Nº 378 Edição Brasil

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ETANOL FOR EXPORT O BRASIL INSISTE O PESO DA CHINA DESEQUILÍBRIO GLOBAL ESPECIAL LIDERANÇA LIÇÕES DA CRISE Os riscos da América Central BRASIL www.americaeconomia.com.br R$ 10 Nº 378 • AGOSTO, 2009

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AméricaEconomia: Revista de Economia e Negócios Latino-americana

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ETANOL FOR EXPORTO BRASIL INSISTE

O PESO DA CHINADESEQUILÍBRIO GLOBAL

ESPECIAL LIDERANÇALIÇÕES DA CRISE

Os riscos daAmérica Central

BRASIL www.americaeconomia.com.br

R$ 10

Nº 378 • AGOSTO, 2009

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CAIXA. O banco que acredita nas pessoas.

SAC CAIXA: 0800 726 0101 Informações, reclamações, sugestões e elogios0800 726 2492 - Portadores de deficiência auditiva0800 725 7474 - Ouvidoria

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caixa.gov.br

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ESPECIALLIDERANÇA

Nervos de aço em meio à batalha pela sobrevivência de uma empresa. A crise desperta a liderança executiva

4 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

NESTA EDIÇÃONº 378 / AGOSTO, 2009

SEÇÕES

NEGÓCIOS 28 >REVOLUÇÃO VIRTUAL

A internet está gerando novos modelos de negócio na música.

30 >COMO GENTE GRANDEKidzania exporta o modelo de parque de diversões em que as crianças brin-cam de trabalhar.

32 >APOSTA NO BICHOMicro-organismos prome-tem revolucionar aindústria do cobre.

34 >PMES GLOBAISBarras argentinas de quinoa ganham mercado através da Amazon.com

ESPECIALAMÉRICA CENTRAL

35 >HORIZONTE CINZAOs riscos estruturais mais

profundos que afetam a região.

39 >ENTREVISTAEmbaixador Gonçalo Mou-rão fala sobre o estreita-mento das relações entre Brasil e América Central.

40 >QUINTA COLUNASusan Kaufman acusa a OEA de dupla interpreta-ção em sua conduta no caso de Honduras.

41 >OPINIÃOBaixa sofi sticação fi nanceira é uma falha da América Central, aponta John Edmunds.

DEBATES

42 >CARTADA DE RISCOAproximação com o Irã pode custar caro à credi-bilidade do Brasil frente à comunidade internacional.

44 >ENTREVISTAJosé Miguel Vivanco analisa os Direitos Huma-nos na América Latina.

46 >SEM CONTRAPESO Desequilíbrio entre China e EUA que colaborou para a atual crise fi nanceira não tem data para acabar.

48 >ENTREVISTAEnrique García Rodriguez, da CAF, fala sobre os desafi os do “day after” da crise.

50 >ETANOL FOR EXPORTApesar da crise, setor no Brasil ainda confi a no au-mento das exportações.

53 >SUBSÍDIOS?Analistas afi rmam que aju-da ao setor agropecuário no Brasil não se enquadra nessa categoria.

FINANÇAS

54 >SEM FESTAA euforia com as aberturas de capital no Brasil ainda não voltou.

56 >EM MATURAÇÃOA análise de ações começa a se profi ssionalizar na América Latina.

IBIZ

58 > BANHO DE SOLEmpresa de Campinas promete baixar os custos da energia solar imitando a fotossíntese.

60 > INTERFACESCrunchPad revoluciona nossa forma de navegar.

61 > CLICS & CHIPSReceptor de áudio com DVD da Pioneer é tudo que se necessita em um carro.

6> ÍNDICE 8> AE.COM10> CARTAS12> MEMO14> EDITORIAL15> ANIMAL POLÍTICO17> PISTAS18> MOVIMENTOS60> INTERFACES62> CAPITAL ABERTO63> NEGÓCIO FECHADO64> RAIO X65> VISÕES66> LINHA DIRETA 22

CAPA

: AM

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AECO

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ÍAZ

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IZO

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6 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

ÍNDICE DE EMPRESASOS NÚMEROS REFEREM-SE À PRIMEIRA PÁGINA EM QUE AS EMPRESAS SÁO CITADAS.EXCLUI AS EMPRESAS QUE FIGURAM EM GRÁFICOS E RANKINGS

1366.........................................................59

A-B

Actinver ...................................................57

Ágora Corretora ......................................55

Agra/FNP ................................................53

Álbum Virtual .........................................29

Alicorp ....................................................26

Almacenes Éxito .....................................31

Alta Vista ................................................60

Amazon.com ...........................................34

Ambev .....................................................18

América Móvil ........................................18

American Airlines ...................................30

AMS Foods .............................................34

Apple .................................................29, 60

Arko Advice ............................................43

ArtistShare ..............................................29

Atento Brasil ...........................................26

Banco de Bogotá .....................................31

Banco do Brasil .......................................26

Bancolombia ...........................................57

BBVA Banco Continental .......................21

BHP Billinton..........................................33

Biosigma .................................................32

Bladex .....................................................36

Bolero Project .........................................29

BR Malls .................................................54

Brampton Telecom ..................................58

Brasil Foods ............................................54

Brenco .....................................................50

Brendan Wood International ...................18

Bumeran.com ..........................................20

C-D

Camargo Corrêa ......................................51

Canaplan .................................................50

Cemex .....................................................19

Centro Comercial Santa Fé .....................31

Coca-Cola ...............................................26

Codelco ...................................................33

Copel .......................................................23

Copersucar ..............................................51

Corpgroup ...............................................56

CorpResearch ..........................................56

Cosan .......................................................51

CPFL .......................................................19

CrunchPad ...............................................60

Crystalsev ................................................51

CVS .........................................................34

Datasul ....................................................24

Dealogic ..................................................55

Desertec ...................................................59

Divercity ..................................................31

Domino’s .................................................30

Dupont .....................................................34

E-F

eBay ........................................................60

Ecopetrol .................................................57

Electric Manufacturing ...........................60

Eletropaulo ..............................................19

Embraer ...................................................19

ETH .........................................................51

Femsa ......................................................26

Ferreyros .................................................23

Fiat ..........................................................26

Ford .........................................................26

FusionGarage ..........................................60

G-H

General Motors .......................................59

Geobiotics LLC .......................................32

Geração Futuro ........................................57

Google .....................................................60

Grupo Advento ........................................24

Grupo GP ................................................55

Grupo Inversiones Filigrana ....................25

Hanesbrands Inc ......................................38

Heidrick & Struggles ..............................23

Hewlett-Packard ......................................38

Homex .....................................................25

HSBC México .........................................25

HSBC ......................................................30

Hypermarcas ...........................................54

I-J

Interbolsa .................................................57

Itaú Unibanco ..........................................18

Jockey Plaza ......................................20, 31

K-L

Kidzania ..................................................30

KPMG .....................................................23

LarrainVial ..............................................57

Light ........................................................54

Ludik .......................................................29

LyondellBasel .........................................51

M-N

Management & Excellence .....................19

Mckinsey .................................................59

Mellfaber .................................................43

Metro .......................................................23

Michael Page ...........................................57

Mitsubishi ...............................................51

Mitsui ......................................................51

Moneda Asset Management ....................57

Moody’s ..................................................46

MRV ........................................................54

Munich Re ...............................................59

Museo de los Niños Abasto ....................31

Natura ......................................................54

NatureCrops ............................................34

Navigant Consulting ...............................59

Nestlé ......................................................26

Nintendo ..................................................21

Nippon Metals and Mining .....................33

NTT DoCoMo .........................................59

O-P

Odebrecht ................................................51

Pacífi co Peruano Suiza ............................25

Perdigão ..................................................54

Petrobras ...........................................19, 51

Pioneer ....................................................61

PMCC .....................................................51

PortalDisc ................................................28

Puma .......................................................20

R-S

RGE Monitor ..........................................46

Ripley ......................................................20

Sadia ........................................................54

Saga Falabella .........................................20

Samsung ............................................26, 59

Santander .................................................54

Serpal ......................................................24

Socopa .....................................................57

Solarbuzz .................................................59

Sony ........................................................59

T-U

Tam..........................................................19

Teck Resources .......................................33

Telcel .......................................................24

Telefónica México...................................24

Telefônica ................................................26

Televisa ...................................................30

Tezca Células

Solares .............................................58

Totvs ........................................................24

Trama ......................................................29

TV Caracol ..............................................31

Unibanco .................................................26

Uniduto ...................................................51

Unilever México......................................24

Usiminas .................................................19

V-W

Visanet .....................................................54

Wagner Investimentos .............................55

Wal-Mart México ....................................18

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8 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

americaeconomia.com.brwww.

O aquecimento global faz parte das preocupações das maiores empresas do mundo, e a América Latina não é exceção.

Por isso, AméricaEconomia quer conhecer as empresas latino-americanas que voluntariamente tomam medidas para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa.

Sua empresa realiza essa medição? Implantou estacionamento de bicicletas para incentivar seus

empregados a abandonar seus carros? Comprou bônus de carbono emitidos por algum projeto que mitigue ou capture CO

2 do ambiente?

Se a resposta for afi rmativa a alguma destas perguntas acima, contacte-nos para participar no ranking de empresas latino-americanas que mais contribuem para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa.

Escreva a [email protected]

Carbon footprint

PATROCINADORES ON-LINE:

Forme parte da comunidade americaeconomia.com.br

BRASIL FOCA TURISMO DE LUXO E BUSCA DESTAQUE NA AL

VEJA EM NOSSO SITE:

Sucesso entre os internautas, a nova rede social vem sendo usada também pelos operadores do setor fi nanceiro, que consideram a ferramenta um ótimo termômetro de tendências.

TWITTER COMEÇA A MUDAR O MERCADO EM 140 TOQUES

Segmento é responsável por 25% da receita gerada com viagens internacionais no mundo.

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[email protected]

A liderança do Brasil A matéria “Sob a mirada do titã” (AméricaEconomia Nº 376, junho, 2009) faz senti-do. Viajei algumas vezes ao Chile e à Argentina e pude constatar que a percepção da liderança cultural e eco-nômica que alguns cidadãos desses países têm sobre o Brasil é fato. Não posso generalizar, mas ouvi depoimentos positivos a respeito. Mas há algumas inquietudes quanto ao al-cance: 1. É possível falar de lide-rança em toda a região?2. Em que nível se daria esta liderança?3. A abertura à negociação

de acordos bilaterais, in-cluindo para alguns dentro da mesma região, não torna mais frágil a existência de uma liderança regional?

Luciano Moura Brasil

Venezuela e o ranking das 500 Senhores latino-americanos, analisem a situação de meu belo país, a Venezuela. Das 500 empresas no ranking das 500 maiores (AméricaEco-nomia Nº 377, julho, 2009) só temos sete, das quais seis são estatais e só uma é priva-da (Movistar). Quão exitoso e próspero é nosso sistema

econômico? Lamentavel-mente, não temos um pro-jeto de Estado; o que temos é um de governo. Tirem vocês suas conclusões sobre nossos benefícios legais à empresa privada. Felicito os irmãos de Brasil, México, Colômbia, Chile, Peru etc.

Francisco Mora Caracas, Venezuela

Greenspan tem culpa Sempre duvidei da simpli-cidade matemática de Gre-enspan! Em relação a seu artigo (“A nova desordem mundial”, AméricaEcono-mia Nº 377, julho, 2009), talvez o melhor seria chamá-lo de “Greens-pain”, pela queda do dólar como moeda para administrar os valores comparativos dos produtos mundialmente comerciali-zados. Reconheçamos que o primeiro dever de “Greens-pain” era com o governo e o povo de seu país. E os demais? Esquecidos estão os temas de “psicologia da decisão” e “a ação (ou pâni-co) das massas” frente a um panorama pouco defi nido. Economia não é uma ciência exata e requer assistência da sociologia, da psicologia da ação das massas e dos grandes eventos econômi-cos, cujo resultado desafi a a lógica. Equivocado está o autor do texto ao afi rmar que “alguém sem profundos co-nhecimentos matemáticos” poderá opinar. Adam Smith, Taylor e inclusive Marx não usaram nenhuma matemáti-

ca em seus estudos, optaram pelo pensamento fi losófi co da economia, parte da fi lo-sofi a global da existência do ser.

Evandro PugginaLima, Peru

Problemas aéreosInteressante análise da in-dústria de linhas aéreas (“Assentos vazios”, Améri-caEconomia Nº 377, julho, 2009), mas não só é preciso ver pelo lado das empresas, como também é necessário analisar pelo lado dos clien-tes. Como se diz na América do Sul, só há quatro linhas aéreas regionais fortes: Taca, LAN, GOL e TAM. As res-tantes são pequenas, estão em crise ou possuem baixo poder competitivo. As cha-madas “alianças” são ruins, geram os amplos “mono-pólios” que prejudicam os clientes. Menciono o caso do Peru, onde internamente existe um monopólio de ro-tas, no qual a LAN é a am-pla dominadora. Ela estipula as tarifas, horários e condi-ções, sem que os usuários possam fazer nada. Pode-se dizer que tem exclusivida-de na atrativa rota a Cuzco, onde há mais de 18 voos diários oriundos de Lima. Taca e Star têm, cada uma, um só voo por dia. Lamenta-velmente, o governo não faz nada para romper esta hege-monia. Senhores, não vejo razão para dizer que as com-panhias perdem. O problema da gasolina já se foi. Uma passagem interna no Peru, que há 10 anos estava entre US$ 50 e US$ 60 (ida e vol-ta), hoje na LAN o assento mais barato custa US$ 110, e o mais caro, US$ 500.

Julio MartinezLima, Peru

Com sóum clique,

novosserviços da

AméricaEconomia

[email protected]@americaeconomia.comn

CARTASE COMENTÁRIOS

10 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

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MEMO

12 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

MUDAMOS PARA CONTINUAR

DIRETORElias Selman Carranza

VICE-PRESIDENTE-EXECUTIVAGloria Landabur

DIRETOR EDITORIAL Felipe Aldunate M.EDITOR ADJUNTO Rodrigo LaraEDITORA-EXECUTIVASolange MonteiroDIRETOR DE ARTEÁlvaro Araya UrquizaEDITORESDubes Sônego, Juan Pablo Rioseco, Eduardo Thomson, Fernando Chevarría

ESCRITÓRIO EDITORIAL BRASIL (55 11) 3063-2049

EDITOR MÉXICOArly FaundesEDITOR MIAMIAntonio María DelgadoEDITOR DE FOTOGRAFIA Miguel CandiaREPÓRTERES Soledad Gómez, Matías Rodo Yuricevic (Santia-go), Lisia Gonzalez (México), Sergio Spagnuolo (Brasil)CONSELHEIRO EDITORIALPeter Hakim

DIAGRAMAÇÃORiffka Schiro-kauer, Sebastián Caro, Jenny García ILUSTRADORES Soledad Tirapegui, Rodrigo Díaz CarrizoREVISORAAdriana Casarotti

CORRESPONDENTES ARGENTINAJuan Pablo DalmassoURUGUAIGuillermo Pellegrino PERUCecilia NiezenCOLÔMBIALucía Valdés

COLUNISTASSusan Kaufman Purcell, Félix Peña, Abraham Lowenthal, John Edmunds, Javier Santiso

AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE(estudos e projetos especiais) DIRETOR Jaime Contreras SoriaCOORDENADORA GERAL DanielaGonzálezANALISTA Paulina SaavedraPESQUISADOR SÊNIOR Andrés Almeida

AMÉRICAECONOMIA.COM DIRETOR ESTRATÉGIA DIGITAL Rodrigo GuaiquilEDITOR Lino Solis de OvandoEDITOR BRASIL Marcelo GalliREPÓRTERES Bianca Lima, Marcelo García, Patricia Zvaighaft, Pablo Jamett, Alejandra ClaveríaTRADUTOR Juan PardoWEBMASTER José FuentesPRODUCT MANAGER Marcelo Silva

BRASILSpring Editora-Produtora Ltda.

DIRETOR-PRESIDENTE José Roberto Maluf GERENTE DE PUBLICIDADE Sidney Espósito

EXECUTIVAS DE CONTAAndréa Tupinambá [email protected]

Priscila Ferreira [email protected]

MARKETINGElisangela Silva, Rafael Borsanelli

Rua Ferreira de Araújo, 202 - 7º andar São Paulo - SP - BrasilCEP 05428-000 Tel.: [email protected]

INTERNACIONALDIRETORA COMERCIAL EUAVerónica [email protected] COMERCIAL MÉXICOJuliana [email protected] COMERCIAL CHILEMaría Alexandra [email protected] COMERCIAL PERUAlejandra [email protected] ARGENTINAclaudia [email protected] DE PRODUÇÃOConstanza del Río Moreno

DIRETOR DE CIRCULAÇ ÃOMarcial DelcortoDIRETOR DE MARKETINGMarcelo Silva SymmesGERENTE DE INFORMÁTICA E LOGÍSTICAÓscar Sánchez

ESCRITÓRIOS EDITORIAISBUENOS AIRES+5411 4383-8410SANTIAGO+562 290-9400LIMA+511 610-7272CIDADE DO MÉXICO+5255 5254-2400MIAMI+305 648-9071

PRESIDENTENils StrandbergCHAIRMANRobert R. Paradise

AméricaEconomia é uma publicação mensal da Nanbei Ltd. •Impressa na Quebecor World Chile S.A. Publicação periódica•Registro PP09-0011

Temos crescido. A re-vista fundada em 1986 com o objetivo de ser

uma publicação mensal para os executivos e profi ssionais que cruzam fronteiras hoje é um complexo conjunto de iniciativas midiáticas. São seis revistas com a marca Amé-ricaEconomia que circulam por toda a América Latina. Os conteúdos da América-Economia são reproduzidos por destacados jornais da re-

gião. Nossos estudos, como o Ranking MBA, o Ranking das Melhores Cidades para Fazer Negócios e o Ranking das 500 Maiores Empresas da América Latina são referências e mate-rial de estudo. Mesmo em meio à crise, temos potencializado nossa estratégia digital. Hoje os sites AméricaEconomia.com e AméricaEconomia.com.br se transformaram em um potente jornal on-line de economia e negócios – e

prepare-se para novas surpre-sas digitais que apresentaremos em breve. Sem contar a promo-ção de fóruns e até programas de TV. É certo. Algu-

mas iniciativas têm funcio-nado melhor do que outras. Mas todas elas confirmam nossa vocação para entregar o melhor conteúdo sobre ne-gócios, economia e política da América Latina, pelo canal que for necessário. O novo design na capa desta edição obedece a este mesmo compromisso. Manteremos o nosso logo de sempre – as palavras Amé-rica e economia, com fonte Franklin Gothic Heavy e com

os acentos desenhados – mas o colocamos dentro de uma caixa vermelha, para que se sustente sem importar o supor-te: desde a tela de um celular à de uma TV, passando pelo papel de um jornal até o cou-ché que tenha em suas mãos. Uma mudança pequena, mas fundamental para fortalecer nossa estratégia multilocal e multissuporte, que nos permitirá seguir em frente, junto a você e à comunidade de negócios mais importante da América Latina.

Felipe Aldunate M.Diretor editorial

BRASIL

Page 13: Nº 378 Edição Brasil

Our signature Latin American Cities Conferences unite high-ranking government officials, prominent business leaders, policymakers, academics, and other noteworthy guests to dialogue on economic analysis and projections, political trends, opportunities for growth and investment, regional integration, as well as other relevant issues to the region and to each of the countries.

Latin American Cities Conferences

Please visit www.as-coa.org for updated information.

pan-regional sponsors

uniting opinion leaders to exchange ideas and create solutions to the challenges of the Americas today

august 28

Mexico City, Mexicomarch 12

São Paulo, Braziljune 9Bogota, Colombia

june 17Santiago, Chile

Asuncion, Paraguay

july 2Buenos Aires, Argentinaaugust 26

Lima, Perunovember 5

with the support of

Page 14: Nº 378 Edição Brasil

Oconfl ito de poderes em Honduras, que

terminou com o golpe de Estado, tem elementos co-muns a outras crises polí-ticas na América Latina. É semelhante à que obrigou o argentino Fernando de La Rúa a escapar de helicópte-ro da Casa Rosada, no fi m de 2001, e à que ocorreu na Bolívia, quando protestos levaram à renúncia de Gon-zalo Sánchez de Losada, em 2003, substituído pelo vice-presidente Carlos Meza, em 2005, que passou o cargo por decisão do presidente da Suprema Corte a Eduardo Rodríguez, que convocou eleições.

São provas da incapa-cidade de nossos sistemas políticos de gerenciar con-fl itos de maneira institu-cional. Não se pode evitar que desilusões eleitorais se transformem em crises de-mocráticas.

Parte do problema é o excessivo presidencialismo das democracias latino-americanas, que tem gerado evidentes desigualdades entre os poderes do Estado. O acesso preferencial dos mandatários aos meios de comunicação e sua capaci-dade de “sintonizar” com as massas gera um desequi-líbrio com o Congresso e o Poder Judiciário, que per-

dem a capacidade de atuar como efetivos contrapesos.

Esta estrutura gera uma rigidez institucional eviden-ciada quando há desilusão com a fi gura do presidente; quando o mandatário perde apoio das maiorias e não se vê uma saída possível.

Não há hoje válvula de espace institucional que permita resolver o confl ito. É necessário recorrer a al-ternativas inconstitucionais ou a soluções de arbitra-gem. Quando os golpes de Estado parecem ser coisas do passado, vê-se que nos últimos anos houve mais de vinte presidências interrom-pidas.

É preciso revisar nossos regimes. O crescimento da participação política nos países latino-americanos e a representação de novos grupos em seus sistemas é uma situação desejável, mas que gera novas fontes de demanda para nossos car-regados sistemas presiden-cialistas, especialmente em países com débeis sistemas de partido.

É que a forma como se governa hoje parece indicar o esquecimento de que, em toda a história da democra-cia, a fi gura do Parlamen-to tem se mostrado muito mais relevante que a do presidente.

Omesmo barulho que a Organização dos Es-

tados Americanos (OEA) fez para rechaçar o golpe de Estado em Honduras deve-ria ser aplicado no caso dos lança-foguetes descobertos

na Colômbia (veja na página seguinte). A possibilidade de que a Venezuela tenha entregado armas às Farc é um importante fator de risco e instabilidade para a paz e a democracia latino-ameri-

canas. E suas consequências podem ser mais graves do que as do golpe de Estado no país centro-americano, e não se pode fi car de braços cruzados. A tímida oferta de seu secretário geral para uma intermediação entre os dois países está longe do que uma entidade multilateral, cujo mandato é a proteção da democracia, deveria fazer.

Contudo, dada sua ins-titucionalidade, é pouco o que se pode fazer. A neces-sidade de operar em base da unanimidade de 33 países membros é uma ideia linda, mas pouco prática. A OEA requer uma verdadeira ca-pacidade de reagir às crises, muito antes de estas se trans-formarem em golpes de Es-tado ou confl itos nacionais.

Por isso, AméricaEco-nomia junta-se às vozes que solicitam a criação de um

comitê executivo dentro da OEA, no estilo do Conselho de Segurança da ONU, que tenha mais fl exibilidade e autonomia em seu processo de decisão. O modelo pode ser o mesmo: um grupo de países rodando seus lugares, com a possibilidade de que Estados Unidos, México e Brasil ocupem assentos permanentes. Dadas as pro-fundas divisões ideológicas e os interesses que há entre os países latino-americanos, assim como as novas formas das crises latentes (o que complica ainda mais chegar a consensos), a principal ins-tância política do hemisfério deve se transformar para ser um verdadeiro aporte à ins-titucionalidade democrática da região, e não um mero órgão que observa de lon-ge os acontecimentos mais relevantes.

EDITORIAL

14 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

PRESIDENCIALISMO REMODELADO

SUGESTÃO PARA A OEA

Page 15: Nº 378 Edição Brasil

AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 15

ANIMAL POLÍTICO

AP

[COLÔMBIA/VENEZUELA]A CRISE DOS LANÇA-FOGUETES Foi confi rmado na Suécia. Há 20 anos este país europeu vendeu alguns lança-foguetes à Venezuela, que recentemente foram confi scados das Farc na selva colombiana. Como chegaram ali? Não está claro, mas a possibilidade de colaboração entre o governo Chávez e as guerrilhas fez subir a temperatura das sempre tensas relações entre entre os dois países. Chávez acusou Uribe de irresponsabilidade por sugerir esta possibilidade, suspendeu as relações diplomáticas e colocou o comércio bilateral sob revisão. “Esta é uma nova ofensiva, uma nova agressão do governo da Colômbia contra a Venezuela”, ressaltou Chávez. Na Colômbia, as divisões políticas internas não têm permitido que o país dê uma resposta à altura das circunstâncias.Os confl itos entre Colômbia e Vene-zuela têm profundas bases históricas e geopolíticas. Eles têm se aprofun-dado pelas diferenças ideológicas entre ambos: Chávez sente-se mais próximo da guerrilha colombiana, en-quanto Uribe estreita suas relações com o governo dos Estados Unidos, incrementando sua aliança militar. É provável que isto se resolva como em crises anteriores, com um aperto de mãos entre os dois presidentes em uma cúpula internacional. Não obstante, os elementos para uma in-tensifi cação do confl ito – cenário no qual é preciso incluir as deterioradas relações da Colômbia com o Equador –, estão todos sobre a mesa. [AMÉRICA CENTRAL]AS ONDAS DE HONDURAS O governo interino de Roberto Mi-cheletti mostrou-se mais resistente do que todos pensavam. As ameaças da OEA, as sanções dos Estados Unidos e a intermediação de Oscar Arias não foram sufi cientes para res-tituir o ruidoso Manuel Zelaya, que espera, acampado na fronteira com

a Nicarágua, uma oportunidade de voltar ao país. Apesar do consenso internacional em não reconhecer o novo governo, a polarização neste confl ito interno impediu a chegada a um acordo que terminasse com a crise. O governo dos Estados Unidos aprovou novas sanções como o can-celamento de vistos a quem tenha participado do golpe de Estado, embora seja pouco provável que isso se transforme em uma medida efetiva neste momento. Mesmo com o descontentamento internacional e o chamado a novas negociações, parece consolidar-se a ideia de que será preciso a renúncia para que o

novo governo convoque eleições.

