Nicois Cruzados

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_________________________________________________ Mineralogia Óptica, Nardy, A.J.R; Machado, F.B, cap.V, pag.60 V -OBSERVAÇÃO DOS MINERAIS À NICÓIS CRUZADOS ORTOSCOPIA No sistema ortoscópico, ou seja, estando o analisador inserido no sistema óptico, as ondas de luz que passam através do polarizador e penetram em um cristal estão vibrando somente em uma direção. Ao atingirem um mineral anisotrópico, a luz se divide em dois raios que estão polarizados em planos ortogonais. Entretanto, entes dois raios, ao deixarem o mineral, são incoerentes e assim não interferem entre si. Quando eles atingem o analisador, para atravessa-lo, eles se combinam, produzindo uma onda resultante e gerando cores de interferência, assunto deste capítulo. Princípios de interferência da luz Para analisarmos o fenômeno de interferência entre ondas de luz, vejamos o comportamento físico de duas ondas de luz distintas, polarizadas em um mesmo plano ou em planos diferentes. Ondas polarizadas em um mesmo plano A Figura V.1 mostra o trem de ondas de um raio de luz que se propaga segundo a direção “OP”. Os vetores representados pelas letras “a1”, “a2” e “a3” apresentam a mesma direção, sentido e mesma amplitude de vibração. O mesmo ocorre para os pontos “b1”, “b2” e “b3”.Diz-se então que os vetores “a” (também os “b”) estão em fase entre si. Figura V.1 – Representação esquemática de um raio de luz “OP” polarizado verticalmente mostrando a diferença de percurso ou atraso (D) para um conjunto de pontos em fase (ex: a1, a2 e a3) e fora de fase (ex:.a1 e b1). Por outro lado, os vetores a1 e b1, têm a mesma direção, amplitude porém sentidos opostos de vibração, ou simplesmente, estão fora de fase entre si (Figura V.1). Denomina-se a distância entre dois pontos dentro de um mesmo trem de onda como diferença de trajetória ou diferença de percurso ou atraso ( D ) e é expressa em unidades de comprimento de onda (Å ou m μ ). Então a distância entre pontos que estão todos em fase entre si será sempre um número inteiro de comprimentos de onda : 2 3 2 1 , 2 1 1 : . 2 1 2 ..., , 2 3 , 2 , 2 1 l l l l l l = - = - b a b a Ex n Dl = Dl =2 O b3 a3 b2 a2 b1 a1 r1 P 3 2

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V -OBSERVAÇÃO DOS MINERAIS À NICÓIS CRUZADOSORTOSCOPIANo sistema ortoscópico, ou seja, estando o analisador inserido no sistema óptico, as ondas de luzque passam através do polarizador e penetram em um cristal estão vibrando somente em umadireção. Ao atingirem um mineral anisotrópico, a luz se divide em dois raios que estão polarizadosem planos ortogonais. Entretanto, entes dois raios, ao deixarem o mineral, são incoerentes e assimnão interferem entre si. Quando eles atingem o analisador, para atravessa-lo, eles se combinam,produzindo uma onda resultante e gerando cores de interferência, assunto deste capítulo.

Princípios de interferência da luz

Para analisarmos o fenômeno de interferência entre ondas de luz, vejamos o comportamento físicode duas ondas de luz distintas, polarizadas em um mesmo plano ou em planos diferentes.

Ondas polarizadas em um mesmo plano

A Figura V.1 mostra o trem de ondas de um raio de luz que se propaga segundo a direção “OP”. Osvetores representados pelas letras “a1”, “a2” e “a3” apresentam a mesma direção, sentido e mesmaamplitude de vibração. O mesmo ocorre para os pontos “b1”, “b2” e “b3”.Diz-se então que osvetores “a” (também os “b”) estão em fase entre si.

Figura V.1 – Representação esquemática de um raio de luz “OP” polarizado verticalmente mostrando a diferença depercurso ou atraso (D) para um conjunto de pontos em fase (ex: a1, a2 e a3) e fora de fase (ex:.a1 e b1).

Por outro lado, os vetores a1 e b1, têm a mesma direção, amplitude porém sentidos opostos devibração, ou simplesmente, estão fora de fase entre si (Figura V.1). Denomina-se a distância entredois pontos dentro de um mesmo trem de onda como diferença de trajetória ou diferença depercurso ou atraso (∆) e é expressa em unidades de comprimento de onda (Å ou mµ). Então adistância entre pontos que estão todos em fase entre si será sempre um número inteiro decomprimentos de onda :

2321,

211:.

212...,,

23,

2,

21 λλλλλλ =−∆=−∆+

babaExn

D l=

D l=2

O b3a3

b2a2

b1a1 r1

P

32

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Se admitirmos agora duas ondas de luz vibrando em um mesmo plano, sabe-se que estas duasondas de luz não permanecem isoladas mas sim, interferem ou combinam-se para produzirem ummovimento composto. Esta combinação, se faz através da soma vetorial entre as direções devibração de cada onda independente (ou ondas primárias), ponto a ponto, produzindo uma ondaresultante, conforme mostra a Figura V.2 onde, por exemplo, a soma dos vetores 1’ e 1” resulta emum vetor nulo, enquanto que a soma vetorial 2’ e 2” resulta no vetor 2.

Figura V.2 – Representação esquemática de dois raios de luz primários r1 e r2, que vibram em um mesmo planovertical estando defasadas em 3 5/8l. No destaque, a resultante obtida pela soma vetorial entre os vetores individuais.Observe que a onda resultante “R” é destrutiva pois possui sua amplitude “Ä” é menor do que as ondas primárias.

A onda resultante da interferência entre duas ondas de luz depende do comprimento de onda, daamplitude e da diferença de percurso ∆ entre as ondas primárias..

