NeutroATerra N13 1S2014 Digital

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Revista Técnico-Científica |Nº13| Junho de 2014 http://www.neutroaterra.blogspot.com EUTRO À TERRA Instituto Superior de Engenharia do Porto – Engenharia Electrotécnica – Área de Máquinas e Instalações Eléctricas Nesta edição da revista, merece particular destaque a colaboração da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brasil, com um importante artigo sobre “Prédios Inteligentes. Green Buildings”. Na realidade, o interesse crescente pela nossa revista “Neutro à Terra” vai muito para além do nosso país, verificandose o agrado das comunidades académicas e muitas empresas do setor eletrotécnico de outros países em acederem a uma revista especializada que alia publicações de natureza mais científica com outras de natureza mais prática. Professor Doutor José Beleza Carvalho Máquinas Elétricas Pág.05 Energias Renováveis Pág. 09 Instalações Elétricas Pág. 19 Telecomunicações Pág. 35 Segurança Pág. 41 Eficiência Energética Pág.57 Automação Domótica Pág. 63 Nº13 1º semestre de 2014 ano 7 ISSN: 16475496

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Electricidad neutro a tierra

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  • Revista Tcnico-Cientfica |N13| Junho de 2014http://www.neutroaterra.blogspot.com

    EUTRO TERRA

    InstitutoSuperiordeEngenhariadoPorto EngenhariaElectrotcnica readeMquinaseInstalaesElctricas

    Nesta edio da revista, merece particular destaque a colaborao da

    Universidade Tecnolgica Federal do Paran, Brasil, com um importante

    artigo sobre Prdios Inteligentes. Green Buildings. Na realidade, o interesse

    crescente pela nossa revista Neutro Terra vai muito para alm do nosso

    pas, verificandose o agrado das comunidades acadmicas e muitasempresas do setor eletrotcnico de outros pases em acederem a uma revista

    especializada que alia publicaes de natureza mais cientfica com outras de

    natureza mais prtica.Professor Doutor Jos Beleza Carvalho

    MquinasEltricasPg.05

    EnergiasRenovveisPg.09

    InstalaesEltricasPg.19

    Telecomunicaes

    Pg.35Segurana

    Pg.41EficinciaEnergticaPg.57

    AutomaoDomticaPg.63

    N13 1semestrede2014 ano7 ISSN:16475496

  • EU

    TR

    O

    TE

    RR

    A

    FICHATCNICA DIRETOR: Doutor Jos Antnio Beleza CarvalhoSUBDIRETORES: Eng. Antnio Augusto Arajo Gomes

    Doutor Roque Filipe Mesquita BrandoEng. Srgio Filipe Carvalho Ramos

    PROPRIEDADE: rea de Mquinas e Instalaes EltricasDepartamento de Engenharia ElectrotcnicaInstituto Superior de Engenharia do Porto

    CONTATOS: [email protected] ; [email protected]

    ndice

    03| Editorial

    05| Mquinas Eltricas

    Regulao de velocidade em motores de corrente contnua

    Jos Antnio Beleza Carvalho

    09| Energias Renovveis

    Autoconsumo Fotovoltaico. A democratizao da Energia.

    Manuel Azevedo

    Diogo Maximino Ribeiro da Silva

    19|

    25|

    Instalaes Eltricas

    Traagem eltrica.

    Mrio Fernando Soares de Almeida

    Poluio harmnica em Instalaes Eltricas Industriais

    Jos Rodrigo Pereira

    Jos Antnio Beleza Carvalho

    35| Telecomunicaes

    ITED 3 Edio 2015: Manual evolutivo e reconstrutivo

    Srgio Filipe Carvalho Ramos

    41| Segurana

    Incndio. Um Risco constante com elevado potencial de perigo

    Frederico Miguel Cardoso Rosa

    57| Eficincia Energtica

    Manual de Boas Prticas para Cadastro de IP

    Alberto Van Zeller

    63| Automao e Domtica

    Prdios inteligentes. Green Buildings.

    Roberto Ribeiro Neli

    Paulo Dnis Garcez da Luz

    67| Autores

    PUBLICAO SEMESTRAL: ISSN:16475496

  • EDITORIAL

    3

    Estimados leitores

    A recesso econmica que se verifica atualmente tem afetado todos os setores da nossa economia, no entanto, a indstria

    eletrotcnica tem mantido apesar de tudo uma dinmica muito aprecivel. Um facto importante, que decorreu durante o

    primeiro semestre deste ano, foi a discusso sobre a Proposta de Lei 101/2014, de 27 de maro, relativa ao Estatuto dos

    Tcnicos Responsveis por Instalaes Eltricas de Servio Particular. Este documento, bastante polmico, que se encontra na

    fase final de aprovao, vai ser determinante na interveno dos engenheiros eletrotcnicos na rea das instalaes eltricas.

    Contamos na prxima edio da nossa revista Neutro Terra apresentar um artigo sobre este assunto.

    Nesta edio da revista, merece particular destaque a colaborao da Universidade Tecnolgica Federal do Paran, Brasil, com

    um importante artigo sobre Prdios Inteligentes. Green Buildings. Na realidade, o interesse crescente pela nossa revista

    Neutro Terra vai muito para alm do nosso pas, verificandose o agrado das comunidades acadmicas e muitas empresasdo setor eletrotcnico de outros pases em acederem a uma revista especializada que alia publicaes de natureza mais

    cientfica com outras de natureza mais prtica. Nesta edio da revista merecem ainda particular destaque os temas

    relacionados com as mquinas eltricas, as energias renovveis e a eficincia energtica, as instalaes eltricas, os sistemas de

    segurana e as telecomunicaes.

    A utilizao de energias renovveis esto cada vez mais presentes na produo de eletricidade, pois permitem diminuir a

    utilizao dos combustveis fosseis na produo convencional de energia eltrica. Com a introduo da microproduo em

    Portugal (DL 363/2007) teve incio a primeira fase da implementao do solar fotovoltaico. Os consumidores passaram a ser

    produtores de energia. Com o aumento do preo da eletricidade e a forte descida dos custos do fotovoltaico vaise assistir nosprximos anos a verdadeira democratizao da energia atravs da introduo de conceitos de autoconsumo. Nesta revista,

    apresentase um artigo sobre o autoconsumo solar fotovoltaico que pode representar uma soluo para os consumidoresreduzirem o impacto do aumento da eletricidade e ao mesmo tempo permitir a criao de um mercado solar fotovoltaico

    sustentvel.

    No mbito das instalaes eltricas, da eficincia energtica e da qualidade da energia eltrica, publicase um artigo sobrePoluio Harmnica em Instalaes Eltricas Industriais. Este ainda atualmente um assunto de difcil compreenso e

    desconhecido, cujas consequncias na industria se fazem sentir por importantes prejuzos de natureza tcnica e econmica. No

    artigo que apresentado feita uma anlise tcnica e cientfica ao problema das componentes harmnicas nas instalaes

    eltricas industriais, apresenta as suas causas e consequncias, e as solues que atualmente existem no mercado para

    minimizar este problema.

    Ao longo das ltimas dcadas Portugal tem assistido a um abrandamento na construo civil e, naturalmente, na construo de

    edificado novo. Porm, subsiste a necessidade de requalificar os edifcios ja existentes que sero, indubitavelmente, o grande

    nicho de negcio nas dcadas vindouras. Paralelamente, a legislao e as especificaes e prescries tcnicas das diversas

    instalaes especificas, designadamente as Infraestruturas de Telecomunicaes em Edifcios (ITED), devem convergir para a

    harmonizao com as Normas Europeias e adaptadas realidade econmica do pas. Neste mbito, uma edio do Manual ITED

    (a 3 Edio) ser publicada no prximo ano de 2015, e visa fundamentalmente a atualizao das especificaes e prescries

    tcnicas com a normalizao europeia e uma convergncia com a real situao econmica portuguesa. O artigo que

    apresentado prope, de uma forma sucinta, evidenciar as principais alteraes decorrentes da proposta do novo

    enquadramento das Infraestruturas de Telecomunicaes em Edifcios.

  • EDITORIAL

    4

    Nesta edio da revista Neutro Terra podese ainda encontrar outros assuntos muito interessantes e atuais, como um artigosobre Regulao de Velocidade de Motores de Corrente Contnua, um artigo que aborda a Traagem Eltrica nas Instalaes

    Eltricas, um artigo muito importante sobre os Riscos de Incndios nas Instalaes Eltricas, e um artigo relacionado tambm

    com a eficincia energtica, neste caso, sobre a elaborao de UmManual de Boas Prticas no Cadastro da Iluminao Pblica.

    Desejando que esta edio da revista Neutro Terra satisfaa novamente as expectativas dos nossos leitores, apresento os

    meus cordiais cumprimentos.

    Porto,junhode2014

    JosAntnioBelezaCarvalho

  • ARTIGO TCNICO

    5

    1. Introduo

    Uma grande parte das aplicaes em que se utiliza fora

    motriz beneficiaria, em termos de consumo de energia

    eltrica e de desempenho global, se a velocidade do motor

    se ajustasse s necessidades do processo. Existem muitas

    aplicaes em que necessrio regulao e controlo de

    velocidade, como em mquinas ferramentas, ventoinhas,

    elevadores, veculos de trao eltrica, entre outras.

    A utilizao de variadores eletrnicos de velocidade (VEVs)

    permite responder a alteraes nas condies de carga do

    motor atravs da variao da sua velocidade. Atravs da

    regulao da velocidade de rotao dos motores, os

    variadores eletrnicos de velocidade proporcionam uma

    melhoria das condies de funcionamento dos processos,

    um menor desgaste dos componentes mecnicos, um menor

    rudo de funcionamento e, fundamentalmente, uma

    substancial poupana de eletricidade.

    Os motores de corrente contnua (DC) so ainda muito

    utilizados em sistemas que requerem variao de

    velocidade. Nestes motores, o controlo e a regulao de

    velocidade acima e abaixo da respetiva velocidade nominal

    facilmente conseguido, sendo os reguladores de velocidade

    destas mquinas mais simples e menos dispendiosos que os

    reguladores de velocidade usados nas mquinas de corrente

    alternada (AC).

    As tecnologias inerentes ao controlo e regulao de

    velocidade evoluiu muito nos ltimos anos.

    No sistema clssico pelo mtodo WardLeonard, mquinasrotativas eram utilizadas para variar a velocidade dos

    motores DC. Atualmente, so utilizados conversores

    eletrnicos com semicondutores de estado slido para esta

    finalidade.

    2. SistemaWardLeonard

    Este sistema apareceu por volta de 1890 e utiliza um grupo

    motorgerador (MG) para controlar a velocidade do motorDC, como se apresenta na Figura 2. O motor do grupo MG(normalmente um motor AC de induo) gira a velocidade

    constante. Variando RC1 (restato de excitao do gerador)

    possvel variar a corrente de excitao do gerador ig,

    alterando assim a tenso V quer aos terminais do gerador

    quer aos terminais do motor. A variao da tenso V aos

    terminais do motor DC permite variar a velocidade deste.

    Este sistema funciona em dois modos de controlo.

