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“UM CANTO LIBERTÁRIO” CONTRA “O PRECONCEITO RACIAL”: UM DESFILE
DA NENÊ DE VILA MATILDE E DO PARAÍSO DO TUIUTI E O COMBATE AO
RACISMO EM SALA DE AULA.
EMERSON PORTO FERREIRA1
Resumo
O seguinte artigo tem como proposta articular dois desfiles e sambas de duas escolas de
samba, uma de São Paulo e outra do Rio de Janeiro, como fonte histórica para a discussão de
racismo e desigualdade social, e as proximidades entre o carnaval e o discurso histórico, a
serem debatidos em sala de aula. A seguinte apresentação é um desdobramento da pesquisa de
mestrado na PUC-SP, no Programa de Educação: História, Política, Sociedade, sobre os
sambas afro-brasileiros da Nenê de Vila Matilde, como um recurso para mediação ao ensino
de história em sala de aula na discussão da Lei 10.639/03. Entendemos que a música, e aqui a
música popular, seja um importante campo a ser explorado no ensino de história devido ao
seu caráter imaginativo e simbólico, existente em suas letras e na sua produção. No caso da
escola de samba, o próprio desfile e sua simbologia são fortes representações de uma prática
de “ouviver” ouvir e viver, que atingem a escuta na emoção, na intelectualidade. Trazemos a
discussão dois desfiles: o da Nenê de Vila Matilde, escola da Zona Leste de São Paulo, de
2013 sobre a busca de igualdade tendo como ponto de partida a Revolta dos Búzios, e a busca
de direitos dos diversos movimentos sociais no Brasil; e o samba da Paraiso do Tuiuti de
2018, escola do morro de São Cristóvão, que abordou a problemática do trabalho escravo e
das permanências de tal prática em nossa sociedade, que se refletem no atual contexto de
golpe e de retiradas de direitos do atual (des) governo brasileiro. Sendo assim, os dois sambas
se complementam em suas narrativas, uma vez que a busca da liberdade é um canto libertário
a ser buscado, para a quebra do cativeiro social ainda enfrentado pelo negro em sociedade. Os
dois desfiles agem como uma força que transita entre o conhecimento acadêmico e o escolar,
como um conhecimento de um grupo de origem negra, na produção de um currículo
transgressor, para abordar, alertar e denunciar o racismo em sala de aula.
Palavras-Chave: Escola de Samba, samba enredo, racismo, ensino de história.
1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Mestre em Educação, financiamento CNPq.
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O quilombo do Rio encontra o quilombo de “Sampa”.
O ano de 2018 gerou no mundo do carnaval um ponto de reflexão e de virada no modo
como enxergar as apresentações das escolas de samba no sambódromo. Isso aconteceu devido
a um desfile despretensioso na madrugada de domingo para segunda, quando uma escola
pouco tradicional do morro do São Cristovão botou literalmente o dedo na ferida da atual
situação de caos intencional gerado pelo (des) governo do atual presidente do Brasil, no
desfile, retratado como o vampirão.
Um pouco mais distante no tempo, no ano de 2013, no sambódromo do Anhembi, uma
escola da Zona Leste de São Paulo, no bairro da Vila Matilde, questionava em seu desfile o
ideal de igualdade pelas diferenças, onde, tal enredo tinha como eixo narrativo a Revolta dos
Búzios, ocorrida na cidade de Salvador, no ano de 1798. Tal enredo versava que tal revolta
ocorrida no período colonial, promovida por negros em sua grande maioria, era um modo de
propagar os ideais de igualdade dentro da sociedade brasileira.
Duas realidades distintas. Dois governos políticos distintos. Porém duas realidades
iguais: a de questionamento da ordem existente dentro da desigual e racista sociedade
brasileira, sociedade essa, feita para funcionar dentro desta lógica estrutural de punir o
“outro”. De punir o diferente.
A escola do Rio de Janeiro é o Paraíso do Tuiuti. A Tuiuti foi fundada no ano de 1952,
encabeçada pelos sambistas Nelson Forró e Júlio Mattos. A agremiação é fruto do Bloco dos
Brotinhos, que possuía dentro da comunidade do morro de São Cristovão uma grande
simpatia, diferente da escola de samba do bairro, a Paraíso das Baianas que não possuía
grande atenção do povo. Sendo assim se juntou a organização da escola de samba com a
espontaneidade do bloco, o que fez gerar o Paraíso do Tuiuti. O morro do São Cristovão é
vizinho do morro do Chapéu Mangueira, onde se encontra uma das potências do samba a
Estação Primeira de Mangueira, escola que é madrinha da Tuiuti.
