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www.neomondo.org.br NEOMON DO UM OLHAR CONSCIENTE Ano 3 - Nº 31 - Fevereiro 2010 - Distribuição Gratuita Céu Escada para o Zilda Arns Homenagem Especial Fábio Feldmann Referência em meio ambiente 08 Avatar É eco e não é chato Carlos Nobre Mudanças climáticas na berlinda 20 56

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www.neomondo.org.br

NeoMoNdoum olhar conscienteAno 3 - Nº 31 - Fevereiro 2010 - Distribuição Gratuita

CéuEscada para o

Zilda ArnsHomenagem Especial

Fábio FeldmannReferência em

meio ambiente

08

AvatarÉ eco e não é chato

Carlos NobreMudanças climáticas

na berlinda20 56

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neo mondo - maio 2008 2

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A destruiçãodo planeta éproblema meuA Carta da Terra é um código de conduta para guiar os povos e nações.

Ratificada pela Unesco, equivale à Declaração Universal dos Direitos Humanos,

no que concerne à sustentabilidade, à equidade e à justiça.

O Meio Ambiente tem sido tema constante da mídia, nas escolas, nas empresas,

no mundo. Por um simples motivo: é uma questão de sobrevivência e o Planeta

é um problema nosso!

Uma homenagem do Instituto Neomondo

aos povos de todas as nações do Planeta

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3neo mondo - maio 2008

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A destruiçãodo planeta éproblema meu

arta da erra“A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e um dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São ne-cessárias mudanças fundamentais dos nossos valo-res, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento é primariamente ser mais, e não ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunida-des para construir um mundo democrático e huma-no. Nossos desafios, ambientais, econômicos, políti-cos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes .

C T

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MeIO AMbIeNTe

Seções

Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz

Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586)

Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Takashi Yamauchi, Marcio Thamos, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Natan Rodrigues Ferreira de Melo e Silva e Rosane Magaly MartinsRedação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Elizabeth Lorenzotti (MTB 10.716)Estagiária: Heloisa MoraesRevisão: Instituto Neo MondoDiretora de Arte: Renata Ariane RosaProjeto Gráfico: Instituto Neo MondoDiretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Primo Bruno Pezzolo, 86 - Casa 1 - Vila Floresta - Santo André – SPCep: 09050-120

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 4994-1690

Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

Expediente PublicaçãoA Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

PeRFIL

Fábio Feldmann referência em meio ambiente

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4 neo mondo - Fevereiro 2010

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Artigo: Natan Rodrigues Ferreira de Melo e Silva “um dia da caça...e o outro também“

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empurrando com a barrigalíderes mundiais deixam a desejar...

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semasa investe r$ 50 milhões em tratamento de água

Artigo: Takashi Yamauchi

Plano nacional sobre mudanças climáticas

INCLUsãO sOCIALFórum Social um outro mundo ainda é possível

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esPeCIAL - MUDANÇAs CLIMÁTICAsDenise de la corte Baccisaber para salvar

12

CULTURA & LAZeRAvatarÉ eco e não é chato

artiGo –

Artigo: Denise de La Corte Baccimudanças climáticas no contexto educacional

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esPeCIAL - MUDANÇAs CLIMÁTICAs

Carlos Nobrecausas antropogênicas

20

MATéRIA De CAPAZilda Arns Vida em Plenitude

24

30

MeIO AMbIeNTe

o semasa coletou 829 toneladas de recicláveis só no primeiro mês do ano

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Artigo: Rosane Magaly Martinsaquecimento global interfere na qualidade do seu envelhecimento

32

35 Artigo: Terence Trennepohl

a importância da conferência do clima

esPeCIAL - COP 15

Artigo: Natascha Trennepohl a coP 15 e as lições para a coP 16

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INCLUsãO sOCIALFórum Social um outro mundo ainda é possível

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eCONOMIAOh, dívida cruel !equilíbrio financeiro e a sustentabilidade do Planeta

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Artigo: Márcio Thamosexpressões de uma riqueza diversa

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Artigo: Dilma de Melo Silvaos saberes dos povos autóctones e o meio ambiente

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Um olhar consciente

InstitutoInstituto

NeoMondo

NeoMondo

Prezado leitor, começo este editorial com um peque-no trecho do depoimento

exclusivo (ver págs. 32 a 35) dado a NEO MONDO pelo senador Flávio Arns (irmão da Dra. Zilda Arns).

“Nada na vida, notadamente as grandes e definitivas decisões, acontece por acaso. Elas precisam de um processo de amadurecimento e de um ambiente favorável à sua concretização. A vida de Zilda Arns estava predestinada a ser um marco na história das mulheres deste país.

A sua lembrança gera saudades. A sua lembrança não carrega tristeza, porque o amor nunca é triste, mas sempre uma luz, uma esperança, uma proposta de vida.

Ela viveu para trazer vida, dar vida e vida plena”.

Deixamos registrado aqui nesta edição de NEO MONDO nosso carinho e admiração por essa mulher maravilhosa que sempre esteve à frente do seu tempo.

Trazemos também um especial sobre mudanças climáticas, discutindo o assunto com especialistas reconhecidos nesta área, como a geóloga Denise de La Corte Bacci, docente do Instituto de Geociências da USP, o climatologista e pesquisador titular do Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais (Inpe),

Carlos Nobre; e, no Perfil, Fábio

Feldmann, ambientalista fundador

da SOS Mata Atlântica e

ex-deputado federal.

Pensando em ser eco e não ser

chato, fizemos uma seleção de

filmes que abordam os atuais

problemas ambientais causados

pela mão do homem.

Em sua décima edição, o Fórum

Social Mundial volta a Porto

Alegre, cidade onde foi realizado

pela primeira vez, em 2001, como

contraponto ao Fórum Econômico

Mundial, realizado anualmente em

Davos, na Suiça.

Para marcar o aniversário, o

evento reuniu lideranças sociais

do mundo inteiro para um balanço

das ações realizadas pelo próprio

fórum nesta primeira década

de vida.

Confira as conclusões deste

balanço e conheça os desafios que

um dos principais eventos sociais

do mundo ainda terá

que enfrentar.

Essa é apenas uma parte do que

você irá encontrar nesta edição.

Boa leitura!

Oscar Lopes Luiz

Presidente do Instituto Neo Mondo

[email protected]

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Editorial

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Aquecimento global. Você ainda não viu quase nada.

Iceberg Australia 41x27,5.indd 1 2/12/10 11:44:11 AM

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7neo mondo - agosto 2008

Aquecimento global. Você ainda não viu quase nada.

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N a década de 80, o conceito de desenvolvimento sustentável era ainda embrionário, mas o

advogado e administrador de empre-sas paulista Fábio Feldmann já acom-panhava de perto os acontecimentos da área.

Em mudanças climáticas, “estados e municípios têm papel importante no jogo e é crucial que estejam engajados”

edu

mor

ais

Perfil

em 1980 e 1986, respectivamente, fundou com o apoio de um grupo de pro-fissionais engajados na defesa do meio ambiente as onGs oiKos - união dos De-fensores da terra e sos mata atlântica.

ainda em 86, foi eleito deputado federal, cargo que exerceria por três mandatos con-

secutivos (1986 a 1998) e no qual destacou-se como autor e relator de diversos projetos de lei, além do capítulo da constituição de 1988 que trata sobre meio ambiente.

a convite do governador mário covas, assumiu a secretaria estadual do meio am-biente em 1995, ficando no cargo até 98.

nas eleições de 98 e 2002, não conse-guiu reeleger-se deputado, apesar de rece-ber grande votação.

mesmo longe dos cargos eletivos, po-rém, continuou militando em favor das questões ambientais e entre 1997 e 2002 foi membro oficial da delegação brasileira nas conferências das Partes da convenção Qua-dro das nações unidas sobre mudanças cli-máticas, dentre elas a conferência realizada em Quioto, que deu origem ao Protocolo.

em 2000, oficializou esta discussão na agen-da do governo federal com a criação do Fórum Brasileiro de mudanças climáticas e em 2005 assessorou a formação do Fórum Paulista.

afastado da política há doze anos, perí-odo em que vem atuando como consultor e conferencista em eventos nacionais e inter-nacionais, seu nome voltou a frequentar o noticiário político nos últimos meses.

Fábio foi convidado pela senadora ma-rina silva para concorrer ao governo esta-dual nas eleições de outubro, pelo Partido Verde (PV), do qual é filiado desde 2003, quando despediu-se do Partido da social Democracia Brasileira (PsDB).

“não posso dizer que sim nem que não”, disse em entrevista a neo monDo sobre o convite de marina.

mudanças climáticas, coP 15 e outros temas também foram discutidos.

confira.

Fábio Feldmann, constituinte em 1988, autor de projetos de lei específicos e articulador do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, pode voltar à política

Rosane Araujo

em meio ambiente

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Neo Mondo: Em 2000, o sr. articulou a criação do Fórum Brasileiro de Mu-danças Climáticas. Como se deu essa criação? Quase dez anos depois, como avalia a atuação do Fórum?Fábio Feldmann: Normalmente os presi-dentes da República eram muito distantes deste tema, especialmente no Brasil.Comecei a defender que eles protago-nizassem essa discussão.Durante Quioto, o então presidente Bill Clinton ligou para o Fernando Henrique duas vezes pedindo ajuda na negociação. A partir daí surgiu a ideia do Fórum.Em 99, foi criada a Comissão Intermi-nisterial de Mudança do Clima, mas não previa participação da sociedade civil nem do setor empresarial. Não dá para discutir esse tema sem uma discussão ampla e para isso foi criado o Fórum no ano 2000, presi-dido pelo presidente da república, com alguns ministros e com objetivos múltiplos, mas basicamente de abrir um espaço público de diálogo entre governo e sociedade.Fui presidente e secretário do Fórum du-rante quase dois anos e no governo FH, o presidente reunia-se por muitas horas com as pessoas, o que eu acho muito importante por ser um tema complexo. O fato de se ter acesso ao presidente, que era indagado pelos seus pares, quebrou um pouco o monopólio do Itamaraty nessas questões. A tradição aqui no país era que o Itamaraty representasse o Brasil, mas sem sempre ele estava aberto a uma função mais ampla nesses assuntos.

Acho que o Fórum quebrou um pouco isso. No caso do Lula, o Fórum perdeu um pouco do seu caráter participativo, mas acho que ainda é importante, porque na discussão de metas para o Brasil ele teve um papel central, na minha opinião. Foi ele que, de certa maneira, conduziu essa consulta junto à sociedade.Mas os estilos do Fernando Henrique e do Lula são muito diferentes.

Neo Mondo: Na sua opinião, os gover-nos brasileiros, em suas instâncias muni-cipal, estadual e federal, têm feito sua parte no combate às mudanças? Quais ações merecem ser destacadas? Fábio Feldmann: Eu acho que sim, eles têm feito. Por exemplo, o Amazonas elaborou uma legislação sobre política estadual de mudanças do clima em 2005. A cidade de São Paulo também tem uma política importante, assim como o estado que tem inclusive me-tas em termos absolutos, diferente da meta brasileira. Então, eu acho que a tendência é que os estados e municípios fiquem cada vez mais engajados, como ocorreu nos Estados Unidos. Quando o pre-sidente Bush negou o aquecimento global e tirou o país de Quioto, mui-tos estados e municípios tiveram um papel relevante, inclusive a Califórnia, governada pelo Schwarzenegger, que é republicano. Acho que os estados e municípios têm um papel muito importante neste jogo e é crucial que eles estejam engajados.

Neo Mondo: As novas metas de redu-ção da emissão de gases em São Paulo sofreram críticas de alguns setores. Os críticos alegam que elas podem preju-dicar o crescimento econômico. Qual sua opinião a respeito? Fábio Feldmann: O tema de clima per-mite identificar duas visões de mundo muito claras: uma é do século 19 e outra do século 21. A visão do século 21 é a que temos que caminhar para uma economia de baixa intensidade de carbono, até pela questão de competitividade. A visão do século 19 é a visão do pré-sal, a visão de que o Brasil não pode ter metas. Acho que essas críticas revelam uma vi-são de espelho retrovisor. Até porque acho que São Paulo vai ter que fazer um grande esforço, mas as metas são absolutamente viáveis.Um dado que tenho falado sempre é sobre um dos grandes desafios, que é o transporte. Cerca de 46% dos caminhões de carga que trafegam no estado circulam vazios. Isso representa congestionamento, preço no frete mais alto, consumo de combustível, emissão de gás, enfim, é um dado significativo de como a mu-dança do clima pode nos ajudar a ter uma sociedade mais eficiente e com maior qualidade de vida.Cito este caso, porque dá para ima-ginar o que representa a metade dos caminhões de carga da região metro-politana de São Paulo. É muita coisa.

Neo Mondo: Como consultor, o sr. tem contato direto com o empresa-

em meio ambiente

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10 neo mondo - Fevereiro 2010

riado. Acredita que, em geral, ele está aberto a mudanças para se adequar às novas diretrizes?Fábio Feldmann: As empresas que têm líderes apoiam claramente, inclusive porque as metas resolvem o que se chama na linguagem empresarial de risco regulatório, quer dizer: a meta está aí, vou me preparar para atender, vou avaliar os riscos, mas também as oportunidades para meus negócios.A receptividade também depende do segmento. Acho que existem alguns que são muitos refratários, que ainda veem não só o clima, mas o meio ambiente, como um obstáculo a ser vencido. Acho que esses segmentos continuam atrasados e serão afetados não tanto pela regulação, mas pela falta de visão.Por outro lado, há segmentos que já estão se preparando para enfrentar essas questões, inclusive nem só do ponto de vista da redução de emissão, mas também de adaptação. Veja o custo das chuvas muito intensas para determinados segmentos. São ameaças à infraestrutura. Enfim, são muitos os problemas que vão surgir com o aquecimento.

FH se reunia por muitas horas com as pessoas... com Lula o Fórum perdeu um pouco

do seu caráter participativo; são estilos diferentes

“”

Neo Mondo: Por falar em chuvas, muito se tem comentado a respeito da relação da atual onda de tempes-tades que se abateu sobre São Paulo com os efeitos do aquecimento glo-bal, porém não existe consenso sobre o tema. Qual a sua opinião pessoal?Fábio Feldmann: Não dá para afirmar que é aquecimento global, mas não dá para afirmar que não é aquecimento, há uma sinergia de fatores. Em São Paulo, pode ter a in-fluência do El Niño, do aquecimento, tem também a questão das grandes áreas impermeabilizadas, que são as chamadas ilhas de calor. Existe um conjunto de fatores e é muito difícil isolar um só. De qualquer forma, não vi nenhum cientista dizendo que é aquecimen-to, mas também não vi nenhum dizendo que não é. Isso mostra as dificuldades que a gente ainda tem em relação a isso.

Neo Mondo: O sr. acompanhou de perto a realização da 15ª Conferên-cia das Partes sobre o Clima (COP 15), realizada em dezembro, na Dinamar-ca. O sr. ficou decepcionado com os resultados da reunião?Fábio Feldmann: Na COP 15, por an-tecipação, já sabíamos os problemas

que haveria. Primeiro, a questão da dificuldade do governo americano de não ter mandato para uma negocia-ção, em função de a lei que trata des-sa matéria não ter sido aprovada no Senado. Segundo, a falta de liderança da Dinamarca e da própria ONU, há claramente uma falta de liderança brutal nisso. O lado bom é que quando existe um fracasso e ele é reconhecido por todos, o fracasso pode ser um grande ativo, que é cobrar dos responsáveis medidas para fazer com que, no processo, vire um sucesso. Isso é mais especifica-mente o que vai acontecer no México (16ª Conferência, a ser realizada neste ano). Estou otimista, porque o grande equívoco que foi a falta de liderança em geral pode ser resolvido neste ano, que temos até dezembro.

Neo Mondo: Por fim, o sr. foi convi-dado pela senadora Marina Silva para disputar o governo estadual em São Paulo. Como recebeu o convite? Qual a expectativa quanto à sua candidatura?Fábio Feldmann: Estou analisando o convite, não posso dizer que sim nem que não. É uma decisão pessoal mesmo. Estou há doze anos longe da política, já construí uma vida fora dela, mas ainda estou pensando no assunto.

Quanto a novas diretrizes estaduais, “receptividade empresarial depende do segmento; os atrasados serão afetados

pela falta de visão”

Perfil

Fábio Feldmann também...

...foi candidato à Prefeitura de São Paulo em 1992, obtendo 5,8% dos votos

...foi o chefe da delegação brasileira parlamentar na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro, também em 1992 (ECO-92)

...foi o idealizador do rodízio de automóveis, instituído na capital em 1997, quando era secretário estadual do Meio Ambiente

...é o relator de importantes diretrizes como a Política Nacional de Recursos Hídricos, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica

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neo mondo - setembro 2008 A

FH se reunia por muitas horas com as pessoas... com Lula o Fórum perdeu um pouco

do seu caráter participativo; são estilos diferentes

“”

Apoio

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Conhecer a história do planeta ajuda a compreender melhor os processos naturais

e os fenômenos que enfrentamosElizabeth Lorenzotti

V ivemos em uma época imediatis-ta e individualista e, por isso, não conseguimos ter uma compreen-

são da história do planeta que habitamos. mas esse conhecimento é imprescindível e urgente, para nos educarmos em relação aos nossos atos atuais e suas consequên-cias no futuro. e, para tanto, os conheci-mentos da Geologia são fundamentais.

segundo Denise de la corte Bacci, do-cente do instituto de Geociências da usP, “os geólogos não se relacionam apenas ao tem-po de existência do homem, mas analisam os sistemas climáticos olhando um tempo muitíssimo mais longo. isso nos dá uma vi-

são diferenciada da que se tem na mídia e em determinados setores da sociedade”.

e falando, primeiro, da constituição do clima. segundo a geóloga, citando oliveira et al, 2009, “o sistema climático é constitu-ído por atmosfera, oceanos, superfície dos continentes e geleiras. o ciclo de carbono re-presenta as transferências de carbono entre os vários reservatórios terrestres. Quando a introdução de co2 na atmosfera é muito rá-pida em termos geológicos, como no caso da queima de combustíveis fósseis, o sistema não tem tempo de se adaptar, o que, aparen-temente, acarreta a intensificação do efeito estufa e aumento global de temperatura”.

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SaberSAlvArpara

especial - Mudanças Climáticas

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SaberSAlvAr

ela afirma que o clima pode ser defi-nido como o produto da integração das condições atmosféricas ao longo do ano, correspondendo ao padrão anual das con-dições meteorológicas. e a Geologia fala em tempo geológico, relacionado desde a formação do planeta até os dias atuais: isso corresponde a 4,56 bilhões de anos.

o clima da terra sempre oscilou en-tre quente e frio. “houve momentos, ao longo da história do planeta, em que ti-vemos temperaturas muito altas, outros com temperaturas baixas. É o que se de-nomina efeito estufa e refrigerador, e isso sempre ocorreu. mas a história da terra é dominada mais por períodos quentes do que frios.”

os períodos frios são chamados de idades glaciais. no período frio, aumenta a quantidade de gelo nos polos da terra e nas altas montanhas, e capas de gelo cres-cem em direção ao equador. as glaciações apresentam alternâncias entre episódios glaciais, quando as geleiras avançam, e in-terglaciais, quando recuam.