No caso de duas ondas primárias de mesmo comprimento de onda λ, mas com uma diferença depercurso nλ, teremos:

interferência construtiva : quando, a onda resultante apresenta uma amplitude (A) maior do que adas ondas primárias. Isto ocorrerá quando as ondas em interferência estão em fase, ou seja, “n” éum número inteiro.

interferência destrutiva: ou seja, a onda resultante apresenta uma amplitude (A) menor que do queas duas ondas primárias. Isto ocorrerá quando as ondas em interferência estão fora de fase, ou seja,“n” é um número fracionário, ( ponto A da fig. V.2).

Ondas polarizadas em planos perpendiculares – A função do Analisador

Duas ondas primárias que se propagam simultaneamente segundo uma mesma trajetória porémvibrando em planos perpendiculares entre si, não são capazes de se interferirem mutuamente, aomenos que elas sejam forçadas a vibrarem em um mesmo plano. Nesta situação a onda resultanteserá a soma vetorial de todos os pontos das ondas originais r1 e r2, conforme mostra a Figura V.3.Observe que esta é a função do analisador do microscópio e para que através dele só passe ondasresultantes devido a interferência de ondas primárias, ele está orientado de forma que a sua direçãode polarização esteja a 90o do polarizador inferior, conforme mostra a Figura V.3.

D l=3

O

2''

2'

21'

1''

1

r2

r2

r1

r1

58

R

A

P

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Figura V.3 – Esquema geral do funcionamento do Analisador no microscópio Petrográfico. A luz que deixa opolarizador, vibra segundo a direção PP. Ao atingir o mineral sofre o fenômeno da dupla refração surgindo os raios r1 er2 que vibram em planos ortogonais entre si. Ao atingir o analisador, r1 e r2 se combinam gerando uma onda resultante(R) segundo a direção de vibração do analisador ou AA, que se dirige ao observador.

Cálculo da diferença de trajetória ou percurso - atraso (∆∆ )

A luz polarizada incidindo sobre a superfície de um mineral anisotrópico colocado na platina domicroscópio, ao atravessá-lo será desdobrada em dois raios que vibram em planos perpendicularesentre si. Estes dois raios, no caso mais geral, possuem velocidades de propagação diferentes,proporcionais aos raios rápido e lento. Suponha que a velocidade de propagação do raio rápido nomineral seja igual a “V” e a do raio lento “v”, cujos índices de refração seriam então,respectivamente, “n”e“N”. Ao atravessarem o mineral de espessura igual a “e” como V>v, é claroque o raio rápido atingirá a face superior do cristal em um intervalo de tempo menor que o raiolento.

Supondo tr e tl, respectivamente os tempos gastos para que os raios rápido e lento atinjam asuperfície do cristal de espessura igual a “e” e como tr < tl, é claro que o raio rápido atingirá a facesuperior do cristal em um intervalo de tempo menor que o raio lento, assim o mineral teriapromovido um atraso, ou uma diferença de percurso D entre estes dois raios, ou seja, quando o raiolento atingisse a superfície superior do mineral, o rápido teria percorrido uma distância no ar,proporcional a D, conforme mostra a Figura V.4 e D seria então:

(1) D= c (tl – tr)

onde: c= velocidade da luz no ar ou vácuo

r1

r2

P

P

A A

r1

r2

AA

P

P

Luz Natural

Polarizador

Mineral

AnalisadorR

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tle

vetre

V ==

)(Ve

ve

c −=∆

A velocidade dos raios rápido e lento do mineral, seriam então:

(2)

Substituindo (3) em (1) temos: (3) ou (4)

Mas: (5) Então substituindo (5) em (1) temos:

D= e (N- n) (6)

A equação (6) indica que a diferença de trajetória ou atraso entre os raios rápido e lento, aoatravessarem o mineral, é função da espessura do mineral e da diferença entre os índices derefração das suas diferentes direções privilegiadas. O atraso é dado normalmente em mµ.

Figura V.4 – Um raio de luz (OP), ao atingir a superfície inferior do mineral sofre dupla refração, surgindo dois raios,um lento que vibra no plano de incidência e o rápido (r) ortogonal ao primeiro. O raio rápido atinge as superfícies domineral em um tempo Tr. Quando o raio lento atinge a superfície, em um tempo Tl, o raio rápido terá percorrido umadistancia D, provocado pelo mineral. Observe que ambos os raios tem comportamento ordinário.

Cores de interferência

As cores de interferência exibidas por um fragmento de mineral, a nicóis cruzados, são devidas àsdiferenças de percurso ( ∆ ) provocadas pelo mineral aos dois conjuntos de onda que emergem docristal e vibram em planos ortogonais entre si. Desta forma, como mostra a equação (6) o atraso,

)(Vc

vc

e −=∆

nVc

eNvc ==

Tl

Tr

e

P

O

••••

r l

Direção de vibração do raio lento Direção de vibração do raio rápido Tempo em que o raio rápido atinge a superfície do mineral Tempo em que o raio lento atinge a superfície do minera

Atraso promovido pelo mineral e Espessura do mineralD

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ou a cor de interferência de um certo grão mineral (∆), será proporcional à sua espessura (e) e adiferença entre os seus índices de refração (birrefringência = N-n= δ).

Observe que a expressão (6) corresponde a equação de uma reta, onde podemos escrever:

e = 1/(N-n) ∆ +0

y= a x + b

onde no eixo das abcissas estariam representados o valores do atraso (∆), no das ordenadas osvalores das espessuras (e) e (N-n) corresponderia ao coeficiente angular da reta, conforme mostra aFigura V.5.. Observe que a reta representada por esta equação passaria pela origem, pois o valor de“b” da reta seria igual a zero.

Figura V.5 – Representação gráfica da equação D = e(N-n), que configura uma reta. É nesta equação que se baseia a

carta de cores de interferência.