Já a escola de São Paulo, diferente da Tuiuti, possui em sua fundação certo
pioneirismo dentro da cidade de São Paulo. A Nenê é a segunda escola de samba fundada na
cidade, e a primeira a ser fundada na Zona Leste. A escola nasce no ano de 1949, a partir das
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diversas rodas de tiririca (espécie de capoeira) e de pernadas na região da Vila Matilde e Vila
Esperança. Assim no dia primeiro de janeiro de 1949, no cartório surgiu a escola e o seu
nome: uma alusão ao jovem que versava com um pandeiro do lado de fora, o Seu Nenê. E de
lá pra cá a escola colocou sob o signo da negritude sua principal identidade, conquistando ao
longo de sua história 11 títulos no grupo especial. A escola ainda é uma das pioneiras na
temática africana no carnaval de São Paulo, além de ser apadrinhada pela Portela.
E aqui retorno ao objetivo desse artigo: mostrar por meio de dois sambas enredos, a
possibilidade do uso do samba como recurso didático no combate ao racismo em sala de aula.
No seu desfile, a Tuiuti colocou na passarela o seu Quilombo Tuiuti, afirmando que a escola
de samba é um símbolo de resistência da negritude dentro da sociedade urbana. Já a Nenê não
só em 2013, mas ao longo de seus diversos enredos colocou em seu codinome a alcunha de
Quilombo do Samba, codinome esse ao qual a escola é conhecida no mundo do carnaval.
O quilombo Tuiuti, com o quilombo do Samba. Uma escola do Rio de Janeiro, outra
de São Paulo. O ano de 2018, com o ano de 2013. Duas realidades distintas que versam sobre
praticamente um mesmo princípio: o de igualdade e respeito à diferença, bem como o fim da
exploração e fim dos direitos, principalmente dos negros. Ao longo desse artigo iremos
refletir sobre a importância dessa quebra tecnicista e racista que o currículo caminha, em uma
clara construção na objetificação do “outro”, e a importância da descolonização do currículo.
Em um segundo momento, pontuaremos a importância que o samba enredo pode possuir
dentro do campo do ensino de história, onde, colocaremos aspectos do simbólico e do
imaginativo que o samba possui, além de seu caráter de resistência. E ao fim colocaremos a
exposição dos dois sambas em uma análise de seus sujeitos, conteúdo e dimensão estética que
possuem. É o quilombo de lá, ensinando com o quilombo de cá, em um recurso de afirmação
da negritude.
“Lutar e acreditar”: a busca pela descolonização e ao enegrecimento do currículo.
Raça é um conceito do século XIX empregado pelas nações europeias durante o
neocolonialismo, para demonstrar a superioridade do branco perante o negro. Entender o
sentido de raça esbarra, também, na forma em que respondemos a tal afirmação. Ainda no
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século XXI, o termo raça permanece em uso por conta do sistema racista em que estamos
inseridos, no qual o branco possui privilégios e é socialmente aceito, em contrapartida a uma
visão estrutural a qual o negro é posto de uma forma pejorativa, estereotipada e negativada.
Assim sendo, o combate ao racismo engloba diferentes atores e diversas ações que são
colocadas dentro do cotidiano. Por isso mesmo que o termo raça é resignificado dentro da
afirmação da negritude. Para Nilma Lino Gomes (2005), o termo raça é usado e empregado
como meio de maior proximidade com a condição social do negro. Trata-se de um termo
político e social e não simplesmente uma determinação entre superior e inferior. Maria
Vannuchi (2017) pontua muito bem que a luta antirracista perpassa por meio de uma
visualidade de que existe algo bom e outro ruim, em que se criam assim binarismos sociais.
O racismo é um modo de entrelaçar sentimentos comuns, que nem sempre estão juntos com
respeito ao outro. Como Vannuchi (2017, p.60) comenta:
Cada cultura cria seus limites, mas, na impossibilidade de eliminar as
moções agressivas, as direciona para “fora” do grupo. A imagem do
“estrangeiro” como inimigo, modo de defesa das coletividades, criado para
reforçar a reunião entre pares.
Pensando em nossa sociedade, seria utópico achar que essas bipartições se dissolvam.
Nossa realidade social não foi construída dentro de uma lógica em que o negro estivesse
inserido. Frantz Fanon (1968) em Condenados da Terra irá apontar que a grande arma dos
colonizadores era a imposição de uma configuração de inferioridade perante o outro. É a
construção de uma multicultura que não inclui o diferente, apenas aceita a sua existência, sem
abrir mão de uma cultura, de uma identidade e de uma representação superior. E, assim,
chegamos à mestiçagem brasileira.
Em Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade
negra, Kabengele Munanga (1999) aponta que o discurso da mestiçagem ganha corpo, no
Brasil, no fim do século XIX. Na Europa, a visão sobre o assunto vem acompanhada de um
forte discurso de raça, no qual a mistura entre os homens de cores diferentes não era algo
positivo ao conceito de nação. O discurso da mestiçagem é mais um modo de impor
hierarquias de superioridade e uma classificação para o outro.