Aumento da radiação solaras flutuações climáticas devem-se

ao tênue equilíbrio entre a intensidade da radiação solar incidente e o efeito es-tufa, proporcionado pela quantidade de co2 na atmosfera (oliveira et al, 2009). Denise afirma, citando os autores, que a luminosidade e, portanto, a radiação so-

lar, de intensidade menor nos primórdios da vida na terra, aumentou cerca de 25% até os tempos atuais. “nos primórdios de sua história, a terra recebia menos ener-gia e era mais fria do que atualmente. no entanto, a quantidade de co2 na atmos-fera antiga induzia à manutenção do calor pelo efeito estufa, na medida, para garan-tir temperaturas amenas ou até mais altas que as atuais, e a consequente estabilida-de do tempo, pelo ciclo de carbono, ou seja, pela dissolução de co2 nos oceanos e a sua precipitação, principalmente como carbonato de cálcio.”

sete grandes períodos glaciais são co-nhecidos na história da terra, como descri-to em oliveira et al, 2009. o mais antigo,

A história geológica da Terra é atualmente descrita por uma espiral temporal indicando que processos atuais ocorreram no passado

Fonte: http://geologiabiologia.blogspot.com

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especial - Mudanças Climáticas

em torno de 2,3 bilhões de anos, no início do Proterozoico, duas eras entre 750- 700 ma (milhões de anos) e 630-600 ma, de caráter global, atingindo latitudes tropicais (terra Bola de neve). uma terceira glaciação ocorreu no fim da era Proterozoica (580-540 ma). nesse período, as variações das tem-peraturas médias globais foram da ordem de 10ºc. a quarta glaciação data de 440 ma, a quinta mais importante é a glaciação Gondwanica, que cobriu grande parte do continente Pangea, especialmente todos os continentes do hemisfério sul.

a última fase glacial do planeta – a glaciação moderna – começou no mínimo há 20 ma no hemisfério sul e há 2,0 -2,5 ma no hemisfério norte, perdurando até o presente. “hoje estamos vivendo o mais recente dos muitos estágios da glaciação moderna, iniciado há cerca de 10 mil anos, com previsão de novo avanço glacial daqui a vários milhares de anos. a última glacia-ção ocorreu há 18.000 anos e cobriu uma área bastante grande.”

as manifestações devastadoras da na-tureza resultam do descaso das pessoas com a preservação do meio ambiente? não, responde Denise. “esses são fenômenos naturais e não se relacionam a essa ques-tão. o homem pode interferir nos desli-zamentos, enchentes, por exemplo, de forma a acelerar esses processos naturais, e quando ocupa áreas em que os processos ocorrem, passa a correr o risco de desastres naturais. É o que temos observado nesses últimos meses, com a maior intensidade das chuvas. em casos de variações climáti-cas, os fenômenos podem ser unicamente naturais, sem a interferência humana,

Denise: “questão ecológica deve ser vista como causa social; não apenas pelo lado preservacionista”

Os efeitos das mudanças climáticas

Que problemas as mudanças climáticas acarretarão? A partir da Revolução Industrial, com a introdução de novas fontes de energia à base de combus-tíveis fósseis (carvão) e depois o petróleo e gás natural, as emissões de CO2 começaram a aumentar e isso levou ao aumento das concentrações dos gases do efeito estufa na atmosfera.

Teremos problemas com climas mais quentes? Segundo a geóloga, claro que sim. ”Na agricultura, por exemplo, podemos deixar de produzir determinados insumos em determinadas regiões. Um estudo da Embrapa mostra que, se aumentar muito a temperatura, de 2 a 4 graus Celsius, não vamos mais pro-duzir café no Brasil, teremos de importar. Haverá mais pragas, mais doenças, agentes veiculares como a dengue aumentarão.”

Sentiremos esse problema no cotidiano, o que é diferente de pensar no der-retimento da calota polar, muito distante. “Quantas cidades litorâneas sofre-rão com a elevação do nível do mar? Algumas desaparecerão. Temos de pen-sar no nosso cotidiano. É essa a qualidade de vida que eu quero, esse futuro para meus filhos, para as próximas gerações?”, indaga.

Não existe, porém, a clareza sobre essa reflexão. “Nossa sociedade é imedia-tista e individualista. O que interessa falar sobre o que aconteceu há milhões de anos? Interessa sim, para compreender melhor os processos naturais e os fenômenos atuais. Muitas vezes, isso sensibiliza a pessoa a refletir sobre sua ação. A mídia tem uma visão muito catastrófica e pouco formativa, as infor-mações têm muitos erros. Temos de formar as pessoas, os educadores para trabalhar em sala de aula. Pois, por incrível que pareça, as mudanças climáticas não fazem parte do currículo escolar, o professor não tem formação adequa-da pra discutir aprofundadamente a questão.”

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como os registros observados ao longo do tempo geológico, onde o homem ain-da não existia. em casos de deslizamento, por exemplo, um cano de água da casa da pessoa pode estar fornecendo material para desagregar o solo no futuro. Desequilibra o processo natural. lógico que se eu tiver preservação de áreas com cobertura vege-tal, preservação de mananciais, das várzeas dos rios, que não devem ser ocupadas, es-ses problemas não vão acontecer”, acentua.

visão antropocêntricaem geral, costuma-se dizer que a na-

tureza responde às agressões de que é ví-tima. mas, diz Denise, “esta é uma visão antropocêntrica da questão, que coloca o homem no centro de tudo o que acontece. o homem é apenas mais uma espécie den-tre tantas outras, mas acredita ter o domí-nio sobre a natureza, colocando-se à parte dela, como um ser não natural, destacado e com poder para dominá-la. o que obser-vamos são processos naturais que ocorrem no sentido de equilibrar as esferas terres-tres. o homem, nesse caso, pode acelerar estes processos quando interfere no meio físico e altera as condições naturais. esta-mos falando da teoria de Gaia (leia boxe), dos sistemas naturais que existem e bus-cam manter-se em equilíbrio”.

e o que as pessoas podem fazer frente a esta situação? “Podemos usar as catástrofes para educar as pessoas e prevenir novos de-sastres. eles só acontecem quando o homem, seja por desconhecimento dos processos, seja por interesses econômicos, políticos ou mesmo por questões sociais, acaba ocupan-do áreas de risco geológico, como encostas, várzeas dos rios ou mesmo áreas instáveis, sujeitas a terremotos e vulcanismo.”

acima de tudo, é necessário prevenir danos maiores que podem levar à nos-sa própria extinção, alerta a geóloga. “as mudanças climáticas de origem humana, vamos assim dizer, têm um efeito global sobre toda a humanidade, independente-mente de raça, cor, nível econômico. em relação aos países mais desenvolvidos, com mais recursos e mais tecnologia, a mitigação e prevenção devem ser maiores, ou espera-se que sejam. em países ainda carentes de recursos e em comunidades em áreas mais suscetíveis aos riscos, o im-pacto das mudanças será maior.”

Por isso, é urgente que todos os seg-mentos da sociedade tenham conheci-mento dos processos e das causas, para

que assim encontrem juntos uma solução para a questão das mudanças climáticas. entretanto, afirma Denise, “isso ainda não ocorre, pois os interesses econômi-cos das nações ainda predominam sobre a preocupação ambiental e bem-estar da população como um todo. a redução dos níveis atuais de emissão dos gases do efei-to estufa, a transferência para uma matriz energética mais limpa, o uso de novas tecnologias de produção mais limpas são algumas medidas que devem ser toma-das pelos governos. mas, acima de tudo, é preciso rever o modelo de desenvolvi-mento econômico e passar para um mo-delo que vise à sustentabilidade, é preciso

neo mondo - Fevereiro 2010 15

A Teoria de Gaia

Desenvolvida no final da década de 1960, tem como precursor o am-bientalista inglês James Lovelock. Na sua visão, o ambiente se autorregu-la, se for alterada uma das variáveis do processo ela responderá, tentan-do voltar a esse equilíbrio. Uma interferência muito grande pode chegar a romper esse sistema. A resposta dentro dessa teoria é: voltar ao equilíbrio natural dos processos. Para que isso ocorra, é preciso aprender com o que está acontecendo com o planeta. Segundo Denise, “olhar para essas catástrofes e desastres naturais para educar as pessoas, no sentido de prevenir que novos desastres aconteçam. Isso acontece não só no Brasil, com as questões de deslizamentos e alagamentos, mas por exemplo há terremotos, tsunamis que não estão absolutamente relacionados à inter-venção humana. O homem ocupa áreas de risco e está sujeito a sofrer as consequências dessa ocupação”.

Evolução da atmosfera terrestre no tempo

educar a população de modo a criar uma consciência crítica nas suas escolhas, em seus valores, na busca de uma qualidade de vida melhor para todos, e isso começa com a participação social, numa luta por políticas públicas melhores, que diminu-am as desigualdades sociais e econômicas, luta por uma educação de qualidade, que melhor permita a formação de cidadãos participativos e que assumam seu papel social em todos os níveis. a questão eco-lógica não deve ser vista apenas pela vi-são da conservação, da preservação, mas como uma causa social, de engajamento da sociedade para resolver problemas co-muns à humanidade”.

Tempo passado, medido em bilhões de anos

Fonte: Teixeira, W.; Fairchild, T.R.; Toledo, M.C.M; Taioli, F. Decifrando a Terra. 2a. edição. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 2009

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neo mondo - outubro 200816

Há 10 anos, os Doutores Cidadãos utilizam a figura do palhaço paralevar doses de preciosos remédios a hospitais e asilos públicos efilantrópicos: arte, alegria e cidadania. Todos os participantes sãovoluntários e recebem um amplo treinamento para visitar gratuitamenteos pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde. Este programasociocultural faz parte da ONG Canto Cidadão, que tambémdesenvolve outras atividades de sensibilização e ação cidadãs. Paramanter e ampliar o trabalho, o grupo realiza atividades em ambientecorporativo, como apresentação de eventos, palestras, oficinas e outras.Saiba mais sobre os Doutores Cidadãos e os outros programassociais do Canto Cidadão em www.cantocidadao.org.br.

Doutores Cidadãos. Há dez anos fazendo graça de graça.

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neo mondo - setembro 2008 A

Há 10 anos, os Doutores Cidadãos utilizam a figura do palhaço paralevar doses de preciosos remédios a hospitais e asilos públicos efilantrópicos: arte, alegria e cidadania. Todos os participantes sãovoluntários e recebem um amplo treinamento para visitar gratuitamenteos pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde. Este programasociocultural faz parte da ONG Canto Cidadão, que tambémdesenvolve outras atividades de sensibilização e ação cidadãs. Paramanter e ampliar o trabalho, o grupo realiza atividades em ambientecorporativo, como apresentação de eventos, palestras, oficinas e outras.Saiba mais sobre os Doutores Cidadãos e os outros programassociais do Canto Cidadão em www.cantocidadao.org.br.

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A tualmente existe um reconheci-mento generalizado no mundo sobre a seriedade dos problemas

ambientais que afetam a sociedade, mas reconher apenas não é suficiente para o desenvolvimento de uma educação ampla, que deseja formar um cidadão crítico e participativo, capaz de enfren-tar os problemas e buscar soluções que visem à sustentabilidade.

o tema mudanças climáticas está presente nos diversos segmentos da so-ciedade de maneira distinta, conforme o nível de conhecimento e o acesso à informação dos indivíduos. a maioria da população é informada pelos meios de comunicação que abordam o tema, em geral, de maneira catastrófica e alarmista, sem um embasamento teóri-co adequado e sem o compromisso de promover uma educação informal sobre o tema. educar não é um compromisso

Mudanças Climáticas

social apenas das instituições de ensino, mas de toda a sociedade, em especial quando o tema é de importância global. a abordagem feita pelos jornais e revis-tas em muitos casos é usada na escola como material didático, o que aumenta a responsabilidade desses veículos de informação quando tratam o tema das mudanças climáticas. essa ação, segun-do Guimarães (2006), faz com que pre-valeça a difusão da percepção sobre a gravidade dos problemas ambientais e suas consequências para o meio ambien-te e não se desenvolva um pensamento crítico capaz de intervir no processo de transformações socioambientais.

as publicações científicas sobre o tema não chegam ao público em geral e a linguagem técnica não é facilmente com-preendida, ficando restrita aos meios aca-dêmicos. Portanto, os estudos e avanços nas pesquisas sobre o sistema climático e

as alterações por ele sofridas não são am-plamente divulgados, restando à popula-ção o acesso a uma tradução simplificada e superficial do assunto.

a escola é um espaço adequado para discutir temas ambientais da atualida-de e as mudanças climáticas deveriam fazer parte dos currículos do ensino fundamental e médio. nessa direção, segundo Jacobi (2003), a educação deve orientar-se de forma decisiva para for-mar as gerações atuais não somente para aceitar a incerteza e o futuro, mas para gerar um pensamento complexo e aberto às indeterminações, às mudan-ças, à diversidade, à possibilidade de construir e reconstruir num processo contínuo de novas leituras e interpre-tações, configurando novas possibilida-des de ação. o educador tem a função de mediador na construção de referen-ciais ambientais e deve saber usá-los

no contexto educacional

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neo mondo - Fevereiro 2010 19

como instrumentos para o desenvolvi-mento de uma prática social centrada no conceito da natureza.

apesar de ser tema interdisciplinar, as Geociências podem contribuir muito para a compreensão das mudanças cli-máticas atuais, uma vez que relatam as mudanças naturais do clima que vêm ocorrendo desde a formação do planeta terra e suas consequências para as dife-rentes espécies. os registros das mudan-ças climáticas ao longo do tempo podem ser encontrados em sedimentos do fundo oceânico e de lagos, em testemunhos de sondagem de gelo, em estalagmites em cavernas. esses registros contam a histó-ria do clima na terra ao longo do tempo geológico e são abordados de maneira sistêmica pelas ciências da terra, mas essas informações estão restritas ao meio acadêmico. no ensino fundamental e médio não são contemplados temas das

Denise de La Corte Bacci

e a conferência nacional infanto-Juvenil pelo meio ambiente (cniJma) Vamos cuidar do Brasil (Jacobi et al, 2009), as iniciativas ainda são insuficientes para um efetivo aprendizado sobre o tema e principalmente para uma abordagem do enfrentamento dos problemas decorren-tes da alteração do clima.

a solução para essas questões é com-plexa, mas podemos citar como indispen-sável o investimento na formação dos professores/educadores sobre temas am-bientais e das ciências da terra dentro da perspectiva de educação ambiental crítica para reverter este quadro e inserir defini-tivamente na pauta escolar a abordagem desejada sobre as mudanças climáticas.

referências Bibliográficas:

Guimarães, m. armadilha paradigmática na educação ambiental. in: loureiro, c.F.B. (org.) Pensamento complexo, dialética e educação ambiental. p.15-29, 2006.Jacobi, P.r. educação ambiental, cidada-nia e sustentabilidade. cadernos de Pes-quisa, são Paulo, autores associados, n. 118. p. 189-205, 2003.Jacobi, P.r.; ratinho, l.m.; silva, l.F.; su-laiman, s.n.; nePomuceno, t.c. edu-cação e mudança climática no Brasil. re-latório ialei Project: climate change and sustainable Development: the response from education, 2009.

Mudanças Climáticas

Denise de La Corte BacciGraduada em Geologia pela UNESP,

Campus de Rio Claro, mestrado em Geo-ciências e Meio Ambiente pela UNESP e

doutorado em Geociências e Meio Ambi-ente pela UNESP. Estágios na Università

di Milano e University of Missouri_Rolla. Pós-doutorado em Engenharia Mineral

pela POLI-USP. Atualmente é docente do Instituto de Geociências da USP.

E-mail: [email protected]

Geociências de maneira sistematizada e os professores não estão, em sua maioria, preparados para discuti-los. a compre-ensão por parte dos alunos a respeito do funcionamento do planeta terra é insa-tisfatória, o que reflete na formulação de conceitos equivocados, quando se depara com questões relacionadas ao meio físi-co. esse fato leva o aluno a ter ideias so-bre o planeta que não estão embasadas no conhecimento científico e que podem ser denominadas de senso comum. essas ideias são reforçadas quando o material usado pelos meios de comunicação.

embora existam programas e proje-tos que vinculem direta ou indiretamen-te a educação ambiental às mudanças do clima no Brasil, como a agenda 21 escolar, o com-ViDas (comissão de meio ambiente e Qualidade de Vida nas escolas), o Procel na escola, coleção ex-plorando o ensino, conPet na escola

no contexto educacional

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especial - Mudanças Climáticas

Carlos Nobre, do Inpe, defende reviravolta nos valores culturais e de consumo para reduzir emissões Gabriel Arcanjo Nogueira

M anifestações devastadoras da natureza, como as chuvas tor-renciais que inundaram são luiz

do Paraitinga, no Vale do Paraíba (sP), mal 2010 tinha começado, estão a pedir muita re-flexão, pesquisa e cuidados para que algo de positivo fique de tanta tragédia. Por ironia, o nome de origem tupi-guarani - Parahytin-ga significa águas claras - em nada lembra o cenário de guerra que restou de edificações históricas na, de acordo com o site da Prefei-tura municipal, “cidade das mil festas, rica em turismo histórico, cultural, ecológico e de aventura”, a 170 km da capital paulista. o estado de calamidade pública ainda vigente

levou ao cancelamento de um dos carnavais mais típicos do País. uma medida sensata porque a situação não está para festas.

numa tentativa de ajudar a entender fenômenos como esse, neo monDo conversou com o Dr. carlos afonso no-bre, pesquisador titular do instituto na-cional de Pesquisas espaciais (inpe), que abriga o centro de Previsão de tempo e estudos climáticos (cptec). Graduado em engenharia eletrônica, com doutorado em meteorologia, carlos nobre é respeitado dentro e fora do País como chefe do cen-tro de ciência do sistema terrestre (cst) do inpe, membro do Painel intergoverna-

mental de mudanças climáticas (iPcc) e presidente do comitê científico do inter-national Geosphere-Biosphere Programme (iGBP), sediado em estocolmo, suécia.

variabilidade naturalna opinião do cientista, é praticamente

consensual entre seus pares que “a maior par-te do aquecimento global das últimas décadas é causado pelo acúmulo de gases de efeito es-tufa (Gee) emitidos por atividades humanas. eu considero que mudanças climáticas im-portantes são esperadas – e muitas já estão acontecendo - em consequência desse aqueci-mento antropogênico da terra”.

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CausasANTrOpOGêNiCAS

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a sua explicação sobre as manifes-tações devastadoras da natureza, como chuvas torrenciais, deslizamentos, soter-ramentos, de um lado, e inverno rigoroso, de outro, embute um sinal de alerta: “Fe-nômenos climáticos e meteorológicos ex-tremos – que provocam chuvas torrenciais e nevascas, por exemplo - acontecem re-gularmente e fazem parte da variabilidade natural do planeta. Porém, como resulta-do do aquecimento global antropogênico, espera-se um aumento da variabilidade do clima e eventos como os citados - com áreas sob frio intenso enquanto em outras a temperatura está muito acima da média

- poderão ser mais frequentes. É preciso destacar que chuvas torrenciais, secas, on-das de calor ou de frio, ventanias, ressacas são as causas ambientais de desastres na-turais, mas não são os desastres naturais em si. Desastres naturais (deslizamentos em encostas, inundações, colapso de sa-fras etc.) são consequência das causas am-bientais e sua gravidade está muito ligada à exposição da sociedade aos extremos do tempo e do clima e à capacidade de lidar com esses extremos”. carlos nobre, convi-dado a criar uma imagem para nossos lei-tores entenderem melhor o que se passa com o clima no planeta, relata:

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CausasANTrOpOGêNiCAS

Para Carlos Nobre, “fator preocupante do aquecimento global é a velocidade

com que vem ocorrendo; mudanças climáticas importantes são esperadas”

Desastres naturais são consequência das causas ambientais, com a sociedade exposta aos extremos

do tempo. Temos de saber lidar com eles

”“

Divulgação inpe

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22 neo mondo - Fevereiro 2010

especial - Mudanças Climáticas

“invernos rigorosos são parte da va-riabilidade natural do clima. aliás, por exemplo, no hemisfério norte ocorreram invernos muito mais rigorosos no início do século XX. acontece que as pessoas passa-ram muito tempo sem um inverno extre-mamente rigoroso, como o atual em partes do hemisfério norte”. atenção para o que vem agora, porém: “um fator preocupante do aquecimento global é a velocidade com que vem ocorrendo, que é cerca de 50 vezes mais rápida em relação ao ritmo de aqueci-mento entre uma época glacial e uma época interglacial, como a que nos encontramos”.