[BRASIL]

“NÃO É PROBLEMA MEU”No início de agosto, os 511 atos secretos que mancharam a reputação do Senado brasileiro e dos quais derivou, entre outras coisas, a contratação de 218 servidores públicos, tornavam-se cada vez mais sinônimo de renúncia do presidente da casa, José Sarney. E o governo já começava a queimar neurônios para encontrar um nome ao gosto da maioria – incluindo o próprio senador

– para substitui-lo.A renúncia de Sarney, se concreti-zada, será um grande desafi o para Lula, que com seu apoio ao senador deixou claro não desejar perder o aval do PMDB à candidatura de Dilma Rousseff. Há dúvidas de que haja um substituto que possa recuperar a reputação do governo, já que Lula reagiu demasiado tarde para retirar seu apoio a Sarney.

[OEA]

INSULZA À REELEIÇÃO O chileno José Miguel Insulza termi-na em maio de 2010 seu período de

AS RELAÇÕES ENTRE COLÔMBIA E VENEZUELA VOLTAM A SE DETERIORAR

Page 16: Nº 378 Edição Brasil

16 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

ANIMAL POLÍTICO

MUJICA CONTRA LACALLE: UMA CAMPANHA SEM GRANDES SOBRESSALTOS NO URUGUAI.A FRENTE AMPLA, DA SITUAÇÃO, LARGA COM VANTAGEM

AFP

de cinco anos como secretário-geral da Organização dos Estados Ameri-canos (OEA). A presidente do Chile, Michele Bachelet, levantou, contudo, a proposta para que seu compatriota e companheiro de partido busque a reeleição. Mas em Washington há quem não goste dessa possibilidade e já trabalhe para buscar um novo candidato. É verdade que Washington não gostou da excessiva pressão que o secretário colocou no tema de Cuba na assembléia geral há alguns meses. Também tem havido críticas, incluindo no governo de Obama, sobre como foi tratado o assunto Honduras (ver pág. 40). Contudo, é pouco provável que se rechace a proposta da chilena de reposicionar Insulza como secretário-geral.

[NICARÁGUA] ORTEGA MIRA A OUTRO MANDATO Outro que está ansioso para se reeleger é Daniel Ortega, presidente da Nicarágua. Na comemoração do 30º aniversário da derrota de Anas-tásio Somoza, Ortega expressou seu interesse em modifi car a constituição para se reeleger em 2011. “Que o direito à reeleição seja para todos e que seja o povo com seu voto que premie ou castigue elegendo suas autoridades”, disse Ortega. Por que não nos surpreende? É marca registrada dos governos da Alba buscar mudanças na Consti-tuição para se reeleger e conquistar novas cotas de poder em seus débeis sistemas democráticos. Em todo caso, com os problemas econômicos atravessados pela Nicarágua, é pouco provável que Ortega possa ser reeleito em uma eleição livre. (veja pág. 22) [COLÔMBIA] VOLTA EM U Quem fi nalmente não buscará a re-eleição é o presidente colombiano Ál-varo Uribe. A possibilidade de realizar um referendo para que o mandatário busque sua segunda reeleição em

2010 fi cou sem fundamento depois de a oposição assumir o controle das diretivas do Congresso. Embora o partido U, que busca criar uma plataforma eleitoral em torno da popularidade do presidente Uribe, tente intervir à alternativa do referendo, o surgimento de novos candidatos dentro da aliança ofi cialista debilita esta opção. [BRASIL/EUA]A TARIFA DO ETANOL Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil de Lula, visitou Obama na Casa Branca. E voltou otimista sobre a possibilidade de que o gigante do Norte fortaleça o comércio entre ambos os países, eliminando as altas tarifas ao etanol de cana-de-açúcar que o Brasil produz. A posição foi corroborada pelas declarações de Thomas Shannon, nomeado por Oba-

ma para assumir como embaixador em Brasília, e que tem ressaltado a conveniência de liberar as tarifas de comércio do álcool. Mas o senador Charles Grassley, do Estado de Iowa (o maior produtor de milho dos EUA), reclamou da aparente mudança de política de Obama, que em sua cam-panha tinha defendido a manutenção da proteção comercial. No sistema legislativo norte-americano, o veto de um senador pode atrasar muitos processos. É um sinal claro de que as promessas de liberar o comércio de biocombustí-veis vão gerar muitas difi culdades para Obama. (veja mais sobre etanol brasileiro na pág. 50)

[URUGUAI]CAMPANHA À URUGUAIA Terminaram as campanhas e já se conhecem os candidatos às eleições

presidenciais de 25 de outubro. A dura batalha nas primárias do partido ofi cial Frente Ampla deu por ganhador o senador José Mujica, de origem humilde e histórico marxista, que quer seguir um estilo de governo semelhante ao do Brasil. O candidato a vice foi seu rival nas primárias. Trata-se do economista Danilo Astori, ex-ministro das fi nanças de Tabaré Vásquez. Eles enfrentarão a dupla formada pelo ex-presidente Luis Alberto Lacalle e o senador Jorge Larrañaga, ambos do partido Blanco de oposição. Tratam-se de duas opções com um histórico de seriedade na gestão econômica. A Frente Ampla parte com vantagens, dada a popularidade do presidente Vásquez, mas é preciso ver o efeito que a crise econômica pode ter na votação, semelhante ao que ocorreu no México ou na Argentina.

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AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 17

SEGUINDO A PISTA

Será que assim funciona?PUBLICAMOS: Mas a crise golpeou, e agora reguladores e

investidores criticam fortemente as maiores classifi cadoras de risco mundiais, como Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s. Em

momentos como este, muitos clamam por reformas. Uma das prin-cipais críticas que se faz às empresas do segmento é a de confl ito de interesses, já que o serviço é cobrado dos mesmos clientes que

as contratam para classifi car suas emissões de dívida. (“Confl ito insolúvel”, AméricaEconomia Nº 365, setembro, 2008)

O NOVO: Em julho o governo de Obama enviou ao Congresso dos EUA uma proposta de regulamentação das agências de classifi cação

de risco. Entre os itens incluídos na proposta estão a proibição de que as agências prestem consultoria para empresas para as quais divulgam notas de risco de crédito, a sugestão de que as compa-

nhias divulguem um pré-rating recebido das agências antes de pagar pelo rating da empresa contratada, e a criação de um órgão dentro

da SEC para supervisionar as agências de risco.

Nova mexidaPUBLICAMOS: Embora o México ainda responda pelo maior volume de vendas na região, o objetivo da Mabe é aumentar a presença no Cone Sul. “Tanto as operações da GE no Chile quanto às da Atlas na Costa Rica têm ótimas perspectivas”, diz Rafael Nava, da Mabe. E, ainda que não confi rme, o executivo tampouco nega que tenha outros mercados na mira. (“Parceria de luxo”, AméricaEcomomia Nº 363, agosto, 2008)

O NOVO: No fi nal das contas, o alvo da Mabe foi o Brasil. O grupo mexicano anunciou no início de julho a compra das operações brasileiras da alemã BSH por R$ 70 milhões. Com essa operação, a Mabe se torna a segunda maior vendedora de linha branca do País, atrás apenas da norte-americana Whirpool, e o Brasil por sua vez passa a ser o maior mercado da Mabe, com 18% do faturamento global da empresa.

Por cima da crise...PUBLICAMOS: Honda, Toyota e Nissan ampliaram o número de modelos fabricados no Brasil. E esse parece ser o mote também da GM, depois da concordata da matriz nos EUA. A companhia anunciou um investimento de US$ 1 bilhão que ao fechamento desta edição ainda estava por ser detalhado, além de outras novidades. (“Força doméstica”, AméricaEconomia Nº 377, julho, 2009)

O NOVO: A GM confi rmou diretamente para o presidente Lula o investimento de R$ 2 bilhões no Brasil para o desenvolvimento de uma nova família de carros a serem fabri-cados em Gravataí. A nova linha foi batizada de projeto Onix e consiste em veículos de pequeno porte. Com esse projeto, a planta de Gravataí será a com maior capacidade de produção do Brasil e do Mercosul, com previsão de 380 mil unidades ao ano a partir de 2012. Do investimento declarado, 50% deverão vir de recursos de caixa da GM e a outra metade de fi nanciamentos de bancos estatais.

Metida na crise...PUBLICAMOS: “Tivemos um 2008 ruim, investimentos novos vindos da Ásia não se concretiza-ram, e neste ano já registramos queda de 42% na produção automobilística”, diz Albrecht Ysen-burg, sócio da KPMG no México. (“Força doméstica”, AméricaEconomia Nº 377, julho, 2009)

O NOVO: Antes tarde do que nunca, o presidente Felipe Calderón lançou um programa de renovação veicular para levantar a demanda doméstica por carros novos. O programa é voltado aos donos de automóveis com mais de 10 anos, que podem receber um subsídio direto de 15 mil pesos na compra de um carro novo dentro do país, de no máximo 160 mil pesos. O governo destinou 500 milhões de pesos iniciais ao projeto, que poderão ser ampliados a até 1 bilhão de pesos, dependendo da resposta observada. Outra notícia comemorada foi o anúncio da Volkswagen no fi m de julho de um investimento de US$ 1 bilhão para a ampliação da planta de Puebla, destinada à fabricação de um novo modelo a partir de 2010.

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MOVIMENTOS

18 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

Os tempos de crise frequentemente são um desafi o para as qualidades de lide-

rança dos executivos, mas os CEOs de Wal-Mart México (Eduardo Solórzano), América Móvil (Daniel Hajj), Itaú Unibanco (Roberto Setubal, na foto) e AmBev (João Neves) parecem ter passado pela prova com folga.

É o que diz a consultoria nova-iorquina Brendan Wood International, empresa que incluiu os quatro latino-americanos entre 66 diretores-executivos que fazem parte do “Global ‘Top Gun’ Chief Executive Offi cers” deste ano. “Os CEOs desta lista são os que têm o mais forte gerenciamento de lide-rança”, explica Brendan Wood, presidente da consultoria que selecionou os nomes com base nas opiniões de acionistas. No caso de Solórzano, os acionistas destacam que é “bem preparado e profi ssional”; de Hajj, que a globalidade da América Móvil foi alcançada graças à sua capacidade de executar a visão de Carlos Slim; de Setubal, que o diretor entende muito bem o Itaú dentro do setor fi nanceiro; e de Neves, que apreciam muito o fato de ele ter mantido controle da companhia depois da fusão com a InterBrew.

Liderança em tempos

de crise

Setubal: conhecer o mercado é chave

Arly Faundes / Cidade do México

ALEX

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MOVIMENTOS

AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 19

Sabe-se que a Argentina é um dos maiores exportadores

de jogadores de futebol. Para con-fi rmar isso, não é preciso olhar para os placares das principais equipes do mundo. Basta ver como Leonel Messi (Barcelona), Carlos Tévez (Bordeuax), Luis González (Porto) e Sergio Romero (Az Alkmaar) ajudaram suas respectivas equipes a conquis-tar diversas copas na Espanha, Inglaterra, Itália, França, Portugal e Holanda. Mas isso não é tudo. Olympiakos (Grécia), Besiktas (Turquia), FK Baku (Azerbaijão), Unirea Urziceni (Romêmia), Dína-mo de Zagreb (Croácia), Slovan

Bratislava (Eslováquia), Sheriff Tiraspol (Moldávia) e Wisla Cracovia (Polônia) também conseguiram seus títulos com os aportes de jogadores argentinos. Mas, embora a destreza argentina seja motivo de orgulho, nem todo mundo está feliz no país. A DGI, equivalente argentina da Receita Federal no Brasil, é a grande perdedora: com vários subterfú-gios e cumplicidades, muitos dos jogadores não só conseguem evadir o pagamento de impostos, como tam-bém ocultar onde se encontram, o que deixa a entidade sem uma conta clara de quantos craques argentinos jogam no exterior.

As top em transparência

Campeões, mil; impostos, zero

{ {Brasileiras oferecem mais dados

Apesar da melhora nos últimos anos em matéria de pacifi cação,

muitos colombianos seguem em difi -culdades, segundo dados do Alto Co-missariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que mostram que 34 mil pessoas abandonaram a nação sul-americana em 2008 em busca de melhores condições de vida. O total coloca a Colômbia na quinta posição entre os países com maior número de refugiados, atrás de Afeganistão, Iraque, Somália e Sudão. Embora a Venezuela continue sendo a principal rota de fuga, o Brasil tam-bém registra um importante fl uxo de colombianos, que ingressam em seu território para escapar da violência. Na reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realiza-da em julho em Manaus, as autorida-des divulgaram que muitos desses deslocados ingressam através das cidades fronteiriças Letícia (Colôm-bia) e Tabatinga (Brasil), ao Oeste do Amazonas. A região tem mais de 1 mil km de fronteiras que podem ser cruzadas sem necessidade de mos-trar documentos. Atualmente, o Brasil tem 4,3 mil refugiados reconhecidos ofi cialmente.

Solange Monteiro / Santiago

Rodrigo Lara / Buenos Aires

Pacifi cação

Tévez: na mira do fi sco?

FERN

ANDO

CAR

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O CR

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GA

AP

Dubes Sônego/ São Paulo

Entre as 50 maiores empresas da América Latina, CPFL, Petrobras e Embraer são

as mais transparentes quando se trata de fornecer informações relativas à sustenta-bilidade. Pelo menos segundo o ranking elaborado pela consultoria espanhola Management & Excellence (M&E), que traz na sequência TAM, Cemex, Eletropaulo e Usiminas, as três últimas empatadas na quinta posição. “Quando se trata de sus-tentabilidade, as empresas brasileiras estão anos luz à frente de suas pares latino-

americanas”, diz Angélica Blanco, diretora da M&E no Brasil. Segundo ela, isso se deve principalmente a três fatores: experiência em relação ao investidor internacional; a cultura de o setor privado ser um pouco responsável por questões que em outros países são de responsabilidade exclusiva do poder público e o peso comercial do Brasil no exterior. Foram analisadas informa-ções publicadas nos sites de empresas do Brasil, Argentina, México, Peru e Vene-

Transparência sustentável

1) CPFL2) Petrobras3) Embraer4) TAM5) Cemex / Eletropaulo / Usiminas6) Wal-Mart México / Perdigão / Vivo7) Cemig8) Vale9) Embratel10) Braskem

zuela, de acordo com 140 critérios, nas áreas de governança, sustentabilidade e responsabilidade social, cruzados com indicadores fi nanceiros, de análise de riscos e processos, regras de governança e de gerenciamento, auditorias, ações na área social e ambiental.

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MOVIMENTOS

20 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

Calçado voadorOtênis dourado de Usain Bolt em

Pequim ainda está na mente dos fanáticos por esportes. E José Arias está alegre: o gerente geral para Chile e Peru da Puma, marca que calça os pés do atleta, diz não ter sentido a crise. Não só pelo efeito causado por Bolt, mas porque a diminuição das vendas de

eletrônicos aumen-tou a valorização de vestuários e calçados por parte das grandes lojas. Elas reduziram

suas fontes de abastecimento – princi-palmente as marcas próprias – favore-cendo marcas já estabelecidas. “Nossas receitas crescerão dois dígitos no Chile, em 2009”, afi rma Arias. E no Peru? A companhia, que opera através da Saga Falabella, Ripley e distribuidoras andinas, espera para 2010 abrir ao menos duas lojas próprias em Lima. “Nós vendemos conceitos e isso só se consegue com lojas próprias”, diz ele. Uma delas fi caria no Jockey Plaza; a segunda ainda precisa de um operador. O investimento: US$ 425 mil.

Uma comitiva brasileira desembar-cou recentemente em Santiago

com uma suculenta oferta: o churras-co das festas pátrias – de 18 de setem-bro – poderia ser muito mais econô-mico com carne brasileira. Acontece que o País quer voltar a ser o maior provedor do Chile, posição que perdeu após um embargo imposto em 2005. À época, o Brasil fornecia 80% da carne importada no Chile, o qual, por sua vez, havia se convertido em seu terceiro maior cliente. Os brasileiros esperam, agora, recuperar esse lugar. Primeiramente, por conta do preço. Os US$ 2.043 por tonelada que o Chile pagava pela carne brasileira antes do embargo é muito menor que os US$ 4.812 que pagou no ano passado.

Era de se esperar que a crise fi nanceira aumentasse o

número de pessoas buscando empregos, mas o que poucos previam era que tantos o fariam através do celular. O portal de emprego Bumeran.com anunciou que detectou importante aumento no uso de dispositivos móveis nas solicitações de vagas nos últi-mos seis meses, e ressaltou que a tendência não parece se dever exclusivamente à comodidade de realizar o trâmite a partir de algum restaurante. Segundo Alejandro Navarro, diretor de Tecnologia da Bumeran.com, a agilidade pode ser um fator decisivo na hora de conseguir um posto de trabalho. “Há companhias que solicitam a seus candidatos um teste on-line, e muitos deles respondem a perguntas de opções de múltipla escolha em seus celulares”, diz Navarro, acrescentando que os usuários que enviam com mais ra-pidez normalmente têm vantagens para passar à etapa seguinte da avaliação das empresas. Argentina e Venezuela lideram a busca de trabalho através de dispositivos móveis, com 9 mil pessoas cada um, seguidas de México e Chile, com 6 mil usuários.

Celulares na busca por empregos

Solange Monteiro / Santiago

Matías Rodo Y. / Santiago

Lisia González / Cidade do México

{ {Arias: Puma vai no ritmo de Usain Bolt

PAÍS TON US$ Milh. PARTIC. (%)

Paraguai 44,776 216,12 50Argentina 25,606 109,03 25,2Austrália 9,716 60,93 14,1Uruguai 6,887 31,86 7,4

País carnívoroImportações chilenas de carne em 2008

FONTE: Serviço Nacional de Aduanas do Chile

Segundo, a garantia de fornecimento, diz Octavio Cançado, diretor da Abiec, que representa os frigorífi cos brasi-leiros. Os principais fornecedores do Chile – Argentina, Uruguai e Paraguai – “poderiam ter que reduzir o número de animais em 2010 devido à previsão de seca”, diz ele.

É tudo na brasa

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MOVIMENTOS

AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 21

Opotencial da gastronomia peruana como negócio emite um atrativo

aroma. No país existem cerca de 220 mil estabelecimentos dedicados à comercialização de alimentos e bebi-das, dos quais 65 mil correspondem a restaurantes. Mas não é só questão de quantidade. Segundo dados do Vice-ministério da Indústria, 42% do turismo chega ao Peru para provar a cozinha local, enquanto 90% dos visitantes dizem que voltariam ao Peru só para provar novamente a culinária do país. Ante essas suculentas cifras, o BBVA Banco Continental lançou um programa de fi nanciamento de negó-cios culinários que inclui empréstimos a estudos e comerciais gastronômicos. “O investimento é um ingrediente

Realidade extrema Arealidade é atualmente

imprescindível na indústria de videogames e a japonesa Nintendo tem levado o concei-to ao extremo. A aposta de seu novo jogo, o Wii Sport Resort, é fazer o jogador sentir que não só está competindo contra o jogo, e sim que está realizando um exercício de verdade, graças à incorporação de um novo con-trole. Esta é a arma que utilizará a companhia tecnológica para continuar crescendo, apesar das crises na região. “A volatilidade internacional afetou a indústria dos videogames, mas menos do que em outras áreas produtivas”, diz Mark Wently, gerente de ma-rketing e vendas para a América Latina da Nintendo. Algo que tem maior relevância, se considerado que a região é um dos mercados mais importantes para a Ninten-do, devido à alta penetração de seus consoles na última década em países como México, Brasil e Chile. “Em certos países temos crescido muito nos últimos anos e esperamos neles um bom re-sultado para este exercício”, diz Wently.

Jorge Ader

sJorge Ader foi nomeado novo CEO para América Latina da Capgemini, um dos principais provedores de serviços de consultoria, tecnologia e outsourcingem nível global. O desafi o de sua gestão será dar con-tinuidade ao crescimento e à expansão da companhia nos países da região.

sA GE anunciou que Roberto Bronzere será o novo presidente e CEO da GE Money para o Brasil, unidade de negócios da companhia norte-ameri-

cana que oferece serviços fi nanceiros para diversos consumidores.

sSantiago Soria foi nomeado novo gerente geral da fi lial argentina da Penalty, que se dedicada à fabricação de roupas e artigos esportivos. O executivo conta com ampla experiência internacional. Foi diretor de inovação para a América Latina da Kraft Foods e atuou como diretor geral para a área de bebidas da Kraft Foods México.

sA Samsung Electronics no-meou Julio Hong como novo presidente da companhia no Chile. O executivo começou a trabalhar na empresa em 1987 e seu primeiro cargo na América Latina foi em 1992, na Argentina, na área de educação, para logo voltar à Coreia e assumir o departamento de marketing global da Samsung. Em 1995 voltou à Argentina, como gestor de marketing da empresa no país. Depois de cinco anos, volta à Coreia como gerente de operações globais da empresa.

ai em

65 mil restauran-tes e alto poten-cial de negócios

Peru na mesaimportante para gerar uma boa oferta gastronômica”, diz Ignacio Quintanilla, gerente-geral adjunto da área de inovação e desenvolvimento do BBVA. “Investimento tanto em capacitação

quanto para competir dentro dos padrões mundiais, como na criação de novas empresas orientadas ao mundo gastronômico, que vai além de restau-rante ou da criação de franquias”.

Natalia Vera / Lima Matías Rodo Y. / Santiago

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LIDERANÇAESPECIAL

CAPITÃESCONTRA A MARÉ

Quando tudo parece mal, um líder pode salvar uma organização. Por isso, as crises são cenários privilegiados

para descobrir os bons líderesArly Faundes Berkhoff, Cidade do México

Não é fácil estar em meio a uma tormenta e de-cidir para onde remar. Alguém tem que guiar o barco, para todos remarem na mesma direção e não afundar a embarcação. Esse é o trabalho do líder: conseguir que sua equipe siga e ob-

tenha bons resultados. Não apenas porque os demais sejam seus subordinados e sim porque realmente confiam nele, em sua atuação, acreditando que está tomando decisões corretas.

“São aquelas pessoas que têm credibilidade”, diz Fernando D’Alezzio, diretor do Centro de Negócios da Pontifícia Uni-versidade Católica do Peru (Centrum).

Isto é ainda mais importante quando a tormenta é uma crise econômica mundial que assola grande parte das indústrias, o consumo, o emprego. A tudo e a todos. “Uma característica de um bom líder é se adaptar à situação que se vive”, afirma José Ruiz, diretor geral da Heidrick & Struggles, em Monterrey,

ROD

RIG

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ÍAZ

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IZO

22 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

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LIDERANÇAESPECIAL

“Quando há uma crise, sempre há efeitos colaterais: outros sistemas vão falhando

até afetar o prestígio, a credibilidade e a confi ança dos usuários.”

Struggles, em Monterrey, empresa de recrutamento e consul-

toria em liderança.

Segundo Ruiz, em momentos de crise, uma pessoa passa por

três questionamentos. Quando começa a urgência, se pergunta:

“o que está acontecendo?” Depois de identificar a situação,

avalia: “como está me afetando, estou em risco?” E o terceiro

passo é assimilar a situação, ver o que acontece e o que deve

ser feito. As respostas a estas interrogações são as que um bom

líder responde tanto para ele como para toda sua equipe.

Por isso a comunicação e a transparência são chaves. O

importante, dizem os especialistas, é diminuir a incerteza. “Em

tempos de crise econômica são momentos em que as lideranças

se consolidam e duram por muito tempo”, acrescenta Ricardo

Aparício, acadêmico do Ipade, na Cidade do México.

E como estão reagindo os líderes na América Latina? “Temos

que aprender muito desta lição”, afirma D’Alezzio. “Temos

bons gerentes, mas não bons líderes.” Segundo o acadêmico,

na América Latina falta uma visão em direção ao bem comum.

Uma visão de longo prazo e que trabalhe além dos benefícios

para os donos da empresa, e sim para a sociedade. “A lide-

rança não permeia toda a organização”, acrescenta Roberto

Cabrera, especialista da consultoria KPMG. “São tomadas

decisões de maneira adequada, mas não se cria uma visão nem

se comunica”.

A TODO VAPOR(Clemente Pérez, presidente do Metro)

OMetro, de Santiago do Chile, foi golpeado não só pela crise

como pela implantação de um novo sistema de transporte na

capital, que significou a duplicação da demanda. A isso se

somou o aumento nos custos da energia e de pessoal, resul-

tando em uma queda de 70% nos resultados do primeiro

trimestre do ano. Mas a companhia já busca recuperar

passageiros. “Vamos melhorar a experiência da viagem,

ampliando o horário de funcionamento e implementando

ações para melhorar a qualidade do serviço”, diz o presi-

dente da companhia, Clemente Pérez.

ESTRATÉGIA TRIPLA(Rubens Ghilardi, presidente da Copel)

Durante uma crise, produtores de insumos básicos costumam ser afetados na esteira da

queda na demanda por bens mais complexos. Por isso a Copel, que atua em geração,

transmissão e distribuição de energia elétrica, além de telecomuni-

cações, adotou uma estratégia baseada em três pilares, segundo

Rubens Ghilardi, presidente da empresa: proteção do caixa para

manter investimentos sem a necessidade de empréstimos; redução

das despesas para evitar cortes de pessoal e adiamento do repasse

aos consumidores. No primeiro trimestre do ano, a receita líquida

da Copel cresceu 3,2%, para R$ 1,35 bilhões, apesar de uma queda

de 3,3% no consumo industrial (exceto consumidores livres).

“Acho que o maior desafi o é manter os clientes e empregados confi antes de que a empresa tem condições de enfrentar e superar sem traumas as turbulências do momento de crise.”

NÃO ÀS DEMISSÕES

(Oscar Espinosa Bedoya, presidente-executivo da

Ferreyros)

2008 foi um ano recorde em

vendas da Ferreyros, com

quase US$ 750 milhões. Mas

no primeiro trimestre deste

ano sua receita se contraiu 7%.

Oscar Espinosa, presidente da

empresa, não titubeou em de-

cidir que medidas de redução

de pessoal não seriam a solu-

ção dos problemas. “Temos

evitado a tentação fácil de

despedir pessoal, já que, além

de afetar o clima de trabalho,

debilitará a empresa no médio

prazo”, diz.

“A crise pede uma reavaliação das estratégias, incrementarefi ciência e reduzir gastos desnecessários.”

AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 23

Page 24: Nº 378 Edição Brasil

LIDERANÇAESPECIAL

“Se tivesse demitido, teria que sair em busca de novos profi ssionais quando o mercado voltasse a crescer”

“Sbuo m

INOVAÇÃO PARA O

CONSUMO(Guilherme Loureiro,

presidente da Unilever México)

AAmérica Latina foi a região

que mais cresceu em ven-

das, dentro das operações da

Unilever, alcançando 11% no

primeiro trimestre deste ano,

enquanto globalmente au-

mentou sua receita em 4,8%.

