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Jornal Laboratório do curso de Jornalismo - Centro Universitário Módulo Ano 6 - edição 21 | Segundo Semestre 2015 www.modulo.edu.br/antenado Questões Sociais Várias vidas e uma realidade NESTA EDIÇÃO Educação e Ações Sociais A luta no combate do Câncer A dificil vida na prostituição Vidas na rua 2 4 5 6 O Recomeço 7

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Jornal Laboratório do curso de Jornalismo - Centro Universitário Módulo

Ano 6 - edição 21 | Segundo Semestre 2015www.modulo.edu.br/antenado

Questões SociaisVárias vidas e uma realidade

NESTA EDIÇÃOEducação e Ações Sociais

A luta no combate do Câncer

A dificil vida na prostituição

Vidas na rua

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5

6O Recomeço

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| Segundo Semestre

educaçãoNunca é tarde para recomeçar

O funileiro Ednaldo Jesus da Silva, 39 anos, é nat-ural da cidade de Coar-

aci, na Bahia, mas atualmente mora do bairro Poiares, em Caraguatatuba. Sirlene do Nas-cimento Santos, ajudante de fá-brica de sorvetes, tem 35 anos e também nasceu em solo baiano.

Ambos têm mais do que a naturalidade em comum: eles são estudantes da escola estadual Antônio de Freitas Avelar, no Estrela Dalva e es-tão matriculados no progra-ma EJA (Educação de Jovens e Adultos). Eles estão entre dezenas de outras pessoas que resolveram enfrentar a sala de aula na vida adulta, em nome do sonho de voltar a estudar.

Silva mudou-se para o lito-ral norte há cerca de 20 anos, época em que foi viver em São Sebastião com a esposa (hoje ex) e os três filhos do casal.

Na infância, estudou até o quarto ano do ensino fun-damental. Depois de 30 anos longe das salas de aula, muita coisa foi esquecida. Ele conta que deixou de frequentar a escola quando criança porque morava em fazenda, então o acesso era difícil. A situação não foi diferente se mudou para a cidade, a situação fi-cou ainda mais complicada porque começou a trabalhar.

Foi apenas este ano que, ao se mudar para Caraguatatuba, um tio começou a incentiva-lo a voltar a estudar. Ele sentia que isso era o seu desejo também, e que precisava apenas de um apoio. Sem demora, decidiu procurar uma instituição que o acolhesse e acabou encontran-do a escola estadual Antônio de Freitas Avelar, no bairro Estrela

Dalva. O estudante conta que foi muito bem aceito na uni-dade, e logo voltou aos estudos.

Alguns meses se passaram e hoje ele escreve e lê com mais facilidade, além de conseguir fazer operações matemáticas. Silva diz ter não só gratificação em voltar a aprender coisas no-vas, mas também satisfação por fazer novos amigos, viver algo novo e ser um exemplo para a família e amigos, que se sentem motivados a fazer o mesmo.

O sonho de Ednaldo Sil-va não para na conclusão do ensino fundamental e mé-dio: ele não descarta a pos-sibilidade de cursar uma fac-uldade na área da mecânica.

A maior inspiração

Sirlene conta que também deixou a escola, quando morava no es-tado da Bahia, porque morava na ‘roça’ e o acesso era difícil.Veio para São Paulo com 12 anos,

para trabalhar como babá. Não ficou por muito na capital, já que seu grande sonho era conhecer a mãe, que estava em Caraguata-tuba. Ela veio para o litoral com esse objetivo, mas não morou por muito tempo com a mãe. Logo se casou e teve uma filha.Sempre atuou em casas de família, até que encontrou o trabalho na fábrica de sorvetes. A sua maior inspiração e incentivo para vol-tar aos estudos foi sua filha Bi-anca, que sempre falou para a mãe que ela deveria estudar.Sirlene seguiu o conselho da filha e em agosto deste ano se matricu-lou na escola estadual Antônio de Freitas Avelar. O sorriso no rosto de Sirlene e outras pessoas de sua turma na sala de aula é nítido. Elas não escondem sobre o grande passo que estão dando em suas vidas, assim como as di-ficuldades e obstáculos enfrenta-dos por todos, nessa busca pela realização profissional e pessoal.Assim como Ednaldo, a jovem mãe sonha com uma facul-

dade. Sua vontade é focar na área de biológicas e veterinárias.Duas histórias de pessoas que deixaram o comodismo de lado e correram atrás de algo melhor para si e suas famílias.