    Figura2.SistemaWardLeonard

    a) Controlo pela Tenso na Amadura V

    Neste modo de controlo a corrente excitao do motor

    atravs de RC2 (restato de excitao do motor) mantida

    constante e no seu valor nominal. A corrente de excitao do

    gerador ajustada em RC1, para variar a tenso desde zero

    at ao seu valor nominal. A velocidade do motor ir variar

    desde zero at velocidade nominal, como se pode ver na

    figura 3.

    JosAntnioBelezaCarvalhoInstitutoSuperiordeEngenhariadoPorto

    REGULAO DE VELOCIDADE EM MOTORES DE CORRENTE CONTNUA

    Figura1.MotordeCorrenteContnua

  • ARTIGO TCNICO

    6

    b) Controlo pela corrente de excitao

    Este modo de controlo utilizado para variar a velocidade

    acima do valor nominal. Neste caso, a tenso na armadura

    mantmse constante e vaise diminuindo a corrente deexcitao do motor em RC2, obtendose assim velocidadesmais elevadas. Como a corrente na armadura vaise manteraproximadamente constante, dizse que o motor funciona apotncia constante. Obviamente que o binrio do motor

    decresce ligeiramente com o aumento da velocidade, como

    se pode ver na Figura 3.

    2. Controlo Eletrnico

    Os conversores de estado slido so atualmente usados para

    substituir o grupo DM do sistema WardLeonard no controlode velocidade dos motores DC. A Figura 4 apresenta o

    diagrama de blocos de um sistema conversor de estado

    slido. Os conversores utilizados baseiamse emretificadores e choppers de comutao controlada.

    2.1 Retificadores controlados

    Quando a fonte de alimentao alternada, os retificadores

    podem ser utilizados para converter uma tenso constante

    AC numa fonte de tenso varivel DC. Se os dispositivos de

    comutao forem todos dispositivos controlados, como os

    tirstores, o conversor denominado de Totalmente

    Comandado. Se os dispositivos comutadores forem metade

    deles tirstores e a outra metade dodos, o conversor

    denominado de Semicomandado. Como apresentado na

    Figura 5, o ngulo de disparo dos tirstores determina ovalor mdio da tenso de sada Vt. O sinal de controlo Vc

    varia o ngulo de disparo e, consequentemente, varia atenso Vt.

    Alimentao monofsica: conversor totalmente controlado

    (1)

    Alimentao monofsica: conversor semicontrolado

    (2)

    Alimentao trifsica: conversor totalmente controlado

    (3)

    Alimentao trifsica: conversor semicontrolado

    (4)

    Onde Vp o valor eficaz da tenso alternada monofsica. A

    variao da tenso Vt aos terminais do motor em funo do

    ngulo de disparo apresentada na Figura 6, para ambos

    Figura5.RetificadorcontroladoparacontrolovelocidadedemotoresDC

    Figura3.SistemaWardLeonard.Regulaomista

    Figura4.Diagramadeblocosdeumsistemaconversordeestadoslido

  • ARTIGO TCNICO

    7

    2.3 Operao em malha fechada

    Em acionamentos do motor DC onde se exige uma

    velocidade rigorosamente constante, o controlo em malha

    aberta no totalmente satisfatrio.

    Em malha aberta, variaes no binrio da carga originam

    variaes na velocidade. Em controlo em malha fechada a

    velocidade pode ser mantida constante, ajustando a tenso

    aos terminais do motor de acordo com as variaes do

    binrio de carga. A Figura 8 apresenta um diagrama de

    blocos de um controlo em malha fechada

    As principais vantagens da operao em malha fachada a

    possibilidade de obter velocidade de funcionamento

    constante, a preciso no valor da velocidade obtida,

    excelente resposta dinmica e estabilidade de

    funcionamento.

    Figura8.Controloemmalhafechada

    os conversores, totalmente controlado e semicontrolado. Se

    a queda de tenso RaIa for desprezada (Vt=Ea), as curvas da

    Figura 6 tambm representam a variao de Ea e, como tal, a

    variao da velocidade com o ngulo de disparo.

    2.2 Choppers

    O chopper converte uma tenso contnua fixa numa tenso

    contnua varivel. O diagrama esquemtico e as formas de

    onda so apresentadas na Figura 7.

    (5)

    Em que: Ton representa interruptor fechado, o ndice demodulao do chopper e T o perodo de comutao.

    Figura6.Caratersticasdoretificadorcontrolado

    ont

    tV V VT

    Figura7.CircuitoeOperaodeumChopper

  • ARTIGO TCNICO

    8

    Em malha fechada o sistema tambm pode ser

    dimensionado para funcionar a potncia constante ou

    binrio constante, ou seja, permitir uma regulao mista. Um

    sistema de controlo em malha fechada com anel de

    realimentao de corrente permite a regulao mista do

    motor DC. Na Figura 9 apresentase um diagrama de blocosdum sistema de controlo deste tipo.

    No motor DC, a resistncia da armadura (Ra) e a indutncia

    (La) tomam valores reduzidos. Como tal, a constante de

    tempo do circuito da armadura tambm reduzida.

    Assim, uma pequena variao da tenso aplicada resulta

    numa variao elevada de corrente no circuito da armadura.

    O anel de realimentao de corrente protege o conversor e o

    motor para variaes que possam tomar valores elevados de

    corrente.

    A sada do controlador de velocidade representa um

    comando de binrio. Como o binrio ser proporcional

    corrente Ia*, a sada do controlador de velocidade

    representa o controlo da corrente Ia. O controlador de

    corrente vai limitar a corrente na armadura. O controlador

    de velocidade e o controlador de corrente podem ser do tipo

    Proporcional (tipo P) ou ProporcionalIntegral (tipo PI). Aescolha depende da qualidade e do rigor que se pretende

    para o controlo em malha fechada do motor.

    3. Concluso

    Os motores de corrente contnua so ainda muito utilizados

    em sistemas que requerem variao de velocidade. O

    controlo e a regulao de velocidade acima e abaixo da

    respetiva velocidade nominal facilmente conseguido,

    sendo os reguladores de velocidade destas mquinas mais

    simples e menos dispendiosos que os reguladores de

    velocidade usados nas mquinas de corrente alternada.

    A utilizao de VEVs na regulao da velocidade de rotao

    dos motores de corrente contnua proporcionam uma

    melhoria das condies de funcionamento dos processos,

    um menor desgaste dos componentes mecnicos, um menor

    rudo de funcionamento e, fundamentalmente, uma

    substancial poupana de energia eltrica.

    A regulao de velocidade destes motores assenta

    fundamentalmente no controlo e regulao da tenso

    aplicada na armadura e, ou, controlo da corrente de

    excitao do motor. Para tal, utilizamse conversoreseletrnicos baseados em retificadores controlados e

    choppers.

    A operao destes conversores em malha fachada permite

    obter nos motores velocidade de funcionamento constante,

    maior preciso no valor da velocidade obtida, excelente

    resposta dinmica e regimes de funcionamento com elevada

    estabilidade

    Bibliografia

    [1] Beleza Carvalho, J. A., Mquinas Eltricas de Corrente

    Contnua. Apontamentos da disciplina de Mquinas Eltricas

    I. ISEP, Porto, maro de 2014.

    [2] WEG, Motores de Corrente Contnua. www.weg.net.

    Catlogo WEG 2012.

    [3] Sen, P.C., Principles of Electric Machines and Power

    Electronics. Editor: John Wiley & Sons.

    [4] Fitgerald, A.E., Charles Kingsley. Electric Machinery.

    Editor: McGraw Hill.

    [5] ABB, Low Voltage Industrial Performance Motors.

    Catlogo ABB 2009.

    Figura9.Controloemmalhafechadacomrealimentaodecorrente

    a

    a

    LR

  • ARTIGO TCNICO

    9

    1. Introduo

    Com a introduo da microproduo em Portugal (DL

    363/2007) teve incio a primeira fase da implementao do

    solar fotovoltaico. Os consumidores passaram a ser

    produtores de energia. Com o aumento do preo da

    eletricidade e a forte descida dos custos do fotovoltaico

    iremos assistir nos prximos anos verdadeira

    democratizao da energia atravs da introduo de

    conceitos de autoconsumo.

    1. Enquadramento

    Na ltima dcada, a fatura de energia eltrica aumentou

    continuamente nos diferentes nveis de tenso de

    alimentao. Este aumento devese no s ao aumento dacarga fiscal em 2012 (aumento do IVA de 6% para 23%) mas

    tambm cada vez maior contribuio dos custos de

    interesse econmico geral (CIEGs). Os custos de acesso

    rede e os custos de interesse econmico geral representam

    hoje em dia metade da componente varivel e a quase

    totalidade da componente fixa (potncia contratada). A

    necessidade de incorporar todos sobrecustos da produo

    em regime especial (PRE) e em regime ordinria (PRO) aos

    consumidores, para no aumentar o j elevado nvel de

    dfice tarifrio na ordem dos 3,7 mil milhes, ir pressionar

    os CIEG e assim a componente no dependente do custo da

    energia eltrica. Para se ter uma ideia da gravidade da

    situao, o valor da divida que cada consumidor portugus

    tem junto do sistema eltrico nacional so

    aproximadamente 570 (sem IVA) (considerando 6,4 milhes

    de consumidores [1]). Para a liquidao total da divida de

    uma s vez seria necessrio aumentar a tarifa eltrica em

    0,075/kWh. O atual Governo tem como meta para 2020/25,

    poder extinguir o dfice tarifrio com aumentos mximos

    anuais de 1,5% acrescento da taxa de inflao.

    A sustentabilidade e a estabilidade das tarifas de eletricidade

    (e dfice tarifrio) dependem fortemente das polticas

    nacionais para as energias renovveis e eficincia energtica.

    O atual dfice tarifrio constitudo por cerca de 90% com

    os sobrecustos provocados pelas energias renovveis (PRE).

    Para a futura real implementao em larga escala de

    produo descentralizada baseada no conceito prosumidor

    (= produtor + consumidor), que teve o seu inicio com os

    decretos leis 363/2007 de 2 de Novembros e 34/2011 de 8

    de Maro, necessrio criar mecanismos que no

    aumentem mais o dfice tarifrio.

    O autoconsumo solar fotovoltaico pode representar uma

    soluo para os consumidores reduzirem o impacto do

    aumento da eletricidade e ao mesmo tempo permitir a

    criao de um mercado solar fotovoltaico sustentvel.

    2. A soluo autoconsumo fotovoltaica

    Com a segura subida dos preos de energia e o evidente

    amadurecimento das solues fotovoltaicas, novas filosofias

    de instalao ganham evidncia, nomeadamente a filosofia

    de autoconsumo. Estas instalaes fotovoltaicas so

    instaladas em locais onde existe rede eltrica pblica. A

    produo de energia no visa a venda ao abrigo dos regimes

    bonificados conhecidos do tipo feedin tariff (micro ouminiproduo) mas sim o consumo no local.

    2.1 Autoconsumo instantneo (100% autoconsumo)

    O autoconsumo a possibilidade de consumir

    instantaneamente (consumo natural) a energia eltrica

    (figura 1: rea azul) gerada pela instalao fotovoltaica,

    produzindo uma poupana direta na compra da energia ao

    comercializador de eletricidade. As instalaes so ligadas

    rede atravs de uma rede interior de consumo.

    ManuelAzevedoDiogoMaximinoRibeirodaSilva

    InstitutoSuperiordeEngenhariadoPorto

    AUTOCONSUMO FOTOVOLTAICO.