(N-n)e

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Variando-se dois coeficientes desta expressão, podemos obter um conjunto de retas acompanhadade um conjunto de cores de interferência conforme mostrado na Figura V.6, que constitui achamada carta de cores de Newton.

Figura V.6 – Principais elementos que constituem a carta de cores. Observe que cada ordem corresponde a umintervalo de 550mm (corresponde a média dos comprimentos de onda da luz visível que é, aproximadamente ocomprimento da onda emitida por uma fonte de luz monocromática de vapor de sódio).

Assim, as cores de interferência produzidas por diferença de percurso:∆ = 0 - 550 mµ ⇒ Cores de 1ª ordem – preto, cinza, amarelo, vermelho

∆ = 550 - 1100 mµ ⇒ Cores de 2ª ordem – violeta, azul, verde, amarelo, laranja, vermelho

∆ = 1100 - 1650 mµ ⇒ Cores de 3ª ordem – azul, verde, amarelo, vermelho

D > 1650mm ⇒ Cores de 4º ordem e acima – tonalidades de verde e vermelho

Cada ordem que consisti a carta de cores de Michael-Levy, é separada pela cor vermelho que serepete a cada intervalo de um comprimento de onda ou 550 mm. Observe que também há variascores que se repetem várias vezes, como exemplo o amarelo; 1º ordem (D = 260mm), 2ª ordem (D= 890mm) e a 3ªordem (D = 1140mm). Há também o caso de cores que são observadas apenas emuma ordem é o caso do preto e da cor cinza, e suas tonalidades, que ocorrem apenas em 1º ordem.

A repetição de certas cores de interferência em diferentes ordens pode ser explicada através de ummineral anisotrópico em forma de cunha, ou seja, com espessura variável de forma contínua,conforme mostra a Figura V.7. Enquanto a espessura de cunha produzir uma diferença de fase iguala haverá passagem de luz através do analisador a uma taxa de transmissão “T” igual a :

T = (sen2 180ºi)x100

0 200 400 600 800 1000 1200 14000,00

0,01

0,02

0,03

Esp

essu

ra(m

m)

Atraso - (m )D m

0,04

0,0

00

0,0

05

0,010

0,0

15

0,0

20

0,0

25

0,030

0,0

35

0,040

0,045

0,050

Birrefringência (N-n)

1 Ordema

2 Ordema

3 Ordema550 1100

)2

12( +n

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onde i = número inteiro correspondente a diferença de fase entre os raios de luz lento e rápido quedeixam o mineral.

Esta expressão é válida se admitirmos que os polarizadores estão orientados a 90º entre si e omineral esta em sua posição de máxima iluminação.

Observe que “T” assume um valor máximo quando (n = número inteiro qualquer), ouseja quando a interferência da luz assume um caráter destrutivo.

Por outro lado, quando i = nl, ou seja, a interferência entre dois raios de luz que deixam o mineralproduzirem uma interferência construtiva, conforme mostra a Figura V.7, com “T” = 0, não haverápassagem de luz pelo analisador.

Figura V.7 – Cunha de um mineral anisotrópico observada a nicóis cruzados mostrando que quando sua espessura (e)for tal a produzir uma interferência construtiva (nl) não haverá passagem de luz pelo analisador ao contrário quando ainterferência for destrutiva .

Efeito da rotação da platina e posições de extinção e máxima luminosidade

Um fragmento de mineral anisotrópico, apresenta duas direções principais de vibração, ou duasdireções privilegiadas (associadas a dois índices de refração principais) denominadas de raios lentoe rápido, que fazem um ângulo de 90o entre si1. Dependendo da posição destes dois raios emrelação as direções de vibração do polarizador inferior e analisador, que pode ser feita através domovimento de rotação da platina, teremos as seguintes situações extremas:

Posição de extinção:É quando as direções de vibração do mineral (ou direções privilegiadas) coincidem com as direçõesde vibração do polarizador e analisador. Nesta situação o raio de luz que deixa o polarizadorvibrando segundo uma certa direção (P-P) , ao incidir no mineral o atravessará e continuarávibrando segundo a mesma direção, pois coincide com uma direção privilegiada do mineral (a doraio lento ou a do raio rápido). Ao atingir o analisador, o raio será totalmente absorvido, pois estápolarizado perpendicularmente a ele e nenhuma luz será transmitida ao observador, conforme

1 isto só não ocorrerá quando o mineral seccionar a indicatriz segundo a direção de uma seção circular, eneste caso conterá apenas um único índice de refração (nω no caso dos minerais uniaxiais e nβ no casodos minerais biaxiais)

λ)2

12( += ni

l/2 1 l 2 l 3 l1l 2l 3l

1ª 2ª 3ª 4ª

D = 0 550 1100 1650 mm

12

12

12

e1 e2 e3

100

50

0 (%)

Luz transmitidapelo analisador

λ)2

12( += ni

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P

P

AA

r1

r2•

P

P

AA R45º

45º

mostra o esquema da Figura V.8. Diz-se que o mineral nesta posição está extinto ou em posição deextinção.

Figura V.8 – Mineral em posição de extinção onde suasdireções de vibração, r1 e r2, estão paralelas aopolarizador e analisador.

Posição de máxima iluminação:

Nesta situação, as duas direções de vibração (r1 e r2) do mineral formam um ângulo de 45° com oanalisador e polarizador, o mineral apresentará a máxima luminosidade, uma vez que a ondaresultante será a soma vetorial destas duas direções, que por sua vez coincidirá com a direção devibração do analisador, conforme mostra o esquema da Figura V.9. O mineral orientado nestascondições diz-se estar em sua posição de máxima iluminação ou luminosidade.

Figura V.9 – Mineral em posição de máximailuminação. Observe que a soma vetorial de suasdireções de vibração, r1 e r2 fazem um ângulo de 45ºcom os dois polarizadores (AA e PP).

