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Ação de Deus no Mundo e na História A Menina no Fundo do Barco Tentação A Revista que se Responsabiliza Doutrinariamente pelos Textos Publicados setembro/2011 | edição 108 | ano IX | www.nossolarcampinas.org.br

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Ação de Deus no Mundo e na História

A Menina no Fundo do Barco

Tentação

A Revista que

se Responsabiliza Doutrinariamente

pelos Textos Publicados

setembro/2011 | edição 108 | ano IX | www.nossolarcampinas.org.br

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EDITORIAL03 Na Hora da Assistência

CHICO XAVIER04 O Que é Prioritário - Fotografias

MEDIUNIDADE05 Aprendendo a Volitar

DIÁLOGO06 Os Centros Espíritas e a Arte Mediúnica

CAPA08 Ação de Deus no Mundo e na História

ALIMENTAÇÃO13 Comer ou Não Comer Carne

ESTUDO16 Pesquisas

REFLEXÃO18 A Menina no Fundo do Barco

CONDUTA23 Tentações

COM TODAS AS LETRAS26 Só Entre na Área e Saia Dela

MENSAGEM27 Maus Obreiros

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FidelidadESPÍRITA | Setembro/2011

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” | Campinas/SP2

sumárioexpediente

Editor Emanuel Cristiano

Jornalista Responsável Renata Levantesi (Mtb 28.765)

Design Gráfico Julio Giacomelli

Revisão Zilda Nascimento

Administração e Comércio Elizabeth Cristina S. Silva

Apoio Cultural Braga Produtos Adesivos

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Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”Rua Dr. Luís Silvério, 120

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O Centro de Estudos Espíritas “Nosso

Lar” responsabiliza-se doutrinariamente

pelos artigos publicados nesta revista.

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FidelidadESPÍRITA | Setembro/2011 editorial

“Mas quando fi zeres convite, chama os pobres,

aleijados, coxos e cegos.” Jesus — Lucas, 14; 13.

“Auxiliai os infelizes o melhor que puderdes.”

— Cap. XIII, 9.

Nas obras de assistência aos irmãos que nos fe-licitam com as oportu-

nidades do serviço fraterno, em nome do Senhor, vale salientar a autoridade amorosa do Cristo que no-los recomendou.

Ao recebê-los à porta, intente-mos ofertar-lhes algumas frases de conforto e bom ânimo, sem ferir-lhe o coração, ainda mesmo quando não lhes possamos ser úteis.

Visitando-lhes o lar, diligen-ciemos respirar-lhes o ambiente doméstico, afetuosamente, reco-nhecendo-nos, na intimidade da própria família, que nos merece respeito natural e cooperação es-pontânea, sem traços de censura.

Em lhes servindo à mesa, fuja-mos de reprovar-lhes os modos ou expressões, diferentes dos nossos, calando apontamentos desprimoro-sos e manifestações de azedume, o que lhes agravaria a subalternidade e a desventura.

Socorrendo-lhes o corpo enfermo ou dolorido, refl itamos nos seres que nos são particularmente amados e imaginemos a gratidão de que sería-mos possuídos, diante daqueles que os amparassem nos constrangimen-tos orgânicos.

Se aceitamos a incumbência de provê-los nas fi las organizadas para distribuição de favores dimi-nutos, preservemos o regulamento estabelecido, com lhaneza e bon-dade, sem fomentar impaciência ou tumulto; e, se alguns deles, de-pois de atendidos, voltarem a nova solicitação, recordemos os filhos queridos, quando nos pedem repe-tição do prato, e procuremos satis-fazê-los, dentro das possibilidades em mãos, sem desmerecê-los com qualquer reprimenda.

Na ocasião em que estivermos reunidos, em equipe de trabalho,

a fi m de supri-los, estejamos de bom-humor, resguardando a dis-ciplina sem intolerância e culti-vando a generosidade sem rela-xamento, na convicção de que, usando a gentileza, no veículo da ordem, é sempre possível situar os tarefeiros do bem, no lugar próprio, sem desaproveitar-lhes o concurso valioso.

Nós que sabemos acatar com apreço e solicitude a todos os re-presentantes dos poderes transi-tórios do mundo e que treinamos boas maneiras para comporta-mento digno nos salões aristocrá-ticos da Terra, saibamos também ser afáveis e amigos, junto dos nossos companheiros em difi cul-dades maiores.

Eles não são apenas nossos ir-mãos, são convidados de Cristo, em nossa casa, pelos quais encon-tramos ensejo de demonstrar cari-nho e consideração para com Ele, o Divino Mestre, em pequeninos gestos de amor. v

Fonte: XAVIER, Francisco. Livro da Esperança. Págs. 105 – 107. Comunhão Espírita Cristã. 2010.

NA HORA DA ASSISTÊNCIAPOR EMMANUEL/CHICO XAVIER

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FidelidadESPÍRITA | Setembro/2011chico xavier

25–9–1946

“(...) Enviados por tua gentileza, tenho o “Mundo Espírita” e “Nosso Guia”, nos quais li

os trabalhos que nos interessam. Deus te conceda forças para a batalha,

silenciosa e incessante. Ainda bem que o teu espírito não se detém no que é se-cundário. (....) Muito te agradeço os para-béns pela conquista de natureza funcional em meus serviços. Não sei bem o que quer dizer a Constituição, mas espero que essa garantia seja, de fato, segura. Lemos o texto legal, mas estamos dependendo da interpretação das autoridades superiores aí do Rio. Vamos ver. Como a lei é boa, espero que a interpretação não seja má.”

As duas publicações aguardadas por Chico Xavier chegam � nalmente às suas mãos. Ele se refere aos trabalhos ali pu-blicados que são do interesse de ambos. Pelo tópico seguinte, pode-se depreen-der que encerram artigos desfavoráveis a Wantuil, ou ao seu trabalho, pelo que Chico lhe dirige palavras confortadoras, terminando por dizer: “Ainda bem que o teu espírito não se detém no que é se-cundário.”

E o que é secundário para o trabalhador afeiçoado ao Bem?

Há muitas tentações, digamos assim, na sua caminhada. Situações criadas para distraí-lo no cumprimento da tarefa, des-viando-lhe a atenção. Segundo a Benfei-tora Espiritual Joanna de Ângelis, em seu livro “Rumos Libertadores”, psicografado por Divaldo Franco, pessoas são coloca-das no seu caminho — pelos que estão empenhados em perturbar e obstar-lhe a marcha — para criarem problemas que entravam a continuidade do labor. Diz ela:

“Atiram pessoas-problemas nos braços da ação enobrecedora, objetivando situações embaraçosas e perturbadoras.” (Pág. 109, 1a ed.). Levantam-se críticas ferinas e in-justas, criam-se intrigas, surgem suspeitas injustifi cadas, enfi m, forma-se ao redor do bom seareiro o tumulto, o alarido, levando-o a perder precioso tempo em responder, em se justifi car, em contestar, ou, ainda, a desanimar ante o assédio ne-gativo. Entretanto, o operário vigilante saberá não se deter diante do que é secun-dário, tendo em vista a grandeza da obra que não lhe pertence. A meta prioritária é servir a Jesus, silenciosa e incessantemen-te, levando a toda parte o Seu Evangelho à luz da Doutrina Espírita. Esse o labor prioritário. Tudo o mais se torna, pois, secundário.

“Gostei de tuas apreciações sobre a fo-tografi a. Todos os fotógrafos deste mundo entendem de me ajudar. Imagina que um deles chegou a fazer-me retratos tão escan-dalosamente retocados e coloridos que tive de agradecer, receber e... queimar. Em compensação, os retratistas do outro mun-do não me perdoam e fazem-me sentir, a cada hora, a extensão de minha fealdade, para ver se eu conserto alguma coisa antes da morte do meu corpo. Esses fotógrafos são tão bons que não me retratam, porque se o fi zessem toda gente fugiria de mim. Man-dei também um retrato daqueles ao Ismael e estou esperando a reação dele. Vamos ver o que dirá. Estou certo de que ele me escre-verá ajudando-me a combater a vaidade.”

Chico faz, segundo a sua opinião, o seu auto-retrato. São bastante curiosas as suas comparações sobre os fotógrafos da Terra que tentam melhorar o seu aspecto e os “retratistas do outro mundo”, que,

conforme diz, não lhe perdoam a fealda-de espiritual.

Em sua espontânea humildade, Chico afi rma que estes últimos aguardam que ele conserte alguma coisa antes de desen-carnar.

“Achei interessante tua notícia sobre a aquisição de “A Bem da Verdade”. Estou perseguindo esse livro, desde algum tempo, e nada consegui até agora. Se eu chegar a adquiri-lo, como espero, enviar-to-ei. Te-nho encontrado muitos obstáculos.

Lastimo a prisão dos originais últi-mos. Que pena, hein? Temos de estu-dar algum meio que solucione o assunto. Sinto inveja da leitura que vens fazendo com o Ismael da “Revue Spirite”. Deve ser um encanto entrar em contato com essas coleções antigas. Creio que estás fazendo esse trabalho com a inspiração de nossos Maiores. Creio, não — tenho a certeza disso. Que possamos recolher muitos frutos dessa tarefa abençoada é o meu desejo mui-to sincero.

Aguardo tuas notícias novas sobre a re-visão do “Roustaing”. Não te excedas nesse serviço. Das 7 às 23 horas é demais. Res-guarda teus órgãos visuais. Lembra-te de que a tua família espiritual é hoje enorme.

(...) Wantuil, envio-te uma cópia da mensagem de Emmanuel, solicitada por irmãos nossos do II Congresso Espírita de Maceió. (...) Como já sei que a publicidade é máquina inconsciente, dou-te ciência do fato, lamentando não ter podido ouvir-te antes. Quis telefonar-te (...) mas a rede esta-va com atraso de 11 horas, impedindo-me a realização do desejo. Desculpa-me. (...)” v

Fonte: SCHUBERT, Suely Caldas. Testemunhos de Chico Xavier. Págs. 89-92. Feb. 1998.

O QUE É PRIORITÁRIO. – FOTOGRAFIAS POR SUELY CALDAS SCHUBERT

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FidelidadESPÍRITA | Setembro/2011

Levitação é o ato de levantar um corpo pelo simples poder da vontade; talvez possamos en-

contrar alguém que, por si mesmo, num fenômeno anímico, se eleve no espaço; mas, geralmente, a levitação é um fe-nômeno de efeito físico, produzido por Espíritos com a utilização do ectoplasma de um médium.

Volitação é a faculdade própria que permite ao espírito transportar-se, via aérea, de um lado para outro, pelo poder da vontade, sem o auxílio de qualquer veículo. É o próprio espírito, encarnado ou não, movimentando seu perispírito.

Não encontraremos os termos levita-ção ou volitação em O Livro dos Espíritos nem em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.

Mas, sobre a levitação, poderemos consultar na Revista Espírita, de fevereiro de 1858, o artigo “O Isolamento dos Corpos Pesados”, em que se relata o fato de uma mesa de cem quilos “librando-se no espaço sem nenhum apoio”; e nos meses de março e abril, do mesmo ano, sob o título Home, temos a explicação do modus operandi dos Espíritos para pro-duzirem fenômenos assim; e, ainda, no mês de fevereiro de 1861, o artigo deno-minado “O Sr. Squire”, sobre médium que produzia fenômenos similares ao de Home.

Quanto à volitação dos Espíritos, mesmo os inferiores, temos o capítulo 17 do livro de André Luiz, No Mundo Maior, psicografado por Francisco C. Xavier.

Recordadas estas noções, entremos na narrativa do que me ocorreu, certa vez, estando em desdobramento pelo sono, na condição, portanto, de espírito mo-mentaneamente liberto do corpo físico, conquanto ainda ligado a ele por cordões fl uídicos. Foi um sonho espírita, uma ex-

periência vivida no campo espiritual, de que consegui guardar a recordação, por se tratar de um fato importante para mim.

Vi-me em residência modesta, intei-ramente tomada por um grupo de pes-soas em alegria comedida, parecendo uma dessas nossas festas familiares, como aqui na Terra.

Em dado momento, dois jovens se aproximaram de mim, me ladearam, e nos dirigimos os três para fora da casa. Ali, eles me apoiaram pelos cotovelos e levitamos, alçamos voo.

Eu já me sentira fl utuar no espaço, outras vezes, mas em decúbito dorsal e seguida ou perseguida por pessoas que não volitavam e, estendendo suas mãos, tentavam me alcançar, sem no entanto o conseguirem nunca.