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E é nessa construção que se coloca a construção de um “outro”: aquele indivíduo que
não existe, ao qual está longe de minha realidade, distanciado do meu tempo, em que não
posso me identificar com sua cultura e realidade. Uma persistência da mesmidade, como
Carlos Skliar (2003) aponta, onde este outro ainda permanece em uma construção colonial de
sua existência, em uma espacialidade da criação de um não lugar, que aparece na
“distribuição do outro no espaço da mesmidade e num espaço outro, sobre a negação e
afirmação dos espaços” (SKLIAR, 2003, p.103), um reflexo da sociedade brasileira, que
tolera excluindo. As zonas espaciais não se encontram somente no território, mas, também em
aspectos de nomeação e de jogar fora o indesejável que foi nomeado.
É nesse contexto que a Lei 10.639/03, que altera a LDB, coloca a obrigatoriedade de
um ensino da cultura e história afro-brasileira e africana. Tal Lei acentua a importância de
uma readequação do currículo que deveria a partir de então se voltar para este “outro” que foi
apagado dentro da construção do ensino. E nesse caso, a atuação do movimento negro foi
fundamental para que se quebrasse tal paradigma. Descolonizar o currículo é o que desde
2003 se tenta na desgastante e complicada luta da implementação da Lei federal.
Uma educação voltada para o reconhecimento, assim como para a formação de
atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos (GOMES, 2005) em respeito à cultura de
matriz africana. Na afirmação e empoderamento da identidade negra, em um processo de
construção pessoal e social e elaborada individual e socialmente de forma diversa. Nesse
ponto, é pensar de uma forma intercultural de ver a diferença, passando longe de uma visão
colonizada do multicultural, onde, se aceita “outro” sempre com a prerrogativa de um, porém.
É a quebra de uma homogeneização, e a busca pela construção de redes interculturais, na
mescla de diferenças e da busca de uma alteridade que devemos promover o enegrecimento
do currículo.
Petronilha Gonçalves (2010) pontua que o currículo existente embora verse pela
diversidade, não desenvolve uma igualdade dentro da formulação e construção do processo
histórico em sala de aula. Fazer um enegrecimento seria nas palavras de Petronilha (2010, p.
41) falar a “respeito à maneira própria como os negros se expõem ao mundo, ao o receberem
em si. Por isso, enegrecer é face a face em que negros e brancos se espelham uns nos outros,
comunicam-se, sem que cada um deixe ser o que é”. É a construção de uma igualdade a partir
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da diferença, na quebra e na desconstrução de privilégios e representatividade positiva do
branco e no alijamento do negro dentro da história. Não seria o retirar o branco da história,
mas colocar de maneira positiva o negro, ocasionando um acolhimento de todos os grupos
raciais, propiciando um conhecimento compreensivo para a construção de uma sociedade
mais justa, e em uma educação que deixe de ter um sentido tecnicista, onde o aluno se torna
um investimento “bancário”.
É a busca de uma educação humanizada, que emancipe o aluno enquanto sujeito e que
desvele a lógica colonial e multicultural que ronda o nosso meio educacional e que impede o
empoderamento de jovens, crianças e adultos negros (ou não) dentro da escola. Tal Lei,
apesar de suas questões de alcance e implementação, é um forte documento que busca uma
ampliação no modo de nos relacionarmos com nossa identidade. A obrigatoriedade de
discussão da história e cultura do negro constrói uma educação em que não há um modelo
único a ser almejado, mas uma hibridação de conceitos e culturas para construção do sujeito.
É sair de uma visão da mesmidade, do mito da mestiçagem e de uma lógica de colônia e ir de
encontro ao reconhecimento de um tempo e espaços difusos e em constante mudança, sair de
um daltonismo cultural.
É a inserção de uma africanidade dentro do currículo e nas escolas, em que se
questione novas possibilidades de ver e de sentir o passado. Africanidade é o que Petronilha
define como características que sobrevivem dentro de nossa sociedade após o contexto do
sequetramento de negros da África, que mesmo após o processo de escravidão impuseram
dentro de sociedade suas cultura e participação dentro de nossa história. E isso dentro da
escola é fundamental, pois interculturaliza o contexto escolar, abrangendo os sentidos e a
identidade dos alunos, sejam negros ou não. Assim:
Estudar Africanidade Brasileiras significa tomar conhecimento, observar,
analisar um jeito peculiar de ver a vida, o mundo, o trabalho, de conviver e
de lutar pela dignidade própria, bem como pela de todos os descendentes de
africanos, mais ainda de todos os que a sociedade marginaliza. (SILVA,
2010, p. 50)
A produção de um fortalecimento às diferentes resistências dentro da construção de
uma consciência negra. É a valorização de diversas manifestações que podem ajudar o
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enriquecimento deste enegrecimento do currículo, em uma busca de uma igualdade pela
diferença. Uma luta em que o acreditar se estabelece por diversas estratégias como o samba
enredo.