Observe também que a soma vetorial de r1 com r2produz uma resultante R, que é coincidente com asdireção do analisador (AA).

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Qualquer outra posição dos planos de vibração do mineral em relação ao polarizador e analisador,diferentes daquelas extremas (extinção e máxima luminosidade), o mineral exibirá uma iluminaçãointermediária entre ambas.Na prática, para se localizar as posições dos dois planos de vibração do mineral este é trazido àposição de extinção pela rotação da platina. Nesta posição, os planos de vibração do analisador epolarizador são paralelos aos planos de vibração do mineral. Se a partir desta posiçãorotacionarmos a platina em 45° (no sentido horário ou anti - horário) atinge-se a posição de máximaluminosidade do mineral, ou seja, as direções de vibração do mineral estarão à 45° daquelas doanalisador e polarizador.

Os compensadores e as posições dos raios lento e rápido de um mineral

Dentre os acessórios utilizados em mineralogia óptica, os compensadores são os mais importantes,tanto é que os dois termos são empregados como sinônimos. Os compensadores são placas deminerais montados de forma orientada em uma estrutura metálica que lhes dão suporte. Três tiposde compensadores são empregados: i- de mica, ii- de gipso ou quartzo, iii- cunha de quartzo. Cadaum desses acessórios de compensação está dimensionado para ser introduzido na fenda acessóriado microscópio, imediatamente abaixo do analisador, de tal forma a interceptar e interagir comtodos os raios de luz provenientes do mineral.

Os compensadores se inserem no conjunto óptico do microscópio segundo a direção NW-SE, ouseja, formando um ângulo de 45o com os polarizadores. Como todo material anisotrópico, oscompensadores possuem duas direções privilegiadas de propagação da luz, perpendiculares entresi. Uma delas, corresponde ao índice de refração maior e é denominada por direção lenta, e a outrade índice de refração menor, designada por direção rápida.

Os compensadores são construídos de tal forma que paralelamente a sua direção de maiordimensão, tem-se a direção de maior velocidade de propagação da luz (raio rápido) e portanto, a90o desta posição, ou segundo a direção de menor dimensão do compensador, o raio lento (ou o demenor velocidade). Geralmente, acham-se gravadas no corpo metálico destes compensadoressomente a direção de menor velocidade, com uma seta e pela letra γ, conforme mostram as FigurasV.10, V.11 e V.12.A principal função desses compensadores é acentuar ou compensar o atraso entre os raios lento erápido que emergem do mineral em análise na platina do microscópio. Os atrasos produzidos porestes compensadores são de ¼λ ou 140 mµ para o de mica e para os de quartzo ou gipsita de 1λ ou550 mµ, Figuras V.10, 11 e 12 respectivamente. Se consultarmos a carta de cores, verificaremosentão que 140mµ correspondem à cor cinza, e 550 mµ ao vermelho. Então se a nicóis cruzados ecom uma substância isotrópica entre os polarizadores, inserirmos um desses compensadores nafenda acessória do microscópio, deveremos observar a cor de interferência característica de cadaum deles.

A cunha de quartzo especificamente, ao contrário dos outros compensadores, possui uma espessuravariável de modo a produzir um atraso progressivo de ¼ λ (na porção mais delgada ) até 1700 mµ(na porção mais grossa ) já correspondendo a cores de interferência de 3ª ordem.2

De maneira geral, o compensador de mica é especialmente útil quando se analisa minerais cuja corde interferência é baixa, a de gipsita ou quartzo para minerais de cores de interferência muitobaixas à intermediárias e a cunha de quartzo para aqueles de cores de interferência muito altas.

2 a cunha de quartzo é introduzida na fenda acessória iniciando com sua parte menos espessa

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l ...3l

a

a

bb

Utiliza-se destes acessórios para a determinação dos raios lento e rápido dos minerais, na avaliaçãoda ordem de uma cor de interferência e na conoscopia, para a determinação do sinal óptico dosminerais.

Figura V.10 – Compensador de mica caracterizado por uma porção metálica onde está assinalado o atraso(1/4l) e a direção do raio lento (g) que sustenta a placa do mineral (círculo branco) que possui espessuraconstante,

Figura V.11 - Compensador de gipso ou quartzo caracterizado por uma porção metálica onde estáassinalado o atraso (1l) e a direção do raio lento (g) que sustenta a placa do mineral (círculo branco) quepossui espessura constante,

Figura V.12 – Cunha de quartzo, mostrando a variação de espessuras em perfil. Observe quea cunha é introduzida a partir de sua parte mais fina. Como nos demais

compensadores, a cunha está orientada de forma que seu raio lento sejaparalelo a porção mais estreita, assinalada por g. Seu atraso é de 1/2la 3l.

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Determinação dos raios lento e rápido de um mineral

Um raio de luz, ao atravessar um mineral anisotrópico, divide-se em dois outros que vibram emplanos perpendiculares entre si, propagando-se a velocidades diferentes. Após atravessarem omineral de espessura “e”, estes dois raios apresentam uma diferença de caminhamento ∆∆ = e (N - n). Quando o mineral está extinto, as suas duas direções privilegiadas de vibração estão paralelas aoanalisador e ao polarizador (Figura V.13). Girando-se a platina do microscópio em 45º a partir daposição de extinção, o mineral estará em posição de máxima iluminação, a 45o das direções dospolarizadores (=polarizador inferior e analisador) e as suas duas direções privilegiadas estarãoparalelas aos raios lento e rápido do acessório (Figura V.14).3

Figura V.13 – Mineral em posição deextinção

Figura V.14 – Mineral em máximailuminação

Duas situações podem ocorrer com a introdução do acessório:

i - Adição das diferenças de caminhamento produzidas pelo mineral ∆1 e pelo acessório ∆a dandouma diferença de caminhamento total ∆2 = ∆1 + ∆a e a cor de interferência resultante aumentará,em um valor proporcional ao atraso produzido pelo compensador. Com isso, dizemos que houve,adição nas suas cores de interferência, Figura V.15