Agora, porém, amparada por aqueles dois amigos espirituais eu volitava em posição vertical, como normalmente ca-minhamos pelas ruas.

A certo momento, os meus ampara-dores me liberaram e eu me senti capaz de continuar volitando por mim mesma, o que me dava grande sensação de auto-nomia e bem-estar.

Assim que me vi liberada, veio-me a vontade de me dirigir a um local, que certamente eu conhecia e queria visitar em primeiro lugar, nessa minha excur-são pelo espaço.

E vi-me sobrevoando uma casa térrea, com um longo quintal em que estava plantado um milharal já sem viço, res-tando apenas espigas fanadas.

Ao lado do milharal, duas crianças brincavam: uma menina loira, que pa-recia ter cerca de oito anos, e um me-nino moreno, menor do que ela. Eles me viram e fi caram alegres, mas logo a menina correu para o interior da casa, a fi m de avisar os moradores da minha

chegada, sendo seguida pelo menino. E eu, então, me preocupei: Como é

que se desce? É a primeira vez que volito assim... Que devo fazer? Porém, a che-gada ao solo e o reequilíbrio do corpo perispiritual foi relativamente fácil.

Depois, de nada mais recordo. Tudo se apagou para a minha memória.

Sim, sem dúvida, foi um sonho espí-rita, a lembrança de uma vivência espi-ritual, enquanto o corpo dormia. Mas que importância teria o episódio? Que entender de todo o acontecido?

Ficou evidente que precisei de ajuda espiritual para aprender a volitar com equilíbrio e autonomia, ajuda que os dois amigos do Além me prestaram, en-sinando-me o que fazer, como agir.

A casa que me apressei em visitar era, certamente, residência de familiares ou amigos, encarnados aqui em nosso mundo, que, naquele momento, esta-riam em condições de convivência espi-ritual comigo, por se encontrarem tam-bém em desdobramento pelo sono.

As crianças, porém, penso que se tra-tava de Espíritos queridos, que ainda se encontravam no Além, desencarnados, mas que tinham relação conosco, faziam parte de nossa família espiritual, como no futuro se comprovou.

Isto porque, alguns anos passados de-pois deste “sonho”, meu irmão enviu-vou e voltou a morar conosco. Era pai de uma menina loira e de um menino moreno, que chegaram até nós, na con-dição de sobrinhos e completaram nosso grupo familiar. Atualmente, já estão adultos e casados, cada qual com a pes-soa escolhida pelo seu coração. v

Fonte: OLIVEIRA, Th erezinha. Coisas que Eu não Esqueci Porque me Ensinaram Muito. Págs. 91 - 95. Editora Allan Kardec. 2010.

APRENDENDO A VOLITARPOR THEREZINHA OLIVEIRA

mediunidade

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FidelidadESPÍRITA | Setembro/2011diálogo

DIÁLOGO COM

DIVALDOPOR DIVALDO FRANCO

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2.6 - Os Centros Espíritas e a Arte Mediúnica

Pergunta: — Que orien-tação deve ser fornecida aos Centros Espíritas que

queiram desenvolver atividades no âmbito da arte mediúnica?

DIVALDO: — Deveremos ter muito cuidado para não nos desvencilharmos da atividade central — a divulgação doutrinária — para os modismos que, periodicamente, surgem no contexto da sociedade. Cada época tem os seus objetivos, mas também os seus aza-res. Costuma-se dizer, em Sociologia, que cada época tem as suas virtudes e os seus pecados. O nosso movimento também não pode fi car indene a acon-tecimentos dessa natureza. Vivemos, agora, a época de dois grandes mo-dismos: curas e psicopictografia. A Sociedade Espírita que não tem em casa um médium pintor ou um mé-dium curador, parece que fica meio frustrada, embora, depois de alguns anos, isso desapareça e perca o ardor, que no momento encanta.

Um psicólogo me disse, uma vez, que uma coisa que ele observava nos presidentes de Centros Espíritas, era a projeção da sua imagem, da sua som-bra. Quando a pessoa se sentia frus-trada socialmente, quando não havia triunfado na área social, tornava-se presidente de Centro Espírita. Fiquei muito chocado, mas, observando mui-tos comportamentos, com grandes ex-

ceções, vi que essa era uma forma de projeção da imagem. Agora, está na moda a presença de grandes médiuns, meios médiuns na arte da pintura, al-guns bons, como é normal, outros meio bons, mas nem todos realizando ten-tativas valiosas. Igualmente, o mesmo ocorre na área das curas, das cirurgias psíquicas, das cirurgias mediúnicas e outras, provocando, em alguns setores, mais males ao nome do Espiritismo do que benefícios.

Não me parece justo, agora, trans-formarmos os Centros Espíritas em ambulatórios médicos para competir com a Medicina. Esta não é a fi nali-dade da Doutrina Espírita, porque “os pobres vós sempre os tereis”, disse Jesus, como a dizer, como teremos ricos e in-justos, teremos depois pobres e sofredo-res. Sempre teremos doentes, em con-seqüência, porque a problemática não é a da aparência do corpo, mas do espí-rito endividado. A própria Organização Mundial de Saúde reconhece: Não há doenças, há doentes. Nessas pessoas predispostas, a doença se instala, porque houve o desequilíbrio na sua harmonia psicofísica, ali se localizando os agentes patológicos.

Ora, esses amigos estão preocupados em atender aos doentes (sem nenhuma crítica, é uma análise de situação) que transformaram a sala de estudos em ambulatório, colocando camas para que os doentes venham e deitem-se, rece-bam tratamentos especializados, escu-tando, às vezes, a leitura de uma página do Evangelho. Sabemos dos excelentes efeitos do Evangelho, mas a Doutrina

Espírita não é apenas o Evangelho. Ela é a aplicação moral do conhecimento espírita. Sem a Doutrina Espírita não se pode entender o Evangelho em pas-sagens muito preciosas. Sem a reen-carnação, sem a comunicabilidade dos Espíritos, muitas páginas do Evangelho fi cam, para nós, toldadas em seu signi-fi cado. Esse comportamento, de curas, faz que o Centro Espírita esteja mais para um ambulatório de pessoas doentes do que para núcleos de saúde integral.

Na área das pinturas mediú-nicas, as pessoas, ao invés de tra-balharem a renovação moral do médium, de o tornarem espírita, permanecem no fenômeno, sem os aprofundamentos indispensáveis.

A moral não tem nada a ver com a mediunidade, dizem. Realmente, não tem. A mediunidade é amoral; mas o médium espírita tem que ser mora-lizado, para poder sintonizar com os Espíritos moralizados. É o velho di-tado: “Dize-me com quem andas, que te direi quem és”. Parafrasearemos aqui: “Dize-me quem és e te direi com quem andas”. De acordo com o com-portamento do médium, poderemos saber quais os Espíritos que com ele se afi nam. Então, a tarefa do Centro Espírita está muito bem delineada na Codifi cação. Não é pelo fato de termos, hoje, um médium psicopictógrafo, ou um médium de efeitos físicos, ou um médium psicógrafo, ou um médium orador, que o Centro Espírita deve agora girar em torno dele, porque isto

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FidelidadESPÍRITA | Setembro/2011 diálogo

é um desvio da finalidade precípua da Casa Espírita. Vamos, então, reservar a esses companheiros uma oportunidade para que treinem e, nos momentos pró-prios, possam apresentar a arte espírita, no caso específico provando que real-mente se trata de desencarnados, gra-ças à identificação dos autores que dele se utilizam.

Kardec abordou várias vezes a arte espírita. Da mesma forma que houve a arte pagã e a arte cristã, – disse ele – ha-verá a arte espírita. Mas procuremos ter muito cuidado, para que não apresente-mos uma caricatura de arte, em nome da Arte Espírita. Não iremos viver a serviço da pintura mediúnica ou outra qualquer atividade do gênero. E a desobsessão? E a educação das mediunidades novas? Ora, reservemos um dia, para acompa-nharmos o seu trabalho, para fazermos uma análise criteriosa, para o estimular-mos. Porque, em realidade, têm apare-cido alguns excelentes psicógrafos, que merecem o nosso melhor apoio, o nosso estímulo, mas não o nosso aplauso en-tusiástico para que se desequilibrem. Apoio, estímulo, amizade e crítica ho-nesta são necessários. Em nossos meios, chegamos a um momento muito curioso, no qual, quando alguém faz alguma crí-tica, o outro fica inimigo! Temos que aceitar a luta. A Doutrina Espírita é de caráter analítico, crítico, por excelência. Kardec jamais aceitou uma resposta dos Espíritos sem fazer-lhe a crítica, isto é, a análise. Criticar não é só demolir, mas analisar, discutir, discordar, quando ne-cessário, com nobreza. Teremos, desse modo, que estar vigiados pela consciên-cia e ajudados pelos amigos. Não é me-lhor que um confrade nos analise, nos critique, no bom sentido, nos ajude, do que o ser pelos tradicionais inimigos do Espiritismo, os contumazes adver-sários da mediunidade? Por que deixar-mos um companheiro atingir determi-nado momento que chama a atenção, sem que tenha resistências morais para enfrentar a luta? Não seria bom que lhe disséssemos: “Tenha cuidado. Ainda não é hora. Não há pressa. Espere um pouco mais?!” Chico Xavier começou

a psicografar em 1927. Já psicografava inconscientemente. Publicou vários so-netos e poemas, que atribuiu à sua pró-pria pessoa. Recebia inspiração maravi-lhosa e a escrevia. Publicou alguns em A Noite Ilustrada, uma revista de Lisboa. Só mais tarde ele veio a ter certeza que os poemas lhe eram ditados através da inspiração. Publicou sua primeira obra, vários anos depois. Uma obra marcante, Parnaso de Além Túmulo, que é um di-visor de águas. Para aquele rapazinho de vinte e dois anos, pouco cultivado, que tinha apenas o curso primário, em uma cidade onde não havia biblioteca, significava uma vitória. Yvonne Pereira teve obras que guardou por quase trinta anos! Nem por isso deixaram de ser atuais. Assim outros médiuns. Digamos aos companheiros, no exercício da me-diunidade, que não tenham pressa, por-que esta representa a projeção da ima-gem. E também a preocupação com o personalismo, o qual é um dos grandes inimigos do nosso trabalho no movi-mento espírita. Aprendamos a aceitar de maneira saudável, jovial, as críticas. Sem brigar. Se o companheiro não concorda conosco, é um direito que ele tem. E nós temos o direito de fazer como acharmos melhor. As leis de Deus estão escritas em nossa consciência. Perguntou Allan Kardec, (Questão 621 de O Livro dos Espíritos): “– Onde está escrita a lei de Deus?” E os Guias responderam:

“– Na consciência”. Se a crítica é injusta, problema do crítico. Se alguém diz que eu sou um homem honesto, não me torno, por isso, honesto, e se diz que eu sou desonesto, em nada altera o meu caráter. Sou o que sou; mas, se sou uma pessoa sábia, irei ter cuidado para verificar se a crítica se justifica. No que a crítica for louvável, eu me corrijo. No que for perniciosa, eu a deixo para lá.

Para amenizar o tema, já que o as-sunto é delicado, conta-se que Sócrates era muito feio e tinha os pés muito grandes. Andava descalço pelas ruas de Atenas, era filho de uma parteira e de um varredor de marmoraria. Mas era um gênio! Tremendo crítico, porque, pai da Maiêutica, nessa técnica dialética de perguntas e respostas, que é a melhor maneira de ensinar, ele analisava as coi-sas e as demolia, quando não mereciam consideração. Outros filósofos com in-veja, foram ao santuário de Delfos e, chegando lá, perguntaram aos deuses:

“– Qual é o homem mais sábio da Grécia?”

Havia um ladrilho úmido, no qual uma mão invisível escrevia a resposta. Outras vezes, a sonâmbula, a sensitiva, a médium, caía em transe e respon-dia diretamente. Nesse dia, porém, mãos invisíveis escreveram no ladri-lho que o homem mais sábio da Grécia era Sócrates. Retornaram os adversá-rios gratuitos e encontraram Sócrates. Disseram-lhe, furibundos: “– Sócrates, estivemos em Delfos e perguntamos ao oráculo qual era o homem mais sábio da Grécia. Sabes o que ele nos respon-deu? Que és o homem mais sábio den-tre nós. Que te parece?”