Os executivos enfatizam que

deverão seguir trabalhando

em programas de economia

de recursos para enfrentar a

alta dos custos de matéria-

prima e a pressão da moeda

em países como Brasil e Mé-

xico. “Buscamos uma forma

de crescer apesar da crise,

então não mudamos nossa

visão sobre o que deveríamos

fazer, mas mudamos como

fazê-lo”, explica Guilherme

Loureiro, presidente da Uni-

lever México. “Tivemos que

observar o que queriam nos-

sos consumidores, entender

como seria afetada a forma

de comprar e nos adaptamos

a isso”.

“É necessário que o líder tenha coragem de tomar decisões.”

QUESTÃO DE RISCO(Juan Quirós, presidente do Grupo Advento)

Em setembro do ano passado, um mês depois de adquirir a cons-

trutora Serpal, Juan Quirós, presidente do grupo Advento, de

engenharia e construção, viu-se frente à crise. Apesar do susto

e do congelamento temporário do mercado, o empresário

decidiu pagar para ver. E diz não se arrepender do

investimento. “Vendemos serviço, inovação tec-

nológica, soluções técnicas. Nosso grande ativo

são as pessoas. Sempre trabalhamos com reserva

de caixa, e tivemos que usá-la para manter um

bom grupo de profissionais”, diz.

COMUNICAÇÃO, SEMPRE(Francisco Gil, presidente-executivo da Telefónica

México)

Competir com a Telcel não tem sido fácil para a divisão móvel

da Telefónica (Movistar) no México. Embora falte muito para

alcançar a liderança no México, a Movistar tem crescido bastan-

te. Em março passado, contava com 15,5 milhões de linhas de

clientes móveis, 17% a mais do que no mesmo mês de 2008. E

a empresa continua focada na rentabilidade e em medidas para

controlar os custos ante um cenário crítico.

SINERGIA SEM CRISE(Laércio Cosentino, presidente da Totvs)

Maior empresa de softwares de gestão integrada no Brasil

e nona maior do mundo, a Totvs se fundiu com a Datasul

em julho de 2008, pouco antes do estouro da crise financeira.

Apesar das dificuldades inerentes à integração das operações,

no primeiro trimestre deste ano a empresa registrou crescimento

recorde de lucro (de 121,4%), e aumento de 88,8% na receita

líquida. Segundo Laércio Cosentino, presidente da companhia,

o crescimento se deu em função de ganhos de sinergia. “Outro

fator que nos ajudou foi fornecer uma soma de ofertas – técnicas,

operacionais e administrativas”, afirma.

“A própria defi nição de uma crise – que signifi ca “o momento de transição entre um bom momento e uma difi culdade” –, explica. O maior desafi o é diminuir ao máximo o tempo dessa transição.”

24 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

“Elementos-chave da liderança se traduzem em reuniões frequentes com o pessoal, intensifi car o contato com os clientes e encabeçar um esforço coordenado de redução de custos.”

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LIDERANÇAESPECIAL

“É hora de voltar ao ABC do negócio fi nanceiro e deixar de focar em produtos ou investimentos que provaram ser nocivos para os clientes e para os mercados.”

CAMINHO SEGURO

(David Saettone, gerente geral Pacífi co Peruano

Suiza)

Após ter perdas de quase

US$ 6 milhões em 2008,

o ajuste de tarifas durante

o primeiro trimestre deste

ano levou a seguradora a

faturar, em prêmios líquidos

de seguros, pouco mais de

US$ 100 milhões, ou 10%

a mais que no ano passado.

David Saettone, gerente

geral da empresa, respira

mais aliviado. “As empre-

sas e as pessoas deixam de

adquirir seguros em tem-

pos de crise”, diz Saettone.

“Nosso principal desafio está

em gerar estratégias para

afrontar as circunstâncias

de mercado.”

“Um líder que na crise decide centralizar decisões e se intrometer em todos os detalhes só conseguirá gerar insegurança.”

CONSTRUÇÃO CONSERVADORA

(Gerardo de Nicolás, diretor geral da Homex )

Osetor habitacional no México é parte do plano

anticíclico do governo Felipe Calderón, pois seu

impulso fomentaria também a construção e a atividade

econômica em geral. Bom para Gerardo de Nicolás,

presidente da Homex, que registrou vendas de US$

276 milhões no primeiro trimestre, alta de 8,3% em

relação ao mesmo período de 2008. De Nicolás de-

cidiu reduzir os investimentos em compra de terras

e em ativos em 23% em comparação com a média

dos últimos cinco anos.

“Meu principal desafi o tem sido alinhar nossa equipe em direção a uma estratégia conservadora, em termos de investimento e crescimento, para fortalecer ainda mais nossa posição fi nanceira e melhorar nosso ciclo de capital de trabalho.”

NA MIRA(Jaime Alberto Rincón, presidente Grupo Inversiones

Filigrana)

OGrupo de Inversiones Filigrana, criado pelos antigos donos

da Cablecentro após a venda da operadora de TV a Carlos

Slim, tem aproveitado o barateamento dos ativos para ampliar

suas posições na Colômbia, Peru e vários países da Améri-

ca Central. Por outro lado, segundo Jaime Alberto Rincón,

presidente do grupo, há uma perda de confiança. “Estamos

vivendo um momento no qual as pessoas voltam ao básico e

os modelos de risco e especulação estão sendo criticados.” A

recuperação da confiança, diz o executivo, exige trabalho para

realçar a produtividade e geração de valor agregado.

“Identifi ca-se talentos que as pessoas e as organizações sequer pensavam que tinham”

O ABC FINANCEIRO(Luis Peña, diretor geral do HSBC México)

Oano não tem sido fácil para o Grupo Financeiro HSBC no México. Espera-se que a economia

mexicana se contraia 7,3%, segundo as previsões mais recentes do FMI. A isso se somam

a contínua baixa na taxa de juros por parte da autoridade monetária e a volatilidade do tipo de

câmbio do peso mexicano frente ao dólar americano. Com tudo isso, neste período, o lucro líquido

do HSBC no país foi 63,8% menor do que no primeiro trimestre de 2008, alcançando US$ 60

milhões aproximadamente. “O complexo cenário econômico e financeiro tem afetado de

maneira muito importante o ânimo e a confiança dos investidores, os produtores e consu-

midores no mercado”, disse Luis Peña, diretor geral do HSBC no México. “Em uma boa

medida, parte da queda na atividade comercial é explicada por esse fator psicológico.”

AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 25

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LIDERANÇAESPECIAL

“É tempo de reinventar, ser melhor, desafi ar a concorrência, atrever a mudar, corrigir e sair fortalecido.”

MENOS CUSTOS, MAIS ESPUMA

(José Antonio Fernández, CEO da Femsa )

Onegócio continua bom para a Femsa, grupo mexicano de

cervejas e refrigerantes. Sua receita cresceu 20,1% no

primeiro trimestre deste ano, para US$ 3,17 bilhões. Mas o

lucro líquido caiu 27,9% devido a um maior custo integral de

financiamento, por conta das dívidas em dólares. A desvalo-

rização do peso mexicano (34%) e do real brasileiro (32%),

bem como a alta do custo das matérias-primas são os fatores

que mais complicam os resultados do grupo. Contudo, seu

presidente, José Antonio Fernández, confia

que a empresa continuará crescendo. “A

maior parte da crise pode ser convertida em

oportunidade, posto que nela se fortalecem

e se desenvolvem habilidades que talvez de

outra forma não ocorreriam”, diz.

SEMPRE ATENTO(Leslie Pierce, gerente geral da Alicorp)

Adesaceleração econômica ainda não afetou o apetite dos peruanos. Segundo o Ministério da

Produção, a indústria de alimentos, junto com a de construção, são as que dinamizarão

a economia. Mas para Leslie Pierce, gerente geral da Alicorp – companhia de alimentos

mais importante do Peru –, as coisas não são tão simples. “Embora aqui a crise não tenha

chegado tão intensa, há uma mensagem clara: não podemos ter certeza que o cenário

permanecerá estável; os líderes devem estar preparados para atuar e, se não formos

suficientemente prudentes, as consequências podem ser trágicas”, diz.

“A empresa manteve um canal de comunicação permanente, compartilhando a todo momento a clareza dos objetivos que estávamos perseguindo e de como estávamos enfrentando os

possíveis efeitos da crise.”

O FATOR DIFERENCIADOR(Agnaldo Calbucci, presidente da Atento Brasil)

Líder em um dos setores que mais em-

prega no País, o de contact centers

(telemarketing e outras formas de

atendimento a clientes), a Atento,

do grupo Telefônica, tem hoje 73

mil funcionários localizados em

seis capitais brasileiras (São Pau-

lo, Porto Alegre, Belo Horizonte,

Salvador e Goiânia) e outras cinco

cidades do interior (Campinas, São

Bernardo do Campo, São Caeta-

no do Sul, São José d os Campos

e Ribeirão Preto). No ano pas-

sado, faturou R$ 1,737 bilhão,

número que representa cresci-

mento de 24,2% em relação a

2007. Com clientes do porte de

Coca-Cola, Nestlé, Ford, Fiat,

Unibanco, Banco do Brasil,

Samsung e da própria Tele-

fônica, a empresa optou pela

estratégia da diferenciação

para manter-se competiti-

va, diz Agnaldo Calbucci,

seu presidente no País.

“O mais desafi ante é manter a estratégia da empresa, o que exige muita determinação e espírito de time dentro da empresa” Com Dubes Sônego em São Paulo, Oscar Pomar, em Lima,

Matías Rodo, Santiago e Antonio Delgado, Miami

26 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

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Rebuilding the Global Economy :Crisis and Opportunity

THE BUSINESS EVENT OF THE YEARTwenty years of APEC culminate in Singapore in November 2009. The APEC CEO Summit, to be held alongside the APEC Leaders Meeting, is the only forum where over 800 of the Who’s Who in global business will engage in dialogue with APEC Heads of Government, business and thought leaders to address challenges and opportunities for the future.

APEC CEO SUMMIT 2009 HIGHLIGHTSThe Issues:The APEC CEO Summit will discuss key business issues facing the region such as New Models of Economic Growth; Is the Worst of the Crisis Over; TheGlobal Response to the Financial Crisis; Global Economic Governance; Sustaining Asia’s Growth Following the Crisis; The Sense and Nonsense of GlobalWarming; The Roles of Sovereign Wealth Funds and The Shape of Things to Come.

The Leaders:The APEC CEO Summit will be opened by Prime Minister Lee Hsien Loong and, as in past APEC CEO Summits, anticipate the participation of APEC Leaderssuch as Prime Minister Kevin Rudd of Australia; President Michelle Bachelet of Chile; President Hu Jintao of China; President Susilo Bambang Yudhoyonoof Indonesia; President Lee Myung-Bak of Korea; President Felipe Calderon of Mexico; President Dmitry Medvedev of Russia; President Barack Obama ofthe United States of America and other APEC Leaders.

The Role Players:Mr Lee Kuan Yew, Minister Mentor of Singapore; Mr Dennis M. Nally, Global Chairman, PricewaterhouseCoopers; Mr Hermann Ude, Chief Executive Officer, DHL Global Forwarding; Ms Deborah Henretta, Group President for Asia, The Procter & Gamble Company; Dr Tony Tan, Deputy Chairman, Government of Singapore Investment Corporation; Dato Timothy Ong, Chairman, Brunei Economic Development Board; Mr Shaukat Aziz, Former Prime Minister of Pakistan; Dr C. Fred Bergsten, Director, Peterson Institute for International Economics; Mr Bjorn Lomborg, Director of the Copenhagen Consensus Centre and author of “The Skeptical Environmentalist”; Mr Michael Elliott, Editor, TIME International; Mr Brian Dumaine, Global Editor, Fortune; Mr Andrew Stevens, Anchor and Correspondent, CNN.

Find out more at ceosummit.apec2009.sg

O R G A N I S E R S :

M A J O RPA R T N E R S

K N O W L E D G EPA R T N E R

O F F I C I A LA I R L I N E

S U P P O R T I N GO R G A N I S A T I O N S

A S S O C I A T EPA R T N E R S

M E D I APA R T N E R S

Page 28: Nº 378 Edição Brasil

NEGÓCIOS MÚSICA

28 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

Difuntos Correa:inovação musical e tecnológica

Alguns anos atrás, a banda de rock chilena Difuntos Correa recebia três centavos por cada

dólar obtido com a venda de seus discos. Uma histó-ria velha, já que no negócio tradicional da música quem tem a pesada tarefa da cria-ção normalmente leva a pior

quando o assunto é lucro. A disparidade é consequência do complexo ordenamento da indústria, na qual o artista se transforma em apenas uma das múltiplas engrenagens da volumosa máquina de vender melodias.

Mas, para a sorte dos mú-sicos, as mudanças desse

modelo proporcionadas pela internet estão evoluindo ra-pidamente. A possibilidade de distribuição on-line, bem como a popularização dos dis-positivos móveis para escutar música, são os responsáveis por esse impulso, aproximando o consumidor final do artista. E tais mudanças – que até ho-

A internet está mudando o cenário da música, gerando novos modelos de negócio e ressusci-tando outros já desaparecidosAntonio María Delgado, Miami

je foram pouco aproveitadas pelas grandes gravadoras, que buscaram impulso nas empresas de telecom com os downloads em celular – abrem um leque de novas oportunidades não só para os artistas como também para novos empresários.

Exemplo disso é a chilena PortalDisc, loja virtual de música que oferece obras de centenas de artistas indepen-dentes, além de todos os selos do país. O portal distribui as canções pela internet, o que tem custo bem inferior ao de vender CDs em centenas de lojas. E esse baixo custo também significa mais lucros, que podem ser distribuídos entre o portal, os artistas e os próprios consumidores, que obtêm o produto a um terço do preço nas lojas.

REVOLUÇÃO VIRTUAL

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AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 29

No caso de Difuntos Cor-rea, operar através da Por-talDisc significa uma maior participação no lucro. “Esse é um fator que nos preocupava muito”, diz Sebastián Milos, manager do grupo e gerente geral da Ludik, empresa que desenvolve o portal. Para combater essa desproporção, eles primeiramente passaram a vender suas canções pela internet. Distribuíam um postal nos shows com um có-digo que permitia baixar suas músicas on-line – iniciativa que logo conduziu à criação do PortalDisc.

Mas a principal motivação foi a queda nas vendas de CD, que estava levando os Difuntos - com o perdão do trocadilho -, direto para a cova. “O CD é algo que em realidade já não se vende, pelo menos por aqui. Uma banda que venda 2 mil discos no Chile é considerada um sucesso”, lamenta Milos.

REAÇÃO LENTAO comentário do músico chileno reflete uma tendência mundial. Nos EUA, a venda através dos downloads tem crescido aceleradamente e hoje representam cerca de US$ 2,7 bilhões anuais, ou seja, um terço do total do mercado, segundo dados da associação das gravadoras nos EUA.

Para Koleman Strumpf, professor da Universidade de Kansas, que acompanha esse setor de perto, as gra-vadoras pegaram no sono e não observaram rapidamente fenômenos como o iTunes, portal da Apple, e seu impacto nesse negócio. “Essa indústria costuma registrar periodica-mente diferentes formas de entregar seu conteúdo, e esta poderia ser uma delas”, diz o professor. “Apesar de não estar claro se o CD desapa-

recerá totalmente, o que sim está claro é que a indústria está demorando muito tempo para experimentar mais os novos formatos e encontrar formas alternativas de fazer negócios.”

Mas isso não significa que todos estão imóveis frente a um mundo de oportunidades. Outro exemplo disso é a Ar-tistShare, uma start-up norte-americana que tirou o pó de um conceito medieval para

incorporá-lo na era virtual. Diferentemente do que fazem as empresas que operam nesse setor, o modelo de negócio da ArtistShare não é vender as canções, mas o artista, atra-vés de um programa em que os aficionados patrocinam o cantor diretamente, explica Brian Camelio, CEO e fun-dador da companhia. Os fãs compram “participações” das novas obras e, em troca, ganham a possibilidade de trabalhar como produtores. Essa atividade envolve – entre outras coisas e dependendo do grau de patrocínio – desde informes mensais e a inclusão do nome do patrocinador nos créditos até a possibilidade de estar presente nas gravações. Os preços variam de dezenas a milhares de dólares, depen-dendo do artista e do volume de patrocínio.

Esse modelo de mecenato que parece velho, segundo Camelio, hoje representa o futuro. “Nós vemos nosso segmento mais como uma prestação de serviços do

que uma venda de música no varejo”, afirma Camelio. “Achamos que esse é o futuro, já que não há mais alternativa. A tecnologia facilita cada vez mais digitalizar e comparti-lhar a informação, e não se apresenta como um dilema moral ao usuário, porque é muito simples e natural de fazer.”

E o impacto nocivo que es-sa democratização da música tem para o bolso das grava-

doras tem se configurado em benefício para os artistas. É o caso do músico venezuelano Leonardo Granados, que junta-mente com Paquito D’Rivera, Edward Simon e Scott Colley participam do Bolero Project.Granados afirma que iniciati-va como a sua – segundo ele, um feliz casamento entre o tradicionalismo do bolero e o dinamismo do jazz – seria difícil de se concretizar dentro das gravadoras tradicionais, cuja ênfase comercial deixa pouco espaço para o artístico e o experimental. “A web fez com que nós artistas pensásse-mos de forma diferente”, diz Granados. “O modelo da Ar-tistShare nos dá total liberdade no processo de criação, além de nos permitir oferecer uma experiência interativa.”

Um bom exemplo de que também dentro das gravadoras é possível experimentar mo-delos de negócio alternativos é o da Trama. Essa gravadora brasileira não teve que vol-tar à época dos Médici para escolher o seu: oferece o

download de discos inteiros (além de dados adicionais como fotos), por um tempo determinado, através do pro-jeto Álbum Virtual, em troca de publicidade.

“Criamos o Álbum Virtual em 2007, inspirados no mo-delo usado há décadas pelos canais de TV e estações de rádio abertas, em que o con-teúdo era oferecido de forma gratuita, graças a um patroci-nador”, conta João Marcello

Bôscoli, presidente de Trama. “Nosso formato parte do com-portamento das pessoas nos dias de hoje, desenvolvendo um modelo econômico.”

E essa premissa parece dar bons resultados. Apenas do cantor Ed Motta, que até hoje liderou a procura, o Álbum Virtual registrou 250 mil do-wnloads e 650 mil streamings(mecanismo que permite ao usuário escutar a música sem que esta fique armazenada no disco rígido). Em troca, a Trama cobra das empresas patrocinadoras valores entre R$ 50 mil e R$ 200 mil, de acordo com o grau de popu-laridade do artista. “Hoje já temos dez novos lançamentos previstos, “além da negocia-ção de catálogos inteiros para continuar ganhando escala”, conta Bôscoli.

Agora, resta apenas esperar para ver quanto tempo outras grandes gravadoras ainda le-varão para despertar.

Com Solange Mon-teiro, Santiago

BÔSCOLI: “FORMATO PARTE DO COMPORTAMENTO DAS PESSOAS”

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NEGÓCIOS ENTRETENIMENTO

30 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

DIVERSÃO DE MARCA

LÓPEZ, COM VISITANTES: parque atrai companhias de peso

Na entrada do parque de entretenimento Kidza-nia, na Cidade do Méxi-co, há uma enorme fila

de crianças. Cada uma leva em suas mãos uma pulseira e um cheque de 50 “kidZo”, moeda usada na cidade Kidzania. Ao entrar, se dirigem ao banco HSBC para trocar o cheque por notas. Assim poderão cozinhar, comprar uma pizza ou um chocolate. As meninas

podem ficar no cabeleireiro e os meninos ir à academia se exercitar. Tudo em miniatura. E se o dinheiro acabar, podem trabalhar. Sim, como se fossem adultos. As profissões são várias: alguns podem fingir que são pilotos de um avião da American Airlines, outros podem ser dentistas, alguns possivelmente serão jornalistas da Televisa e outros, valentes bombeiros. Com isso, ganham

o seu salário e podem continuar a brincadeira.

A Kidzania é literalmente a “cidade das crianças”. Seu modelo de negócio é baseado em um parque de diversão de 5 mil metros quadrados nos quais várias marcas alugam espaços onde as crianças brin-cam. Desta forma, por exemplo, há uma pizzaria Domino’s onde os pequenos cozinham pizzas e as comem. Tudo sob

O conceito “crianças brincando de gente gran-de” ganhou mercado. Inclusive de exportaçãoArly Faundes Berkhoff, Cidade do México

a supervisão de adultos. Na Kidzania da Cidade do México há 65 marcas associadas. O parque recebe cerca de 800 mil crianças por ano. Além disso, há outro em Monterrey, com 54 patrocinadores e 400 mil visitas anuais.

O sucesso foi tanto que a empresa decidiu expandir-se internacionalmente. “Estamos concedendo franquias de nossa propriedade intelectual, nossa marca, os logotipos e persona-gens, da música e da história”, diz Xavier López, presidente da Kidzania. “Fornecemos capacitação para operar os parques e eles, em troca, se comprometem a abrir um nú-mero de parques e nos dão uma porcentagem do que vendem, entre 4% e 8%”.

Atualmente, a Kidzania tem quatro franquias abertas

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AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 31

A PRIMEIRA FRANQUIA VENDIDAESTÁ EM TÓQUIO

e oito em desenvolvimento. A primeira que abriram foi em Tóquio. A unidade possui 65 patrocinadores e recebe 950 mil pessoas ao ano. “Os ingressos são vendidos com três ou quatro meses de antecipação”, diz Ló-pez. A segunda foi em Jacarta, na Indonésia, com 40 sócios comerciais e visitas de 650 mil pessoas anualmente. A terceira franquia também foi no Japão, em Osaka, em março deste ano, onde contam com 60 sócios comerciais. E a mais recente foi inaugurada em junho em Lisboa. “É um ganha-ganha tanto para a Kidzania quanto para as companhias patroci-nadoras”, diz Gentaro Yui, diretor-geral da franquia em Tóquio. Segundo ele, a chave do sucesso é que a marca fica na cabeça das crianças e dos pais, especialmente por conta do caráter de realidade das atividades que essas crianças realizam.

Neste ano serão abertos mais dois parques: em Dubai e em Seul. E, durante 2010, se somarão quatro novos locais: outro na Cidade do México, em Xangai, em Kuala Lum-pur (Malásia) e em Bangcoc (Tailândia). Finalmente, em 2011 iniciarão operações em Santiago do Chile, Nova Délhi (Índia) e Istambul (Turquia), e abrirão um local próprio em Guadalajara. “As franquias nos permitem crescer mais rapidamente e aceleram a che-gada a várias cidades”, explica López. “Buscar pessoas com experiência e dinheiro local permite crescer rápido.”

Segundo López, são os pró-prios franqueados que busca-ram a Kidzania para conhecer seu modelo de negócio. “Na Ásia todos olham para o Japão, que foi bem-sucedido”, diz López. Além disso, a popula-ção asiática é bastante grande e paga cerca de US$ 40 por entrada, enquanto no México

o ingresso custa US$ 15. No país, “os crimes e eventos trágicos envolvendo crianças aumentaram substancialmente e os pais não se sentem seguros de que seus filhos fiquem longe deles”, diz Yui. Frente a este cenário, o parque parece ser uma solução porque é seguro, divertido e consiste em uma experiência educativa. “Os jogos eletrônicos eram outra dor de cabeça para os pais”, acrescenta o executivo.

Como toda cidade em cres-cimento, os projetos da Kidza-nia não param. A empresa de

López busca mercado também nos Estados Unidos com locais próprios e sócios estratégicos. “Não queremos ter franquias lá, mas tampouco queremos ficar sozinhos porque é um mercado maior de entretenimento e com consumidores mais sofistica-dos”, acrescenta López.

CIDADES LATINASA Kidzania tem 10 anos no mercado e, com o tempo, seu conceito foi replicado em ou-tros lugares. Já não é a única cidade do tipo na América Lati-na. No Centro Comercial Santa Fé, em Bogotá, há um parque

de entretenimento semelhante que se chama Divercity e que começou a funcionar em 2005. “Fizemos uma pesquisa sobre o conceito do negócio que existia em todo o mundo para atender ao público infantil”, explica José Manuel Borda, gerente geral da Divercity. “Formamos uma equipe multidisciplinar e começamos a estudar as ne-cessidades das crianças, pais e colégios para conseguir uma aceitação adequada.”

Com 500 metros quadrados e 55 marcas – entre elas a rede de TV Caracol, o Banco de

Bogotá e os Almacenes Éxito –, a Divercity segue um mo-delo de negócios como o da Kidzania no México. E tem se saído bem. Tanto que em seu terceiro ano de operação já soma 1,9 milhão de clien-tes e trabalha em dois novos parques próprios: um em Me-delín e outro em Lima. “Tem havido uma recepção muito boa por parte do público, as marcas têm sido proativas em investir em educação e entreter as crianças”, diz Bor-da. No Peru, será o primeiro parque do estilo “cidade das crianças” e ficará no centro

comercial Jockey Plaza, com 5 mil metros quadrados e investimento de US$ 10 mi-lhões. “Estamos há algum tempo buscando alternativas diferentes e novas para ofere-cer às crianças”, afirma Juan José Calle, gerente geral do Jockey Plaza.

Segundo Calle, há uma oportunidade muito interes-sante para este tipo de seg-mento em Lima, que possui 8,5 milhões de habitantes e onde os centros comerciais estão em rápido crescimen-to. “Há grandes zonas que requerem ser abastecidas com este tipo de diversão”, acrescenta. Na Argentina também há um desenvolvi-mento semelhante. Chama-se Museo de los Niños Abasto e foi inaugurado no mesmo ano que o Kidzania no México, mas não é uma empresa e sim uma fundação sem fins lucrativos.

Xavier López, da Kidza-nia, não se preocupa que haja outros parques semelhantes e está consciente de que o conceito tem se replicado. “Nós registramos toda a nossa propriedade intelectual e também registramos nosso conceito sob o esquema de ‘Expressão’ (Tradedress, em inglês)”, explica o executivo.

“Se alguém desenvolver algo exato ou muito semelhante nós podemos protestar”. Mas o mais importante, diz López, é trabalhar duro. “Assim, a Kidzania será a preferida dos consumidores.”

Pelo menos por enquanto, López não pretende dar trégua às ideias. É esperado para daqui a uns anos mais um novo formato da Kidzania, na internet. “Queremos fazer um clube de crianças, com lojas e jogos de personagens”, afirma López. “Queremos fazer muita inter-relação entre lugar físico e virtual”, conclui.