3 Observe que o compensador é inserido no sistema óptico segundo um ângulo de 45o com ospolarizadores do microscópio.

P

P

AA

r1

r2

P

P

AA

r1

r2

R45º

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Figura V.15 – O raio de luz que deixa o polarizador vibrando segundo um plano horizontal que ao coincidir no mineral,sofre o fenômeno da dupla refração, surgindo dois raios R e L, com direções de vibração ortogonais entre si e atrasadasem D1. Ao incidirem com o acessório, as direções lento e rápido do mineral coincidem com aquelas do compensador,com isso o atraso D1 passa a ser maior, ou seja D2.

ii - subtração das diferenças de caminhamento, dando uma diferença total de ∆3 = ∆1 - ∆a e a corde interferência resultante do mineral será de ordem inferior à original e, portanto, houve subtraçãonas cores de interferência, Figura V.16.

Figura V.16 – O raio de luz que deixa o polarizador vibrando segundo um plano horizontal que ao coincidir no mineral,sofre o fenômeno da dupla refração, surgindo dois raios R e L, com direções de vibração ortogonais entre si e atrasadasem D1. Ao incidirem com o acessório, as direções lento e rápido do mineral não coincidem com aquelas docompensador, com isso o atraso D1 passa a ser menor, ou seja D3.

A adição das cores de interferência ocorre quando a direção do raio lento do mineral for paralela àdireção do raio lento do acessório. Neste caso, o raio lento e o raio rápido, ao emergirem domineral apresentam um atraso ∆1 e ao penetrarem no acessório, o raio lento proveniente do mineral

Polarizador

Mineral

Acessório

R L

R L

D1

D2Da

Polarizador

Mineral

Acessório

R

R

L

L

D1

D3Da

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LR

L R

se propagará vibrando segundo a direção lenta do acessório e, portanto, percorrerá ao sair dele umadistância ainda menor do que aquela quando emergiu do mineral, em relação ao raio rápido (D2).Então, a diferença de caminhamento pelo acessório é adicionada àquela produzida pelo mineral,Figura V.15.Por outro lado, quando se verifica subtração nas cores de interferência do mineral, os seus raioslento e rápido são paralelos, respectivamente, aos raios rápido e lento do acessório. Com isso,haverá uma diminuição muito mais acentuada do raio rápido proveniente do mineral do que aquelelento (que atravessa o compensador segundo sua direção rápida). Com isso, haverá uma diminuiçãoou compensação no atraso entre os dois raios e assim, subtração na cor de interferência observada(D3), Figura V.16.

Na prática, a determinação da posição dos raios lento e rápido de um mineral é feita girando-se aplatina do microscópio até a sua posição de extinção, onde suas duas direções de vibração estãoparalelas às direções de vibração do polarizador e analisador. A partir desta posição, gira-se aplatina do microscópio em 45º, atingindo-se a posição de máxima luminosidade e assim, asdireções de vibração do mineral ficam paralelas aquelas do acessório, que quando introduzido nosistema óptico, pode-se verificar:

1 - Adição das cores de interferência ⇒⇒ Raios Lento e Rápido do mineral coincidem com os RaiosLento e Rápido do acessório, Figura V.17.

Figura V.17 – Esquema de um mineral em posição de máximailuminação que mostrará adição nas cores de interferência quandoinserido o compensador uma vez que as direções lenta (L) erápida (R) do mineral coincidirão com aquelas lenta (g) e rápidado compensador.

2 - Subtração das cores de interferência ⇒⇒ Raios Lento e Rápido do mineralcoincidem com os Raios Rápido e Lento do acessório, Figura V.18.

Figura V.18 - Esquema de um mineral em posição de máximailuminação que mostrará adição nas cores de interferênciaquando inserido o compensador uma vez que as direções lenta(L) e rápida (R) do mineral não coincidirão com aquelas lenta(g) e rápida do compensador.

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l ...3l

l...3l

A utilização da cunha de quartzo na determinação dos raios lento e rápido é também bastante útil.Na maioria das vezes as bordas dos minerais apresentam-se sob a forma de cunha. Como abirrefringência de um certo grão mineral é proporcional à sua espessura, verifica-se uma variaçãode cores nesta região que segue a carta de cores: ex: cinza, amarelo, laranja, vermelho e azul, etc.Quando se introduz a cunha de quartzo ao sistema óptico, a diferença de caminhamento final totalentre os raios lento e rápido que emergem para o observador será proporcional à soma de atrasosdevido ao mineral e à cunha de quartzo.

Assim sendo, quando os raios lento e rápido do mineral coincidem com os da cunha de quartzo, aointroduzir este compensador, tem-se a sensação de que as cores de interferência se movimentampara fora do mineral, indicando que houve adição nas cores de interferência, Figura V.19.

Figura V.19 - Esquema de um mineral em posição de máximailuminação mostrando adição nas cores de interferência quandoinserida a cunha de quartzo, com as cores de interferência semovimentando para fora do mineral uma vez que ocompensador é introduzido no sistema com as direções lenta (L)e rápida (R) do mineral coincidirão com aquelas e lenta (g) erápida do compensador.

Quando os raios lento e rápido do mineral coincidem respectivamente com os raios rápido e lentoda cunha verificar-se-á o efeito de subtração nas cores de interferência com a introdução da cunhatendo-se a sensação que as cores de interferência se movimentam para dentro do mineral, FiguraV.20.

Figura V.20 - Esquema de um mineral em posição de máximailuminação mostrando subtração nas cores de interferência quandoinserida a cunha de quartzo, com as cores de interferência semovimentando para dentro do mineral uma vez que o compensador éintroduzido no sistema com as direções lenta (L) e rápida (R) domineral coincidirão com aquelas e rápida e lenta (g) do compensador.