Sócrates redarguiu-lhes: “– Creio que o oráculo tem razão. Porque sou o único, em toda a Grécia, que sabe que nada sabe.”

E continuou em paz. v

Fonte: FRANCO, Divaldo. Diálogo com Trabalhadores e Dirigentes Espíritas. U.S.E. 2001.

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FidelidadESPÍRITA | Setembro/2011

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” | Campinas/SP

capa

Deus, foco de inteligência e de amor, é tão indispensá-vel à vida interior, quanto

o Sol à vida física! Deus é o sol das Almas. É Dele que

emana essa força, às vezes energia, pensamento, luz, que anima e vivifi ca todos os seres. Quando se pretende que a idéia de Deus é inútil, indife-rente, tanto valeria dizer que o Sol é inútil, indiferente à Natureza e à vida.

AÇÃO DE DEUS NO MUNDO E NA HISTÓRIA POR LÉON DENIS Pela comunhão de pensamento,

pela elevação da Alma a Deus, pro-duz-se uma penetração contínua, uma fecundação moral do ser, uma expressão gradual das potências Nele encerradas, porque essas potências, pensamento e sentimento, não podem revelar-se e crescer senão por altas as-pirações, pelos transportes do nosso coração. Fora disso, todas essas forças latentes dormitam em nosso íntimo, conservam-se inertes, adormecidas!

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FidelidadESPÍRITA | Setembro/2011 capa

Falamos da prece. Expliquemo-nos ainda a respeito desta pala-vra. A prece é a forma, a expres-são mais potente da comunhão universal. Ela não é o que tan-tas pessoas supõem: uma recita-ção frívola, exercício monótono e muitas vezes repetido. Não! Pela verdadeira prece, a prece improvisada, aquela que não comporta fórmulas, a Alma se transporta às regiões superiores; aí haure forças, luzes; aí encon-tra apoio que não podem conhe-cer, nem compreender aqueles que desconhecem Deus. Orar é voltar-se para o Ser Eterno, é expor-lhe nossos pensamentos e nossas ações, para submetê-los à sua Lei e fazer da sua vontade a regra de nossa vida; é achar, por esse meio, a paz do coração, a sa-tisfação da consciência, em uma palavra, esse bem interior que é o maior, o mais imperecível de todos os bens!

Diremos, pois, que desconhecer, desprezar a crença em Deus e a co-munhão do pensamento que a Ele se liga a comunhão com a Alma do Universo, com esse foco de onde ir-radiam para sempre a inteligência e o amor, seria, ao mesmo tempo, desco-nhecer o que há de maior, e desprezar as potências interiores que fazem a nossa verdadeira riqueza. Seria calcar aos pés nossa própria felicidade, tudo que pode fazer nossa elevação, nossa glória, nossa ventura.

O homem que desconhece Deus e não quer saber que forças, que recur-sos, que socorros Dele promanam, esse é comparável a um indigente que ha-bita ao lado de palácios, cheios de te-souros, e se arrisca a morrer de miséria diante da porta que lhe está aberta e pela qual tudo o convida a entrar.

Ouvem-se freqüentemente cer-tos profanos que dizem: “Não tenho necessidade de Deus!” Palavra triste deplorável, palavra orgulhosa dos que, sem Deus, nada seriam, não te-riam existido. Oh! Cegueira do espí-rito humano, cem vezes pior que a do corpo! Ouvistes algumas vezes a flor dizer: não tenho necessidade de sol? Pois bem, nós o sabemos, Deus não

é somente a luz das Almas; é também o amor! E o amor é a força das for-ças. O amor triunfa de todas as po-tências brutais. Lembremo-nos de que se a idéia cristã venceu o mundo an-tigo, se venceu o poder romano, a força dos exércitos, o gládio dos Césares, foi pelo amor! Venceu por estas palavras: “Felizes os que têm a doçura, porque possuirão a Terra!”.

E, com efeito, não há homem, por mais duro, por mais cruel, que não se sinta desarmado contra vós, se estiver convencido de que quereis seu bem, sua felicidade e de que tal desejais de modo real e desinteressado.

O amor é todo-poderoso; é o calor que faz fundir os gelos do cepticismo, do ódio, da fúria, o calor que vivifica as almas embotadas, porém, prestes a desabrochar e a dilatar ao bafejo desse raio de amor.

Notai bem: são as forças sutis e in-visíveis as rainhas do mundo, as senho-ras da Natureza. Vede a eletricidade! Nada pesa e não parece coisa alguma; entretanto, a eletricidade é uma força maravilhosa; volatiliza os metais e de-compõe todos os corpos. O mesmo se dá com o magnetismo, que pode para-lisar o braço de um gigante. De igual modo o amor pode dominar a força e reduzí-la; pode transformar a alma hu-mana, princípio da vida em cada um, sede das forças do pensamento. Eis a razão por que Deus, sendo o foco uni-versal, é também o poder supremo. Se compreendêssemos a que alturas, a que grande e nobre tarefa nosso Espírito pode chegar pela compreensão pro-funda da obra divina, pela penetração do pensamento de Deus em cada ser, seríamos transportados de admiração.

Há homens convencidos de que, prosseguindo nossa ascensão espiri-tual, acabaremos por perder a existên-cia, para nos aniquilar no Ser Supremo. É isso grave erro: porque, ao contrá-rio, se conforme a razão o indica e o confirmam todos os grandes Espíritos, quanto mais nos desenvolvemos em

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inteligência e em moral, mais a nossa personalidade se afirma. O ser pode estender-se e irradiar; pode crescer em percepções, em sensações, em sabedo-ria, em amor, sem por isso cessar de ser ele próprio. Não percebemos que os Espíritos elevados são personalidades poderosas? E, nós próprios, não senti-mos que, quanto mais amamos, mais nos tornamos suscetíveis de amar; que, quanto melhor compreendemos mais nos sentimos capazes de compreender?

Estar unido a Deus é sentir, é re-alizar o pensamento de Deus. Mas o poder de sentir essa possibilidade de ação do Espírito, não o destrói. Só pode engrandecê-lo. E quando chega a certo grau de ascensão, a Alma se torna, por sua vez, uma das potências, uma das forças ativas do universo ela se transforma num dos agentes de Deus na obra eterna, porque sua colabora-ção se estende sem cessar. Seu papel é transmitir as vontades divinas aos seres que estão abaixo dela, atrair a ela, em sua luz, em seu amor, tudo que se agita, luta e sofre nos mundos inferio-res. Não se contenta mesmo com uma ação oculta. Muitas vezes encarna, toma um corpo e se torna um missio-nário, desses que passam quais meteo-ros na noite dos séculos.

Há outras teorias que consistem em crer que, quando em conseqüência de suas peregrinações, a Alma chega à perfeição absoluta, a Deus, depois de longa permanência no meio das beati-tudes celestes, torna a descer ao abismo material, ao mundo da forma, ao mais baixo grau da escala dos seres, para re-começar a lenta, dolorosa e penosa as-censão que acaba de conseguir.

Tal teoria não é mais admissível que a outra; para aceitá-la seria necessário fazer abstração da noção do Infinito. Ora, essa noção se impõe embora es-cape à nossa análise. Basta refletir um pouco para compreender que a Alma pode prosseguir a sua marcha ascen-dente e aproximar-se sem cessar do apogeu, sem jamais atingi-lo. Deus é o Infinito! É o Absoluto! E nunca sere-

mos, em relação a Ele, apesar do nosso progresso, senão seres finitos, relativos, limitados.

O ser pode, pois, evoluir, cres-cer sem cessar, sem nunca realizar a perfeição absoluta. Isto parece difí-cil de compreender e, entretanto, que de mais simples? Deixai-nos escolher um exemplo ao alcance de todos uns exemplos matemático. Tomai uma unidade - e a unidade é um pouco a imagem do ser - tomai, pois, a uni-dade e ajuntai-lhe a maior fração que encontrardes. Aproximar-vos-eis do algarismo 2, mas nunca o atingireis. Nós, homens, encerrados na carne, temos grande dificuldade em fazer idéia do papel do Espírito, que con-tém em si todas as potências, todas as forças do Universo, todas as belezas e esplendores da vida celeste e os faz ir-radiar sobre o mundo. Mas o que po-demos e devemos compreender é que esses Espíritos potentes, esses missio-nários, esses agentes de Deus, foram, tal qual ora somos, homens de carne, cheios de fraquezas e misérias; atingi-ram essas alturas por suas pesquisas e seus estudos, pela adaptação de todos os seus atos à lei divina. Ora, o que fi-zeram todos podemos fazer também. Todos têm os germens de um poder e de uma grandeza iguais ao seu poder e à sua grandeza. Todos têm o mesmo futuro grandioso, e só de nós outros mesmos dependem o realizá-lo através de nossas inúmeras existências.

Graças aos estudos psíquicos, aos fenômenos telepáticos, estamos mais ou menos aptos para compreender, desde já, que nossas faculdades não se limitam a nossos sentidos. Nosso Espírito pode irradiar além do corpo, pode receber as influências dos mun-dos superiores, as impressões do pen-samento divino. O apelo do pensa-mento humano é ouvido; a Alma, quebrando as fatalidades da carne, pode transportar-se a esse mundo es-piritual que é sua herança, seu domí-nio por vir. Eis por que é necessário que cada qual se torne seu próprio

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médium, aprenda a comunicar com o mundo superior do Espírito.

Este poder tem sido até aqui o pri-vilégio de alguns iniciados. Hoje, é ne-cessário que todos o adquiram e que todo homem chegue a apreender, a compreender as manifestações do pen-samento superior. Ele pode chegar aí por uma vida pura e sem mácula e pelo exercício gradual de suas faculdades.

*A ação de Deus se desvela no

Universo, tanto no mundo físico quanto no mundo moral; não há um único ser que não seja objeto de sua solicitude. Nós a vimos manifestar-se nessa majestosa lei do progresso que preside à evolução dos seres e das coisas, levando-os a um estado sem-pre mais perfeito. Essa ação se mos-tra igualmente na história dos povos. Pode-se seguir, através dos tempos, essa marcha grandiosa, esse impulso da Humanidade para o bem, para o melhor. Sem dúvida, há nesta marcha secular muitos desfalecimentos e re-cuos, muitas horas tristes e sombrias; não se deve, porém, esquecer de que o homem é livre em suas ações. Seus males são quase sempre a conseqüên-cia de erros, de seus estados de infe-rioridade.

Não é uma escolha providencial que designa os homens destinados a produzir as grandes inovações, os des-cobrimentos que contribuem para o desenvolvimento da obra civilizadora? Esses descobrimentos se encadeiam; aparecem, uns depois dos outros, de maneira metódica, regular, à medida que podem enxertar-se com êxito aos progressos anteriores.

O que demonstra, de modo bri-lhante, a intervenção de Deus na História, é o aparecimento, no tempo próprio, nas horas solenes, desses gran-des missionários, que vêm estender a mão aos homens e os repor na senda perdida, ensinando-lhes a lei moral, a fraternidade, o amor de seus seme-lhantes, dando-lhes o grande exemplo do sacrifício de si pela causa de todos.

Haverá algo mais imponente do que essa missão dos Enviados divinos? Eles vêm e marcham no meio dos povos. Em vão os sarcasmos e o ridículo chovem sobre eles. Em vão o desprezo e o sofrimento os atingem. Eles marcham sempre! Em vão se levantam ao redor deles os patíbulos, os cadafalsos.

As fogueiras se acendem. Mas eles seguem, com a fronte altiva, a alma serena. Qual é, pois, o segredo de sua força? Quem os impele assim para frente?

Acima das sombras da matéria e das vulgaridades da vida, mais alto que a Terra, mais alto que a Humanidade, eles vêem resplandecer esse foco eterno, um raio do qual os ilumina e lhes dá a coragem de afrontar todas as dores, todos os suplícios. Contemplaram a Verdade sem véus, e, daí em diante, não têm outro cuidado que difundir, pôr ao alcance das multidões, o conhe-cimento das grandes leis que regem as almas e os mundos!

Todos esses Espíritos potentes têm declarado que vêm em nome de Deus e para executar a sua vontade. Jesus o afirma várias vezes: “É meu Pai, diz ele, que me envia.” E Joana d’Arc não é menos precisa: “Venho da parte de Deus, para livrar a França dos ingleses.”

No meio da noite temerosa do dé-cimo quinto século, nesse abismo de misérias e de dores em que soçobra-vam a vida e a honra de uma grande nação, que trazia Joana à França tra-ída, subjugada, agonizante? Era algum socorro material, soldados, um exér-cito? Não, o que ela trazia era a fé, a fé em si mesma, a fé no futuro da França, a fé em Deus!

