RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA: ESTUDO COMPARATIVO DAS NORMAS SOCIAIS
Normas sociais e Bullying
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“O impacto das normas sociais na perceção do bullying”
Unidade curricular: Métodos de Investigação Quantitativos
Docente: Isabel Correia
Discentes: Ana Lopes (60514); Carla Lopes (60482);
Daniela Pereira (62111); Patrícia Gonçalves (62184)
PB1/PB3
23 de Maio de 2014
ISCTE, Lisboa
2 O IMPACTO DAS NORMAS SOCIAIS NA PERCEÇÃO DO BULLYING
Enquadramento teórico
Dada a existência de uma grande atenção por parte dos media, naquilo que é o bullying e
como é retratada nas sociedades hoje em dia, vários investigadores começaram a ter um maior
interesse pelo bullying nomeadamente nos adolescentes e em contextos escolares, dada a sua
proeminência nestes locais.
Vários estudos realizados nos Estados Unidos indicaram que numa escala de 6 a 12, nas
escolas, 9% são agressores, 9% são vítimas, e 3% são ambos, ou seja, agressores e vítimas.
Outros estudos e revisões realizadas sobre este tema, afirmam que existem fatores de risco
que incitam ao bullying e violência, entre eles, podem estar: Baixo QI, atitudes antissociais,
uso de substâncias e violência familiar, realçando igualmente, que é importante haver um
conhecimento do que é o bullying como meio preventivo deste. Muitas vezes, o bullying
ocorre em ambientes escolares, não só pelo facto de os adolescentes passarem uma parte
significativa dos dias na escola, mas também porque as escolas são ambientes sociais, onde
comportamentos, como quem se senta com quem no refeitório são rigidamente definidos por
normas de estudantes (falar, ou não falar para o outro) (Eder, Evans, & Parker, 1995, citado
por H. Wesley Perkins, David W. Craig & Jessica M. Perkins, 2011). E, As impressões
formadas (corretas ou incorretas) podem levar a atos de bullying por parte dos alunos.
Os autores do artigo Using social norms to reduce bullying: A research intervention
among adolescents in five middle schools (autores, data), consideram que para prevenir e
prever o bullying, há diversos fatores importantes para tal: fatores sociodemográficos e
contextuais, os fatores de risco já enunciados em cima e a perceção das normas por parte dos
pares (e.g.: como olham para os outros no meio deles). Quando os investigadores começaram
por se interessar nestes aspetos denotaram que ainda não havia sido feito nenhum estudo de
precisão de perceção de normas do bullying, nem uma intervenção para desafiar perceções
para reduzir o bullying. Porém, o artigo surgiu com algumas limitações, nomeadamente em
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termos de métodos, consistência interna e externa. Assim, este presente estudo tem como
objetivo colmatar estas limitações. Relativamente ao método do estudo acima referido, a
amostra do pré teste e pós teste era diferente, pelo que neste presente estudo, e, dado que
iremos fazer um estudo experimental, teremos como cuidado a utilização de uma amostra
heterogénea, e a utilização da mesma amostra quer no pré teste, quer no pós teste, assim, o
risco de haver pouca fidelidade nos resultados será menor. Ainda relativamente ao método, foi
utilizado pelos autores uma escala de medida sobre o bullying que consistia num inquérito
feito aos alunos sobre o que para eles são comportamentos identificados como bullying,
porém, houve um item que foi retirado à escala que poderia ser interpretado da forma errada:
“obrigar alguém a fazer algo que não queira”, poderia ser visto como fazer algo que não
queira de forma positiva e não negativa como se pretende. Assim, neste estudo a escala que
iremos utilizar irá ser a mesma, porém a modificada, acrescentando, que no pós teste foi
retirado a parte “exposição ao poster” dado que, na presente investigação, a intervenção não é
realizada através de posters, mas sim através de um vídeo. Outra limitação do estudo prende-
se com a questão de não existir um grupo de controlo para que se possa efetivamente afirmar
que a intervenção foi eficaz com a visualização dos cartazes. E o uso de uma situação pouco
realista que pode por em causa a perceção de comportamentos de bullying (validade externa),
tal como o facto de haver um tempo demasiadamente longo entre o pré teste e o pós teste, que
no atual estudo será reduzido. Além disso, não era possível garantir que os participantes
tinham visto o poster, ou seja, que estavam a realizar o pós teste após a intervenção.