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Determinação da ordem de uma certa cor de interferência

A determinação da ordem de uma certa cor de interferência pode ser feita através do uso doscompensadores.Seja por exemplo, um mineral que apresente uma cor de interferência amarela. Se verificarmos nacarta de cores, há amarelo em 1a , 2a e 3a ordens. Utilizando-se de um compensador de gipso, leva-se o mineral à posição de extinção e então, rotaciona-se a platina em 45o, procurando-se a posiçãode máxima iluminação. Nesta situação insere-se o compensador, com o possíveis resultadoslistados na abaixo:

A cor de interferência amarela se tornará: - 550mµ + 550 mµ

Amarela de 1a ordem= 300mµ Cinza (=250 mµ) Verde 850 mµAmarela de 2a ordem= 900 mµ Amarela (350 mµ) Amarela: 1450 mµAmarela de 3a ordem= 15000 mµ Laranja (950 mµ) Vermelha 2050 mµ

Cores de interferência anômalas

Cores de interferência anômalas são aquelas cujas matizes não se encontram na carta de cores.

Podem ser causadas por dois motivos:1- Minerais que apresentam cor natural muito forteVeja este caso:

O mineral aegirina, um clinopiroxênio sódico, que apresenta uma cor natural verde muito intensa.Com isso as cores de interferência observadas serão sempre adicionadas a esta cor natural domineral, no caso imprimindo tonalidades esverdeadas.Minerais com dispersão variada dos índices de refração: existem alguns minerais que apresentamvalores muito diferentes de índices de refração para diferentes comprimentos de onda quecompõem a luz branca que incide em um mineral . Esta dispersão nos índices de refração dos raiosrápido e lento que deixam o mineral, pode ser muito grande ou muito pequena. No último caso omineral poderá ter comportamento de uma substância isótropa para certos comprimentos de onda,ou seja, as cores correspondentes serão completamente absorvidas pelo cristal. Com isso, estescomprimentos de onda que faltarão na composição espectral da luz branca (da luz incidente nomineral), levarão ao surgimento de tonalidades de cores diferentes daquelas observadas na carta decores.Veja este caso:

O mineral epidoto, um nesossilicato cálcico, que apresenta cores anormais devidas a tonalidadesazuis-arroxeadas assumidas pela forte absorção destes comprimentos de onda pelo mineral.

Birrefringência

Um raio de luz polarizado ao atravessar um mineral anisotrópico orientado adequadamente, sofre ofenômeno da dupla refração, com o aparecimento de dois raios refratados, um rápido e outro lento,cujas velocidades são inversamente proporcionais aos índices de refração associados àquela seçãodo mineral. A diferença numérica entre os valores máximo (N) e mínimo (n) dos índices derefração de um mineral recebe o nome de birrefringência.

A cor de interferência do mineral é:

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Conforme mostra a equação 6, a cor de interferência apresentada por um certo mineralanisotrópico, que corresponde a diferença de percurso ou atraso (∆) entre os raios rápido e lentoque deixam o mineral, e é função de sua espessura (e) e da diferença entre os índices de refraçãoassociados a seção considerada ou birrefringência (N-n).

Assim fica evidente que para uma mesma espécie mineral, com espessura constante, abirrefringência por ele apresentada, dependerá unicamente de sua orientação óptica.

A birrefringência de um mineral (N-n) pode variar de zero até um valor máximo. Ao valor máximoda diferença de percurso ou atraso (∆) corresponderá a maior diferença entre os índices de refração(N-n), que é chamada de birrefringência máxima (δ), que é aquela reportada na literatura.

Birrefringência de minerais isotrópicos

Será sempre nula pois estes minerais possuem um único índice de refração e (n-n)=0

Birrefringência dos minerais uniaxiais

Para minerais uniaxiais a birrefringência é máxima quando estes forem cortados paralelamente àseção principal, ou seja, o eixo óptico será paralelo à platina do microscópio e cores deinterferência de maior ordem. A birrefringência máxima é dada pelas diferenças (nε - nω), se seusinal óptico for positivo, ou (nω - nε) se for negativo.

Os cristais de minerais uniaxiais, cujos eixos ópticos são perpendiculares à platina do microscópio,apresentam birrefringência nula (nω - nω = 0) e a cor de interferência será preta, independente daespessura e da posição em relação ao polarizador e analisador.

Outros cristais, cujos eixos ópticos estão em posição intermediária entre estes extremos,apresentam para uma espessura constante, cores de interferência e birrefringência intermediáriaentre os dois casos descritos anteriormente.

Birrefringência de minerais biaxiais

Os minerais biaxiais apresentam birrefringência máxima, quando cortados paralelamente ao planoóptico, uma vez que nessa seção encontram-se nγ e nα, ou seja, os índices de refração máximo emínimo, respectivamente.Para se localizar um fragmento de mineral cortado segundo esta direção, deve-se procurar poraqueles que apresentam cores de interferência de maior ordem, em comparação aos demais.

Por outro lado, um fragmento de mineral biaxial cortado segundo uma de suas seções circulares, ouseja, a seção circular sendo paralela à platina do microscópio, apresentará birrefringência nula poisapenas um índice de refração estará associada a esta seção - nβ .

Quaisquer outras seções, apresentarão valores de birrefringência intermediária entre estes doiscasos extremos.