Terra ameaçadaÉ comum ouvir-se expressões, vin-

das dos mais diversos segmentos da população, a exemplo de “a natureza é sábia” ou “a natureza é soberana”. mes-mo num programa esportivo, em que uma das atrações era uma competi-ção de surfe entre equipes formadas por profissionais e amadores, um jo-vem - misto de ator e atleta - não quis participar de uma das baterias, em Fernando de noronha, alegando que não tinha como desafiar a natureza. o pesquisador titular do inpe esclare-

ce: “a natureza não toma partido. ela é o que é e segue leis que cada vez co-nhecemos melhor. nunca antes a ter-ra esteve tão ameaçada pela poluição industrial, queimadas, desmatamento etc., que produzem Gee. em resposta temos o aquecimento global e as conse-quentes mudanças ambientais globais. o que devemos fazer é dar continuida-de aos estudos científicos para melhor entendimento do fenômeno e suas con-sequências, bem como traçar estraté-gias de controle de emissões, além de ações de adaptação e mitigação”.

se no País e no mundo, a comunidade científica leva a sério a questão, o que cabe-ria a toda e qualquer pessoa fazer para aju-dar a encontrar o equilíbrio do clima? carlos nobre não se faz de rogado e recomenda, não sem antes colocar suas premissas:

“as mudanças climáticas antropogêni-cas estão associadas a atividades poluen-tes, como queima de combustíveis fósseis, queimadas, desmatamentos, agricultura, que emitem Gee. Precisamos mudar va-lores culturais e de consumo para reduzir essas emissões. a melhor maneira de di-minuir os desmatamentos, por exemplo, é o consumidor de produtos da amazônia e dos cerrados (principalmente carne, madei-ra e soja) exigir certificações de origem que demonstrem que esses produtos não pro-vêm de desmatamentos ilegais. as grandes empresas e setores que mais emitem Gee vão rapidamente mudar seus padrões de emissões quando as pessoas não quiserem mais consumir energia ou produtos com um padrão alto de emissões”.

O que restou da igreja em São Luiz do Paraitinga é sinal do cenário de guerra em que mergulhou a “cidade das mil festas”

Em que exato momento o clima começou a desandar, ou quando é possível garantir que a humanidade vivia numa situ-ação ideal, é algo que foge à pesquisa científica mais rigorosa. Carlos Nobre, além de pesquisador titular do Inpe, ocupa a secretaria-executiva da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mu-danças Climáticas (Rede Clima) e a coordenação-executiva do Programa Fapesp de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais.

Ele entende que “não dá para estimar uma data-marco de início das mudanças climáticas. Cabe esclarecer também que não faz sentido falar de aquecimento global na escala de um ano para outro (ou considerando períodos de poucos anos) porque o clima apresenta significativas variações naturais numa escala menor de tempo, como eventos do fenômeno El Niño ou La Niña. A comparação deve ser feita na escala de muitas décadas”.

“Também não faz muito sentido apontar uma situação ideal, pois a variabilidade climática é também característica do compor-tamento natural do planeta. O homo sapiens sempre modificou o ambiente a seu redor. Todavia, as modificações tornaram-se muito significativas após a Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII, quando as atividades humanas passaram a lançar gran-de quantidade de CO2 na atmosfera, quantidade esta maior do que a atmosfera conseguia eliminar. Após a Segunda Guerra Mundial, as emissões passaram a crescer muito rapidamente.”

Carlos Nobre lamenta que a Conferência do Clima (COP 15) em Copenhague tenha frustrado as expectativas (leia mais na página 38), mas ressalta que no campo científico o Brasil está bem avançado, a exemplo do trabalho desenvolvido pelo Inpe, que reúne pessoal altamente capacitado de instituições renoma-das (ver quadro “Por dentro do Inpe”).

“Não há como fixar uma data-marco”

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Mitigação + adaptação uma palavra que tem sido muito

empregada em estudos e alertas, ofi-ciais ou não, é mitigar. a impressão que fica é a de que a causa ecológica estaria perdida e que, daqui para a frente, o que se pode fazer soa como quebra-galho, para tornar o planeta o menos insustentável possível.

o cientista foge à provocação do jor-nalista e afirma: “não se pode mais dis-sociar os temas mitigação e adaptação da discussão sobre mudanças climáticas glo-bais. É imperativo também que se busque desenvolver adaptações de todas as ativi-dades às mudanças climáticas, pois estas são inevitáveis até um certo grau”.

Trágica regularidade o jornalista antônio marmo cardo-

so, com fortes raízes no Vale do Paraíba, credita “toda essa chuvarada não a mu-danças climáticas como as que se discu-tem hoje, aquecimento global etc., mas ao fenômeno secular e previsível que é o el niño”. marmo se recorda de trabalho que fez em 1997, “com ajuda do inpe”, sobre o el niño, com o alerta de que este se repete com certa regularidade - a cada 12, 13 anos.

o jornalista discorre: “o el niño vem do aquecimento fora do normal das águas do Pacífico, na altura do Peru, afetando todo o clima da américa do sul, e o que estamos vendo agora se deu em 97 tam-bém... Já os tornados em santa catarina, Paraná, isso é coisa nova”.

o mais grave, ressalta, é que “ainda não criamos uma ‘cultura de defesa’ con-tra desastres, nem de prevenção”. marmo lembra que em 1997 são luiz também sofreu com as chuvas - “com intensidade muito menor - e só aí decidiu criar o corpo de Defesa civil. muitas cidades ainda não têm sua Defesa civil”.

“no momento a cidade começa a retomar o dia-a-dia, dentro da norma-lidade possível. algum comércio volta a funcionar. agora não é questão tanto de doações e sim de ajuda técnica, de gente que entenda de reconstrução, de recuperação de patrimônio, até porque o haiti tomou as atenções para doações, em dimensões muito mais trágicas”, afirma o jornalista.

marmo reconhece que especialis-tas do iphan já desenvolvem seus traba-lhos em são luiz e sugere: “É bom re-

lembrar a história de Goiás Velho, terra de cora coralina, atingida por tragédia semelhante em 2001, que conseguiu re-construir tudo como antes”. o mesmo, espera, deve ser feito agora em são luiz do Paraitinga, que merece toda atenção por seu valor histórico.

reminiscências como essa, de quem acompanhou de perto o que aconteceu recentemente em cidade histórica, nos devem levar a ser mais respeitosos com a força da natureza e a fragilidade humana, para não termos de lamentar,

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a cada novo desastre, como o imortal poeta carlos Drummond de andrade, ao revelar seu inconformismo cidadão com a destruição do salto de sete Que-das, em 1982, para viabilizar a cons-trução da usina de itaipu. e olha que os tempos eram outros: “sete quedas por nós passaram,/e não soubemos, ah, não soubemos amá-las,/e todas sete foram mortas,/e todas sete somem no ar,/sete fantasmas, sete crimes/dos vivos golpeando a vida/que nunca mais renascerá”.

O momento é de pensar na reconstrução da cidade histórica no Vale do Paraíba (SP), a exemplo do que já foi feito em Goiás Velho

leiro de Mudanças Climáticas (FBMC) e a Sociedade Civil Organizada;

• há ainda o trabalho conjunto com o Programa Nacional de Mudanças Climáticas do Brasil do Minis-tério da Ciência e Tecnologia, a Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade do Ar do Ministério do Meio Ambiente, a Rede Clima e o Programa de Mudanças Climáticas Globais da Fapesp, assim como com programas nacionais de alguns países da América do Sul.

O Grupo de Pesquisa em Mudanças Climáticas (GPMC) do Inpe tem:

• entre seus pesquisadores, especialistas da Universidade de São Paulo (www.iag.usp.br) e da Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (www.fbds.org.br);

• colaboradores do governo federal, da Embrapa, Inmet, Fiocruz, Ana, Aneel, ONS, Coppe-UFRJ.

• Além de centros estaduais de meteo-rologia, universidades, o Fórum Brasi-

* Centro de Previsão de Tempo e Estudos ClimáticosFonte: Inpe

por dentro do CpTEC *a

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“N ão se enganem, uma goti-nha no oceano faz, sim, mui-ta diferença.” a frase, se não

é uma das preferidas de Zilda arns, serve de convite a nossos leitores para que entrem na cruzada pela infância que esta matéria apre-senta. clóvis Boufleur, gestor de relações ins-titucionais da Pastoral da criança, esclarece: “as frases da Dra. Zilda eram formuladas e

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Zilda Arns foi incansável nessa missão, e sua obra, abraçada por milhares de voluntários, assume dimensão transcendental

Gabriel Arcanjo Nogueira

ditas conforme as circunstâncias. mas uma das mais populares, que ela dizia quase sem-pre no final de discursos com a comunidade, era: ‘e agora, gente, fé em Deus e pé na tá-bua’. outra frase: ‘É preciso levar a mensagem a Garcia’, que pronunciava para dizer que era preciso acompanhar as ações até o fim e saber dos seus resultados. ela dizia também: ‘É ur-gente e imprescindível globalizar a solidarie-

dade. somente assim, vamos construir uma verdadeira e sólida cultura de paz’ ”.

médica pediatra e sanitarista, Dra. Zil-da arns neumann era a 12a. de 13 irmãos. mãe de cinco filhos e avó de dez netos, não se acomodou ante o sucesso pessoal, profissional e familiar; antes, desdobrou-se a ponto de disseminar pelo planeta as iniciativas sociais que criou. saúde pública

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Matéria de Capa

Vida em

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a todos aos lares brasileiros era simples: sal, açúcar e água limpa para fazer o soro caseiro - uma revolução na década de 80. ao longo dos 26 anos da Pastoral da criança, foi fir-me na defesa de pelo menos seis princípios básicos: ter objetivos claros e definidos; pro-mover a capacitação dos voluntários; organi-zar um sistema de informação; contar com a participação da comunidade; baixo custo das ações; e capacidade de as ações serem replicadas em grande escala”.

partilha do saber tornar as coisas simples é um dos as-

pectos do legado da médica pediatra e sa-nitarista notáveis. De família católica - de onde saíram três freiras e dois padres, um deles o cardeal Dom Paulo evaristo arns, símbolo da resistência à ditadura militar e defensor ferrenho dos Direitos humanos -, os horizontes de Zilda arns não se es-treitam em visão teológica tacanha.

se as suas iniciativas se inspiram na mís-tica cristã, todavia, para ser voluntário de al-guma delas, não há necessidade de a pessoa comungar do mesmo credo ou converter-se. clóvis explica: “a Pastoral da criança, organis-mo de ação social da conferência nacional dos Bispos do Brasil (cnBB), é uma organi-zação comunitária, de atuação nacional e in-ternacional, que tem seu trabalho baseado na solidariedade e na partilha do saber. Portanto, as pessoas não precisam ser católicas para ser voluntárias nem se converterem. a Pastoral da criança é ecumênica e inter-religiosa”.

entre os resultados mais significativos das ações desenvolvidas pela onG no Bra-sil e no exterior, o gestor de relações insti-

tucionais aponta o fato de a mortalidade in-fantil no Brasil ser alta, “se considerarmos a capacidade da nossa economia, do progres-so que o País conquistou nos últimos anos e dos recursos da saúde que existem e que diminuem” o problema crucial.

o diferencial da Pastoral da criança, garante clóvis, é que atua em comunida-des pobres e tem resultados melhores em relação à média nacional de mortalidade infantil porque leva informação e motiva-ção para a mãe e a família, além de contar com a colaboração da comunidade quando a família precisa de ajuda. “nossos volun-tários também participam dos conselhos de saúde e lutam para que haja melhorias nos serviços públicos prestados à popula-ção. esta união de esforços faz com que hoje o índice de mortalidade infantil seja de 13 por mil nascidos vivos nas famílias acompanhadas por nós”, afirma.

A Pastoral da Criança e seus dois símbolos maiores: “a pessoas assim é que pertence o Reino de Deus”

pode-se dizer que foi seu sonho de consu-mo. sonho compartilhado por milhares de voluntários em todos os estados do Brasil e que chegou a outros países.

a vida em plenitude, que ela própria buscou, fez questão de estender a dois seg-mentos marcantes da vida humana ao fun-dar, em 1983, a Pastoral da criança e, em 2004, a Pastoral da Pessoa idosa. sua morte no terremoto de magnitude 7, no dia 12 de janeiro, no haiti, a pegou em plena mis-são, em local-símbolo como inspirador de suas ações: a igreja sacre coeur, em Porto Príncipe. no templo arrasado restou a cruz, intacta, sinal de que a obra de Zilda arns tomou dimensão transcendental. o mesmo cristo que disse: “Deixai as crianças virem a mim... a pessoas assim é que pertence o reino de Deus”, garante: “eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”.

neo monDo viajou pelas páginas do portal www.pastoraldacrianca.org.br, que abre com a chancela divina, e conversou com o gestor de relações institucionais da onG, de inspiração cristã, para ajudar as pessoas a entender como a trajetória dessa instituição do Bem “é repleta de histórias de esperan-ça, conquistas, superação das dificuldades e transformação social”. o que se dá mediante o acompanhamento das famílias e crianças em cada comunidade, como exemplo do que a sociedade organizada é capaz de fazer na busca de soluções para os seus problemas.

Ações simples e replicantes “mais do que crescer e salvar vidas, a

Pastoral da criança quer mudar, para me-lhor, vidas de crianças, de mulheres, de homens”, com seus voluntários ilumina-dos pela vontade de ajudar, de ver crianças crescendo e se desenvolvendo.

o Brasil precisa levar mais a sério as suas crianças, e para quem pensa que só em regi-ões mais distantes dos grandes centros no norte e nordeste há necessidades premen-tes nesse aspecto, tomemos como exemplo municípios mais desenvolvidos no sul e su-deste. aí também a Pastoral da criança está presente em ações de saúde, nutrição, edu-cação, cidadania e espiritualidade, de forma ecumênica, nas comunidades pobres.

De sua vivência de 13 anos com a fun-dadora da Pastoral da criança, clóvis relata uma história de vida fascinante: “Dra. Zilda foi uma mulher de coragem. enfrentou re-sistências na sociedade por ser mulher e por inovar no jeito de fazer pastoral na igreja. colocou seus conhecimentos e o seu tempo a serviço da vida e salvou da morte milhares de crianças. a primeira receita que ela levou

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Clóvis: novos voluntários ajudarão a Pastoral a chegar a todas as crianças pobres

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passo Fundo pioneirana diocese de Passo Fundo (rs), uma

das pioneiras na aplicação de sua metodo-logia, a Pastoral da criança começou em 1984. a pequena semente de então frutifi-cou em 20 paróquias, em que mais de 270 voluntários doam seu tempo e experiência de vida nessa missão que receberam.

a coordenadora diocesana, simone Zanetti, reconhece que o número ainda é pequeno ante a necessidade da região, especialmente nas periferias das cidades. lá o censo da Pastoral da criança de 2008 constatou a existência de aproximadamen-te 19 mil crianças em situação de pobreza e miséria, de 0 a 6 anos de idade. Destas, apenas pouco mais de 2.800 crianças são acompanhadas pelos líderes e voluntários, correspondendo a 15% do total, atingindo em torno de 2.200 famílias.

De comum, independentemente de cada realidade local, a Pastoral da crian-ça desenvolve atividades para promover o desenvolvimento integral das crianças, desde a concepção aos seis anos de ida-de, e a melhoria da qualidade de vida das famílias.

o que faz o recado final de clóvis a nossos leitores ganhar significado e força especiais: “nosso grande desafio é expan-dir a Pastoral da criança e chegar a todas as crianças pobres, com a contribuição de novos voluntários”. Zilda arns, que foi coordenadora internacional da onG, certamente concorda e, lá do céu, é a co-ordenadora emérita desse trabalho social por excelência.

Dom Paulo era visitado na capital paulista, com frequência, pela sua irmã Zilda. “ela não hesitava em consultá-lo por telefone sobre diversos assuntos”, revela clóvis. as declarações escritas pelo cardeal, registradas pela mídia logo após a morte da irmã, “demonstram um pro-fundo conhecimento do trabalho da Dra. Zilda, a tal ponto de dizer com satisfação que ela morreu de uma maneira linda, e do jeito que viveu, no meio dos mais pobres”, acrescenta.

o arcebispo emérito de são Paulo distribuiu nota à imprensa, nos seguintes termos: “acabo de ouvir emocionado a notícia de que minha caríssima irmã Zilda arns neumann sofreu com o bom povo do haiti o efeito trágico do terremoto.

Que nosso Deus, em sua misericórdia, acolha no céu aqueles que na terra luta-ram pelas crianças e os desamparados. não é hora de perder a esperança”.

Do púlpito para a tribuna legislativa, a família arns também se faz presente. o senador Flávio arns acompanhou de perto as providências para o traslado do corpo da irmã para as justas homena-gens no Brasil. num depoimento exclusi-vo a neo monDo, cita o governador paulista José serra, que em artigo no jornal Folha de s. Paulo escreveu: “Zilda arns tinha formação científica e era cristã fervorosa. com sua crença, tornou mais humana a sua ciência; com a sua ciência, deu impressionante dimensão prática à sua crença”.

“Não é hora de perder a esperança” Flávio cita também o jornalista e es-

critor Frei Beto, para quem Zilda “realizou a multiplicação dos pães. multiplicou ges-tos de solidariedade. multiplicou amor”. (confira os demais trechos do depoimen-to em “a coroação de uma vida”.)

clóvis, por sua vez, revela que, a partir da experiência brasileira, a Pastoral da criança colabora para a melhoria da situação das crianças pobres em outros 20 países, aos quais transfere metodologia e promove o surgimen-to de trabalhos baseados em seu modelo.

são estes: argentina, Bolívia, colôm-bia, Paraguai, Peru, uruguai, Venezuela, Guatemala, honduras, méxico, Panamá, república Dominicana, haiti, angola, Guiné, Guiné-Bissau, moçambique, Guiné conacri, Filipinas e timor-leste.

Matéria de Capa

Dados nacionais

• Presença em todos os estados do Brasil • 40.853 comunidades organizadas • 4.016 municípios • Acompanhamento a 94.987 gestantes e 1.689.243 crianças

pobres menores de seis anos * • 246.215 voluntários • 134.396 deles, líderes comunitários, pessoas simples • destes, 92% são mulheres • 111.819 pessoas formam as equipes de apoio, capacitação e coordenação

* Em 2008

Fonte: Pastoral da Criança

Como participar

• Pessoas que moram em comunidades pobres podem ser líderes da Pastoral da Criança. Basta procurar numa paróquia da Igreja mais próxima a coordenação.

• Há necessidade de voluntários com disponibilidade para capacitar os líderes. • Endereços e telefones estão disponíveis na internet: www.pastoraldacrianca.org.br.

Fonte: Pastoral da Criança

Fonte: Pastoral da criança

Dados internacionais

• Paraguai, primeiro país a aplicar a metodologia brasileira • Promoção da solidariedade, valorização da vida das crianças e maior aten-

ção do poder público • Redução da mortalidade infantil, da desnutrição e de doenças que podem

ser prevenidas. • 862 voluntários • Atendimento a 7.891crianças, 1.019 gestantes e 4.316 famílias • Na Colômbia, conhecida como Pastoral de la Primera Infancia desde 2001 • Sistema de Informação em implantação • Apoio da Conferência Episcopal da Colômbia (CEC), do Unicef Colômbia,

do Instituto de Bem-Estar Familiar da Colômbia • 850 voluntários • Atendimento a 13.104 crianças, 606 gestantes e 9.298 famílias

Fonte: Pastoral da Criança

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“A coroação de uma vida” *

Do presidente da República ao mais simples brasileiro que tenha recebido a informação da tragédia ocorrida no Haiti, percorreu o sentimento de dor, o sentimento de perda profundo como aquele quando perdemos alguém que queremos muito. As cenas trazidas até nós retratando o sofrimento daquele povo realmente tocaram profundamente a cada um de nós.

No contexto da reflexão que pudemos fazer diante daquela tragédia, uma associação mexeu com o nosso íntimo, com a nossa condição de pessoa e de cidadão. A pobreza extrema acrescida de uma tragédia trazida pela natureza e a força extraordinária do ideal da solidariedade.

A condição de pobreza de um povo que tem causas históricas lamentáveis e que lança pessoas humanas em um caminho de menos vida, sem dignidade, clama aos céus e pede Justiça. Esta é a primeira cena que deve nos chocar e despertar o senso de busca por um desenvolvimento harmonioso e justo de todos os povos.