    A DEMOCRATIZAO DA ENERGIA

  • ARTIGO TCNICO

    10

    Figura 1. Diagrama de carga (curva vermelha) e produo

    fotovoltaica (curva amarela).

    Esta soluo j aceite em Portugal, todavia necessrio

    garantir que nenhuma energia seja injetada na rede,

    existindo j as seguintes solues tcnicas:

    a) Dimensionar o sistema fotovoltaico (em termos de

    potncia instalada) de forma que a energia produzida ao

    longo do ano seja sempre inferior ao consumo.

    b) Utilizao de inversores com reduo de potncia em caso

    de verificao de produo em excesso. Neste caso, no se

    est a favorecer um consumo eficiente da energia.

    c) Implementao de um sistema de ativao de cargas em

    caso de existncia de energia fotovoltaica em excesso. Esta

    soluo representa um consumo muito eficiente da energia

    renovvel. Tem como desvantagem os custos de

    implementao do sistema de controlo.

    2.2 Autoconsumo com injeo de excedentes na rede

    (RESP)

    Se existirem momentos nos quais a produo da instalao

    supera o consumo, sero gerados excedentes de energia

    (figura 1: rea amarela) que podero ser injetados ou no na

    rede. No caso da injeo do excedente, estamos a falar de

    um mecanismo em que a energia vendida rede (por

    exemplo pelo comercializador de mercado ou ltimo

    recurso, CUR) remunerada a uma tarifa predefinida.

    Existem vrios modelos e mecanismos de remunerao que

    podem passar pela atribuio de um crdito ao consumidor

    pelo comercializador (acertos de contas na fatura mensal de

    consumo, modelo de netmetering) ou pela remunerao aopreo de mercado spot pelo comercializador de ltimo

    recurso.

    Estes dois modelos no esto regulados atualmente em

    Portugal. Tendo em conta a evoluo legislativa no

    espectvel que a atribuio de crditos (netmetering) porparte do comercializador seja a soluo adotada em

    Portugal.

    2.3 Autoconsumo com armazenamento e injeo de

    excedentes na rede (RESP)

    Para aumentar o grau de autoconsumo da energia gerada faz

    sentido armazenar temporariamente a energia em excesso

    numa pequena bancada de baterias com uma capacidade de

    armazenamento semelhante ao consumo dirio. S depois

    do completo carregamento, que a energia em excesso ser

    injetada na rede. Este sistema tem a vantagem de maximizar

    o aproveitamento da energia fotovoltaica e aumentar o

    consumo eficiente da energia renovvel. A existncia do

    armazenamento, implicar o aumento dos custos de

    investimento devido s baterias e ao sistema de controlo de

    carga. Este aumento de investimento aproveitado pelos

    fornecedores oferecendo sistemas inteligentes de controlo

    ativo das cargas, permitindo um aumento autoconsumo.

    Figura 2. Diagrama de blocos de um sistema de

    autoconsumo.

  • ARTIGO TCNICO

    11

    Na figura 2 apresentado o esquema global de um sistema

    de autoconsumo. O sistema constitudo por um sistema

    fotovoltaico, uma unidade de controlo (que em funo do

    seu grau de complexidade monitoriza o consumo e a

    produo de energia, ativa ou desativa cargas no continuas

    (exemplo: mquina de lavar roupa ou loia, aquecimento

    central, cilindro de gua, etc.) atua como controlador de

    carga das baterias e um sistema de armazenamento de

    energia. O autoconsumo, representa uma maior mais vlida

    em relao injeo na rede. Enquanto o autoconsumo

    representa uma poupana econmica entre 0,06/kWh a

    0,16/kWh (dependendo do nvel de tenso), a venda do

    excedente rede representar no futuro um proveito de

    0,14/kWh para clientes BT e 0,05/kWh a 0,075/kWh para

    clientes de MT. de realar, que os consumidores

    domsticos no podem deduzir o IVA podendo os valores de

    poupana poderem atingir os 0,19/kWh (semelhantes

    tarifa bonificada de 0,196/kWh para 2013 no regime de

    microproduo).

    Atualmente, o fotovoltaico visto como um investimento

    financeiro para obter uma elevada rentabilidade.

    permitido a instalao de sistemas com potncias de ligao

    nominais de 3,68kW at 250kW. No futuro, o fotovoltaico

    ter que ser visto com um investimento de poupana e

    eficincia energtica. Ser necessrio conhecer e analisar o

    perfil de consumo (diagrama de carga) do consumidor

    domstico e empresarial e encontrar dentro dos vrios

    objetivos a melhor soluo tcnica.

    3. Casos de estudo

    Em seguida apresentamse vrios casos de estudo deaplicaes de autoconsumo, que vo desde do consumidor

    domstico (alguns kW), pequena e mdia unidade

    industrial (algumas dezenas de kW) at a um grande

    consumidor (superior a 1MW). Com os estes casos de estudo

    pretendemse demostrar a viabilidade econmica doautoconsumo e os cuidados a ter no dimensionamento das

    mesmas e das respetivas limitaes.

    3.1 Consumidor domstico

    Em seguida apresentado uma soluo tcnica e uma

    anlise econmica financeira para um consumidor

    domstico, localizado na freguesia de Roriz no concelho de

    Santo Tirso, com uma potncia contratada de 3,45 kVA e um

    consumo anual de energia eltrica de 3300 kWh. O

    consumidor utiliza o tarifrio simples tem uma fatura de

    eletricidade anual de 738,24 (tarifas reguladas de janeiro

    de 2013).

    A figura 3 mostra a variao mensal do consumo ao longo do

    ano, onde se observa um consumo mdio mensal de 275

    kWh e uma variao significativa entre os meses de vero e

    inverno da ordem dos 100 kWh.

    Figura 3. Variao mensal do consumo para um

    consumidor domstico.

    3.1.1 Nanoproduo autoconsumo instantneo

    Para obter um elevado grau de autoconsumo da energia

    produzida, um elevado nvel de poupana e evitar a injeo

    de energia excendentria na rede podemos utilizar a

    seguinte configurao de sistema:

    a) Potncia instalada: 690Wp (3 x 230Wp);

    b) Inversor: Mastervolt Soladin 600 (ou como alternativa 3

    micro inversores);

    c) Disjuntor DC125V.

  • ARTIGO TCNICO

    12

    O sistema fotovoltaico tem uma produo anual de 840 kWh

    e ligado em paralelo com a rede diretamente no quadro

    geral de baixa tenso (QGBT) ou a uma tomada eltrica. Para

    proteo do sistema ligado a um disjuntor DC125V entre o

    inversor e a tomada eltrica/QGBT. Este sistema ser

    possvel obter uma poupana bruta de 25%

    (840kWh/3300kWh). Como se pode verificar na figura 4, nos

    meses de inverno a energia produzida 100%

    autoconsumida, sendo nos outros meses at 80%. A energia

    fotovoltaica gerada por este sistema de nanoproduo,

    representa at 40% da energia consumida nos meses de

    vero. Mesmo com este sistema de pequena escala e com o

    diagrama de carga tipo, 8,5% da energia produzida

    excedente. Isto significa que esta energia ter que ser

    injetada na rede a custo zero ou a uma tarifa de venda.

    Figura 4. Variao anual do grau de autoconsumo (curva azul) e a

    relao entre energia gerada e consumida (curva em amarelo).

    Estes pequenos kits de autoconsumo podem ser atualmente

    adquiridos em diversas lojas online [2]. Com base no preo

    de aquisio indicado na loja (junho de 2013) de 1.348,08

    (valor com IVA) permitenos fazer uma pravaliaoeconmica financeira do sistema.

    Parmetros iniciais:Consumo anual: 3300 kWhTipo de tarifrio: SimplesValor da tarifa: 0,1756/kWh(com IVA e imposto sobre eletricidade)Valor anual da fatura: 738,24 (inclui custo da potnciacontratada que corresponde a 21,5% do valor total da fatura)

    Sistema fotovoltaico:Custo do investimento: 1348,0Produo anual: 840 kWhAutoconsumo: 765 kWhEnergia excedente: 75 kWhDegradao da produo: 0,5%/ano

    Resultados:Nova fatura energtica: 604,00 (1 ano)Poupana: 134,45 (18,2%)Tempo de amortizao: 8 anosLCOE (a 20 anos): 0,0923 /kWh

    Os resultados mostram, que mesmo utilizando um sistema

    bsico de autoconsumo sem grandes preocupaes de

    eficincia energtica conseguese obter uma poupana decerca 20% na fatura energtica, com tempo de amortizao

    interessante (8 anos) e uma rentabilidade anual do

    investimento de perto dos 10%. de realar, que no

    consideramos qualquer remunerao para a energia

    excedente. Considerando os custos de investimento e a

    produo energtica do sistema para um perodo de 20

    anos, obtm um custo nivelado simples (LCOE) da energia

    gerada de 0,0923/kWh. Este valor mostra que o solar

    fotovoltaico j atingiu a paridade da rede (grid parity).

    3.1.2 Microproduo: autoconsumo com armazenamento

    e injeo (netmetering)

    Em seguida apresentamos um sistema de autoconsumo com

    capacidade de armazenamento da energia excedente

    produzida durante o dia que ser aproveitada no perodo

    noturno. A rede pblica complementa sempre que

    necessrio o dfice que possa surgir entre produo e

    consumo no local. Conseguese assim uma reduosignificativa na fatura de energia, to maior quanto mais

    alargada for a capacidade de aproveitamento das horas de

    produo solar. Consideramos um sistema fotovoltaico com

    uma potncia nominal de 1,75kVA e uma potncia instalada

    de 1,9kWp. O sistema consiste numa unidade de controlo,

    um controlador de carga e uma bancada de baterias com

    uma capacidade de armazenamento de 2,5kWh (cerca de

    22% do consumo dirio).

  • ARTIGO TCNICO

    13

    Este sistema conseguir produzir anualmente 2650kWh

    corresponde a 80% do consumo anual. Na figura 5

    apresentase os diagramas de carga para o ms de julho come sem armazenamento considerando o mesmo diagrama de

    carga tipo (domstico) e local de instalao (Porto). Da

    energia gerada (sem armazenamento) 55,1%

    autoconsumida e 44,9% injetada na rede, o que representa

    um elevado nvel de ineficincia energtica. Com a utilizao

    da bancada de baterias de 2,5kWh (DOE de 80%) possvel

    aumentar o grau de autoconsumo para 74,25%, sendo

    apenas injetada na rede 25,75%.

    Figura 5. Diagrama de carga (vermelho), produo

    fotovoltaica (amarelo), autoconsumo (azul) e

    armazenamento (verde) sem e com capacidade de

    armazenamento para o ms de julho.

    No mercado existem vrias solues tcnicas que permitem

    o armazenamento e injeo, desenvolvidas na sua maioria

    pelos fabricantes de inversores como (exemplo a SMA,

    Fronius, Kaco, Nedap entre outros) ou painis fotovoltaicos

    (Solarworld, Solon).

    Este tipo de solues so muito utilizadas na Alemanha

    devido ao incentivo do autoconsumo atravs da majorao

    da energia injetada na rede. necessrio fazer uma anlise

    cuidadosa do perfil de consumo do cliente para analisar se

    vantajoso utilizar um sistema de autoconsumo com um

    sistema de armazenamento.