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A determinação da birrefringência

Teoricamente, pode-se determinar a birrefringência de qualquer grão mineral, mas somente abirrefringência máxima é que tem importância na identificação de minerais, sejam eles uniaxiais oubiaxiais, ou seja, devem ser avaliadas somente para aqueles fragmentos que apresentam cores deinterferência mais alta em comparação com os demais, uma vez que sob estas condições, as seçõesdevem se aproximar da seção principal, no caso de minerais uniaxiais ou do plano óptico, no casode minerais biaxiais. Para a determinação da birrefringência, utilizamos a equação 6, onde hánecessidade de se conhecer dois dos seus três temos. Assim, para a determinação da birrefringênciade um mineral há necessidade que conheçamos a sua cor de interferência máxima e sua espessura.

Como exemplo, seja um cristal qualquer com espessura = 0.03 mm e apresenta uma cor deinterferência máxima vermelha - ∆ ≅ 540 m µ. Então utilizando a carta de cores da lançamos ovalor da :espessura nas ordenadas, o atraso no eixo das abcissas e determinamos o valor dabirrefringência nas retas diagonais, conforme mostra a Figura V21,

Figura V.21 – Determinação de birrefringência máxima de um mineral cuja cor de interferência observada é 540mm ea espessura é 0,003mm, que definem duas retas; uma paralela ao eixo das abcissas e outra a das ordenadas. Aintersecção de ambas definem um ponto quase unido a origem e prolongado para o extremo superior do diagramafornece o valor da birrefringência, ou seja 0,018.

Note bem: Não é possível orientar o mineral na platina do microscópio de maneira a obter-se umúnico raio (rápido ou lento) e este exclusivamente passe através do analisador, pois nesta situação,este raio sairia sempre vibrando perpendicularmente ao analisador e consequentemente o mineralestaria extinto. O que passa através do analisador é sempre uma combinação vetorial dos dois raios(lento e rápido), cuja cor é proporcional ao atraso provocado pelo cristal.

0 200 400 600 800 1000 1200 14000,00

0,01

0,02

0,03

Esp

essu

ra(m

m)

Atraso - (m )D m

0,04

0,00

0

0,0

05

0,01

0

0,0

15

0,0

20

0,0

25

0,03

0

0,03

5

0,040

0,045

0,050

Birrefringência (N-n)

540

0,018

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A tabela abaixo, mostra a nomenclatura mais utilizada para os valores de birrefringência

NomenclaturaIntervalo numéricoda birrefringência (N-n)

Cor de interferência observadapara espessura de 0,03 mm Exemplos

Fraca 0 – 0,010 cinza claro, branco, amarelo 1a

ordemquartzo (0,009)apatita (0,003)

Moderada 0,010 – 0,025 vermelho 1a ordem até verde de2a ordem

augita (0,025)cianita (0,016)

Forte 0,025 – 0,100 da segunda ordem superior atécores de 5a ordem

zircão (0,062)talco (0,040)

Muito Forte 0,100 – 0,200 acima da 5a ordem calcita (0,172)Extrema > 0,200 Ordens superiores rutilo (0,2885)

Determinação da espessura de um grão mineral

Quando se conhece a birrefringência de um certo mineral, pode-se determinar sua espessura,através da carta de cores ou da equação 6.

As seções delgadas de rochas, possuem uma espessura constante para todos os minerais que aconstituem. Quando se quer avaliar se uma lâmina de fato está com sua espessura correta, ou seja ≈0,03 mm, um mineral com birrefringência conhecida é escolhido.4

Como a cor de interferência de um mineral é função de sua espessura (e), na sua determinação,escolhe-se um cristal conhecido que apresente cor de interferência máxima, pois este também terábirrefringência máxima.Escolhido o cristal e determinada a sua cor de interferência, localiza-se a sua birrefringência naparte superior da carta de cores, ou seja, já se tem determinados uma linha vertical ( ∆) e outradiagonal (N-n). Na intersecção destas duas linhas, transportada horizontalmente para o eixo dasordenadas (ou espessuras), lê-se a espessura do cristal, conforme mostra a figura abaixo. Ex.Mineral quartzo, cor de interferência máxima cinza de 1a ordem, = 225 mµ e (N-n)= 0,009:

4 Normalmente este mineral é o quartzo devido a sua abundância nos diferentes tipos de rocha (ígneas,metamórficas e sedimentares) e da constância de sua composição química (SiO2). Como conseqüênciasua birrefringência é praticamente constante igual a 0,009.

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Figura V.22 – Determinação de espessura de um mineral cuja cor de interferência observada é 225mm e abirrefringência é 0,009 que definem duas retas. A intersecção de ambas define um ponto no eixo das ordenadas queeqüivale a espessura, resultando em 0,025.

Podemos obter o mesmo resultado aplicando a expressão:

então e= 0,025 mm

Ângulo e tipos de extinção

Todo mineral anisotrópico quando observado a nicóis cruzados, apresenta-se extinto toda vez quesuas direções de vibração principais coincidirem com o polarizador e analisador do microscópiopetrográfico.Define-se ângulo de extinção como sendo aquele formado por uma direção cristalográficaqualquer, como: traço de clivagem, plano de geminação, eixo cristalográfico, etc. e uma direção devibração do mineral (o raio lento ou o raio rápido), conforme mostra a Figura V.23.

∆−

= )( nNe

200 400 600 800 1000 1200 14000,00

0,01

0,02

0,03

Esp

essu

ra(m

m)

Atraso - (m )D m

0,04

0,0

00

0,0

05

0,0

10

0,0

15

0,0

20

0,0

25

0,0

30

0,0

35

0,040

0,045

0,050

Birrefringência (N-n)

0,0

25

0,0

09

009,010225 6−

= xe

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0º 30º

30º l l

r

rA A

P

P P

P

AA

Figura V.23 – Esquema de um mineral hipotético mostrando as relações entre uma direção cristalográfica (eixocristalográfico c) e as direções de vibração. Observe que e é o ângulo de extinção, no caso do exemplo, aquele formadoentre o raio rápido r e a direção do eixo c.