Para quem acha que é tarde para estudar, está en-ganado. Não há limites para aqueles que tiverem em in-teresse na retomada dos es-tudos. O trâmite é simples e inclui até mesmo as séries iniciais, de alfabetização. Para mais informações, é possível entrar em contato com a Di-retoria de Ensino Região de Caraguatatuba ou as secretari-as municipais da educação. O telefone de contato da escola estadual Antônio de Freitas Avelar, que é uma das que pos-sui o EJA, é: (12) 3882-2493.

Quer voltar a estudar?

Elisa Santos e Lucas Fernandes

2Educação e

Ações Sociais

O Antenado é um Jornal Laboratório produzido por

alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Módulo

Coordenador do Curso: Prof. Dr. Gerson Moreira Lima

Professor Orientador: Prof. Ricardo Hiar (Jornalista Responsável: MTB )

Repórteres e Diagramação: r, Ana Souza, Bárbara Mello, , Eder Ma-ciel, Elisa Santos, Ingrid Adolpho, Ju-liane Zapparoli, Karol Cândido, Lucas Fernandes, Marina Lara, , Rafael Fran-co, Rebeca Ingride, , Wagner Bastos.

Modelo Capa: Elisa Santos

Projeto Gráfico: Prof. Ms. Paulo Rogério de Arruda - MTB 36577

Tiragem: 6 mil exemplares (Gráfica Lance!)

Distribuição: Escolas do Ensino Médio de Caraguatatuba, São Sebas-tião, Ilhabela e Ubatuba.

CENTRO UNIVERSITÁRIO MÓDULO – CAMPUS MARTIM DE SÁ

Av. Mal. Castelo Branco, s/nº CEP 11.662-700

Caraguatatuba/SP.Tel. (12) 3897-2008

www.modulo.edu.br/antenado / [email protected]

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não se identificar, afirma que está há mais um ano aguardando a lib-eração do benefício. Ela possui três filhos e, por estar desempregada, decidiu recorrer ao cadastro do bol-sa família para complementar a ren-da familiar. Segundo ela, neste ano

não houve novos munícipes contemplados pelo programa.

A prefeitura afirma que as vagas do programa para a ci-dade são definidas pelo CENSO – IBGE. Quando é ultrapassada a cota preestabelecida, a família fica na lista de espera, ou seja, mesmo que atenda os pré-req-uisitos do programa, não há

garantia do recebimento do recurso.Para quem ainda não foi con-

cedida a renda, é possível recorrer a programas municipais alterna-tivos, como Auxílio-alimentação e cursos de geração de renda. Já no âmbito federal existe o Renda-Cidadã, Ação Jovem e Viva Leite.

O Bolsa-família, progra-ma federal que atende famílias que vivem em

situação de pobreza e extrema po-breza, com renda per capita de até R$ 77 mensais, visa o acesso aos direitos sociais básicos: Saúde, alimentação, educação e assistência social.

Em Caraguatatuba, 4377 famílias são beneficiadas pelo programa. Os valores podem variar de acordo com as necessidades de cada família, sendo o valor mínimo a ser recebido de R$ 35.

Arlete da Silva usufrui do pro-grama há mais de 12 anos e, seg-undo explica, o valor é usado na educação de seus três filhos que têm 1, 12 e 14 anos. Conforme relata, o valor não suficiente para sobreviver

Milhares de famílias são atendidas na região, mas burocracia ainda gera entraves

bolsa família

“Agora eu posso dizer que ten-ho uma casa”, diz Lorien Stafani Moreira, uma das contempladas pelo “Minha Casa Minha Vida” em Caraguatatuba. Após alguns meses de espera essa iniciativa do Governo Federal fez com que, em 2015, cerca de 500 famílias - com renda abaixo de R$ 1.600,00 - pu-dessem realizar o sonho de ter sua casa própria no município.

As habitações, localizadas no bairro do Getuba, já estão ocu-padas pelos proprietários, que se adaptam à nova casa e a nova

vida. Lorien conta que aguardou cerca de oito meses para ser sor-teada. Ela ficou surpresa, pois não esperava que fosse tão rápido. Ao contrário da moça, muitas pessoas esperam, talvez por anos, para re-ceber o benefício.