Acrescentando que os participantes presentes na sala onde realizavam os questionários
poderiam estar relutantes quanto à resposta a dar, dado que se encontravam na sala
demasiados alunos e com uma grande proximidade entre si, pelo que iremos reduzir esta
proximidade aplicando o questionário a menos alunos em simultâneo, de forma a que os
colegas à sua volta não consigam ver as suas respostas. Ao transformar o artigo em
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experimental, a validade interna irá subir relativamente ao estudo anterior que não possuía
aleatorização dos participantes pelas condições, o que elimina todas as ameaças à validade
interna.
Temos, então, como hipóteses do artigo anterior:
Hipótese 1- Grau e direção das perceções erradas sobre o bullying, bem como a
quantidade de variação de normas percebidas existentes.
Hipótese 2- Impacto que pode ser produzido através da divulgação de normais reais
sobre o bullying nas populações adolescentes.
Hipótese 3- Grau de associação entre as perceções da norma, o bullying dos colegas e o
envolvimento pessoal.
Porém, dado que iremos realizar um estudo experimental e alterar as devidas limitações
do anterior, as hipóteses do estudo terão que ser alteradas. Além de testar a norma percebida
do bullying, iremos aferir se existe diferença entre sexos no que diz respeito à perceção da
mesma, isto porque ainda não foi realizada nenhuma intervenção para saber se há diferenças
entre rapazes e raparigas, isto é, se o mesmo vídeo influencia de forma igual ambos os sexos.
Esta é uma variável medida, dado que estamos a falar da variável “sexo”, pelo que não poderá
ser manipulada pelos experimentadores, o que faz com que este estudo não seja totalmente
experimental. Assim, apresentamos as nossas hipóteses:
Hipótese 1- Na condição em que o vídeo retrata o bullying como raro espera-se que os
participantes tenham uma norma percebida sobre o bullying mais reduzida.
Hipótese 2- Na condição em que o vídeo retrata o bullying como muito frequente espera-
se que os participantes tenham uma norma percebida sobre o bullying maior no pós teste do
que no pré teste.
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Hipótese 3- Não se esperam diferenças na norma percebida do bullying entre rapazes e
raparigas.
Espera-se um efeito principal da norma na condição em que é considerada rara (a qual é
diferente da condição frequente) bem como do grupo de controlo e que haja um aumento da
perceção de bullying do pré-teste para o pós-teste, na condição em que o bullying é muito
frequente. Espera-se também que não haja diferenças na norma percebida entre os sexos.
Método
Este estudo é bifactorial, apresentando um design 3x2, o que corresponde a uma VI com
três níveis, sendo estes bullying raro, bullying frequente e grupo de controlo; e a uma VI com
dois níveis, o sexo feminino e o masculino.
Para a realização deste estudo foram utilizados 97 alunos do ensino básico (6º ao 8º anos),
com idades compreendidas entre os 11 e os 14 anos, sendo que destes, 43 eram do sexo
feminino e 54 do sexo masculino. Estes alunos pertenciam todos ao Estado do Ohio e, todos
frequentavam a mesma escola. A escola é de média dimensão, pública e com uma população
estudantil muito heterogénea.
As comparações demográficas eram feitas pelos resultados dos questionários.
Para a seleção dos participantes, acedemos à base de dados da escola, com o nome de
todos os alunos de todas as turmas dos 6º ao 8º ano. Após ter a lista completa, organizámos os
nomes por ordem alfabética e, posteriormente, foi atribuído um número de forma sequencial a
cada aluno. Depois, através do Excel (local onde foram criadas as listas) aleatorizámos os 97
participantes.