“Eu venho da parte do Rei do Céu, dizia ela, e vos trago os socorros do Céu.” E com essa fé a França se ergueu, escapou à destruição e à morte!

O mesmo aconteceu de 1914 a 1918. Só houve um remédio, quer para esse

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cepticismo aparatoso, quer para essa indiferença cega que caracterizava o es-pírito francês antes da guerra. Só houve um remédio a essa apatia do pensa-mento e da consciência nacionais que nos dissimulavam a extensão do pe-rigo. Esse remédio foi a fé em nós mes-mos, nos grandes destinos da Pátria, a fé nessa Potência Suprema que salvou de novo a França nos dias do Marne e de Verdun.

Mas os dias de perigo e de glória passaram; a união sagrada não sobre-viveu ao drama sanguinolento. O pes-simismo, o desencorajamento e a dis-córdia retomaram sua ação mórbida; a anarquia e a ruína batem às nossas portas.

O único meio de salvar a sociedade em perigo é ele-var os pensamentos e os co-rações, todas as aspirações da alma humana para a Potência Infinita - que é Deus; é unir nossa vontade à sua e nos com-penetrarmos da sua Lei: aí está o segredo de toda a força, de toda a elevação!

E ficaremos surpreendidos e ma-ravilhados, avançando nesta senda esquecida, de reconhecer, de desco-brir que Deus não é abstração meta-física, vago ideal perdido nas profun-dezas do sonho, ideal que não existe, conforme o dizem Vacherot e Renan, senão quando nele pensamos. Não; Deus é um ser vivo, sensível, cons-ciente. Deus é uma realidade ativa. Deus é nosso pai, nosso guia, nosso condutor, nosso melhor amigo; por pouco que lhe dirijamos nossos ape-los e que lhe abramos nosso cora-ção, Ele nos esclarecerá com a sua luz, nos aquecerá no seu amor, ex-pandirá sobre nós sua Alma imensa, sua Alma rica de todas as perfeições; por Ele e Nele somente nos senti-remos felizes e verdadeiramente ir-mãos; fora Dele só encontraremos

obscuridade, incerteza, decepção, dor e miséria moral. Eis o socorro que Joana trazia à França, o socorro que o Espiritualismo moderno traz à Humanidade!

Pode-se dizer que o pensamento de Deus irradia sobre a História e sobre o mundo; Ele tem inspirado as gerações em sua marcha, tem susten-tado, levantado milhões de almas de-soladas. Tem sido a força, a esperança suprema, o último apoio dos aflitos, dos espoliados, dos sacrificados, de quase todos aqueles que, através dos tempos, têm sofrido a injustiça, a maldade dos homens, os golpes da adversidade!

Se evocardes a memória das ge-rações que se têm sucedido sobre a Terra, por toda parte, vereis os olha-res dos homens voltados para essa luz, que nada poderá extinguir, nem diminuir!

É essa razão por que vos dizemos: Meus irmãos, recolhei-vos no silêncio das vossas moradas; elevai freqüente-mente a Deus os transportes de vossos pensamentos e dos vossos corações, expondo-lhe vossas necessidades, vossas fraquezas, vossas misérias, e, nas horas difíceis, nos momentos so-lenes de vossa vida, dirigi-lhe o apelo supremo. Então, no mais íntimo do vosso ser, ouvireis como que uma voz vos responder, consolar, socorrer.

Essa voz vos penetrará de uma emoção profunda; fará talvez brotar vossas lágrimas, mas levantar-vos-eis fortalecidos, reconfortados.

Aprendei a orar do mais profundo de vossa alma, e não mais da ponta dos lábios; aprendei a entrar em co-munhão com vosso Pai; a receber seus ensinamentos misteriosos, reserva-dos, não aos sábios e poderosos, mas às almas puras, aos corações sinceros.

Quando quiserdes achar refúgio contra as tristezas e as decepções da Terra, lembrai-vos de que há so-mente um meio: elevar o pensamento a essas puras regiões da luz divina, onde não penetram influências gros-

seiras do nosso mundo. Os rumores das paixões, o conflito dos interesses não vão até lá. Chegando a essas re-giões, o Espírito se desprende de pre-ocupações inferiores, de todas as coi-sas mesquinhas de nossas existências; paira acima da tempestade humana, mais alto que os ruídos discordan-tes da luta pela vida, pelas riquezas e honras vãs; mais alto que todas essas coisas efêmeras e mutáveis que nos ligam aos mundos materiais. Lá em cima, o Espírito se esclarece, inebria-se dos esplendores da verdade e da luz. Ele vê e compreende as leis do seu destino.

Diante das largas perspecti-vas da imortalidade, perante o espetáculo dos progressos e das ascensões que nos esperam na escala dos mundos, que se tornam para nós as misérias da vida atual, as vicissitudes do tempo presente?

Aquele que tem em seu pensamento e em seu coração essa fé ardente, essa confiança absoluta no futuro, essa cer-teza que o eleva, esse está encoura-çado contra a dor. Ficará invulnerável no meio das provas. Está aí o segredo de todas as forças, de todo o valor, o segredo dos inovadores, dos márti-res, de todos aqueles que, através dos séculos, oferecem sua vida por uma grande causa; de todos aqueles que, no meio das torturas, sob a mão do algoz, enquanto seus ossos e sua carne, es-magados pela roda ou pelo cavalete, não eram mais do que lama sangui-nolenta, achavam ainda a força sufi-ciente para dominar seus sofrimentos e afirmar a Divina Justiça; daqueles que, sobre o cadafalso, e assim sobre a lenha das fogueiras, viviam já por an-tecipação da vida apreciável e gloriosa do Espírito. v

Fonte: DENIS, Léon. O Grande Enigma. Págs. 95-106. Feb. 2010.

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Nossa alimentação exige o sacrifício de animais?Em Missionários da luz,

cap. IV – Vampirismo, André Luiz oferece-nos maravilhosa lição, abrindo o nosso entendimento a respeito do assunto. É Alexandre, seu instrutor no momento, quem esclarece: (...) a nossa inteligência, tão fértil na descoberta de comodidade e conforto, teria recursos de encontrar novos elementos e meios de incentivar os suprimentos protéicos ao organismo, sem recorrer às indústrias da morte.

Acho essa lição maravilhosa por-que ela nos impulsiona, nos motiva a conquistar mais um passo, em nossa

caminhada evolutiva. Somos adverti-dos de que nossa inteligência já tem recursos de buscar suprimento pro-téico de que necessitamos, em outras fontes que não mediante o sacrifício da vida dos animais. Não precisamos mais nos acomodar à antiga noção de que a nossa saúde não se manteria sem o concurso de carne. No próprio Livro dos Espíritos, 723, encontramos a questão: A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural? Na resposta, lemos: Na vossa consti-tuição física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem perece. A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua

COMER OU NÃO COMER

CARNE?POR DRA. IRVÊNIA DI SANTIS PRADA

saúde, para poder cumprir a lei do tra-balho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo a sua organização.

De fato, a alimentação humana não pode prescindir de proteínas, áci-dos graxos essenciais (elementos en-contrados em óleos e gorduras), açú-cares, vitaminas e minerais. Temos a errônea noção de que só a carne é rica em proteínas.

Mas, elas também podem ser en-contradas em outras fontes como ovos e leite, de origem animal, além de uma infi nidade de vegetais.

Uma dieta variada em itens vege-tais (frutas, verduras, grãos) já atende bastante nossas necessidades. Se so-

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marmos a isso a ingestão de alguns produtos de origem animal (leite, seus derivados e ovos), então as exigências de nosso corpo, em termos de apoio nutricional, estarão completamente sa-tisfeitas.

É o próprio Livro dos Espíritos, 720 - a que nos leva nessa direção: Há pri-vações voluntárias que sejam meritórias? Resposta: Sim: a privação dos prazeres inúteis, porque liberta o homem da ma-téria e eleva sua alma.

Então, se podemos conservar as nos-sas energias e a nossa saúde, privando-nos voluntariamente do consumo de carne, isso não é meritório? Se está ao nosso alcance poupar a vida e o sofri-mento de outros seres vivos, porque não fazê-lo?

INFERIORES E SUPERIORESAndré Luiz, em Missionários da Luz

cap. IV – Vampirismo, expõe sua estra-nheza à infeliz condição de muita gente na Terra que vive à mercê de vampiros invisíveis. Indaga ele, então: E a prote-ção das esferas mais altas? E o amparo das entidades angélicas, a amorosa de-fesa de nossos superiores?

A resposta de Alexandre, o instru-tor, não tarda:

- André, meu caro... Em todos os seto-res da Criação, Deus, nosso Pai, colocou os superiores e os inferiores para o traba-lho de evolução, através da colaboração e do amor, da administração e da obedi-ência... no capítulo da indiferença para com a sorte dos animais, da qual partici-pamos no quadro das atividades huma-nas, nenhum de nós poderia, em sã cons-

ciência, atirar a primeira pedra. Os seres inferiores e necessitados do Planeta não nos encaram como superiores generosos e inteligentes, mas como verdugos cruéis.

Se não protegemos e nem educamos aqueles que o Pai nos confiou, como ger-mes frágeis de racionalidade nos pesados vasos do instinto; se abusamos largamente de sua incapacidade de defesa e conserva-ção, como exigir amparo de superiores be-nevolentes e sábios, cujas instruções mais simples são para nós difíceis de suportar, pela nossa lastimável condição de infra-tores da lei de auxílios mútuos?

Vale a pena revermos esse trecho em que Alexandre fala a André Luiz:

- Por que tamanha estranheza? - Perguntou o cuidadoso orientador, - e nós outros, quando nas esferas da carne? Nossas mesas não se mantinham à custa das vísceras dos touros e das aves? A pre-texto de buscar recursos protéicos, exter-minávamos frangos e carneiros, leitões e cabritos incontáveis. Sugávamos os te-cidos musculares, roíamos os ossos. Não contentes em matar os pobres seres que nos pediam roteiros de progresso e valo-res educativos, para melhor atenderem à obra do Pai, dilatávamos os requintes da exploração milenária e infligíamos a muitos deles determinadas moléstias para que nos servissem ao paladar, com a máxima eficiência. O suíno comum era localizado por nós, em regime de ceva, e o pobre animal, muita vez à custa de resíduos, deveria criar para nosso uso certas reservas de gordura, até que se prostrasse, de todo, ao peso de ba-nhas doentias e abundantes.

Colocávamos gansos nas engordadei-

ras para que hipertrofiassem o fígado, de modo a obtermos pastas substanciosas destinadas a quitutes que ficaram famo-sos, despreocupados das faltas cometidas com a suposta vantagem de enriquecer os valores culinários. “Em nada nos doía o quadro comovente das vacas-mães, em direção ao matadouro, para que nossas panelas transpirassem agradavelmente”.

Aí fica a sugestão do inspirado men-tor Alexandre para que pensemos no assunto: “Abandonando as faixas de nosso primitivismo, devemos acordar a própria consciência para a responsa-bilidade coletiva. A missão do superior é a de amparar o inferior e educá-lo. E os nossos abusos para com a Natureza estão cristalizados em todos os paí-ses, há muitos séculos. Não podemos renovar os sistemas econômicos dos povos, dum momento para outro, nem substituir os hábitos arraigados e viciosos de alimentação imprópria, de maneira repentina. Refletem eles, igualmente, nossos erros multimilená-rios. Mas, na qualidade de filhos endi-vidados para com Deus e a Natureza, devemos prosseguir no trabalho edu-cativo, acordando os companheiros encarnados, mais experientes e escla-recidos, para a nova era em que os ho-mens cultivarão o solo da Terra por amor e utilizar-se-ão dos animais, com espírito de respeito, educação e enten-dimento...