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32 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

NEGÓCIOS MINERAÇÃO

APOSTA NO BICHO

Silêncio,mineiros trabalhando

AFP

A biolixiviação promete revolucionar a indústria do cobre em todo o mundoTom Azzopardi, Santiago

Os mineiros continuam extraindo e carregando o minério da mesma maneira desde a in-

venção da pólvora, embora em uma escala muito maior. E, uma vez fora da mina, ao menos na indústria do cobre, as técnicas que se utilizam para moenda, fundição e refino não foram significa-

tivamente aperfeiçoadas no último século.

O início da exploração de uma mina pode chegar a custar US$ 1 bilhão – talvez, várias vezes essa quantidade –, e os projetos são a muito longo prazo. As mineradoras sofrem da “síndrome dos elefantes, pois são difíceis de mudar”, diz Enrique Carretero, da

Geobiotics LLC, empresa de tecnologia em mineração.

Mas o panorama pode mudar em breve. A intensa exploração de minério durante os últimos anos fez com que a qualidade dos depósitos sob a terra caísse. E isso está for-çando as empresas a pesquisar novos métodos de produção e extração. A solução neste

caso estaria na biolixiviação, que pode substituir as enor-mes e poluidoras fundições de cobre.

Desde os anos 1970, uma das formas mais populares de processar o cobre no mundo tem sido a lixiviação com ácido sulfúrico, seguida por um processo de extração de solventes e electrowinning,que na indústria é conhecido como SX-EW. Em poucas palavras, as pedras que con-tém minério são trituradas e logo expostas a um solven-te – o ácido sulfúrico – que permite dissolver o minério, que é recolhido junto com o ácido. A parte SX-EW signi-fica que se recicla o ácido e se torna a usá-lo no processo de lixiviação.

Contudo, este processo tem aplicação limitada: a lixiviação dissolve com re-lativa facilidade alguns mi-nerais, como os oxidados e sulfurados secundários, mas não os mais comuns, como a calcopirita, que é a forma mais abundante de reservas de cobre na indústria. Por um tempo acreditou-se que o ácido fazia todo o trabalho de dissolver o mineral, mas depois descobriu-se que as bactérias presentes na rocha também tinham seu papel no processo.

A busca de um “Santo Graal da lixiviação” do cobre, que permite modernizar o pro-cesso por meio de bactérias presentes na rocha, está dando resultados. Em junho deste

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AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 33

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2009

ano, a Biosigma, joint venture entre a estatal chilena Codelco e a japonesa Nippon Metals and Mining – que pesquisa o uso de micro-organismos presentes nos minerais do cobre –, anunciou que havia apresentado, de forma bem-sucedida, a patente de um deles. Chama-se “Wenelén”, que significa “pioneiro” na língua indígena mapuche.

PIONEIRAO nome foi bem escolhido. A patente não apenas é a pri-meira de um micro-organismo concedida no Chile, como também a primeira concedida em qualquer lugar do mundo de um micro-organismo para uso da biolixiviação de mine-rais. “A concessão da patente para a bactéria Wenelén é um passo importante no desenvol-vimento da biotecnologia e da biolixiviação de minerais de cobre, bem como no aumento das reservas economicamente exploráveis do mundo da in-dústria de mineração”, diz o presidente-executivo da Code-lco, José Pablo Arellano.

E também representa uma conquista para a indústria de mineração chilena, que aos poucos deixa a exploração de recursos naturais para se transformar em uma fonte consolidada de geração de co-nhecimentos e capital humano. Também contribui para isso o fato de que as autoridades têm considerado cada vez mais o impulso da inovação tecnológica e o gasto em pes-quisa e desenvolvimento como um fator-chave na transfor-mação da vida no país. “Isto mostra que somos capazes de conquistar importantes avanços tecnológicos”, afirma o gerente geral da Biosigma, Ricardo Badilla.

Embora exista certo ceti-cismo geral no setor sobre a aplicabilidade das descober-

tas da Biosigma, a Codelco afirma que está prestes a lançar essa tecnologia em escala industrial. A incursão da estatal na genética através da Biosigma está claramente abrindo novos caminhos para o futuro do setor.

Contudo, há quem veja benefícios práticos em in-troduzir algumas mudanças básicas nos métodos atuais de biolixiviação.

A norte-americana Geobio-tics, por exemplo, está traba-lhando com várias empresas mineradoras na América do Sul para melhorar a lixivia-ção de minerais concentrados de bactérias. “Ao invés de modificá-las, a chave é criar as condições adequadas para que as bactérias existentes

na rocha possam prosperar”, afirma Carretero.

Utilizando sua tecnologia Geoleach, a Geobiotics pro-põe algo simples: manter as bactérias o mais acomodadas possível. É importante notar que estas podem decompor minerais como a calcopirita primária, e são, majoritaria-mente, termófilas, ou seja, prosperam em temperatu-ras superiores aos 50 graus Celsius.

Ao cobrir os pedaços de pilha com materiais isolan-tes, para assim aproveitar o calor gerado naturalmente no processo de lixiviação, Car-retero afirma que a empresa pode aumentar as taxas de recuperação da calcopirita, de cerca de 30% atualmen-te para atrativos 90%. A

Geobiotics atualmente está realizando testes na mina de Quebrada Blanca, no norte do Chile, de propriedade da canadense Teck Resources, onde espera reduzir à metade o tempo de lixiviação, que supera um ano.

MENOS CUSTOSEste avanço, sozinho, cortará os custos de estoque da mina e duplicará a capacidade de produção, com apenas peque-nos investimentos adicionais em infraestrutura, garante o executivo. Outro líder reco-nhecido no campo é a BHP Billiton, a maior mineradora do mundo.

Em 2004, a companhia iniciou o desenvolvimento de um projeto de lixiviação de

súlfures de minerais de baixo grau na jazida de Escondida, no norte do Chile, a maior operação de cobre do mundo. O projeto prevê a construção de uma enorme operação de lixiviação para processar minerais considerados muito pobres, e então processá-los no concentrador de moagem da mina.

Três anos após a produção do primeiro cátodo, o proje-to continua aumentando sua produção para chegar à capa-cidade de 180 mil toneladas ao ano. Embora a BHP não tenha revelado os resultados de seus experimentos em biolixiviação, a companhia anunciou em junho que havia começado recentemente tes-tes-pilotos para a exploração de minerais primários em sua

mina de Spence, utilizando diferentes tecnologias de lixiviação em pilhas.

Se for bem-sucedida (os testes continuarão até 2013), a tecnologia poderia estender a vida da mina por vários anos. Agora, se a biolixiviação de todos estes minerais for aceita dentro da indústria mineira, significará o golpe de mise-ricórdia para as “arcaicas” fundições?

Pam Tittes, gerente de desenvolvimento de negó-cios da Geobiotics, tem suas dúvidas. Muito foi investido em usinas de concentração e fundição para que todas elas desapareçam da noite para o dia. Em contrapartida, as no-vas técnicas que melhorarão a biolixiviação abrirão novas

fontes para reduzir custos de produção de cobre antes con-siderado de baixa qualidade ou que era muito difícil de processar utilizando os méto-dos convencionais. Contudo, a recente alta registrada nos preços deste e de outros me-tais não tem incentivado esta linha de pesquisa.

Quando os preços dos metais voltarem a níveis mais terrenos, o foco mudará em direção a operações existentes mais eficazes e, com isto, o aporte de novas tecnologias será vital, diz Tittes.

Uma nova tecnologia de biolixiviação, que possa sa-tisfazer a demanda chinesa cada vez maior por cobre e reduzir os custos de produção, seria agora mais bem-vinda do que nunca.

BACTÉRIA WENELÉN: UM MICRO-ORGANISMO MINEIRO

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Quinoa, grão andino para paladares exigentes.

34 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

No início, as opiniões foram contraditórias. “O sabor é

de como se misturasse pó com xarope de milho. Minha mulher e meu filho fizeram cara de desaprovação e perguntaram: ‘como alguém pode comer

isso?’” Houve também quem dissesse que “é absolutamente deliciosa.” Mas a polêmica gerada pelas barras alimentícias NatureCrops fabricadas com quinoa – semente de uma planta andina – pode-se dizer

Empresa argentina aposta na criação de barras alimentícias de classe mundialRodrigo Lara Serrano, Buenos Aires

SE TEM QUINOA, MELHOR

derrubada desde janeiro deste ano, quando a gigante da web Amazon.com encomendou 30 mil delas. Uma conquista inquestionável para qualquer pequena empresa.

“Tivemos uma resposta muito boa nos EUA”, diz Mark Kadee, diretor comercial da argentina AMS Foods, fabri-cante da Nature Crops. Kadee conta que também conseguiu colocar seu produto à venda no país através da farmácia on-line CVS. Fechou acordo com o Wal-Mart na Argentina e agora se prepara para distribuir as barras de quinoa também no Brasil e no Chile.

Isso tudo se traduz em uma feliz surpresa para Martín Loeb, presidente e fundador de AMS Foods. “Quando tivemos a ideia de fabricar essas barras, dissemos: ‘vamos à Europa, porque nos EUA é impossível, e os latino-americanos não vai interessar’.” Mas a vida da AMS Foods tem sido marcada pelo inesperado.

A história da empresa começou com a frustração de um adolescente. “Escutei a palavra quinoa pela primeira vez há 20 anos, em minha casa”, conta Loeb. “Foi quando minha mãe, ao invés de me trazer uma câmara de vídeo de uma viagem, tirou da mala saquinhos de quinoa.” Na época, não foi exatamente uma alegria. “Mas, prová-la, sim.” Por isso, o grão andino não lhe saiu da cabeça.

Até que, juntamente com o holandês Kadee, decidiram “não fazer o que gostamos, mas o que falta no mercado”. Sua aposta foi pensar que “o conceito de comida portátil e saudável permanecerá, que não é uma tendência passageira.” O novo sócio analisou o mercado mundial de barras alimentícias e descobriu que havia um ni-

cho inexplorado. “Há muitas barras saborosas, mas que não são saudáveis. E muitas saudáveis, mas intragáveis.” O pulo do gato estava em criar uma suficientemente saborosa e vigorosamente saudável. E aí estava, de novo, a quinoa.

O mercado da quinoa é dominado pela Bolívia, que produz entre 50 mil e 70 mil toneladas anuais e onde, entre 2006 e 2008, o preço da to-nelada exportada triplicou em comparação ao da soja. E já existiam barras do produto na Bolívia e no Equador, mas com características muito locais e artesanais para entrar em países como a Inglaterra, aonde a AMS queria chegar.

Assim, depois de 14 meses de desenvolvimento, viagens à Bolívia para conseguir quinoa orgânica e um investimento entre US$ 250 mil a US$ 300 mil, nasceram as barras Na-tureCrops. Sem glúten e com 6% de proteína por barra, seus ingredientes possuem certas particularidades. “Por exemplo, incluímos crispies de proteína de soja não GMO, fabricados nos EUA pela Dupont.” Mas é um desenvolvimento que não termina nunca. Como seu conteúdo de xarope de milho rico em frutose (HFCS) é muito questionado pelos naturistas, agora os empresários pensam em substituí-lo pelo xarope de arroz orgânico. Também negociam para que as auto-ridades aduaneiras da África do Sul não apliquem ao pro-duto os impostos da categoria “sweet”, pois querem estar no país na próxima Copa do Mundo. E também planejam o lançamento de novos sabores, como amêndoas banhadas com chocolate meio-amargo. “Aqui, nunca nos entediamos”, diz Loeb. Nem ficam com fome.

PMES GLOBAIS

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POLÍTICA DEBATES

AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 35

TORMENTA À VISTA Maras e policiais: dois grupos em guerra

AFP

As praias de Bluefields, na costa caribenha da Nicarágua, são paradisí-acas. Ao amanhecer se

podem ver turistas misturados a pescadores percorrendo suas extensas faixas de areia branco-marfim. Alguns bus-cam fabricar uma lembrança de postal. Outros pescam. E outros estão em busca de uma “lagosta branca”. Basta uma para ficar rico. Lagosta branca? Samuel Logan, jorna-

lista norte-americano, é quem tornou público o termo local para as bolsas de cocaína que os traficantes jogam em alto mar para depois recomprá-las, por até US$ 120 mil. E são tantas que já fazem parte da economia da região, sem que o Estado tenha acesso.

O crescimento do narco-tráfico na América Central é apenas um dos fatores que faz o horizonte desse grupo de países, que estão entre

os menores e mais pobres do hemisfério, escurecer. Além do problema político-institucional de Honduras, a crise econômica global tirou o véu hipnótico criado pelas altas taxas de crescimento econômico e pelas remessas nos últimos anos, deixando evidentes as tarefas penden-tes e a dura realidade dessa região.

Hoje os países da Améri-ca Central, alguns mais que

outros, precisam encontrar formas eficazes de reduzir a desigualdade, diversificar suas economias e reformar instituições políticas, caso não queiram que os velhos vícios os levem ao estancamento ou à convulsão em que famílias mais ricas se enfrentem com caudilhos de todo tipo, como aconteceu no século 20.

E é justamente o cenário político o que desperta mais pessimismo. “O panorama

Velhas injustiças internas, investimento insufi ciente e o fi nancia-mento espúrio dos partidos ameaçam a América Central ao re-trocessoRodrigo Lara Serrano

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JUNTOS SÃO DINAMITEO PIB da América Central equivale ao do Chile, sua população à da Colômbia e sua indústria de TI à da Argentina.

Fontes: Cepal, US Census Bureau

1. Cifras de 20072. Cifras preliminares de 2008

POP.(MI-

LHÕES)

PIB (US$ MI-

LHÕES)1

VAR % PIB2

COSTA RICA 4,47 22.756 3,3

EL SALVADOR 6,86 16.010 3,0

GUATEMALA 13,40 22.224 3,3

HONDURAS 7,11 10.193 3,8

NICARÁGUA 5,60 4.958 3,0

PANAMÁ 3,34 17.371 9,2

TOTAL 40,8 93.152 4,4

PANAMÁ 3,34 17.371 9,2

HONDURAS 7,11 10.193 3,8

EL SALVADOR 6,86 16.010 3,0

DEBATES POLÍTICA

Zelaya:o presidente deposto monopoliza a atenção

36 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

AFP

que vejo é o mais negro possível”, diz o guatemalte-co Manfredo Marroquín, da ONG Acción Ciudadana, que trabalha com a Transparência Internacional. “Em vários pa-íses se vive um colapso dos partidos políticos, produzindo um déficit de liderança que, por sua vez, leva a uma crise de governabilidade”, sinteti-za. “A origem disso está na ‘midiatização’ da política, que elevou fortemente a de-manda de recursos para as campanhas.”

Carlos Vega, especialis-ta em segurança e justiça da Associação de Pesquisa e Estudos Sociais (Asies), também na Guatemala, con-corda. “Aqui ganham aqueles que arrecadam mais fundos.” Explica que o mecanismo eleitoral é simples. Adere-se aos partidos para garantir uma configuração mínima. Como não há ideologia, tais partidos seguem tendên-cias clientelistas. “É fácil entrar em qualquer partido e candidatar-se”, diz Vega. “O candidato perde uma ou duas vezes, mas ao se tornar conhecido pode cair na graça de algum financiador que identifique nele chances de ganhar e lhe dá o dinheiro que necessita.”

Como as regras de finan-ciamento político ou não exis-tem ou não são respeitadas, o sistema está aberto a todo tipo de aporte (de empresas, de lavagem de dinheiro, in-clusive do narcotráfico), o que gera muita incerteza em períodos eleitorais como o de 2009-2010.

Marroquín toma o exemplo de Honduras. “O que passa aí é sintoma do colapso do sistema: dois partidos polí-ticos de cem anos que cada vez estão mais expostos a interesses econômicos ou do narcotráfico e que estão

esquecendo totalmente suas tarefas de Estado”, diz o gua-temalteco. Em 2007, antes da crise, a taxa de desemprego em Honduras era de quase 28%, apesar de que em 2008 a taxa de investimento tenha registrado espetaculares 31%, o desemprego continuou crescendo.

E a baixa institucionalida-de política abre espaço aos caudilhos. Pode ser Zelaya, Ortega, Colom. Os pobres os veem como uma opção

interessante em um mercado que carece de ofertas políti-cas reais. A “síndrome de Chávez”, o surgimento de um caudilho que costuma ser um outsider ou um renegado. Tem eleitores, mas não par-tido. A elite o considera um aventureiro com aspirações ditatoriais. E ele a considera uma fracassada incapaz de humanidade quando mais de 50% da população vive na pobreza. Assim, a luta de poderes do Estado está servida.

Essa parece ser a situação real ou potencial de Hondu-ras, Guatemala e Nicarágua. “El Salvador é uma exceção momentânea”, diz Marroquín.

“Parece uma esquerda com um plano real de governo, mas ainda é uma situação prema-tura para dizer algo.”

Em São José, Josette Alt-man, coordenadora regional de cooperação internacional da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), concorda parcialmente. “Não acho que haja uma crise polí-tica em incubação, mas uma crise social com consequência políticas. O paradoxo é que hoje a cidadania não sente

que a democracia melhora sua qualidade de vida.”

“O que vai determinar o futuro da região, mais do que a estrutura econômica, é a institucional”, afirma o guatemalteco Jaime Rolan-do Rivera, CEO da Bladex, instituição financeira pana-menha. “O valor da Costa Rica, além de sua economia diversificada, é possuir um marco institucional perma-nente.” Modelo perseguido também pelo Panamá.

TERRENO DESIGUALHoje, é a profunda desigual-dade entre ricos e pobres que pressiona ainda mais a região. Na Nicarágua, 1% das famílias

do país, ou cerca de 10 mil, concentra 20% da renda na-cional, e os 20% mais pobres, somente 4%. “A fotografia é quase a mesma em todos os países da região”, diz Néstor Avendaño, diretor-executivo da Consultores para o De-senvolvimento Empresarial (Copades), em Manágua.

Trata-se de um caso sem solução? Nem tanto. Aven-daño acha que é passível de correção desde que se impul-sione “uma grande tentativa

sub-regional” de relançamento das economias. Isso deveria incluir o fomento da educa-ção técnica, transferência de tecnologia, grande melhoria da infraestrutura, reforma tributária e a criação de uma massiva agroindústria.

O problema é que a pou-pança interna para financiar tal mudança massiva prati-camente não existe. E agora a região conta com menos apoio de milhões de devotos microinvestidores: os imigran-tes. “As remessas representam 14% do PIB da Nicarágua – cerca de US$ 800 milhões. E 95% vão para o gasto”, diz Avendaño. Em El Salvador, o impacto é ainda maior. “Há

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2,5 milhões de salvadorenhos que trabalham nos EUA”, diz o sociólogo e economista nicaraguense Oscar René. “Isso representa 18% do PIB do país, e sua queda limita o mercado interno.”

Mario Magaña, diretor de Assuntos Econômicos e Comerciais da Câmara de Comércio e Indústria de El Salvador, acrescenta que “em El Salvador a queda das remessas é de 10%. Mas isso tem um impacto de 20% no consumo interno.”

E esse impacto cruza fronteiras, juntamente com a integração sub-regional. A Nicarágua possui 1,5 milhão de imigrantes somente em três países: EUA, Costa Rica e El Salvador. Como na Costa Rica o setor da construção retraiu-se, os nicaraguenses – cerca de 10% dos habitantes do país – empregados nas obras ficaram sem trabalho.

Guillermo Zúñiga, minis-tro da Fazenda da Costa Rica, avalia o impacto desta forma:

“O acumulado dos primeiros quatro meses do ano indica que o turismo caiu cerca de 8%. As exportações registram queda de cerca de 14%.”

Em Honduras, 250 mil metros quadrados de “teto industrial” de maquiladoras se esvaziaram entre janeiro e maio. Na Nicarágua, 19 mil pessoas, um quinto das que trabalham em zonas francas, perderam o emprego. Oscar René coloca sal na ferida ao lembrar que a queda da demanda norte-americana “tem um efeito duplo: o comércio entre os países centro-americanos também diminuiu.”

DESCAPITALIZADOSA isso se soma o problema sistêmico da América Central de gerar poupança e investi-mento. “Na Guatemala, temos uma pirâmide demográfica larguíssima na base (idade média de 15 anos, somente 40% da população econo-micamente ativa). É muito

difícil ter poupança quando tão pouca gente trabalha”, diz Julio Héctor Estrada, diretor do Programa Nacional Com-petitividade da Guatemala (Pronacom). O problema é que a “América Central tem uma taxa muito baixa de for-mação de capital: abaixo de 20% em quase todos os anos, nas últimas três décadas, em quase todos os países”. Por isso, “não importa quanto sua produtividade aumente; se não se consegue acumular capital a uma taxa anual de 25% do PIB, é difícil sus-tentar um crescimento de 6% ou mais ao ano de forma constante.”

Por isso, o istmo depende muito do financiamento ex-terno. No caso de Honduras, Rebeca Patricia Santos, minis-tra de Economia do presidente deposto José Manuel Zelaya, diz: “no ano passado recebe-mos US$ 250 milhões do BID e do Banco Mundial, nossas principais fontes de crédito externo. Mas esses níveis

são insuficientes quando se trata de infraestrutura. Uma só central hidroelétrica pode custar US$ 350 milhões.”

E Honduras necessita de mais de uma. De fato, no mo-mento do golpe encontrava-se negociando com o Brasil um empréstimo de US$ 450 milhões para esse fim. E foi graças a essa lacuna de finan-ciamento que o presidente venezuelano Hugo Chávez se tornou um ator relevante na região. Com a venda de petróleo em condições de pagamento no longo prazo através da Petrocaribe, o go-verno venezuelano conseguiu aliviar a pressão orçamentária em vários países importadores de petróleo. “Se não tivés-semos essa possibilidade, teríamos que enfrentar uma pressão ainda maior sobre as nossas reservas”, diz a ministra.

Lamentavelmente, um fa-tor que torna as coisas ainda mais difíceis é a aliança ainda pouco clara entre grupos de

Como a crise impacta seu país?De forma dramática, na

queda das exportações e do consumo. A isso se soma uma queda na receita fiscal que financia a atividade do Estado. Em janeiro fizemos um ajuste orçamentário de 1% do PIB, e recentemente houve uma nova reforma com redução de outro ponto. E na América Central em geral a situação é parecida. Como administram a falta de recursos?

Priorizamos as políticas sociais e a política de geração de emprego com investimento em infraestrutura, e reduzimos os gastos correntes da insti-

tuição em 20%, o que gera desaceleração econômica. Mas agora com o novo reajuste orçamentário aprovado no começo de junho já é possível sustentar isso, e advertimos os representantes dos organismos financeiros internacionais de que nossas políticas sociais serão afetadas, já que não há opção.Quais as expectativas de recu-peração?

A recuperação da economia mundial não se traduzirá ime-diatamente em uma recupera-ção de nossa economia. Uma vez que o mundo saia da crise, esta nos seguirá afetando por pelo menos mais dois anos,

pois somos muito vulneráveis e dependentes do mercado externo. Jogamos com fogo. As instituições multilaterais esquecem que uma crise financeira se transformou em uma crise econômica e vai virar uma crise social profunda. E não queremos crise social. Não queremos que os nicaraguenses migrem aos EUA ou à Costa Rica. Os organismos financeiros não devem continuar nos tratando como se não houvesse crise no mundo, como se não hou-vesse fatores exógenos que impactam em nossa economia. O salva-vidas que nos dão é de chumbo.

“O SALVA-VIDAS QUE NOS DÃO É DE CHUMBO”

Alberto José Guevara, Ministro de Finanças do governonicaraguense de Daniel Ortega.

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narcotraficantes mexicanos e as maras, violentas gan-gues urbanas, que ameaçam tomar o sistema político de assalto.

Peter Hakim, presidente da Diálogo Interamericano, lembra que no México os narcotraficantes começaram a contratar ex-militares para serem treinados, e que “as maras, em conjunto com os narcotraficantes e sua capaci-dade de comprar qualquer um, formam uma mistura perigosa em vários países.”

Carlos Vega, da Asies, discorda dessa avaliação. Apesar de reconhecer que “os narcotraficantes dão escolas e hospitais à população carente, e a manipulam para que seja agradecida a eles”, acha que há espaço para o otimismo. “Não somos um Estado fa-lido. Aqui as pessoas não

se suicidam. Somos duros para lutar e continuaremos lutando”, afirma, apesar de que mais de 20 dirigentes sindicais e indígenas foram assassinados em 2008.

CONFIANÇA MULTINACIONALMas a América Central ainda conta com instrumentos pa-ra impedir que sua situação piore. E companhias multina-cionais continuam confiando em sua capacidade para isso. Entre elas está a Hanesbran-ds Inc, fabricante de roupas que possui mais de uma dú-zia de marcas no mercado norte-americano. Opera em El Salvador e Honduras. Só no primeiro país, possui seis fábricas com um investimento local que supera os US$ 200 milhões.

“De dois terços a três

quartos desse investimento foram realizados de 2007 para cá”, diz Edwin Zamora, vice-presidente da compa-nhia. No início de 2007, a empresa tinha duas fábricas e empregava 2 mil pessoas no país. “Hoje temos pouco mais de 7 mil funcionários e estimamos que nos próximos 18 meses sejam 1 mil ou 1,5 mil a mais”, conta. “Fabricar aqui na região nos permite responder a nossos clientes mais rapidamente, sem man-ter grandes estoques e com economia logística.”

É uma boa notícia para o setor maquilador de El Salva-dor, que antes da crise chegou a gerar 10 mil empregos e já tinha recebido um forte golpe há três anos, com a entrada da china na OMC.

A mesma confiança é mostrada por Martín Castillo,

diretor geral de operações para América Central, Cari-be e Porto Rico da Hewlett-Packard (HP). “Aqui somos um pouco maiores do que na China. Lá são 8 mil empre-gados, e aqui temos 10 mil”, diz, com orgulho. Prestes a inaugurar um novo investi-mento no Panamá, Castillo conta que o essencial para isso é que “o nível de escolaridade na América Central é muito alto”, ao que se soma, segundo o próprio executivo, um bom investimento em infraestru-tura de comunicações.

Boas notícias em meio a um difícil momento para o istmo e que faz lembrar que, da mesma forma que chegam, as tempestades também se vão.

Com Loreto Urbi-na, San José, e Solange

Monteiro, Santiago

De que forma a crise tem afetado a economia da Costa Rica?

Afeta pelo lado real da economia, já que a parte fi-nanceira está razoavelmente saudável. Houve problemas nos volumes de exportação, de investimento estrangeiro e, principalmente, de queda no turismo. A Costa Rica é uma economia muito aberta, a média é superior a 90%, e por ser uma economia peque-na e tão aberta claramente o ciclo econômico nos afeta. A arrecadação tributária caiu 17,5% no acumulado deste ano. Não me animo a dar prognóstico, mas nos últimos meses verificamos que, ainda que em patamar negativo, essa queda já se estabilizou, e o mesmo acontece com a atividade produtiva.E como combatem essa queda?