A presença do Brasil através dos nossos soldados deve ser expressão de acolhida e de ajuda, uma prova de sincera amizade. Foi preciso uma catástrofe natural para chamar a atenção para a tragédia cotidiana do sofrido povo do Haiti.

Zilda Arns já tinha sido tocada, na razão e no coração, pelo drama daquele povo, o pensamento voltado especialmente para as crianças. Numa ação não levada por sentimentalismo de pena, queria ajudar a reverter a situação de miséria e sofrimento oferecendo a experiência do trabalho já desenvolvida em nosso país e em outras partes do mundo. Oferecer ideias e meios para que do seio do próprio povo pudesse brotar um trabalho, eficaz e de promoção humana.

No início deste processo, ofereceu a sua vida em holocausto por amor ao povo e especialmente por amor às crianças, vítimas inocentes da injustiça e do desprezo pela pessoa humana. Aquele momento não pode ser definido como o final de uma vida, mas como a sua coroação.

Nada na vida, notadamente as grandes e definitivas decisões, acontece por acaso. Elas precisam de um processo de amadurecimento e de um ambiente favorável à sua concretização. A vida de Zilda Arns estava predestinada a ser um marco na história das mulheres deste país. Seus vários pronunciamentos mostravam que ela tinha consciência das causas estruturais da nossa pobreza - e que martirizavam principalmente as crianças - e nunca negou que precisassem ser combatidas e vencidas. Porém pregou e executou uma ação salvadora imediata. A sua denúncia da injustiça se traduziu na ação solidária. Uma ação solidária que ela soube fazer contagiante, progressivamente contagiante, envolvendo milhares de pessoas voluntárias. Quantas pessoas sentiram que podem ser úteis, que têm potencial e assim recuperaram a sua autoestima.

O sucesso do trabalho tem como centro a sua convicção de que as pessoas são capazes, têm potencial interior para serem sujeitos da própria vida, sujeitos do processo de superação de toda dificuldade. Zilda Arns

acreditou sempre e de verdade nas pessoas. Acreditava que o trabalho deveria levar saber, instrumentos e motivação, e as próprias pessoas desenvolveriam o processo. Os resultados comprovam a sabedoria e a verdade da ideia.

Força da espiritualidade

Algumas pessoas perguntam: onde está a força, a motivação para uma pessoa como ela se lançar nesta grande aventura humana de salvar vidas, no contexto de profunda e sincera gratuidade? Na trajetória de sua vida vamos encontrar uma grande força interior que vinha de uma espiritualidade que pode ser caracterizada como sadia, forte e encarnada. Era uma espiritualidade cristã ecumênica, aberta a todas as pessoas. Uma fé profunda que se traduziu em obras. Uma fé que lhe colocava diante dos olhos cada pessoa como criatura de Deus, portadora de dignidade e com desejo de vida feliz. Uma crença cristã que lhe dava a convicção de que um Deus Pai nos chamava a uma vivência de irmãos. Solidariedade e Fraternidade foram os eixos de sua vida e de sua obra.

A exemplo do Cristo, como discípula-missionária, voltou-se de coração e de vontade para os excluídos da sociedade, amou os pobres e os serviu, amou as crianças e buscou salvar a sua vida, amou as mulheres muitas vezes tão sofridas e injustiçadas, chamou os homens à responsabilidade de companheiro e pai. Amou os idosos tantas vezes esquecidos e abandonados.

A sua lembrança gera saudades. A sua lembrança não carrega tristeza porque o amor nunca é triste, mas sempre uma luz, uma esperança, uma proposta de vida.

Ela viveu para trazer vida, dar vida e vida plena. Para falar dos santos do altar é preciso falar dos santos

da vida. Daquelas pessoas capazes de acolher a todos, de estender as mãos e soerguer, de entregar um pedaço de pão, um copo de água. Também de lutar pela Justiça.

Em meu próprio nome e em nome da família quero registrar um profundo agradecimento a tantas pessoas que manifestaram sentimentos de solidariedade e amizade.

Tenho a certeza de que o exemplo de vida de Zilda Arns vai ser como uma semente no chão desta Nação tão rica que pôde abrigar em seu seio esta simples e extraordinária mulher e que acolhe um povo que sabe ser tão solidário, uma semente de Justiça e de solidariedade, encaminhando-nos para uma Nação de Paz.

* Senador Flávio Arns

Flávio e Zilda: “lembrança gera saudades, sem tristeza, porque o amor nunca é triste, mas sempre uma luz, uma esperança, uma proposta de vida”

assessoria do senador Flávio arns

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28 neo mondo - Fevereiro 2010

N o Brasil e em diversos países classificados como de “primeiro mundo”, a caça é um direito cons-

titucional. entre os franceses, a prática ci-negética(*) caracterizara-se como um dos benefícios adquiridos pelo povo só a partir da revolução de 1792, direito até então exclusivo dos seus senhores feudais. ci-tações bíblicas também descrevem a arte da caça ora como um exercício de desen-volvimento do caráter e de educação do homem, ora como o orgulho de salomão por servir em sua mesa alimentos nobres de origem animal que também podiam ser fartamente acessados pelos pobres e hu-mildes, através da caça.

milênios passaram-se e o que se veri-fica aqui no Pindorama é a latente neces-sidade de regulamentação do exercício da caça, ou seja, a necessidade de uma crite-riosa normatização dessa atividade com base em parâmetros técnicos sedimenta-

dos na ciência da ecologia, observadas as peculiaridades de cada região ou localida-de do país, bem como o potencial cinegé-tico das espécies a serem autorizadas para explotação(**).

Para fins de comparação com o nosso sistema legal de (não) proteção à fauna, atente-se para o fato de que, através da prática da caça amadorista, devidamen-te normatizada e em áreas delimitadas, países como França, itália, alemanha, argentina, uruguai, eua, entre outros, anualmente angariam recursos finan-ceiros através de taxas de licenças que seriam considerados, no mínimo, vulto-sos por qualquer órgão, governamental ou não, executor de programas de con-servação ou de preservação de espécies nativas aqui no Brasil. a propósito, nos eua., segundo relatório anual (1991) da national Wildlife Federation (n.W.F.), instituição criada em 1936, desde 1937

os caçadores, e desde 1950 os pescado-res, fomentaram a implementação dos programas federais e estaduais de ad-ministração da “vida selvagem” naquele país. somente as licenças federais para caça e pesca arrecadaram nessas cinco décadas mais de us$600,00 milhões com os quais foram adquiridos cerca de 3,5 milhões de acres (1,575 milhões de ha) de terras e águas para reservas de fauna. na última década, aproximadamente 42 milhões de norte-americanos gastaram cerca de us$240,00 milhões na obtenção e/ou renovação de suas licenças estadu-ais. cifras nada desprezíveis...

Voltando às carências no Brasil, além dos potenciais recursos financeiros a se-rem diretamente destinados a programas oficiais de conservação e/ou preservação no país através de taxas de licenças, tam-bém a comercialização de produtos e servi-ços relacionados à prática da caça (roupas

“Um dia da caça ...... e o outro também”

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e acessórios especiais, armas e munição, seleção e treinamento de cães, ecoturis-mo, alojamento e hospedagem, congres-sos e seminários etc.), bem como a possi-bilidade de novos empreendimentos para industrialização e manufaturamento de seus respectivos produtos e subprodutos, representam expressivo potencial para in-cremento do PiB nacional.

em outras palavras: diante da noti-ciada incapacidade do estado brasileiro de fiscalizar e combater em todo o terri-tório nacional os recorrentes crimes con-tra a fauna, a normatização para a criação de “Parques de caça” postula-se como uma interessante estratégia de auxílio à conservação da natureza in situ no país. Parte-se da premissa de que nesse modelo de gestão dos recursos naturais, um de-terminado habitat ou ecossistema inteiro e diversas populações da fauna silvestre são conservados e monitorados para que

para explotação de espécies exóticas re-produzidas em criadouros próprios - , frustraram-se por não haver definição de uma categoria privada de Parques de caça na lei de 1967.

assim, ao democratizar através do instituto neomondo à sociedade brasileira o acesso a informações técnicas e verídicas - isentas de romantismo ou de sentimen-talismo a respeito da dinâmica cinegética de populações de animais da fauna silves-tre brasileira -, espero oferecer ao leitor subsídios para melhor discernir alguns (pré) conceitos relacionados à arte da caça. conclui-se que, historicamente, urgem le-gisladores verdadeiramente conhecedores das causas às quais se “dedicam”. Basta de leigos sentimentais.

Por fim, externo meu sincero respeito em relação às opiniões contrárias.

Natan Rodrigues Ferreira de Melo e SilvaProfessor da Escola Técnica LIMASSIS /

Fundação ROGEProdutor Rural e Consultor Ambiental

em Sistemas de Produção AnimalZootecnista e Mestre em Produção Ani-

mal pela Universidade Federal de LavrasMembro Titular do Conselho Consultivo da

APA da Serra da Mantiqueira (CONAPAM)Ex-presidente do Conselho Municipal

de Desenvolvimento Rural Sustentável de Piquete - SP

alguns exemplares - silvestres e/ou exóti-cos - possam ser caçados.

entenda-se, pois, o “Parque de caça” como área ou território devidamente de-limitado e estruturado para o exercício da caça amadorista, onde é realizado rigoro-so controle de tamanho e da densidade de populações de diferentes espécies - cine-géticas ou não -, bem como das condições em que se encontra o habitat local onde elas estão inseridas e dispersas. trata-se de uma atividade conservacionista cujo potencial se traduz - muito além do pre-servacionismo - em demanda de serviços a serem prestados por biólogos, pesquisa-dores de fauna, engenheiros agrônomos e florestais, zootecnistas, guarda-caças, especialistas em sociedades indígenas e em comércio de fauna e subprodutos, criadores e treinadores de cães etc.

nesse sentido, desde 1967 a lei nº 5.197 prevê, aqui em síntese, em seu artigo 1º que animais que constituem a fauna silvestre brasileira são proprieda-des do estado; e em seu artigo 5º que o Poder Público criará: a) “reservas Bioló-gicas” nacionais, estaduais e municipais, (...) ; b) “Parques de caça” federais, esta-duais e municipais onde o exercício da caça é permitido, abertos total ou par-cialmente ao público, em caráter perma-nente ou temporário, com fins recreati-vos, educativos e turísticos.

ocorre que em nosso país tais “par-ques federais, estaduais ou municipais” nunca foram implantados pelos devi-dos órgãos competentes, ou seja, por diversos motivos esses órgãos foram incompetentes, ao menos quanto a essa necessidade específica de regula-mentação legal. Por outro lado, se não bastasse a letargia, ou incompetência, do estado em relação à implantação dessas estratégicas unidades públicas, também os empreendedores privados que por vezes tentaram obter no país li-cenças para implementação de “Parques de caça” em suas fazendas - mesmo que

Natan Rodrigues Ferreira de Melo e Silva

... e o outro também”(*) relativo à caça(**) exploração do excedente

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O serviço municipal de saneamento ambiental de santo andré (sema-sa), autarquia da Prefeitura do mu-

nicípio, investirá r$ 50 milhões na construção de uma nova estação de tratamento de Água (eta) que abastecerá 25% do consumo na cida-de. em fevereiro, a câmara de Vereadores rati-ficou o financiamento de r$ 45,2 milhões com a caixa econômica Federal, recursos que serão direcionados por meio do programa federal saneamento para todos. o financiamento, somado à contrapartida do semasa, servirá para a construção da eta e beneficiará mais de 200 mil pessoas na região.

a seleção do projeto está dentro das metas de investimentos previstas pelo Pro-grama de aceleração do crescimento (Pac) e os valores para o financiamento aprovado vêm do fundo de recursos do Fundo de Ga-rantia do tempo de serviço (FGts).

o projeto apresentado pela autarquia está de acordo com a instrução normativa nº 15, de 14 de abril de 2009, definida pelo ministério das cidades.

o semasa possui, desde 1997, uma ou-torga (autorização para captar água da repre-

sa Billings do Departamento de Águas e ener-gia elétrica) na região do Parque do Pedroso, local onde a eta será construída. segundo análise de especialistas, a água utilizada para o abastecimento possui uma qualidade muito boa. hoje, santo andré é responsável pela produção de somente 6% da água consumida pelos munícipes, e compra da sabesp os ou-tros 94%. a nova estação de tratamento, com capacidade para tratar 350 litros de água por segundo, elevaria a produção própria de água para aproximadamente 25%.

a construção desta estação de tratamen-to de água vai ao encontro das necessidades do município e da política de gestão pública implantada pela nova gestão em santo an-dré, além de ser uma questão estratégica. a demanda por água na Grande são Paulo só cresce, enquanto os rios e represas perdem suas capacidades. o abastecimento hídrico é um processo que tem custado cada vez mais caro, pois a água consumida pelos habitantes da região metropolitana vem de bacias locali-zadas há centenas de quilômetros da capital.

Para o assistente da superintendência do semasa, engenheiro Fernando Debeus cos-

Meio Ambiente

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ta, a autarquia tem capacidade e nível tecnoló-gico suficiente para captar e produzir sua pró-pria água. “o custo de produção da água será vantajoso. a economia com a compra de água e a economia de energia das estações elevató-rias pagariam a obra em alguns anos”, disse.

Já o superintendente angelo Pavin lem-brou de uma das primeiras reuniões de tra-balho que teve com o prefeito aidan ravin. “Dentre as muitas solicitações, aidan pediu atenção especial ao abastecimento de água. Falou dos planos que tem para este setor e pediu que o semasa investisse na amplia-ção da quantidade de água captada, tratada e distribuída pela autarquia”, contou.

os bairros que seriam atendidos pela nova estação, como Parque miami, rivie-ra e recreio da Borda do campo, estão em áreas de manancial. as residências abas-tecidas pelos reservatórios Vila suíça e miguel Ângelo também seriam beneficia-das. “a região sul de santo andré cresceu muito nos últimos anos e a infraestrutura que existe está quase no limite. a estação de tratamento suprirá uma das carências desta região”, conclui costa.

Construção da nova Estação de Tratamento deve começar no 1º semestreDa Redação

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tratamento de áGUAinveste r$ 50 milhões em

SEMASA

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tratamento de áGUAinveste r$ 50 milhões em

A campanha realizada em meados de 2009 por meio da unidade de resposta audível (ura) para a

ampliação da participação popular na cole-ta seletiva continua rendendo bons resul-tados para a cidade. em janeiro, o serviço municipal de saneamento ambiental de santo andré (semasa), autarquia da Pre-feitura andreense, registrou um aumento de 23% na coleta de recicláveis em compa-ração ao mesmo período do ano passado.

ao todo, foram coletadas 829,09 tone-ladas no primeiro mês de 2010. em janeiro de 2009, haviam sido recolhidas 647,18 t. novamente, o principal responsável pelo crescimento no volume foi a coleta porta em porta, que subiu de 510,42 para 637,71 toneladas. o aumento também foi aponta-do nos resíduos entregues nas estações de coleta (de 104,59 para 143,93 t.).

no último ano, a coleta seletiva re-gistrou o maior volume desde que foi im-

plantada no município, em 1998. o antigo recorde era de 2001, quando foram coleta-das 8.030 toneladas de resíduos secos.

“a campanha por meio da ura foi de grande importância para o aumento da co-leta seletiva. em conjunto com a coorde-nadoria de comunicação social [do sema-sa], queremos continuar com trabalhos que incentivam a população a participar, a separar corretamente os resíduos.”, co-menta José campos nery, gerente da cole-ta de resíduos sólidos da autarquia.

Consumo conscientetão importante quanto a separação cor-

reta dos resíduos é a compra consciente dos produtos. “o modelo atual de sociedade é marcado pela ênfase na cultura do ‘ter’ em detrimento do ‘ser’. observa-se um cres-cente consumo de produtos sem que estes tenham um real significado e utilidade den-tro de um contexto.”, comenta ana cristina

Villas Boas, gerente de educação e mobiliza-ção ambiental do semasa.

segundo ana, a “sociedade de consu-mo” precisa despertar a consciência para sua responsabilidade em torno da preservação dos recursos naturais, bem como para a res-ponsabilidade sobre a destinação final dos resíduos produzidos. “ao comprar algo, cada pessoa deveria conhecer sua procedência, sendo capaz de escolher produtos, serviços e empresas fornecedoras que contribuam para uma condição de vida pautada na sustenta-bilidade e na justiça social.”, diz a gerente.

De acordo com ana, existem medidas simples que as pessoas podem adotar no dia-a-dia. são pequenas mudanças de hábito que possuem enorme potencial para transfor-mação da realidade atual, ao conhecer e com-preender a relação que existe entre o simples ato de comprar algo e o impacto disto sobre as condições de sobrevivência do próprio ho-mem, de todos os seres vivos e do planeta.

Meio Ambiente

O SEMASA coletou 829 toneladas de recicláveis só no primeiro mês do anoDa Redação

Após campanha em 2009,COlETA SElETivA inicia ano

com aumento de 23%

Coleta porta em porta aumentou de 510,4 t para 637,7 t em janeiro deste ano em relação ao mesmo mês de 2009: benefícios para a cidade

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O aquecimento global interfere di-retamente na qualidade de vida dos seres que habitam o planeta.

a situação agrava-se a cada ano, com a ele-vação das temperaturas (tanto frio quanto calor) que provocam desconforto, molés-tias e até a morte de parcela da população. o aquecimento global está diretamente relacionado ao desenvolvimento das cida-des, ao aumento do número de veículos, ao desmatamento e à produção industrial. apesar de o clima ser democrático e atin-

gir todos os seres viventes do planeta, as regiões pobres são sempre mais prejudi-cadas, por não possuírem recursos para investir em infraestrutura para minorar os efeitos do aquecimento global.

o desmatamento e, em seguida, as emis-sões de gases poluentes são as principais causas das mudanças climáticas, dizem os especialistas. apesar de algumas iniciativas voltadas para a diminuição do impacto do homem no meio ambiente, as comunidades terão de se adaptar às transformações am-

bientais. Parte destas adaptações está nas mudanças estruturais que fazemos para ame-nizar as elevadas temperaturas do calor no ve-rão, trocando janelas abertas por aparelhos de ar condicionado, que provocam aumento no consumo de energia e ressecamento da pele.

outro fato que afeta e altera o clima nas cidades é a colocação de asfalto em grandes extensões urbanas e a construção de mais e mais prédios de concreto, que formam ilhas de calor. nessas áreas, o ar tem menos espa-ço para circular, e, com isso, a temperatura

interfere na qualidade do seu envelhecimento

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Rosane Magaly Martins

da região aumenta. o asfalto e o concreto irradiam grande parte do calor absorvido pela luz do sol ao longo do dia. nas áreas em que o solo está livre de construções, a terra absorve uma parcela maior da energia solar. Por isso o planejamento urbano é fundamen-tal para amenizar os efeitos do aquecimento global sobre as populações.