Semelhante realização é de impor-tância essencial na vida humana, por-que, sem amor para com os nossos inferiores, não podemos aguardar a proteção dos superiores; sem respeito para com os outros, não devemos es-perar o respeito alheio. Se temos sido vampiros insaciáveis dos seres frágeis que nos cercam, entre as formas terre-nas, abusando de nosso poder racional ante a fraqueza da inteligência deles, não é demais que, por força da anima-lidade que conserva desveladamente, venha a cair a maioria das criaturas em situações enfermiças pelo vampirismo das entidades que lhes são afins, na es-fera invisível”.

alimentação

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FidelidadESPÍRITA | Setembro/2011 alimentação

OS RECURSOS DO ESTÁBULOE se optarmos por buscar os re-

cursos protéicos de nossa alimenta-ção, poupando a vida dos animais, é o próprio Alexandre quem acon-selha: –... o aumento dos laticínios, para enriquecimento da alimenta-ção, constitui elevada tarefa...” E completa com uma assertiva sobre a qual venho pensando muito e cujo real significado de tão grande, sinto talvez não tenha ainda condições de apreender: – “... porque tempos virão, para a humanidade terrestre, em que o estábulo, como o lar, será tam-bém sagrado”. Não é fácil entender o que Alexandre está nos dizendo. Vejamos! Constitui elevada tarefa o aumento da produção de laticínios, para enriquecimento da alimentação humana. De fato, o leite, os queijos, o creme de leite, a nata, etc., são fon-tes riquíssimas, não apenas de prote-ína, mas de outros elementos impor-tantes em nossa nutrição. Portanto, recorrer aos chamados produtos de origem animal, como é o caso do leite e de seus derivados, seria per-feitamente válido. Entretanto, vem a contraparte - “o estábulo, como o lar, será também sagrado”.

Certamente ainda teremos de evo-luir muito, para conseguir esse nível de entendimento e de libertação de nosso egocentrismo e egolatria. Tomara chegue mesmo esse dia, porque hoje, como já disse alguém, muito sofri-mento dos animais ainda acompanha o nosso copo de leite. Infelizmente, em nosso meio, para que as criações de gado leiteiro sejam economicamente viáveis, a maioria dos bezerros machos são descartados, sendo encaminhados para os matadouros; os que permane-cem (a maioria fêmeas) são imediata-mente, após o parto, separadas de suas mães, entre berros de ambas as partes; as vacas matrizes (vacas parideiras) são submetidas a intenso processo de sele-ção genética, para que se transformem em verdadeiras máquinas produtoras de leite, mal podendo se movimentar

com seus enormes úberes. Quem duvi-dar é só dar um pulo nesses concursos de produção leiteira e conferir o que anda fazendo com as pobres vacas!

Há pouco tempo, ao comentar esses fatos, tive a feliz notícia de que um veterinário de Minas Gerais está conseguindo viabilizar uma criação de gado leiteiro, de maneira huma-nitária, como se diz, com razoável obtenção de lucros.

Seja bem-vindo!Também quanto à obtenção de

ovos das galinhas, já começam a existir meios alternativos de criação das aves, que não o de ficarem confi-nadas e apertadas em restritas gaio-las nas quais não conseguem dar se-quer um passo! Além disso, sofrem a famosa “debicagem”, isto é, corte de parte de seu bico por lâmina incan-descente, do que resulta em processo inf lamatório com edema inclusive da região dos olhos. E para que pro-duzam tudo o que possam e mais um pouco, no final do período de postura são submetidas à chamada “muda forçada”, ou seja, mediante restrição alimentar, provoca-se a queda de suas penas e severo ema-grecimento. Em seguida a esse es-tresse, são submetidas novamente a alimentação normal, do que resulta uma postura de melhor índice.

Nessas criações alternativas a que me referi, as aves são criadas na-turalmente, soltas, à vontade, cis-cando, comendo e botando ovos... felizmente.

Parte desses ovos é aproveitada

para consumo na alimentação hu-mana e outra parte, de ovos gala-dos (fecundados), é orientada para o setor de reprodução das aves.

Quem sabe, aos poucos, vamos aprendendo a respeitar aqueles que nos ajudam a nos mantermos vivos e saudáveis. Nesse sentido é que aceito a ci-tação de Erasto, no Livro dos Médiuns 2a - xxii. 236: “Deus pôs os animais ao vosso lado como auxiliares para vos ali-mentarem, para vos vestirem e vos ajudarem...”

Entendo que os animais podem nos auxiliar em nossa alimentação, não com o sacrifício de suas vidas (aliás, isso não consta do texto de Erasto), mas, com os produtos que possam nos ceder, como o leite e os ovos. Também podem nos auxiliar em nossas vesti-mentas, sem que lhes arranquemos a pele, mas, por exemplo, valendo-nos de sua lã, mediante tosquia adequada. Em uma camiseta com a figura de um filhote de raposa li a sugestiva frase: “Su madre tien abrigo de piel? De la mia, lo arrancaron” (“Sua mãe tem casaco de pele? Da minha o arranca-ram”). De fato eles podem nos auxi-liar de muitas maneiras.

Que o digam muitos idosos e soli-tários cuja única companhia, sempre fiel e amiga, é a de seu cão ou gato.

Após toda essa reflexão, pergunto novamente ao leitor: comer ou não comer carne? v

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O escritor Wallace Leal V. Rodrigues, no Prefácio do Autor de sua obra Katie

King1, escreveu: “(...) Aqueles três anos – que foi o período em que o Espírito se materializou – pareciam-nos mágicos, uma espécie de conto-de-carochinha, e que jamais se repetiram na História do Espiritismo (...)”.

Na mesma obra, na Apreciação de Gabriel Delanne – que o autor colo-cou após o Prefácio –, encontramos: “(...) Como explicar seu incessante pro-gresso*? Simplesmente, porque tem por método a investigação científi ca, em-prega a observação e a experimentação, recrutando seus adeptos entre as men-tes positivas, ávidas de conhecimentos precisos acerca do que seremos depois da morte. (...) Willian Crookes é, na Europa, o primeiro cientista que teve o valor de comprovar, escrupulosamente, as afi rmações dos espíritas. Muito cép-tico, a princípio, suas investigações o conduziram progressivamente à con-vicção de que esses fenômenos são ver-dadeiros e não titubeou um único momento em proclamar, alto e bom som, a certeza em que resultou o seu trabalho. Com a altiva fi rmeza que oferece quanto é comprovado, cienti-ficamente, converteu-se em campeão de uma impopular mas indiscutível verdade. (...)”

Citando o livro Trinta Anos entre os Mortos, de autoria do Prof. Charles Richet, Wallace usa frase daquele autor para dizer igualmente que “... a pesquisa psíquica começa, na História,

com Sir Willian Crookes...”, pois que contemporâneo de uma época de grandes nomes da ciência, de im-portantes descobertas científi cas que mudaram a vida da humanidade, Crookes2 dedicou-se avidamente na pesquisa dos fenômenos produzi-dos pelos espíritos. Notadamente no caso das materializações do Espírito Katie King através dos recursos me-diúnicos da jovem Florence Cook3.

Pois é exatamente utilizando a frase de Gabriel Delanne, na aprecia-ção publicada no livro de Wallace, de que a Doutrina Espírita “...tem por método a investigação científi ca, emprega a observação e a experimen-tação...”, é que usamos o título Nada de Sobrenatural para dizer, usando as palavras do próprio Kardec, na Revista Espírita de abril de 18674, que “(...) os fatos desse gênero tiveram lugar bem antes que o Espiritismo fosse questão, e que depois quase sempre se passaram entre pessoas que não o co-nheciam nem mesmo de nome, o que exclui toda infl uência devida à crença e à imaginação. (...) Limitamo-nos a constatar aqui que nada se afasta do que o Espiritismo admite a possibili-dade, nem das condições normais nas quais semelhantes fatos podem se pro-duzir; e esses fatos se explicam por leis perfeitamente naturais, e, conseqüen-temente, nada tem de maravilhoso. Só a ignorância dessas leis pôde, até este dia, fazê-los considerar como efeitos sobrenaturais, assim como o foi com quase todos os fenômenos dos quais a

ciência mais tarde revelou as leis. (...)”.  Fatos naturais, pois, que suportam e requerem a observação, a investi-gação científi ca e a experimentação para serem compreendidos. Nada, pois, de sobrenatural com eles.

 Vale observar ao leitor que o co-mentário de Kardec, acima trans-crito, não se refere especifi camente aos casos de materializações, pois a própria matéria traz o título de  Manifestações Espontâneas, li-gando-se a interessante caso das ha-bilidades de um espírito brincalhão diante de uma família, cuja leitura integral constitui importante fonte de informações sobre o fato das ma-nifestações em suas diversas faces.

Por outro lado, muito mais que abordagens, por que não prosseguir com pesquisas na área científica? Será difícil, confi ável, possível?

Para responder essas indagações nada melhor que oferecer a palavra ao próprio Codifi cador:

 a) Na Revista Espírita, mesma edi-ção acima citada4, abordando o tema Manifestações Espontâneas, Kardec pondera que “(...) Os fenômenos reais têm um caráter sui generis, e se produ-zem em circunstâncias que desafi am toda suspeita.  Um conhecimento com-pleto desses caracteres e dessas circuns-tâncias podem facilmente fazer desco-brir a fraude. (...). Sugerimos ao leitor a leitura integral do caso relatado na-

PESQUISAS

estudo

POR ORSON PETER CARRARA

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quela edição, mas é exatamente o detalhe da circunstância em que se produzem que desafiam pesquisado-res e observadores comuns ao uso do raciocínio e do bom senso, como tão bem usou Kardec;

b) Na mesma publicação, edi-ção de julho de 1859, em pronun-ciamento na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o mesmo Kardec afirma: “(...) O conjunto dos raciocí-nios sobre os quais se apóiam os fatos, constitui a ciência...  (...)”. Ora, pois é exatamente este raciocínio na ob-servação dos fatos e experimentos que deve continuamente ser esti-mulado em todos os que estudam o Espiritismo e os fenômenos pro-duzidos pelos Espíritos, uma vez  que5  “(...) o princípio essencial, ver-dadeira pedra principal da ciência es-pírita...  (...)” reside no fato de que “(...) esses fenômenos estão submetidos  a condições que saem do círculo ha-bitual de nossas observações...”, já que “(...) esse agente é constantemente  uma inteligência que tem sua vontade pró-pria, e que não podemos submeter aos nossos caprichos (...)”. 

 Esta adoção do raciocínio diante dos fatos, da experi-mentação através da pesquisa é tema para ser amplamente discutido especialmente por quem estuda o Espiritismo, in-clusive graduados das diversas áreas da ciência. Poderemos promover pesquisas nas diver-sas facetas oferecidas pela ciên-cia espírita. Considere-se aqui o direcionamento das últimas linhas do item b) acima.

 O que pesquisar? Onde pesqui-sar? Como pesquisar? Que méto-dos utilizar? Que recursos podem ser disponibilizados? Quais as con-dições humanas e materiais? 

Seria no próprio campo das ma-

terializações, das energias men-tais e psíquicas, nas manifestações psicofônicas ou psicográficas, nos desdobramentos? Ou poderíamos adentrar o campo das recordações passadas? Eis um universo de temas à disposição e valoroso campo expe-rimental de pesquisas. Eis perguntas para gerar estudos. Eis um universo de possibilidades, seja na área aní-mica ou mediúnica. Volta-se, pois, a questão: por que a pesquisa espírita está tão esquecida? Já não é tempo de retomar estes estudos e pesquisas, usando o exemplo de Crookes, para citar apenas um dos inúmeros casos?

Deixamos a resposta aos mais ca-pacitados, para que apareçam nova-mente, pois como o Espiritismo é, simultaneamente, ciência, filosofia e religião, o campo de pesquisa está aberto. Desde, é óbvio, que observa-dos os critérios e métodos científi-cos de observação e experimentação, onde o misticismo é deixado de lado e surge com toda força o bom senso, a lógica, ao lado da seriedade e co-nhecimento que o assunto requer.  E que não esqueçamos o que Kardec disse: “(...)  esse agente é constante-mente  uma inteligência que tem sua vontade própria, e que não podemos submeter aos nossos caprichos(...)”6.

 Porém, oportunas considerações extraídas do mesmo estudo em re-ferência (Revista Espírita de abril de 1867), cabem como conclusão nesta abordagem:

 a) Do fato de que o estado de nossos conhecimentos não nos permita deles dar ainda uma explicação conclu-dente, isto não prejulgaria nada, por-que estamos longe de conhecer todas as leis que regem o mundo invisível, todas as forças que este mundo en-cerra, todas as explicações das leis que conhecemos.

b) O Espiritismo não disse ainda a última palavra, muito longe disto, não mais sobre as coisas físicas do que sobre as coisas espirituais.

c) O Espiritismo não fez, de al-guma sorte, até o presente, senão co-locar os primeiros degraus de uma ciência.

d) Se um fato é constatado, se diz que ele deve ter uma causa, e que esta causa não pode ser senão natural, e então ele a procura.

e) Na falta de uma demonstra-ção categórica, pode dar uma hipó-tese, mas até a confirmação, não a dá senão como hipótese, e não como verdade absoluta.

