No caroço do abacate
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Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP.
CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA Tel. (11) 92357060 ou (48) 96409331 e-mail: [email protected]
EDIÇÃO 1124– Ano 27; 3ª semana de Outubro 2012.
No caroço do abacate. JOSÉ MARTINS Nas sinuosas ondas de valorização e desvalorização global, a gigantesca
produção industrial da economia de ponta do sistema centraliza e
representa a própria produção mundial.
O destino da economia mundial e, portanto, da totalidade da população mundial,
é decidido em Wall Street – uma pequena rua no coração de Nova York, onde
circulam diariamente as maiores transações financeiras e comerciais do universo.
Massacrante centralização do capital mundial. É aqui que se manifesta antes a
produção e a superprodução do capital global.
A instituição mais famosa (e poderosa) de Wall Street é sua bolsa de
valores e seus populares índices de valorização do capital: Down Jones, S&P 500
e Nasdaq. Os preços das ações sobem e descem proporcionalmente aos maiores
ou menores lucros das maiores empresas do mundo. A maioria norte-americanas.
Mas esses preços e lucros das líderes não variam aleatoriamente. Dependem de
determinada capacidade de extração do valor e da mais-valia nas suas linhas de
produção industrial; nos respectivos laboratórios secretos da produção de capital.
O importante para a análise é que tanto a produção de valor e de mais-
valor quanto a sua variação dentro do ciclo econômico podem ser perfeitamente
observados. Como ensinava Albert Einstein, “é a teoria que decide o que pode
ser observado; a observação é um processo muito complexo”. Vejamos como
isso acontece abordando os números do Federal Reserve Bank de Nova York
(Fed, o banco central do universo).
TEORIA E OBSERVAÇÃO – Segundo o relatório do Fed publicado nesta semana1,
a massa de valor e da mais-valia materializada nas mercadorias produzidas pela
indústria dos EUA totalizou a gigantesca soma de US$ 3, 341.9 trilhões. Só a
parte depois da vírgula (341.9 bilhões de dólares) corresponde aproximadamente
à produção industrial brasileira, a 10ª produção industrial mundial. A produção
estadunidense aparece como aproximadamente dez vezes maior que a brasileira.
E, pelo andar da carruagem, essa diferença deve aumentar.
1 Federal Reserve Bank – G 17 Industrial Production and Capacity Utilization – October 16, 2012.
http://www.federalreserve.gov/releases/g17/current/
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Mas, antes de continuar essas observações, deve ser feita uma pequena
mas importantíssima consideração teórica: como a produção industrial de cada
economia nacional é medida em preços de produção, a massa de valor e de mais-
valia desta economia isolada pode estar acima ou abaixo da quantidade de
trabalho (valor) imediatamente dispendida no território nacional observado.
Assim, a produção industrial estadunidense – economia de ponta da totalidade do
sistema e reguladora do preço de produção do mercado mundial – tal como
mensurada pelo relatório do Fed, pode materializar em suas mercadorias uma
enorme quantidade de valor e de mais-valia que foi produzida efetivamente por
trabalhadores localizados em economias onde o trabalho é menos produtivo.
Marx estabelece que no mercado mundial o trabalho mais produtivo
também vale como o mais intenso. Isto permite que as economias onde se
localizem as composições orgânicas do capital acima da média mundial (EUA,
Alemanha e Japão) recebam a transferência de grande massa de valor produzida
nas economias com composição abaixo da média mundial (China, Índia e Brasil).
Essa estável perequação de valor e de mais valia entre diferentes
produções nacionais ocorre através do mecanismo de formação de preços de
produção, da taxa geral de lucro e da circulação das mercadorias no mercado
mundial. É no mercado mundial, também afirmava corretamente Marx, que se
realiza plenamente a lei do valor trabalho. É o espaço adequado ao capital.
Nestas condições, o desenvolvimento desigual e combinado do capital no
mercado mundial passa a ser uma característica orgânica do regime capitalista de
produção. É a base material da dominação imperialista das economias
dominantes (composição orgânica do capital superior à média mundial) sobre as
economias dominadas (composição orgânica inferior). As condições geopolíticas
internacionais também giram em torno dessa base material (econômica).
É devido a essas relações orgânicas da acumulação do capital mundial que
a gigantesca produção industrial da economia de ponta do sistema representa em
si a própria produção e o destino da população mundial. É por isso, também, que
o que se passa no caroço, isto é, em Wall Street e na produção industrial dos
EUA, determina o movimento e a dinâmica cíclica do sistema em sua totalidade.
Torna-se, então, muito relevante, observar no relatório do Fed publicado
nesta semana que a produção industrial mundial, quer dizer, dos EUA, sofreu
perigosa desaceleração no 3º trimestre do ano. Depois de crescerem
vigorosamente nos dois primeiros trimestres do ano (6.3% no primeiro e 5.7% no
segundo), a indústria de bens duráveis apresentaram no 3º trimestre seu primeiro
declínio (1%) desde o segundo trimestre de 2009, quando a economia mundial e
a dos EUA atingiram o fundo do poço do último período de crise (2008/2009).
Analisaremos possíveis consequências no próximo boletim. Até lá!
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