New Fotos Hubble ereforçateoriade - USP · 2009. 1. 19. · do Universo e mostrar como elementos...
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A HORA DEETA CARINAEAstrônomo brasileiro acerta previsãosobre comportamento de estrelahipergigante. Eta Carinae —que naverdade é um sistema de duasestrelas— desafia astrônomos hádécadas. Entenda por que ela fascinatanto os cientistas
Alcance do “ventoestelar” (partículaslançadas no espaço)
AB
Céu
300 noitesde observação/ano
ChuvaMenos de
80 mm/anoEm São Paulo, amédia histórica dejaneiro é de200 mm
Áreao prédio ocupa umplatô de 3.600 milmetros quadrados,a 2.701 metros dealtura
Espelho curvoÉ a peça dotelescópio quefunciona como“lente deaumento”. Oespelho do Soartem 4,2 metros dediâmetro
Nebulosade Carina
Nuvem de gás que envolveestrela é resquício de umaexplosão parcial ocorrida1843, que não chegou amatar a estrela
Custo
US$ 28 miO Brasil é o sóciomajoritário, com31% do controle doequipamento
vezes ado Sol(aprox.)
BRUTAMONTES CÓSMICAA estrela A pertence à categoria das azuis hipergigantes
Terra
A =Diâmetro da órbita
da Terra150 milhões de km (aprox.)
Diâmetro
Sol
Massa
A =
100VIDA EMORTEQuando Eta Carinaemorrer numa explosãofatal —umasupernova— ela setransformará numburaco negro. Esse tipode estrela é umaespécie de fóssilastronômico: pode darpistas sobre o passadodo Universo e mostrarcomo elementosquímicos surgiram
Hoje
Big Bang
Eta Catarine 2,5 mi
Sol 4,6 biTerra 4,5 bi
13,7 bi
Idade, em anos
Observatório Soar,no Chile, onde adescoberta foi feita
Inauguração2004
O TELESCÓPIO
ARGENTINA
CHILE
Santiago
La Serena
0 20km
OBSERVATÓRIOSOAR
Cerro Pachón
Fotos Hubble
Soar
IRMÃS EM ATRITOEta Carinae é formada por duas estrelas orbitando uma a outra (sistema binário)
Estrela B:(massadesconhecida)
AproximaçãoA estrela “B” orbita “A”,e a cada 5 anos e meioas duas atingem umaaproximação em queentram em uma espéciede atrito
AtritoAs duas emitem forte“vento estelar” —partículas ultravelozescom carga elétrica—criando uma zona dechoque
ApagãoEsse atrito é tão forte queimpede parte da luminosidadeda estrela “A” de chegar àTerra. O apagão é invisível aoolho humano, mas telescópiosem ultravioleta o veem
Estrela A:Mais maçiça e maior(pertence à categoria dasazuis supergigantes)
˚C100milhões
PARA VER NO CÉU
Cruzeiro do Sul
Nebulosade Carina(A estrela fica a7.500 anos-luzda terra)
Alfa Centauro
A14 ciência TERÇA-FEIRA, 13 DE JANEIRODE2009 ef
EstrelatemapagãoereforçateoriadecientistabrasileiroEtaCarinae, na verdade, é umsistemacomdois astros;atrito entre ambasbloqueia passagemde raios energéticos
Fenômeno invisívelaolhonuocorreuexatamentenodiaprevistoporAugustoDamineli,daUSP; telescópionoChile registrouoevento................................................................................................EDUARDOGERAQUEENVIADOESPECIAL A LA SERENA (CHILE)
Às 3h35 da manhã (4h35 deBrasília) de segunda-feira emLa Serena, no Chile, o astrôno-mo Augusto Damineli, 61, sesentava na cadeira que permitecontrolar o telescópio Soar(Observatório do Sul para Pes-quisa Astrofísica). Ansioso, tes-temunhou um fenômeno quepoucos tiveram oportunidadede ver, ocorrido em Eta Cari-nae, uma estrela que ele estudahá 20 anos. E ontem, no dia emque Damineli havia previsto, aestrelasofreuumapagão.Na verdade, o prédio de con-
trole do Soar fica a 80 km doequipamento, que está no topodo Cerro Pachón, a 2.701 me-tros de altitude. “Astrônomonão pode por muito a mão notelescópio”, brinca o cientistabrasileiro. Em La Serena, 475km ao norte de Santiago, nabeira do Pacífico, o observató-rio ficapróximodecentrospro-dutores de vinho e pescado. E,ontem, não faltou motivo paraabrirumagarrafa.
