida, os consultores teológicos vão estudaras provas de santidade e, por último, com acomprovação de que João Maria é realmentesanto, os bispos e cardeais tomam as decisõesfinais e, finalmente, o processo vai para a mesado Papa, que dá a última palavra.

Milagres: a prova finalSuperando essas fases o processo ainda não

estará concluído. A verdade histórica ficarácorroborada pela autoridade pontifícia, masainda restará a constatação de um milagre,

obtido pela interseção do Padre João Maria.No caso dele, há notícias de muitas graçasobtidas por sua invocação. O monumento dapraça Padre João Maria, no centro da cidade, eo seu mausoléu, recebem quase diariamenteoferendas por curas e graças alcançadas.

Será necessário fazer uma triagem para verse existe um fato que possa ser consideradoum verdadeiro milagre. O caso será analisadopelo Tribunal Diocesano, através de umprocesso que ouvirá a pessoa miraculada, osmédicos, enfermeiros e outras testemunhas,além da solicitação de diagnósticos e atestadosmédicos, para saber se a cura de tal pessoa nãoteve explicação médica.

Monsenhor Assis afirma que ainda nãoexiste uma preocupação com a comprovaçãode um milagre. "Ainda estamos na primeirafase do processo. Estamos reunindo docu-mentos e escritos. Quando concluirmos essafase e enviarmos o processo para Roma éque nos debruçaremos para examinar todasessas comunicações de milagre", afirmou opostulador.

Aprovado o milagre, tudo estará prontopara a beatificação. A solenidade de beatifi-cação pode ser realizada em Roma, presididapelo Cardeal Prefeito da Congregação daCausa dos Santos, ou na Diocese onde faleceuo servo de Deus - em Natal - presidida peloarcebispo metropolitano. Após tudo isso, opadre receberá o título de Beato ou Bem-Aventurado e poderá receber culto público naIgreja. (C.X)

Monsenhor Francisco de Assis Pereira, postulador da causa do Padre João Maria, na mesa redonda coordenada por Miranda Sá

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10 Natal - Novembro de 2005 nós, do RN Suplemento

-V. vai ao baile de Palácio?- Ainda não tivemos convite, mas se tivermos, talvez vá.- Convite têm, com certeza. Eles mandam convite para todo

mundo, porque querem encher. Papai recebeu o dele sábado.

O diálogo é do romance Gizinha, publicado pelogovernador norte-rio-grandense Antônio de Souza(1907-1908 e 1920-1923). Usando sua arte ficcional, oromancista enfoca duas jovens da sociedade natalense,Adalgiza, a Gizinha, personagem-título do livro,"senhora de suas ventas", e sua amiga Nair, conheci-da por suas "mãos de fada" na arte da confecção debordados. Elas, jogando conversa fora e se assanhandonos comentários, falando sobre o mais badalado baileda Natal do início do Século XX, que "ia ser umestouro", conforme se comentava nos cafésparoquianos. O chamado "baile de Palácio",envolvido num clima de belle époque, tinhaseu palco de danças no aristocrático efamoso salão róseo do Palácio Potengi,uma criação do jovem governadorAlberto Maranhão (1900-1904 e 1908-1913), de apenas 26 anos de idade,entontecido pelo fascínio do poder esaboreando sua lua-de-mel de mecenatolítero-festivo.

O até hoje mais jovem governadordo Rio Grande do Norte, do períodorepublicano, cumpriu um governo semméritos (não construiu sequer uma escola),naquele primeiro mandato, castrado pelaonipresença centralizadora e mandonista de seuirmão, Pedro Velho.

Em contrapartida, recuperou-se, assombrosa-mente, ao agigantar-se, na segunda administração -comandando o primeiro sextênio governamental naRepública Velha. E nem mesmo a poderosa sombra doirmão-gigante desaparecido, conseguiu fazer com quese transformasse num fenômeno incomparável, nasua condição técnico-administrativa, empreendendouma ação governamental revolucionária. Promoveuuma revolução técnico-administrativa progressistaem Natal, civilizando a cidade e enquadrando-a nostrilhos do progresso.

"Foi um governador de idéias práticas e felizes",resumiu seu contemporâneo e amigo, o senador Eloy deSouza, depois adversário, quando a oligarquiaMaranhão trincou e bipartiu-se - Ferreira Chaves,chefiando uma fatia do espólio oligárquico de PedroVelho, enquanto Alberto Maranhão e Tavares de Lira,comandavam o outro quinhão, em oposição aoprimeiro rebento e agora responsável pelo desmancheda oligarquia.

"Pela quantidade e pela qualidade das obras rea-

lizadas na Capital, podemos afirmar, sem exagero, queAlberto Maranhão colocou Natal no Século XX. Antesde 1908, esta cidade não passava de um burgo, seme-lhante, em quase tudo, às pequenas cidades do interior",reconheceu o sociólogo Itamar de Souza, em sua avali-ação historiográfica sobre o período republicano de1889 1930.