“Canto a igualdade”: os sambas enredo como recurso didático.
Antes de tudo não quero supor que o samba enredo, bem como, outros ritmos musicais
seja uma maneira de acabar com o racismo, ou de salvar a implementação da Lei 10.639/03,
ou muito menos de gerar “novidades” dentro do ensino de história. A música nunca deve ser
tratada como apenas um “tapa buraco”, ou uma ilustração dentro de sala de aula. Uma
composição reflete o seu tempo, um verdadeiro documento monumento que se transforma em
uma fonte, tal como Le Goff (2013) bem formulou. Assim cada música tem uma
ocasionalidade de sua composição, possui um objetivo em específico, bem como, coloca um
documento poetificado dentro da circulação de cultura da sociedade: é “um verdadeiro retrato
de época” (DUQUE, 2017, p. 297). Por isso mesmo que a música deve ser vista como algo
que se entranhe com o conhecimento acadêmico e o escolar, compondo assim, junto à cultura
do aluno, uma nova teia de significados e de visualidades do mundo e dos sujeitos. Como
Miriam Hermeto (2012) acrescenta, “examinar as canções como fonte significa interroga-las
tanto no que se refere aos seus aspectos históricos mais gerais, quanto no que tange ao
problema que está sendo investigado” (HEMERTO, 2012, p. 29 – 30)
O samba enredo é um gênero musical especifico: foi criado para um momento que é o
desfile de uma escola de samba, sendo um dos quesitos mais importantes dentro de uma
agremiação e sendo a principal característica dentro da cultura escolar do samba. Sendo um
quesito de avaliação, o samba enredo é avaliado a partir de sua melodia e da letra do samba. A
melodia seria as diversas modulações que a composição proporciona seja para passar um
sentimento ou para facilitar o canto. Já a letra é construída a partir do conteúdo escrito da
sinopse do desfile desenvolvida pelo carnavalesco da escola, ou por enrendistas (pessoas que
escrevem em forma de texto escrito as ideias do carnavalesco).
Assim o processo de criação de um samba enredo deve ser didático para quem o ouve,
sendo uma música que deve passar para quem ver o desfile uma narração musical. Desta
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maneira o compositor de samba enredo ele exprime a sua inspiração a partir de certas regras e
normas que o carnavalesco e a equipe de carnaval desejam o que deixa o processo de criação
do compositor desafiador para expressar toda a sua criatividade. Mas, o samba enredo ao
longo das décadas ultrapassou o seu lugar de criação e se tornou um legítimo produto da
música popular, e, além disso, o seu caráter descritivo serve dentro do campo de ensino como
um suscitador de visualidades que atingem o simbólico e o imaginativo.
O samba enredo por meio de sua linguagem gera a quem ouve um enriquecimento no
modo como vemos a história, um ouviver, onde, vemos o desfile e ouvimos a sua história.
Quando o samba descreve uma revolta do século XVIII, ou questiona o processo de
escravidão ao longo da história, por meio de sua letra e melodia somos colocados em uma
dimensão estética que não estamos muitas das vezes acostumados. Assim o simbólico se
associa possibilitando recriar dimensões do espaço e do tempo por meio da linguagem que o
samba enredo possui no que Mussa e Simas (2010) pontuam como sendo um gênero escrito
musicado épico “que nasceu e se desenvolveu espontaneamente, livremente, sem ter sofrido
mínima influência de qualquer outra modalidade épica, literária ou musical, nacional ou
estrangeira” (MUSSA E SIMAS, 2010, p. 10). Ainda nessa prerrogativa a música cria elos
imaginativos naquilo que Maria de Lourdes Sekeff (2007) coloca como “uma ferramenta que
lhe propicia o exercício da espontaneidade, da criatividade, do desenvolvimento e da
formação de vínculos sociais” (SEKEFF, 2007, p. 19).
O samba enredo, assim como, qualquer outra canção popular, ou não, possui em sua
composição um poder que coloca em que ouve diversos gatilhos para localização dentro em
um espaço, naquilo que Murray Schafer (2011) aponta, onde “a música existe porque nos
eleva, transportando-nos de um estado vegetativo para uma vida vibrante” (SHAFER, 2011,
p. 283). É também uma força que quebra um pensamento linear, possibilitando assim, um
deslocamento e uma reordenação no modo como enxergamos as coisas. O que propomos aqui
como reflexão é que o samba enredo possui em sua gênese passar uma mensagem e de
produzir um conhecimento: o conhecimento do samba.