Controleremoto“Patrício! A Eta Carinae”. O
pedido que parte de La Serenavai em direção ao astrônomochilenoPatrícioUgarte, que es-tá no morro. Ele sim é quempode por a mão no telescópio.Segundos depois, é possível vere ouvir a resposta (via telecon-ferência): “Pronto!”O espelho de 4,2 metros do
Soar, a partir das coordenadasdadas porUgarte, já está olhan-do para Eta Carinae. Damineli,com auxílio do também brasi-leiro Luciano Fraga, que há umano e setemeses trocou Floria-nópolis pelo norte do Chile, fazas primeiras medições, viacomputador.Basta um único gráfico, que
mostra a presença dos elemen-tos químicos ferro e nitrogênio—medidos nos gases que cir-cundam Eta Carinae— paracomprovar aprevisão. “Chegoulá”, comunica Damineli. A “as-sinatura” do apagão é uma di-minuição na luminosidade denitrogênio e hélio detectadospelo telescópio, que enxergafrequências de luz invisíveis aoolho humano. O apagão não évisível a olho nu,mas no Soar osinalémaisdoqueclaro.
CincoanosemeioOfenômeno, comohaviasido
previsto pelo próprio pesquisa-dor brasileiro, voltou a ocorrerdepois de 5,5 anos, dentro damargemdeerro,queeradedoisdias para mais ou para menos.“Isso que é precisão”, Daminelidiz à estrelaqueobserva. “Seeutiver uma neta vou colocar onomedeCarina.”Damineli explica queEtaCa-
rinae,naverdade,nãoéumaes-trela única, e sim um sistemacomduas.Ontem,nocéu,pertodo Cruzeiro do Sul, a estrelaEta Carinae B estava no mo-mento mais profundo de seumergulhonocampode influên-cia da estrela A, que possui 2,5milhões de anos. Os gases e oplasma dessa estrela perten-centeàclassedashipergigantesazuis são tão coesos que é pos-sível dizer queumaestrela “en-tra” na outra. O que ocorre éuma colisão violenta de seus“ventos” —as partículas carre-gadas que as estrelas lançam agrandesvelocidadesnoespaço.“Na área de choque dos ven-
tos das duas estrelas, a tempe-ratura é de 100 milhões degraus Celsius”, explica Dami-neli.Oventodamenordelas,de3.000 km/s, bate no vento da
maior,quetrafegaa600km/s.O resultado obtido na ma-
drugada de ontem em La Sere-na —cidade que nunca chove,mas vive bemnublada pelama-nhã durante o verão— é como“marcar um gol”, diz Damineli,que já estava se preparandopa-ra o evento havia um mês. NasemanaentreNataleAnoNovoele mesmo subiu até o telescó-pio, acompanhado de um cole-ga, para fazer pessoalmente assuasobservações.
Ciêncianasalturas“Lá em cima é muito bom”,
diz Damineli, revelando tam-bém o seu gosto pela astrono-mia romântica. Hoje, devido àtecnologia, boa parte dos equi-pamentos podem ser operadosremotamente, dequalquerpar-tedomundo. “Nãopoderiaper-der a oportunidade de observaresse apagão.” Sua presença láera considerada importante, jáque boa parte da biografia“quaseacabada”deEtaCarinaesaiu de estudos feitos por seugrupo, na USP (UniversidadedeSãoPaulo).A primeira observação que
Damineli fez de EtaCarinae foiem1989, noBrasil, ondenãohánenhumtelescópio—nemtem-po bom— como o Soar. Depoisdisso, Damineli assistiu a trêsapagões,comodeontem.Ele quem primeiro defendeu
o modelo de que Eta Carinaeera um sistema duplo, e nãoumaúnicaestrela.Alémdapre-visão do ciclo exato de 5,5 anospara ocorrer o apagão. Sua teo-ria aindanão éunanimidadenacomunidade de astrônomos,mas a observação de ontemde-ve lhedar força.O apagão não é como um
eclipse nempode ser visto den-troda faixade luzdovisível.Sãoapenasos canais dealta energiada estrela maior que somem. Apresençadoastromenormuitopróximo do maior (a distânciaque normalmente é de 4,5 bi-lhões de quilômetros cai para150 milhões de quilômetros)ofusca a energia que emana daEta Carinae A. Damineli cons-tatou isso por meio de sinaisdentrodafaixadoultravioleta.
VestígiosdavidaEtaCarinae, exóticapor si só,
chama a atenção dos cientistashá tempos. São publicados emtodo mundo dois estudos pormês sobre a estrela. Mas há ra-zões científicas importantespara estudar esse verdadeirofóssil estelar —corpos celestescomoesseexistiamaosmilhõesnosprimeiros2bilhõesdeanosdo Universo, que hoje tem 13,7bilhõesdeanosdeidade.
“Estrelas comoaEtaCarinaesão especialistas em produzir eliberar oxigênio. Essas estrelassão responsáveis pelo preen-chimento de várias casas [ele-mentos] da nossa tabela perió-dica”, afirma Damineli. Estu-dar o coração da Eta Carinae eentender por completo comoele se expressa é conhecermaissobre as condições químicaspara o surgimento da vida. Aju-dariaaentenderporqueaágua,no Sistema Solar, é algo tãoabundante. Para Damineli,“rastros de atividade biológicaprecisam ser procurados foradoSistemaSolar”.Mesmo com o êxito de on-
tem, Damineli revela: “esseprovavelmente foi meu últimoapagão. Agora, o resto será comos meus alunos”. Sua próximamissão é bem mais ousada:“Temos dados suficientes paramostrar que o modelo atual daViaLácteaestáerrado”, afirma.Deumjeitooudeoutro,mes-
mo que Damineli não volte aoSoar para observar Eta Cari-nae, o próximo apagão já temdata:o invernode2014.