Leitura atenta dos itens acima enumerados deixa claro o critério adotado pela Doutrina Espírita diante dos fatos: a) a limitação de nossos conhecimentos; b) o caráter progressivo da própria doutrina; c) a prudência diante dos fatos.

Estejamos de olhos bem aber-tos para compreender, à luz do Espiritismo, que os fatos das ma-nifestações promovidas pelos espí-ritos são absolutamente naturais, convocando-nos para a pesquisa desses mesmos fatos, o que permite a busca da verdade. v

 *O autor refere-se aos progressos da

Doutrina Espírita.1 - Edição da Casa Editora O Clarim, atu-

almente esgotada.2 - Willian Crookes nasceu em 17 de

junho de 1832 e desencarnou em 4 de abril de 1919; foi químico e físico inglês, publicou diversas obras de sua área de pesquisas. Em 1861 descobriu e estudou o  talium, inven-tou posteriormente um novo método para separar o ouro e a prata de seu mineral, por meio do sodium.

3 - Florence era jovem de apenas 15 anos e sua potencialidade mediúnica permitiu anos de pesquisa na área de materializações; sub-meteu-se humildemente aos critérios cien-tíficos de observação dos fenômenos que se produziam por seu intermédio.

4 - Tradução de Salvador Gentille, edi-ção IDE.

5 - A partir deste trecho trata-se de outra abordagem constante da edição de fevereiro de 1859.

6 - Revista Espírita, edição de fevereiro de 1859.

estudo

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Este companheiro não se apresentou agitado nem agressivo, mas, também,

não era daqueles que procuram mis-tificar com fingida doçura de voz e de palavras. Mostrava-se seguro de si e se declarava pronto para um “diálogo fraterno”. Não havia mo-tivo para “parlamentação”, uma vez que seus planos estavam seguindo como desejavam os componentes da sua equipe. Vinha apenas conver-sar. Trazia informações e vinha co-

lher outras tantas. O tratamento era ameno e, no seu dizer, com toda a “lhaneza”, revestido dos melhores “propósitos fraternos”.

Quanto às informações que de-sejava, não é porque não dispusesse de registros e fi chários; é que, uma delas, de vital importância para o seu trabalho, não fora ainda expres-samente formulada na mente do nosso doutrinador, pois se referia a uma atitude ou decisão a ser tomada em futuro próximo.

A MENINA NO FUNDO DO BARCOPOR HERMÍNIO C. MIRANDA

refl exão

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Depois de todos esses rodeios e circunlóquios, faz a pergunta mais especificamente:

— O que pretende o cavalheiro fazer daqui por diante? Qual o pró-ximo passo que pretende dar?

A resposta foi simples e breve: — Seguir o Cristo, tanto quanto

nos permitem as nossas imperfei-ções.

Retrucou que já esperava coisa semelhante, partindo de quem par-tia, mas isso era muito vago, porque seguir o Cristo ele também seguia, pois há maneiras pessoais de fazê-lo. De sua parte, por exemplo, na condição de Espírito em que se en-contrava, não tinha mais paixões humanas – tinha ideais. Quanto ao poder, era uma necessidade, diga-mos, operacional, em vista das coi-sas importantes que precisava reali-zar. Quem tivera mais poder do que o Cristo? Que seria de nós se não lhe fossem outorgados tantos po-deres? Pois era a mesma coisa. Ele, Espírito, também utilizava dos po-deres de que dispunha para servir. Tinha condições, por exemplo, para proporcionar paz e felicidade àque-les que o serviam.

É claro que esse linguajar ei-vado de metáforas e eufemismos precisa ser entendido no seu exato significado. A experiência em lidar com eles acaba criando nos ouvin-tes um mecanismo de “tradução” automática e simultânea. Ao dizer que tinha poderes para proporcio-nar paz e felicidade aos que serviam à sua causa, estava apenas confir-mando que comprava adesões a troco de favores. Mostrou-se, pois, muito agastado com o doutrinador, quando este lhe disse que não pode-mos dar aquilo que não temos: paz ou felicidade.

Esquecido o incidente, prosse-guiu dizendo que não compreendia por que razão, sendo o nosso dou-

trinador um Espírito sempre enga-jado em movimentos reformistas, recusava-se agora a reformar con-ceitos inteiramente superados na Doutrina Espírita, com o que se colocava na retaguarda. O doutri-nador argumentou que as reformas de antanho tinham por finalidade precisamente a preparação do tra-balho de agora, que estava divul-gando conceitos básicos da vida, como imortalidade, reencarnação, comunicabilidade entre Espíritos e homens encarnados.

Nosso companheiro, porém, dotado de brilhante e ágil inteligência, estava quase sempre muito bem preparado para contra argumentar. Não. Não queriam “eles” reformar a doutrina nos seus conceitos fundamenta is mas, s im, reformular a atitude do homem perante a Doutrina. O homem deve levantar-se, crescer espiritualmente, utilizando-se da força e do poder da sua inteligência, pois, como diz a Doutrina, o Espírito é o “princípio intel igente do universo”.

O exercício da mediunidade de incorporação era, a seu ver, um mé-todo grosseiro e superado de traba-lho. Ele, por exemplo, não prejudi-cava o médium, porque não trazia vibrações deletérias, como tantos outros, mas havia muitos que as ti-nham. A psicografia era algo muito mais refinado, de mente-a-mente.

O homem precisava deixar a ser-vidão, comandando seu destino e suas emoções pela força da inteli-gência. Não podia ficar “amarrado ao carma”; era preciso “dinamizar

esse carma” – expressão dezenas de vezes repetidas em outras tan-tas conversações desta natureza. Era preciso “transformar o carma numa força atuante” e isto somente seria possível fazer com a inteligência. Nada de ficar de cabeça baixa, pa-rado na vida, chorando erros. Não! Os atos positivos anulariam os atos negativos do passado. Sofrimento é passividade. Até o amor precisa ser dinamizado. Saudade de entes queridos? Sim; mas recordação ale-gre, feliz, de quem viveu momen-tos de felicidade com aqueles seres e não de tristeza pelo que não se gozou. A inteligência precisava co-mandar também o coração. O pró-prio Cristianismo devia ser raciona-lizado. O Evangelho é inteligente, o homem é que não sabe como racio-nalizá-lo. Foi dinamizando a mente de cada um que o Cristo conseguia que os doentes se curassem, ou seja, com seus próprios recursos. Sem os poderes e a ajuda de Jesus, aqueles pobres infelizes de parca inteligên-cia não tinham como curar-se, pois não sabiam de que maneira “di-namizar” os seus carmas. Tanto é que precisavam ter fé para obter a cura. O próprio Cristo dissera que se tivéssemos fé do tamanho de um grão de mostarda seríamos capa-zes de remover montanhas. “Fé em vocês mesmos”, dizia o Espírito. A tarefa “deles” consistia, pois, em in-centivar esse aspecto, despertar no homem a consciência de sua própria força.

— Nós vamos dar ao homem condições para transportar montanhas – declarou enfati-camente.

Em linhas gerais, essa era a te-mática da sua filosofia, destilada de um diálogo de mais de uma hora. Declarou mesmo que dava “esclare-

reflexão

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cimentos sobre questões evangélicas em reuniões de estudo” em alguns grupos, pois era preciso preparar a inteligência do homem para a se-gunda vinda do Cristo, conforme prometida, “o Cristo-Espírito, não o homem, o Cristo-Anjo, o Cristo-transcendente” que, por certo, preci-saria de homens inteligentes, ‘liber-tados” de erros passados por meio da tal “dinamização” do carma.

Aí está, pois o rápido perfi l fi losó-fi co do querido irmão. Obviamente, ele tinha problemas sérios de aceita-ção do Cristo, de Seus ensinamen-tos e da Doutrina Espírita, a des-peito de sua declaração formal de servidor da seara cristã. Não passou despercebido, também, que tinha uma fixação qualquer na questão dos chamados milagres, pois dei-xava supor que Jesus nada mais fi -zera senão ajudar que as próprias pessoas se curassem a poder de re-cursos de inteligência. Ademais, por que razão essa monocórdia canti-lena sobre as virtudes superiores da inteligência? Por que a fuga delibe-rada ao passado em que tudo isso se traduzia, afi nal de contas?

— É preciso preparar o advento do Cristo – diz ele – Acho muito es-tranho que você, que sempre foi um reformista, não queira agora aderir ao movimento. É preciso preparar... Você acha que o Cristo virá naquela forma grosseira, aquele corpo, ali, roçando no homem comum? Não.

O Cristo virá de forma transcen-dente. Não daquela forma gros-seira mais. Temos que preparar o homem para aceitar o Cristo-Princípio-Inteligente, o Cristo-Espírito, não o Cristo-Homem, meu caro. É o Cristo-Anjo... Estou falando alguma coisa que não está nas Escrituras? Temos que esperar o Cristo Evangélico, o Cristo trans-cendente. É isso... Não. Não mais aquele Cristo andando de sandálias, nas margens daquele lago, mistu-rado com leprosos mal cheirosos. Aquela gente tinha um mau cheiro que era um horror! Que mau cheiro! E aquele calor horrível! Aqueles panos envoltos naquelas mulheres... O novo Cristo não vai passar por essa humilhação, por essa degra-dação da sua condição de ser an-gélico. Está compreendendo? Não vai mesmo. Nada de Filipes... Nada disso! Filipe? Quem é Filipe? É o novo Cristo que renasce no coração do homem: O Cristo-Inteligência. Só as faculdades ditas intelectuais vão sobreviver nessa era; as outras não, porque as outras... Sabe o que elas conseguem fazer? Elas rebai-xam o homem.

Como se verifi ca, mesmo no cor-rer desta exposição de suas idéias, já começa a mergulhar nas suas re-cordações: a referência ao lago, ao calor, à pobre gente maltrapilha não se apresentam na sua palavra como produtos puramente imaginários,

sacados aqui e ali de páginas literá-rias; elas trazem aquela íntima con-vicção que somente a lembrança pode emprestar. O doutrinador deixa-o desfi ar seus conceitos, entre os quais fragmentos de lembranças começam a emergir. A voz já está algo pastosa e sonolenta, mas ele acha que, agarrando-se às idéias que adota no presente, conseguirá esca-par daquele mergulho “perigoso” no passado.

– Porque você veja bem: chega um Espírito dementado numa ses-são de doutrinação. Desequilibrado, vibrações desarmônicas, exalando um cheiro psíquico nauseabundo... É por isso que os médiuns têm náu-seas... Então, incorpora-se, como vocês dizem, no corpo do médium. Sabe lá o que é isso? O choque vi-bratório que aquela combinação de f luidos proporciona? E depois? (Hesita, gagueja, repete e continua:) Depois... Depois da reunião ele vai estar cansado, doente. E o que você conseguiu? Nada. Ai... não posso falar... Nem meus olhos abertos estou conseguindo manter.

Insiste, porém, em que o doutri-nador não tem condições de induzi-lo e insiste em convidá-lo a partici-par do trabalho de preparação do homem para o Cristo-Inteligência, o Cristo-Força, etc. O sono mag-nético o domina, afi nal. O doutri-nador induz à regressão. Ele ainda resiste por algum tempo, até que

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começa a falar, ainda aos poucos... — Você volta para Cafarnaum

sozinho, meu caro. Sozinho prá lá. Você que viveu lá... Eu não sou de lá. Sou de Chipre, meu caro. Vai para Cafarnaum sozinho. Eu não vou junto com ninguém. Aquilo lá está muito mudado. Já não é mais o mesmo lugar. Como é que se ia de Chipre para Cafarnaum? Você nem sabe. Como você ia? Só de barco? Tem certeza? De que barco você ia? Não lembra. Havia barcos e bar-cos... Aquilo é um bom lugar, mas eu só guardo as lembranças felizes, como te disse. Eu sou feliz... Vai so-zinho. Não tenho nada que ver com Cafarnaum. Vai sozinho, meu caro. Não estou aqui prá isso, não. Minha casa é outra. Minha casa está prote-gida contra isso. Cafarnaum.. Que era Cafarnaum? Não perdi nada lá. Sou de Chipre. Sou de Chipre, moro em Chipre. Não tenho nada que ver com Cafarnaum. Que tenho lá? Só vou lá para vender, para co-merciar, mais nada.