Juliana Pereira Leite, que tam-bém faz parte do time dos con-templados, é uma das que neces-sitaram de paciência para realizar este sonho. Ela fez sua inscrição em 2009 e só agora, em 2015, foi sorteada. “A expectativa era enorme, nem acreditei quando ganhei”, conta.

Juliana ainda diz que a notí-cia veio em boa hora. “Eu soube quando minha mãe viu que já tin-

ham sido sorteadas as casinhas e, no meio delas, o meu nome estava lá. Fiquei feliz, porque morava de aluguel, com uma renda baixa e ainda precisando me dedicar to-talmente à uma filha deficiente. Agora eu pago uma casa que é minha e bem mais barata que uma locação”.

O governo entrega as casas do projeto já com acabamento, todas as instalações também prontas e aquecedor solar no banheiro, com intuito de fazê-los gastarem menos energia. “O aquecedor é só no chuveiro, mas já é de grande ajuda para economizar”, diz Juli-ana.

Como tudo tem seu lado bom

e ruim, as duas reclamam da fal-ta de vagas na escola da região. “A escola não tem suporte para aguentar todos os alunos que se mudaram para o bairro. Só alguns conseguiram. Os meus filhos, por exemplo, estudam no centro, en-tão, tem ficado difícil ir e voltar. As vezes acabo ficando mais por lá, do que aqui na minha casinha. Espero, no ano que vem, conseguir muda-los para cá”, conta Juliana.

“O mais difícil é a dificuldade em relação aos meus filhos, pois não consegui vagas para eles aqui no bairro, mas, como disse, o mais importante é que agora estou no que é meu. É uma conquista min-ha”, finaliza Lorien.

Projeto transforma a vida de famílias em Caraguatatubaminha casa minha vida

integralmente, mas funciona como complemento de renda. Arlete tra-balha como diarista durante o dia, e seus filhos frequentam a escola, um dos requisitos para o programa,

“Uso o dinheiro exclusiva-mente para as crianças. A minha

filha de 14 anos está finalizando um curso de informática com o dinheiro que recebo do Bolsa-família. Ele ajuda muito”, conta.

Na cidade existem moradores que estão a mais de um ano na fila de espera programa. Uma mora-dora de Caraguatatuba, que preferiu

Vagas são definidas pelo

CENSO

Marina Lara

Karol Candido

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| Segundo Semestre

Enquanto a cidade de São Sebastião dorme, Aline Lopes Pinheiro Romão,

de 34 anos, está se preparan-do para enfrentar uma longa jornada. A van, que passa em frente à sua casa, conduz ela e outros pacientes com câncer para Jacareí. A cidade é a opção de tratamento mais próxima.

Acompanhada de sua irmã ou do namorado, Aline realiza a sessão de quimioterapia, que dura em média de duas a três horas. Entre os vários efeitos co-laterais, ela conta que dor de ca-beça e enjoou são os principais. Para aliviar as náuseas, o hos-pital oferece água de coco. No entanto, as refeições principais ficam por conta dos pacientes e acompanhantes. “Alguns mo-toristas da van, ao verem as pes-soas com fome, ficam com dó e pagam o almoço”, diz Romão.

Com relação a alimentação, segundo a Prefeitura de São Se-bastião, a cidade faz parte do programa Transporte Fora do Domicílio – TFD –, que tem como objetivo fornecer auxílio a pacientes atendidos pela rede

pública pública ou convenia-dos, desde que esgotadas to-das as formas de tratamento de saúde na localidade em que o paciente reside. Trata-se de um programa responsável por cu-stear o tratamento de pacientes que não possuem condições de arcar com suas despesas. O pa-ciente que necessitar do TFD deve pedir ao médicoque lhe assiste, nas unidades vincu-

ladas ao SUS, que preencha o formulário de TFD, para que uma comissão avalie o caso.