Saúde do planeta = saúde humanao homem, responsável por todas es-

sas mudanças do clima, torna-se uma das

principais vítimas do aumento da tempe-ratura. os prejuízos imediatos na saúde humana podem ser observados no aumen-to do número de casos de doenças de pele (brotoejas, micoses, dermatites, herpes simples e urticária), processo de desidrata-ção em crianças e idosos até o aumento na incidência de câncer de pele, no desenvol-vimento de cataratas decorrentes do male-fício do sol escaldante, sem que as pessoas façam uso de bloqueadores solares e de óculos de sol com proteção.

outra consequência que não se per-cebe com o fenômeno demográfico e o aquecimento global é seu reflexo sobre a economia das famílias. Pessoas nascidas na década de 70 e 80 terão que planejar sua aposentadoria de outra maneira, pois serão as que sentirão de maneira mais impactan-te os efeitos do clima na fase pós-laboral. as mudanças climáticas gerarão mais des-pesas para todas as pessoas, desde os gas-tos com a saúde e as novas doenças e seus tratamentos até a aquisição de produtos que deem mais capacidade de proteção.

os governos terão que custear campa-nhas contra dengue ou malária, causadas pela devastação das matas ou pelas mu-danças climáticas que desestabilizam o ecossistema e para isso reduzirão recursos em programas de saúde e/ou no atendi-mento da população, o que gera impacto negativo na vida das pessoas mais pobres. a maioria da população será mais depen-dente de sistemas privados de saúde e terá um gasto elevado para que não adoeça.

entre as novas despesas geradas pelas mudanças climáticas destaca-se o custo da água. todos terão que pagar mais pela água consumida, e em sua grande maio-ria investirá recursos significativos para garantir a qualidade da água a ser consu-mida, uma vez que as empresas públicas não conseguirão atender à demanda com a qualidade necessária. assim como nossas avós não tinham no planejamento despe-sas com tV a cabo, internet e celular, os futuros idosos da Geração Y (nascidos en-tre 70/80) terão despesas adicionais ainda não projetadas adequadamente.

este novo cenário do envelhecimento trará desafios e novas tecnologias de alto custo para vencer as dificuldades que aca-bam tornando o mundo e a vida das pes-soas mais cara, seja para jovens seja ido-sos. a população até 2050 não será maior que a de hoje, havendo apenas a alteração no número de idosos – que em alguns países representarão 50% da população. entretanto todos terão que pagar por não termos cuidado do ambiente.

interfere na qualidade do seu envelhecimento

Aquecimento Global

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Rosane Magaly Martins, escritora, advogada pós-graduada em Direito

Civil, com especialização em Mediação de Conflitos pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Pós-graduada em

Gerontologia (FURB/2005) e Gerencia em Saúde para Adultos Maiores (OPS/

México) com formação docente em Gerontologia (Comlat/Colômbia). Fun-dadora e presidente da ONG Instituto

AME SUAS RUGAS, participando desde 2007 na Europa e na América Latina de congressos, cursos e especialização que envolve o tema. Organiza a publicação da coleção de livros “Ame suas rugas”

lançados no Brasil e em Portugal.E-mail: [email protected]

Site: www.rosanemartins.com

a cada ano o mundo cresce uma alema-nha – são nove mil pessoas a cada hora. Da década de 70 até hoje o número de habitan-tes dobrou enquanto que o consumo de água mundial quintuplicou, ou seja, se consome cinco vezes mais. todas as pessoas planejam a aposentadoria com base no mundo de hoje – condomínio, alimentação, habitação. mas dentro de 20-30 anos, o mundo será outro, com novas demandas e necessidades. neste planejamento de aposentadoria deveremos levar em conta as consequências das mu-danças climáticas no orçamento familiar.

especialistas em clima e economia pro-jetam que a água terá um custo maior que o do petróleo. mesmo com a descoberta de novas reservas de petróleo, elas não dão conta do elevado consumo que é mais ace-lerado que sua produção. com a água será da mesma forma. entretanto, a água é mais vital ao planeta que o petróleo, que pode ser substituído por energia solar, eólica. mas para a água potável não há substituto.

Metade da humanidade será idosauma em cada nove pessoas no mundo

tem mais de 60 anos, uma proporção que se prevê que possa subir para uma em cada cinco dentro de 40 anos, fazendo com que em 2045 o número total de pessoas com mais de 60 su-pere, pela primeira vez, o grupo das crianças (com menos de 15 anos) – algo que vem acon-tecendo em países desenvolvidos desde 1998.

este envelhecimento traz implicações no cotidiano das pessoas, instituições e go-vernos, desde a questão das aposentadorias ao mercado de trabalho, à sobrecarga sobre os sistemas de saúde e à mudança na preva-lência de doenças.

as consequências serão mais impac-tantes junto aos países mais pobres, ou

em fase de desenvolvimento, que em meio século deverão chegar ao nível atual das nações mais ricas em termos demográficos, mas com muito menos tempo para se adap-tarem às mudanças sociais que tal implica.

Os impactos e as omissõesa destruição da camada de ozônio é

um dos problemas a serem enfrentados e interfere na vida de todo o planeta. a camada de ozônio (gás encontrado na estratosfera) é responsável pelo filtro de 70 a 90% dos raios ultravioleta emitidos pelo sol. não fosse a presença da camada protetora de ozônio, os raios ultravioleta atingiriam diretamente a terra, com isso, teríamos uma elevação de temperatura tão grave que no futuro poderia extinguir a vida. em 1985 foi observado pela primei-ra vez o buraco que se encontrava sobre a antártida, no Polo sul, e em 1998 avaliou-se que possui o tamanho de 27,2 milhões de quilômetros quadrados.

Quanto maior a quantidade de ozônio na baixa atmosfera maior a perda na agri-cultura (plantações de trigo, soja, algodão, amendoim, árvores de todas as espécies, entre outros), inibindo a fotossíntese e produzindo lesões nas folhas. nos ani-mais, provoca irritação e ressecamento das mucosas do aparelho respiratório, além do envelhecimento precoce. nos seres huma-nos causa a aceleração do envelhecimento, queimaduras e câncer de pele e catarata.

É importante esclarecer que o enve-lhecimento da população não é um proble-ma em si mesmo. É um processo natural. consequência de um processo evolutivo que deveria ser observado, compreendido e abordado. naturalmente, este processo tem efeitos negativos e positivos, como melhor atenção à saúde, maior expectati-va de vida e suas ramificações.

embora nos países industrializados este processo tenha sido gradual, nas nações em desenvolvimento foi e será rápido. Por exemplo, espera-se que em 2050 a china tenha cerca de 300 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que quase equivale a toda a população atual dos estados unidos. além disso, ao contrário das nações indus-trializadas, os países em desenvolvimento carecem de um sistema de segurança social capaz de manejar sua crescente proporção de idosos. as sociedades e os governos não se prepararam para atender a falta de mecanismos e de uma rede de segurança. Deveriam fazê-lo de maneira proativa para evitar consequências adversas.

os esforços mundiais para enfrentar os impactos do envelhecimento populacional datam de, pelo menos, 1982, quando foi ado-tado em Viena o Plano de ação internacio-nal sobre o envelhecimento. nesse período viver depois dos 70 anos era fato considera-do apenas nos países industrializados, muito distantes nas nações em desenvolvimento. a isto se seguiu o Plano de madri, em 2002, que destacou o direito das populações enve-lhecidas a uma “boa” vida e países do mun-do discutem o que significa “boa vida” e de quem seria esta responsabilidade.

em 1994 houve a conferência interna-cional sobre População e Desenvolvimento, no cairo. a assembléia Geral da organiza-ção das nações unidas aprovou em 1999 medidas para implementar o Programa de ação acordado na capital egípcia. a criação de infraestrutura transcende a disponibili-dade de recursos econômicos. até mesmo países de alta renda no mundo industriali-zado precisam de gente capacitada em cen-tros de saúde, por exemplo, para lidar com o envelhecimento da população.

Por tudo isso envelhecimento e aqueci-mento global devem ser analisados a curto, médio e longo prazo por governos e institui-ções privadas, como forma de antever proble-mas e projetar soluções que minimizem im-pactos negativos na vida das pessoas que hoje têm entre 30 e 40 anos. aumento na camada de ozônio, desmatamento, falta de sanea-mento básico, falta de manejo dos recursos hídricos continuarão a ser grandes desafios humanos e de governos. ou cuidamos de nos-so planeta de maneira consciente ou teremos em 2045 uma legião de idosos sofrendo as consequências da omissão atual no seu futuro quente, adoecido e de custos elevados.

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A questão ambiental passa a ocu-par um grande espaço e destaque dentro da mídia e da economia

após encontro dos lideres em copenhague, onde aparentemente houve um fracasso já esperado, no entanto a preocupação de to-dos com o meio ambiente passa a ser uma questão de sobrevivência da humanidade.

a consciência da gravidade dos proble-mas é comum, o que passa a ser discutido é a sua forma de encarar a questão na busca de soluções, onde deverá ser conciliado o lado econômico, desenvolvimento e qua-lidade de vida, portanto um desafio para própria consciência humana.

o Brasil, por sua vez, foi arrojado em de-finir metas de redução de emissão de gases e economia de energia, montando o Plano na-cional sobre mudanças climáticas, pela lei Federal nº 12.187/09, estabelecendo metas e compromissos para alcançar os objetivos do Pnmc. o País adotará, como compromisso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, com vis-tas a reduzir entre 36,1% e 38,9% suas emis-sões projetadas até 2020.

a legislação prevê a utilização das me-didas existentes, ou a serem criadas, que estimulem o desenvolvimento de proces-sos e tecnologias, que contribuam para a redução de emissões e remoções de gases de efeito estufa, bem como para a adap-tação, dentre as quais o estabelecimento de critérios de preferência nas licitações e concorrências públicas, compreendidas aí as parcerias público-privadas e a autoriza-ção, permissão, outorga e concessão para exploração de serviços públicos e recursos naturais, para as propostas que propiciem maior economia de energia, água e outros recursos naturais e redução da emissão de gases de efeito estufa e de resíduos, esta-belecendo um novo relacionamento com a questão ambiental.

Desta forma a aplicação do balanço so-cial e ambiental, estabelecida na norma nBc t 15 e a resolução nº 1.003/04, passa a ser um instrumento importante para mensura-ção do passivo ambiental das organizações.

a questão passa a ser o nível de com-preensão dos gestores das organizações brasileiras e sua reação em função destas novas medidas e tendências mundiais, bem como das instituições do terceiro se-tor da área ambiental e da capacidade téc-nica dos profissionais em relação ao novo enfoque, não bastando estar tecnicamente qualificados, mas adaptados à busca de novas soluções inovadoras.

Portanto a questão ambiental passa a ser uma nova moeda de avaliação e dispu-ta e com grande valor agregado e não mais uma exigência simples ou restrição dos ambientalistas xiitas, passando a ser uma questão de estratégia de negócio.

Para contrapor-se às exigências, o go-verno, por sua vez, estabeleceu forma de atuar na questão ambiental formando par-ceria com as instituições do terceiro setor de forma que as suas despesas possam ser utilizadas como renúncia e incenti-vo fiscal, iniciando com a lei Federal nº 9.249/95, artigo 12, § 2º, inciso ii e iii e por último pela lei Federal nº 12.114/09, constituindo o Fnmc – Fundo nacional sobre mudança climática.

a aplicação dos recursos poderá ser destinada às seguintes atividades: I - educação, capacitação, treinamento

e mobilização na área de mudanças climáticas;

II- ciência do clima, análise de impactos e Vulnerabilidade;

III- adaptação da sociedade e dos ecos-sistemas aos impactos das mudan-ças climáticas;

IV- projetos de redução de emissões de gases de efeito estufa - Gee;

V- projetos de redução de emissões de carbono pelo desmatamento e degra-dação florestal, com prioridade a áreas naturais ameaçadas de destruição e

Takashi Yamauchi

relevantes para estratégias de conser-vação da biodiversidade;

VI- desenvolvimento e difusão de tecno-logia para a mitigação de emissões de gases do efeito estufa;

VII- formulação de políticas públicas para so-lução dos problemas relacionados à emis-são e mitigação de emissões de Gee;

VIII- pesquisa e criação de sistemas e meto-dologias de projeto e inventários que contribuam para a redução das emis-sões líquidas de gases de efeito estufa e para a redução das emissões de desma-tamento e alteração de uso do solo;

IX- desenvolvimento de produtos e serviços que contribuam para a dinâmica de con-servação ambiental e estabilização da concentração de gases de efeito estufa;

X- apoio às cadeias produtivas sustentáveis; XI- pagamentos por serviços ambientais

às comunidades e aos indivíduos cujas atividades comprovadamente contri-buam para a estocagem de carbono, atrelada a outros serviços ambientais;

XII- sistemas agroflorestais que contribu-am para redução de desmatamento e absorção de carbono por sumidouros e para geração de renda;

XIII- recuperação de áreas degradadas e res-tauração florestal, priorizando áreas de reserva legal e Áreas de Preserva-ção Permanente e as áreas prioritárias para a geração e garantia da qualidade dos serviços ambientais.

além do que, este processo inclui a questão da compensação ambiental e con-versão das multas ambientais, portanto sem desculpas em relação aos recursos a serem aplicados no setor.

Takashi Yamauchi é especialista em Terceiro Setor, Consultor do Sistema de Apoio

Institucional – SIAI e Consultor da Comissão de direito do Terceiro Setor

da OAB Seccional Pernambuco. Participou do grupo de estudos para a

formulação da Norma ABNT 16001.

Plano Nacional sobre mudanças climáticasresponsabilidade Social e Ambiental

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36 neo mondo - Fevereiro 2010

diversos setores importantes da economia nacional na conferência. não só a Fiesp, a cna, a cni, mas também empresas mul-tinacionais que investem maciçamente no Brasil e que procuram formas de envidar esforços na esteira da sustentabilidade, estavam em copenhague apresentando seus programas ambientais e discutindo com os Governos Federal e dos estados (registre-se que, além da união, muitos governadores de estados estavam pelos corredores do Bella center apresentando seus programas de governo).

os compromissos firmados (ou pro-metidos) são uma luz no fim do túnel. o aspecto altamente positivo da coP 15 foi o fato de congregar iniciativas globais (ainda que desconexas) que afetam a so-ciedade civil, a economia, o mercado e as políticas internacionais.

A 15ª conferência das Partes da convenção das nações unidas (coP 15) foi importante por vá-

rios motivos. o primeiro deles, de ordem pública, foi poder presenciar os países de-senvolvidos, bem como aqueles ainda em desenvolvimento, estabelecendo metas para enfrentar as mudanças climáticas e tomando parte em novas ações globais.

a despeito das inúmeras vozes em sentido contrário, bradando o fracasso da conferência, por não ter sido firmado ne-nhum acordo multilateral vinculante, as delegações participantes assumiram metas obrigatórias de redução das emissões no âmbito do Protocolo de Kyoto, e os países em desenvolvimento também lançaram as próprias ações voluntárias de mitigação.

Por sua vez, do ponto de vista priva-do, foi importante constatar a presença de

Conferência do ClimaA importância da

não tenho dúvidas, e meu prognós-tico pode ser visto por muitos como alvissareiro demais, de que os resulta-dos virão com o tempo. ora, conseguir colocar numa mesa de discussão as maiores lideranças globais, chefes de estado, primeiros-ministros e cientis-tas de várias áreas, é um passo deveras importante até mesmo para os olhares menos otimistas.

o fato de copenhague não gerar um documento vinculante não era novidade para quem sabia dos bastidores que antece-deram a conferência. ledo engano pensar que todos sairiam de lá com metas obriga-tórias fixadas em leis internas e/ou tratados internacionais. não é dessa maneira que funciona a política internacional.

china, Índia, Brasil e até mesmo os estados unidos prometeram para o

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neo mondo - Fevereiro 2010 37

Terence Trennepohl

até o ano de 2020, a Índia apresentou plano de reduzir 20-25%, a África do sul 34% e a china 40-45%.

Portanto, é de se ver com bons olhos o encontro da Dinamarca e esperar que o melhor, ou o prometido, tão logo venha a se concretizar.

Terence TrennepohlSócio de Martorelli e Gouveia Advogados

Senior Fellow na Universidade de Harvard

Doutor e Mestre em Direito (UFPE)Bolsista da CAPES

E-mail: [email protected]

Conferência do ClimaA importância da

mundo estabelecer percentuais de redu-ção de emissões de gases de efeito estu-fa. a sociedade agora fará o seu papel, cobrando os termos legais internos para implementar essas promessas (o presi-dente obama já mandou para o senado sua proposta – e o Brasil editou a lei n. 12.187, em 29 de dezembro de 2009).

se, na pior das hipóteses, aquela em que menos acredito, tudo não tiver pas-sado de um teatro com holofotes globais, ao menos o Brasil aparecerá como uma nação disposta a ensinar para o mundo que é possível ter uma matriz energética limpa e renovável.

É importante lembrar que, segundo fontes de 2005, o mundo usa 12,7% de energia renovável e 87,3% não-renová-vel, enquanto o Brasil dispõe de 45,1% renovável e 54,9% não-renovável. na

união européia a situação ainda é mais dramática, pois 6,2% são renováveis e 93,8% são não-renováveis.

outra boa noticia é que, passada a conferência do clima de 2009, não sa-ímos do Bric (Brasil, rússia, Índia e china), importantes países em desenvol-vimento, mas sim, entramos no Basic (Brasil, África do sul, Índia e china), de-sempenhando um importante papel em questões ambientais internacionais.

Demais disso, em 29 de janeiro de 2010, na cidade de Bonn, na alemanha, alguns paises apresentaram a unFccc - united nations Framework convention on climate change suas metas de redu-ção para os próximos anos.

enquanto o Brasil manteve os termos do encontro de dezembro e prometeu re-duzir suas emissões entre 36,1% e 38,9%

Correspondente especial de Boston – Estados Unidos

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neo mondo - Fevereiro 201038

Empurrando

especial - CoP 15

A impressão que fica - passados dois meses do encerramento da 15a. conferência do clima (coP 15)

da organização das nações unidas (onu), em copenhague, Dinamarca - é a de que os líderes mundiais empurraram com a barri-ga a oportunidade de costurar um acordo mais ousado no que diz respeito à fixação de metas e soluções para resolver o dilema do aquecimento global com a máxima ur-gência possível. Paralelamente à coP 15, porém, milhares de pessoas, entre empre-sários, cientistas, pensadores, pesquisado-res, executivos e representantes de onGs avançaram em seu papel cidadão de bus-car alternativas viáveis para tornar a vida no e do planeta mais qualificada.

o próprio secretário-executivo do en-contro, Yvo de Boer, segundo informações da BBc Brasil, citadas pela agência Brasil de notícias, considerou que o acordo (que ele chama de “carta de intenções”) resul-tante ao final da conferência ficou aquém das expectativas. e não economizou pala-vras para se manifestar. “temos que ser honestos sobre o que temos. o mundo sai de copenhague com um acordo. mas, cla-ramente, as ambições precisam subir signi-ficativamente se quisermos manter o mun-do a 2 graus celsius”, afirmou referindo-se ao aumento da temperatura global aceito pelos signatários do documento.

De Boer, que era secretário da con-venção do clima da onu (renunciou em meados de fevereiro), sugeriu que se tra-balhe para torná-lo “real, mensurável e

verificável”. encerrada na madrugada de 19 de dezembro de 2009, a coP 15 teve a participação de 192 países, que não conse-guiram fechar um acordo vinculante sobre as emissões de gases do efeito estufa (ver quadro “aspectos do acordo”).

não obstante, o secretário-geral das na-ções unidas, Ban Ki-moon, classificou o acordo como “um começo importante”, com a ressalva de que precisa transformar-se em tratado com valor legal já em 2010. no fim deste ano, acontece no méxico a coP 16, precedida de reunião preparatória na alemanha. negociações devem aconte-cer nesse intervalo de tempo, como acena De Boer: “Vamos tentar chegar a um acordo obrigatório com valor legal até a coP 16”.

“reféns dos EUA”Já em Brasília, dois dias depois do encer-

ramento da coP 15, o presidente luiz inácio lula da silva recebeu os jornalistas para afir-mar que o Brasil “fez mais do que qualquer um esperava” na conferência do clima. De acordo com a agência Brasil de notícias, lula apontou os aspectos que teriam contri-buído para que não se chegasse a um acordo formal em copenhague, como os pontos sugeridos pelos países ricos de redução dos valores no fundo de ajuda aos países pobres; a verificação dos limites para redução de emissão de co2; e a intenção de considerar a china como país desenvolvido.

lula lembrou que Bolívia e Venezuela deixaram o evento por conta de seus delega-dos, que votaram contra a proposta dos paí-

ses em desenvolvimento. “se a gente tivesse negociado um mês antes, teríamos feito um acordo. Fizemos o melhor projeto, mas os países não evoluíram porque estavam reféns da proposta americana”, ponderou.

o presidente brasileiro considerou in-suficiente o valor fixado como ajuda aos países pobres e sugeriu: “Queremos que os governos assumam a responsabilidade de dar dinheiro com o aval do tesouro. se o mercado quiser contribuir, é lucro”, disse.

lula, crítico à posição dos estados unidos na coP 15, e mesmo antes dela, referindo-se à não-ratificação do Protocolo de Kyoto, avaliou como positivo o acordo fechado entre china, Índia, África do sul, Brasil e estados unidos, mas lembrou que a solução global tem de ser legitimada por todos os países.

na visão do presidente brasileiro, “até o próximo encontro, no méxico, nós de-veremos fazer um acordo e todo mundo concordar para que a gente possa, então,

Líderes mundiais deixam a desejar, frustrando pessoas que avançam no conhecimento de

alternativas saudáveis ao planeta

Gabriel Arcanjo Nogueira

com a barriga

Kristian Buus/Greenpeace

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39 neo mondo - Fevereiro 2010

definir uma política mundial para que se trabalhe o desaquecimento global”.

lula espera que as metas brasileiras apresentadas em copenhague - redução das emissões nacionais de gases do efei-to estufa entre 36,1% e 38,9%, até 2020 - sejam consolidadas com força de lei. e avisou: “Já não é mais a vontade do presi-dente lula. agora, quem quer que governe este país vai ter de cumprir”.