Felizmente, nos dois anos anteriores o país fechou com superávit fiscal, algo que não acontecia há 50 anos. Isso nos permitiu reduzir a dívida pública e fazer uma política contracíclica sem colocar em risco a sustentabilidade do endividamento de curto prazo. Por outro lado, não temos aplicado cortes de im-postos. Também assinamos um decreto para incentivar novos investimentos e ace-lerar o tempo de pagamento das compras do Estado às empresas, garantido em até 30 dias, como uma forma de ajudá-las. Este é um governo que tem gastado, mas arre-cadado muito, sem passar por uma reforma tributária, porque muito do tempo do legislativo foi tomado com a aprovação do tratado co-

mercial com os EUA.Como reduzir o impacto da crise em temas como segurança e narcotráfico?

Esse é um tema muito complexo. Uma das princi-pais queixas da população atualmente refere-se à segu-rança. As maras, nesse nível de organização, ainda não apareceram na Costa Rica, só nos países do Norte da América Central. Mas isso não quer dizer que estamos imunes. Pois quando Colôm-bia e México endurecem a luta contra o narcotráfico, fica claro que nossa região se torna vulnerável. E o narcotráfico é uma ativi-dade muito rica, poderosa. É preciso combatê-la com instrumentos fortes, e acho que não estamos dedicando recursos suficientes.

“TEMOS GASTADO, MAS ARRECADANDO MUITO E SEM REFORMA TRIBUTÁRIA”

Guillermo Zúñiga,Ministro da Fazenda da Costa Rica

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Hoje se pode considerar a América Central frágil política e economi-camente?

Não sei se está frágil. Ela foi atingida como muitas outras pela crise interna-cional. Economicamente. Politicamente não está frá-gil. Existe o problema de Honduras, mas em outros países como Nicarágua e El Salvador, não. Em El Salva-dor, por exemplo, você tem uma alternância democrática perfeita que está funcionando saudavelmente.Qual é o objetivo da maior apro-

ximação do Brasil com essa re-gião?

O Brasil pertence à Amé-rica Latina e está crescendo. Nós temos sido procurados pelos países da América Central e do Caribe para toda a espécie de intensificação do relacionamento, sobretudo pelo interesse no etanol. A gente já tem funcionando duas usinas que trabalham em base à cooperação com o Brasil, uma na Jamaica e outra em El Salvador. E quanto ao comércio?

Nos últimos quatro ou cinco anos nosso comér-cio com a América Central triplicou, e com o Caribe quadruplicou. O Brasil tam-bém se tornou membro do Banco Centro-Americano de Integração Econômica no final do ano passado e só estamos esperando uma definição do banco quanto ao nível de contribuição que vamos ter. E a mesma coisa acontece com o Banco de Desenvolvimento do Caribe. Isso porque temos todo esse desenvolvimento comercial, sobretudo de exportações, em que o desequilíbrio é brutal. E não queremos que seja assim.Quantas embaixadas foram inau-guradas na região e no Caribe nos últimos anos?

No governo Lula, abrimos

oito embaixadas na América Central e no Caribe, que eram os oito países onde não tínhamos embaixadas. Essa opção já foi criticada por representar um alto gasto. Esse investimento justifica o inte-resse?

Nosso interesse é estar presente e demonstrar o desejo de estar próximo. E não estamos falando de uma embaixada com um embai-xador, três diplomatas, oito funcionários, quatro carros. Nada disso. É um investi-mento pequeno para o que a gente espera obter. Mas esse retorno tem uma escala limitada, já que todos os países centro-americanos juntos têm um PIB que se compara ao da cidade de São Paulo, não é?

O nosso superávit com o Caribe, por exemplo, equivale ao superávit que temos com a França. Então, se abrimos quatro embaixadas no Caribe, equivale a ter uma embaixada na França. Não é pouco. E isso também vai trazer um enriquecimento cultural. Há pouco tempo entrevistamos o

ex-embaixador Botafogo Gonçal-ves e ele afirmou que o Brasil não deveria dispersar sua diplomacia como está fazendo agora, que de-veria concentrar-se em resolver os problemas do Mercosul. Qual sua opinião?

Não vou dizer que estou de acordo ou não. Mas há dados que podem colocar um ponto de interrogação nesses conceitos. Eu acho que hoje deve haver mais brasileiros na Guiana do que no Uruguai, por exemplo. Acho que a gente tem que ser como Argos, da mito-logia grega, aquele sujeito que tinha vários olhos e não dormia nunca. A gente como país, para ter a dimensão que quer ter, para ter a relevância mundial que deseja, tem que olhar um pouco para todos os lados.

Uma porta aberta para o Brasil entrar nos Estados Unidos. Esse é um dos argumentos usados pelo governo brasileiro para falar de seu estreitamen-

to das relações com a América Central – que já derivou inclusive na participação do País no banco de desenvol-vimento da região. Em entrevista a Solange Monteiro, editora de AméricaEconomia, Gonçalo Mourão, diretor geral do Departamento de México, América Central e Caribe do Ministério das Relações Exteriores, comenta essa relação.

“TEMOS QUE SER COMO ARGOS”

Embaixador Gonçalo Mourão

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DEBATES 5a COLUNA

40 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

Diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade de MiamiSusan Kaufman Purcell

DEBATTTTTTTTTTTTTEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEESSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS 555555555555555555555555555555555555555555555555555555555 COLUN

Arecente conduta da Organização dos Estados Americanos (OEA) quanto ao caso de Honduras é digna de um romance latino-americano de rea-lismo mágico. Segundo uma defi nição encontra-

da na internet, realismo mágico é “o que acontece quando um cenário realista altamente detalhado é invadido por algo demasiado estranho para ser crível”.

Entre as coisas “demasiado estranhas para ser críveis” está a precipitada classifi cação dos eventos em Honduras como um golpe militar tradicional, apesar de as Forças Armadas terem intervindo somente quando o Congresso e a Corte Suprema pediram, depois de o presidente Manuel Zelaya ter ignorado a Constituição Hondurenha, que proíbe a reeleição, para convocar um “plebiscito” que demonstras-se que “as pessoas” queriam que ele se candidatasse nova-mente. Isso supostamente legitimaria que Zelaya ignorasse a Constituição, e até a modifi casse. A OEA tinha enviado uma equipe de observadores para supervisionar o “plebisci-to”, o que já soa estranho, pois essa instituição nunca antes tinha enviado uma equipe para observar um plebiscito na América Latina.

Mais surrealista ainda foi a condenação, por parte da OEA, da ruína da democracia em Honduras poucas semanas depois de o organismo ter solicitado a readmissão de Cuba, ditadura que há 50 anos não realiza uma eleição presiden-cial. O fato de a OEA ter agregado previamente uma “cláu-sula democrática” à sua carta orgânica aparentemente não foi relevante na decisão de readmitir Cuba. Tampouco, se-gundo seu presidente, importa a situação da Venezuela, onde sistematicamente o presidente Hugo Chávez usou as regras do jogo democrático para minar a democracia do país.

Por que a cláusula democrática não foi aplicada nos casos de Cuba e Venezuela? Porque, segundo o secretário geral, a ausência de democracia nesses países é um assunto “interno” e a OEA não intervém em temas internos de seus países-membros. Mas se a democracia, ou a ausência de-la, é um “tema interno”, por que a participação das Forças Armadas hondurenhas não é um assunto interno?

Também foi surrealista ver os líderes dos partidos mais antidemocráticos do hemisfério (Cuba, Venezuela e Nicará-gua) clamando pela volta do presidente democraticamente eleito de Honduras.

Sem dúvida há mais de uma explicação para essa estra-nha série de eventos, mas no centro de tudo está a determi-nação da OEA e de seus países-membros de não permitir que essa história se repita. Particularmente, a região não

deseja voltar a seu relativamente recente passado de alter-nância de governos democráticos e regimes militares.

No passado, os militares intervinham apesar das condu-tas democráticas dos governos eleitos. Podem ter existido grupos da sociedade civil – em geral da classe média, que apoiavam o golpe militar ou defendiam a intervenção, mas a maioria dos presidentes depostos pelos militares não des-truíram as instituições políticas democráticas para concen-trar o poder nas próprias mãos.

Já hoje a principal amea-ça à democracia na América Latina não provém das Forças Armadas, mas dos demagogos autoritários e carismáticos que usam os meios modernos de comunicação para os propósi-tos antidemocráticos. Primeira-mente para mobilizar “o povo” e derrubar os líderes demo-craticamente eleitos (como no caso dos “golpes civis” que foram a renúncia de Fernando de la Rúa na Argentina, e de Gonzalo Sánchez de Losada

na Bolívia). Depois, para prover uma pseudolegitimidade a líderes autoritários democraticamente eleitos (como Hugo Chávez na Venezuela, e Evo Morales na Bolívia) para siste-maticamente desmantelar suas instituições democráticas.

É possível tirar várias conclusões dessas novas ameaças à democracia latino-americana. A primeira é que se deve enfrentar e desafi ar a conduta antidemocrática e inconsti-tucional antes que as instituições democráticas sejam gol-peadas a tal nível que requeiram a ajuda dos militares para evitar que presidentes, atuando ilegalmente, os destruam. Isso não se fez no caso de Honduras. Nem na Venezuela, onde as instituições foram destruídas e as Forças Armadas sofreram um expurgo.

Segundo, frente à fragmentação na América Latina entre países governados por democratas eleitos e outros governa-dos por líderes autoritários democraticamente eleitos, não se pode esperar uma resposta coletiva por parte da OEA aos desafi os que a democracia enfrenta, já que os líderes autori-tários nunca votarão contra os seus. Isso pode signifi car que a única resposta coletiva possível a essas ameaças é que as verdadeiras democracias da região se unam para ajudar-se e apoiar-se mutuamente.

Realismo mágico

Hoje a ameaça não provém das Forças Armadas, mas de demagogos autoritários e carismáticos

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John C. Edmunds

FINANÇAS OPINIÃOÇ S O O

AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 41

Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, professor de Finanças do Babson College de Boston e coautor de Wealth by Association.

Às vezes observamos a América Central ser vis-ta como uma região homogênea. Mas isso se deve mais a que a mente humana tende a pas-sar por alto as diferenças para criar conjuntos

de elementos semelhantes para dessa forma classifi cá-los mais facilmente. Na verdade, o que menos os países des-sa região têm é uniformidade. Ao contrário, a América Central está infestada de rivalidades e ressentimentos que chegaram até a derivar em confl itos armados.

A disparidade é evidente quando se compara o PIB per capita na região. A Costa Rica é um país de renda média acima da Colômbia e do Brasil, mas abaixo de Chile, Argentina e México. Já a Nicarágua, com um PIB per capita inferior à quarta parte do da Costa Rica, é mais pobre do que qualquer outro país da região, com exceção do Haiti, no Caribe.

As taxas migratórias também são extremamente di-ferentes. Nicarágua e Honduras perdem respectivamente sete e quatro habitantes em cada mil, por ano. É uma das maiores taxas de imigração do mundo. Já a Costa Rica recebe imigrantes em quantidade sufi ciente para elevar a taxa de crescimento da população de 0,9% a 1,3% ao ano. Algumas das pessoas que vão ao país são aposenta-dos de países desenvolvidos. Mas a maioria é de trabalha-dores pouco capacitados provenientes de seus vizinhos do norte.

Claro que também há semelhanças, algumas delas desalentadoras. Uma é que seus sistemas fi nanceiros são todos muito pequenos e dominados por bancos, não por mercados de capitais. Todos os países contam com bolsas de valores, mas ínfi mas. São os bancos comerciais que se encarregam do capital. Na Costa Rica, por exemplo, em dezembro de 2008 os bancos contavam com ativos equi-valentes a 79% do PIB. Há esperança de que os mercados de capitais ganhem mais importância no sistema fi nancei-ro do país depois da reforma de seu sistema de pensões, que hoje inclui contas de capitalização individual. Mas no fi nal de 2008 os ativos no sistema nacional de previ-dência somavam o equivalente a 7,7% do PIB. Os fundos de pensão continuam na fase de maior aversão ao risco e, por isso, em sua maioria investem em bônus do governo.

Esse panorama soa anacrônico, particularmente se se considerar o nível de sofi sticação da Costa Rica. Mas os indicadores de Honduras são ainda mais decepcionantes. O sistema fi nanceiro desse país é menor em relação ao PIB e o processo de designação de recursos está ainda mais dominado pelos bancos. Em dezembro de 2008, os

créditos bancários equivaliam a 56,6% do PIB e eram praticamente a única fonte de crédito na economia for-mal. O mercado de ações é minúsculo. O valor total das transações em 2008 na bolsa de valores do país represen-tou 1,7% do PIB, e 90% das transações correspondeu à compra e venda de letras do Banco Central de Honduras. O valor de seu mercado de ações é menos de 1% do PIB

e a bolsa não registrou tran-sações acionárias em todo o ano de 2008. O sistema previdenciário tampouco serve como fonte de crédi-to. É pequeno e obtém seus recursos do governo central. Há um sistema semiprivado de pensões para uma uni-versidade local, mas não é grande e não parece ser um participante ativo no mer-cado de capitais local. Criar um sistema privado de pen-sões em Honduras não está, evidentemente, na agenda atual.

Esses dados não in-cluem, por razões óbvias,

os setores informais, e por isso não ilustram o verdadeiro tamanho das economias da América Central. Mas servem para entender por que os que emprestam dinheiro ainda são uma fonte importante de crédito, como também por que os jovens dessa parte do mundo nutrem poucas ex-pectativas de obter um empréstimo de um banco comer-cial. Mas a maior parte das pessoas só pode obter crédi-tos para comprar um refrigerador ou um aparelho de TV. Não é sufi ciente para fi nanciar a ideia de algum jovem empreendedor.

Um sistema fi nanceiro mede o nível de sofi sticação econômica de um país. Também pode ser o fator que retém ou força a juventude a imigrar. Se a gente jovem e capacitada de um país sente que nunca terá acesso ao crédito, abandonará seus sonhos e perderá a fé nas insti-tuições políticas do país. E considerará a possibilidade de imigrar. Se isso acontece, os países perdem sua energia e suas habilidades. Seus aportes à economia local desapa-recerão. Enviarão dinheiro a seu país de origem, mas os países que os acolhem são os que se benefi ciarão de sua energia, habilidade e criatividade.

Anacronismo central

Um sistema fi nanceiro mede a sofi sticação econômica do país, e nisso a América Central é reprovada

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42 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

A aproximação do governo brasileiro com o presidente iraniano Ahmadinejad pode custar caro à reputação do País frente à comunidade internacionalSolange Monteiro

Abas Panahi (nome fic-tício) deixou seu país, o Irã, há quase 50 anos com o objetivo de re-

alizar o sonho de conhecer outras regiões e trabalhar com cinema. “Saí de lá com um xá no poder, com forte espírito modernizador, e ainda não consigo pensar nas coisas de forma diferente”, diz.

Hoje, da sede de sua em-presa, em uma capital sul-americana que tampouco quer que se divulgue, observa com desânimo a ebulição política desde a questionada reeleição de Mahmud Ahmadinejad, em junho deste ano. “Desde a revolução, os fundamenta-listas pensaram que poderiam converter os 40% que na época não levavam sua religião a sério, mas o efeito foi com-pletamente o contrário: hoje a maioria já não quer saber do Islã, pois está cansada de ver esse respaldo religioso à série de atrocidades que ainda se comete no país”, afirma. “E cada vez há menos medo de manifestar-se, ainda que continue morrendo gente.”

A indignação do empre-sário contra o regime dos turbantes poderia ter pouca relevância neste lado ocidental do globo, não fosse por um detalhe: o contínuo namoro de Ahmadinejad, o líder apoiado pelo aiatolá, com a América Latina, iniciando por Chávez e envolvendo outro líder regional considerado mais influente e crível que o mandatário venezuelano: o brasileiro Lula.

Cada vez mais envolvido com o país, no afã de ampliar a influência do Brasil como mediador global, o governo brasileiro envolve-se em uma jogada identificada por muitos analistas como de alto risco, que pode comprometer a imagem do país no âmbito internacional.

DEBATES DIPLOMACIAAF

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JOGADA DE RISCOLula e Ahmadinejad: estranhos amigos

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AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 43

Os sinais de alerta se inten-sificaram na mídia em junho, com a declaração precipitada de Lula questionando as de-núncias de fraude na reeleição do polêmico mandatário, ini-migo ultradeclarado de Israel, e com a anunciada visita de Ahmadinejad ao Brasil – cancelada no começo do ano e que, ao fechamento desta edição, estava sendo negocia-da por ambas as chancelarias para após a cerimônia de posse do presidente iraniano, em agosto.

“Os presidentes Lula e Ahmadinejad são dois homens populares, com foco na justiça social, luta contra a exclusão, a injustiça, a desigualdade, o racismo e pela estabilidade e o desenvolvimento da paz no mundo. Essa semelhança e proximidade faz necessário intensificar as relações entre os dois países”, argumenta Mohsen Shaterzadeh, embai-xador do Irã no Brasil.

DISTANTES DEMAISMas a simpatia diplomática brasileira dedicada ao Irã pare-ce exceder-se em um momento em que os próprios iranianos questionam a validade do governo de Ahmadinejad e os EUA pressionam por uma resposta mais clara sobre o programa iraniano de enri-quecimento de urânio.

“Isso é um revés para a política do Brasil”, lamenta o empresário iraniano. Opinião compartilhada pelo analista político Thiago de Aragão, da consultoria Arko Advice, em Brasília. “O Irã não é um país nem culturalmente nem geograficamente próximo do Brasil, não faz parte de nossas ambições. Seu prin-cipal produto de exportação hoje é a polêmica e qualquer movimento na direção desse país pode criar um desconforto religioso, político e na área de

segurança”, diz. E isso se es-tende a seu papel de influência na região. “Hoje na América Latina há uma forte disputa de influência: Estados Unidos, França, China e Rússia atuam muito mais firmemente aqui, e sendo o Brasil o principal representante da região no mundo, será observado de perto quanto a seus próximos passos.”

FÉ NOS NEGÓCIOSPara Newton Mello, diretor adjunto do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fe-deração das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), tal aproximação tem seu lado positivo: o comércio. “Nossas exportações para o Irã não são irrelevantes – US$ 1,13 bilhão

em 2008 –, incluem de carne e açúcar a produtos como autopeças, chassis inteiros e aviões, e podem aumentar”, afirma.

Segundo a Embaixada do Irã no Brasil, o fluxo comercial entre os dois países aumentou 38% no primeiro semestre des-te ano em relação a 2008 – já o comércio com Israel, segundo dados do governo brasileiro, caiu 52% no mesmo período. “Eles são muito dependentes de importação e, em função do boicote de muitos países, os poucos parceiros comerciais que têm são vistos com muita importância.”

Mello conheceu o Irã em 1982 quando, junto a mais três empresários, foi oferecer os produtos fabricados por sua empresa, a Mellfaber, espe-cializada em retificadoras.

“Naquela época, três anos após a revolução, era muito duro, com a guarda islâmica presente em todo lado. No ano passado, quando voltei em missão comercial do Mi-nistério, encontrei um estado de normalidade e um povo amistoso. Além de um merca-do com enorme potencial para vender máquinas, sobretudo para os setores agrícola e petrolífero”, afirmou. “Para nós, não importa exatamente as declarações de Lula: só queremos que a situação se normalize para não paralisar os negócios.”

Segundo Shaterzadeh, “o Brasil possui grande expe-riência e conhecimento em áreas como mineração, side-rurgia, produção de etanol, petroquímicos, que podem ser

úteis ao Irã. Também possui rico conhecimento na área de produção de soja, milho, cana-de-açúcar, e o Irã pode investir no Brasil em pro-dução agrícola, exportando para o mundo inteiro.” Para o embaixador, “somente 10% das capacidades entre os dois países são exploradas atual-mente.”

GLOBAL PLAYERMas, pese o otimismo co-mercial, o risco da cartada brasileira é que não se limita ao campo dos negócios. “O intercâmbio comercial não é tão relevante. O interesse do Brasil é comprovar que é um forte jogador no ce-nário internacional, apto a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, pois consegue mediar interesses

até no Oriente Médio”, diz Nizar Messari, professor de Relações Internacionais da PUC do Rio de Janeiro. “E não há outro país na Améri-ca Latina que hoje tenha um potencial semelhante. Tanto que o próprio Obama pediu a Lula para ser mediador no tema nuclear.”

Até por isso, o governo de Israel decidiu acompanhar o movimento de perto. Em agosto, o chanceler israelense visitou o Brasil para falar sobre o Irã – foi a primeira visita de um chanceler israelense em 22 anos –, reabriu o consulado do país na capital paulista, fechado desde 2002, e pro-gramou visita do presidente Shimon Peres ao Brasil, em novembro.

Mesmo assim, a aposta de

Aragão é que a possibilidade de o Brasil ganhar algo nessa partida é baixa. “Ao aproxi-mar-se do Irã o País prejudica uma das imagens mais fortes que possui, que é a de um país amigável, democrático, mo-derno, de miscigenação racial e liberdade religiosa.”

Já Messari dobra a aposta para o outro lado. “Está claro que o País marca a diferença em relação aos outros e não há que exagerar em simbolismos nesse momento”, diz. “Apesar de as eleições indicarem que o regime islâmico no Irã hoje sofre uma forte instabilidade, qualquer transformação será um processo de longo prazo, e por isso não parece ser um fator de risco para a estratégia brasileira.”

Resta saber quais serão as próximas jogadas.

ISRAEL ESTÁ ATENTO E JÁ MARCOU VISITA DE SEU PRESIDENTE AO BRASIL PARA NOVEMBRO

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DEBATES DIREITOS HUMANOS

44 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

José Miguel Vivanco, diretor para as Américas do Human Rights Watch

Quais são os focos prioritários do HRW na América Latina?

Temos cinco prioridades: Colômbia, Venezuela, Cuba, Brasil e México. Acompa-nhamos também o que acon-tece em outros países, como Peru, pelo caso Fujimori, e Bolívia.Qual sua avaliação sobre o estado das instituições e dos direitos huma-nos na região? Melhor ou pior?

É preciso diferenciar. Não se pode associar imediatamen-te as crises institucionais que derivam da debilidade das de-mocracias na América Latina com as violações aos direitos

“SE DEPENDER DA LIDERANÇA DO BRASIL, ESQUEÇA”

Ogoverno da Venezuela o acusou de ser agente da CIA e o expulsou

do país. Na Colômbia, o acu-saram de trabalhar a favor das Farc. Seu trabalho não é fácil. O chileno José Miguel Vivanco, diretor do Human Rights Watch (HRW), lidera o grupo de advogados que de Nova York e Washington acompanha a situação dos Direitos Humanos na América Latina. Com um orçamento de US$ 4 milhões anuais, sua equipe elabora relatórios que não só se traduzem em recomendações de ação para os governos. “O objetivo prin-cipal é influenciar na política exterior daqueles países que têm capacidade de influir no que está acontecendo em determinado país, como é o caso dos Estados Unidos para a América Latina”, diz. De seu escritório em Washing-ton, o advogado conversou com Felipe Aldunate M., diretor editorial de Améri-caEconomia.

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FELIZMENTE HÁ UMA MUDANÇA DE GOVERNO NOS EUA

humanos. Obviamente há uma relação entre a vigência de instituições democráticas e o respeito ao Estado de Direito e os abusos aos Direitos Hu-manos. Aprendemos a lição e por isso há uma constituição democrática e princípios que deveriam ser universalmente respeitados e promovidos, independente das condições conjunturais e políticas de cada qual. Mas qual é a tendência?

O que está acontecendo na região é um processo em que, em média, a classe política demonstra cada vez mais uma falta de consciência de fortalecer as instituições demo-cráticas. Para muitos líderes, a democracia e suas instituições devem ser respeitadas à medida que sejam compatíveis com os planos e fins políticos que o governo de turno propõe. Hoje é frequente ver que, quando um chefe de Estado ou um presidente se irrita com a Corte Suprema por uma decisão que contraria seus planos políticos imediatos, a Corte é acusada de ser simpatizante de grupos de esquerda ou é vinculada ao narcotráfico, como faz Uribe na Colômbia, para desqua-lificá-la. Ou, como Chávez, que acusou a Corte Suprema de golpistas até conseguir intervir na instituição. Evo Morales também reclama dela de vez em quando. O mesmo faz Correa. São figuras que polarizam e, ao mesmo tempo, agem e respeitam a democracia na medida em que esta serve a seus objetivos conjunturais, nos quais há um compromisso mínimo de fortalecer um siste-ma institucional de separação de poderes em que a viabili-dade do projeto democrático depende da existência dessas

instituições.Por que esse retrocesso institucional acontece?

A década de 90 foi enri-quecedora em termos ins-titucionais para a região. O retrocesso coincide com um vazio de liderança na América Latina, desde que os Estados Unidos começaram a dirigir seu foco para outros assuntos e perderam autoridade moral, por desprezar a democracia multilateral e promover políti-cas que vão contra os direitos humanos, como a tortura.E isso pode melhorar com o novo presidente dos EUA?

Felizmente há uma mudan-ça de governo, de política, e tenho a esperança de que com a credibilidade dessa nova admi-nistração e do novo Congresso, e com a inteligência com que Obama tem atuado – evitando distrações na relação com a Venezuela e defendendo a política multilateral –, a situ-ação mude. Pois se depender de outras lideranças, como a do Brasil, esqueça. A liderança que o Brasil busca na região não parece envolver esses temas.

Hoje o Brasil é um ator de peso global. O País tem uma ideologia para essa inserção internacional chamada de “terceiro-mundismo”, com a qual busca desenvolver uma aliança Sul-Sul. É um discurso terceiro-mundista, anti-imperialista, e que afirma ser contra o neocolonialismo e a favor do princípio de não ingerência nos assuntos inter-nos. Assim, cada um é dono do seu destino, todos os países são iguais, a soberania está acima de qualquer outro tipo de contemplação e consideração. Com isso, fica muito cômodo ao Brasil estreitar relações

com países totalitários nos quais não há espaço para as liberdades públicas, para os direitos humanos, pois isso fica dentro dos assuntos internos de cada um. O Brasil não acredita nesse tema, prefere lavar as mãos e garantir as melhores relações comerciais com a Venezuela ou qualquer outro país independentemente

de seu desafio. A OEA não deveria ter um papel mais importante nisso?