Aline luta contra o câncer de mama a três anos. Tudo começou quando ela sentiu um caroço nos seios, após o um ultrassom foi constatado uma glândula de gordura. Du-rante um ano e meio, Romão utilizou medicamentos para tentar dissolver a glândula. Mas após esse período, Aline sentiu dois caroços na mama, então veio o diagnóstico: câncer. “No

começo foi difícil, achei que ia morrer”, diz Romão. No seu caso, a cirurgia veio antes da quimioterapia. Ela retirou toda a mama direita e 16 linfonodos da axila. Por conta disso, pos-sui deficiência no braço. Teve que viajar para tratamento ainda operada e sentia muitas dores, mas conta que a vontade de se curar sempre foi maior.

Além do sofrimento do tra-jeto, havia a dificuldade de lidar com a própria aparência. “Não tenho prótese ainda. Fiquei com medo e vergonha de me olhar no espel-ho”, diz Aline. Apesar dos obstácu los, ela se mantém positiva di-ante das perspectivas.

“Posso ter uma vida normal, entre aspas. O mais impor-tante é estar viva”, diz Romão.

No começo as sessões eram uma vez por semana, depois todos os dias durante um mês e atualmente duas vezes ao mês. Aline se divide entre São José dos Campos e Jacareí para tra-tar o câncer e a depressão de-senvolvida por ele. A rotina só tem fim a sete horas da noite, às vezes mais. Porque a van espera a conclusão de todos os trata-mentos para retornar à cidade.

Maria Aparecida Ivanov, de 52 anos, enfrenta a mesma luta de Aline. No seu caso, o câncer encon-tra-se na laringe. A cada 21 dias um gol ou uma am-bulância, disponibilizada pela prefeitura de São Se-bastião, a leva para Barre-tos. São aproximadamente 8 horas de viagem e 33 radioterapias para realizar. O veículo chega as 22h na casa de Cida e retorna, no dia seguinte, às 18h.

Ivanov conta que per-deu a esperança no hos-pital de Taubaté. Devido a uma falha do sistema, seus exames ficaram per-didos durante sete meses, quando reapareceram, veio o laudo confirmando a doença. “Quando rece-bi a notícia, minha única reação foi tratar, não fiquei

aborrecida e nem deses-perada”, diz Cida. Por sorte, Ivanov não possui nenhum efeito colateral, o que torna a viagem menos penosa.

câncer

Cida Ivanov

Histórias da luta diária contra a doença

O mais importante é

estar viva

Ana Souza e Éder Maciel

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Saúde

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A difícil vida fácil

Ao contrário do que muitos pensam a prostituição já foi uma ocupação respei-

tada. Antigamente ter relações com garotas de programa era sinônimo de poder e respeito.

Popularmente conhecida como a “profissão mais antiga do mundo” a prostituição existe há muito tem-po dentro da sociedade. Mulheres, travestis e até mesmo homens, de diferentes idades e situações finan-ceiras, entram nesse mundo e nem sempre con-seguem sair.

Garota de programa a 15 anos, Pat-rícia, 30 anos, contou que, devido a di-ficuldade fi-nanceira após o nascimento da fil-ha, através de um anuncio de jornal começou a se prostituir. “Tornou um hobbie. Já parei várias vezes, mas sempre volto. É um vício”.

Sua família é de Minas Gerais e não conhecem a sua realidade, ela mente dizendo que está em São Paulo trabalhando em super-mercado, buffet ou hotéis. Disse ainda que existe muita rivalidade entre as garotas, que os programas são feitos em lugares discretos e sempre com uso de preservativo.

Há aqueles que fazem simples-mente pela sensação de se sentirem desejadas. “Ver que os homens te procuram e querem pagar por você é maravilhoso, para mim isso é um luxo. Mas também tem aque-les momentos em que sinto um vazio por acabar sozinha”, contou

a travesti Bruna Faria, de 20 anos.“Ainda quero terminar meus

estudos, conseguir um em-prego e dar orgulho para a minha mãe”, concluiu ao diz-er que sua família é contra.

Homens de todas as idades, solteiros e casados, vão as ruas a procura de garotas para se satis-fazerem sexualmente. Os valores dos programas variam de acordo com a profissional e o local onde trabalham, mas varia de R$100,00 a R$200,00 reais, uma hora. Elas também ganham uma porcenta-gem da consumação dos clientes.

S e g u n d o fontes du-rante a noite acontece ain-da muita be-bida e drogas.

