Nem tanto, nem tão pouco - reflexões em educação socioambiental

84
nem tanto, nem tão pouco algumas reflexões em educação socioambiental FRANCISCO ANTONIO ROMANELLI Varginha, MG – 2007 O presente trabalho constitui-se de pequenos artigos originalmente publicados entre os anos de 2004 e 2006 em colunas periódicas dos jornais Jornal do Sul de Minas e Correio do Sul, com circulação na região do Sul de Minas Gerais, e em outras publicações esparsas de diversas localidades.

description

Coletânea de pequenos artigos voltados para o desenvolvimento de melhor consciência socioambiental e publicados em periódicos entre 2004 e 2006.

Transcript of Nem tanto, nem tão pouco - reflexões em educação socioambiental

Page 1: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

nem tanto,

nem tão

pouco algumas reflexões em educação socioambiental

FRANCISCO ANTONIO ROMANELLI

Varginha, MG – 2007

O presente trabalho constitui-se de pequenos

artigos originalmente publicados entre os anos de

2004 e 2006 em colunas periódicas dos jornais Jornal

do Sul de Minas e Correio do Sul, com circulação na

região do Sul de Minas Gerais, e em outras

publicações esparsas de diversas localidades.

Page 2: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

À guisa de apresentação

os que tiverem acesso a este trabalho, ou partes dele,

confiamos a tarefa de bem aproveitá-lo.

Como?

Inicialmente, reconhecendo que todos nós precisamos

melhorar nossas consciências ambientais: todos degradamos,

todos somos responsáveis pela redução da qualidade ambiental

do planeta e, por isso, sempre temos campo para aprimorar

nossa consciência ambiental e social, em busca de um mundo

melhor, mais justo, mais bonito, mais limpo, com mais saúde e

com melhor qualidade de vida.

Devemos isso ao nosso planeta, a nossos semelhantes, a nós

mesmos e, principalmente, a nossos descendentes. Nossos filhos

não deveriam ser onerados com a responsabilidade de

consertar aquilo que estragamos. Nem deveriam sofrer, na

saúde e na vida, as nefastas consequências de nossa

inconsequência.

Aprimorar a consciência é essencial. Mas não é tudo. O leitor

bem intencionado deverá aconselhar-se com sua consciência

ampliada e fazer coisas práticas. Melhorar efetivamente o

mundo que o rodeia, o mundo que é parte do universo a seu

redor e sobre o qual tem influência. Qualquer pequena ação

será sempre enorme, quando somada a inúmeras outras

pequenas ações.

Por fim, a cada um de nós sempre cabe a missão de

retransmitir, paciente e dedicadamente, a todos a quem

pudermos, nossa ansiedade pela cura do ambiente planetário; a

cessação da degradação e o início da recuperação. Somos

todos educadores e dessa tarefa missionária não devemos nos

apartar em nenhum instante de nossa existência.

A

Page 3: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

NEM TANTO, NEM TÃO POUCO

xistiria uma medida exata em que fosse possível avaliar o

grau de consciência ecológica de cada indivíduo?

Estamos todos em um mesmo barco, ou uma mesma nave,

como queiram (ou em um lindo balão azul), viajando pelos

confins do espaço, na periferia de uma galáxia que nós

denominamos de Via Láctea. Sim. Somos punks da periferia. Algo

como estar morando em um bairro que ficasse a dois ou três

quilômetros do centro da cidade. Quando olhamos para o azul

noturno estrelado e aveludado do céu (isso onde não há

excesso de poluentes que ofusquem a visão), e vemos aquele

caminho conhecido como via láctea, estamos, nem mais nem

menos, que olhando as luzes do centro da "cidade", ou melhor,

da galáxia.

Somos, portanto, algo como um cidadão classe média do

espaço, que mora nos arredores do centro movimentado e

nervoso da cidade. Somos pouco importantes, em termos

astronômicos. Nossa estrela, uma estrela média, sem

características de grande importância, perdida dentre as

prováveis outras duzentos milhões de estrelas da galáxia. Não

bastasse isso, nossa galáxia se perde em seu próprio grupo local

de galáxias e nosso grupo local se perde nas estimadas duzentos

milhões de grupos. Enfim, olhar para o centro da cidade, para o

brilho das estrelas mais distantes - e todas as visíveis a olho nu

estão dentro da galáxia - é olhar para o infinito.

