nesta edição entrevista -...

4
nesta edição Fale conosco: [email protected] 8 Liderança Janeiro 2012 www.lideraonline.com.br entrevista Pancadas de chuva e trovoadas, com sol no fi m do período Economista Ricardo Amorim prevê um início de ano turbulento, mas 2012 terminará bem Por Júlio Clebsch e Evelise Toporoski | Fotos: Ricardo Correa

Transcript of nesta edição entrevista -...

Page 1: nesta edição entrevista - ricamconsultoria.com.brricamconsultoria.com.br/pdfs/Entrevista-Lideranca-Janeiro-2012... · 10 Liderança Janeiro 2012 Fale conosco: atendimento@lideraonline.com.br

nesta edição

Fale conosco: [email protected] Liderança Janeiro 2012 www.lideraonline.com.br

entrevista

Pancadas de chuva e trovoadas, com sol no fi m do períodoEconomista Ricardo Amorim prevê um início de ano turbulento, mas 2012 terminará bem

Por Júlio Clebsch e Evelise Toporoski | Fotos: Ricardo Correa

Page 2: nesta edição entrevista - ricamconsultoria.com.brricamconsultoria.com.br/pdfs/Entrevista-Lideranca-Janeiro-2012... · 10 Liderança Janeiro 2012 Fale conosco: atendimento@lideraonline.com.br

Fale conosco: [email protected] 9www.lideraonline.com.br Janeiro 2012 Liderança

“Parabéns! Há dois anos você previu o que está acontecendo hoje na europa e nos estados uni-dos. esta crise será pior que a de 1937?”

Foi com essas palavras que o apresentador lucas Men-des, em nova iorque, chamou ricardo Amorim, via vídeo, em são Paulo, no programa Manhattan Connection, exibido pela globo news no dia 14 de agosto de 2011. A credibilidade de Amorim foi adquirida ao longo de sua carreira, durante a qual ele vem acertando boas e más previsões sobre o mercado econômico. o palestrante e consultor é formado em economia pela usP e pós-graduado em administração e finanças pela esseC, em Paris. ele atua no mercado financeiro desde 1992, já trabalhou em cidades como nova iorque, Paris e são Paulo, sempre como econo-mista e estrategista de investimentos. Atualmente, ricardo Amorim comanda sua própria empresa, a ricam Consulto-ria, e é um dos apresentadores do Manhattan Connection desde 2003, ao lado de diogo Mainardi, lucas Mendes, Caio Blinder e Pedro Andrade. Além disso, ricardo Amorim é o único brasileiro incluí-do na lista dos mais importantes palestrantes do mundo, segundo o speakers Corner. suas palestras abordam a economia mundial e tendências para o Brasil (no exterior e por aqui). Foi após uma de suas apresentações, que acon-teceu no Centro universitário FAe, em Curitiba, Pr, que o entrevistamos. dessa conversa, selecionamos, para você, as principais tendências, segundo Amorim, para 2012. ele apontou grandes oscilações nas Bolsas mundiais – inclusive do Brasil –, afirmando que a economia mundial vai desacelerar e que esse choque externo tende a reduzir o crescimento do PiB brasileiro, principalmente neste primeiro semestre. A partir daí, as coisas melhoram e os próximos anos serão de avanço e desenvolvimento do Brasil, da China e da Índia. Confira!

Page 3: nesta edição entrevista - ricamconsultoria.com.brricamconsultoria.com.br/pdfs/Entrevista-Lideranca-Janeiro-2012... · 10 Liderança Janeiro 2012 Fale conosco: atendimento@lideraonline.com.br

Fale conosco: [email protected] Liderança Janeiro 2012 www.lideraonline.com.br

27% de toda a produção mundial. A Fiat, por exemplo, vende mais carros por aqui do que na Itália. Não é só a produção mundial que está se deslocando para os países emergentes, a indústria financeira também. Bancos como Santander e HSBC já lucram mais no Brasil do que em seus países de origem, Espanha e Inglaterra, respectivamente. Com a crise na Europa e a economia global em estado de observação, é nos emergentes que essas duas instituições financeiras têm buscado alento. De forma resumida, são três as principais transformações da atuali-dade, todas elas favoráveis ao Brasil e negativas para os países ricos. A primeira: com a emergência da China e da Índia e, mais especificamente, com a entrada da China na OMC em 2001, as populações desses paí-ses passaram a se alimentar mais e melhor. Como grande exportador de alimentos, o Brasil lucrou com essa situação. Além disso, esses países estão num processo de urbanização e industrialização, ou seja, as pessoas estão saindo do campo e indo para as cidades. Assim, faz-se necessário construir cidades e, para isso, é preciso