Cada obra que as escolas de samba colocam na avenida expressa a sua visualidade do
mundo existente, bem como, exprimem os contatos ocultos existentes com os movimentos
sociais. Até a década de 70, as escolas de samba tanto do Rio de Janeiro como de São Paulo
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possuíam em seu diálogo de samba enredo uma visão ainda muito passiva da história, o que
se acentua com o boom dos movimentos sociais na década em questão. Assim, o samba
enredo muda, e a própria visão do negro também.
Como podemos pesquisar na escola da Vila Matilde, a ligação com a negritude gerou
um signo de identidade que lhe é característico, propiciando diversas interpretações do negro
que foram se tornando mais críticas ao longo dos anos. Embora não tenha o mesmo peso de
identidade negra como a Nenê, a Tuiuti carrega em seu espaço de ação na comunidade em que
está inserido, o contexto de uma luta diária ao racismo e genocídio do corpo negro, o que se
reflete na força de seu samba e na imposição de seu desfile no ano de 2018.
Tanto no Rio com em “Sampa” o processo de formação do samba enredo foi uma
construção longa e de diversas resistências ao longo do tempo, em uma reinvenção do
cotidiano racista de ambas as cidades no início do século XX. Como Michel de Certeau
(1994) coloca, é uma reconfiguração de resistência, onde se “criam um espaço diferente, que
coexiste com aquela de uma experiência de ilusões” (CERTEAU, 1994, p. 78), como se existe
dentro dessa carnavalização do cotidiano uma criação utópica e imaginativa onde o negro tem
voz presente, é um rei, um herói da história e pode mudar sua narrativa.
Como Felipe Trotta (2011) bem define, “o samba acompanha a trajetória de afirmação
social das populações descendentes de escravos e sua luta por melhores condições de vida e
trabalho na sociedade brasileira”. Lógico que o samba não se isola de certos estereótipos em
seu feitio, porém, a sua narrativa possibilita que seu uso em sala de aula questione tais
estereótipos. Não existe música certa ou errada como Murray Schafer (2011) coloca. Existem
sim diversas maneiras de se colocar a música dentro de sala aula, e aqui, especificamente o
samba enredo de temática africana e afro-brasileira possui em sua característica o poder de
falar da história da escola de samba, de revelar identidades dentro de um grupo. O samba
enredo é um produto da resistência da escola de samba dentro dos núcleos urbanos da cidade:
sua quadra, sua bateria, sua comunidade, seus símbolos e cores são desde 1928, um modo de
colocar na escrita da cidade, a sua própria visão da história. E para dimensionarmos tal visão
da história que cada escola de samba possui, nos direcionaremos para os dois sambas citados
da Nenê e da Tuiuti.
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“Um canto libertário”, contra “o cativeiro social”: a Nenê a e Tuiuti dentro do combate
ao racismo.
Não sou escravo de nenhum senhor/ Meu Paraíso é meu bastião/ Meu
Tuiuti, o quilombo da favela/ É sentinela da libertação/ Irmão de olho claro
ou da Guiné/ Qual será o seu valor?/ Pobre artigo de mercado/ Senhor, eu
não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor /Tenho sangue avermelhado/ O
mesmo que escorre da ferida/ Mostra que a vida se lamenta por nós dois/
Mas falta em seu peito um coração/ Ao me dar a escravidão e um prato de
feijão com arroz/ Eu fui mandiga, cambinda, haussá/ Fui um Rei Egbá preso
na corrente/Sofri nos braços de um capataz/ Morri nos canaviais onde se
plantava gente/ Ê, Calunga, ê! Ê, Calunga!/ Preto Velho me contou, Preto
Velho me contou/ Onde mora a Senhora Liberdade/ Não tem ferro nem
feitor/ Amparo do Rosário ao negro Benedito/ Um grito feito pele do
tambor/ Deu no noticiário, com lágrimas escrito/ Um rito, uma luta, um
homem de cor/ E assim, quando a lei foi assinada/ Uma lua atordoada
assistiu fogos no céu/ Áurea feito o ouro da bandeira/ Fui rezar na
cachoeira contra a bondade cruel/ Meu Deus! Meu Deus!/ Se eu chorar, não
leve a mal/ Pela luz do candeeiro/ Liberte o cativeiro social. (Samba Tuiuti
2018, autoria Cláudio Russo, Moacyr Luz, Jurandir, Zezé e Aníbal).