E o que isso tem a ver com o grau de consciência ecológica

do indivíduo? Muito. Se soubéssemos o quão frágil e pequeno é

nosso sistema planetário, a rede que abarca a vida e todos os

sistemas vivos, teríamos mais cuidado com esse pequeno ponto

azul esquecido em uma via secundária de uma periferia

distante, em uma galáxia perdida, onde, para o macro, somos

quimeras e poeira. Uma existência sem ser percebida, um

sistema que desaparece na distração do imenso colosso de

construções estelares que compõem a galáxia. Idem, para a

nossa galáxia em meio às demais. Idem, para o ser humano em

uma visão planetária...

Não somos tanto, mas também nem pouco. Partimos do

princípio que somos dotados da maior riqueza que se pode

imaginar no universo. A vida. E dentro de um quadro de

tamanha fragilidade, essa vida precisa e merece ser cuidada e

preservada. Conscientizar-se ecologicamente é perceber a

importância desse quase nada que merece quase tudo; é

batalhar pela sua permanência e persistência na vastidão do

espaço. Ao infinito e além, sempre. Conhecer problemas sociais,

E

Page 4: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

econômicos, ambientais é uma coisa. Estar consciente o risco

que esses problemas representam ao nosso precioso tesouro, a

vida, é outra conversa...

Os números, os dados, as estatísticas não mentem. Somos a

maior das causas de destruição em massa da vida no planeta.

Estamos reduzindo nossa biodiversidade a uma acelerada

velocidade que pode estar chegando a duas ou três espécies

extintas por hora. Nem mesmo a famosa catástrofe cósmica

representada pela possível queda de um asteroide ou de um

cometa nas costas do México e que provocou a extinção da

dinastia sáuria no planeta se equipara à nossa força de

destruição. Vamos nos conscientizar de que se não somos tão

pouco, também não somos tanto a ponto de se arvorar na

espécie que pode subjugar, dominar e destruir as demais. Tarde

demais, aprenderemos que a extinção das espécies por nós

gerenciada será a nossa própria extinção.

Page 5: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

ÁGUA, O TESOURO QUE VASA PELO RALO

im, quando se trata de recursos naturais, o Brasil é o grande

vencedor. Medalha de ouro em quantidade de água

(cerca de 13% da água potável disponível no planeta), em

biodiversidade (quase 20% das espécies vivas), em florestas

(cerca de 60% da maior floresta tropical úmida, a Amazônica).

Mas, na direção oposta, somos também grandes competidores:

alto índice de desmatamento (a Mata Atlântica está reduzida a

míseros 5 ou 6% da área original – tendo como parâmetro o

descobrimento oficial, 1500 -, a floresta Amazônica está sofrendo

um desmatamento equivalente a uns três mil metros quadrados

por hora), poluição atmosférica crescente (milhares de

toneladas de carbono originárias das queimadas, dos motores a

combustíveis fósseis, das fábricas) etc.

Fixemo-nos, por ora, no enorme desperdício da água. A

metade da água distribuída é desperdiçada, quantidade que

daria para abastecer ao mesmo tempo a França, Bélgica, Suíça,

Norte da Itália e Holanda, conforme atesta o teólogo, filósofo e

ecologista Leonardo Boff. Ressalta, ainda, que, para que seja

produzido um quilo de carne bovina, são gastos 15 mil litros de

água; um quilo de vegetais, mil e 300 litros. Um ovo nos custaria

mais de mil litros.

Apenas 3% da água existente no planeta são potáveis e

somente 0,75% está acessível para consumo humano e utilização

agrícola e industrial. A maior parte, cerca de 70%, vai para a

irrigação e produção agrícola e para a agroindústria. As

indústrias utilizam a média de 20% e 10% são utilizados nas casas.