É muito tímida, notou-se sua ausência, sendo que não é o momento de ficar de braços cruzados. Uma situação há tempos problemática como a da Venezuela não poderia ser ignorada pela OEA. O problema venezuelano é a concentração total de poder. Desde 2004 o presidente Chá-vez conta com um Tribunal de Justiça que é um apêndice do Poder Executivo. E quando há sociedades que passam por uma alta polarização, os conflitos que se geram devem ser resolvidos nos tribunais. E se os tribunais sofrem de intervenção, apresentar um recurso pode ser uma perda de tempo. Na Venezuela, desde 2004, os tribunais estão presentes para convalidar tudo o que o presidente diz... A possibilidade de que isso desencadeie abusos e situações violentas é evidente. É para isso que há o órgão regional, que tem como função velar pela vigência do Estado de Direito e a separação de poderes. Instituições como a OEA existem justamente para

gerar condições diplomáticas que permitam uma correção ou um ajuste nesse âmbito.Vocês têm sido muito críticos com o presidente Uribe, da Colômbia.

É que a Colômbia possui um dos maiores escândalos em matéria de Direitos Humanos da história recente da América Latina. Nesse país continuam morrendo sindicalistas, com

total impunidade. No ano pas-sado, registraram-se 49 casos. Em 2007, foram 39. Houve um aumento, e essas são as cifras mais altas do mundo. Além disso, há 1,7 mil casos que atualmente estão sendo investigados pela fiscalização de execuções extrajudiciais do exército. Este é o único país da América Latina em que quase a quarta parte do Congresso está sujeita a uma investigação penal e a metade presa por vínculos com o narcotráfico e as máfias. Também estão documentados os reiterados ataques contra a Corte Su-prema a ponto de denunciar falsos delitos cometidos por juízes que investigam essas causas.Não há ideologia aí?

Os projetos de Chávez e de Uribe são muito diferentes. Mas sua atitude frente às ins-tituições democráticas, frente ao Estado de Direito, frente à liberdade de expressão, frente à sociedade civil, à necessidade de impulsionar um sistema de respeito às liberdades públicas e sobretudo de controle cida-dão e institucional é muito parecida. São dois lados de uma mesma moeda.

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DEBATES ECONOMIARO

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Asolução parcial para um dos graves problemas do mundo neste mo-mento, a debilidade da

demanda global, resultou ser surpreendentemente simples: basta que os bancos chineses deixem de emprestar tanto dinheiro aos EUA e, em vez disso, emprestem aos seus próprios cidadãos.

E é isso o que está aconte-cendo. E funciona. A atividade na China aumentou 8% no primeiro semestre e quase to-dos preveem que cumprirá, ou superará a meta de um número semelhante para todo o ano de 2009, graças ao crescimento do consumo interno.

O fato de o mundo ter uma locomotiva de reposição, mesmo que ainda pequena, é indiscutivelmente uma boa notícia. A pergunta é se isso se sustentará uma vez que a crise passe.

Não é um pergunta banal. O modelo de desenvolvimento da China, focado na exportação de manufaturados ao maior mercado de consumidores do mundo, os EUA, levou nos últimos anos a uma relação de persistente desequilíbrio entre ambos os países. O gigante asi-ático recebia dólares em troca de suas exportações, acumulava multimilionárias reservas em dólares e financiava a dívida dos EUA. O que gerou um excesso de liquidez na economia dos EUA, que por sua vez foi uma

das principais causas da bolha financeira que desencadeou a atual crise mundial.

Mas entre as medidas toma-das para minimizar os efeitos da crise e recuperar o crescimento não houve muitas que apon-tassem uma solução para essa desigualdade, que pode afetar toda a economia global. “Será a principal preocupação logo que sairmos desse período”, declarou recentemente Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial.

Até agora, a China conse-guiu identificar o alcance que pode ter o modelo de desen-volvimento alternativo que lhe permitiu resistir à crise. “Isso se deve a que, durante a primeira metade de 2009, a demanda doméstica da China substituiu as exportações como principal impulsionador do crescimento”, diz Sherman Chan, economista do Moody’s em Sydney. O governo chinês lançou um plano de estímulo equi-valente a 4% de seu PIB. Parte sob a forma de cupons de des-conto para bens de consumo em zonas agrícolas, que foi chamado de “caminho ao Oeste”. Mas Chan estima que esse giro é temporário, “já que se deve a um apoio

O persistente desequilíbrio entre China e Estados Unidosajudou a criar a atual crise fi nanceira. O problema é que isso não tem data para acabar Rodrigo Lara Serrano

SEM CONTRAPESO

massivo do governo, que é claramente insustentável” no longo prazo.

Alguns, inclusive, acham que a nova locomotiva ameaça ser de sabão: a liquidez excessi-va poderia gerar várias bolhas. No RGE Monitor, serviço de análise da economia, célebre por ter previsto a atual crise, Nouriel Roubini afirma que “dada a ausência de oportu-nidades na economia real, os investimentos especulativos aparecem como alternativa razoável”. Em tal caso, “isso levará a altos preços nos mer-cados de ações e imobiliário”, o que obrigaria uma reação dos

bancos, estourando as bolhas e elevando as taxas de juros.

Dois sinais indicam que algo assim poderia ocorrer. Os níveis de depósito nos bancos estão aumentando lentamente e as ações subiram muito. Isso, entretanto, não implica neces-sariamente más notícias. “Por enquanto é difícil estimar uma catástrofe que possa levar a China ao estancamento”, diz Francisco Garcés, especialis-

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ta em economia chinesa, em Santiago do Chile.

O mais provável é que, passada a fase mais aguda da crise, esse problema se reverta: é realista esperar que o poder de demanda da China substitua de forma importante o que os EUA deixaram de consumir? “Até onde atualmente se pode ver no horizonte, não, não é realis-ta”, diz o brasileiro Alexandre Espírito Santo, diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM, no Rio de Janeiro. O motivo disso é que “a socieda-de norte-americana consome quase nove vezes mais que a chinesa, e isso considerando que existem mais chineses que

norte-americanos.” Além disso, “o PIB da China ainda é muito inferior ao dos EUA e isso não vai se alterar, a não ser que os norte-americanos vivam uma recessão prolongada enquanto os chineses voltem a crescer 10% ao ano”, diz, coisa pouco viável dado o atual cenário.

De fato, a China precisa

continuar sendo a grande fábrica do mundo. “A China garantiu uma posição sólida como centro da manufatura mundial e será muito difícil desbancá-la”, diz Chan. E não apenas pela questão do baixo custo, “pois também há seus níveis de qualidade: por exemplo, todos os custos de produção costumam ser mais baixos no Vietnã, mas a China ainda atrai muito mais empresas porque sua qualidade é a melhor entre os centros de manufatura baratos do mundo”.

A ALTA DA MOEDA DO POVOIsso indica atritos com os

Estados Unidos quando este se recupere, graças à eterna discussão em torno do nível de equilíbrio entre o yuan renminbi (moeda do povo, mais conhecida como yuan) e o dólar. À qual se agrega uma nova: a responsabilidade norte-americana pelo desastre ao tirar proveito de sua moeda ser a

de referência mundial. “Vale destacar que a crise financeira global que vivemos deve-se a que o dólar é a moeda de re-serva internacional e a moeda do comércio internacional”, diz Huang Zhilong, pesquisador especialista em economia mundial do Instituto de Es-tudos Latino-americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Beijing.

ABERTURA COMPLETAEle lembra que “o governo chinês possui mais de US$ 800 bilhões em bônus do Tesouro que sofrerão uma forte perda. Por isso, uma mudança da situação atual é a estratégia chinesa no longo prazo.” E que o país já começou a im-plementar. Desde dezembro de 2008, o banco central chinês assinou acordos de swap de moedas equivalentes a 5% de suas reservas em moeda estrangeira. Coreia do Sul, Malásia, Bielorrúsia, Indonésia e Argentina encontram-se en-tre os escolhidos. “Penso que esses acordos são para preparar a abertura completa da conta de capital do renminbi (RMB) e criar condições externas favoráveis para que o RMB seja uma das moedas usadas como reserva internacional no futuro”, diz o economista chinês, lembrando que a conta de capitais da China não se abriu completamente pois ainda há muitos controles aos investimentos de curto prazo e de portfólio, e por isso o RMB ainda não é uma moe-da que possa ser convertida livremente.

“Em um prazo de cerca de 20 anos a conta chinesa de capital estará completa-mente aberta, quando o PIB dos países industrializados e o chinês serão semelhantes ou um pouco mais baixos do que o dos EUA”, diz Huang Zhilong.

Para Garcés, existe ainda uma segunda condição a ser resolvida para que o yuan-RMB tenha destino de moeda de reserva, “a rule of law nos EUA é bastante forte. E a Chi-na ainda não conta com isso. É preciso que se institucionalize mais; mas 20 anos pode ser um prazo razoável, sempre que consigam desenvolver os mercados financeiros e sua institucionalidade”.

Essa é a linha seguida pelo projeto de converter Xanghai no centro financeiro do pla-neta. “Tenho participado de reuniões promovidas anual-mente pelo prefeito de Xanghai para discutir esses temas. Eles trabalham seriamente para transformar a cidade em um centro financeiro global. Mas levará tempo”, diz Garcés, “apesar de o tempo dos chi-neses ser diferente do nosso”, afirma. Joga a seu favor o fato de “a potencialidade da baixa do Yang-Tsé ser gigantesca: Hong Kong poderá prevale-cer uma década mais, mas se a China for bem-sucedida, Xangai acabará tendo mais importância”.

Como a acomodação en-tre os EUA e essa “nação reemergente”, como Espí-rito Santo gosta de definir a China, afetará a América Latina é algo que preocupa Roberto Bouzas, professor de Economia Internacional da Universidade de Buenos Aires. O mais provável é que a região continue abastecendo o país de matérias-primas. Outra opção para países como Chile e Peru seria “desenvolver uma indústria de bens de capital, sobre a base de recursos natu-rais; mas para o Brasil essa já não é uma alternativa viável, devido à sua magnitude.” O Brasil, quem sabe, terá que competir com a China. Da mesma forma que a China tem feito com os EUA.

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DEBATES ENTREVISTA

48 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

Hoje países como Brasil, Chile e Peru são inquestionáveis credores. Mas as necessidades de refinanciamento de dívida corporativa no curto e médio prazo em muitos países da região superam os US$ 100 bilhões. Isso não gerará um gargalo creditício quando a recessão acabar?

Esse comentário é perti-nente. Em termos macroeco-nômicos, a América Latina tem uma capacidade de poupança que, em média, representa mais ou menos 20% do PIB. Atualmente, está abaixo disso, em 18%. Na época de bonan-ça, estava em torno dos 22%,

23%. Para crescer a uma taxa sustentável, superior a 4%, 4,5%, é necessário investir ao menos 25% ou 26% do PIB. Há uma brecha entre a poupança e a necessidade de investimento. E falo da poupança dos governos, das empresas e das pessoas.De quanto seria?

Quando a economia se reativar, isso significará, em termos líquidos, mais de US$ 150 bilhões anuais, que terão que vir de fora da região.É uma brecha grande.

É onde estão os problemas.

Enrique García Rodríguez gosta de comparar a Cor-poração Andina de Fomento (CAF), instituição que dirige, com um guarda-chuva disponível em meio

a uma tempestade na qual a maioria dos outros guarda-chuvas permanece fechada. Vale destacar que se trata de uma das muitas instituições multilaterais que só agora começam a ser reconhecidas. E não apenas devido à crise, uma vez que já não é o banco adolescente dos anos 90. Hoje, expande-se rapidamente, tanto em número de países-membros quanto na magnitude de suas operações.De passagem por Buenos Aires, Rodríguez conversou com Rodrigo Lara Serrano, editor-adjunto de Améri-caEconomia, sobre possíveis problemas de pagamento de dívidas privadas na região e sobre os desafios para o “day after” da crise.

Enrique García, presidente-executivo da Corporação Andina de Fomento.

“POR QUE NÃO PODEMOS DAR O SALTO? É O GRANDE DESAFIOQUE TEMOS”

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O BRASIL É UM EXEMPLO POR TER CONSTRUÍDO UMA BOA BASE NOS ÚLTIMOS 20 ANOS

Os países que ocasionaram o caos – EUA e alguns europeus – estão levando adiante pacotes contracíclicos keynesianos, que são os mais indicados. Mas significam desequilíbrios fiscais muito grandes. Os EUA, por exemplo, terão este ano um déficit fiscal de 14% do PIB. Nos próximos três anos esse percentual vai cair, mas ainda estará acima dos 6% ou 7%. O mesmo acontece nos países europeus. Isso significa que os excedentes de poupança estão na China e em países petroleiros, que terão que financiar esse déficit. Ou seja, haverá uma concorrência muito forte.Nesse caso, o grau de investimento fará diferença entre os países e as empresas?

O corolário disso é que os países que tenham a me-lhor percepção externa de risco conseguirão maiores e melhores oportunidades. Agora vem a segunda parte. Apesar de hoje em dia a América Latina não ter um problema de dívida externa, porque a dívida pública tem melhorado, existe, sim, um tema delicado que é a dívida privada. Que no final do dia não tem implicâncias fiscais, mas sim nas contas externas. Esse maior ou menor acesso ao financiamento externo, é que pode complicar os Estados. Não será tanto um problema para eles mesmos: mas sim para as companhias. Porque há uma boa porção da dívida que foi tomada em anos de bonança e está amadurecendo.Qual seu vencimento?

Vencerá nos próximos dois anos e será preciso repô-la. Mas não é algo sem salvação.Quais países se veem mais debi-litados?

Não gostaria de julgar os países porque poderia come-ter alguma injustiça. Brasil e Peru realmente estão bem-posicionados. A percepção

externa do Brasil é muito positiva. Primeiro, por sua dimensão, e também porque tem demonstrado que, além da política, da alternância que pode haver entre governos, há uma constância, uma continui-dade das políticas básicas.Então haverá demanda maior do restante dos países?

Neste cenário regional, BID, Banco Mundial, CAF têm um rol especialmente in-

teressante. Não somente nesta fase que é contracíclica, em que é preciso abrir o guarda-chuva porque está chovendo e não há guarda-chuva, mas também no dia seguinte, para ajudar a mitigar riscos dos agentes externos.E como a CAF tem ajudado as empresas privadas?

Cerca de 30% de nosso financiamento vai diretamente ao setor privado. Quando se trata de grandes empresas ou grandes projetos privados, os financiamos de forma direta. Para as empresas médias, pe-quenas e micro, canalizamos os recursos através do sistema financeiro, seja público ou privado.Os bancos regionais privados estão historicamente bem-posicionados, mas se encontram paralisados, não?

Graças às 25 ou mais crises financeiras que a América Latina viveu nos últimos 25 a 30 anos, a região conseguiu melhorar a saúde de seus sistemas financeiros. E isso se observa no fortalecimen-to dos bancos centrais, nas organizações supervisoras e nos critérios aplicados ao sistema financeiro quanto à capitalização, a níveis de endividamento, etc. Hoje há

liquidez em vários países, mas os bancos não emprestam, e por isso entramos com recursos adicionais. A boa notícia é que no último mês observamos um menor uso de nossas linhas de crédito, o que significa que os bancos estão mais animados.Quanto à Bolívia, que por vários motivos tem se mostrado imune à crise, ela poderá sustentar essa situação no médio prazo?

Não há dúvida de que a crise chegou à Bolívia quando esta apresentava boas circuns-tâncias macroeconômicas. E isso se deve, em grande parte, à uma conjuntura externa extraordinária. Em 2007 a Bolívia registrou um superávit em conta corrente de 14% do PIB. Também teve superávit fiscal, reduziu sua dívida e isso lhe permitiu um alto crescimento. Apesar de que este se reduzirá em 2009, será um dos poucos países com crescimento positivo. Segundo as atuais condições, de cerca de 3%. Mas o grande desafio futuro será como retomar o investimento, porque é muito baixo. Será preciso aumentá-lo substancialmente e para isso o país terá que apresentar uma política explícita de atração do investimento privado, tanto nacional quanto estrangeiro.Antes da atual crise, houve um choque nos preços dos alimentos e da energia que golpeou a região. A CAF poderia impulsionar, junta-mente com o BID e o Banco Mundial, políticas que moderassem essa vulnerabilidade?

O importante para enfrentar o “day after” está em como apoiar os países na reforma não apenas macroeconômica, mas também microeconômica. Por-

que esse é o problema: quando há bonança das matérias-pri-mas, os avanços relacionados à transformação produtiva de setores mais diversificados, de maior valor agregado, às vezes voltam a ocupar um lugar secundário. Porque se os preços do petróleo, do gás, dos minerais sobem muitíssimo, as pessoas esquecem que isso é temporário, e que é preciso usar esse cenário favorável para

projetar-se ao futuro.Se tomarmos a Argentina com o “efeito soja” ou a Venezuela com o petróleo, pode-se dizer que sempre estamos sofrendo do “mal holandês”?

Acho que esse é o grande desafio: perguntar por que a América Latina recorrente-mente tem a mesma doença. Por que não podemos dar o salto.Por que não?

Pode ser por uma combina-ção de fatores. Talvez por não termos conseguido construir uma visão compartilhada de país, o que não quer dizer que cada um faça exatamente o mesmo. Agora, o fato de eu poder colocar mais ênfase em mais Estado ou mais mercado não faz com que a linha básica de certos assuntos mude. Quem observa a história da região identifica muitas mudanças de rumo, no âmbito econômico e no político. Acho que o Brasil é um exemplo, por ter construído essa boa base nos últimos 20 anos. Por isso existe essa boa percepção do País. Os governos podem mudar: mais de esquerda, mais de direita, Lula, FHC, outro. Mas o fundamental está aí. E esse é o desafio para os outros países.

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DEBATES AGROINDÚSTRIA

50 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

Quando em 2005 Roberto Rodrigues, então minis-tro de Agricultura, anun-ciou o Plano Nacional de

Agroenergia, disse que o setor sucroalcooleiro seria “uma das prioridades do Ministério”. Hoje, à frente do Centro de Agronegócio da FGV, em São Paulo, Rodrigues vê que o setor realmente avançou, e com ele as exportações. Em 2008, o Brasil exportou 5,1 bilhões de litros de etanol, 22,6% dos 22,5 bi-lhões de litros produzidos. Três

anos antes, quando anunciado o plano, as exportações foram de 2,6 bilhões de litros.

“A necessidade de combus-tível vai crescer, e o petróleo não vai cumprir com a demanda quando se trata de mitigar as emissões de poluentes”, diz hoje Rodrigues, que demonstra otimismo mesmo frente à atual desaceleração desse mercado. Em 2009 as exportações de eta-nol caíram e a expectativa é de que, no ano, haverá redução de 20% nas vendas internacionais,

sobretudo por conta da forte queda nas compras dos EUA, principal cliente lá fora.

E Rodrigues não está só em sua confiança. Mesmo frente às incertezas econômicas e à falta de consenso sobre tarifas entre países emergentes e de-senvolvidos, no longo prazo o mercado externo de etanol é visto positivamente por em-presas e analistas brasileiros . Com a III Conferência Mundial sobre o Clima em Genebra, no fim de agosto, um “novo”

Apesar da crise e das barreiras tarifárias, o setor do etanol brasileiro acredita na superação dos desafi os e lança as bases para impulsionar as ex-portaçõesSérgio Spagnuolo, São Paulo

OTIMISMO VERDE

protocolo de Kyoto em 2012 e o acordo do G8 de limitar a 2º C o aumento na temperatura até 2050, a demanda por ener-

gias renováveis começa a ser imperativa

para os

grandes consumidores de combustível, e, em se tratando de com-bustível veicular, o etanol deve encabeçar a lista. “O continuís-mo do petróleo é inconcebível com os novos padrões do G8”, diz Luiz Carlos Corrêa Carva-lho, da consultoria Canaplan. “Não tenho dúvida de que as questões ambientais pesarão mais do que as comerciais para o desenvolvimento do etanol.”

Nessa linha, a organização de pesquisa em sustentabilidade Worldwatch Institute recomen-dou, em um relatório divulgado em julho, o fim das tarifas ao álcool da cana-de-açúcar nos EUA, em detrimento ao etanol de milho, parecer que deve melhorar a imagem do produto brasileiro. “A perspectiva para o mercado externo é otimista, a questão ambiental é muito maior hoje”, diz Antonio de Pádua Rodrigues, diretor téc-nico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Mas é preciso eliminar obstáculos para chegar ao comprador externo. Primeiro, há a necessidade de criar um mercado internacional, tornan-do o álcool uma commodity. “É muito difícil fechar contratos de longo prazo pela dificuldade de precificação do etanol, que não tem ainda um indexador consolidado”, diz Adriano Dalbem, diretor comercial da empresa Brenco.

Desta forma, diz Pádua, da Unica, o mercado internacio-

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RECUPERAÇÃO DA DEMANDA NOS EUA AINDA É CHAVE

nal não pode se desenvolver plenamente. “Há etapas para que o etanol se torne uma commodity com contratos de médio e longo prazo, a fim de evitar bolhas de exportação.” Etapas como a certificação do produto, formação de preço e desenvolvimento mais claro de mercados.

LÍQUIDO E CERTOO que leva ao segundo obs-táculo a ser derrubado: se-gurança de fornecimento. “É necessário resolver algumas questões de confiabilidade de suprimento”, afirma Dalbem, da Brenco. Rodrigues con-corda, dizendo que ter uma perspectiva da produção dá mais garantias ao comprador externo. “O Brasil precisa ter uma definição de longo prazo do que será produzido”, diz o ex-ministro. Embora afirmem que o Brasil consegue suportar o aumento da demanda, espe-cialistas argumentam que para garantir o fornecimento não é necessário apenas garantir a produção, mas focar-se em legislações trabalhistas e am-bientais, na sustentabilidade do negócio e na melhoria dos canais logísticos.

E quando se trata de lo-gística, os investimentos são bilionários. A Brenco está viabilizando um projeto de construção de um alcoolduto de mais de R$ 1 bilhão, com 1.164 km ligando três estados produtores, e que deve ficar pronto no fim de 2011. “A exportação depende muito de um sistema eficiente de escoamento”, diz Dalbem. O consórcio PMCC (formado por Petrobras, Mitsui e Camargo Corrêa) e a Uniduto (formada por vários produtores de eta-nol, como Cosan, Crystalsev e Copersucar) estão em processo de construção de alcooldutos que visam principalmente a melhorar a logística para ex-

portação. Esses dutos também escoarão a produção de outras empresas, descongestionando muitos pontos viários e bene-ficiando questões de tempo de transporte e meio ambiente.

Mesmo os empreendimen-tos focados prioritariamente no mercado brasileiro já devem se preparar para vender para fora. A ETH, do grupo Ode-brecht, é uma delas. “Embora acreditemos que o mercado internacional não seja priori-tário no curto prazo, temos que começar a lançar as bases, em termos de relacionamento de mercado, logística e prepara-ção para quando os mercados internacionais começarem a se abrir”, afirma o presidente da companhia, José Carlos Grubisich.

Outra forma de garantir o suprimento de álcool é o Brasil vender tecnologia de fabricação de seu etanol a outros países. Pode parecer insensato perder o status de único exportador em grande escala de etanol avançado, mas o raciocínio é simples, diz Rodrigues. “Temos que começar a ganhar dinheiro ven-dendo inteligência de produção. Quanto mais países estiverem produzindo, mais mercado haverá”, diz o ex-ministro. Dessa forma, segundo ele, haverá também mais garan-tias de fornecimento e menos dependência dos compradores de um só fornecedor. “O Brasil é o único exportador mundial de etanol em escala, e nenhum pais vai trocar a dependência do petróleo por outra.”

Existe também a questão da produção de açúcar, que, com a alta demanda e status de commodity, poderia representar melhores negócios. Contu-do, concordam especialistas e empresários, o Brasil tem alta capacidade de produção para ambos os produtos, e o que muitas vezes se faz é um

gerenciamento de risco, com parte da safra usada para fazer etanol e parte para açúcar, como faz a ETH. “Isso acontece para justamente nos dar a possibi-lidade de gerenciar a caracte-rística cíclica da indústria, e da volatilidade de preços e de rentabilidade”, diz Grubisich. Pádua completa: “garantir su-primento é ter um contrato com prazos e não adianta produzir etanol demais e esperar que o comprador venha.”

Por conta do potencial consumidor de combustível veicular, EUA e Europa ob-viamente são atraentes aos

exportadores brasileiros. Mas não são os únicos. Pela falta de consenso em negociações comerciais, como a Rodada de Doha, e a relutância em abraçar o etanol de forma mais abrangente no curto prazo, as empresas nacionais começam a olhar também para a Ásia. “Estão se abrindo mercados na Indonésia, Filipinas, Japão, China, toda a região, onde haverá crescimento da venda de veículos”, diz Carvalho, da Canaplan.

De acordo com a Unica, o volume de etanol exportado nos três primeiros meses da safra 2009, de abril a junho, foi de 985 milhões de litros, contra 1,1 bilhão no mesmo período do ano anterior. As exportações aos EUA caíram quase 350 milhões de litros, e Caribe e Europa se mantiveram próximos dos níveis passados. O resultado das exportações só não foi pior, segundo a associa-ção, por causa das exportações à Ásia, especialmente à Índia, Japão e Coreia do Sul, embora

grande parte do produto não tenha ido para uso veicular. Mas a Cosan, por exemplo, já fechou um contrato de parceria com a Mitsubishi para vender ao Japão etanol para a produção de ETBE, que é um oxidante da gasolina. Os volumes podem chegar a 80 milhões de litros por ano. A Brenco venderá indiretamente também ao Ja-pão, após fechar contrato com a norte-americana Lyondell-Basell, no ano passado, para a produção de ETBE.

De qualquer forma, a Ásia não deve puxar o mercado ex-terno de etanol sozinha, e uma

recuperação na demanda dos EUA é chave para o sucesso das exportações brasileiras no longo prazo. O país lide-rou a lista de exportadores em 2008, com 1,5 bilhão de litros, enquanto o Japão, por exemplo, foi o quinto maior (263 milhões) e a Coreia do Sul, o oitavo (186 milhões). “O grande mercado vai ser o norte-americano, e não há alternativa para eles a não ser etanol avançado”, afirmou Pádua, da Unica.

Apesar do consenso de que o consumo interno de álcool no Brasil continuará sendo prioritário aos produtores lo-cais até onde se pode enxergar, as bases para uma eventual abertura do mercado interna-cional estão sendo preparadas com afinco e ninguém duvida que o País conseguirá atingir seus objetivos de ser grande fornecedor mundial de etanol. “Eu acho que é uma tendência irrecorrível, e a necessidade vai superar as barreiras existentes”, afirmou Rodrigues.