    Figura 6: Soluo tecnolgica (SOLON SOLiberty) de um

    sistema de autoconsumo com armazenamento e injeo na

    rede da empresa Solon [3].

    Para o perfil de consumo do cliente domstico acima

    referenciado apresentamos em seguida uma anlise

    econmica para o caso de um sistema de maior potncia

    (potncia injetada igual a metade da potncia contratada,

    segundo os requisitos do DL da micro e miniproduo). Nesta

    anlise consideramos que a energia excedente vendida

    rede a uma tarifa igual tarifa simples de 0,1428/kWh (em

    janeiro de 2013, sem IVA) atualizada anualmente a uma taxa

    de inflao de 2% (mesmo modelo ao utilizado no regime

    geral da microproduo). Para o sistema de armazenamento

    consideramos um custo mdio de 500 por kWh de

    capacidade de energia armazenada (valor sem IVA). de

    realar que esta soluo netmetering no aplicvel emPortugal.

    a)SistemaautoconsumosemarmazenamentoCustodoinvestimento: 4423,6Autoconsumo: 1461kWh(55,1%)Energiaexcedente: 1189kWhResultados:Novafaturaenergtica: 311,83 (1ano)Poupana: 426,41 (57%)Tempodeamortizao: 9anosLCOE(a20anos): 0,0874/kWh

  • ARTIGO TCNICO

    14

    anlise consideramos que a energia excedente vendida

    rede a uma tarifa igual tarifa simples de 0,1428/kWh (em

    janeiro de 2013, sem IVA) atualizada anualmente a uma taxa

    de inflao de 2% (mesmo modelo ao utilizado no regime

    geral da microproduo

    b)SistemaautoconsumocomarmazenamentoCustodoinvestimento: 5961,1Autoconsumo: 1968kWh(74,25%)Energiaexcedente: 682kWhResultados:Novafaturaenergtica: 443,04 (1ano)Poupana:

    134,45 (40%)Tempodeamortizao: 11anosLCOE(a20anos): 0,1179/kWh

    Uma anlise comparativa destes trs sistemas para o caso de

    um consumidor domstico e perfil de carga tpico permitem

    tirar as seguintes concluses:

    a) Para uma melhor otimizao econmica financeira

    importante conhecer o perfil de consumo dirio e anual

    porque os custos de gerao fotovoltaico so sempre

    inferiores s tarifas de consumo (no caso do domstico);

    b) Quanto maior o grau de autoconsumo maior a

    rentabilidade financeira (menor tempo de amortizao do

    investimento) devido diferena entre a tarifa de venda da

    energia excedente e a tarifa de consumo;

    c) O aumento do autoconsumo com a utilizao de um

    sistema com capacidade de armazenamento no , em geral,

    economicamente rentvel devido ao elevado custo atual das

    baterias;

    d) Para maximizar a eficincia econmica financeira ser

    necessrio selecionar o melhor tipo de tarifrio (simples, bihorrio, trihorrio).

    O futuro objetivo chave na implementao de um sistema de

    autoconsumo ser a maximizao do autoconsumo. Para isso

    ser necessrio poder controlar as cargas de consumo e

    adequar os tarifrios horrios.

    Solues de monitorizao de produo e consumo que

    permitem ativar e desativar cargas permitindo maximizar o

    autoconsumo.

    possvel instalar elementos automticos que ativem

    consumos livres de horrio como por exemplo, o lava

    louas, aquecedores ou ar condicionado. No mercado

    existem produtos como o Sunny Home Manager da SMA [4]

    que permitem aproveitar os excessos de energia produzida

    durante o dia.

    Atravs deste sistema poderamos, por exemplo,

    automatizar a ligao do lava louas para que o excedente

    no seja injetado na rede. Desta forma, teramos um

    consumo mais eficiente da energia e injetaramos na rede a

    menor quantidade possvel de energia.

    Tambm se pode instalar um sistema de reduo de

    potncia, ainda que com insto no favoreamos um

    consumo eficiente da energia. Segundo a figura 7, se o

    contador mede um fluxo baixo de corrente no edifcio (pr

    fixado um limite no PLC) o PLC manda um sinal Webbox (1100% reduo de potncia).

    Figura 7. Soluo Sunny Home Manager da SMA [4].

    Os inversores reduzem a sua potncia ativa. To rpido

    como o fluxo de corrente da vivenda supera o limite (por

    exemplo, a mxima potncia do sistema fotovoltaico) o PLC

    j no volta a enviar o sinal de reduo de potncia. Este

    sistema j est disponvel atualmente.

  • ARTIGO TCNICO

    15

    3.2 Consumidores industriais

    Em seguida apresentamos a aplicao do autoconsumo

    fotovoltaico em consumidores industriais com um nvel de

    tenso de MT. Nestes casos necessrio fazer uma anlise

    detalhada do tarifrio horrio, diagrama de carga e

    dimensionar o sistema fotovoltaico de forma maximizar a

    eficincia energtica. Devido s relativamente baixas tarifas

    de energia e de acesso rede em MT, necessrio

    dimensionar um sistema fotovoltaico que no gere energia

    excedente. Em seguida apresentamos um estudo de caso

    para um consumidor industrial.

    Dadosdoconsumidor:Localizao: BragaPotnciacontratada: 180kVAConsumoAnual: 515,88MWhValordafatura 52400Tarifamdiaefetiva: 0,1016/kWh

    Para o dimensionamento da central foi feito uma analise do

    diagrama de carga e consumo anual para os diferentes

    horrios tarifrios (ver figura 8).

    Figura 8. Variao do consumo anual para os 4 tarifrios

    horrios e a variao da tarifa mdia [6].

    Dadosdosistemafotovoltaico:Potnciainstalada: 103,5kWpProduoanualestimada: 144MWhValordoinvestimento: 119.000 (semIVA)Energiaautoconsumida: 124MWh (86,25%)Energiaexcedente: 20MWh (13,75%)LCOE(20anos+7%rent.): 0,070/kWhResultados:Novafaturaenergtica: 40.560 (1ano)Tarifamdiaefetiva: 0,0786/kWhPoupana: 11.840 (21,5%)Tempodeamortizao: 10anos

    Para consumidores de MT com consumos mdios a elevados

    (centenas de MWh) em principio no far sentido a

    instalao de sistemas de armazenamento devido ao elevado

    custo que implicaria. Da anlise dos resultados obtidos

    podemos concluir que a implementao da central

    fotovoltaica permite a reduo do valor da fatura em 21,5%

    (referente a 2012) e uma reduo da energia adquirida ao

    comercializador em 24%. Este valor pode ser aumentado

    atravs de uma melhor adaptao dos consumos na unidade

    industrial produo fotovoltaica ao longo do dia. Em

    termos, econmicofinanceiros a energia eltricafotovoltaica resulta numa aquisio de uma quantidade

    energia com um preo predefinido e previsvel. um

    processo semelhante a comprar energia a um preo fixo no

    mercado de futuros (OMIEP). Neste caso estaramos a

    fazer de comparar cerca de 24% a um custo de gerao

    (LCOE) de 0,07/kWh. No valor de LCOE indicado est

    includo uma taxa de rentabilidade bruta do capital investido

    de 7%. Mesmo considerando uma taxa de rentabilidade

    relativamente elevado, os custos com a aquisio de energia

    eltrica para este consumidor industrial de pequena mdia

    dimenso passa de uma tarifa mdia efetiva de

    0,1016/kWh para 0,0786/kWh. O valor do investimento de

    119.000 (1,15/Wp) corresponde a um valor que real de

    instalao em Agosto de 2012 para a instalao de uma

    unidade de miniproduo com ligao rede. A energia

    excedente de cerca 13,75% devese aos dias em que noexiste laborao na unidade de produo (fins de semana e

    perodo de frias no ms de agosto).

    3.3 Consumidores de grande consumos

    Para demonstrar que o fotovoltaico em regime de

    autoconsumo uma alternativa muito interessante no s

    para o setor domstico e para empresas ou consumidores de

    pequena mdia escala, apresentamos em seguida um estudo

    da viabilidade econmico financeiro realizado pela empresa

    Painel da Harmonia SA para o Estdio do Drago. O Estdio

    do Drago um consumidor com consumos de mdio a

    grande escala e com potncias contratadas superiores a

    1MW.

  • ARTIGO TCNICO

    16

    Para estes tipos de consumidores, a implementao do

    fotovoltaico em autoconsumo, exige uma anlise tcnica

    muito cuidadosa. Em termos de passos de anlise e posterior

    dimensionamento da unidade de autoconsumo necessrio

    executar os seguintes:

    1. Anlise detalhe dos consumos dirios e mensais do local

    de consumo.

    2. Anlise da fatura e tarifrios existentes

    3. Dimensionamento da unidade de autoconsumo tendo

    como base a maximizao da utilizao de energia gerada

    (injeo na rede zero).

    4. Anlise final da viabilidade econmica financeira do

    projeto e o respetivo impacto nos custos de energia.

    A distribuio dos consumos nos quatros horrios tarifrios

    (tetra horrio) mostra que 75% realizado em Ponta e Cheia.

    Partindo desta informao global podese desde j concluirque a implementao de uma unidade de fotovoltaica em

    autoconsumo aplicvel. Como de esperar, num recinto

    desportivo complexo como o caso do Estdio do Drago, a

    variao diria e o consumo total pode ser dividido em trs

    segmentos: i) dias com jogos ou eventos; ii) dos dias da

    semana uteis; iii) fins de semana e feriados. Na figura 9

    apresentase o diagrama de carga para diferentes diastpicos.

    Figura 9. Diagramas de carga para diferentes dias tipos [6].

    Dos diagramas de cargas apresentados verificase, como erade esperar, uma diferena significativa em termos de

    variao e valor absoluto do consumo entre dias com e sem

    de jogos. Verificase, que mesmo quando os jogos decorrem noite, o consumo durante o dia em dias de jogo superior

    em comparao com dias sem jogos. Com o objetivo de

    evitar a injeo de energia na rede (que seria

    completamente desprezada) dimensionouse um sistemafotovoltaico com a seguinte configurao tcnica:

    Dados do sistema fotovoltaico:Potncia instalada: 690 kW/732kWpProduo anual: 963 MWh (1 ano)LCOE (20 anos): 0,06575 /kWh

    A central fotovoltaica tem uma potncia nominal de 690 kW

    e uma potncia instalada de 732 kWp. Os painis so

    montados na cobertura do estdio com a configurao que

    se pode verificar na imagem 3D da figura 10. Como estamos

    a falar de uma central fotovoltaica em regime de

    autoconsumo a energia injetada diretamente nos quadros

    de baixa tenso QBT existentes no Estdio do Drago. A

    figura 11 apresenta o diagrama de carga para um dia com

    consumo standard (dia sem jogo) durante a semana

    (curva: azul) sem a implementao da central fotovoltaica e

    os diagramas de cargas para os meses de Janeiro, Fevereiro e

    Junho. Como se pode verificar, mesmo no ms de Agosto,

    com maior gerao de energia, com o dimensionamento

    definido toda a energia ser autoconsumida. Na tabela

    abaixo apresentase com detalhe a variao do consumomensal com e sem autoconsumo (tendo por base 2011) bem

    como a respetiva gerao de energia fotovoltaica.