O maior desperdício vem na má utilização, distribuição irregular

e poluição da água urbana e industrial. As construções e vias

impermeabilizam o solo, cerca de ¼ parte da água tratada e

distribuída se perde em vazamentos, entre o fornecedor e as

torneiras do consumidor. A destruição da cobertura vegetal,

principalmente a eliminação das matas de topo, alteram

radicalmente a distribuição dos reservatórios. A falta das matas

ciliares permite que as águas escoem em velocidade

inconveniente para os cursos principais, provocando

assoreamentos e não raramente enchentes no período de

chuvas e escassez no período de secas.

O excesso de agrotóxico utilizado nas lavouras, além de

contaminar lençóis freáticos, escoa com rapidez, água abaixo,

contaminando cursos de água. Idem, no que se refere ao lixo

irregularmente atirado no ambiente. As queimadas ressecam e

S

Page 6: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

aquecem em demasia o ar, alterando os ciclos dos ventos e das

chuvas. As consequências: desertificação, tempestades tropicais

e extratropicais anômalas, secas em um dos pratos da balança,

com temperaturas extremamente altas, e esfriamento em outro,

com tempestades de neve, inundações etc. etc.

Hoje, perto de 70% das internações hospitalares e doenças

tratadas têm origem em veiculações hídricas, ou seja, vêm da

água ou de sua carência. Mais de 2 bilhões de humanos, dos 6

que habitam o planeta, padecem pela falta ou má qualidade

da água, segundo dados da ONU, que também adverte que

essa proporção crescerá, em menos de vinte e cinco anos, para

2/3 do contingente populacional.

A água, também segundo dados da ONU, mata, pela má

qualidade, dez vezes mais que as guerras armadas. Informa que

cerca de 70 conflitos existem hoje pelo acesso a esse precioso

líquido. O grande tesouro do século atual se degrada

rapidamente. Nós estamos sofrendo as consequências da

degradação. Sofreremos cada vez mais, enquanto não

soubermos aproveitar bem tão precioso. Sem dúvida, estamos

deixando escapar pelos ralos uma riqueza inestimável. Nossos

descendentes nos cobrarão essa dívida.

Page 7: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

DE VOLTA AO MEU ACONCHEGO

e volta ao meu aconchego, depois de uns dias em

missões extra urbanas, penso no quão bom e agradável

é estar em nossa casa, nosso Lar. E faço, em meus

devaneios, uma analogia com o planeta. Se de volta de uma

viagem interestelar, encontrasse o descanso em nossa casa

global. Imagino a sensação de ver surgir na escotilha reluzente

de minha nave, na escuridão do espaço, uma pérola azul,

brilhando ao ser iluminada pela estrela mais próxima, de início

pequena, depois aumentando... aumentando... Tanto

contentamento, só no campo da imaginação. Nos devaneios

de quem se recorda que é morador de uma casa comum, o

planeta Terra.

Hoje, dia em que escrevo esta coluna, 22 de abril, é dia

internacional da Terra. Nosso planeta lar. Uma pérola azul

perdida na imensidão do espaço. Um abrigo para algo em torno

de alguns milhões de espécies de vida, inclusive para mais de 6

bilhões de indivíduos da espécie dominante, conhecida como

humana, que se arvorou em proprietária absoluta e definitiva

desse lindo balão azul. No artigo da semana passada, que não

chegou a ser publicado, pois se extraviou nas linhas complexas

da rede mundial de computadores (ah, essas tecnologias

terrestres de ponta...), refletia sobre o dia da conservação do

solo, 15 de abril, e constatava que a degradação continuou e

continua cada vez mais acelerada. Estamos corroendo nossa

mãe Terra, nosso lar, quais vorazes cupins cuja fome é insaciável.

Ki, meu imaginário amigo do imaginário planeta Og (se

existisse, estaria orbitando a estrela Tetha da Constelação de

Centauros), depois de visitar uma vez mais a Terra, para colher

materiais para sua dissertação de mestrado, volta ao seu próprio

lar, esboçando um tópico do trabalho (em hologramas de

altíssima resolução, já que a tecnologia ogniana superou, há

milênios, a necessidade de se fabricar papéis utilizando a

celulose da madeira, evitando derrubadas espetaculares e

desmatamentos formidáveis), pondera: "Há vida inteligente no

Planeta Terra? Provavelmente, sim. Pesquisas recentes,

contrariando as linhas de pensamento acadêmicas majoritárias,

demonstraram que uma das bilhares de espécies de vida

existentes no planeta, conhecida por canina, e que vive se

fazendo acompanhar e habitando junto com a espécie

dominante, conhecida como humana, tem demonstrado

manifestar uma espécie de inteligência, ainda que primária e

rude".