Sem dúvida alguma ele teve oportunidade de ver lá o Cristo e ouvir a sua pregação ou a de seus seguidores, porque fi ca a repetir que só vai lá para co-merciar, e prossegue:

O que eu aprendi lá? Não vou, não. O que a gente vai fazer em Cafarnaum? Na praia? Por que na praia? Tira essas crian-ças daí. Por que as crianças? Não posso... Minha função é... eu tenho que... que debandar a multidão. Não posso deixá-los aí aglomerados. Isso é ma-nobra política, alta traição... Tenho que debandar... Diabo de Cafarnaum. Que lugar hor-rível! Vocês são todos uns lou-cos. Quem é essa criança aí no fundo do barco? É sua fi lha, não é sua filha? É sua filha! É sua.

Rejeita as lembranças, o local, o amigo, e até a menina que vê dei-tada no fundo do barco. Quando, porém, o doutrinador lhe pergunta como é que ela se chama, ele res-ponde logo:

— Míriam. (Fica a repetir o nome e continua:) É sua fi lha. Que olhos grandes, bonitos! Olhos pre-tos, grandes... A peste... a peste...

— Não curou ninguém. Não! Não tenho fi lha! É sua fi lha! Míriam. Saudade da minha Míriam... aque-les olhos grandes... Míriam. Quem é Míriam? Míriam... E uma cons-piração contra o Tetrarca. Míriam! Cure a Míram! Cure a Míriam! Que tem ela? Ela tem essas manchas. Que são essas manchas roxas?... Manchas nela... Tira essa confusão da minha cabeça! Manchas roxas... Ódios... Lágrimas... Mas eu não posso. Quem é Cristo? Um homem do povo. Eu não sou homem do povo. Ele é um feiticeiro... Míriam... Eu devia dar parte dEle. Ah! que confusão na minha cabeça.

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Só vejo Míriam e os seus olhos grandes. Que você quer com isso? Você vai prá Cafarnaum. Você vai.

— Você vai. Você leva a Míriam. — Levo. Com todo o prazer. — Você leva a Míriam... Que

confusão na minha cabeça! Estou lá e estou aqui... estou lá e estou aqui... (Ao mesmo tempo que revive um episódio remoto, tem consciência residual do momento presente, em que está ali a discutir com o doutri-nador). Você leva a Míriam.

— Sim, levo. Para quê? Não posso levar. Não posso ser

visto. Leva. A Rute está desespe-rada. Leva a Míram... Quem vol-tou? A Míriam?

— Ela voltou? — Sem as manchas... A Míriam

sem as manchas. Que horror! A minha filha! Cafarnaum... Que hor-ror! Que cena é essa? Estão passando um cinema aí para mim. Quem é este homem? Não tenho nada com este homem. O próprio discípulo dEle O negou. Só porque Ele curou a Míriam? Feiticeiro. Feiticeiro é que cura. Ele não podia. Não tinha ordem do rei... E o que Ele faz ali? Você está querendo que eu lembre o quê? Que eu fique com remorso?

— Não. Quero que você se lem-bre que Ele te amou e amou à sua filha. Curou-a. Restituiu-a à sua Rute. Por que você o detesta?

— Quer que eu tenha remorso? Por que, então, você o está mos-trando ali, no meio daquela gente? Mas o “outro” lavou as mãos. Eu é que vou fazer alguma coisa?

— Ele fez por amor. Não fez para te cobrar.

— Devo a Míriam. Mas eu perdi a Míriam. Perdi a Rute. A Míriam e a Rute.

— Onde estão elas hoje? — Com Ele. — E por que você não vai tam-

bém? Vamos ao encontro delas?

— Ele a curou? E agora, então, a história verda-

deira: — Deixaram-me por causa dEle. — Não deixaram. Você é que não

quis ir, meu irmão. Até hoje. Elas estão à sua espera.

— Não tem eco... Sente o coração vazio, pois du-

rante muito tempo programou-se para sufocar o afeto, a fim de que brilhasse a inteligência, atrás da qual passou a esconder-se das suas frustrações emocionais e de angús-tias milenares.

Rute? — Você não tem mais nenhum

amor por Míriam e pela Rute?— Onde estão Míriam e Rute?

Só um nome. Não vibram em mim. O amor morreu. O amor é uma razão... O Cristo condenado... Eu assisti a tudo. E não disse a nin-guém que Ele curou a Míriam. Não diria nunca. O Cristo... Estou per-dido! Você me dobrou, hein? Você me dobrou!

— Não. Você apenas reco-nheceu a existência do amor. Você é meu amigo ou não é?

— Onde está Jesus? Onde está Ele? Onde está que não vejo... Onde está Ele?

Não ficamos sabendo, ao certo, qual a posição deste companheiro no contexto da época. Seja como for, depreende-se, do que disse, ter sido um comerciante de recursos e certa inf luência social, pois men-ciona o Tetrarca, a quem parece ter tido acesso e também deixa perce-ber certa familiaridade com Pilatos, “o outro”, que lavou as mãos. Seria, talvez, um judeu não muito orto-doxo, originário de Chipre, já com alguns recursos, pois deixa perce-ber, também, que não veio, como

o seu companheiro de diálogo, em qualquer barco. “Há barcos e bar-cos”, disse ele. Ante a doença da filha, uma praga terrível e incurá-vel, pediu ao amigo que, como ele, era também de Chipre, para levar a menina a Jesus. Ele não “poderia ser visto” fazendo aquilo, envolvendo-se com aquela gente miserável, maltra-pilha e mal-cheirosa. Provavelmente levara a f ilha a Cafarnaum mas dali até o Cristo não queria ir por causa da grossa camada de orgulho. Gravou-se para sempre na sua re-tina espiritual a cena da sua que-rida Míriam de olhos negros, gran-des e belos, deitadinha no fundo do barco. Ela ficou curada, é certo, mas ele diz que perdeu Míriam e Rute, a esposa, que se converteram ao Cristianismo nascente, enquanto ele ficava com seu orgulho, seu “sta-tus” social, sua fortuna, seus negó-cios. Enfim, a história de sempre... e as agonias de sempre na angústia que nascia como espinhoso cactus, a separar aqueles que estavam pron-tos para seguir o Mestre Nazareno daqueles que viam nEle apenas um aventureiro vulgar, um feiticeiro ba-rato, um subversivo perigoso, ini-migo das mais sagradas instituições humanas: a riqueza, as rígidas cren-ças religiosas da época, o brilho e a pompa do poder efêmero.

Ele é tão grande que muitos foram os que somente puderam contemplá-lo na longa e distante perspectiva dos milênios. Coisa curiosa, porém: aquela gente mí-sera, coberta de andrajos, faminta e desprezada, aqueles párias humil-des identificaram logo nEle algo de puro e belo, que não podiam definir com a mente, mas que foram capa-zes de amar de todo o coração. v

Fonte: MIRANDA, Hermínio C. Histórias que os Espíritos Contaram. Págs. 225-233. LEAL. 1994.

reflexão

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1ª FORMA: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães, visto que

tens fome. Resposta: Não só de pão vive o

homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. (Lucas, 4:3 e 4.)

Moralidade: A fraqueza da carne é uma das portas abertas às tentações. Por ela o diabo penetra, agindo com grande êxito. Essa porta denomina-se luxúria ou incontinência, gulodice ou intemperança, e tudo o mais que se relaciona com as sensações físicas, cuja sede é a matéria.

É do domínio da carne sobre o es-pírito que se originam todos os ví-cios repugnantes, tais como o alco-olismo, a concupiscência, a gula, o tabagismo, a cocainomania.

O corpo, quando não dirigido pelo Espírito, destrói-se a si mesmo por meio das continuadas sensações e exaltações a que se submete. Daí o dizer profundamente sábio do Mestre: Aquel e que muito quer gozar a vida, perdê-la-á; o que renunciar, porém, à vida, por amor de mim, ganhá-la-á. Todas as moléstias têm origem nas fraquezas da carne, as quais levam o homem a transgredir constantemente as leis de higiene, leis naturais e, por isso mesmo, religiosas. A enfermidade é herança do pecado – reza o Evangelho.

A matéria não raciocina, não tem inteligência nem discernimento. É sede, apenas, de sensações. Do abuso dessas sensações nascem as exigências caprichosas da animalidade, as quais arrastam o homem ao pélago dos ví-cios e à voragem do crime.

Como sair de tal situação? como dominar a carne, fechando assim ao diabo uma das portas por onde tan-tas vezes consegue levar a cabo seus malévolos intentos?

Vence-se a carne não lhe con-cedendo tanta atenção, não aten-dendo aos seus arrastamentos e ca-prichos; fortif icando, enf im, o Espírito com o pão do céu, que é a palavra de Deus, a verdade eterna revelada ao mundo pelo seu Verbo humanado — Jesus Cristo. Não só de pão vive o homem, mas

de toda a palavra que sai da boca de Deus, eis de que os homens se esque-cem, embevecidos como geralmente andam com os cuidados do corpo. Os que só vivem da carne e para a carne fi cam sujetos às fraquezas da carne.

O remédio é a palavra de Deus — é o pão do Espírito, pois este, como o corpo, também tem fome e tem sede, necessidades estas que precisam ser satisfeitas. Fortalecer ao máximo o Espírito, dando ao corpo tão somente o necessário para sua conservação — eis a chave com que se cerra para sempre uma das portas por onde o diabo costuma penetrar. Assim pro-cedendo, curaremos também da ma-téria. Graças à direção do Espírito, o corpo se embelezará, far-se-á forte, alcançando longevidade acentuada.

TENTAÇÃO POR VINÍCIUS

conduta

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2ª FORMA: Galgando o pináculo do templo, disse-lhe o diabo: Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque es-crito está: Aos seus anjos ordenará a teu respeito, e eles te susterão em suas mãos, para não tropeçares em alguma pedra.

Resposta: Também escrito está: Não tentarás o Senhor teu Deus. (Lucas, 4:9 a 12.)

Moralidade: O orgulho com suas modalidades – presunção, arrogância, vaidade, soberba – constitui a segunda porta por onde o diabo ingressa, arrastando o homem a quedas desastrosas.

O orgulho é um desafio que o homem faz à Divindade. Desse ato de insânia ele sai sempre vencido e desapontado.

Daí a justeza desta sentença evan-gélica: Aquele que se exalta será hu-milhado.

Nenhuma paixão exerce tão ne-fasta infl uência sobre o homem como o orgulho, cujas raízes estão mergu-lhadas nas profundezas do egoísmo. Por esta razão é difícil vencê-lo,

como também porque assume aspec-tos multiformes e enganadores.

O orgulho não é peculiar somente à gentilidade. Ele invade a região da fé, penetra o coração do crente, chegando nesmo a alimentar-se da própria crença de suas vítimas. E de quantas formas se reveste! Ora é a cólera rubra que cega o enten-dimento, que enfurece a ponto de nivelar o homem à fera bravia. Ora é a presunção arrogante que lhe oblitera a mente e calcina as fi bras do coração. Ora é a confi ança ili-mitada em si mesmo, em pretensos dons e qualidades, na infalibilidade de seus juízos próprios, na superio-ridade excelsa de sua inteligência. Ora, ainda, na exagerada suscetibi-lidade de sentimentos, descobrindo por toda a parte desatenções, ofen-sas e desprezo à sua augusta perso-nalidade. Ora, fi nalmente, na ati-tude de hostilidade ou desdém para com todos os empreendimentos e todos os feitos onde a atuação pró-pria não foi exercida, onde seu juízo não foi emitido nem consultado.

Por isso, dizia o Apóstolo das gentes:

E, assim, o orgulho envolve o homem numa trama perigosa e traiçoeira, chegando ao prodígio de fazer com que haja quem se orgulhe de ser bom, de possuir certas virtudes até de ser humilde!

Se és Filho de Deus, lança-te do pináculo abaixo, pois os anjos te ampararão: eis o desafi o dirigido a Deus, às suas leis sábias e imutáveis. É como se dissesse: Homem, és santo e bom; és poderoso e sábio; não deves temer os males, sejam quais forem.

Não te deves incomodar com coisa alguma; não é preciso provi-dência, nem cautelas, nem prudên-cia. Deixa o vigiar e orar para os fra-cos e pusilânimes; os anjos velarão por ti, impedindo que sejas vítima de mistificações, evitando, enfim, que qualquer dano possa alcançar-te. Arroja-te, sê ousado e intimorato; tens em ti mesmo todo o poder, todo valor, toda a sabedoria! Assim fala o orgulho, desafi ando leis naturais e provocando a reação que se não faz demorar: a humilhação do or-gulhoso.