"Ele foi um estadista, um cidadão do mundo, umengenheiro de boas causas", vibra até hoje EnélioPetrovich, presidente do Instituto Histórico eGeográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), o prin-cipal incentivador da idéia do traslado das cinzas deAlberto Maranhão, morto em 1944, aos 72 anos, em

Parati (RJ), sendo enterrado no cemitérioSão João Batista, no Rio de Janeiro,

finalmente trazidas para Natal, a 4de outubro e 2005 e depositadas

no Teatro Alberto Maranhão,construído na sua primeiraadministração governamen-tal.

Banho de civilização eprogresso - O romancista-governador, Antônio deSouza, dedicou dois dosq u i n z e c a p í t u l o s d e"Gizinha" aos bailes de

palácio, uma inovação social-entretenimentista que desas-

sossegava Natal: "No dia mar-cado para a grande festa toda a

cidade amanheceu em alvoroço..."Desde cedo as barbearias se enche-

ram, mas o serviço todo estava na mão dos"oficiais", porque os patrões andavam pelas casas par-ticulares, aparando o cabelo das senhoras e raspandopescoço das melindrosas mais adiantadas...

Os salões do palácio ornamentavam-se em profusãoluxuosa, e até nas hora do expediente toda a casa estavacheia do ruído alegre dos operários, comandados pelomordomo, encerando soalhos, pregando sanefas, su-bstituindo cortinas e reposteiros, mudando móveis,instalando fios para duplicar a iluminação, já habitual-mente deslumbrante, polindo lustrando, embelezandotudo - a fim de poder exprimir, ao menos aproximada-mente, a alegria do coração dos promotores".

O governador Alberto Maranhão, por conta da cri-ação da Lei n.º 145, de 6 de agosto de 1900, autorizadapelo Congresso Legislativo e incentivada pelo poetaHenrique Castriciano, premiando com a publicação deobra de ciências ou de interesse literário, produzidaspelos nossos autores ou por naturais de outros Estados,aqui residentes, passou a ser chamado de "Mecenaspotiguar". Certamente, levando-se em conta a indigên-

cia cultural de Natal, em 1900, com apenas 15,37% dosseus 13.725 habitantes em condições de ler e escrever.Uma calamitosa penúria analfabética que, sem dúvida,contribuía para a implantação da "oligarquia mansa",assim chamada pelo seu patriarca, o senador PedroVelho.

O certo é que Alberto Maranhão promoveu um ver-dadeiro banho de civilização no Estado, principalmenteem Natal, com a adoção de novos costumes e novoshábitos repassados aos natalenses, caso de sua meloma-nia - incentivando a criação de uma Escola de Música,funcionando no grupo escolar Augusto Severo, pautan-do-a para a disseminação do ensino de música, estética,história, literatura musical e belas artes, responsáveispelo florescimento de um refinamento artístico-educa-cional na cidade. Foi o maior animador do desenvolvi-mento musical e manteve ainda uma orquestra noTeatro Carlos Gomes e um famoso quinteto de cordasque, segundo Eloy de Souza, chegou a ser considerado"o mais completo do Brasil."

Noutro trecho de "Gizinha", uma evidência dessarenovação: "Na sala da orquestra, ao lado do salão prin-cipal, um professor afinava o piano, com uma insistên-cia de azucrinar as duas praças vizinhas e a rua daConceição... Na cabeça de carregadores, estantes daorquestra, caixas de violoncelos e contrabaixos..."

Alberto Maranhão conseguiu, verdadeiramente, oxi-genar ainda a vida educacional do Estado, desem-poeirando os antigos e surrados projetos na área, resta-belecendo, de início, a Diretoria Geral da Instrução,órgão responsável pela coordenação e detonamento dosistema educacional em projeção. Ou seja: criar umgrupo escolar em cada sede de comarca e uma escolamista em cada um dos outros municípios estaduais,conforme o decreto n.º 178, de 29 de abril de 1908, logono início de sua segunda governança. Para instrumen-talizar essa dinâmica didático-funcional da instruçãopública, baixou o decreto n.º 139, de 15 de dezembro de1910, implantando o Código de Ensino, recheado deinovações e idéias - atualizadas e contextualizadas emmodernidade, num período ainda anêmico de realiza-ções palpáveis na área educacional. O governadorAlberto Maranhão, para interiorizar e disseminar seuprograma de implantação de uma rede educacionalprimária, pela maior parte dos 37 municípios do RioGrande do Norte,construiu 23 grupos escolares, envol-vendo os presidentes das Intendências Municipais. Em1912, 2.500 alunos estavam matriculados nestas 23escolas primárias instaladas pelo interior. Em Natal,fundou o Frei Miguelinho, no bairro do Alecrim, osegundo grupo escolar, por ordem cronológica, da ca-pital, além da implantação da Escola Normal, destinadaa formar professores de ambos os sexos - para atenderà demanda de docentes do sistema educacional.