Quando a igualdade não havia/ A revolta foi a via contra a força da
opressão / Uma voz se ergueu, outras mais então/ Movimento que surgia,
salve o povo da Bahia/ Sei que a rebeldia que trago no peito/ Tenho o
direito de eternizar/ O canto libertário que se espalha pelo ar/ Lutar,
acreditar, sonhar, ser mais Brasil/ Criar a pátria amada mãe gentil/ Há nos
búzios a mensagem de cada irmão/ No quilombo novos ares, libertação/ Em
canudos Conselheiro e a sua fé/ Cabanagem no Pará, na Nenê samba no pé/
Vai no baticum do Olodum no pelourinho/ Um só coração, um só caminho/
Canto a igualdade, levo a união/ Venço toda a discriminação/ Sonhei que a
terra é do agricultor/ Cidadão encontrou o abrigo do lar/ Eu vi a força
unificando a luta sindical/ Mulheres defendendo um ideal/ De volta ao seu
lugar, a zona leste incendeia/ O anhembí vai levantar, a minha vila tem
sangue na veia/ Chegou, Chegou no templo do samba/ O gueto da gente, a
mais querida/ No coração matildense, Nenê é minha águia, minha vida.
(Samba Nenê 2013, autoria Cláudio Russo, J. Velloso, Ney do Cavaco,
Marquinhos e Dr, Medina)
Como apontamos ao longo deste artigo entender a construção de um samba enredo
perpassa diretamente pela história da agremiação e pela dimensão dada a escolha do enredo
do ano. No caso do enredo de temática africana, essa ligação está diretamente ligada com a
formação rítmica do samba enredo, mas, além disso, o enredo de temática africana possui
dentro de cada escola de samba um pertencimento diferente.
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No caso da Tuiuti ao longo de seus 66 anos a escola apresentou nove sambas enredos
com a temática negra, ou com o eixo principal dentro da temática, enquanto que a Nenê
colocou na avenida vinte e dois sambas de temática africana. E dentro desta temática temos
ainda subtemáticas que se apresentam na religiosidade, personagens e heróis, cidades,
municípios e países, histórico e de construção abstrata. Na Tuiuti esses subtemas se
sobressaem entre enredos abstratos, de personagens e históricos. Já na Nenê, temos a presença
na sua maioria de temas abstratos, heróis e personagens e históricos. Os sambas que aqui
iremos abordar das duas agremiações tramitam no campo do histórico.
Entender a temática é fundamental, pois nos coloca em frente ao pensamento político e
social que a escola carrega dentro de seu percurso dentro da construção do cotidiano da
cidade, naquilo que Monique Augras (1992) coloca como sendo um meio de construção da
memória da escola, em que o samba enredo “sintetiza todo um processo de produção típico do
imaginário popular, onde transparecem tanto o ethos do grupo, como seus códigos de
representação e os mecanismos utilizados para assegurar a sua sobrevivência” (AUGRAS,
1992, 08). Por isso mesmo que o samba enredo de 2013 da Nenê, bem como, seus outros
sambas possuem uma presença de cunho político e da construção ao longo dos anos de um
discurso firme de identidade, que faz parte do pertencimento da escola como um todo, como
uma rede de significados que a escola produziu dentro do signo da negritude. Já na Tuiuti o
samba de 2018 não representa um discurso que se constrói dentro da escola como um símbolo
de identidade. Não que a Tuiuti não seja uma produtora de resistência, já que toda a escola de
samba possui na sua constituição a resistência de um ritmo e manifestação marginalizados,
mas, esse discurso que permeia a escola desde o ano de 2016 é muito mais fruto da influência
do carnavalesco (Jack Vasconcelos), que dos seus enredos do passado.
E aqui vale um destaque que dentro dessa construção de enredo e até mesmo do samba
enredo, o carnavalesco se torna uma figura fundamental, pois é esse profissional que vai
realizar a pesquisa do enredo e todo o seu desenvolvimento, sendo assim, uma escola com um
discurso forte de negritude gera no carnavalesco sua adaptação a esse cenário; agora, em uma
escola com uma identidade não tão definida, o posicionamento do carnavalesco possui
influência grande dentro do processo da construção da identidade de uma escola. Por isso
mesmo, que a escola de samba ela é um organismo vivo dentro das teias sociais da cidade, o
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que faz que ela ao longo do tempo absorva os diferentes posicionamentos dos movimentos
sociais e da política em sua volta.
Agora nos voltando aos samba enredos aqui propostos, eles refletem em muito o
tempo político e social vigente. No ano entre 2012 e 2013 o clima político brasileiro passava
desde um otimismo pela economia, até uma busca de mudanças no campo social,
principalmente dos movimentos sociais. Já na nossa atualidade, temos um governo fruto de
um golpe político que avança medidas autoritárias e na construção da perca de direitos
trabalhistas e de minorias, e de um sucateamento da educação e da indústria de base.
Para desvelarmos um samba enredo temos que observar também no seu discurso, a sua
temática, o seu sujeito e o que está escrito, isso possibilita que façamos um mapeamento para
organizarmos uma sequência didática ou até mesmo possibilitar a sua isenção dentro do
tempo histórico.