Quandoastroexplodir,noitevaivirardianaTerra................................................................................................DOENVIADOESPECIAL A LA SERENA
Para quem vive no hemisfé-rio Sul, pode haver algum mêsnos próximos anos em que anoite vire praticamente dia.TudoporcausadaEtaCarinae.A explosão definitiva dessa
estrela, que pode ocorrer “aqualquer momento” —hoje oudaqui a muitos séculos—, develiberar uma energia equivalen-te à luminosidade de dez luascheias. “Seria praticamente ummês semnoite”, calcula Augus-to Damineli, da USP (Universi-dadedeSãoPaulo).Ocataclismogalácticoprova-
velmente dará origemaumbu-raco negro. Apesar de não des-truir Eta Carinae B, a explosãopoderiaafetarTerra.Só não vai afetar por uma
questão de sorte. “As emissõesde raios gamadeumevento co-moesseatravessamtodooUni-verso como um tiro”, diz o as-trônomobrasileiro.“Mas a Terra não está na di-
reção exata dessa emissão. Co-moestamosa45graus,nãocor-remosriscos.”Apesar de ser difícil saber
quando a morte definitiva daEta Carinae A vai ocorrer —es-trelas como essa não passamdos 3 milhões de anos— Dami-neli lembraqueoapagãoobser-vado ontem poderá ajudar acompletarmais informaçõesdadupla. “Ainda precisamos ex-plicar melhor o papel de cadaumdosatoresnessapeça.Jása-bemos que são dois” afirma,transmitindosegurança.Outra medida-chave para a
astronomia, amassadeumcor-po, também não existe para aestrela menor. “Isso é o que es-tamos tentando fazer”, diz. In-dependentemente das incerte-zas científicas, Damineli arris-ca concordar com seus colegasestrangeiros que estão estu-dando a morte da Eta CarinaeA. “Noites com dez luas cheiaspoderão ocorrer ainda duranteasnossasvidas”,diz. (EG)
Eduardo Geraque/Folha Imagem
O astrônomo Augusto Damineli, em sala de controle do Soar
[+][+][+] ORIGENS:ORIGENS:ORIGENS: ASTRÔNOMOPARANAENSE DIZASTRÔNOMOPARANAENSE DIZASTRÔNOMOPARANAENSE DIZQUE QUER VOLTAR PARA A ROÇAQUEQUER VOLTAR PARA A ROÇAQUEQUER VOLTAR PARA A ROÇA
O astrônomo Augusto Damineli diz que quer voltar um diaO astrônomo Augusto Damineli diz que quer voltar um diaO astrônomo Augusto Damineli diz que quer voltar um diapara a roça. Nascido em Ibiporã (PR), morou numa casa depara a roça. Nascido em Ibiporã (PR), morou numa casa depara a roça. Nascido em Ibiporã (PR), morou numa casa deterra batida na infância. Saiu do interior aos 12 anos eterra batida na infância. Saiu do interior aos 12 anos eterra batida na infância. Saiu do interior aos 12 anos eaprendeu a ler tarde. Depois de passar seis anos num semi-aprendeu a ler tarde. Depois de passar seis anos num semi-aprendeu a ler tarde. Depois de passar seis anos num semi-nário, desistiu e foi concluir o segundo grau em São Paulo,nário, desistiu e foi concluir o segundo grau em São Paulo,nário, desistiu e foi concluir o segundo grau em São Paulo,aos 20. Hoje, quando quer contato com a natureza, vai paraaos 20. Hoje, quando quer contato com a natureza, vai paraaos 20. Hoje, quando quer contato com a natureza, vai paraa ilha do Cardoso, litoral paulista, onde tem casa. Lá, costu-a ilha do Cardoso, litoral paulista, onde tem casa. Lá, costu-a ilha do Cardoso, litoral paulista, onde tem casa. Lá, costu-ma conversar sobre o céu com os pescadores. Foram elesma conversar sobre o céu com os pescadores. Foram elesma conversar sobre o céu com os pescadores. Foram elesque contaram, por exemplo, que ummeteorito havia caídoque contaram, por exemplo, que ummeteorito havia caídoque contaram, por exemplo, que ummeteorito havia caídono mar “levantando uma enorme coluna d’água”. Mas, na-no mar “levantando uma enorme coluna d’água”. Mas, na-no mar “levantando uma enorme coluna d’água”. Mas, na-quela vez, Damineli deu azar: não presenciou o espetáculo.quela vez, Damineli deu azar: não presenciou o espetáculo.quela vez, Damineli deu azar: não presenciou o espetáculo.