Humanidade em perigomarcelo Furtado, diretor-executivo do

Greenpeace no Brasil, entende que os lí-deres do mundo fracassaram na coP 15. isso porque “mostraram sua incapacidade de colocar interesses particulares – espe-cialmente econômicos – acima das neces-sidades da humanidade. eles falharam em evitar o caos climático. em 2009, o mundo enfrentou uma série de crises e, com certe-za, a maior delas é a crise de liderança”.

Carolina sugere que os resultados do estudo sejam amplamente

debatidos pela sociedade brasileira

Para o Greenpeace, o acordo não é jus-to, ambicioso nem legalmente vinculante porque “milhões de pessoas que depen-diam de uma decisão ambiciosa, que de fato controlasse o aquecimento global, fo-ram abandonadas à própria sorte”.

o ideal, para o Greenpeace, é que se chegasse a um acordo com força de lei, “justo e ambicioso, para controlar as mu-danças climáticas”. a onG enfatiza que “os países desenvolvidos, que têm a maior responsabilidade, precisam cortar em 40% as emissões de gases-estufa em relação a 1990 até 2020. os países emergentes tam-bém precisam fazer mais, com redução da taxa de crescimento de suas emissões. É preciso zerar o desmatamento das flores-tas tropicais e criar um mecanismo que fi-nancie ações de adaptação e mitigação nos países pobres. sem nada disso, o mundo sai da coP 15 deixando o presente e o fu-turo da humanidade em perigo”.

Kumi Naidoo, do Greenpeace Internacional, durante a grande Marcha pelo Clima: o que houve em Copenhague foi um crime

Marcelo, do Greenpeace Brasil: sem corte das emissões de gases-

estufa, qualquer esforço de adaptação é insuficiente

Gre

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40 neo mondo - Fevereiro 2010

repúdio é claro o mais grave, para marcelo, é que

esses líderes deixaram de cumprir seu objetivo mais essencial, que seria evi-tar os efeitos perigosos das mudanças climáticas. o diretor-executivo do Gre-enpeace no Brasil apresenta as suas ra-zões: “esse ´acordo de copenhague´ (ver quadro “Para ajudar a entender o fracas-so”) é fraco e não representa nem um co-meço do que é necessário para controlar as alterações no planeta. muitos países da américa latina, da África e pequenas ilhas se recusaram a se associar ao texto, em uma clara demonstração de repúdio”. De acordo com marcelo, “o tal ‘acordo’ de-termina que os esforços devem ser feitos para manter o aumento da temperatura em menos de 2°c e coloca algum dinheiro na mesa para começar a ajudar os países mais pobres a se adaptarem ao aquecimento global. mas falha em seu cerne, ao não de-terminar uma meta ambiciosa de corte das emissões de gases-estufa. sem isso, qual-quer esforço de adaptação é insuficiente”. o presidente dos estados unidos Barack obama é alvo preferencial do Greenpeace, por sua atitude, ao fim da coP 15: “Depois de abandonar a conferência, (obama) afir-

mou que o acordo de copenhague represen-tava a esperança de uma conclusão feliz de negociações que estão apenas começando. afinal, segundo ele, conseguir um acordo com valor legal é ‘difícil’ e toma tempo”. marcelo argumenta: “a questão é que o aquecimento global não espera as vonta-des e as dificuldades enfrentadas pelos po-líticos. a justificativa não convence suas vítimas. longe dos corredores acarpetados de copenhague, Washington, Genebra, Pequim e Brasília, as populações mais vul-neráveis do planeta vão sofrer pela inação desse grupo”.

“perseguidos pela vergonha”o diretor-executivo do Greenpeace

internacional, Kumi naidoo, que esteve à frente da grande marcha pelo clima em copenhague, é duro em relação ao que aconteceu durante a coP 15: “a cidade de copenhague foi palco de um crime, com os culpados correndo para o aeroporto perseguidos pela vergonha”, disse. “Presi-dentes e primeiros-ministros tiveram uma chance de uma em um milhão de mudar o mundo para sempre e impedir que o cli-ma entre em colapso. Produziram apenas um entendimento cheio de omissões.”

a sociedade, ao contrário dos políticos, fez a sua parte, lembra o Greenpeace, ao cobrar com propriedade a ida de seus presidentes para lá, para que assumissem posições cora-josas. “eles foram, mas cumpriram apenas metade de seu papel”, constata marcelo. o diretor-executivo da onG no Brasil rei-tera suas críticas e faz um apelo: “a reu-nião de cúpula terminou da mesma manei-ra que começou, sem metas ambiciosas de corte de emissão, sem recursos financeiros para longo prazo e sem um texto consen-sual, com força de lei, que assegure seu cumprimento junto à comunidade inter-nacional. temos de seguir em frente. não apenas com marchas nas ruas, mas enga-jando o setor privado, o movimento social e os governos locais para transformar nos-sa comunidade e criar mais pressão polí-tica nos nossos governantes. afinal, não podemos mudar a ciência, mas podemos mudar os políticos”.

pouco efeito práticoPara marcos nobre, do instituto na-

cional de Pesquisas espaciais (inpe), “a enorme expectativa de que a coP 15 mar-casse uma mudança radical na atitude dos países no enfrentamento das ameaças das mudanças climáticas a longo prazo”, de fato, resultou numa retumbante frustra-ção “de todos os que dela participaram e da sociedade global”.

o cientista avalia que ante o que se esperava - “algum tipo de acordo vinculan-te com clareza do caminho a seguir para limitar o risco do aquecimento global” -, o que se decidiu na conferência do clima é pífio. “sem o estabelecimento de metas quantitativas de redução de emissões, pouco efeito terá o princípio geral de que o aumento da temperatura global não deve ultrapassar 2oc ou 1,5oc”, afirma.

não obstante, marcos nobre acredi-ta que se deva destacar o papel do Brasil em copenhague, até mesmo pelo fato de ter ido à coP 15 com metas para reduzir suas emissões. o que, para o pesquisador titular do inpe, é importante. Positivo também que “não podemos esquecer que temos muitos pesquisadores no Brasil estudando (o aquecimento global), e no campo científico estamos bastante avan-çados”. e, mesmo nas ações políticas, há o Plano nacional de mudanças climáticas, que na visão do cientista deve promover as ações de combate e preparar o Brasil para a nova realidade climática.

A chance de mudar o mundo erauma em um milhão; o que se produziu

foi um entendimento de omissões“

especial - CoP 15

Lula, na reunião que definiu documento com mais 4 países: não se evoluiu mais por haver “reféns da proposta americana”

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41 neo mondo - Fevereiro 2010

para ajudar a entender o fracasso

• 120 chefes de Estado colocaram prioridades domésticas acima de um compromisso global

• quem vai pagar mais caro são os mais pobres e vulneráveis

• acordo foi costurado por 30 dos quase 200 países integrantes da Convenção do Clima

• chefes de Estado deixaram a COP 15 sem falar à Imprensa

Fonte: Greenpeace

Aspectos do acordo

• aprovado sem unanimidade, contrariando exigência da ONU*

• prevê ações para segurar o aumento da temperatura global em 2oC

• não define redução de emissões de gases-estufa

• prevê a criação de um fundo emergencial de US$ 30 bilhões até 2012

• acena com possibilidade de recursos para financiamentos de longo prazo de até US$ 100 bilhões até 2020

* Por ser um documento resultante de encontro entre EUA, Brasil, África do Sul, Índia e China, não é reconhecido por Sudão, Bolívia, Venezuela, Nicarágua, entre outras nações

Fonte: ABr com BBC Brasil

Luiz Fernando do Amaral, asses-sor de Meio Ambiente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), considera que a COP 15 representou momento único de, em eventos para-lelos, se apresentar e discutir ideias, propostas de busca de alternativas em energias limpas, por exemplo.

A Unica levou uma missão de cinco especialistas a Copenhague e participou de encontros, entre eles a Bright Green Expo, organizada pela Confederação Dinamarquesa das Indústrias. Nessa feira, que reuniu mais de 10 mil visitantes interessados em conhecer novas tecnologias, foi apresentada a versão experimental da Usina Virtual, projeto multimídia da Unica, em que se demonstra-ram as fases de produção de açúcar, etanol e bioeletricidade.

“O etanol não é nenhuma bala de prata”, compara o mestre em Econo-mia das Relações Internacionais, “mas é hoje a única solução comercialmen-te viável para o transporte, por não exigir tecnologias caríssimas.”

Em Copenhague se avançou, de acordo com Luiz Amaral, no sentido de resolver mitos e mostrar o quanto esse tipo de energia limpa é compe-titivo, sem representar o risco que se lhe atribui de fazer da Amazônia ex-tenso canavial ou ameaça à produ-ção de alimentos.

O assessor da Unica lembra que biocombustíveis já chegaram a ser vistos internacionalmente como “sal-vadores da pátria”, num primeiro momento, e depois como inimigos. Para Luiz Amaral, não se trata de uma coisa nem de outra. A iniciativa privada faz a sua parte, com inves-timentos em pesquisas, desenvolvi-mento de tecnologias e de produ-tos alternativos. “A economia verde já faz parte de uma agenda social, e se tivesse saído um acordo vincu-lante da COP 15, se poderia avançar mais”, acredita.

Gigantesco desfilePara usar uma linguagem dos

tempos carnavalescos, se a COP 15 fosse um gigantesco desfile de es-colas sob o enredo único “Salvem o planeta antes que seja tarde”, o quesito fixação de metas e definição de regras comuns faria as do primei-ro grupo serem rebaixadas, já que o sentimento de frustração com os que deveriam estar na linha de fren-te foi total. Embora as expectativas do setor sucroenergético não fossem otimistas, Luiz Amaral não contava que chegar a um acordo promissor fosse tão complicado.

Já no quesito apresentação de ideias, o encontro mundial sobre o clima foi positivo, na visão do espe-

cialista. Para ele, a economia verde já faz parte da agenda social, e a tendência, daqui para a frente, é evoluir em parcerias produtivas e amadurecimento de contatos ante-riores à COP 15.

No que depender da Unica, a cru-zada para fazer o maior número de pessoas - físicas e jurídicas - entender a importância do papel dos biocom-bustíveis na qualidade de vida terres-tre está no caminho certo. “O que te-mos feito é vencer mitos e clarear as verdades”, sintetiza Luiz Amaral.

Usina de ideias em feira verde

Luiz Amaral, da Unica: economia verde está na agenda social;

faltou o acordo vinculante

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42 neo mondo - Fevereiro 2010

período de cadastramento e na restrição do acesso de onGs. na segunda semana da reunião, por exemplo, quando era es-perado o maior número de participantes, havia apenas 12 terminais para efetuar o cadastramento e a entrega dos crachás. Por causa disso, inúmeras pessoas es-peraram 6, 7 ou até mesmo 8 horas em uma grande fila fora do pavilhão. a tem-peratura negativa deixava a espera ainda mais desconfortável. outro exemplo foi a limitação do acesso de representantes de onGs às salas de negociações nos últi-mos dias da reunião, gerando manifesta-ções e conflitos com a polícia.

A mídia nacional e a internacional questionaram o resultado da coP 15, principalmente depois

da grande mobilização social criada em torno do evento. Várias matérias alar-dearam que a coP 15 foi um verdadeiro fracasso e que as discussões sobre um novo acordo climático para substituir o Protocolo de Quioto não evoluíram em copenhague. no entanto, antes de considerar a reunião da Dinamarca um fracasso total, é importante analisar os resultados dessas duas semanas de ne-gociações e aprender algumas lições que serão úteis para a organização das pró-

ximas reuniões no méxico (2010) e na África do sul (2011).

o primeiro fato que surpreende são os números da coP 15, especialmente quando comparados com as reuniões an-teriores. Foram mais de 45 mil pessoas pré-cadastradas pela onu para participar do evento. isso mostra o interesse não apenas de representantes de governos, mas também de membros do setor empre-sarial e da sociedade civil em acompanhar de perto as discussões internacionais para uma política climática mundial.

É verdade que a organização do even-to falhou em alguns momentos, como no

A COp 15 e as lições para a COp 16

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neo mondo - Fevereiro 2010 43

Natascha Trennepohl*Advogada e consultora ambiental

Mestre em Direito Ambiental (UFSC)Doutoranda na

Humboldt Universität (HU) em Berlim.E-mail: [email protected]

*foi membro da delegação brasileira que esteve na COP 15.

Natascha Trennepohl

Correspondente especial de Berlim – Alemanha

período de 2010 a 2012 e disponibiliza-rão por ano 100 bilhões de dólares (até 2020) para que os países em desenvol-vimento adotem medidas de mitigação, leia-se redução de emissão dos Gees. ainda não estão bem definidas quais serão as fontes de financiamento e nem o montante a ser despendido por cada país envolvido.

está claro que muitos pontos ainda precisam ser discutidos para se chegar a um novo acordo climático que pos-sa substituir o protocolo de Quioto. no entanto, é exagerado considerar a coP 15 um verdadeiro fracasso, já que ela serviu para mobilizar tantas pesso-as em torno de um objetivo comum. as campanhas criadas para alertar sobre os problemas causados pelas mudan-ças climáticas mobilizaram milhões de pessoas que agora passaram a acompa-nhar de perto as discussões políticas e a pressionar seus governantes.

É preciso aprender com essa reunião para não repetir os mesmos erros nos próximos encontros. não adianta dei-xar questões importantíssimas, como financiamento, para serem discutidas na última hora.

uma coisa é certa, muito trabalho ainda precisa ser feito para que a coP 16 não termine sem um acordo concreto e o primeiro passo é não repetir os erros da coP 15.

o acordo apresentado no final da coP 15 está muito aquém de ser conside-rado um substituto para o Protocolo de Quioto, mas isso não foi novidade para quem estava acompanhando de perto as negociações que antecederam a reunião em copenhague. os encontros em Bonn, Bangkok e Barcelona que aconteceram ao longo de 2009 já deixavam claro que não se chegaria a um consenso para um novo acordo que juridicamente vinculas-se os países. o tempo estava passando e as discussões sobre pontos importantes não estavam evoluindo. Quando se che-gou em copenhague, ainda havia muitos

pontos importantes sobre financiamento e metas de redução de emissão de gases que precisavam ser discutidos e negocia-dos entre as partes.

o acordo de copenhague, apesar de ter sido uma proposta redigida por poucos países (Brasil, eua, china, Ín-dia e África do sul), reflete, segundo o secretário da onu (Yvo de Boer), um consenso político entre os países quanto à urgência de se combater as mudanças climáticas e de se manter o aumento da temperatura da terra abaixo dos 2 graus celsius. Para tanto, enfatiza-se a neces-sidade de cooperação entre os países, respeitando-se o princípio das respon-sabilidades comuns, mas diferenciadas. isso já pode ser considerado um avan-ço na postura norte-americana, pois até pouco tempo atrás os estados unidos, apesar de serem grandes emissores de co2, se recusavam a adotar medidas de mitigação e até mesmo questionavam a ocorrência do aquecimento global.

no entanto, o acordo apresentado na coP 15 está incompleto e não apresentou as metas de cada país para a redução de emissão dos gases que causam o efeito es-tufa (Gee). concedeu-se o prazo até 31 de janeiro para que tais metas fossem entre-gues ao secretariado da onu. muitos pa-íses já apresentaram suas metas de redu-ção para 2020, alguns considerando como base o ano de 1990 (ex: união europeia e Japão), outros o ano de 2005 (ex: canadá e estados unidos) ou até mesmo o ano de 2000 (ex; austrália).

Diversas questões relacionadas com o financiamento das medidas de adapta-ção e mitigação também estão incomple-tas. o acordo só menciona que os países desenvolvidos fornecerão uma ajuda adicional de 30 bilhões de dólares no

A COp 15 e as lições para a COp 16

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44 neo mondo - Fevereiro 2010

– Um outro mundo ainda é possível

Inclusão Social

Fórum Social

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– Um outro mundo ainda é possívelCom o título 10 Anos Grande Porto Alegre, evento voltou ao Rio Grande do Sul para realizar balanço

de sua atuação e estabelecer novas propostasRosane Araujo

F oram cinco dias de debates e uma programação pulverizada em sete cidades gaúchas, contando com 35

mil pessoas em 915 atividades. a décima edição do Fórum social

mundial, realizada de 25 a 29 de janeiro, propôs um balanço da primeira década do

neo mondo - Fevereiro 2010 45

evento criado em 2001, como contraponto ao Fórum econômico mundial, realizado anualmente em Davos, na suíça.

o modelo descentralizado permitiu a re-alização de outros doze eventos em diversas partes do mundo, como espanha, el salvador, Benin, república tcheca, alemanha e Japão.

Fórum Social

Jovens participam de caminhada do FSM

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46 neo mondo - Fevereiro 2010

Inclusão Social

no Brasil, além da Grande Porto ale-gre, também aconteceu o Fórum social temático da Bahia, em salvador.

tantas atividades foram só o começo do que promete ser um ano cheio para os organizadores e entidades ligadas ao Fórum. serão cerca de 30 eventos só em 2010, tudo isso para preparar o terreno para o Fórum mundial de 2011, que será realizado em Dakar, no senegal, de for-ma unificada.

na décima edição, não só as sedes foram muitas, mas os temas não ficaram atrás. além do tradicional apelo contra as desigualdades sociais e o modelo econô-mico neoliberal, questões como a criação

do estado Palestino, a ajuda humanitária ao haiti e o fracasso da 15ª conferência das Partes sobre as mudanças climáticas (coP 15) também ganharam espaço.

e a programação gaúcha ainda in-cluiu a realização do seminário inter-nacional Dez anos Depois: Desafios e propostas para um outro mundo possí-

vel, que contou com 13 atividades, reu-nindo cerca de 70 painelistas e mais de 2 mil pessoas.

no último dia do seminário, os par-ticipantes foram convidados a dar suas impressões sobre o evento, fazer críticas e apresentar propostas.

inclusão de pessoas entre as sugestões apresentadas esti-

veram a formação de uma rede de colabo-ração entre movimentos sociais para esti-mular a troca de experiência, a inclusão de pessoas que estão vivendo os problemas apresentados nos painéis e até o veto à participação de empresas transnacionais na infraestrutura do evento, incentivando, por outro lado, a economia solidária.

análises superficiais e discussões frag-mentadas foram algumas das falhas citadas.

e enquanto alguns apontaram a falta de consenso como ponto negativo, ou-tros defenderam a manutenção de agen-das próprias para cada movimento. “uma agenda consensual é impossível”, disse o representante do movimento estudantil, Pedro Borba.

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C riada há cerca de um ano e meio seguindo a metodologia proposta pelo movimento nossa são Paulo,

no qual vários outros movimentos espe-lharam-se, a rede social Brasileira de ci-dades Justas e sustentáveis já conta com 30 cidades.

“a rede não congrega todo e qualquer tipo de movimento pela qualidade de vida, o que a une é a metodologia comum. nós trabalhamos com o diagnóstico das cida-des através de indicadores técnicos que medem a qualidade de vida e também aplicamos pesquisas de percepção, que representam a opinião pública. ambos levam a uma mobilização da sociedade,

Instituição prepara estudo sobre iniciativas de sucessopara que haja uma melhor aplicação dos recursos públicos e sempre com a preocu-pação de desenvolver uma sociedade com justiça social e responsabilidade ambien-tal”, explicou o secretário Broinizi.