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AGRICULTURA DEBATESAB

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Agricultor brasileiro, potencial beneficiário

MAIS DINHEIRO NA PORTEIRA

Odescompasso entre dis-curso e ação pode ser extremamente nocivo na arena do comércio

global. Basta lembrar que as negociações em Doha por maior liberalização no comércio mun-dial travaram principalmente pela insistência dos países desenvolvidos em manter generosos subsídios aos seus produtores rurais. Não à toa, o anúncio do governo brasileiro, no final de junho, de que vai aumentar em 37% o volume de créditos agrícolas do Plano Agrícola e Pecuário (PAP), para R$ 107,5 bilhões na safra 2009-2010, levanta questões a respeito da credibilidade do País para cobrar uma postura

coerente dos países ricos em relação ao tema. No ano pas-sado, os R$ 65 bilhões para o financiamento da safra já re-presentaram aumento de 217% em relação ao financiamento de cinco anos antes.

Analistas do setor, porém, afirmam que existem diferenças cruciais entre a política agrícola brasileira, a dos EUA e a de pa-íses europeus. “O crédito aqui é concedido com base em juros reais, acima da inflação. Além disso, o setor paga impostos”, diz José Vicente Ferraz, diretor técnico da Agra/FNP, consulto-ria brasileira especializada em agronegócios. “Lá fora, ou o produtor é isento de impostos ou paga menos do que recebe

em subsídios diretos.”Segundo Ferraz, há di-

versas formas de subsidiar a produção agrícola, que vão de mandar “o chequinho” pelo correio até conceder incentivos financeiros por área plantada ou produtividade. Através do crédito também é possível. Mas a fórmula, afirma, é muito difícil de administrar e, em função disso, caiu em desuso em todo o mundo. Mais comum é o sistema de escala tarifária de importações, que garante aos produtores locais preços mínimos para a comercialização de seus produtos. A política agrícola brasileira, segundo o consultor, não se enquadra em nenhum desses casos.

Governo brasileiro amplia crédito agrícola em 37%, mas aumento não deve enfraquecer argu-mentos contra subsídios nos EUA e UEDubes Sônego

André Nassar, diretor geral do Instituto de Estudos do Co-mércio e Negociações Interna-cionais (Icone), concorda. “O crédito rural tem muito pouco efeito subsidiador.” Além dis-so, afirma, ao contrário do que acontece em países como os EUA, o crédito é dividido entre um número grande de produtos e restrito a um perfil de agri-cultor. Nem todos estão aptos a captar o dinheiro ofertado pelo Governo Federal.

No ano passado, segundo Cesário Ramalho da Silva, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), 17% dos recursos disponíveis ficaram parados. Este ano, por conta da situação de cadastro e en-dividamento dos produtores, a previsão é de que até 30% do dinheiro permaneça sem tomadores, “apesar da extraor-dinária necessidade de capital dos produtores”, diz Silva.

Para Nassar, do Icone, o preocupante não é a amplia-ção do crédito agrícola, em si, que costuma suprir cerca de um terço das necessidades dos produtores. Mas sim a de-pendência que o apoio estatal pode gerar em alguns segmen-tos. “O algodão brasileiro, por exemplo, seria competitivo? O que preocupa é que governo compense deficiências de infraestrutura com subsídios, mesmo que em níveis tolera-dos por instituições interna-cionais”, diz. Segundo ele, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômica (OCDE), por exemplo, con-sidera tolerável a subvenção de até 10% do valor total da produção agrícola, em países em desenvolvimento, e de 5%, nos desenvolvidos.

Por este critério, diz Ferraz, da Agra/FNP, o Brasil nem aparece na lista de países com maiores subsídios agrícolas, encabeçada por União Euro-peia, Japão e EUA.

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FINANÇAS BOLSA DE VALORES

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Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx:Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.

Foi ao som de uma animada banda de jazz que os con-vidados para o pregão de lançamento da Visanet se

reuniram, na manhã do dia 29 de junho, na BM&F Bovespa, em São Paulo. Um ambiente quase festivo, conversas animadas e um café da manhã antecederam a maior e mais bem-sucedida IPO (oferta inicial de ações) do ano até então, não apenas no Brasil, mas no mundo. Apesar do momento de incerteza em relação aos rumos da economia

global, a empresa levantou R$ 8,4 bilhões, cerca de 80% junto a investidores estrangeiros. E reforçou as esperanças dos que veem no fato um sinal concreto de retomada do mercado acio-nário brasileiro, fonte de bilhões em financiamentos até meados de 2008. “É possível fazer um paralelo com a Natura, que em 2004 representou a abertura do Novo Mercado. Atrás de-la vieram ‘cem’ outras. Hoje, retomamos o financiamento através do mercado de capitais

Ritmo de abertura de capitais como o de 2007 no mercado de ações brasileiro não voltará logoDubes Sônego, São Paulo

no Brasil”, disse Edemir Pinto, diretor-presidente da BM&F Bovespa, na ocasião do IPO da Visanet – que um mês depois tinha as ações cotadas em R$ 17, com alta de 13%.

De fato, ofertas subse-quentes de ações (follow-ons)têm movimentado o mercado acionário brasileiro. De junho para cá, a administradora de shoppings BR Malls colocou à venda R$ 727 milhões com uma oferta primária e secun-dária; a construtora MRV, R$ 722 milhões; a Hypermarcas, fabricante de bens de consu-mo, R$ 690 mil reais; a Light, do ramo de energia, R$ 707 milhões. E, para julho, era aguardada ainda a oferta da Brasil Foods, resultado da fusão Sadia/Perdigão – além dessas, a Natura divulgou uma oferta secundária em breve, e o Santander admitiu que es-tuda a possibilidade de uma bilionária emissão na bolsa. A intensidade e o ritmo da retomada que seria represen-tada por essas ofertas, porém,

dividem especialistas. Para os mais otimistas, por

trás do presente sucesso da bolsa brasileira – que chegou a cair de 73 mil para 29,4 mil pontos, no auge da crise, e no fechamento desta edição estava por volta dos 54 mil pontos –, estariam fundamentos sólidos de uma economia calejada por sucessivas crises. Percalços financeiros nos últimos 15 anos teriam transformado o país em uma ilha de segurança institucional, com opções de investimento lucrativas, em meio ao caos. “O que a crise fez foi mostrar para o mundo que isso é verdade”, diz Paulo Oliveira, diretor-executivo de desenvolvimento e fomento de negócios da BM&F Bovespa. E, em função do aumento da confiança, acrescenta o execu-tivo, o movimento de investi-dores estrangeiros no mercado de capitais brasileiro estaria apenas começando. “Não tem comparação com 2007 (auge do mercado acionário brasileiro, em número de IPOs). Mas, o

RETORNO EM BANHO-MARIA

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DEMANDA MAIOR DEVE SER POR OFERTAS SUBSEQUENTES

movimento atual continua, não é um espasmo”.

É uma opinião comparti-lhada, pelo menos em parte, por Arturo Bris, professor de finanças da escola de negócios suíça IMD. Bris diz que dois fatores explicam as bem-sucedidas ofertas públicas de ações recentes no Brasil. Um deles é uma retomada, ainda que lenta, das operações desse gênero também nos EUA e na Ásia. O segundo fator, este sim relacionado aos fundamentos da economia local, seria a mudança gradual do centro de gravidade do sistema financeiro dos países desenvolvidos para os em desenvolvimento. “Os Brics estão muito atrativos”, afirma.

A maioria dos analistas, contudo, sugere que o momento ainda é de cautela. “Existem dúvidas quanto à retomada dos EUA e, em função disso, os investidores ficam cautelosos na hora de fazer investimentos de longo prazo, como ações”, diz Haroldo Moura Vale Mo-ta, professor de finanças da brasileira Fundação Dom Cabral. No início de julho, por exemplo, novos dados sobre a evolução do desem-prego nos Estados Unidos apontaram o agravamento da situação econômica além das previsões mais pessimistas. O ritmo de demissões, que vinha caindo, cresceu, e o índice de desemprego alcançou 9,5% da população economicamente ativa, o pior desde 1983. Na Europa, a situação era seme-lhante.

Para alguns analistas, como Milton Wagner, da Wagner Investimentos, no início de julho as perspectivas eram mais nebulosas que agora, com indicadores que sugeriam uma tendência de retomada da baixa nas bolsas e aumento da aversão ao risco: queda de commodities, revalorização do

iene contra o euro e a queda no preço da gasolina nos EUA, em pleno período de férias, quando a demanda por conta de viagens deveria ser maior. A safra de balanços do primeiro semestre nos EUA melhor do que o esperado dissipou as preocupações imediatas do consultor, que avalia que só voltarão “se o preço corrente da Bovespa tornar a romper as concentrações de médio prazo e cair abaixo de 49,5 mil pontos e o dólar contra o real superar os R$ 2,02”. Para Wagner, porém, o FED manter o juro em 0% é sinal claro de que está convencido de que ainda enfrenta um período de “doença econômica”.

Ricardo Almeida, professor do Insper (ex-Ibmec São Pau-lo), chama a atenção também para o fato de as empresas brasileiras que estão realizan-do ofertas terem motivos ou características singulares. A MRV, por exemplo, é uma das construtoras de maior rentabilidade no mercado de construção; a BR Malls tem entre os principais acionistas o Grupo GP de investimentos, experiente em operação de fi-nanciamento através da bolsa; a Perdigão está indo ao mercado como parte do processo de fu-são com a Sadia; a Light fará a oferta porque acionistas como o BNDES querem se desfazer de parte de suas ações, e o mesmo acontece com a Natura. “A própria Visanet fez uma oferta 100% secundária”, diz. Em função das características das ofertas, afirma Almeida, a sensação não é a de avanço, mas de consolidação.

Com a queda na taxa básica de juros no Brasil, ele acredita que poderá haver migração de recursos para a bolsa. Mas a preferência dos investidores, nesse caso, tende a recair sobre ofertas subsequentes de ações de empresas já estabelecidas,

com números, perspectivas e gestores conhecidos do mer-cado. E não sobre IPOs. Uma tendência bem explicitada pela própria MRV, que deverá usar 65% do dinheiro captado em projetos em andamento e para capital de giro. “Há demanda no mercado por alternativas de investimento. É interessante como ela pode lançar ações sem perder o controle.”

A análise de Almeida é reforçada por números recen-temente divulgados pela con-sultoria internacional Dealogic, que acompanha as operações nos mercados de ações e fusões e aquisições no mundo. De acordo com seu relatório sobre o primeiro semestre do ano, houve crescimento apenas no

número de operações e no vo-lume em dinheiro levantado em ofertas subsequentes de ações (28% e 27%, respectivamente). Em IPOs, as quedas foram de 72% e 82% e, em ofertas de conversíveis, de 32% e 59%, em todo o mundo.

Outro fator que aumenta a desconfiança dos investidores e dificulta uma retomada mais rápida e consistente do mer-cado é o histórico de entrega de resultados de muitas das empresas que foram à bolsa se financiar no período de bonança – em parte, argumen-tam muitos analistas, porque os bancos de investimentos as lançaram apressadamente para aproveitar o bom momento do mercado e ganhar suas co-missões por isso. “As pessoas aprenderam com 2007. Muitas empresas não entregaram o que prometeram”, afirma Álvaro Bandeira, economista-chefe da

Ágora Corretora. Dos 64 papéis lançados no Novo Mercado e no Nível 1 de governança da Bovespa em 2007, apenas dez apresentavam valorização no dia 29 de maio deste ano, em relação à data de lançamen-to. Em alguns casos, a queda superou 90%. “A Visanet foi vendida por R$15 e dois dias depois já estava em R$ 18. Digamos que R$ 18 fosse o preço justo. Os controlado-res venderam com deságio. É preciso colocar um preço razoável para que o comprador possa ter lucro”, diz Keyler Carvalho Rocha, professor de FEA-USP.

E a desvalorização das ações, em si, nem é o pior, na avaliação de Bandeira, da

Ágora. O principal problema é a redução da liquidez das ações, que torna difícil vendê-las. Por isso, diz o economista, “os próximos lançamentos terão que ser de qualidade”.

Mas, mesmo que haja demanda por ações, o que pode não haver é oferta. “É preciso que haja uma melhora no patamar de preços para que a oferta seja interessante também para quem vende”, diz Bandeira. Isso, afirma, estaria por volta dos 65 mil pontos da bolsa. “O mercado teria que subir ainda 20%, 25%”, avalia o analista. “As empresas podem querer es-perar o mercado se firmar mais”. Uma espera que, em tempos como os atuais, pode ser mais longa do que muitos gostariam. O que significa que o mercado continuará a ser regido mais por cautela que por euforia.

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FINANÇAS ANALISTAS

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EM FRALDAS

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Cristina Acle inclina a cabeça, esfrega os olhos e respira fundo. “Às vezes é desespera-

dor”, diz. “Estou há dois anos neste cargo e já se foram dois analistas jovens, um deles recém-saído da universidade. Duraram pouco mais de um ano. Eles chegam com a ideia de que estão na universidade, de que a análise de ações é para aprender, um passo para outros cargos, e se vão. E eu volto a ter que treinar outro analista.”

Cristina, diretora de análise de ações da CorpResearch, parte do grupo financeiro chileno Corpgroup, sabe que ela é algo raro na indústria. Há 15 anos se dedica à mesma coisa: análise de ações para distintas corretoras de bolsas locais. “Casos como o meu são dez em todo o país, se chegar a tanto.”

Os analistas das correto-ras de bolsa, que no jargão são conhecidos como sell side (já que se encarregam de vender ideias de inves-timento), enviam todos os dias centenas de milhares de relatórios a seus clientes, se-jam do buy side (investidoresinstitucionais, como fundos de pensões e companhias de seguros) ou investidores individuais. Algumas destas recomendações de comprar, vender ou manter, originadas

Lentamente, a análise de ações na América Latina começa a se profi ssionalizarEduardo Thomson, em Santiago, e Dubes Sônego, em São Paulo

de analistas bem conhecidos no mundo financeiro e de especialistas nas áreas ou empresas que cobrem, são esperadas com ansiedade equivalente a de crianças antes do lançamento do novo livro de Harry Potter.

De fato, nos mercados fi-

nanceiros desenvolvidos como Estados Unidos e Europa, é frequente ver analistas sell side com décadas de experi-ência e que são destacados por conhecer as empresas e setores que cobrem de cima a baixo. Na América Latina, contudo, a situação é muito

diferente. Basta ir a qualquer seminário sobre temas finan-ceiros em qualquer cidade importante da região: se no coffee break se ver alguém com rosto de bebê, barba nova e espinhas, é provável que seja um analista júnior de ações. Se aparentar mais

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SEM BONS RELATÓRIOS, É IMPOSSÍVEL ATRAIR INVESTIDORES INSTITUCIONAIS

de 30 anos, é provável que seja um analista sênior. Se possuir mais de 35 ou cerca de 40, o mais provável é que trabalhe em outra seção do banco de investimento, como trader ou portfolio manager,ou diretamente em outro setor. “Fui trabalhar expressamente com a intenção de aprender, por uns dois de anos, ganhar experiência e emigrar”, diz um ex-analista de ações chileno, que prefere não divulgar o nome, pois acaba de assumir um cargo de importância jus-tamente em uma empresa na qual atuava como analista.

Mas isto decorre de ób-vias falhas, como muitos na indústria acusam. Como é vista como uma plataforma de aprendizagem e por ter os relatórios elaborados entregues gratuitamente aos clientes das corretoras, a análise de ações é tratada pelos bancos de investimento na América Latina como um gasto. E, como departamento, não recebe recursos suficientes para reter talentos. Isto faz com que uma pessoa que já passou dois anos cobrindo uma empresa e está conseguindo captar a atenção de fund ma-nagers emigre facilmente. A qualidade do research, natu-ralmente, sofre.

Francisco Suarez, diretor de análise da corretora mexi-cana Actinver, não concorda completamente. Ele possui mais de 10 anos como ana-lista em distintas corretoras. “É lógico que os quadros de análises estejam se enchendo de sangue novo”, diz.

De todo modo, em alguns países, de fato, a análise de ações é incipiente. Edgar Ji-ménez, analista da corretora colombiana Interbolsa, rela-ta que na Colômbia, há uns cinco anos, com o aumento no volume de transações de renda variável na bolsa local,

começaram a surgir análises de qualidade. Mas que em muitas instituições de investimento, com a exceção das grandes como a mesma Interbolsa ou o Bancolombia, o departamento de análise de ações consiste em uma só pessoa. “Em outra corretora que trabalhei, às vezes um cliente me ligava e perguntava sobre o setor financeiro e os bancos. Então eu tinha que saber tudo sobre colocações, carteiras vencidas etc. e logo após me ligava al-guém querendo saber sobre a Ecopetrol, e tinha que saber sobre commodities, poços petrolíferos, reservas”.

No Brasil, no entanto, com o crescimento vertiginoso da bolsa em 2006 e 2007, houve uma corrida para capacitar e certificar analistas – o Brasil é o único país da América

Latina que exige uma certi-ficação para poder escrever e assinar recomendações de compra ou venda de ações. Sendo assim, no país há 1.117 analistas certificados, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários, co-mo explica Osmar Camilo, analista da corretora paulista Socopa. “Planos de fazer car-reira como analista no Brasil são ainda pouco frequentes”, acrescenta. Quando analisa-dos os últimos ganhadores do ranking de analistas de ações latino-americanas da revista especializada Institutional Investor, o analista de maior idade identificado na lista tem 36 anos.

Alejandro Olea, que ad-ministra em Nova York um fundo de investimento de ações latino-americanas de baixa

capitalização para a empresa chilena Moneda Asset Mana-gement, diz que cada vez mais na região estão sendo feitas melhores análises de ações, em particular no Chile e no Brasil, mas há algumas defi-ciências no setor. “A análise de ações se concentra entre as ações mais líquidas. Se alguém está considerando comprar uma ação que não compõe o índice principal, é preciso contar, então, com uma análise própria”. Olea também acusa algo no comportamento de manada dos analistas. São muito poucos os casos nos quais um analista se atreve a ‘vender’ se o resto do mercado diz ‘comprar’.

Cristina, da CorpResearch, concorda. “É uma prática que não gosto e que quero desestimular, mas sei que os

analistas de distintas corretoras se ligam e se perguntam: ‘qual preço alvo tem para tal ação?’ Eles se preocupam em estar muito longe do preço-alvo da concorrência”.

MAIS DINHEIROA solução a grande parte de todos esses temas passa por melhores salários e recursos. Justamente no Brasil, onde se estaria fazendo a melhor análise de ações na região, os salários para analistas têm subido muitíssimo. Ra-fael Gregori, que trabalha no escritório em São Paulo da empresa headhunter Michael Page, diz que um analista em uma corretora grande pode ganhar em média o equiva-lente a US$ 7 mil por mês, enquanto para um analista sênior este número sobe para

US$ 9,5 mil, isto tudo sem incluir bonificações.

Para Jorge Astaburuaga, que dirige a mesa de renda variável para a corretora chilena LarrainVial, e que começou como analista de ações elétricas na mesma corretora, uma prova de que a tendência estaria mudando na América Latina é que o diretor do departamento de análise da companhia, Leonardo Suárez, é sócio da empresa. “E creio que é questão de tempo para que outros analistas de carrei-ra também sejam nomeados sócios”, diz.

Toda esta mudança provirá do aprofundamento dos mer-cados de capitais da região. “À medida que isso acontecer”, afirma Wagner Salaverry, sócio-diretor da corretora brasileira Geração Futuro, “o

trabalho do analista passará de um serviço de simples valor agregado à atividade de corretagem para algo que diferencia as instituições umas das outras.”

Astaburuaga concorda. “Se quer atrair os grandes clien-tes institucionais, um fundo de investimento grande dos Estados Unidos ou Europa, é preciso ter uma boa aná-lise. É preciso ter opinião”. Assim, da próxima vez que receber uma recomendação de investimento de uma cor-retora, antes de ligar para seu trader e ordenar uma compra ou venda, pegue o telefone, chame o analista que assina sua análise e lhe pergunte quantos anos tem.

Com Lisia González, Cidade do México

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Sol 3.0P

ode-se dizer que o bra-sileiro Caio Bonilha re-cor reu às fontes. Co-fundador e gerente geral

da consultoria Brampton Telecom, em Campinas, ele se especializou no desenvol-vimento de redes de energia. Pesquisou várias tecnologias e, entre estudos e análises, viu que a energia solar era uma solução rentável em zonas remotas nas quais a energia de rede não chega, como na Amazônia ou nos Andes. Por que não buscar o caminho para que a energia solar seja algo além de um recurso isolado ou totem de partido verde?

Não demorou muito para encontrar especialistas. Entrou em contato com o Laboratório de Nanotecnologia e Energia Solar, LNES, da Universidade de Campinas, e decidiu ofi-cializar o empreendimento. Junto a Agnaldo de Souza Gonçalves, pesquisador do mesmo laboratório, fundou em 2008 a Tezca Células Solares, spin off universitário incubado pela Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec). E, rapidamente, obteve patente e um produto próprio: o TezcaFlez.

A Tezca também tinha a promessa de reduzir custos pela metade. “O investimento não foi impensado; buscava

know-how, mas um know-howespecífico: em células foto-voltaicas de terceira geração. São muito mais econômicas de produzir e vão revolucionar o mercado”, aposta Bonilha, que se tornou assim o primeiro fabricante latino-americano de células fotovoltaicas de terceira geração.

As células de terceira gera-ção foram desenvolvidas em 1990 na Escola Politécnica Fe-deral de Lausanne (EPFL) por Michael Grätzel. Essas células fotovoltaicas buscavam imitar a fotossíntese das plantas, que converte a luz solar em energia acumulada. Feitas às vezes de clorofila, as células solares

de terceira geração utilizam pigmentos que absorvem a luz em uma solução de dió-xido de titânio – substância utilizada em pinturas brancas ou dentifrícios que age como condutor elétrico –, e por isso sua produção não necessita dos estados de pureza exigidos pelas células tradicionais à

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Tezca, um spin off da Universidade de Campinas, promete baixar os custos da energia solar imitando a fotossíntese, e se posiciona na vanguarda da tecnologia Juan Pablo Dalmasso

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base de silício, cuja fabri-cação é tão complexa como a de um microprocessador. Além disso, a terceira geração permite trabalhar com menor radiação lumínica e pode ser desenvolvida em formas variadas e flexíveis, multipli-cando as aplicações, dizem os especialistas. “Queremos que nosso desenvolvimento seja totalmente integrado no Brasil, com produtos locais e abundantes no mercado, o que o tornará fortemente compe-

titivo, com um desenho que permita a montagem imediata em produtos de terceiros.”

Com apoio da Financia-dora de Estudos e Projetos (Finep), a Tezca tem um plano de investimento supe-rior a US$ 10 milhões, para montar uma planta piloto e começar a produzir a partir de

2011. Primeiro desenvolverão células para alimentar dispo-sitivos utilizados de maneira remota, como censores ou alimentadores dos sistemas de piscicultura. Depois querem ampliar a outras aplicações como dispositivos portáteis, vestimentas e a fabricação de painéis para alimentar edifícios.

Seguindo esta tendência, por exemplo, a Samsung lançou este ano o Blue Earth, um celular touchscreen que, além de utilizar materiais re-ciclados, possui baterias que podem recarregar em uma hora apenas utilizando as células solares colocadas em sua parte posterior. Também a japonesa NTT DoCoMo anunciou para setembro o Solar Hybrid SH-08A, um telefone de carga híbrida que com 10 minutos de carga solar permitirá chamadas de um minuto de duração. Já a Sony anunciou, em meados de 2008, o desenvolvimento de células fotovoltaicas com eficiência de nível comercial.

Companhias como a Ge-neral Motors começaram a incluir painéis solares nos tetos de suas instalações com o plano de reduzir seu consumo de energia em 20%, começando por suas plantas californianas de Cucamon-ga e Fontana. Além disso, o mercado já fala de megapro-jetos como o Desertec, con-sórcio apoiado pela Munich Re, maior resseguradora do mundo, para investir US$ 560 bilhões ao longo de 40 anos na construção de megacon-centradores de energia solar que, esquentando a água, moveriam turbinas que gera-riam eletricidade para levar à Europa, e cobrir 15% de sua demanda para 2050.

Extravagância ou não,

durante a última década a demanda por células foto-voltaicas cresceu a um ritmo anual de 30% a 40%, para em 2008 chegar a uma capacidade instalada de 5,95 GW, segundo a consultoria especializada Solarbuzz. Isso representou vendas de US$ 37 bilhões, segundo a consultoria. E os analistas tendem a ser oti-mistas sobre o futuro: estudo publicado pela consultoria McKinsey estima que a ca-pacidade instalada mundial crescerá entre 20 e 40 vezes até 2020, para representar entre 3% e 6% da capacidade instalada mundial. Em termos de geração, o sol passaria a participar entre 1,5% e 3% da geração mundial. Um número que parece insignificante, mas que representa “20% da nova geração”, advertem os autores do estudo.

Por um lugar ao solAs razões de semelhante explosão não são apenas o medo do aquecimento glo-bal. A melhoria tecnológica e a concorrência prometen-do baixar os preços, que de fato já caíram 24% durante o primeiro trimestre de 2009 contra o mesmo período do ano anterior, também influem nesse resultado. E “nos próxi-mos cinco anos esses preços podem melhorar 40% mais”, assegura Graham Stevens, diretor associado da Navigant Consulting. Uma ótima notí-cia, a ponto de especialistas em energias renováveis como Arnaldo Vieira, do Banco Interamericano de Desenvol-vimento, afirmarem que este é “o cenário perfeito” para que os países da região invistam em energia solar.

Mas o cenário perfeito em questão poderá não ser tão bom para Bonilha e os pes-

quisadores da LNES. Afinal, isso significa um aperto nas margens das companhias, difi-cultando o surgimento de start ups, dizem os analistas.

Por outro lado, também é preciso ver se a nova tecno-logia se consolida no longo prazo. A escolhida pela Tezca tem como ponto negativo o fato de que sua eficiência de conversão – a quantidade de luz que pode ser convertida em eletricidade – ainda está abaixo da de seus concorrentes tradicionais. “Enquanto uma célula de silício rende 11%, em média, as células de pigmento têm eficiência que ronda os 7% ou 8%”, observa Ivo Hüm-melgen, do Departamento de Física da Universidade Federal do Paraná.