Com critério de exclusão, temos os alunos que frequentam os 6º,7º e 8º ano, mas que têm
menos de 11 anos ou mais de 14 anos.
6 O IMPACTO DAS NORMAS SOCIAIS NA PERCEÇÃO DO BULLYING
Como dito anteriormente, iremos utilizar a escala Survey of Bullying at Your School
modificada, pois apresenta um alfa de Cronbach, no estudo anterior, (medida de fidelidade da
consistência interna) com uma alta confiabilidade de resposta inter-itens no pré-teste e pós-
teste, com 0,82 e 0,83 respetivamente.
O instrumento de pesquisa incluiu uma série de perguntas sobre o que são
comportamentos identificados como bullying nas escolas, incluindo: (a) empurrar, bater,
chutar, puxar o cabelo, ou fazer rasteiras, (b) provocação de uma forma hostil, (c) chamar
nomes não “amigáveis” (d), excluir alguém de um grupo para fazê-lo sentir-se mal, (e) tirar
ou estragar pertences de outra pessoa, (f) espalhar histórias ou rumores sobre alguém, (g)
ameaçar ferir alguém, e (h) manipular alguém a fazer algo que não queria. Os entrevistados
foram questionados com que frequência nos últimos 30 dias tinham feito cada um destes oito
comportamentos para com outro aluno usando as categorias de resposta "Não nos últimos 30
dias" (0), "Uma" (1), "2-3 vezes "(2), e " 4 ou mais vezes "(3).
Uma medida do índice pessoal, que leva a cabo o bullying, foi posteriormente calculada
pela soma da pontuação de respostas dos oito itens, indicando alta confiabilidade para as
respostas, tanto no pré-teste (0,82) como no pós-teste (0,83). O Alfa de Cronbach apresentado
no estudo original é muito próximo de 1, o que nos indica que existe alta confiabilidade da
escala e que é uma medida de consistência interna dentro das medidas de fidelidade.
Usando os mesmos itens comportamentais e categorias de resposta, os entrevistados
também foram questionados sobre com que frequência eles pensavam que a maioria dos
outros alunos da escola tinham feito a mesma coisa.
Vitimização de bullying
Os indivíduos foram questionados sobre com que frequência, nos últimos 30 dias, os
seguintes episódios ocorreram direcionados aos mesmos e também a forma como muitas
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vezes, nos mesmos 30 dias, eles pensavam que essas coisas tinha acontecido com a maioria
dos outros alunos na sua escola: (a) foi empurrado, bateram-lhe, chutaram-lhe, puxaram o
cabelo, ou lhe fizeram rasteiras, (b) ser provocado de forma hostil, (c) ser chamado de nomes
não “amigáveis”, (d) a ser excluído de um grupo, (e) pertences tirados ou danificados; (f)
história ou rumor que se espalhou, e (g) ameaçado de ser ferido.
O oitavo item na lista de medidas de tomada de perpetração de “alguém fazer algo que
não queria fazer” não foi convertido num item de vitimização na área de construção da
pesquisa, pois foi considerado que isso poderia ser positivo. Desta forma, a pesquisa conteve
apenas 7 itens sobre vitimização.
Foram utilizadas as mesmas categorias de respostas e pontuação que nas perguntas sobre
perpetração de bullying. Análises da escala de confiabilidade do estudo original voltaram a
mostrar alta confiabilidade para a vitimização pessoal de bullying quer no pré (0.82) quer no
pós teste (0.81), bem como na norma percebida para vitimização de bullying nos dois
momentos (0.86 e 0.88).