RETROSPECTIVAAté a crise de 2008, vivíamos em um mundo com excesso de liquidez, dinheiro barato e um processo de escalada das cotações das commodities. Presenciamos o desenvolvimento dos BRIC (sigla para Brasil, Rússia, China e Índia), principalmente a as-censão da China, que, ao candidatar-se à Organização Mundial do Comércio (OMC), em muito favoreceu a eco-nomia brasileira, por ser uma voraz consumidora de commodities. Entre as 30 maiores economias do mundo, o Brasil foi o terceiro país que mais cresceu em 2010, perdendo apenas para a China e a Índia.

TRANSFERÊNCIA DE RENDA E RIQUEZAPara se ter uma rápida ideia do que aconteceu durante os últimos 15 ou 20 anos, o barril de petróleo chegou a valorizar cerca de 10 vezes e o preço de uma televisão barateou-se cerca de 15 vezes! Isso é uma brutal trans-ferência de capital e de renda para os países exportadores de commodities, principalmente o Brasil. Atualmente, Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul (BRICS) já respondem por quase

comprar metais, minerais – e o Brasil lucra novamente. O segundo ponto é que, quando começamos a exportar a produção de quase tudo para lugares que têm muita mão de obra, o custo da produção cai. Com isso, a inflação mundial também começou a cair nos últimos anos, fazendo com que a taxa de juros, no Brasil e no mundo, seja hoje uma das mais baixas da história. O terceiro fator que nos beneficia é que o fluxo de cérebros no mundo – a emigração de profissionais qualifi-cados – passou a jogar a nosso favor. Antes, o Brasil perdia boa parte dos seus profissionais mais bem formados, porque eles iam estudar ou trabalhar em outros países e acabavam ficando por lá. Hoje, o fluxo se inverteu: cerca de 400 mil brasileiros voltaram ao País nos últimos seis anos. Todas essas transformações deverão perdurar, pelo menos, nos próximos 10 a 15 anos. CONSUMO E SUSTENTABILIDADEO cenário é otimista para o Brasil em 2012, assim como para a China e a Índia. Esses países têm caracte-rísticas em comum: são populosos e têm grande oferta de mão de obra.

As perspectivas para os próximos anos são muito favoráveis. Não há como o nosso país dar errado.

Mesmo se ‘importássemos’ um político como Hugo

Chávez para ser o dirigente da nação, seria muito improvável que não

crescêssemos econômica e socialmente.

Page 4: nesta edição entrevista - ricamconsultoria.com.brricamconsultoria.com.br/pdfs/Entrevista-Lideranca-Janeiro-2012... · 10 Liderança Janeiro 2012 Fale conosco: atendimento@lideraonline.com.br

Fale conosco: [email protected] 11www.lideraonline.com.br Janeiro 2012 Liderança

Com mais pessoas ganhando sa-lários forma-se, então, um grande mercado consumidor. Ao mesmo tempo que a renda está sendo mais bem distribuída, cresce a preocupação com a sustentabilidade. Nos próximos anos, as decisões sus-tentáveis desses três países emergentes irão se tornar hábitos mundiais.