    Figura 10. Implementao em 3D da central fotovoltaica na

    cobertura do Estdio do Drago [5].

  • ARTIGO TCNICO

    17

    Nos meses de vero (Junho, Julho, Agosto) a gerao atravs

    do solar fotovoltaico representa em mdia 43% do consumo

    mensal no Estdio do Drago. Em termos de mdia anual, a

    unidade de autoconsumo permite reduzir o consumo de

    energia eltrica da rede (comercializador) em 26,8%.

    Figura 11. Variao mensal do consumo com e sem

    autoconsumo bem como a produo da central

    fotovoltaica [6].

    Tabela 1. Variao mensal do consumo com e sem

    autoconsumo bem como a produo da central

    fotovoltaica [6].

    Numa anlise econmico financeira o custo nivelado da

    energia produzida (LCOE) para um perodo de vida til da

    central fotovoltaica de 20 anos e uma taxa de rentabilidade

    bruta dos capitais investidos de 7% igual a 65,75/MWh.

    Com base nas tarifas de energia e de acesso rede, a

    reduo de aquisio de energia resultar numa reduo da

    fatura energia em 26%. O tempo de retorno do investimento

    ser de 10 anos tendo em conta o valor total de

    investimento.

    Este exemplo mostra que mesmo consumidores com mdio

    a grande consumo, e que beneficiam de preos de

    eletricidade no mercado liberalizado baixas, a utilizao de

    centrais fotovoltaicas em autoconsumo podem ser uma

    forma de reduzir a mdio prazo os custos energticos.

    4. Concluso

    Os casos de estudo aqui apresentados mostram claramente

    que a soluo da utilizao do solar fotovoltaico para a

    produo de energia eltrica em regime de autoconsumo

    economicamente sustentvel e interessante. A

    implementao de um projeto de autoconsumo vai exigir

    por parte dos agentes de mercado uma mudana de

    abordagem junto dos consumidores. O fotovoltaico vai

    passar de um investimento financeiro para principalmente

    uma medida de eficincia energtica. Ser necessrio ter um

    conhecimento do perfil de consumo e avaliar com o

    consumidor a melhor soluo tcnica. Em vez da

    implementao solues standard (solues copy paste)como acontece neste momentos com a micro e

    miniproduo, ser necessrio realizar um estudo e projetar

    solues em que a relao custo/beneficio tem de ser

    maximizada.

    Bibliografia

    [1]ApresentaodeManuelAzevedocomtituloAevoluododficetarifrio,naConfernciasobreRemuneraodeParceriasPblicoPrivadas,ISEP,24demaiode2013[2]Pginasdeinternet:www.solarshop.pt,www.efimarket.pt

    [3]Solon:www.solon.com[4]SMA:SunnyHomeManagerdaSMA(www.sma.de)[5]DesenvolvidopelaempresaMartifer Solar,SAparaaempresaPaineldaHarmonia,SA.[6]InformaoprestadapelaempresaPaineldaHarmonia,SA

    Actual

    MsEnergia

    Consumida(kWh)

    PVEne(kWh)

    EnergiaConsumida(kWh)

    Poupana(%)

    Jan 314.656 40.641 293.320 6,8%Fev 311.607 45.711 235.796 24,3%Mar 283.642 81.343 227.679 19,7%Abr 318.729 92.726 207.124 35,0%Mai 300.621 116.677 184.966 38,5%Jun 300.664 125.267 159.854 46,8%Jul 272.737 122.363 162.745 40,3%Ago 318.462 118.187 176.078 44,7%Set 300.332 88.899 210.951 29,8%Out 320.942 63.404 252.997 21,2%Nov 271.251 38.191 246.902 9,0%Dez 279.823 29.536 272.107 2,8%

    3.593.466 962.947 2.630.519 26,8%

    Comautoconsumo

  • DIVULGAO

    18

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  • ARTIGO TCNICO

    19

    TRAAGEM ELTRICA

    MrioFernandoSoaresdeAlmeidaTecnitrace,Lda

    AKO

    Resumo

    Antes de surgir a traagem eltrica os tubos e os depsitos

    eram aquecidos com tubos de vapor, gerado em caldeiras a

    nafta, o qual circulava em complicadas redes de tubos,

    instalados em paralelo com a tubagem a aquecer em alta

    temperatura.

    Este sistema de pouca flexibilidade tornava as instalaes

    mais complexas e aumentava os custos de investimento e de

    manuteno. Adicionalmente os sistemas requeriam um

    sistema complicado e caro de controlo pouco rigoroso da

    temperatura. Esta situao deu oportunidade ao

    desenvolvimento da traagem eltrica.

    Esta nova tecnologia uma soluo muito mais simples,

    mais eficaz, segura e mais barata para manter constante a

    temperatura em tubagens e depsitos.

    1. Introduo

    Neste artigo vamos explicar o que a traagem eltrica,

    quais as suas aplicaes principais, as tecnologias disponveis

    no mercado, como se projeta e se instala.

    A traagem eltrica surgiu porque h muitos processos e

    situaes onde importante manter uma temperatura

    constante.

    A traagem eltrica tem tido grandes avanos tecnolgicos

    quer ao nvel dos cabos resistivos quer ao nvel dos sistemas

    de controlo.

    Hoje em dia a traagem eltrica passou a ser includa nos

    projetos industriais, indispensvel na resoluo dos

    problemas do arrefecimento de tubos e depsitos onde a

    viscosidade dos produtos afetada pelas variaes da

    temperatura ambiente.

  • ARTIGO TCNICO

    20

    2. Problemas mais comuns de arrefecimento

    Os problemas mais comuns de arrefecimento que

    necessitam de traagem eltrica ocorrem na indstria e nas

    instalaes de abastecimento de gua em edifcios.

    2.1. Na industria

    Tal como a cera liquida quente quando arrefece, h uma

    grande quantidade de fluidos de grande viscosidade que

    solidificam. Nestes casos necessrio aplicar energia

    calorifica para manter a fluidez e garantir que circulam

    facilmente sem bloquear as tubagens nas redes de

    abastecimento dos processos industriais.

    Os problemas de arrefecimento dos tubos ocorrem

    normalmente nos perodos de no produtividade e portanto

    necessrio manter os tubos e os depsitos aquecidos para

    evitar congelamento.

    Alguns exemplos de produtos onde necessrio manter a

    temperatura para controlar a viscosidade: chocolate, melao,

    massas, leos alimentares e combustveis, parafina, soda

    caustica, lixivia branqueadora de pasta de papel

    2.2. Nos edifcios

    Um dos problemas mais frequentes nos edifcios est

    relacionado com o arrefecimento e congelamento da gua

    dentro dos tubos. Este problema mais grave em zonas

    onde as condies meteorolgicas so extremas. Um dos

    casos crticos so as redes de gua para extino de

    incndios.

    H tambm riscos com derrocada de telhados,

    escorregamento de veculos em rampas de acesso e pistas

    de aeroportos devido a formao de gelo e queda de neve

    pondo em causa a segurana de pessoas e bens.

    3. Problemas do arrefecimento?

    Atualmente para a resolver os problemas de arrefecimento e

    congelao de tubagens e depsitos recorrese a traagemeltrica que consiste em instalar cabos eltricos resistivos

    especiais para produzirem calor por efeito Joule. Estes cabos

    so colocados encostados aos tubos ou nas paredes dos

    depsito, em toda a sua extenso, transferindo o calor para

    o tubo ou para o deposito repondo a energia perdida.

    Conseguese deste modo uma temperatura constante dofluido que circula no tubo ou se encontra armazenado no

    depsito.

  • ARTIGO TCNICO

    21

    4. Projetar um sistema de traagem eltrica

    Para projetar uma instalao de traagem devemos dispor

    de toda a informao fornecida pelo cliente e visitar o local

    da instalao.

    Podemos resumir o projeto em 3 fases

    i. Recolha de informao junto do cliente

    Necessidades trmicas, conhecimento do local e avaliao de

    riscos. Conhecimento das temperaturas requisitadas dos

    fluidos que vo circular nos tubos, temperaturas mnimas

    ambiente, instalao eltrica de alimentao e riscos

    ambientais.

    ii. Escolha da tecnologia

    Tipo de cabo de traagem, controlo de temperatura,

    isolamento trmico e alimentao eltrica.

    iii. Execuo da instalao

    Montagem dos cabos de traagem, circuitos de alimentao

    eltrica, controlo de temperatura. Oramento, execuo da

    instalao, testes de isolamento e comissionamento.

    5. Clculo das perdas trmicas

    Pensemos em dois corpos a temperaturas diferentes que so

    colocados em contacto fsico um com o outro. Nestas

    condies quando os dois corpos se tocam verificase umfluxo de calor entre o corpo mais quente e o mais frio. O

    fluxo termina quando ambos os corpos se encontram

    mesma temperatura. Em equilbrio trmico.

    Para reduzir a perda de calor do corpo quente isolase estecom material de baixa condutividade trmica.

    Para realizar o clculo das perdas trmicas recorremos s

    equaes de transferncia de calor (anlogas Lei de Ohm)

    para obter o valor da potncia a instalar na traagem

    eltrica.

    5.1. Perdas trmicas para um tubo

    Considerando um tubo como o representado na figura 1, as

    perdas trmicas so dadas por:

    Figura1.Perdasdecaloratravsdeumtubo

    ..

    .

    (1)

    Onde:

    Q Fluxo de Calor (W/m)

    T1 Temperatura interior do tubo

    T2 Temperatura exterior ambiente

    D Dimetro do tubo

    e Espessura do isolamento do tubo (m)

    Condutibilidade trmica .

  • ARTIGO TCNICO

    22

    5.2. Perdas trmicas para uma superfcie plana

    Considerando uma superfcie plana como a representada na

    figura 2, as perdas trmicas so dadas por:

    Figura2.Perdasdecaloratravsdeumasuperfcieplana

    . (2)

    Onde:

    Q Fluxo de Calor (W/m2)

    T1 Temperatura interior do tubo

    T2 Temperatura exterior ambiente

    Condutibilidade trmica .

    e Espessura do isolamento do tubo (m)

    5.3. Softwares de apoio ao projeto

    Hoje em dia os fabricantes de cabos de traagem

    disponibilizam gratuitamente um software de clculo das

    perdas trmicas para os casos tpicos. Existem tambm

    tabelas para consulta onde se pode estimar com boa

    aproximao os valores das perdas trmicas para tubos com

    base no dimetro, diferencial de temperatura e espessura de

    isolamento.

    Compete ao projetista escolher o mtodo de clculo a seguir

    tendo em conta a dimenso da instalao, a qualidade

    pretendida e o grau de responsabilidade assumido perante o

    cliente.

    6. Tipo de cabos

    Os principais tipos de cabos utilizados na traagem eltrica

    so os cabos autoregulantes ou autolimitados e os cabos depotncia constante.

    6.1. Cabo de traagem autoregulante ou autolimitado

    O cabo auto regulante constitudo por dois condutores de

    cobre paralelos entre os quais existe o material de

    resistncia varivel (semicondutor).

    Quando a resistncia semicondutora fica sujeita a umatenso liberta calor na proporo da temperatura e segundo

    a sua curva caracterstica de funcionamento.