Governador Alberto Maranhão

Um banho e ciUm banho e civilização de prvilização de prooggrresso em Naesso em NataltalCarlos Morais

Alberto Maranhão

11Natal - Novembro de 2005 nós, do RNSuplemento

Apersonalidade, onipresente e arrebatadorade Pedro Velho, atemorizava não apenasseus adversários, sufocava até mesmo seus

fraternos aliados. Daí o questionamento para umtema ainda virgem na capenga historiografia do RioGrande do Norte: Alberto Maranhão teria realizadoo seu surpreendente - e monumental -, ainda hoje,governo no sextênio 1908-1913, caso Pedro Velhonão tivesse morrido, em dezembro de 1907. Oassunto é complexo porque Pedro Velho, na ver-dade, pairou como uma sombra poderosa, napirâmide política do Estado, mesmo embalsamado,como que azeitando sua grande criação político-administrativa, a oligarquia Maranhão, criada em1890 e que sobreviveria durante 28 anos, até 1918,mesmo com sua morte física.

Pedro Velho, durante a transição da MonarquiaImperial para a República Velha, arquitetou, montoue implantou a sua oligarquia, usando a redação dojornal A República, fundado por ele e que fun-cionaria como uma espécie de oráculo, templo doqual o oligarca-mor patrocinava a sagração políticade seus principais apóstolos: o pernambucanoFerreira Chaves (1896-1900), quase um membro dafamília pela lealdade; e dois macaibenses: AlbertoMaranhão (1900-1904 e 1908-1913), o segundoirmão (o primeiro era Augusto Severo) e Tavares deLira (1904-1906), genro e dileto amigo. Ungiu-os àcondição privilegiada de primeiros mandatários doEstado, além de indicar os principais cargos e pos-tos-chave da administração federal, estadual emunicipal, brindando-as aos seus parentes, correli-gionários, amigos de fé e irmãos camaradas. Do seuescritório administrativo-fisiológico, o oligarca-morpodia tudo:

"Ali, pode-se dizer, que o senador PV é ver-dadeiro" Sultão; ali superintendendo todos os negó-cios - desde a nomeação de inspetor de quarteirãoaté a mais alta gestão das coisas públicas", registravao Diário do Natal, de Elias Souto.

Pedro Velho não gostava nem admitia ser con-trariado. Ferreira Chaves, livre da vigilância do"chefe", desabafaria depois": "Pedro Velho acom-

panhava tudo!" Alberto Maranhão, liberto daonipresença do irmão, confessaria, aliviado econsciente da primeira administração sufo-cante: "Fui caixeiro de Pedro Velho".

Mas nenhum deles jamais contestaria a eternadívida da sagração ao cargo executivo mais cobiçadono Estado. Alberto Maranhão, principalmente,Alberto Maranhão. Pedro Velho, empossado gover-nador em 28 de fevereiro de 1892, deu-se ao luxo deguardar, durante 11 meses, o cargo de secretário desua administração, tempo suficiente para queAlberto Maranhão terminasse seu curso de Direito,no Recife, juntamente com o genro Tavares de Lira,que seria o futuro substituto do governador AlbertoMaranhão.

Nas eleições de 4 de novembro de 1906, depoisdas administrações de Alberto Maranhão e Tavaresde Lira, que Pedro Velho convenceria a ser osecretário do presidente Afonso Pena, quandocomeçou a encompridar os tentáculos da oligarquiaextra-Rio Grande do Norte, Pedro Velho daria outrogolpe de mestre (no primeiro, através do governadorFerreira Chaves, instalou uma Constituinte, quebaixou a idade para alguém ser eleito governador doEstado, que era de, no mínimo, 35 anos, para 25anos. Manobra que sacramentou a oligarquia, ele-gendo o irmão Alberto, com 26 anos e 9 meses deidade, seguido do genro Tavares de Lira, com poucomais de 32 anos). Fez o governador Antônio deSouza, outro pupilo levado ao poder, esticar osegundo mandato, já previsto para AlbertoMaranhão, com duração de seis anos.

Foi sua última manobra política para manter aoligarquia e m cima dos trilhos. Sua despedidapolítica aconteceu em Natal, no seu 51.º aniver-sário, a 27 de novembro de 1907, numa home-nagem prestada pelos presidentes de todas as 37Intendências Municipais de que se compunha oEstado. Morreria pouco depois, em 7 de dezem-bro, mas deixando sua alquimia política em fun-cionalidade plena. E se não tivesse morrido?(CM).