O tema de ambos os sambas passam pelo subtema histórico da história do passado
negro. Os dois samba tem algo interessante que é o colocar o negro e a sua luta como eixo de
discurso, desta forma, o samba da Nenê tem um discurso voltado para luta da igualdade tendo
como ponto de partida a Revolta dos Búzios. Já na Tuiuti, o discurso existente é o de
contestação da realidade da escravidão seja no passado ou no presente. E o tempo histórico é
importante, pois em 2013 temos um samba que aposta em uma solução para a desigualdade,
que é a própria história de resistência da Nenê, enquanto que no ano de 2018, o samba da
Tuiuti possui um tom ácido em sua crítica e em um futuro que possui uma solução
desacreditada.
E nesse ponto chegamos ao sujeito existente. No samba da Nenê, intitulado Da revolta
dos Búzios a igualdade. Nenê canta a igualdade, de autoria de Claudio Russo, J. Velloso, Ney
do Cavaco, Marquinhos e Dr. Medina, o sujeito existente é em primeira pessoa e consciente
do que está sendo narrado, tal sujeito é o matildense que conhecedor do passado de luta pela
igualdade dentro do samba, visita a Bahia colonial e passa pela história do Brasil visualizando
os diversos movimentos sociais e históricos que espelharam um futuro sólido em que ser
diferente é ser igual. Na Tuiuti, o samba intitulado Meu Deus, meu Deus, está extinta a
escravidão?, de autoria de Cláudio Russo, Moacyr Luz, Jurandir, Zezé e Aníbal, temos um
sujeito na primeira pessoa, mas que é cético quanto ao seu passado, narrando e conhecendo
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muito bem como a escravidão se tornou uma estrutura importante para a construção de um
passado racista, e que no presente, tal escravidão renasce por meio de uma institucionalização
de uma realidade de trabalho degradante e de perca de direitos, em um pensamento neoliberal.
E tudo isso se reflete da letra existente. No samba da Nenê a letra é de enaltecimento
dos diversos movimentos existentes, assim palavras como venço, força, sonhei, igualdade,
lutar se tornam basilares para que se crie uma paisagem sonora voltada para a construção ao
ouvinte de um poema de resistência. E a letra do samba da Nenê é voltada para uma visão
explicativa e descritiva sempre enaltecendo a busca da igualdade e dos direitos, reservando
inclusive, um trecho grande de referência a Revolta dos Búzios. Já no samba da Tuiuti temos
a presença de palavras de contestação e de ordem para construção de um verdadeiro poema
sobre o passado escravista. E sendo em primeira pessoa, o tom do samba enredo é de
melancolia e descritivo conforme vai avançando, no início se apresenta um diálogo entre o
escravizado e quem escraviza, e vamos passando até o fim em uma consciência que seu lugar
na sociedade não é o de serem escravo e cativo de uma realidade social. Uma curiosidade
desses dois sambas é que o compositor principal de ambos é o sambista Cláudio Russo, um
expoente da nova geração de compositores do samba carioca, e se formos analisar bem os
sambas meio que se completam, o que mostra que a construção da visualidade de resistência
possui aspectos do compositor, e o intérprete dos dois sambas tem um cantor em comum, o
Celsinho Mody, que na Tuiuti cantou ao lado de Grazzi Brasil e de Nino do Milênio, e na
Nenê cantou solo.
O que devemos visualizar em um contexto geral, é que o samba da Nenê é menos
crítico que o samba da Tuiuti, que apresenta palavras e um discurso que dimensionam o
ouvinte a se sensibilizar com um passado que permanece no presenta. Porém, o samba da
Nenê tem um caráter didático grande por colocar de maneira direta o que se pretende
aprender, como no trecho:
Quando a igualdade não havia/ A revolta foi a via contra a força da
opressão/ Uma voz se ergueu, outras mais então/ Movimento que surgia,
salve o povo da Bahia/ Sei que a rebeldia que trago no peito/ Tenho o
direito de eternizar/ O canto libertário que se espalha pelo ar (Samba Nenê
de Vila Matilde 2013, autoria e Cláudio Russo, J. Velloso, Ney do Cavaco,
Marquinhos e Dr. Medina)
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Nesse trecho inicial temos o tempo histórico que o samba inicia a localidade, o que se
almejava e de certa maneira, os ecos que se espalham pelo ar. Além disso, temos a associação
com a ideia de resistência dos quilombos, sem escolher um em especifico, a Revolta de
Canudos, pela busca de terra na Bahia e a Cabanagem, que foi uma resistência no atual Pará,
em que se instaurou o primeiro núcleo politico de origem popular, e em ambos os casos a
presença do negro foi direta dentro da construção desses movimentos. E um pouco adiante
temos a participação especial do Olodum dentro da revitalização do centro histórico de
Salvador e no combate ao racismo. E em seguida temos o combate de outras lutas como o
feminismo, a busca de direitos do trabalhador, de moradia, reforma agraria e LGBTQI+,
movimentos esses que assim como os ocorridos ao longo da história lutam pela igualdade e
do reconhecimento da diferença, mas esse discurso só existe por partir da luta dos negros
dentro da Bahia colonial.