Para medir-se o ângulo de extinção, gira-se a platina do microscópio de tal forma a alinhar umadireção cristalográfica com um dos retículos, anotando-se o valor da platina nesta posição. Aseguir, gira-se novamente a platina até a posição de extinção do mineral, anotando-se o valor nestanova posição. O ângulo de extinção, será a diferença entre estas duas posições, Figura V.24.

A BFigura V.24 – Determinação do ângulo de extinção do mineral. Em A as direções dos traços de clivagem foramalinhados segundo o retículo NS. A seguir , a nicóis cruzados , rotacionando-se a platina do microscópio em busca daposição de extinção. Em B, a nicóis cruzados, o mineral foi rotacionado de forma a encontrar-se a posição de extinção,ou seja, os raios rápido (r) e lento (l) do mineral ficaram paralelos às direções polarizadas. O ângulo de extinção assimobtido foi de 30º

c

90-e

l

r

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l

r

e

l

r

lr

Se o ângulo de extinção obtido for diferente de 45º, deve-se observar que haverão dois ângulos deextinção diferentes, complementares entre si, conforme mostra a Figura V.23.

Por convenção, deve-se sempre utilizar o ângulo de menor valor

Quanto aos tipos de extinção:

Extinção Reta ou Paralela: Quando oângulo entre a direção cristalográficacoincidir com uma das direções devibração do mineral. No caso do exemplo,a direção cristalográfica considerada foi aclivagem ê o ângulo entre o raio rápido (r)e a direção de clivagem é de 0o ê o ângulodo raio lento com a direção de clivagem éde 90o.

Figura V.25 - Observe que no exemplo, o mineralestá em posição de extinção, pois os raios rápido elento estão paralelos ao analisador e polarizador.

Extinção Inclinada ou Oblíqua : Quando o ângulo entre adireção cristalográfica não coincidir com nenhuma dasdireções de vibração do mineral. No caso do exemplo, adireção cristalográfica considerada foi a clivagem êoângulo entre o raio rápido e a direção de clivagem é = ε ≠0o ê o ângulo do raio lento com a direção de clivagem étambém é ≠ 0 e = 90o - εFigura V.26 - Observe que no exemplo, o mineral está em posição deextinção, pois os raios rápido e lento estão paralelos ao analisador epolarizador.

Extinção Simétrica: Quando asdireções de vibração dos raios rápido(r) e lento (l) se posicionam na bissetrizdo ângulo formado entre duas direçõescristalográficas.do mineral.No caso do exemplo, as direçõescristalográficas consideradas foram osdois traços de clivagem êo ânguloentre os traços de clivagem e qualqueruma das direções de vibração domineral é sempre ε.Figura V.27 - Observe que no exemplo, o mineral está em posição de extinção, pois os raios rápido e lento estãoparalelos ao analisador e polarizador.

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r

l

r

l

Sinal de Elongação

O sinal de elongação é definido exclusivamente para minerais que apresentam hábito alongado(como prismático, acicular, tabular, etc). Basicamente, consiste em identificar qual raio, lento ourápido, é paralelo (ou sub-paralelo) à direção de maior alongamento do mineral:

Elongação PositivaMinerais onde a direção de vibração do raioLento (ou direção com maior índice derefração) é paralelo ou sub-paralelo adireção de maior alongamento do mineral(em inglês: lenght slow )

Figura V.28 – Esquema de um mineral comelongação positiva, ou seja, o raio lento estásubparalelo à direção de maior alongamento domineral

Elongação Negativa :

Minerais onde a direção de vibração do raioRápido (ou direção com menor índice derefração) é paralelo ou sub-paralelo a direçãode maior alongamento do mineral (em inglês:lenght fast )

Figura V.29 - Esquema de um mineral com elongaçãonegativa, ou seja, o raio rápido está subparalelo à direçãode maior alongamento do mineral

O sinal de elongação é uma propriedade óptica relevante na identificação de um mineral. Porém“armadilhas cristalográficas” podem surgir fazendo com que a elongação dependa da face cristalinae da direção de corte do mineral.Veja, na Figura V.30, o que pode acontecer com um mineral que apresente hábito prismático em Ae tabular em B:

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Figura V.30 – Representação esquemática de minerais hipotéticos com hábitos prismático (A) e tabular (B) onde estãoassinalados seus respectivos sinais de elongação. Observe que toda vez que Y for paralelo à direção de maioralongamento do mineral, o sinal de elongação poderá ser positivo ou negativo.

Sinal de elongação indefinido

O sinal de elongação resume-se a determinar se o raio lento ou o rápido é paralelo ou sub-paraleloao maior alongamento do mineral.

Embora estejamos considerando apenas minerais com hábito alongado, há a possibilidade deindefinição do sinal de elongação, quando os raios rápido e lento de um mineral estiveremdispostos a 45o da direção de seu maior alongamento, Figura V.31. Mesmo quando a posição destesraios não é exatamente 45o mas se aproxima deste ângulo, qualquer inclinação um pouco maior daseção de corte em relação a uma face longitudinal de um mineral, pode levar a obtenção de sinaisde elongação ora positivos ora negativos.Como exemplo para caso acima, podemos citar o mineral augita, cujo ângulo entre direção ópticaZ e o eixo C cristalográfico estão bem próxima aos 45º, conforme Figura V.31.

bb

b

b Y Y

Y

(+)(+)

(-)

(-)

(+) ou (-)

b

b

bb

Y

Y Y

(+) (-) (+) ou (-)

A

B

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Figura V.31 – Modelo óptico cristalográfico de um cristal de augita. Observe na seção (010) que o ângulo que a direçãoZ faz com a de maior comprimento do mineral (eixo cristalográfico C) podendo assumir o valor de 45º, levando a umaindefinição no sinal de elongação.

B

A

C

X

Y

Z

C

Y=BA

X

Z 35 - 48o

001

seção 01010

0

eo

eo