Durante o Fórum social mundial, a rede divulgou a elaboração de um mate-rial intitulado Plataforma cidades susten-táveis que mostrará experiências bem-su-cedidas por todo o mundo.

“a gente fala muito em sustentabili-dade, mas ainda não conseguimos ver um programa efetivo que diga realmente como uma cidade deve ser organizada, deve con-sumir, deve economizar para que ela se torne sustentável”, opinou Broinizi.

o trabalho está sendo elaborado por uma equipe técnica de são Paulo, que tra-balha em conjunto com as outras cidades que compõem a rede.

“todos vão apresentar ideias, propos-tas, projetos, na verdade, vamos fazer uma grande síntese das colaborações. será uma Plataforma bastante completa, estamos fazendo uma ampla pesquisa em diversas experiências que já acontecem em muitas cidades do mundo, para mos-trarmos que é possível, que não estamos inventando coisas utópicas, que isso já está sendo feito”, afirmou.

a previsão é que a Plataforma seja concluída até 30 de junho e, a partir de

Presidente Lula participou do evento no dia 26 de janeiro, quando debateu diversas questões junto aos organizadores, entre elas a atuação do governo brasileiro no Haiti

Excessos do neoliberalismo causaram a crise mundial,

confirmando a razão de ser do Fórum“”

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Instituição prepara estudo sobre iniciativas de sucessoentão, passe a ser discutida junto aos can-didatos aos governos estadual e federal.

“Praticamente as cidades não entram nesse debate, porque ficam relegadas às eleições municipais, só que a gente vive cada vez mais um fenômeno bastante complicado que é a formação de gran-des regiões metropolitanas ou até mega-cidades em todo o Brasil e não há uma coordenação de políticas entre essas ci-dades, estamos muito atrasados nisso. ao mesmo tempo, o país tem também muitos municípios pequenos, que não têm condições para ter uma política de sustentabilidade e precisam de orienta-ção”, defendeu.

a missão de incluir o tema nos planos de governo, porém, não é das mais simples.

o próprio secretário reconhece que a economia e a geração de empregos ainda são o foco principal das campanhas.

“política atrasada”“as questões ligadas às necessidades co-

tidianas das pessoas ainda continuam sendo as que mais pegam no ponto de vista da caça ao voto. a gente não vê as principais candi-daturas com foco central na sustentabilida-de, embora a importância esteja crescendo, também porque a gravidade do problema cresce assustadoramente. De certa maneira, a política está atrasada”, analisou.

além de apresentar as propostas e estabe-lecer referências de metas ideais, a rede tam-bém tem o papel de fiscalizar se os compromis-sos assumidos estão sendo cumpridos.

“se algum candidato diz que vai implan-tar nossas propostas, a gente grava, deixa re-gistrado publicamente, passa para a impren-sa, e depois nós cobramos, como estamos fazendo na prefeitura de são Paulo e nossos colegas estão fazendo em outras cidades. É essa nossa forma de atuar, não só fazendo propostas. a gente faz isso e depois monito-ra e cobra das mais diversas formas, fazendo reuniões com os responsáveis e até mobili-zando a sociedade para pressões maiores nos meios de comunicação”, finalizou.

Para o secretário-executivo do movi-mento nossa são Paulo e da rede social Brasileira de cidades Justas e sustentá-veis, mauricio Broinizi, a função do Fórum é exatamente dar voz à diversidade.

“não tem uma diretriz básica, porque ele é composto pela diversidade, funcio-nando como forma de expressão para di-versas culturas e movimentos sociais. o Fórum proporciona o encontro, o espaço da crítica, da troca de experiências e da elaboração de propostas para a socieda-de civil se conduzir nessa perspectiva da construção de um mundo melhor”, disse.

Para ele, nesses dez anos, o evento já apresentou resultados perceptíveis por meio do crescimento do número de par-ticipantes e no acerto de previsões a res-peito da insustentabilidade do modelo econômico baseado no liberalismo, uma ideia muito difundida nesta edição.

“os excessos do neoliberalismo leva-ram o mundo a uma enorme crise mundial, entre 2008 e 2009, confirmando as críticas que eram feitas a essa supremacia do capi-talismo financeiro e da onipotência do mer-cado. então, o Fórum confirmou seu acerto e sua razão de existir”, argumentou.

em Porto alegre, a rede secretariada por ele foi apresentada aos participantes e tam-bém promoveu o debate “novos Paradigmas do Desenvolvimento”, que teve como convi-dados o sociólogo português Boaventura de sousa santos, a senadora marina silva e o idealizador do Fsm, oded Grajew.

Números do Fórum Social Mundial 2010

• 27.350 Inscritos (Geral)• 35.000 participantes nas atividades• 915 Atividades (Conferências, Seminários e Oficinas)• 15,1% dos participantes estrangeiros• Total de 39 países presentes• 59,3% de inscritos mulheres• 40,7% de inscritos homens• 34% com renda inferior a U$ 500• 12% com renda acima de U$ 2.500• 27 atividades culturais (shows, teatros, mostras, saraus)• 112 músicos (nacionais e internacionais)• 250 jornalistas credenciados – de 15 países

Fonte: www.fsm10.org

Painéis trouxeram especialistas e representantes da sociedade civil - Só no Seminário Internacional 10 Anos Depois foram 70 painelistas

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Deficientes visuais lutam pela audiodescrição, recurso que permite acesso à dimensão visual de eventos, filmes, peças de teatro e programação de TVElizabeth Lorenzotti

N o Brasil, de acordo com o instituto Brasileiro de Geografia e estatística (iBGe), existem 16,5 milhões de pes-

soas com deficiência visual total e parcial. Pes-soas que conseguem ouvir os filmes e eventos, mas não têm idéia da ação, do cenário, figurino e todos os outros elementos visuais presentes, se alguém ao lado não relatar. um problema que pode ser resolvido pelo recurso de acessibi-lidade, recurso que garante a inclusão de pesso-as com deficiência visual, intelectual e dislexia em cinema, teatro e programas de televisão.um recurso também útil para idosos. trata-se da narração desses eventos por meio de fones de ouvido, possibilitando ao telespectador es-cutar uma locução que descreve imagens, tex-tos e demais informações visuais.

a obrigatoriedade de oferta desta facili-dade está prevista desde 2006 pela norma complementar nº 01/2006 – recursos de aces-sibilidade para pessoas com deficiência, na pro-gramação veiculada nos serviços de radiodifu-são de sons e imagens e de retransmissão de televisão. entretanto, o recurso até agora não foi implantado e sofre sucessivas prorrogações de prazos pelo ministério das comunicações. a audiodescrição é o único recurso de acessi-bilidade que ainda não entrou em vigor, pois já estão funcionando a legenda oculta, a du-blagem e a janela de liBras, a tradução para pessoas com deficiência de audição.

no dia 11 de fevereiro, a secretaria especial dos Direitos humanos promoveu

uma reunião técnica sobre o tema, para buscar um entendimento. e o ministério das comunicações colocou em consulta pú-blica, pela quinta vez, a minuta de portaria, para receber sugestões.

mas quais são os entraves a este recur-so? segundo o presidente da associação de Deficientes Visuais e amigos (adeva), markiano charan Filho, “existe um lobby da abert (associação Brasileira de emisso-ras de rádio e televisão) que dificulta mui-to. eles querem implantar, a partir de 2011, apenas uma hora semanal com audiodescri-ção. Depois duas horas, e assim por diante. são migalhas, numa programação de 24 ho-ras.” a abert também já propôs a inclusão do recurso apenas para a tV digital, e sem estipular horário. “ora, pouquíssimos têm acesso à tV digital no país, muito menos os deficientes visuais”, reclama markiano.

“também já alegaram problemas técni-cos, mas não existe nenhum. Por pressão nossa, das entidades, começaram as consul-tas públicas, onde a sociedade pode opinar e dar sugestões, e firmamos que deve ser na tV aberta. o que está acontecendo não é de-mocrático, o governo está cedendo ao lobby da abert”, afirma.

vivo é pioneirana inglaterra, nos eua (o pioneiro na in-

trodução da audiodescrição), no canadá, em vários países da europa, o recurso é comum,

afirma lívia motta, professora doutora pela Puc de são Paulo da área de linguística apli-cada e estudos da linguagem, que se dedica ao estudo e pesquisa da audiodescrição, mi-nistrando cursos e dando palestras sobre o recurso. “iniciei meu contato e trabalho com pessoas com deficiência visual em 1999, como professora voluntária de inglês na laramara – associação Brasileira de assistência ao Defi-ciente Visual. em 2005, já pesquisadora sobre o assunto, elaborei um Projeto de inclusão cultural para a Vivo, junto com isabela abreu, na época presidente do Grupo terra. o teatro Vivo passou a ser acessível para as pessoas com deficiência visual. todas as peças que lá são apresentadas contam com o recurso de au-diodescrição em uma apresentação semanal, desde 2007, com a peça o andaime. É, pois, o primeiro teatro brasileiro e ainda o único que faz uso do recurso regularmente.”

recentemente o theatro são Pedro, em uma parceria da Vivo com o governo do estado de são Paulo e associação Paulista dos amigos da arte (appa), promoveu a apresentação de 3 óperas com audiodes-crição: cavalleria rusticana, Pagliacci e o Barbeiro de sevilha. um sucesso, lotando toda a temporada, e com muita presença de deficientes visuais.

lívia conta que em 2005 começou a for-matar cursos de audiodescrição para funcio-nários da Vivo, que trabalham como audio-descritores voluntários no teatro Vivo e em

de VISãO

Inclusão Social

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outros eventos promovidos pela empresa: “Já formei mais de 50 funcionários da Vivo em são Paulo e também em manaus, onde foi apresentada a primeira ópera com au-diodescrição do Brasil: sansão e Dalila, no teatro amazonas, em abril de 2009. além disso, venho dando cursos de audiodescri-ção em outros lugares como na laramara e na associação de mulheres da unimed. em agosto terá início um curso no formato de pós-graduação lato sensu na usP, preferen-cialmente para pessoas das áreas de letras, comunicações e outros interessados”.

Por sua vez, a abert argumenta não ha-ver no Brasil quantidade suficiente de mão-de-obra especializada para fazer a audiodes-crição. segundo o presidente da associação mídia acessível (midiace), rodrigo campos, em um estudo realizado em Brasília, pelo menos 160 audiodescritores são formados por ano em todo o país .

poucos filmessegundo sidney tobias de souza, que

trabalha na Prodam e também é diretor da adeva, “há pouquíssimos títulos de filmes com audiodescrição no Brasil, não mais de 20, entre eles irmãos de Fé, do padre mar-celo, e ensaio sobre a cegueira.

a entidade recém-promoveu um baile pré-carnavalesco com audiodescrição, sua primeira e bem-sucedida experiência do por-te. “a audiodescrição vem dar aos deficientes visuais realmente uma dimensão do que é o visual da peça, do filme, de qualquer evento. o campo é extremamente amplo, veja que as pessoas com deficiência auditiva acom-panham filmes com legenda, por exemplo, mas nós não”, ele diz.

markiano conta ter ido várias vezes sozinho assistir a filmes nacionais, mas em cenas mudas não podia saber o que se passa-va. Perguntava, então, para a pessoa ao lado. ”na tV, uma vez assisti ao filme Poltergeist, e as cenas finais são todas de efeitos visuais. Fiquei o fim de semana todo sem saber o fi-nal, até que na segunda-feira, encontrei um colega no trabalho que me contou.”

a audiodescrição exige apenas do es-pectador um aparelho de tV com tecla saP (programa secundário de áudio, por onde passa o sinal).

os deficientes visuais falam ao celular e usam computadores com programas es-peciais. o estoque do celular nokia e-65 talks, com leitor de tela que verbaliza to-das as funções, foi vendido em um mês nas lojas da Vivo.

Por sua vez, a empresa natura colo-cou audiodescrição em um anúncio pela tV, acreditando no mercado. entretanto, para se escutar a audiodescrição do xam-pu infantill “natura naturé”, seria preciso ficar atentos ao exato momento em que o anúncio começava a passar, para se acio-nar a tecla saP do controle remoto e poder escutar o único minuto de audiodescrição de toda a tV brasileira.

de VISãOpelos direitos do deficiente visual

Em fevereiro do ano passado, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em Brasília entrou com uma ação civil pública contestando o adiamento da implantação do recurso pelas emissoras de televisão brasileiras. Segundo Luciana Loureiro Oliveira, procuradora regional dos Direitos do Cidadão e responsável pela ação, o ministério tem agido com descaso e desrespeitados os direitos das pessoas com deficiência.

Já em 29 de dezembro de 2008, o Conselho Nacional dos Centros de Vida Inde-pendente (CVI-Brasil) e a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down entraram com processo no Supremo Tribunal Federal (STF) cobrando o cumprimento da norma expedida pelo Minicom em 2006. As entidades alegam que o ministério tem agido ilegalmente ao prorrogar o prazo de cumprimento da implantação da audiodescrição, pois o adiamento feriria preceitos constitucionais, como o direito dos cidadãos à informação.

Meio artístico dá uma força

Sob o mote “Você sabe o que é a Audiodescrição? Feche os olhos e veja.”, foram gravadas, em 2008, no Teatro Raul Cortez, em São Paulo peças publicitárias da Campa-nha Nacional pela Audiodescrição.

Participaram a atriz Lucélia Santos, o VJ Cazé Peçanha e o audiodescritor idealizador da campanha Rodrigo Campos, da Midiace. Também Reynaldo Gianecchini e Camila Morgado gravaram depoimentos.

A campanha consta de um vídeo explicativo para ser apresentado em encontros e conferen-cias, e o segundo é dirigido a salas de cinema, televisão e teatro.

linkswww.mc.gov.brwww.blogdaaudiodescricao.blogspot.comwww.midiace.com.brwww.adeva.org.br

Deficientes visuais no Theatro São Pedro, na apresentação da peça O Barbeiro de Sevilha com audiodescrição, uma parceria da Vivo com o Governo do Estado de São Paulo

Anna Maria Cotrim ( à esqueda) e Jumara Andrade Bienias, alunas do curso de audiodescrição, com

Markiano Charan no Carnadeva, com audiodescrição do desfile de fantasias

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Acertar os ponteiros do gasto e do consumo é a chave para o equilíbrio financeiro e a sustentabilidade do planeta

Heloisa Moraes

Oh, dívida cruel!economia

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• Gastos variáveis - luz, água, ce-lular, transporte etc. Faça uma estimativa da soma dessas con-tas mensais que podem ter valo-res diferentes

• Gastos arbitrários – cinema, roupas, viagens, restaurantes, entre outras coisas que não são mensais

subtraindo o valor total dos gastos do valor da receita, chega-se ao orçamento doméstico. o ideal desse cálculo é sobrar algum dinheiro – assim é possível poupar e realizar algo a médio/longo prazo. se o saldo for zero ou negativo, é preciso anali-sar se o gasto maior que o salário recebido aconteceu devido a necessidade por algum contratempo, doença, ou puro descontrole. com isso, será possível fazer uma lista de

ações para reduzir o consumo a fim de re-verter esta situação. É importante lembrar que uma família ou uma pessoa não pode gastar mais do que ganha – esse é o atalho para contrair dívidas e pagar juros altos.

2) cuidado com os parcelamentos, que geralmente trazem juros eleva-dos. o pagamento a vista permite a negociação de descontos e ainda beneficia o lojista, que recebe o di-nheiro de uma só vez.

3) Faça listas - para o mercado, para o shopping, para a feira. assim se evita comprar o que não precisa mesmo que esteja em promoção. aproveitar uma liquidação, só se for de algo que real-mente precisa e vê uma oportunidade de pagar menos.

E ntra ano, sai ano, mudam esti-lo, carro, perspectivas e projetos – mas as contas nunca falham.

como já dizia a música, dinheiro na mão é vendaval. mas será que precisa ser as-sim mesmo?

segundo a consultora de finanças pessoais elaine toledo, não. Para ela, a maneira mais simples de identificar e reduzir o consumo esporádico é pergun-tar-se antes da compra o quanto aquilo é necessário naquele momento. “esta per-gunta trará o lado razão presente para tomar a decisão correta.”

Planejar a vida econômico-financeira com cautela se tornou essencial – so-bretudo agora, com a previsão de juros maiores em 2010, segundo uma pes-quisa da associação nacional dos exe-cutivos de Finanças (anefac). Quem tem filhos ainda vê a lista do material escolar crescer em relação ao ano que se passou. “anualmente, antes de comprar qualquer material, verifico se há neces-sidade de adquirir algo novo. se tenho lápis, canetinhas, borrachas, para que comprar caixas novas?”, conta a assesso-ra de imprensa claudia santos, mãe de Gabriel e laura, de 12 e 7 anos. Para ela, o consumo consciente vem ainda antes da economia que é, claro, sempre bem-vinda. “tento mostrar para as crianças que, se eles têm esses materiais, não há necessidade de se comprar outros sim-plesmente porque são novos. o apelo comercial dos produtos é grande, mas acho que temos de ter em mente que só devemos consumir o que é preciso e não simplesmente por consumir”.

com a orientação correta, é possível sim cortar gastos desnecessários, se li-vrar das dívidas e até conseguir separar parte dos rendimentos para aplicação. confira abaixo as dicas(*) para manter as contas em dia e descubra também formas de economizar nas compras do material para a criançada.

1) Organizar o dinheiro é o básico e o mais importante. um jeito fácil de controlá-lo é anotando as obrigações mensais. nisso incluem-se:

• Gastos fixos - condomínio, esco-la, convênio médico, empregada doméstica, dentre outras contas com o mesmo valor mensal

Para Elaine, a pergunta básica a ser respondida no consumo consciente é: o quanto é necessário, naquele momento, o que vou comprar?

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economia

4) evite desperdícios de água e energia elétrica, fale menos ao telefone para reduzir a conta mensal, reduza o paco-te da tV a cabo para o que realmente assiste. afinal, como afirmou o filó-sofo sêneca, “o desnecessário é caro mesmo por um tostão”.

5) Poupe quando for comprar algo acima de sua capacidade financeira. Quanto maior a entrada oferecida em um bem, menor é a probabilidade de juros al-tos. a recompensa futura é sempre motivadora.

6) Planeje de um modo especial o paga-mento do iPVa. se o pagamento acon-tecer fora do prazo, haverá uma multa de 0,3% por dia de atraso sobre o va-lor do imposto ou da parcela, quando o pagamento ocorrer até o 30º dia. a partir do 31º dia, o valor da multa é de 20% mais juros calculados de acordo com a taxa selic.

7) controle o uso do cheque especial, que normalmente cobra taxas de 10% ao mês.

8) troque dívidas mais caras por finan-ciamentos menos pesados. exemplo: tome um empréstimo consignado com taxa de 3% ao mês (ou menos) para pa-gar uma dívida que cobrar juros men-sais de 10%.

9) Analise a lista de material e veja se todos os itens solicitados devem re-almente ser comprados. na maioria das vezes é possível usar os do ano anterior ou, no caso de livros, conse-guir emprestado de uma biblioteca da escola ou cidade.

10) Envolva as crianças no processo da compra. além de mostrar-lhes os prós e contras de cada opção (como a perso-nalização de materiais simples em vez de comprar estes itens já estampados com personagens de tV, por exemplo),

esta atitude ajuda a construir uma re-lação positiva com o consumo desde cedo e ensina a avaliar qualidade, valor, necessidade e impacto sobre o planeta.

11) Pesquise preços. Geralmente eles variam muito dependendo da região e podem ser negociados dependendo da quantidade adquirida. nesse caso, pode-se até mesmo programar uma compra conjunta com outros respon-sáveis pela compra escolar.

12) Prefira, sempre que possível, materiais sustentáveis. Já é possível encontrar, por exemplo, lápis com o selo Fsc, que indica que aquele produto foi feito com madeira de manejo sustentável (tanto de mata nativa como de reflorestamen-to). isso demonstra o cumprimento da legislação ambiental e a trabalhista e não contribui com o desmatamento ilegal.

* com informações do instituto akatu

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A s expressões regionais usadas em todo o país são um sinal revela-dor de nossa diversidade cultural.