    Na figura 3 podemos ver um cabo de traagem autoregulante.

    Figura3.Cabodetraagem autoregulante

    Nestetipodecabo,quantomaioratemperaturamenorapotenciadesenvolvidapelocabo.

  • ARTIGO TCNICO

    23

    6.2. Cabo de traagem de potncia constante

    O cabo de potncia constante (circuito paralelo) possui um

    circuito resistivo constitudo por um fio cromonquel ligado a

    dois condutores de alimentao. O fio resistivo forma uma

    resistncia com comprimento modular que se repete. Este

    cabo de potncia constante produz calor constante

    proporcional ao comprimento.

    Na figura 4 podemos ver um cabo de traagem de potncia

    constante.

    Figura4.Cabodetraagem depotnciaconstante

    7. Instalao dos cabos

    Os cabos de traagem so colocados enrolados nos tubos ou

    paralelamente a estes e fixados com abraadeiras e fita

    adesiva de fibra de vidro.

    A figura 5 mostra um exemplo de instalao dos cabos.

    8. Controlo da temperatura

    Os tubos devem manter a temperatura especificada. Para

    isso instalado um controlador de temperatura que

    comanda o circuito eltrico de alimentao do cabo de

    traagem.

    No caso de uma instalao de grande dimenso ou muito

    emalhada o sistema de controlo feito atravs de

    equipamento de monitorizao e controlo mais avanado.

    A figura 6 mostra um exemplo de controlador de

    temperatura de um sistema de traagem eltrica.

    Figura6.Controladordetemperatura

    Figura5.Instalaodecabosdetraagem

  • ARTIGO TCNICO

    24

    9. Concluso

    A traagem eltrica permite solucionar os problemas

    do arrefecimento evitando o bloqueio dos fluidos nos

    tubos, pipelines e depsitos.

    Nos edifcios onde h risco de congelamento da gua

    nos tubos, principalmente em tubagens das redes de

    extino de incndios indispensvel a instalao de

    um sistema de traagem eltrica.

    Os sistemas de traagem so indispensveis para

    melhorar os processos produtivos e a segurana dos

    bens e das pessoas e permitem evitar prejuzos e

    reduzir os riscos de acidentes em situaes de queda

    de neve formao de gelo ou arrefecimento do tempo

    cada vez mais imprevisvel nos tempos que correm.

    Sendo a traagem eltrica uma especialidade, embora

    muito presente nas instalaes, pouco divulgada em

    termos de formao acadmica e literatura tcnica,

    existem poucos profissionais com competncia em

    tcnicas da traagem eltrica o que abre perspetivas

    de trabalho.

    10. Referncias bibliogrficas

    [1] AKO

    [2] THERMON

    [3] HEAT TRACE

    [4] FLEXELEC

    [5] TECNITRACE

    http://www.jpsinsulation.co.uk/

  • ARTIGO TCNICO

    25

    1. Introduo

    Qualidade de Energia Eltrica (QEE) pode ser definida como

    a ausncia relativa de perturbaes que afetem a correta

    operao de um qualquer equipamento ou instalao

    eltrica.

    As empresas distribuidoras de energia eltrica encaram hoje

    a QEE como um fator fundamental, sendo mesmo motivo de

    preocupao, dadas as necessidades dos consumidores

    atuais e as eventuais situaes que podem conduzir a

    problemas de complexa resoluo.

    Com o evoluir da tecnologia, so atualmente muito

    utilizados equipamentos de controlo e potncia baseados

    em eletrnica de estado slido. Estes tipos de

    equipamentos, para alm de poluir a rede eltrica,

    tambm so bastante sensveis a fatores relacionados com a

    qualidade da energia eltrica.

    Se inicialmente a qualidade da energia eltrica era

    considerada num domnio relativamente restrito, hoje esse

    domnio est severamente alargado. Assim, preocupaes

    especficas apenas relativas continuidade de servio so

    hoje insuficientes para as necessidades dos consumidores

    atuais. Neste cenrio, para alm terse de garantir os devidosnveis de tenso e frequncia no fornecimento de energia

    eltrica, tambm tem de ser devidamente avaliada a

    situao correspondente ao nvel de poluio harmnica.

    Embora na distribuio e transmisso de energia no sejam

    conhecidos problemas relevantes relacionados com a

    qualidade da energia, na indstria a situao diferente.

    Associado a uma completa incerteza da causa, e por vezes do

    causador, da no existncia de energia com qualidade, os

    prejuzos econmicos resultantes so muito elevados, quer

    em termos de paragem de unidades de produo, quer em

    termos de equipamento danificado.

    Apesar de este problema atingir de forma severa a

    generalidade do setor industrial, realamse algunssubsetores, hoje identificados como crticos:

    Indstria de semicondutores;

    Indstria de papel;

    Indstria automvel (soldadura);

    Indstrias com consumo elevado de energia eltrica.

    Em Portugal a maioria das empresas no tm as suas

    instalaes eltricas preparadas para lidar com estes

    problemas e as respetivas consequncias relativas ausncia

    de qualidade da energia eltrica. A ausncia de indicadores

    da qualidade de energia e a incompleta monitorizao da

    rede, torna muito difcil identificar a causa de uma

    diversidade de problemas resultantes da falta de qualidade

    da energia eltrica.

    O facto das instalaes eltricas no estarem em condies

    de fazer face aos problemas da qualidade de energia, isto

    no se deve necessariamente a erros na conceo inicial da

    instalao, mas devido a alteraes nos tipos de

    equipamentos entretanto utilizados pelas empresas:

    Equipamentos mais sensveis a perturbaes, por

    inclurem sistemas de controlo baseados em

    componentes eletrnicos que no so concebidos

    para funcionarem em ambientes poludos;

    Equipamentos poluidores da rede eltrica, em

    termos de gerao e propagao de componentes

    harmnicas.

    Os equipamentos deste ltimo ponto relacionamse com autilizao da eletrnica de potncia em larga escala na

    indstria, como os conversores eletrnicos, sistemas de

    retificao, controladores lgicos programveis (PLCs),

    JosRodrigoPereiraJosAntnioBelezaCarvalho

    InstitutoSuperiordeEngenhariadoPorto

    POLUIO HARMNICA EM INSTALAES ELTRICAS INDUSTRIAIS

  • ARTIGO TCNICO

    26

    variadores de velocidade para motores de corrente contnua

    e corrente alternada, lmpadas de descarga, etc. Em

    resultado disso, possvel observarse uma crescentedeteriorao das formas de onda de corrente e tenso dos

    sistemas de energia eltrica. A deformao da forma de

    onda destas grandezas, que idealmente variam no tempo de

    forma sinusoidal, levanos problemtica das componentesharmnicas nas instalaes eltricas em particular [1].

    2. Qualidade de EE

    Como atesta a norma EN 50160, a qualidade de energia

    eltrica definida como a ausncia de qualquer perturbao

    que afete a operao de um qualquer equipamento recetor.

    Sendo assim, considerando ainda este normativo, um

    problema de Qualidade da Energia caracterizase comoqualquer distrbio ou ocorrncia manifestada nos nveis e

    em formas de onda de tenso ou corrente, que possam

    resultar em insuficincia, m operao, falha ou defeito

    permanente em equipamentos de um sistema eltrico.

    A definio apresentada na norma referese qualidade daonda de tenso como sinnimo da qualidade da energia

    eltrica. Assim, esta pode ser descrita como a

    disponibilidade de energia eltrica com forma de onda

    sinusoidal pura, sem alteraes na amplitude, emanando de

    uma fonte de potncia infinita. De facto, do ponto de vista

    acadmico, qualquer desvio na caracterstica destes

    parmetros considerado um problema envolvendo a QEE.

    Esta apenas uma definio, que no sendo universal d

    uma ideia rpida do que pretende refletir, limitandose noentanto qualidade da onda de tenso. Uma definio mais

    ampla, que tem em conta pontos adicionais da energia

    eltrica como produto e servio, atende ao seguinte:

    Continuidade de servio (Fiabilidade);

    Ausncias de interrupes;

    Qualidade da onda;

    Amplitude constante com valor nominal;

    Frequncia constante;

    Sistema de tenses equilibrado e simtrico;

    Formas de onda sinusoidais;

    Qualidade comercial;

    Atendimento (presencial ou telefnico);

    Informao disponibilizada (Contratos, opes,

    servios, reclamaes, faturao, etc.);

    Padres para a qualidade comercial.

    A degradao da QEE pode ocorrer devido a vrios tipos de

    distrbios eltricos. Estes distrbios podem ter origem no

    fornecimento da energia atravs da rede eltrica ou no

    consumidor, dependendo dos equipamentos que este tenha

    instalado.

    Os indicadores de qualidade so referidos em vrios

    documentos para avaliar a qualidade da onda de tenso (NP

    EN 50160, normas CEI, IEEE, etc.). Os referidos pela

    NPEN50160 descrevem as caractersticas tcnicas

    fundamentais da energia eltrica, como:

    Frequncia;

    Amplitude da tenso de alimentao;

    Variaes da tenso de alimentao;

    Figura1.PerceoeComplexidadenaDefiniodeQEE

  • ARTIGO TCNICO

    27

    Variaes rpidas da tenso de alimentao;

    Amplitude das variaes rpidas;

    Severidade da tremulao (flicker);

    Cavas da tenso de alimentao;

    Interrupes breves da tenso de alimentao;

    Interrupes longas da tenso de alimentao;

    Sobretenses temporrias entre os condutores

    ativos e a terra;

    Sobretenses transitrias entre os condutores ativos

    e a terra;

    Desequilbrio das tenses de alimentao;

    Tenses harmnicas;

    Tenses interharmnicas;

    Transmisso de sinais de informao na rede.

    3. Harmnicas

    O termo harmnico vem da fsica, mais especificamente do

    estudo dos movimentos ondulatrios. Quando uma

    partcula, ou uma onda, se propaga oscilando

    periodicamente em torno de uma posio de equilbrio, esse

    movimento pode ser traduzido matematicamente por

    funes sinusoidais, denominandose movimentoharmnico.

    Tecnicamente uma harmnica uma componente de onda

    peridica cuja frequncia um mltiplo inteiro da

    frequncia fundamental. Isso pode ser facilmente visualizado

    na figura 2. Nela, apresentamse trs formas de ondadistintas. Uma onda sinusoidal considerada frequncia de

    (60 Hz) e duas outras representando determinadas ondas

    harmnicas. Como para a segunda e a terceira onda os ciclos

    repetemse, respetivamente, 3 e 5 vezes no mesmo perodode tempo em que a onda fundamental descreve apenas um

    ciclo, verificase que elas representam as harmnicas de 3 e5 ordem (ou a 3 e 5 harmnicas) relativamente onda

    fundamental. Consequentemente, oscilam com frequncias

    de 180Hz e 300Hz. Raciocnio anlogo pode ser aplicado a

    outras ondas sinusoidais cujas frequncias sejam outros

    mltiplos da frequncia da onda fundamental [4].

    Cargas que solicitam uma corrente que no toma uma forma

    de onda sinusoidal no tempo so denominadas de cargas

    no lineares. Assim, do ponto de vista da rede, a corrente

    eltrica a fornecer no sinusoidal, ou seja, apresentase deacordo com o teorema de Fourier, uma soma de ondas

    sinusoidais com uma frequncia de valor mltiplo da

    componente fundamental (componentes harmnicas).