BRASILAs perspectivas para os próximos anos são muito favoráveis. Não há como o nosso país dar errado. Mesmo se “importássemos” um político como Hugo Chávez para ser o dirigente da nação, seria muito improvável que não crescêssemos econômica e socialmente. O Brasil é a nova América, uma terra plena de oportunidades. Já po-demos perceber isso observando os fluxos migratórios, que mudaram, de maneira geral, das capitais para o interior e do sul e do sudeste para o nordeste e o norte. Nos últimos oito anos, o Brasil cresceu mais que o dobro do que crescera nos 25 anos anteriores. O que não significa que teremos um céu de brigadeiro. Os próximos meses serão bem turbulentos, mas, grosso modo, haverá pelo menos 15 ou 20 anos de crescimento econômico. Acredite: em 10 anos nossa infraestrutura será muito melhor. Os investimentos por aqui triplicarão nesse período. Não é à toa, como citei anterior-mente, que a indústria bancária está focando seus negócios nos BRICS. É neles que se concentrarão as maiores demandas por crédito. A China continuará precisando de alimentação, petróleo e minérios. Só existem duas ameaças que podem causar a desacelaração de sua eco-nomia: recessão ou inflação – mas isso não ocorrerá em curto prazo. Se, por acaso, seu ciclo de crescimento terminar, ou deteriorar-se, haverá a ascensão da Índia.

MÃO DE OBRAHaverá muitas oportunidades de emprego no Brasil, mas também uma

escassez de mão de obra qualificada. Por isso vemos muitos estrangeiros desembarcando no País. O setor da educação é um dos que mais carece de investimento por parte do governo, sendo necessária uma melhor capaci-tação dos educadores. Mas essa é uma solução para médio e longo prazos.

VELHO MUNDOA situação no continente europeu vai piorar. E muito! Esta é a segun-da fase da crise iniciada em 2007 e 2008 e, agora, depois da desalavan-cagem dos bancos, vê-se a tentativa de desalavancagem dos governos. O problema é que a munição que os governos dispunham no início da crise exauriu-se. Na Europa, essa crise será muito pior que nos Estados Unidos e no Japão. Não será difícil um ou mais ban-cos do continente irem à bancarrota. Em muitos países, a dívida privada é maior que a pública. Essa situação causará muito estresse, nervosismo, variações cambiais e volatilidade na Bolsa de Valores. A tendência mundial é de queda da inflação, porém com nenhum ou baixo crescimento.

O QUE VEM POR AÍA crise global continuará a sacudir os mercados. Os emergentes não escaparão dela, apenas estarão mais capacitados para enfrentá-la. Sobre o Brasil, não quero me li-mitar a um período de 12 meses. De maneira geral, a inflação irá reduzir, tendendo a atingir a meta estabelecida pelo Banco Central (4,5%) ainda em 2012. Palpite: essa taxa pode ficar, até mesmo, mais baixa que a prevista. Aliás, o movimento do Banco Central em agosto de 2011 foi ousado, arriscado e, provavelmente, acertado, mas foi uma aposta e apostar ou antecipar-se não deve ser a função dessa instituição financeira. E se as coisas, em 2012, não acontecerem como previstas pela instituição, como ficará a sua credibi-lidade? Como recuperá-la? E qual será a política monetária deste ano?

Com a queda da inflação, ocorre a redução da taxa Selic. Não será difícil que esta fique mais baixa em 2012 do que foi em 2009. O primeiro semestre de 2012 será muito ruim, com baixos índices de crescimento, tendendo a melhorar a parti r da segunda metade do ano. De 2013 em diante, teremos um longo ciclo de crescimento e de mais tranquilidade. O melhor, neste momento, é ficar com o dinheiro em caixa e não se endividar. Recomendo a adoção de uma postura defensiva.

O Manhattan Connection es-treou em 1993 e é um dos mais bem-sucedidos programas da televisão paga brasileira. Seu criador é Lucas Mendes, que começou gravando em Nova Iorque com as participações de Paulo Francis, Caio Blinder e Nelson Motta. Paulo Francis faleceu no início de 1997 e seu lugar no programa foi ocupado por Gerald Thomas e outros convidados especiais, até ser passado de forma defi nitiva para Arnaldo Jabor, que gravava o Manhattan Connection em um estúdio no Rio de Janeiro. Com a saída de Nelson Motta, Lúcia Guimarães entrou para o time, mas logo depois passou a aparecer somente no último bloco, apresentando sua ma-téria semanal de arte e cultura. A temporada de 2003 trouxe dois novos integrantes para o programa, que fazem parte dele até hoje: Ricardo Amorim e Diogo Mainardi. No final de 2010, o canal GNT, que exibiu o Manhattan Connection desde sua estreia, anunciou a mudança do progra-ma para o canal Globo News a partir de janeiro de 2011.

Manhattan Connection