Como nos livrarmos de inimigo que se mascara assim para nos vencer?

Guardando na mente e no cora-ção a advertência do Mestre: Não tentarás o Senhor teu Deus, isto é, serás sempre humilde, reconhecendo tua ignorância e fraqueza, através do estudo constante que deves fazer de ti mesmo; agirás sempre com pru-dência e calma, prevenindo tudo que estiver ao teu alcance e jamais abusando dos dons e faculdades de teu Espírito; orarás e vigiarás cons-tantemente, pois assim estarás es-tabelecendo tua comunhão com a fonte de todo o poder que é Deus,

conduta

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esse Deus a quem nunca desafi arás deixando-te possuir da louca preten-são de submetê-lo aos teus caprichos e veleidades. Dessa sorte, terás fe-chado outra porta por onde o diabo, a cada passo, penetra, invadindo teus domínios.

3ª FORMA: De novo o diabo o levou a um monte muito alto, e mostrou-lhe todos os remos do mundo e a glória deles, e disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.

Resposta: Vai-te Satã; pois está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele darás culto. (Mateus, 4:8 a 10.)

Moralidade: A cobiça, a ambição desmedida, o apego às riquezas e à fascinação do poder e das glórias mundanas são, em conjunto, a terceira porta aberta às investidas do diabo.

Ser idólatra não importa so-mente no feiticismo que consiste em render culto às imagens. A ido-latria mais perniciosa é aquela que se verifi ca na avareza, no apego às temporalidades, na sede de poder e de gloríolas do século; e, final-mente, na adoração de si mesmo ou egolatria.

Indescritíveis e inumeráveis são os crimes perpetrados no mundo pela ambição a liada à cobiça. Crimes individuais e crimes coleti-vos. As guerras cruentas que enso-param a Terra, por vezes, de sangue e de lágrimas, estendendo o negro véu da viuvez e da orfandade sobre milhares de mulheres e crianças, não têm outra origem, nem outra explicação além da cupidez de co-rações ávidos de ouro e de pruridos de hegemonia.

As barreiras alfandegárias que encarecem e difi cultam a vida das

nações; o despotismo dos governos imperialistas; as tiranias oligárqui-cas e ditatoriais; todos os vexames e sacrifícios que se têm imposto im-piedosamente aos povos, são legí-timos frutos dessa insaciável sede de domínio, de glórias e de supre-macias, sede maldita que oblitera a razão e destrói as fi bras do senti-mento humano.

A raiz de todos os males é a cobiça. E aconselhava: “Não vos fasci-

neis com as grandezas, acomodai-vos às coisas humildes”. Satã entroni-zou o bezerro de ouro, e com esse manipanço vai enlouquecendo ho-mens e nações. Do alto do monte das ambições o diabo tem precipi-tado indivíduos e povos, depois de lhes haver prometido o sempre co-biçado domínio da Terra. No que respeita ao passado, sabemos que a Babilônia, o Egito, a Grécia e a Roma dos Césares se despenharam abismo. Quanto ao presente, vimos os Impérios Centrais, qual nova Cafarnaum, querendo galgar as nu-vens, cair pó.

Cumpre, portanto, fecharmos a terceira porta, atendendo ao con-selho do Mestre: Ao Senhor teu Deus adorar e só a Ele darás culto. Adorar a Deus e só a Ele pres-tar culto signifi ca amar o próximo como a si mesmo e viver segundo a justiça. Esta é a realidade da vida. O diabo continua, hoje como ontem, iludindo o homem com falaciosas promessas. O mundo não é proprie-dade do diabo nem o será jamais dos ambiciosos.

O homem é apenas usufrutuário da Terra por tempo incerto e limi-tado. O melhor uso que ele pode fazer de sua estada, nesta estân-cia da vida, é iluminar o Espírito e fortalecer a vontade, fechando ao diabo as portas da fraqueza da carne, do orgulho e da cobiça. Desse modo proclamará sua inde-pendência, adorando e servindo a Deus através do culto da justiça, do amor e verdade. v

Fonte: VINÍCIUS, Em Torno do Mestre. Págs. 185–190. Feb. 2009.

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com todas as letras

SÓ ENTRE NA ÁREA E SAIA DELAPOR EDUARDO MARTINS

Se você é fã de futebol e acompa-nha a transmissão dos jogos pelo rádio e pela TV, deve ter ouvido,

centenas de vezes, locutores e comentaristas dizendo que o atacante “entrou dentro” da área ou “saiu fora” de campo. Estes cons-tituem exemplos claros de que também os meios de comunicação cometem os seus equívocos.

O atacante entra na área e não “dentroda” área, até porque ele não pode “entrar fora” da área. Assim, uma pessoa entra em casa, entra no estádio, entra na sala, da mesma forma que o jogador entra na área (e nunca “entra dentro” de casa, “dentro” do estádio, “dentro” da sala, etc.).

O oposto também é verdadeiro: o goleiro, desde que não toque a bola com a mão, pode perfeitamente sair da área. Assim como a pessoa sai de casa, sai do emprego, sai do está-dio e até, na gíria, sai dessa. Portanto, se você quer falar e escrever corretamente, nunca use construções como a bola saiu “ fora” do está-dio, a pessoa saiu “para fora” de casa, é preciso alguém sair “ fora” dessa, o goleiro saiu “ fora” da área, etc.

Com subir e descer, verifi ca-se a mesma coisa. Como só se sobe para cima, dizer isso constitui o que os gramáticos chamam de redundância ou pleonasmo, que é o uso exagerado, desnecessário ou supérfl uo de palavras na frase. Assim, se você está no andar térreo e vai para o seu apartamento, você vai subir, apenas, e nunca subir “ lá em cima” ou lá “para cima” para pegar alguma coisa. Igualmente, se você está no seu apar-tamento ou na parte de cima da casa, você vai descer, somente, e nunca descer “para baixo” ou descer “ lá embaixo”.

Se essas redundâncias são populares, ocorrendo na fala do dia-a-dia das pessoas, em outros casos elas freqüentam círculos mais sofisticados. Por exemplo, quem já não ouviu identifi car os ofi ciais superiores das Forças Armadas brasileiras com deno-minações como almirante “ da Marinha”, general “ do Exército” e brigadeiro “ da Aeronáutica”. É sufi ciente nesse caso falar em almirante, general e brigadeiro, por-que no Brasil só há generais no Exército,

almirantes na Marinha e brigadeiros na Aeronáutica.

São incontáveis as repetições de idéia com as quais convém tomar cuidado e para muitas os próprios órgãos públicos ainda não acordaram. Por exemplo, se toda pre-feitura representa um município, por que a expressão “prefeitura municipal”?

Mesmo nos casos que não se possam propriamente caracterizar como popula-res, os pleonasmos fi cam evidentes. Como nestes exemplos: “exultar de alegria” (não se exulta de tristeza), “conviver junto” (nin-guém convive separadamente), “goteira no teto” (onde mais poderia estar?), “ labaredas de fogo” (poderiam ser de que mais?), “re-lações bilaterais entre os dois países” (se são bilaterais, são entre dois), “sorriso nos lábios” (onde mais poderia estar?).

Veja mais alguns: “estrelas no céu” (igual-

mente, onde mais poderiam estar?), “acaba-mento final” (existe acabamento parcial?), “erário público” (todo erário é público), “sua autobiografi a” (auto já signifi ca próprio, seu), “países do mundo” (de onde mais poderiam ser senão do mundo?), “vereador da câmara mu-nicipal” (só há vereador nessa casa legislativa).

Pode haver casos em que as repetições não fi quem tão evidentes. E há três verbos pelo menos que, associados a um advérbio, produzem essa redundância. Repare nas construções: continuar ainda, manter ainda ou permanecer ainda. Em todos os casos, há uma idéia de permanência, persistência. Portanto, o ainda está sobrando. Seria sufi -ciente dizer: Ele continua no cargo (e não ele continua ou permanece “ainda” no cargo). Da mesma forma, o governo manteve os be-nefícios e não o governo manteve “ainda” os benefícios. v

Alguns pleonasmos são hoje campeões absolutos no rádio, na televisão e na imprensa. O principal deles, encarar de frente, tem até uma variante, enfrentar de frente. Encarar e enfrentar já encerram os elementos cara e frente. Como não se encara de costas ou de lado, fale apenas em encarar fi xamente, enfrentar fi rmemente, etc. Uma das idéias fi xas da publicidade, até como reforço de campanhas em que se oferecem vantagens ao consumidor, ganhar grátis padece do mesmo mal. Ou é possível ganhar pagando? Veja mais algumas expressões:• “Elo de ligação”. Elo signifi ca cadeia, ligação. Portanto, elo de ligação nada

mais é que “ligação de ligação”. • “Hábitat natural”. Se hábitat já é o lugar que uma espécie habita, haverá algum hábitat que não seja natural? • “Monopólio exclusivo”. Se é monopólio, só pode ser exclusivo. • “Manter o mesmo”, “manter o seu”. A pessoa pode manter outro ou manter algo que não seja seu? • “Pequenos detalhes”. Não existem grandes detalhes. • “Conclusão � nal”. Só pode ser usada se houver outras conclusões, parciais. • “Ainda ... mais”. Deverá demorar “ainda” “mais” dez dias. O ainda está sobrando. • “Inaugurar” ou “lançar novo”. Se se inaugura ou lança, é claro que é novo. • “Regra geral”. Toda regra é uma generalização.

Não confunda essas formas apenas com o pleonasmo estilístico da literatura, presente em textos como: Sonhar um sonho. / Ver com os próprios olhos./ Rir um riso amarelo./ Andar com as próprias pernas.

Lembre-se, porém: ele só aparece em casos especiais e é preciso saber usá-lo.

Fonte: MARTINS, Eduardo. Com Todas as Letras. Págs. 36-37. Editora Moderna. 1999.

NINGUÉM ENCARA DE COSTAS

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FidelidadESPÍRITA | Setembro/2011 mensagem

MAUS OBREIROSPaulo de Tarso não reco-

menda sem razão o cuidado a observar-se, ante o assédio

dos maus obreiros. Em todas as atividades do bem, o

trabalhador sincero necessita preser-var-se contra o veneno que procede do servidor infi el.

Enquanto os servos leais se desve-lam, dedicados, nas obrigações que lhes são deferidas, os maus obreiros procuram o repouso indébito, con-clamando companheiros à deserção e à revolta. Ao invés de cooperarem, atendendo aos compromissos assu-midos, entregam-se à crítica jocosa ou áspera, menosprezando os colegas de luta.

Estimam as apreciações desenco-rajadoras.

Fixam-se nos ângulos ainda in-seguros da obra em execução, des-preocupados das realizações já feitas.Manuseiam textos legais a fi m de ob-

servarem como farão valer direitos com esquecimento de deveres.

Ouvem as palavras alheias com re-ligiosa atenção para extraírem os con-ceitos verbais menos felizes, de modo a estabelecerem perturbações.

Chamam covardes aos cooperado-res humildes, e bajuladores aos efi -cientes ou compreensivos.

Destacam os defeitos de todas as pessoas, exceto os que lhes são pecu-liares.

Alinham frases brilhantes e com-placentes, ensopando-as em óleo de perversidades ocultas. Semeiam a dúvida, a desconfi ança e o dissídio, quando percebem que o êxito vem próximo.

Espalham suspeitas e calúnias, entre os que organizam e os que exe-cutam.

Fazem-se advogados para serem acusadores.

Vestem-se à maneira de ovelhas, dissimulando as feições de lobos.

Costumam lamentar-se por ví-timas para serem verdugos mais completos. “Guardai-vos dos maus obreiros.”

O conselho do apóstolo aos gen-tios permanece cheio de oportuni-dade e signifi cação. v

Emmanuel/Chico XavierVinha de Luz

“Guardai-vos dos maus obreiros.”

– Paulo.

(Filipenses, 3:2.)

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Assistência Espiritual: Passes 3ª Feira 20h00 - 20h40 ininterrupto Aberto ao público

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Assistência Espiritual: Passes 5ª Feira 20h00 - 20h40 ininterrupto Aberto ao público

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Assistência Espiritual: Passes Domingo 09h00 - 09h40 ininterrupto Aberto ao público

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