    Quando existem cargas no lineares ligadas rede eltrica a

    corrente que circula nas linhas contm componentes

    harmnicas, e as quedas de tenso provocadas por estas nas

    impedncias das linhas faz com que as tenses de

    alimentao fiquem tambm distorcidas, originando os

    harmnicos de tenso, sendo estes o resultado do produto

    da corrente harmnica vezes a impedncia harmnica.

    Figura2.Exemplodeumaondafundamentaleda3e5harmnica[8]

  • ARTIGO TCNICO

    28

    Se pretenderse reduzir as harmnicas de tenso, uma dasmaneiras possveis reduzir a impedncia harmnica da

    rede a montante.

    Nas instalaes industriais relevante falar ainda das interharmnicas, que surgem quando h componentes de

    corrente que no so mltiplos inteiros da frequncia da

    componente fundamental (50 Hz). Essas componentes de

    corrente podem ser produzidas por fornos a arco ou por

    cicloconversores, que so equipamentos que alimentados a50 Hz permitem obter tenses e correntes de sada com uma

    frequncia diferente.

    3. Indicadores de medio

    Uma medida muito usada da distoro harmnica a Total

    Harmonic Distortion (THD). Esta o quociente, expresso em

    percentagem, da raiz quadrada da soma dos quadrados das

    tenses eficazes de cada harmnica pelo valor eficaz da

    fundamental. O valor de THD tanto maior quanto mais a

    forma de onda se afasta de uma sinusoide pura.

    Considerando um sinal (pode ser a corrente ou a tenso), a

    taxa de distoro harmnica definida pela frmula abaixo:

    (1)

    Com a finalidade de conhecer a contribuio de cada

    harmnica, existe a distoro harmnica individual (DIT),

    segundo a expresso:

    (2)

    Fator de crista (FC) a proporo entre o valor de pico de

    uma onda e o seu valor eficaz, considerando onda de

    corrente.

    (3)

    Essa relao igual a quando um sinal no possui

    distoro, ou seja, perfeitamente sinusoidal.

    Essa relao igual a quando um sinal no possui distoro,

    ou seja, perfeitamente sinusoidal.

    Observandose estas expresses, verificase que para adeterminao dos valores das distores harmnicas totais

    e/ou individuais presentes em uma determinada instalao

    eltrica, preciso que sejam determinados os valores de

    cada componente harmnica individualmente, ou seja,

    tornase necessrio a realizao de medies especficas.

    3. Causas

    As cargas lineares so as que obedecem Lei de Ohm.

    Caracterizamse por absorver da rede eltrica correntesproporcionais tenso a elas aplicada, preservandose asformas de onda sinusoidais, ainda que possa haver

    desfasamentos angulares entre elas. Notese que para umelemento reativo, condensador ou bobina, haver um

    desfasamento entre a tenso e a corrente, mas o

    comportamento ainda ser linear. Qualquer carga que

    solicita uma corrente que no toma uma forma de onda

    sinusoidal no tempo denominada de carga no linear e, de

    acordo com o teorema de Fourier, apresentar uma soma de

    ondas sinusoidais com uma frequncia de valor mltiplo da

    componente fundamental (componentes harmnicas).

    Os tipos de cargas no lineares, fontes geradoras de

    componentes harmnicas presentes nos sistemas eltricos

    de potncia, so bastante variadas, indo dos equipamentos

    dos sistemas produtores e fornecedores de energia, at aos

    consumidores, principalmente os industriais, que constituem

    uma parcela considervel da carga a ser alimentada, que

    inclui uma percentagem elevada da potncia solicitada por

    cargas no lineares.

    2

    Figura3.HarmnicasdeCorrente/Tensoprovocadaspelacarganolinear[7]

  • ARTIGO TCNICO

    29

    No passado, as distores harmnicas nos sistemas de

    potncia eram primordialmente associadas conceo das

    mquinas eltricas. Atualmente, com o uso generalizado de

    equipamentos eletrnicos, nomeadamente os baseados em

    eletrnica de potncia (dodos, mosfets, tirstores, etc.)

    aumentouse drasticamente as cargas no lineares que soalimentadas pelos sistemas eltricos de energia.

    Sob o ponto de vista da rede de alimentao, os conversores

    estticos de potncia (retificadores e inversores) constituem

    a fonte mais expressiva de distoro harmnica. De facto,

    nas atuais instalaes eltricas industriais, mais de metade

    da energia eltrica em cada momento (potncia eltrica)

    passa por um dispositivo de eletrnica de potncia antes que

    seja finalmente utilizada. Todos estes dispositivos de

    eletrnica de potncia tm dois modos de funcionamento,

    conduo que corresponde a um interruptor fechado ou

    bloqueio que corresponde a um interruptor aberto. A

    passagem de um estado para o outro muito rpida, e em

    qualquer instante do sinal (atravs do controlo do

    semicondutor). Essas comutaes rpidas de estado

    produzem uma corrente no sinusoidal, quando a tenso

    que alimenta os dispositivos sinusoidal. Por sua vez, a

    circulao destas correntes no sinusoidais nas instalaes e

    equipamentos eltricos conduz a quedas de tenso com

    evoluo igualmente no sinusoidal, que quando

    sobrepostas adequadamente com a tenso da rede a tornam

    tambm no sinusoidal.

    Os conversores estticos de potncia podem ser resumidos

    em 3 grandes grupos:

    Conversores de alta potncia, usados em

    transmisso DC e na indstria siderrgica;

    Conversores de mdia potncia, usados para o

    controlo de motores em indstrias e trao

    ferroviria;

    Conversores de baixa potncia (nomeadamente os

    retificadores), alimentandas cargas monofsicas,

    como aparelhos de televiso e carregadores de

    bateria.

    Em adio a estes conversores, outras cargas no lineares

    como os compensadores estticos reativos, os fornos

    eltricos a arco, cargas tpicas industriais, constituem as

    restantes principais fontes de harmnicas para os sistemas e

    instalaes eltricas. Em relao aos fornos a arco,

    equipamentos de solda (a arco voltaico no fundo) e

    presena de cicloconversores (agora em desuso) verificasea presena de interharmnicas so formas de ondas detenses e correntes que apresentam componentes de

    frequncia que no so mltiplos inteiros da frequncia com

    a qual o sistema suprido e designado a operar.

    A figura 4 mostra a forma de onda de corrente absorvida por

    alguns tipos de cargas no lineares, tendo o espetro de

    distribuio em amplitude das harmnicas e a THD

    caracterstica dessa forma de onda (corrente).

    4. Consequncias

    a) Fator de Potncia

    Com a presena de harmnicas numa instalao, o fator de

    potncia baixa, acarretando vrios problemas. O impacto

    mais percetvel o aumento das perdas na instalao e na

    rede eltrica, devido ao trnsito de potncia na rede, e como

    consequncia direta a diminuio da sua eficincia. Na

    definio habitual de fator de potncia notese que apenas

    Figura4.Cargasnolineares Espetroedistoroharmnica[5,8]

  • ARTIGO TCNICO

    30

    vlida para formas de onda sinusoidais, ou seja, sem a

    presena de componentes harmnicas.

    Definio habitual para ondas sinusoidais:

    (4)

    Definio geral para qualquer forma de onda:

    (5)

    Do desenvolvimento matemtico, a partir da definio do

    fator de potncia e dos valores eficazes da tenso e corrente

    decompostas em srie de Fourier, podese chegar seguinteexpresso:

    (6)

    Deste modo verificase que um elevado contedo decomponentes harmnicas prejudica o FP das instalaes

    (maior THD). Um baixo fator de potncia, como visto por

    parte da rede quando existe um contedo de harmnicas

    elevado, resulta no aumento na corrente total circulante nas

    redes de distribuio de energia eltrica, podendo

    sobrecarregar as linhas de transmisso e transformadores,

    prejudicando a estabilidade e aproveitamento dos sistemas

    eltricos, acarretando problemas, tais como [6]:

    Perdas na rede e na instalao;

    Subutilizao da capacidade instalada;

    Custos tarifrios;

    ().

    b) Mquinas Eltricas

    Os motores so sensveis a distores da tenso, ou seja,

    quando uma onda de tenso distorcida excita um motor,

    correntes de altas frequncias esto a ser injetadas no

    estator. Por este facto, vo surgir componentes harmnicas

    de corrente que podem causar inmeros problemas, como

    aquecimento, vibraes, binrios pulsantes ou rudo.

    Consequentemente, o aumento da temperatura dos

    motores reduzir o tempo de vida mdio dos mesmos. Como

    exemplo: nos alternadores, as harmnicas de corrente

    provocam perdas hmicas suplementares nos enrolamentos

    principais e nos enrolamentos amortecedores. Por outro

    lado, a interao entre correntes harmnicas e o campo

    magntico fundamental, pode originar binrios oscilatrios

    que provocam vibraes no veio dos alternadores e,

    consequentemente, o aumento da fadiga mecnica das

    mquinas.

    Nos motores assncronos ocorrem aumentos das perdas por

    efeito Joule, com o consequente sobreaquecimento dos

    enrolamentos estatricos, alm de que uma distribuio

    assimtrica da corrente induzida nas barras rotricas

    provoca vibraes e o aparecimento de binrios de toro no

    veio da mquina.

    5. Situao no mercado

    Atualmente, existem empresas especializadas no setor que

    apresentam alm de uma gama de produtos padronizada,

    um servio personalizado que permite estudos e anlise da

    qualidade de energia eltrica de uma qualquer instalao

    particular, permitindo conceber uma soluo mais eficaz

    para o cliente, incluindo em muitos casos sistemas de

    compensao do fator de potncia para ambientes

    harmonicamente poludos, quando o sistema ideal de

    compensao da distoro harmnica for do ponto de vista

    econmico pouco atrativo.

    Figura5.Perdaseltricasadicionaisdosmotoresdeinduo[8]

  • ARTIGO TCNICO

    31

    Existem diversas tcnicas para reduzir as componentes

    harmnicas de tenso e/ou corrente. De um modo global

    podem ser agrupadas nas estratgias assim caracterizadas:

    Uso de filtros passivos conectado sem paralelo e/ou

    em srie com o sistema eltrico;

    Os conversores estticos de potncia podem ser resumidos

    em 3 grandes grupos:

    Conversores de alta potncia, usados em

    transmisso DC e na indstria siderrgica;

    Aumento da quantidade de pulsos em unidades

    conversoras, com o uso de transformadores

    desfasadores;

    Tcnicas de compensao de fluxo magntico;

    Filtros ativos de potncia ligados em paralelo e/ou

    em srie com o sistema eltrico.