Quando se viaja pelo Brasil, é curioso notar a marcante variação dos falares em cada es-tado, e mesmo em cada cidade. me arriscaria a dizer que a maior riqueza de nossa língua latina e tropical repousa nessa capacidade absoluta de se manter sempre una em meio a todas as variantes locais. a perfeita unida-de na diversidade tem seus mistérios... (e, às vezes, prega uns sustos na gente). É, sem dú-vida nenhuma, uma coisa admirável.

não chega a ser uma decepção, mas, quando a gente viaja para o rio Grande do sul, espera ouvir todo mundo por lá dizendo um “tchê!” bem cantado no final de cada fra-se. só que na prática não é bem assim. em Pelotas, pelo menos, como pude constatar (e tanto quanto posso recordar de memória), ninguém diz “tchê!” – fiquei meio desconser-tado com isso. lá a interjeição mais natural, que todo mundo carrega na ponta da língua, é “bah!”, que dizem ser uma abreviação de “bar-baridade!” (se non è vero è bene trovato...). ouve-se “bah!” em profusão. É “bah!” daqui, “bah!” dali, “bah!” de lá, a toda hora, em qual-quer lugar. e a gente até que se acostuma fácil, pois a melodia da fala em toda parte é de uma simpatia cativante aos ouvidos alienígenas habituados ao fraseado árido, um tanto sem ginga, quase antimusical, da gente apressa-da de são Paulo (sei que estou sendo severo demais com a prosódia paulista, mas regis-tro que isso foi mais ou menos o que pensei enquanto estava por lá, em Pelotas; depois, esse sentimento ríspido contra meu próprio sotaque tinha que passar... graças a Deus!). mas, voltando ao que eu dizia, claro que é só na cabeça de um paulista ignorante em maté-ria de regionalismos como eu que a expressão monossilábica mais autêntica do gauchismo tinha que ser sempre “tchê!”. Pois não tem. muito embora, acredito que se o analista de Bagé, cidade relativamente próxima de Pelo-tas, fosse perguntado a respeito e se dignasse a dar sua opinião sobre o caso, talvez respon-desse, bem ao estilo de sua psicologia orto-

ouve, só supõe que não entendeu direito o “de nada” de praxe após o “obrigado” ordi-nário com que está acostumado. mas daí a gente começa a ficar meio esperto, redobra a atenção e afia os ouvidos antes de agradecer qualquer coisa. É bem verdade que então, às vezes, a gente tem a expectativa frustrada e também ouve um simples e corriqueiro “de nada”. mas dá para notar que a expressão tradicional da terra mesmo é o “merece”, que sem dúvida nenhuma soa muito espontânea. Desconfio que quando o cidadão pelotense responde “de nada”, é por pura demonstra-ção de tolerância e boa vontade para com o turista nacional pouco versado em regiona-lismos. seja como for, “merece” me pareceu uma expressão de cunho muito mais delica-do e afetivo do que o – de agora em diante para mim – meio frio e pragmático demais “de nada” do resto do país. responder “de nada”, se a gente para e pensa um pouco, nem é lá tão educado, porque, afinal, pode querer dizer que a pessoa só fez o que fez por nós porque, de todo modo, não lhe custava nada mesmo. agora, responder “merece” já livra a expressão de qualquer ambiguidade potencial de desprezo ou pouco-caso. se, ao que a gente agradece, a pessoa diz “mere-ce” (e entenda-se que o sujeito do verbo aí é aquele que acaba de dizer “obrigado”), ela afirma com isso sua confiança a priori no ca-ráter do seu interlocutor. É no mínimo sim-pático, pois eleva, a título de pura regra de civilidade, a autoestima do próximo (ainda que este tenha um sotaque meio estranho), o qual (o próximo, não o sotaque), nunca se sabe, pode estar precisando...

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas

junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr,

credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da

mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa

LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.E-mail: [email protected]

riqueza diversa

Márcio Thamos

Expressões de uma

doxa, “radicalmente freudiana”: “esse negócio de Bach tinha mesmo é que ser frescura de pelotense. Por lá todo mundo se acha erudito, tchê!” (um comentário a tempo: como já disse o próprio luís Fernando Veríssimo, essas his-tórias do analista de Bagé são provavelmente apócrifas, e como diria o próprio psicanalista de Bagé, segundo o próprio Veríssimo, histó-ria apócrifa é uma mentira bem-educada...).

caminhando pela cidade (aliás, deve-se sempre dizer, a bela cidade de Pelotas!), o frio gostoso que faz em meados de setembro lá na ponta sul do Brasil desperta a vontade de to-mar um café e talvez comer um doce (o café, para dizer a verdade, em geral é bem aguado para o gosto de um paulista, mas os doces sem-pre compensam em muito o aguado do cafezi-nho). então, a gente entra numa cafeteria, sen-ta, pede o que deseja e na saída acerta a conta. ao perguntar “quanto é?”, ouve uma resposta como “dois com setenta”, “dez com quarenta” ou “seis com vinte”. Demora um pouco para se acostumar, mas a gente logo entende que dá na mesma – um “com” pode bem valer um “e” – e paga, sem hesitar, dois e setenta, dez e quarenta ou seis e vinte (usando sempre as mesmas notas e moedas de real).

outra expressão marcante que se ouve pelas ruas de Pelotas (que eu também não sei se é só lá que é usada) é “merece”. a gen-te... (eu ia dizer “você”, mas falando do sul fico meio constrangido; por outro lado, não me sinto à vontade para usar o “tu”), a gente para alguém na rua e pede uma informação, agradece e então ouve: “merece”, naquela melodia típica da prosódia gaúcha, cuja cha-ve, se não me falha a percepção musical, é o recurso de elevar bem o tom da sílaba tô-nica, destacando-a nitidamente das átonas, além de pronunciar a palavra com clareza até o final, tomando um certo cuidado para não engolir a última sílaba e não confundir “e” com “i” nem “l” com “u” (coisa absolutamente impossível para qualquer paulista de nascen-ça). a gente entra num café ou numa loja, é atendido (aliás, diga-se de passagem, muito bem atendido), agradece e então ouve: “me-rece”. Quer dizer, no começo a gente não

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C ulturas milenares, como as das populações autóctones das amé-ricas, nos legaram saberes, acu-

mulados através da observação atenta de seus entornos e de uma convivência harmoniosa com o mesmo.

as civilizações pré-colombianas, as-tecas, maias, incas, por exemplo, tinham conhecimento acurado sobre o manejo das

águas; ficaram mesmo conhecidas como “sociedades hidráulicas”.

os maias possuíam habilidade hi-dráulica, como observamos nas ruínas de canais e viadutos, e na construção de cisternas para captação de água da chu-va que datam do período compreendido entre o século 1000 a.c. e o ano 300 d.c. nas regiões onde viveram existem ain-

da os cenotes, grandes reservatórios de água, na entrada de cavernas, onde se faziam rituais propiciatórios.

os primeiros habitantes do atual mé-xico D.c., os mexicas, fundaram, em 300 a.c., a cidade de tenochtitlán sobre uma pequena ilha situada na parte oeste do lago texcoco, erguendo vários diques que lhes permitiram controlar o nível das águas

Os saberes tradicionais dos povos autóctones

e o meio ambiente

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do lago evitando inundações e, também, obter água para consumo. criaram ainda um sistema de ilhas e canais artificiais em redor da ilha central, as chamadas chi-nampas que lhes permitiam fazer cultivos e auxiliar no controle das enchentes. na região de Xochimilco ainda existem canais facilitando o transporte de verduras, legu-mes, frutas para o centro comercial.

mais próximos e repondo, no processo, os estoques de seres humanos, das al-mas e dos seres e recursos “naturais”. (1)

analisando as narrativas míticas guaranis encontramos as formulações que mantêm a dinâmica grupal, e ex-plicam a vida, cuja origem é divina e envolve todos os seres vivos animais e vegetais; a natureza é sacralizada pois há uma simbiose entre plantas, água, terra, animais, seres humanos. estamos diante de uma consciência mítica que surge de uma visão do homem integra-do na natureza.

a valorização desses saberes deveria constituir o ponto de partida para a for-mulação de políticas públicas ambientais, se realmente, aceitamos a diversidade cul-tura existente no Brasil.

nota bibliográfica

(1) GoDoY,m.G.G. a concepção da nature-za entre os Guarani mbya e sua inserção na área de proteção ambiental(aPa) ca-pivari-monos in revista arte e cultura da américa latina,são Paulo,vol.XX, 2/2008, issn 0103-8508

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade

de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre

Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros.

no Peru, os incas construíram ma-chu-Pichu, que surpreende os visitantes com o sistema de distribuição de água em todos os ambientes onde existiam as moradias dos membros da corte in-caica, bem como pela agricultura irri-gada utilizando curvas de nível para o plantio nas montanhas.

em nosso país, o estudo de nossos povos autóctones aponta para a enorme riqueza de conhecimento relativo ao seu ambiente, acumulado durante séculos. Para essas sociedades tradicionais o ser humano e a natureza vivem em recipro-cidade, num sistema extremamente de-licado de equilíbrio entre os humanos e os demais habitantes do cosmos.

atualmente, são cerca de 220 etnias, falando 170 línguas, sendo um precio-so patrimônio material e imaterial de nosso país; deveríamos ter um contato maior com suas sabedorias e formas de manejo de seu meio ecossistêmico, suas formas de lidar com seus biomas (flo-resta amazônica, cerrado, mata atlân-tica...) e de sua sustentabilidade para conseguirem a sobrevivência.

contudo, em nosso país, em especial no estado de são Paulo, a ação de políticas públicas em terras indígenas tem sido mo-tivo de críticas pela forma pela qual têm sido conduzidas, pois não respeitam os valores indígenas.

a antropóloga marília Godoy escre-ve sobre a inserção dos Guarani mbya na aPa capivari – monos e afirma: define-se uma visão dominada pelas relações de troca regidas pela razão do lucro e pelo individualismo que se opõem à visão de troca nas sociedades indígenas; para tais comunidades, esclarece a autora: sus-tentar-se significa manter equilíbrio das trocas com o mundo natural (e sobrena-tural) visando a segurança dos parentes

Os saberes tradicionais dos povos autóctones

Dilma de Melo Silva

e o meio ambiente

Machu-Pichu, no Peru: o local é, provavelmente, o símbolo

mais típico do Império Inca

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Filmes como Avatar provam que é possível refletir sobre os problemas socioambientais sem cair no bocejoPor Heloisa Moraes

Cultura & Lazer

O que acontece quando se mistura romance, ficção, mensagens eco-lógicas e cenários de tirar o fôle-

go? a resposta todo mundo sabe. avatar, que segue na liderança das indicações de melhor filme para o oscar 2010, mexeu com os alicerces do mundo inteiro por uma série de motivos. alguns alegam que o enredo é ingênuo, previsível e infantil e conta principalmente com a grande ajuda de uma propaganda benfeita. outros de-fendem a genial criação de mundo, raça e cultura completamente nova, além do ape-lo sustentável e da mensagem socialmen-te correta que parecem reforçar o lembrete de uma realidade na qual nós, humanos, andamos meio desesperados em busca de uma solução planetária. apesar da di-vergência de opiniões, todos admitem a beleza surreal proporcionada pela tecno-logia de ponta, desenvolvida especialmen-te para o filme, e os assustadores us$ 2 bilhões de bilheteria mundial, alcançados apenas 46 dias após a estreia (18 de de-zembro de 2009).

a cifra, que corresponderia à maior bilheteria da história se não fossem consi-derados os reajustes inflacionários, é uma resposta do argumento consistente em que a fórmula “algo valioso + líder ganancioso + civilização invasora = guerra”, bem co-nhecida no mundo inteiro, apenas muda de lugar. a iminente e necessária harmonia

com o meio ambiente, pregada por povos indígenas desde o início dos tempos, é a versão nova de uma velha história que todo mundo já conhece. em avatar não é dife-rente. Quando humanos descobrem a exis-tência de um minério valiosíssimo em Pan-dora, uma das luas de um gigante gasoso fictício que orbita alpha centauri, a terceira estrela mais brilhante do céu vista a olho nu, cientistas, pesquisadores, mercenários e robôs se dirigem ao planeta para começar a exploração que possibilitará a sobrevivên-cia da terra, cujos recursos naturais foram esgotados em 2154, ano em que a ação dra-mática é ambientada. no entanto, o povo nativo na’vi não pretende sair do local de onde vive, que considera sagrado, para dei-xá-lo à mercê da destruição humana. Para tanto, corpos geneticamente modificados de humanos e na’vis, conhecidos como avatares, são remotamente controlados para facilitar a interação com o meio am-biente (constituído de diferentes espécies animais e vegetais, além de gases tóxicos aos humanos) e a infiltração na tribo nati-va, que revelará detalhes importantes para aqueles interessados apenas na exploração dos recursos locais.

o diretor James cameron afirmou ao jornal telegraph que avatar se trata de “uma ampla metáfora, nem tanto sobre política, como muitos poderiam supor, mas sobre como tratamos a natureza”.

É eco

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e não é chatoDe fato, a mensagem pacifista-ecológica ecoa o mito do bom selvagem de rous-seau, que afirmava que os problemas do homem decorriam dos males que a socie-dade havia criado e que não existiam no estado selvagem. o enredo, que reúne o romance conquistador de titanic (1997), o choque de civilizações de aliens: o resga-te (1986) e as máquinas ciborgues de ter-minator (1984), todos filmes dirigidos por cameron, tem tudo para ficar ainda mais complexo e profundo em futuras sequên-cias. “Faz sentido pensar o filme como o potencial início de uma saga, com outros filmes mostrando episódios desta grande história”, declarou ao site collider.

avatar nos mostra uma realidade que só na ficção poderia existir. será verda-de? levando em conta a premissa de que o ser humano é a espécie que se adapta com mais facilidade, é curioso e um tan-to contraditório perceber o desinteresse de mudar velhos hábitos. a necessida-de do trabalho de formiga no qual cada um faz a sua parte existe, mas mais que isso, é preciso refletir e aplicar conhe-cimentos e ideias que possam, de fato, fazer a diferença – e não guardá-las de-baixo da cama. Para isso, inspiração não falta. acompanhe abaixo uma seleção de filmes e documentários que despertam uma consciência mais socialmente justa e ecologicamente correta.

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Wall-e

o ganhador do oscar 2009 de melhor animação conta a história de um robô pro-cessador de lixo deixado para trás pela humanidade, que viaja por tempo inde-terminado no espaço. Durante 700 anos, Wall-e (acrônimo para “Waste allocation load lifters - earth-class”, em português, “levantadores de carga para alocação de lixo - classe terra”) foi o único responsá-vel pela limpeza de um mundo soterrado pelo lixo – já que todos os outros robôs não resistiram às condições inóspitas e acabaram deixando de funcionar.

a graça fica por conta da consciência e da personalidade que Wall-e adquire nesse período, o que o faz colecionar ob-jetos, fazer amizade com uma barata e até se apaixonar pela robô eVa (examinadora de Vegetação alienígena), que passa pela terra à procura de exemplares vegetais vivos. isso significaria que a vida no plane-ta é novamente possível e os humanos já podem voltar.

a história de amor e os diálogos escas-sos cativam quem assiste e relembra a ne-cessidade de enfrentar o problema, e não acumulá-lo em pilhas de lixo.

eua, 2008 / 98 min

É ecoe não é chato

Enredo ingênuo, previsível e infantil de Avatar é compensado pelo apelo

sustentável e mensagem socialmente correta

2012: filme catrástrofe se mantém otimista até o final

Para Wall-e, robô de personalidade, nova vida na Terra é possível

2012

Geólogos, pesquisadores e especialis-tas descobrem que a atividade incomum de erupções solares começa a esquentar rapi-damente o núcleo da terra, como um ver-dadeiro micro-ondas gigante. uma série de desastres naturais é desencadeada e coincide com referências à cultura maia e à data final do calendário de contagem longa mesoa-mericano, que possui ciclos de 5.125 anos e encerra-se no dia 21 ou 23 de dezembro de 2012. o mais desesperador, no entanto, é a constatação de que os governos do planeta não estão preparados para isso. Políticos im-portantes passam a comprar entradas de us$ 1 bilhão para as arcas construídas, destina-das a salvar uma parte da população de terre-motos, megatsunamis e vulcões ativos, que provocam o deslocamento da crosta terrestre e a inversão dos polos magnéticos.

a destruição da civilização humana é assustadora e se resume na frase proferida pelo presidente dos estados unidos no iní-cio do filme: “o mundo como conhecemos está para mudar dramaticamente em breve”. os efeitos especiais que aumentam as pro-porções catastróficas chocam, mas o filme-catástrofe se mantém otimista até o final.

eua, 2009 / 158 min

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Cultura & Lazer

O dia em que a terra parou

a readaptação do filme de 1951, diri-gido por robert Wise, foi causa e conse- quência da mudança do cerne da história: o que ameaça o planeta, agora, não é mais a corrida armamentista, e sim os danos que a humanidade causou no meio ambiente.

em meio ao caos provocado pela che-gada de esferas alienígenas, uma cientista tenta se aproximar de Klaatu, o alien em forma de homem, para entender o moti-vo de estarem aqui.

a ideia de que o planeta terra não é nosso e que uma civilização evolui ape-nas quando está próxima da destruição são os pontos principais do filme, que se mantém otimista e crente à capacidade humana de mudar.

eua, 2008 / 103 min

A Última Hora (The 11th Hour)

narrado e produzido por leonardo Dicaprio, o documentário contou com a colaboração de mais de 50 políticos, cien-tistas e líderes mundiais, dentre eles o físico stephen hawking, o líder soviético mikhail Gorbatchev e a ativista Wangari maathai para discutir sobre aquecimento global, desmatamento, entre outros temas que preocupam o mundo inteiro.

além de propor soluções para estes problemas por meio da tecnologia, res-ponsabilidade social e conservação, o fil-me também defende que o aquecimento global, uma das questões mais importan-tes de toda a humanidade, deve conscien-tizar e mobilizar as pessoas para lutar por um futuro sustentável. através de um belo mosaico de imagens, gráficos e tri-lha sonora, o filme foca na importância do último momento, no qual acontece a mudança, e torna impossível deixar a sala de cinema ou de casa impassível perante o destino do planeta.

eua, 2007 / 95 min

Uma verdade inconveniente

o documentário produzido e narrado pelo ex-vice-presidente dos estados uni-dos al Gore é essencialmente uma versão em película da apresentação de slides que vem exibindo desde 1978 sobre a siste-mática destruição do meio ambiente por conta do aquecimento global.

o filme não tem intenção de tornar os fatos mais confortáveis, mas justa-mente o de conscientizar de que nossas ações podem sim acabar com o plane-ta em pouco tempo e de alertar sobre comportamentos. seu conteúdo desper-ta o senso de urgência de que governos, empresas e pessoas precisam mudar hábitos e padrões para que a terra seja poupada. e nós também.

eua, 2006 / 100 min

O dia depois de amanhã

entre cenários apocalípticos e pós-apocalípticos, roland emmerich nos dá um show de efeitos especiais e cenários cataclísmicos - consequências claras do efeito estufa e do derretimento das ca-lotas polares. apesar da previsão de que isso se refletiria no mundo séculos mais tarde, a corrente marítima norte-atlân-tica se altera e começa a resfriar dras-ticamente países do hemisfério norte. com a aproximação de uma era glacial, milhões de sobreviventes começam a ru-mar para o sul.

nesse meio tempo, um pai atraves-sa o país para buscar o filho, preso em uma nova York já congelada. o enre-do, embora pareça girar especialmente em torno da catástrofe e do ufanismo americano, choca pela destruição e principalmente pela grande probabili-dade de ser um processo que já está acontecendo, uma verdadeira bomba-relógio climática.

eua, 2004 / 124 min

Avatar, ambientado em 2154, ‘é uma ampla metáfora sobre como tratamos a natureza’;

diretor Cameron acena com sequências

”“

O dia em que a terra parou: otimista, apesar de tudo

Uma verdade inconveniente: a sistemática destruição do meio ambiente

O dia depois de amanhã: bomba-relógio climática

Não há como ficar impassível depois de assistir ao A Última Hora

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neo mondo - setembro 2008 A

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neo mondo - outubro 2008A