Atitudes Pro-Bullying
Um segundo conjunto de questões para medir atitudes pessoais pró-bullying e a norma
percebida por atitudes pró-bullying fornecia quatro afirmações e pedia respostas sobre até que
ponto concordavam ou não com isso e em que medida achavam que a maioria dos outros
alunos concordavam ou não. As declarações foram as seguintes: (a) "os alunos não devem
provocar, chamar nomes que magoam, ou espalhar histórias desagradáveis sobre os outros
alunos", (b) "Os alunos não devem empurrar, chutar, bater, ou puxar o cabelo a outro aluno",
(c)" os alunos não devem ameaçar bater noutro aluno, mesmo que realmente não os toquem ",
(d)". os alunos devem sempre tentar ser amigável com os alunos que são diferentes de si
mesmos ". As categorias de resposta para as crenças pessoais e para o que a maioria dos
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entrevistados achavam que os outros diriam foram: concordo plenamente, concordo, discordo,
e discordo totalmente, codificado de 0 a 3, respetivamente. Novamente o estudo original
demonstra-nos que existe alta confiabilidade inter-itens para as atitudes pessoais pro-bullying
(0,82 e 0,84 para pré e pós-teste, respetivamente) e para a norma percebida por atitudes pró-
bullying (0,82 em cada momento do inquérito).
Relato de Bullying
Num terceiro conjunto foram feitas as seguintes perguntas aos alunos: "A quem acha que
os estudantes devem dizer se eles ou alguém é vítima de bullying na escola? E o que diz a
maioria dos outros estudantes?" Os participantes podiam dar a sua opinião pessoal e
responder aquilo que consideravam a norma para todas as outras pessoas.
Procedimento
O estudo decorreu dentro de salas de aula da escola em questão. As salas estavam
equipadas com 6 computadores bastante separados uns dos outros, sendo que esse número
correspondia ao número de participantes por sessão (para que não fosse permitida a
visualização das respostas pelos outros participantes) e onde apenas estavam presentes os
participantes e o investigador que tinha como função esclarecer dúvidas e controlar possíveis
enviesamentos. A duração aproximada de cada sessão era de 30 minutos.
Em primeiro lugar, os participantes realizaram um pré-teste que consistia numa escala de
normas percebidas do bullying e a sua respetiva vitimização. Uma semana depois foi aplicada
a intervenção que consistiu na visualização de um pequeno filme sobre o bullying.
Novamente após uma semana foi aplicado um pós-teste que consistia num questionário igual
ao primeiro para tentar perceber se ocorreu uma diferença entre pré teste e pós teste.
No questionário existiam alguns itens invertidos para garantir que não haviam respostas
aleatórias (diminuição do erro aleatório), o que permite um aumento da validade externa.
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Foram também realizadas questões a cerca do que é o bullying para cada um, para que se
perceba quais as suas perceções sobre este (mais uma vez reduz o erro aleatório e aumenta a
validade externa).
Para a realização deste estudo foram garantidas todas as questões éticas envolvidas. Foi
pedida autorização à escola para a realização do estudo, foi igualmente solicitada, aos pais dos
alunos, a autorização através do consentimento informado, dado que se tratavam de alunos
menores de idade.
O estudo era totalmente voluntário e anónimo e, como tal, não eram acedidas a contas
pessoais dos alunos. Foi utilizada a mesma password e URL para cada grupo em cada sessão
(o que garantia anonimato) e eram diferentes em cada sessão para que os alunos não
pudessem aceder aos questionários depois de os submeter e alterar as suas respostas.
Referências
American Psychological Association. (2009). Publication manual of the American
Psychological Association (6th ed). Washigton, D.C.: Author. [PS.100 APA*Pub 6ª ed]
Lima, M. L. (sem data). Conteúdo e estrutura desejável de um artigo científico. Manuscrito
não publicado.
Perkins, H. W., Craig, D. W., & Perkins, J. M. (2011). Using social norms to reduce bullying:
A reaserch intervention among adolescents in five middle schools. Group Processes &
Intergroup Relations 14(5), pp. 703-722.