    A escolha de um ou outro procedimento, ou mesmo a

    associao de solues, deve levar em conta a anlise dos

    seguintes aspetos:

    Conhecimento do sistema de alimentao do ponto

    de vista da concessionria: impedncia de curtocircuito, nvel de tenso e legislao quanto aos

    nveis de distores harmnicas permitidos;

    Conhecimento do sistema consumidor: tipos de

    cargas instaladas, potncia envolvida, problemas que

    ocorrem devido s harmnicas, perda de energia,

    diminuio do fator de potncia real;

    Local da instalao do dispositivo para reduo de

    harmnicas;

    Desempenho e capacidade nominal de

    tenso/corrente do dispositivo;

    Custo inicial de compra e custo da energia

    consumida no prprio dispositivo;

    Efeitos colaterais prejudiciais sobre o sistema de

    alimentao: o fator de potncia em situaes de

    carga nominal pode alterarse em condies de cargabaixa, modificao do nvel e da distoro de tenso

    ou de corrente, alterao do nvel de curtocircuitopara a terra, mudana ou possibilidade de

    ressonncia em outras frequncias harmnicas. Em

    decorrncia desses fenmenos, pode haver possveis

    efeitos nocivos sobre outras cargas consumidoras

    adjacentes;

    Efeitos colaterais prejudiciais ao funcionamento das

    cargas eltricas envolvidas: aumento da distoro,

    abaixamento e elevao na tenso de alimentao

    da carga;

    Influncias nocivas das variaes do sistema sobre o

    dispositivo utilizado: alteraes da impedncia do

    sistema, correntes harmnicas de cargas

    consumidoras adjacentes podem entrar pela

    alimentao, o sistema pode desequilibrarse emtenso, a distoro de tenso e o seu nvel na barra

    de alimentao podem variar devido a fatores

    externos;

    Influncia da carga sobre a tcnica utilizada: a

    variao da potncia solicitada pela carga e a

    presena de desequilbrios podem alterar o

    funcionamento do dispositivo empregado para a

    reduo de harmnicas.

    A figura 6 demonstra que todas estas estratgias tendem a

    convergir para a atenuao mxima do problema, devendo

    ser combinadas sempre que possvel, notando a importncia

    do papel de todos os intervenientes, desde os fabricantes

    at aos utilizadores.

  • ARTIGO TCNICO

    32

    4. Caso Prtico

    Foi analisada uma instalao com base em dados obtidos

    atravs de equipamentos de medida instalados para o efeito.

    A amostragem de dados foi realizada num perodo de 2 dias.

    Na instalao em causa sabese que proliferamcomputadores pessoais e PLCs. Os dados que so

    apresentados, grficos e tabelas, foram obtidos com recurso

    a uma aplicao informtica que permite a visualizao

    grfica e tratamento de bases de dados. Os dados foram

    recolhidos registados e armazenados no equipamento de

    medida, um analisador de energia com aplicao

    informtica.

    Nas figuras abaixo apresentamse os dados que servirampara a anlise deste caso, recolhidos entre as 02h15 e as

    14h15 de 19092013:

    As distores harmnicas so muito equiparadas nas 3 fases, razo

    pela qual s se inclui, na figura 9, os referentes fase 1.

    A distoro harmnica tambm se manifesta no condutor de

    neutro, sendo a sua tenso mais de 3 vezes superior tenso

    da frequncia fundamental, ainda que a tenso do neutro

    obviamente no apresente valores muito elevados. As

    figuras 10 e 11 permitem identificar os valores apresentados.

    Como j foi referido, as componentes harmnicas so muito

    difceis de combater, da que apenas as mais importantes, ao

    nvel da sua perturbao para os equipamentos, so alvo de

    ateno com vista sua compensao. Nos dados das figuras

    9 e 10 verificase a existncia de perturbaes referentes sharmnicas mpares de 3, 5 e 7 ordem, sendo, por isso,

    importante a sua eliminao quando existam em valor

    percentual considerado grave, tendo em conta as normas

    em vigor e os custos que podem provocar.

    Figura6.Convergnciadasestratgias

    Figura7.Analisadordeenergia[2]

    Figura8.PotnciaConsumida

    Figura9.DistoroHarmnicadeTenso,L1N

    Figura10.TensoeCorrente

    Figura11.DistoroHarmnicadeTenso,NG

  • ARTIGO TCNICO

    33

    Segundo a NP EN 50160, o valor DTH total e individual nesta

    instalao e no perodo do registo no preocupante, em

    virtude do seu valor ser inferior a 8 e 5%, respetivamente.

    No entanto, poder agravarse, pelo que, para o bomfuncionamento da instalao e respetivas cargas,

    recomendvel a superviso por medio e anlise continua.

    Para a medio e anlise de forma continuada, foram

    utilizados os equipamentos das figuras 7 e 12. Graas s suas

    funcionalidades, que incluem a deteo de fenmenos

    transitrios, podese resolver rapidamente os problemasassociados qualidade de energia, nomeadamente os

    relacionados com as componentes harmnicas.

    Apesar dos dados registados no o evidenciarem, podeseafirmar que existiro momentos na explorao desta

    instalao, ainda que pontuais e em determinadas horas de

    maior consumo de energia, em que as componentes

    harmnicas tero uma presena mais acentuada

    relativamente que foi registada no perodo escolhido.

    Atendendo que os custos de no produo so elevados,

    propsse como soluo para o caso que apresentado,alm da superviso por monitorizao contnua, a

    compensao global a jusante do quadro geral com filtros

    ativos. Este equipamento compensar a distoro harmnica

    at ao limite do valor nominal, em qualquer frequncia em

    que esta esteja presente, pelo que poder comearse porinstalar um equipamento de entrada de gama 20 Amperes,

    garantindo na prtica a eliminao na instalao de

    perturbaes harmnicas durante a sua explorao.

    A soluo proposta vem de encontro s solues mais

    comuns e eficazes disponveis no mercado. Contudo, devesenotar que sempre aconselhado o dimensionamento do

    filtro adequado para cada caso especfico, pois cada

    instalao tem as suas prprias caractersticas, assim como a

    rede que a alimenta.

    Este ser seguramente um investimento com um tempo de

    Payback reduzido, mesmo que apenas se contabilizem as

    perdas nos transformadores e condutores da instalao

    eltrica. Contudo, se adicionalmente forem tambm

    considerados os ganhos das avarias que sero evitadas nos

    equipamentos, ser potencialmente fcil ao tcnico

    responsvel pela instalao convencer os rgos de gesto

    na adoo destas solues e na compra do respetivo

    equipamento.

    6. Concluso

    Para a correta compreenso da problemtica das

    perturbaes harmnicas, semelhana de grande parte de

    outras reas da engenharia, o tratamento matemtico

    bastante relevante. As sries de Fourier so ajuda

    fundamental no conceito de definir e quantificar o que so

    as componentes fundamental e harmnicas.

    O tema das Perturbaes Harmnicas complexo e

    extenso, conduzindo na maioria das vezes ao seu

    desconhecimento e h ausncia de estudos detalhados,

    particularmente na fase de elaborao dos projetos das

    instalaes eltricas. Os problemas, regra geral, surgem

    depois da entrada em servio das instalaes eltricas, sendo

    bastante mais complexa a anlise e economicamente mais

    severas as consequncias.

    As solues mais adotadas para minimizar os efeitos

    nefastos das distores provocados pelas componentes

    harmnicas consistem geralmente na instalao de

    reactncias, filtros passivos e filtros condicionadores ativos,

    na utilizao de transformadores de isolamento, no

    reposicionamento e/ou alterao da potncia de

    condensadores estticos, na elevao da capacidade do

    sistema de alimentao, entre outras.

    Figura12.CentraisMonitorizaoDEQEE,CM3000/4000[4]

  • ARTIGO TCNICO

    34

    A soluo para uma determinada instalao to ou mais

    difcil quanto menor a quantidade de dados disponveis para

    a anlise da rede em questo. muito importante a correta

    monitorizao e anlise tanto em termos de qualidade como

    de quantidade de dados obtidos.

    De salientar que medidas, como por exemplo o correto

    dimensionamento de condutores (fases, neutro e terra), a

    separao de malhas de terra, a incluso do "Fator K" (fator

    depreciativo determinado de acordo com a taxa de distoro

    harmnica espectvel) no dimensionamento de

    transformadores para Postos de Transformao privados e

    pblicos, assim como a implementao de baterias de

    condensadores para correo do fator de potncia,

    devidamente dimensionadas para a taxa de distoro da

    instalao, so factores que no devem ser descorados no

    projeto de uma instalao eltrica, seja projeto de

    construo ou requalificao.

    Neste documento, evidenciado que as unidades industriais

    ou comerciais com forte utilizao de equipamentos

    baseados em eletrnica de potncia, tais como conversores

    de frequncia, reactncias eletrnicas, fontes comutadas,

    entre outros, so equipamentos passiveis de apresentar uma

    forte componente harmnica. Nestas unidades deveseconsiderar sempre os efeitos das perturbaes harmnicas,

    implementando medidas para o seu controlo e

    monitorizao, de forma a limitar as eventuais perdas de

    produo e os respetivos custos associados a este problema.

    Bibliografia

    [1] Martinho, Edson, Distrbios da Energia Eltrica, Editora

    rica, So Paulo, 2012, ISBN 9788536502311.

    [2] Sankaran, C., PowerQuality CRC Press, Estados Unidosda Amrica, 2002, ISBN 0849310407.

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    Instituto Brasileiro do Cobre, So Paulo, 2001.

    [4] Schneider Electric / Procobre, Workshop Instalaes

    Eltricas de Baixa Tenso: Qualidade de Energia Eltrica,

    http://www.schneiderelectric.com.br/documents/cadernostecnicos/harmon.pdf, consultado a 22 de Dezembro de 2013.

    [5] Ferracci, Philippe Cahiers Techniques SchneiderElectrics "Collection technique", Grenoble, 2000.

    [6] SchneiderElectric,Harmonics mitigation and solutions

    http://www.schneider

    lectric.cn/medias/solutions/downloads/377ed18_harmonics

    _mitigation_solutions.pdf,consultado a 28 de Dezembro de

    2013.

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    [8] Isoni, Marcos, Dist ores Harmnicas Uma Reviso de

    Conceitos Gerais, consultado a 11 de Dezembro de 2013.

    [9] Schneider Electric, Cahier technique n 199, 2000,

  • ARTIGO TCNICO

    35

    1. Introduo

    Ao longo das ltimas dcadas Portugal tem assistido a um

    abrandamento na construo civil e, naturalmente, na

    construo de edificado novo. Porm, subsiste a necessidade

    de requalificar os edifcios j existentes que sero,

    indubitavelmente, o grande nicho de negcio nas dcadas

    vindouras.

    Paralelamente, a legislao e as especificaes e prescries

    tcnicas das diversas instalaes especficas,

    designadamente as Infraestruturas de Telecomunicaes em

    Edifcios (ITED), devem convergir para a harmonizao com

    as Normas Europeias e adaptadas realidade econmica do

    pas.

    Assim, com naturalidade que se prev uma nova edio do

    Manual ITED (a 3 Edio) para o prximo ano de 2015 que

    vise fundamentalmente, a atualizao das especificaes e

    prescries tcnicas realidade tecnolgica atual (e futura),

    normalizao europeia e uma convergncia com a real

    situao econmica portuguesa.

    O presente artigo propem, de uma forma sucinta,

    evidenciar as principais alteraes decorrentes da proposta

    do novo enquadramento das Infraestruturas de

    Telecomunicaes em Edifcio (ITED) a ser criada pela

    3Edio do respetivo Manual.

    Este artigo baseado exclusivamente no documento de

    proposta da 3Edio do Manual ITED que esteve em

    consulta pblica pela Autoridade Nacional