O fantasma de Pedro Velhono vendaval da oligarquia

Alberto Maranhão: o novo chefe da oligarquia

Em 2005, Alberto Maranhão recebeu nova homenagem

Foto: Cedida

12 Natal - Novembro de 2005 nós, do RN Suplemento

Omacaibense Alberto Frederico deAlbuquerque Maranhão, que dánome à importante casa de teatro

em Natal, além de também ser patrono derua e de escolas em Natal e no interior(em Nova Cruz), foi governador do RioGrande do Norte por duas vezes: de 25de Março de 1900 a 25 de março de 1904,e de 25 de março de 1908 a 31 de dezem-bro de 1913.

Embora alguns historiadores consi-derem medíocre o seu primeiro períodode governo (por exemplo: em seu livro"A República Velha no Rio Grande doNorte - 1889-1930", Itamar de Souzachega a dizer a respeito o seguinte:"Passou quatro anos empregando pa-rentes e dando festas no PalácioPotengi"), a verdade é que o jovem go-vernador (começou a governar com ape-nas 26 anos e alguns meses de vida)deixou pelo menos duas obras marcantesjá em sua primeira gestão: o término e ainauguração do teatro que hoje tem o seunome e a sanção da primeira lei de incen-tivo à publicação de livros no RN.

A "Lei Alberto Maranhão" é curtinha;por ela se tem uma idéia da preocupaçãodo governador com a ajuda aos escritoresainda no final do século 19. Sancionadaem 6 de agosto de 1900, ela autoriza ogovernador a premiar livros de ciência eliteratura. Diz o seguinte o artigo único:"É o governador autorizado a premiarlivros de ciência e literatura produzidospor filhos domiciliários do Rio Grandedo Norte, ou naturais de outros Estados,quando neste tenham fixa e definitiva asua residência".

Ainda de acordo com a lei, este prêmiodeverá consistir na publicação, à custa doTesouro, daqueles dos referidos livros que, medi-ante parecer escrito de uma comissão compostado diretor da Instrução Pública e dois homens deletras designados pelo governador, forem consi-derados dignos desse favor oficial. "A exigência denaturalidade e domicílio será dispensada quando o

livro verse sobre assunto que diretamente entendacom a história e o progressivo desenvolvimentodo Estado".

A lei, que dizem ter sido uma sugestão deHenrique Castriciano, foi publicada no jornal "ARepública", em seu nº 172 (do ano XII), numaquarta-feira, 22 de agosto de 1900. E foi servindo-

se da tipografia do jornal "A República",de que já fora Chefe de Redação, queAlberto Maranhão começou a dar exem-plo mandando publicar livros.

Começou mesmo em 1900, publicandoo belíssimo livro de poesias de Auta deSouza, "Horto", com prefácio de OlavoBilac, e incluído na coleção Biblioteca doGrêmio Polimático. No mesmo ano pu-blicou em livro uma conferência pronun-ciada a 05 de agosto, no Palácio doGoverno, por Francisco de Sales Meira eSá, sobre Augusto Teixeira de Freitas.

Em 1901, publicou mais um livro depoesia: "Verbenas", de Ana Lima, comprefácio de Pedro Avelino, incluído nacoleção Biblioteca do CongressoLiterário. Em 1902, sairia um livro doantecessor de Alberto Maranhão nosegundo período de governo deste,Antônio de Souza. Título da obra:"Questão de limites com o Estado doCeará - Apontamentos e Documentos - 1ªSérie".

Em seu segundo período de governo,também pela tipografia de "A República",Alberto Maranhão mandou publicar algu-mas obras importantes. Como por exem-plo, em 1909, a profética conferência deManoel Dantas intitulada "Natal D'Aqui aCinqüenta Anos".

Esta conferência-conto foi pronuncia-da no salão de honra do Palácio doGoverno, a 21 de março de 1909. Outraconferência pronunciada no Palácio doGoverno e que o governador mandoupublicar pela tipografia de "A República"foi "O Amor", pronunciada por HonórioCarrilho, a 01 de agosto de 1909.Muitos outros livros importantes na

época foram publicados devido à açãoincentivadora de Alberto Maranhão: em 1910, umareunião das "Poesias" de Segundo Wanderley, onosso poeta condoreiro. Em 1913, um livroadministrativo: "Da Organização do EnsinoNormal, Profissional e Primário", de Nestor dosSantos Lima.

O último mecenas, segundo Câmara Cascudo

Lei modificada eregulamentada

A lei pioneira de Alberto Maranhãosofreu modificações, pela Lei nº 595, de05 de dezembro de 1924, assinada pelogovernador José Augusto Bezerra deMedeiros. E a 30 de maio de 1959, peloDecreto nº 3295, o governador Dinartede Medeiros Mariz, co-assinando com o

secretário de Educação, GrimaldiRibeiro de Paiva, regulamentou a referi-da "Lei Alberto Maranhão", definindo ocritério de classificação dos candidatos,"atendendo a originalidade, estilo, valordocumental e brilho divulgativo daobra."