A t u a l -mente exis-tem projetos

de lei que defendem o reconheci-mento e proteção trabalhista das garotas de programas, mas que ainda não foram aprovados. “Há decisões de tribunais trabalhistas reconhecendo o vínculo empre-gatício e direitos delas. Todavia, se as garotas recolherem o carnê da previdência, podem ter to-dos os benefícios previdenciári-os, como licença maternidade, auxílio doença e aposentadoria”, informou a advogada e Coorde-nadora da Pós-Graduação da Damásio Unidade Caraguata-tuba, Cíntia Yara Silva Barbosa. Disse também que a prostituição ainda não foi reconhecida como profissão devido a exploração de casa de entretenimento adulto ter sido considerada como crime até pouco tempo atrás (rufianismo).

prostituição

A prostituição para muitas se torna um vício

Bárbara Mello

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Marginalidade

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Pesquisas apontam o crescimento do número de moradores de rua no país. Hoje são quase dois milhões segundo do Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012. Em Caraguata-tuba, a equipe do Antenado foi para a rua conhecer a vida de quem não tem um teto e ver de perto como sobrevivem estas pessoas.

à praça Diógenes Ribeiro de Lima estava Wilson Viei-ra de Almeida de 50 anos. Nascido em Jequié, na Bahia, veio para a cidade após o término de seu casamento e decidiu ten-tar uma nova vida na cidade. Depois de algum tempo atuando como marinheiro e outras tentativas frustradas de trabalhar com carteira registrada, Wilson teve que ir para as ruas bus-car uma forma de sobreviver. O simpático senhor, que hoje faz ‘bicos’ como guardador de veículos, conta que não bebe e não entra em confusão.“As vezes algumas pessoas fingem que não existo, outras me cumprimentam todo dia”, afirma.

Para se proteger do tempo, ele se abriga debaixo das barracas dos comerciantes da praça. “Em dia de chuva eu me viro pra dor-mir, não tem problema nenhum”, conta. Wilson revela que a vida nas ruas não é fácil, porém não é algo que ele trocaria pelo conforto de um lar. “Hoje não troco a liberdade que a rua me dá”, explica.

Em outro ponto da cidade, José Antônio Gon-

çalves de 51 anos se abrigava na cobertura de um co-mércio no Indaiá. Ele veio da cidade de Cachoe

irinha, em Pernambuco, para São Paulo, no início dos anos 80. No fim da década, decidiu tentar a sorte em Caraguá. Vi-sivelmente embriagado, José Antônio revela que morar na rua não foi uma opção. “Hoje eu estou na rua porque não tenho oportunidade de trabalho”, e nos revelou que sairia da rua se tivesse uma chance. Aos domingos ele vigia car-ros no centro da cidade e assim ganha alguns trocados para se alimentar. José não tem contato com a família. “Famíl-ia quer mandar em mim e colocar regras”, comenta.Ajuda

A Comunidade Divina Providência atua há 13 anos no trata-mento destas pessoas, que muitas vezes são dependentes de ál-cool e drogas. Rose Loiola que é membro e foi quem iniciou os trabalhos de recuperação do morador de rua, nos conta que hoje são 27 pessoas em tratamento na sede da comunidade e que a maioria não tem condições de ser reinserida na sociedade. É realizado todas as terças-feiras uma ação que abrange boa parte da cidade e que tem o intuito de oferecer abrigo e tratamento. “Levamos cobertores e comida e oferecemos o tratamento, mas a vontade de mudar tem que partir deles mesmos”, conta Rose, que ressalta a importância destas ações que deram certo com diversas pessoas que foram posteriormente recolocadas na sociedade e no mercado de trabalho. Fone: 12 3883-4547.

morador de ruaA triste realidade de quem não tem um lar

Rafael Franco

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Descaso

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fundação casa

Tiago chega trazendo a garrafa de café e os cli-entes que estão na loja de

eletrônicos vão logo se servin-do. Bermuda, tênis, aparelho dentário... Verde! Na mão um celular novinho, também verde, cor da esperança: “Cus-tou mil reais, dinheiro do meu trabalho”, vai logo disparando. Parece uma metralhadora cus-pindo palavras, para atacar e se defender, conforme a ocasião.