D

Page 8: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

A pergunta sobre a existência de vida inteligente no espaço

não é recente, mas foi retomada após alguns fatos ufológicos

da década de 50. As décadas de 60 e 70 viveram momentos de

uma fantástica revolução intelectual e de costumes. A pergunta

cada vez mais aguçou o pensamento pseudocientífico e

científico do período. Mas os olhos estavam voltados para o

espaço, para as utopias, para os sonhos, para os ideais e

ninguém se olhou. Nem se olhou no espelho. Perguntaram,

movimentos culturais e comunidades hippies, se havia

inteligência no Planeta Terra. Ninguém soube responder.

Os mesmos, hoje, desbastados de suas vastas cabeleireiras,

substituídas por calvas da idade, despidos de suas vestes floridas

e da embriaguez sonambúlica dos ideais que trajavam e que

foram substituídas por terno e gravata, se assentam nas cadeiras

do poder. São os dirigentes do mundo. Agitaram a bandeira do

"paz e amor". Hoje fabricam guerras e sugam riquezas, atos iguais

aos ancestrais, então combatidos. Mero erro conceitual. A frase

deveria ser "paz é amor"...

Page 9: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

MEIO AMBIENTE COMO INSTRUMENTO DE BEM ESTAR

SOCIAL

dequada condição ambiental propicia qualidade de

vida ao indivíduo e, consequentemente, contribui com o

bem estar social.

O bem estar social depende da sadia qualidade de vida da

população. E a sadia qualidade de vida é baseada em um meio

ambiente equilibrado e em um ideal de cidade sustentável. Isso

significa uma população que tenha acesso à saúde, ao

emprego pleno, à moradia, à educação, à segurança etc.

Os instrumentos técnicos de proteção ambiental são

disponibilizados constitucionalmente para uso do Estado como

um todo (englobados os três poderes políticos – Executivo,

Legislativo e Judiciário – e os três níveis de governo da

federação – Federal, Estadual e Municipal). São eles,

principalmente, o processo legislativo (Legislativo), a execução

das normas legais (Administração) e sua aplicação coercitiva

(Judiciário).

Da soma desse encadeamento político surge a efetividade

das normas de proteção ambiental visando o bem estar social.

Esse processo visa, primordialmente, nos agrupamentos

sociais, o saneamento básico, a disposição de resíduos sólidos e

a preservação de ambientes necessários à qualidade de vida e

à saúde da população.

Na parte de saneamento, destacam-se a qualidade das

águas, seu tratamento e distribuição, o esgotamento sanitário de

resíduos líquidos e seu tratamento para devolução aos cursos de

água etc.

Quanto aos resíduos sólidos, a maneira de coleta (coleta

seletiva, reciclagem etc.) e a deposição final dos resíduos (aterro

sanitário, aterro controlado, lixão).

A

Page 10: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Na preservação ambiental, a proteção de áreas verdes, a

educação ambiental, criação de unidades de preservação

(parques, estações ecológicas etc.), o monitoramento da

qualidade das águas, o combate às diversas formas de poluição

(incluindo a poluição do ar: queima de combustíveis fósseis,

emissões oriundas do processo fabril, queimadas etc.).

O Estado dispõe de um sistema de meio ambiente, tanto a

nível federal, como estadual e municipal. Na União, o Ministério

do Meio Ambiente, no Estado a Secretaria Estadual de Meio

Ambiente e nos municípios a Secretaria Municipal de Meio

Ambiente ou um serviço especializado e adequado às funções

de preservação ambiental.

Todos esses sistemas são assessorados por Conselhos

(CONAMA, da União, COPAM, no Estado de Minas Gerais, e

CODEMA, no Município de Varginha), que são órgãos de

elaboração da política ambiental e por autarquias ou

fundações, que são os órgãos técnicos (IBAMA – federal -, IEF,

FEAM – estaduais. O município de Varginha ainda não possui

órgão equivalente).