Já no samba da Tuiuti, temos um questionamento em uma nova roupagem ao samba
da Unidos de Lucas do ano de 1969, intitulado Sublime Pergaminho, onde, a escravidão é
posta como extinta. Isso mostra como o samba se articula diretamente aos movimentos
sociais, já que 50 anos depois temos uma nova visualidade do assunto.
No samba da Tuiuti, temos outro tipo de narrativa que é um diálogo que surge a partir
da pergunta de quem escraviza para o escravizado irmão de olho claro ou da Guiné/ Qual
será o seu valor? Pobre artigo de mercado em uma alusão aos diferentes tipos de escravidão
na história, dos gregos e romanos, dos eslavos até os negros escravizados. E continua com o
narrador explicando como foi e como acontece a sua luta contra o cativeiro senhor eu não
tenho a sua fé, e nem tenho sua cor/ Tenho sangue avermelhado/ O mesmo que escorre da
ferida/ Mostra que a vida se lamenta por nós dois/ Mas falta em seu peito um coração/ Ao me
dar a escravidão e um prato de feijão com arroz, nesse início podemos perceber que a busca
do samba é explicar a escravidão como algo “comum” na história e em diversas raças e etnias,
de forma crítica.
Mas logo em seguida esse tom se volta para o continente africano e para a realidade da
escravidão no Brasil, e na importância que a agricultura teve no fortalecimento e na morte de
diversos africanos que para cá vieram, como no trecho morri nos canaviais onde se plantavam
gente, e logo em seguida mostra como que esses negros escravizados foram importantes
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dentro da construção da identidade e história brasileira. E no fim se mostra de maneira bem
crítica a respeito do processo de abolição e de como tudo isso não passou de uma farsa, ou
uma bondade cruel que colocou o negro dentro da realidade racista e higienista do Brasil, nos
trazendo para atualidade, onde o cativeiro ele não é mais na agricultura, nas minas ou nas
casas grandes, mas que agora são cativeiros sociais, de exploração do trabalho e da perda de
direitos mínimos para um trabalho justo. E no refrão de baixo do samba temos o
questionamento que a luta não acabou, só mudou os personagens.
Assim, como podemos perceber os dois sambas apresentam um recurso didático
potente dentro de sala de aula, podendo inclusive um ser cruzado com o outro. As temáticas
dentro da história do Brasil são as mais diversas, desde o processo de escravidão no Brasil e
em África, ou na transição do Império para república, ou nas revoltas coloniais contra a Coroa
Portuguesa, ou mesmo na discussão da contemporaneidade na busca de uma sociedade
intercultural e de respeito às diferenças e na luta antirracista em nossa sociedade. Além da
história podemos versar com outras linguagens existentes como a poesia de Carolina de Jesus,
os movimentos musicais como o Rap, Hip Hop e Funk, com a geografia e os deslocamentos
dentro da urbanização, com a literatura a partir do samba enredo como poema ou da gramática
nas construções das palavras e de sua métrica.
O “Gueto do Samba” e o “Quilombo da Favela”: pontos para refletir.
Ao longo desse artigo a ideia principal é a de mostrar como o samba enredo no geral
pode construir e desconstruir a realidade colonial e pejorativa do “outro” dentro da sociedade.
A implementação da Lei 10.639/03 esbarra em fatores dos mais variados, e um deles, é na
construção de materiais que sirvam como recurso didático a sua prática docente. Explicar a
história do Brasil e colocando o negro como agente de sua história, e de como sua história é
de luta e resistência é essencial para que construamos um enegrecimento do currículo.
A escola de samba ao longo de sua existência acredita, dentro da carnavalização do
cotidiano, que devemos tentar mostrar o passado por meio de uma linguagem que poetifique o
cotidiano, e que mostre a história por outro olhar. Tanto a Nenê de Vila Matilde como o
Paraíso do Tuiuti coloca em seus sambas outro olhar ao negro, uma nova interpretação de seu
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passado, mas acima de tudo, o inclui dentro de uma narrativa positiva para a sociedade.
Cantar venço toda a discriminação ou não sou escravo de nenhum senhor é colocar dentro de
sala de aula uma linguagem do conhecimento cotidiano, em uma afirmação da raça.
Como defendo em minha dissertação o uso do samba se torna uma utopia dentro das
diversas atrocidades que vivemos na atualidade. Porém, assim como as escolas de samba,
acredito que esse grito e esse sonho devam permanecer sempre à frente, e em circulação. E
me parece que o ambiente escolar e seus personagens principais, os estudantes, sejam o
principal motor para a permanência desse canto libertário, contra o cativeiro social.
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