Alberto Maranhão foi este líderpolítico e cultural, mecenas da literaturaque, após seu falecimento mereceu de

Câmara Cascudo uma "Acta Diurna",publicada em "A República" a 05 defevereiro do mesmo ano, onde ele diz:

"A cidade entristeceu, de súbito. E todas ascoisas, edifícios, avenidas, hospitais, educan-dários, luzes, bondes elétricos, rumores de festasinesquecíveis, de piqueniques maravilhosos, dejantares finos, sussurros de palestras literárias,revistas de cultura, conservatórios de música,concertos, estradas, execução de clássicos, val-orização de intelectuais, sedução da frase sutil,

do gesto airoso, as valsas de Viena, os vinhosaristocráticos, as 'toiletts' finas, os espetáculosde gala, as regatas, os jornais, as leituras,Beethoven e Goethe, Bilac e Eça de Queiroz,surgiram na voz silenciosa para dizer: - mor-reu quem nos criou o Iniciador, a velocidadeprimeira, aquele que acreditou em Natal, ovencedor do século, plantador da civilização namelancolia colonial da cidade, semeador de ale-grias, alma do bom gosto, derradeiro príncipedo Renascimento, o último Mecenas..." (AF)

Alber to Maranhão: autor da primeira lei de incentivo à cultura

Reprodução

13Natal - Novembro de 2005 nós, do RNSuplemento

Te a t r o A l b e r t o M a r a n h ã o , que já fo i chamado de T h e a t r o C a r l o s G o m e s : jus ta homenagem a quem fo i o seu maior pat rono

Um teaUm tea trtro centenário o centenário

Aconstrução do Theatro Carlos Gomes, essa jóiarara do teatro brasileiro que é conhecido agoracomo Teatro Alberto Maranhão, começou em

1898. A história desse preciso patrimônio arquitetôni-co e cultural do povo potiguar está contada no luxuosolivro 100 anos de Arte e Cultura - Theatro CarlosGomes - Teatro Alberto Maranhão, do pesquisadorpotiguar Cláudio Galvão. É uma bonita edição daFundação José Augusto que resgata a história fabulosade um sonho que nasceu da necessidade de Natal teruma casa de espetáculos digna de seu povo.

A partir de uma campanha desencadeada pelo jor-nal "A República", o então governador FerreiraChaves começou a cogitar na construção de umteatro, logo que fossem concluídas as obras doBatalhão de Segurança. "Em abril, iniciava-se a con-strução. O local: um extenso terreno que, durante operíodo chuvoso, tornava-se alagado e insalubre,denominado Praça da República". Era provavelmenteo dia 14 de abril de 1898.

Com a chegada ao poder do governador AlbertoMaranhão, a construção do teatro ganhou um novoalento. Logo em sua primeira mensagem, ele previa aconclusão das obras para o ano seguinte. O major daGuarda Nacional Teodósio Paiva era o responsávelpela construção. Em janeiro foi contratado o arquitetoHerculano Ramos para os trabalhos de interior doteatro. Em setembro de 1903, o governador visitou ocanteiro de obras e viu, entre chafarizes e objetos dearte, a estátua do artista francês Mathurin Moreau.

Neste mesmo mês, chegava à cidade o maestro ita-liano Luigi Maria Smido. Vinha do Pará. A orquestra doTheatro Carlos Gomes fez sua primeira apresentação noPalácio do Governo (que agora já era na atual Praça Setede Setembro, onde hoje funciona o Palácio da Cultura),seguida pela banda de música do Batalhão de Segurança.

A inauguração do Theatro Carlos Gomes, em 24de março de 1904 (o teatro levou quatro anos para ser

concluído), contou com a presença de muitas autori-dades. Neste mesmo dia o governador AlbertoMaranhão transmitiu o governo para Augusto Tavaresde Lira e Juvenal Lamartine. "Como curiosidade,destaque-se que os jornais não fizeram referência àpresença do ex-governador Joaquim Ferreira Chaves,iniciador da obra...".

Foi uma festa inesquecível. Apresentação daorquestra abrindo com o Hino Nacional; abertura daópera O Guarani, de Carlos Gomes e outros clássicoscomo a Marcha Húngara, de Berlioz; HenriqueCastriciano apresentou uma cena dramática com umgrupo de crianças; o ator Deolindo Lima recitou omonólogo Rogério Brito, de Artur Azevedo e a noitesó terminou com a platéia extasiada depois da apre-sentação de uma ária do Barbeiro de Sevilha.