E, apesar deste ponto ser compensado pelos menores custos de fabricação, quem aposta no silício não tem ficado de braços cruzados. A empre-sa1366, por exemplo, spin offdo MIT, está trabalhando para duplicar a vida útil das células de 20 a 40 anos, ampliar a eficiência a 20% e reduzir os custos à metade.

Sem contar que a eficiên-cia econômica é relativa, já que o preço da rede é muito mais baixo em países como o Brasil, que tem a energia hidroelétrica e eólica como alternativa. “Apesar de ser o país com maior insolação, é certo que a energia não está na agenda governamental; nós nos financiamos pela nanotecnologia”, admitem na Tezca. “Mas não estaremos no mainstream se não apon-tarmos ao desenvolvimento de novas aplicações, o que não pode ser medido porque ainda não está no mercado”, diz Caio Bonilha, em Cam-pinas. Tudo para garantir um lugar ao sol.

AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 59

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ADOLFO WATERHOUSE

INTERFACES

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A LOUCA VIDA COTIDIANA COM AS MÁQUINAS INTELIGENTES.

Em 1892 Thomas Edison garantiu que transformaria os EUA em um país inexpugnável frente a

uma eventual invasão chilena – sim, essa briga existiu. Utilizaria para isso uma nova superarma: um jato de água eletrificada de 20 mil Watts. Inimigo molhado, inimigo fulminado.

Edison, inventor da cadeira elétrica e magnata milionário, recebeu loas massivas da mídia nacionalista. Mas foi W.E. Bailey, membro da Electric Manufacturing Company, quem jogou um balde de água fria – não-eletrificada – sobre a ideia. Comentou que lhe pareceu “muito divertido o esquema do Grande Mágico (Edison) para matar inimigos em uma guerra contra o Chile” e que isso fosse tomado tão a sério pelo país. “Ele nunca conse-guiu produzir corrente alternada e a sugestão demonstra que não entende as suas aplicações práticas.”

Diz-se que é comum aos gênios acertar o prego, mas nem sempre na cabeça. A própria cadeira elétrica foi resultado de um acidente publicitário: Edison – que buscava manter o uso massivo de corrente contínua (DC) ao invés da alternada (AC), a criou para demonstrar a extrema periculosidade da eletricidade AC oferecida por seus concorrentes, Georges Westinghouse e Nikolai Tesla.

Esse não é o único aparato nascido de um acidente ou de um capricho tão inteligente quanto previamente im-provável. Há poucos dias celebrou-se os 30 anos do walkman, avô do iPod, criado – diz a lenda – porque Masaru Ibuka, cofundador da Sony, queria uma unidade para jogar tênis.

E algo parecido pode estar a ponto de ocorrer com o CrunchPad, que parece destinado a universalizar verdadeiramente e de forma quase onipresente o acesso à internet. Trata-se de uma tela através da qual se pode navegar pela web com um simples toque. Não é um mininotebook, tampouco o tablet computer que,

segundo rumores, a Apple desenvolve em segredo.

Então, o que é? É uma janela portátil de acesso à internet. Uma tela de mão com um nanoprocessador ou um Intel Atom, 1 GB de RAM e 4 GB de memória flash. Possui um teclado virtual que pode ser ativado na tela. Tem conexão a cabo e WiFi, câmara e alimentação por baterias. A Resolução? 1024×768. Grossura? 16 milímetros. Preço estimado? US$ 300. Inventor? Um blogueiro.

Um blogueiro?! Bom, talvez Mi-chael Arrington não seja um blogueiro comum: advogado corporativo, criou o blog TechCrunch (www.techcrunch.com). Ele não tinha nenhuma experiên-cia prévia como fabricante ou designerde hardware. Tudo começou porque queria navegar através de uma tela, e ninguém se dispunha a fabricá-la. Assim, depois de armar protótipos, lançou a start-up CrunchPad para fabricá-los. No caminho, encontrou um sócio de quem os pioneiros da internet talvez se lembrem: Louis Monier, ex-fundador e CTO do AltaVista, que o tornou uma das primeiras pessoas do mundo a fabricar um motor de busca. É também um ex-Google e um ex-eBay. Já pelo lado do software chegaram os audazes jovens de Cingapura que integram a FusionGarage (www.fusiongarage.com/), empenhados na ideia de um browser que possa rodar sem um sistema operacional.

Talvez o CrunchPad de Arrington revolucione – por acidente – nossa forma navegar. Marque uma revi-ravolta na web, de um espaço que basicamente opera com fluxos de texto, sons e imagens a outro em que esse fluxo seja de “telepresenças”. Ou seja, de uma extensão do contato real, do corpo presente. Entraremos, e este é apenas um exemplo, na era do design de sites com “volume”, em que a “profundidade virtual” será tão ou mais importante do que as palavras.

SIM, TELEPRESENÇA MÓVEL

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CLICS & CHIPS

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Anel mãos livresO Orb Bluetooth Headset não é somente um anel. Também é o acompanhante ideal para seu celular. Ao receber uma liga-ção, o acessório vibra e pode ser aproximado à orelha para se ouvir. As mãos fi cam livres graças a um alto-falante inte-grado. Começará a ser fabricado no ano que vem e seu preço será de US$ 175.www.absolutelynew.com

Alta fidelidade

O Sennheiser HD800 é um luxo para os ouvidos. Leves e cômodos, esses fones – fabricados à mão em aço inoxidável – são maiores que os habituais para melhorar os graves e deixar o som mais natural. O único inconveniente é seu preço: US$ 1,4 mil.www.sennheiser.com

DVD sobre rodasO receptor de áudio com DVD da Pioneer cobre todas as necessidades de conectividade, design e acústica requeridos em um carro. O modelo AVH-P3150DVD possui tela de 5,8 polegadas e está equipado para reproduzir múltiplos formatos. Custa US$ 850.www.pioneer.com

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MIL

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QUEDA INÉDITAValor dos inventários de empresas nos Estados UnidosFonte: United States Census Bureau

CAPITAL ABERTO

62 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

Nos últimos trimestres, as empresas em todo

o mundo fizeram um ajuste extraordinário para enquadrar-se nas condições extremas do contexto econômico da crise. À maior, mais rápida e mais sincronizada queda de demanda da qual se tem memória, agregou-se o colapso do crédito com a consequente incapacidade de aceder a fontes tradicionais de endividamento. As empresas frearam brusca-mente a produção e entraram em uma corrida frenética para transformar em caixa parte importante de seu investimento em capital de giro operacional. Esse processo consiste na redução mais rápida dos in-ventários e contas a cobrar que a de suas contas a pagar. Foi

isso, levado a cabo de forma bem-sucedida pela maioria das empresas, que permitiu gerar os extraordinários níveis de caixa que o setor corporativo teve que transferir ao sistema financeiro, que cobrou taxas mais altas e deixou de renovar os créditos. O enorme retro-cesso dos inventários nos EUA durante este ano é testemunha da magnitude desse processo (ver gráfico). Um ajuste semelhante foi feito pelas famílias com a postergação da compra de bens duráveis e do consumo em geral. Nos Estados Unidos, as famílias e o setor corporativo juntos, que até pouco tempo atrás apresentavam taxas negativas de poupança, já se encaminham para conquistar níveis de poupança não vistos desde o início dos anos 80.Mas nem todas as empresas conseguiram fazer essa eco-nomia com a mesma eficácia e muitas ficaram no meio do caminho. Particularmente afetadas foram aquelas que normalmente

operam com escasso capital de giro ou inclusive capital negativo, como os setores de comércio, transporte e serviços. Paradoxalmente, o fato de poder cobrar antes de pagar o que se deve – algo habitual na indústria manufatureira e primária e que em tempos normais é símbolo de efici-ência –, transforma-se em uma carga pesada quando a empresa reduz drasticamente a escala de suas operações. As entradas de caixa por vendas caem, mas é preciso continuar pagando os fornecedores.E os desafios não terminam por aí, mesmo para as empre-sas que conseguiram superar com sucesso o pior da crise. A demanda ainda deve recu-perar-se, e é preciso que isso aconteça rápido. Esses níveis reduzidos de produção não permitem pa-gar os

custos fixos operacionais e financeiros que a atual estru-tura das empresas impõe. Se a demanda não se recuperar energicamente, a questão já não será de ajuste conjuntural como foi até agora, e exigirá uma reestruturação muito mais profunda. E, se isso acontecer, no momento em que a demanda efetivamente se recuperar, o retorno a níveis de produção mais razoáveis exigirá um forte investimento em capital de giro. E não é óbvio que o sistema financeiro estará preparado para prover financiamento. O que está claro, sim, é que a gestão de uma empresa vai muito além do puramente operacional.

Quando a demanda mundial se recuperar, será necessário um importante investimento em capital de giro. E não está claro se o sistema financeiro está preparado para issoMatías Braun*

DA MÃO PARA A BOCA

Centro de Inovação Financeira,Universidade

Adolfo Ibáñez

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NEGÓCIO FECHADO

AGOSTO, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 63

PEDRO E MARIO BRESCIA:EXPANSÃO INTERNACIONAL

Grupo BresciaO grupo peruano negociou a compra das operações da empresa de cimentos francesa Lafarge no Chile por US$ 555 milhões. O acordo contempla a venda de 84,2% da empresa chilena, antes conhecida como Cementos Melón, e uma oferta pública pelo restante das ações. A Lafarge fez um plano de vendas de ativos secundários de aproximadamente 1 bilhão de euros na Turquia, Bélgica e Canadá.

>> AIGComo parte de seus planos para levantar capital vendendo ativos não essenciais e pagar os cerca de US$ 175 bilhões em ajuda fi scal, o grupo de seguros norte-americano AIG decidiu vender sua participação em distintas empresas na Colômbia. Vendeu sua fatia acionária na empresa de créditos de consumo Inversora Pichincha e Interdico a seu sócio equatoriano no empreendimento, o Banco Pichincha, e outras empresas. Não foi informa-do o montante da operação.

>> BRASIL FOODSA empresa de carnes, formada pela fusão de Sadia e Perdi-gão, captou aproximadamente US$ 2,8 bilhões por meio de uma oferta pública de ações na bolsa BM&F Bovespa em São Paulo. As duas empresas anunciaram a fusão em maio. O dinheiro levantado com as ações será usado para pagar a dívida da Sadia, que chega a US$ 4,2 bilhões.

>> DURATEXA produtora brasileira de produtos de madeira anunciou um plano de fusão com sua compatriota Satipel, que criará o maior produtor de painéis industriais de madeira do hemisfério Sul e um dos maiores do mundo. O acordo, que tem um valor de apro-ximadamente US$ 1 bilhão, contempla que a Satipel emita 350 milhões de ações que serão passa-das aos acionistas da Duratex.

>> GOLA companhia aérea GOL anunciou um acordo com a norte-americana American Airlines para planos de viagens frequentes e códigos com-partilhados. O acordo permitirá aos usuários dos respectivos programas obter e cobrar milhas em ambas as empresas e deve assentar as bases para um acordo de código compar-tilhado, que começará a vigorar no último trimestre do ano.

>> IBERDROLAComo parte de um plano de vendas de ativos não essenciais, o

grupo espanhol de energia elétrica decidiu vender suas participações nas empresas elétricas chile-nas Iberoamericana de Energía (Ibener) e da Empresa Eléctrica Licán à chilena Compañia General de Electricidad (CGE), por 212,5 milhões de euros (pouco menos de US$ 300 milhões). A Ibener opera duas centrais hidrelé-tricas no Sul do Chile, enquanto a Licán está construindo uma planta também no Sul do país.

>> KROTON EDUCACIONALO grupo brasileiro, operador de insti-tuições de educação primária e supe-rior, anunciou que o grupo de private equity Advent investirá o equivalente a US$ 150 milhões na holding controladora da Kroton. Por meio de uma injeção de capital, o Advent passará a controlar 50% da holding, chamada Pitágoras Adminis-tração e Participação, e indiretamen-te 28% da Kroton.

>> LARRAINVIALA empresa chilena de serviços fi nanceiros anunciou um acordo com o grupo de administração de ativos Compass Consórcio para fundir suas operações de administração de fun-dos mútuos. O acordo criará a maior administradora de fundos mútuos de bancos no país, com aproxima-damente US$ 2 bilhões em ativos. A LarrainVial terá 75% de participação e o Consórcio terá os 25% restantes.

>> MYSPACEA rede social on-line Myspace anunciou um acordo com a Fox In-ternacional Channels (FIC), parte da NewsCorp, para a promoção do Mys-pace na Espanha, Brasil, Argentina e México. A FIC passará, assim, a ser

responsável pelo marketing e venda de publicidade nestes mercados para a rede social. Entre os canais da FIC estão Fox, FX, National Geographic Channel e The History Channel.

>> PROSEGURO grupo espanhol de serviços de vigilância, segurança e transporte de valores, está comprando na América Latina. Neste mês anunciou a aqui-sição da brasileira Norsergel, por 58 milhões de euros (cerca de US$ 83 milhões), e também comprou as perua-nas Orus e Orus Seguridad, por US$ 25,7 milhões.

>> SACYR VALLEHERMOSOUm consórcio encabeçado pelo grupo de construção espanhol com a italiana Impregilo foi criado para a construção de eclusas no Canal do

Panamá. A oferta inclui a cobrança de US$ 3,12 bilhões pelos trabalhos, sob o preço máximo de US$ 3,48 bilhões fi xado pela Autoridad del Canal de Panamá. A oferta da Sacyr e da Impregilo superou as apresentadas por um consórcio liderado pela Bechtel e uma parceria que incluía a ACS e a Acciona.

>> VALEA Vale chegou a um acordo com a alemã ThyssenKrupp para elevar sua participação em uma empresa de ambas. Pagará 965 milhões de euros (cerca de US$ 1,37 bilhão) para ampliar de 10% para 27% sua participação na ThyssenKrupp CSA Siderúrgica do Atlântico Ltda. A CSA está construindo uma usina siderúr-gica que começaria a operar em 2010 com capacidade de cinco milhões de toneladas métricas ao ano.

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RAIO X

64 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

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CUBA

“Resolver” é uma palavra com conotações especiais em Cuba. Resolver é o que um pai de família faz quando

compra frango pela porta dos fundos mesmo que na fachada da mercearia esteja escrito que não há carne. É também o que faz o motorista do Lada com placa ofi cial quando trans-porta alguém a mais dentro de seu trajeto em troca de alguns pesos para comprar gasolina. Resolver, em resumo, é tudo aquilo que os cubanos fazem para sobreviver em meio à es-cassez.

Esse verbo, um dos mais comumente usados na ilha, está por ganhar ainda mais relevância, quando Cuba parece se dirigir ao que muitos já classifi cam como um mini “período especial”, ou uma versão reduzida do difícil período econô-mico vivido pela ilha depois do fi m da União Soviética.

“O governo já deu início a um processo de racionamen-to”, diz Jaime Suchlicki, diretor do Instituto de Estudos Cubanos e Cubano-Americanos, que acompanha de perto a economia da ilha. “A crise no abastecimento de alimentos é preocupante, mas era de se esperar, pois o regime importa grandes volumes de alimento e agora não conta com moeda forte.”

Segundo as autoridades cubanas, os racionamentos são consequência direta da crise fi nanceira internacional, à qual a ilha não está imune. A crise está reduzindo as principais fontes de renda de Cuba – o turismo e as exportações de níquel – além de ter opacado a possibilidade de acesso ao crédito para fi nanciar as importações.

As importações de alimentos caíram no ano passado exatamente quando as autoridades buscaram compensar as perdas nas colheitas provocadas por três furacões que atin-giram o país, gerando perdas de mais de US$ 10 bilhões.

GESTÃO DA ESCASSEZRacionamentos indicam novo período de difi culdades em CubaAntonio María Delgado, Miami

“Foi necessário reajustar o plano de crescimento, reduzindo o consumo de itens como o combustível. Porque o país não pode tirar do bolso mais do que entra”, reconheceu na mídia ofi cial o vice-ministro de Economia e Planejamento Julio Vázquez Roque.

Nenhuma das medidas chama mais a atenção do que a ordem de restringir o consumo de energia elétrica por uma ou duas horas diárias, dependendo da região do país, mesmo continuando a receber 95 mil barris diários de petróleo da Venezuela. Esses envios de petróleo, a maioria dos quais não se paga com dinheiro, seriam sufi cientes para cobrir as ne-cessidades da rede elétrica da ilha. Isso faz com que alguns observadores avaliem a possibilidade de o governo estar sen-do obrigado a revender parte do petróleo para obter dólares.

Mas nem todos defendem essa versão. Jorge Piñón, ex-executivo do setor de petróleo, pesquisador da Universidade de Miami, afi rma não achar que Havana esteja vendendo pe-tróleo. “Acho que se trata de um esforço de Raúl Castro para

que Cuba não dependa mais do petróleo da Venezuela, já que pensam que esse país já enfrenta seus próprios apertos devido à queda do preço do produto”, diz Piñón.

Mas, independentemente do motivo, não há dúvidas de que os racionamentos difi -cultarão ainda mais a vida de milhares de cubanos, levando muitos deles a buscar, por seus próprios meios, formas de re-solver as complicações diárias derivadas da escassez. Fonte: CEPAL

CIFRAS RANÇOSAS

2003 2004 2005 2006 2007 08e

POPULAÇÃO (MILHÕES) 11,2 11,4 11,7 11,9 12,1 12,4

PIB (US$ MILH.) PREÇO CONST. 33.202 35.117 39.051 43.763 46.941 -

PIB PER CAPITA (US$) 2.962 3.127 3.474 3.890 4.173 -

VARIAÇÃO % PIB 3,8 5,8 11,2 12,1 7,3 4,3

DESEMPREGO % 2,0 1,9 1,9 1,9 1,8 1,6

EXPORTAÇÕES 4.237 5.044 7.440 7.538 8.578

IMPORTAÇÕES 5.182 5.854 7.363 8.867 8.770

BALANÇA COMERCIAL -945 -810 77 -1.329 -191

Últimos dados ofi ciais disponíveis

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VISÕES

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O que leem

The Opposable Mind. How successful leaders win through integrative thinking, de Roger Martin, fala sobre tomada de decisões e sugere a conciliação entre diferentes op-ções para a resolução de problemas. O autor apresenta o chamado pensamento integra-dor, bem como suas aplicações no mundo dos negócios.

Cómo gestionar el clima laboral, de Ma-nuel Giraudier, é um guia prático sobre diferentes situações, como estas afetam o clima no trabalho e como administrá-las. Por isso é um excelente material para quem lidera grupos de pessoas, pois serve de guia para melhorar as relações humanas nas organizações.

Leio A Atitude Vencedora, de John C. Maxwell. Nele o autor reforça a ideia de que é a atitude frente às coisas que permite que um líder passe ao nível seguinte. Também sustenta que a ati-tude dentro de um grupo é contagiosa e é a força princi-pal que predispõe alguns e destroça outros, determinan-do assim o triunfo ou o fracasso.

Pablo MassúGerente comercial BVMConsultoresChile

Alfredo VercelliPresidente Educaria InternacionalArgentina

María Lorena GutiérrezDecanaEscola de Negócios Universidade de los AndesColômbia

Siete días en el mundo del arte

Sarah ThorntonEdhasa

Buenos Aires2009

US$ 15

Não há dúvida de que se Sarah Thornton pusesse sobre o chão da galeria de arte Blum & Poe em Los Angeles as 47 cadernetas azuis nas quais se

encontram as notas de 250 entrevistados formais que partici-param de sua pesquisa sobre o mercado e o mundo das artes plásticas, poderia vender esse registro de sua “instalação” a algum colecionador. Mas, para isso, primeiramente teria que ter renunciado a escrever Siete días en el mundo del arte, livro no qual resume três anos de viagens nos quais trabalhou como etnógrafa, buscando descrever a vida e os valores das sete tribos que, conjuntamente, criam essa máquina múltipla: a Artistalândia.

Aí convivem o artista milionário britânico Damien Hirst com sua caveira humana com diamantes incrustados; o monástico norte-americano Michael Asher, que até hoje vendeu uma só obra (uma bolha de plástico, em 1966); e o ambíguo, mas encantador, Phillipe Ségalot, um dos donos da consultoria de arte Giraud, Pisarro, Ségalot, cujo lema é “fazemos com que as pessoas comprem as obras que nós compraríamos se tivéssemos dinheiro” (e com “pessoas” se referem aos 20 multimilionários que assessoram, entre os quais François Pinault, dono da Christie`s).

O trabalho dessa historiadora da arte e socióloga é, sem dúvida, jornalismo no sentido mais nobre do termo: um retrato dinâmico cheio de fortes evidências, experiências vividas e detalhes de interpretação incerta. Nessa obra, ela disseca e revive a operação dos leilões, a tensão no concurso de arte mais famoso do mundo (Turner Prize), a paixão e a perplexidade das aulas em um mestrado em Arte, as lutas por poder entre as galerias e feiras de arte como a Art Basel, a realidade da criação semi-industrializada de artistas

como Takashi Mu-rakami, a influência e os conflitos na revista do tema mais influente do planeta e a festa da Bienal de Veneza.

Cada um deles em estritas 24 ho-ras. Tempo no qual condensa, à medida que transcorre uma atividade, tudo o que aprendeu como observadora. Visível e invisível. Apoiada ou detestada.

E o que descobre? Que a arte é a única atividade humana que pode ser uma paixão secreta, um negócio milionário, uma vocação imperturbável, uma aventura única, um trabalho banal, um consolo efetivo, um criador de status instantâneo, uma religião moderna, uma maldição insu-portável e uma atitude em autodefinição mutante... tudo de uma só vez.

Como diz o artista Keith Tyson: “o resto trata de vender-lhe alguma coisa. A arte trata de que você compre a si mesmo”. E por isso é que o artístico multiplica um valor quase do nada, tal qual destaca Robert Storr, curador de uma das bienais venezianas: “a grande arte é, essencialmente, um trabalho que demonstra ser inesgotável em termos do valor que oferece àqueles que lhe dedicam atenção”. Ou seja, o único garfo livre permanentemente.

Rodrigo Lara Serrano

ARTISTALÂNDIAETNÓLOGA MERGULHA NA CONVIVÊNCIA COM AS SETE TRIBOS QUE DÃO FORMA AO MERCADO E AO MUNDO DA ARTE E DESCOBRE QUE AÍ HÁ MUITO MAIS DO QUE SE PENSA

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LINHA DIRETA

66 AMÉRICAECONOMIA / AGOSTO, 2009

MEDO AO VOLANTE

Éuma manhã de julho e as ruas de Lima estão inusual-mente livres. É dia útil e em pleno horário de pico de tráfego matutino, o carro que me transporta avança como um tiro, sem o ruído de buzinas, as cortadas

ou os engarrafamentos tradicionais da capital peruana. Não é exatamente uma surpresa: há semanas vinha sendo anunciada uma greve do transporte coletivo devido à decisão do gover-no de aumentar o valor das multas para quem não respeitar as normas de trânsito. E não escapou nada: das sanções por estacionar em lugar proibido às por dirigir alcoolizado, todas subiriam de preço. Uma medi-da malvista pelos milhares de motoristas de kombis e táxis, que movimentam uma das atividades mais dinâmicas da capital nos últimos anos, que ao se sentirem prejudicados resolveram desligar o motor e protestar. Com isso, geraram um alívio inesperado para os sortudos que possuem seu pró-prio carro ou que conseguiram tomar alguns dos táxis que não aderiram à manifestação.

Viajo frequentemente a Lima há mais de dez anos e sempre me chamou a atenção como a cidade tem melhorado em muitos aspectos – com exceção da forma de dirigir de seus motoristas. “O problema é pior agora porque há muito mais carros nas ruas”, diz o taxista dissidente que me leva a uma reunião. “Não entendo por que reclamam; se não querem que lhes passem multas mais caras, tratem de dirigir bem. É o que faço!”, diz enquanto me olha pelo retrovisor, muda de pista sem sinalizar previamente e atira-se sobre um carro que quase nos vem em cima.

Poderia ter sido só um caso divertido a mais, se não se repetisse mais tarde, nesse mesmo dia. Dessa vez eu era copi-loto no carro de um colega dono de uma pequena empresa de tecnologia, por sinal promissora. Seu 4x4 varria as ruas semi-vazias. “Os peruanos devem melhorar a forma como dirigem e para isso realmente é preciso fixar multas mais pesadas”, me dizia. E, ainda que não acredite, poucos segundos após esse comentário, meu motorista cruza um sinal vermelho – “era laranja”, argumentou – em um movimentado cruzamento

de San Isidro. “Bom, tampouco é preciso exagerar”, me diz, quando lhe chamo a atenção. Acabo me dando conta de que a tendência à imprudência é transversal quando, depois de uma reunião, um conhecido empresário do lugar me oferece uma carona a meu hotel, em seu luxuoso carro esportivo do ano, e percorre as ruas como em um jogo de videogame, mas sem vidas extras. “Aqui há muito cholo (índio) que tira proveito na hora de dirigir, e se você não dirige como eu, está frito”, comenta.

Pode ser um pouco exagerado, e meus colegas limenhos riem de mim quando entro em um carro e a primeira reação que tenho é colocar o cinto de segurança e abraçá-lo como Tarzan abraça um cipó – com os dois punhos unidos, como se preparasse o salto. Trata-se, porém, de um temor que não se repete quanto estou em Santia-go, Buenos Aires e São Paulo. Mas minha reação tampouco é irracional. Em 2008, somen-te na região metropolitana de Lima, morreram 628 pessoas em acidentes de carro. E, en-tre janeiro e março deste ano, foram 142. No caso mais dra-mático, um condutor bêbado

atropelou mãe e filho, e tentou fugir quando este último ainda estava no para-brisas.

Não são poucos os que já teorizaram sobre a relação exis-tente entre o cumprimento das normas de trânsito de um país e o respeito ao sistema legal como um todo. O raciocínio é simples: as regras para conduzir formam um dos corpos nor-mativos com os quais temos mais contato em nosso cotidiano, e por isso diz muito sobre nossa disposição a cumprir qualquer outro tipo de norma. No caso peruano, me atrevo a dizer que isso não ocorreu: a institucionalidade do país tem melhorado muito mais do que o comportamento de seus motoristas.

Mas é preciso olhar de perto o efeito do aumento do preço das multas e comprovar se é ou não a medida adequada para levar a cabo as profundas mudanças necessárias dentro da cul-tura automobilística peruana.

Felipe Aldunate M.FOTO

DIA

RIO

GES

TIÓ

N

[LIMA]

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O TEU FUTURO ESTÁ NAS TUAS MÃOS

CONHEÇA AS MAIS INFLUENTES ESCOLAS DE NEGÓCIOS“45 das 50 melhores escolas de negócios fazem parte da Tour” Fonte: BusinessWeek

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