Vivia no mundo das drogas, do crime. “Esse mundo é as-sim - cadeia ou caixão. Paguei meus pecados pra justiça. Meu castigo veio da herança do meu pai que morreu no trá-fico. Pra ele foi caixão. Com 13 anos fui ‘tocar’ os negócios da ‘biqueira’ que ele me deix-ou”, fala Tiago Souza, 19 anos.

Biqueira é o nome popu-lar para ponto de venda de drogas mantido por traficante. E acrescenta: “Não tenho ver-gonha de dizer o que eu era. Mas aprendi que isso era ruim”. A salvação que diz ter encontrado na Fundação Casa parece refletir no orgulho ao falar que está cursando o 3º colegial e, também está “tirando” a car-teira de motorista.

Agora, aos 19 anos, recomeça vendendo sorvete numa máquina colada à pare-de da loja de celulares, parte

baixa da Barra Velha, bairro popular de Ilhabela: “Se todo mundo tem direito a uma se-gunda chance essa é a minha”. Muito diferente do trabalho de vender cocaína no ponto her-dado do pai, que ficava no lo-cal conhecido como Tesouro da Colina – alto da Barra Velha.

PASSAGEM PELAFUNDAÇÃO CASA

O trabalho do tráfico rendeu quatro internações na Fundação Casa. A primeira foi na unidade de Caraguatatuba, aos 14 anos. Daí em diante, as medidas so-cioeducativas foram cumpridas na Capital: com 15 anos de idade a segunda internação. Aos 16 anos estava internado pela ter-ceira vez. Ficou seis meses. Aos 17 anos teve que cumprir dez meses de punição: “Aí foi sofri-mento. Estava de novo no mes-mo lugar, a cabeça chapou de depressão. Minha mãe me visi-tava uma vez por mês. Os outros

moleques recebiam visita toda semana”. Tiago foi internado nas três últimas vezes em unidades do Brás, bairro da Capital. Para

lá são levados os reincidentes. Como a família ficava a 200 km de distancia, em Ilhabela, Litoral Norte de São Paulo, não tinha dinheiro para ir visitá-lo todos os finais de semana.

A mãe, Dona Lucilene C. Aguilar, 42, disse ter ficado es-pantada quando viu o filho as-sim que ele saiu da Fundação: “Você está com um sem-blante ótimo”, lem-bra a mãe. Tiago sorri ao se lembrar do episódio e acres-centa que pesava 40 kg quando entrou e saiu com 60 kg. “Lá se come muito bem”, disse e sorriu.

“Quem obedece aos fun-cionários não sofre. Quem fica xingando apanha, e apanha na frente de todos. Tem que ser esperto pra entender isso. Tem unidade que tá nas mãos dos funcionários. Tem outras que tá nas mãos dos moleques. Tiago explica que ‘nas mãos dos moleques’ é quando o Crime está no comando e controla os internos. Quando deixam a Casa “os moleques saem mais inteligentes ou com mais raiva! Eu espero ter saí-do mais inteligente”, afirma.

ROTINA SEM LIBERDADE

Levantamos as 6 h da man-hã, escovamos os dentes, toma-mos café, estudam lá mesmo

na unidade e almoçamos. A tarde tem atividades como ca-poeira e pintura. Mas acrescen-ta em tom de reclamação: “O chato é as revistas. São várias por dia. A gente tem que tirar e sacudir toda a roupa e depois ‘pular canguru’ pra vê se tem arma escondida”.

Difícil é encarar o banho: “São cinco minutos... água fria. No inverno a gente liga o chuveiro, se molha ra-pidinho e fica esperando passar os minutos. Só en-tão os funcionários deixa a gente sair e se secar. Acho essa parte errada”, desabafa.

“As 22 h a gente escova os dentes, pega a coruja e vai dormir”. Diz Tiago apressan-do-se a explicar que “Coruja é cueca”. Nesse momento dá uma gargalhada solta entre os dentes presos no pequeno aparelho cor de esperança. A cor favorita de Thiago.

O Jornal Antenado entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Fundação Casa, mas ate o fechamento desta edição não obteve resposta.

Ex-interno explica a vida dentro da Instituição

Paguei meus pecados para

a justiça

Quem não obedece apanha

Juliane Zaparolli e Wagner Bastos

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Recomeço

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