A primeira peça de um autor norte-riograndenseencenada por uma companhia visitante, foi Amor eCiúme, de Segundo Wanderley, em 1906. Era aCompanhia Dramática Cardozo da Motta. O primeirosucesso local foi a peça Natal em Camisa, de SegundoWanderley. A primeira peça escrita e encenada noTheatro Carlos Gomes foi No Reino das Musas, deStella Wanderley, filha de Segundo Wanderley, em 1920.Suas montagens sempre alcançaram grande sucessojunto ao público natalense. "Stella Wanderley foi aautora potiguar que mais encenou no TAM". Valenotar que este período histórico da vida potiguar foifortemente influenciado pela presença de SegundoWanderley.

Note-se a distância entre as datas e a ausência deartistas amadores em encenações no novo teatro.Cláudio Galvão explica que "a grandiosidade das insta-lações do Theatro Carlos Gomes, em comparação como ambiente humilde dos antigos teatrinhos improvisa-dos, parece haver inibido, a princípio, as companhiasamadoras locais. Assim durante o seu primeiro ano deexistência, nada apresentaram.

Carlos de Souza

Restauração e um novo nome

Cláudio Galvão narra com cuidado as marcas que o tempofoi deixando no edifício do velho teatro. "Seis anos após suainauguração, o Teatro Carlos Gomes reclamava consertos emodificações; em vista do exame que se procedeu, tornou-senecessária a reconstrução geral do edifício, de que seriamaproveitadas apenas as paredes laterais e o material restante dasdemolições". O governador era novamente Alberto Maranhão eos recursos para as obras foram imediatamente disponibilizados.

O resultado é que o natalense dos dias de hoje não sabecomo era o teatro original. Em 1912 o novo teatro estavapronto. Comparando as fotos de 1904 com as de 1913, écom espanto que se percebe a diferença total de uma facha-da para outra. No entanto, o bom observador há de admi-tir que foi uma mudança para melhor. "Para a reinaugu-ração de suas atividades o seu Diretor, Joaquim Scipião,dirigiu-se ao Recife, no objetivo de contratar a Gran Cia.De Zarzuela, Ópera y Opereta Pablo Lopez.

Retornando, confirmou a presença na cidade daquelaCompanhia e seus cantores. Natal haveria, pela primeira vez,de ver e ouvir uma ópera completa". No dia 19 de julho de1912 o teatro foi reinaugurado com um grande espetáculode música lírica. Nessa época era comum um repertório re-cheado de trechos e óperas famosas como CavaleriaRusticana, de Pietro Mascagni; La Bohéme, de Puccini; LaTraviata, de Verdi e A Viúva Alegre, de Lehar.

O tempo passou e, infelizmente a história do TeatroAlberto Maranhão cabe nessas poucas linhas. É preciso bus-car uma leitura mais alentadora no livro de Cláudio Galvão. Ofato é que teve muita música no palco deste teatro e, quandoa moda mudou, teve também algum cinema (oCinematographo foi inaugurado lá), teve banquetes comPresidentes da República; foram realizado bailes; transforma-do em ringue de lutas; em sala de aula da UniversidadePopular; festivais. E passou por início de incêndio, inundaçõese alagamentos. Em 1957, em homenagem a seu maior incen-tivador, mudou o nome para Teatro Alberto Maranhão. De lápara cá tem passado por algumas reformas, pequenas masnecessárias e continua sendo nosso maior e mais belo teatro.

14 Natal - Novembro de 2005 nós, do RN Suplemento

Certa vez, Anízio Teixeira - considera-do um dos maiores educadores doBrasil - comparou o ensino da

Escola Doméstica ao de países com tradiçãoescolar como a Inglaterra. O sociólogoGilberto Freire chegou a dizer que a EDensinou o Nordeste a como se alimentar.Câmara Cascudo, Humberto de Campos eJorge Amado, entre outros intelectuais depeso, também exaltaram o papel da ED. Em25 de outubro deste ano, o sociólogo suíçoPaul Ammann, que aqui estava realizandoum trabalho de desenvolvimento socialpara os municípios do Oeste do RioGrande do Norte, declarou que "se todosos estados brasileiros tivessem uma escolacomo a Doméstica, o Brasil não seria subde-senvolvido".

Pois bem: essa instituição de ensino quasecentenária foi idealizada no segundo governode Alberto Maranhão. Coube ao seusecretário de Estado, Henrique Castricianode Souza, viajar a Europa, especialmenteSuíça e Belgica, para se inspirar num modelode escola especializada na educação da mu-lher. Isso tudo numa época em que haviapouco, muito pouco espaço para a mulher nasociedade brasileira.

Inaugurada em 1º de setembro de 1914,já no governo de Ferreira Chaves, aEscola Doméstica tornou-se, portanto, aprimeira instituição de ensino do Brasilvoltada exclusivamente para a formaçãoe educação feminina. No primeiro Livrode Atas da escola está estampada a assi-natura do governador Alberto Maranhão,em cuja gestão, afinal, foi instituída aLiga de Ensino do Rio Grande do Norte,entidade mantenedora e responsávelpelos trabalhos de fundação da ED.

O pioneirismo da ED sobressaia-se apartir do corpo docente. Professorasfrancesas, inglesas, norte-americanas,suíças, entre outras origens, introduziamna escola um ensino inovador. Em 1919,época em que a figura do psicólogo eradesconhecida no país, a ED já tinha umadisciplina com essa matéria. Técnicas deconservar alimentos foi outro campo, atéentão desconhecido, abordado nas aulas.Foi introduzida a cadeira de horticultura,quando sequer havia o hábito de secomer verdura naquela época. As alunasaprendiam, além de plantar e colher,tudo sobre o poder nutritivo dos vege-tais. Álgebra, física, anatomia, técnica deempalhar bichos - áreas de conhecimentoigualmente inexploradas - também fazi-am parte do currículo escolar.

Henr ique Cas t r i c i ano t inha emNízia Floresta um exemplo de edu-cadora a ser perseguido e, por isso, ela oinfluenciou na criação da escola. Da fundaçãoaté os dias atuais, a ED tem como filosofia deensino a formação completa da mulher, nãoapenas particularizando as necessidadesdomésticas, mas colocando a mulher dentrodo contexto da sociedade, de modo que elapossa visualizar maneiras de me-lhorar oambiente familiar e contribuir para oengrandecimento da sociedade e da família.Até hoje referência de ensino em todo país, aescola abriga alunas vindas de outros estadose municípios do Rio Grande do Norte.

Personalidades da vida pública esocial do Rio Grande do Norte passarampela ED. É o caso da deputada federalSandra Rosado, da primeira-dama deNatal, Andréia Ramalho, da empresáriaTeresa Tinoco, da jornalista MaríliaTinoco. A jornalista e assessora de comu-nicação Graciema Carneiro é ex-aluna daEscola Doméstica. Ela afirma que deve àinstituição a sua base educacional. "Asaulas práticas que tive foram fundamen-tais para a minha profissão, nas ativi-dades de relações públicas e cerimonial,além dos conhecimentos para o lar ",afirma.

Escola fundada no governo Alber to Maranhão pelo secretário Henr ique Cast r ic iano

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Desde março de 1945, portanto há 60 anos, que uma única pes-soa responde pela administração da Escola Doméstica: donaNoilde Ramalho. "Minha escola: minha vida e minhas alegrias, euagradeço a ti por ter-me dado a oportunidade de aqui viver",resume a diretora ao falar da ED. Faz questão de frisar que a insti-tuição não tem fins lucrativos, primando sobretudo pela quali-dade. "Não trabalhamos pelo dinheiro no final do mês. Nossoempenho é em educar e formar cidadãos prontos para a vida,desde a infância. O ensino e a formação pessoal devem caminharjuntas", explica.

Noilde Ramalho tem orgulho em dizer que a estrutura deensino de sua escola é avançada, mesmo depois de 91 anos."Nossa filosofia não está superada,muito pelo contrário.Estamossempre atualizados, em sintonia com as mudanças e reformas.Nem por isso deixamos o passado de lado. Afinal, quem não tempassado, não tem vida", afirma.

A ED oferece educação infantil, onde as turmas são mistascom a opção de tempo integral; ensino fundamental I (da 1ª a 4ªsérie), também com turmas mistas; ensino fundamental II (da 5ªa 8ª série), com turmas femininas, e ensino médio, também comturmas femininas. Atualmente, a instituição possui cerca de 800alunos. A escola possui alunas de diferentes camadas sociais.Prioriza inclusive a inclusão de alunos portadores de deficiência.

Desde a fundação, um dos destaques e diferenciais da EscolaDoméstica são as aulas práticas. Razão de ser da ED, a formaçãodoméstica tem sido aplicada de maneira mais significativa, fazen-do parte do currículo da 5ª à 8ª séries. Nas aulas de educação ali-mentar, as alunas não aprendem apenas a cozinhar, mas tambémo valor nutritivo do alimento. Já na disciplina fundamentos depuericultura, as alunas aprendem a cuidar de crianças.

Reprodução

15Natal - Novembro de 2005 nós, do RNSuplemento

Olugar não podia ser mais acolhedor.Finalmente, após 61 anos, os restos mortaisdo ex-governador Alberto Frederico de

Albuquerque Maranhão (1872-1944) foram deposita-dos em solo potiguar, mais precisamente no jardimdo Teatro Alberto Maranhão, inaugurado em suaprimeira gestão como chefe do executivo estadual.Antes do reencontro definitivo com sua terra, opolítico encontrava-se sepultado em Parati, no Rio deJaneiro, Estado que o acolheu durante a aposentado-ria. O traslado das cinzas do 'mecenas da cultura' parao solo norte-rio-grandense se deu no último dia 4 deoutubro.

Como pedia a ocasião, a recepção foi digna de umestadista. Após o desembarque no aeroportoAugusto Severo, em Parnamirim, o cortejo com osrestos mortais do ex-governador e de sua esposa InêsAlbuquerque Maranhão seguiu em carro aberto parao Teatro Alberto Maranhão, onde a governadoraWilma de Faria e outras personalidades políticas rece-beram com honras quatro netos vindos do Rio deJaneiro e membros da família que permaneceram noEstado.

A justa homenagem a um dos governantes maisqueridos e prolíferos do RN mobilizou grupos po-pulares e companhias teatrais no pátio externo doTAM. As secretarias de Educação do Estado e doMunicípio também se envolveram no acontecimento.

"O evento coroa os cem anos de inauguração doTeatro Alberto Maranhão", observa a diretora da casa,Hilneth Correia. Ela informa que haverá um concur-so de redação entre os alunos do ensino fundamentalsobre a vida de Alberto Maranhão, adiantando que oprimeiro passo para o vencedor do concurso será umabolsa integral para cursar Letras na UnP.

A idéia da transposição partiu do presidente doInstituto Histórico e Geográfico do RN, EnélioPetrovich, que sugeriu ao então governador GaribaldiAlves Filho a construção de um mausoléu para sepul-tar definitivamente Alberto Maranhão. Como a pro-posta gerava uma demanda considerável de recursospúblicos - construção e manutenção do monumento- o plano foi adiado.

"Quando Enélio veio conversar comigo sobre aproposta, durante o centenário do Teatro AlbertoMaranhão, decidimos que aqui seria um bom localpara selar esse reencontro entre o político e sua

terra", esclarece Hilneth Correia.Conforme a diretora, a sugestão segue o exemplo

de teatros no Maranhão e no Rio Grande do Sul.Nestes dois Estados, há patronos sepultados nasprincipais casas de espetáculos. A mobilizaçãoacabou influenciando pedidos na Paraíba, para trazerAugusto dos Anjos, e em Macaíba, que quer receberos restos mortais de Augusto Severo, irmão deAlberto Maranhão.

Na visão do presidente do IHG/RN, EnélioPetrovich, Alberto Maranhão foi um "estadista,autêntico cidadão do mundo e exemplo de umaexistência gloriosa". Enfatiza que o ex-governador

era voltado para o humanismo, a responsabilidade, orespeito mútuo e unânime e um arquiteto das boascausas em favor da comunidade.

Enélio lembra ainda que Alberto Maranhão foi ofundador do Instituto Histórico e Geográfico do RioGrande do Norte, inaugurando a academia em 29 demarço de 1902. Também incentivou as iniciativas cul-turais por meio da Lei nº 145, de 6 de agosto de 1900."Uma luz de inteligência que se irradiou em nossasalmas pela valorização do conhecimento humano",assevera. E conclui: "eu dei o impulso inicial para queAlberto Maranhão fosse sepultado definitivamenteem solo potiguar".

O bom filho à casa torna

Restos mortais do ex-governador foram depositados no jardim do teatro que ele inaugurou

Paulo Jorge Dumaresq

Ações desafiam o tempo

As ações do ex-governador Alberto Maranhãopodem ser sentidas ainda nos dias de hoje. Políticoengajado, sensível às manifestações culturais, eresponsável por feitos importantes para o RN, elecriou a bandeira oficial do Estado, o Instituto

Histórico e Geográfico, a Orquestra Sinfônica eautorizou a conclusão do Teatro Carlos Gomes.

Afora isso, foi responsável pela construção doHospital Onofre Lopes, pela doação de terrenos paraa construção de escolas e pelo batismo dos bairros dePetrópolis, Tirol e Alecrim. Alberto Maranhão tam-bém implantou a luz elétrica em Natal e, posterior-mente, os bondes elétricos.

Nascido em Macaíba, filho de Amaro Barreto, umcomerciante próspero e senhor de engenho, e dedona Feliciana Pedroza, Alberto era irmão do tam-bém ex-governador Pedro Velho de AlbuquerqueMaranhão, do pianista e professor do InstitutoNacional de Música no RJ, Amaro Barreto Filho, e doaviador, abolicionista, orador e líder político, AugustoSevero de Albuquerque Maranhão. (PJD)

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Natal - Novembro de 200516 Suplemento

(Crispiniano Neto)

“Alberto Maranhãofoi o Potengi

que se fez homem”Diógenes da Cunha Lima,

presidente da AcademiaNorte-Rio-Grandense de Letras

“Padre João Maria,em vida, só possuiu como

riqueza o amor ao próximo,a prática da virtude,o exercício do bem”

Veríssimo de Melo,escritor, membro da AcademiaNorte-Rio-Grandense de Letras