Através desse sistema de proteção ambiental são feitas as

análises de impacto e o licenciamento de atividades

potencialmente poluidoras, a fiscalização e a punição

administrativa dos infratores.

Todo esse sistema visa o bem estar social através do ambiente

equilibrado e que possa abrigar vida que tenha uma qualidade

ideal e seja saudável.

Page 11: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

AMAZÔNIA, SOB FOGO CERRADO

Amazônia nunca esteve tão em evidência nos meios

científicos e governamentais. Em primeiro lugar, uma

revista de circulação nacional, em fins do ano passado,

informou que o desmatamento estava diminuindo. E os que se

preocupam com aquele vasto ecossistema respiraram aliviados.

Afinal, a informação vinha de fontes possivelmente bem

credenciadas. Dois anos antes, o IPA – Instituto de Pesquisas da

Amazônia, em trabalho conjunto com o Smithonian Institution,

face iminente risco de desastre que se potencializava no projeto

governamental “Avança Brasil”, publicaram um relatório nada

confortável. Segundo suas previsões, até 2020 pelo menos 25%

da Floresta Amazônica brasileira teria desaparecido (utilizando-

se como parâmetro o ano de 1500, ano da descoberta oficial do

Brasil). Isso em uma visão otimista. Uma visão pessimista

apontava o desmatamento de cerca de 47%. Até 2000, segundo

o mesmo estudo, já haviam desaparecido 13% da imensa

floresta.

A alegria durou pouco. Quando o INPE – Instituto Nacional

de Pesquisas Espaciais, que monitora, via satélite, a degradação

amazônica, publicou seu relatório 2003 (que inclui as medições

entre agosto de 2001 a julho de 2002) o susto foi geral. De uma

devastação de cerca de 17 mil e 500 quilômetros quadrados

apurada no período anterior (agosto 2000 a julho de 2001), o

desastre saltara para 23 mil e 500 quilômetros quadrados. O

Presidente da República, assustado, pediu novas medições, que

confirmaram o quadro nada agradável. A devastação

galopante assola sem piedade a floresta.

Culpados foram apontados, ora pecuaristas, que estariam

desmatando e queimando áreas enormes para criação de

gado. Ora, agricultores, que causavam semelhante desastre

para abrir áreas de plantação, principalmente de soja.

Madeireiros abocanham um bom naco da culpa. A construção

da BR 163, que liga Cuiabá a Santarém (fruto do projeto Avança

Brasil) é outra dos muitos vilões que interpretam esse drama.

Em seguida, vieram ideias de privatização das áreas públicas

amazônicas colocando mais lenha na fogueira – digo, na mata.

O Estado de São Paulo, publicação renomada de circulação

nacional, publicou ontem – 16/8, na seção Geral (pág. A-13),

que “Pesquisadores brasileiros e americanos vão tocar fogo na

Amazônia a partir de hoje. O experimento faz parte do Projeto

Savanização, que vai estudar a dinâmica do fogo e os seus

A

Page 12: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

efeitos sobre a floresta em áreas de transição com o Cerrado, a

savana brasileira. Os pesquisadores querem saber detalhes

como a velocidade de propagação, a temperatura e a altura

das chamas de uma queimada em diferentes situações”.

Os ruralistas, bancada de produtores rurais na Câmara e no

Senado, querem que a lei seja modificada, para que apenas

20% da Amazônia brasileira possam ter o status de área de

preservação. A soja avança, a criação de gado avança, a

economia avança, a estrada, a despeito das muitas

controvérsias e brigas judiciais a respeito, também avançará. O

fogo transforma parte do território em cerrado. A floresta chorou

gotas de chuva maiores de que quaisquer outras anteriormente

anotadas pela ciência. Sem dúvida, a maior floresta tropical do

mundo, que abriga o maior volume da água do planeta, a

maior biodiversidade da Terra, está declinando, sob fogo

cerrado...

Page 13: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

OS PROPRIETÁRIOS RURAIS E A RESPONSABILIDADE

NA RECARGA HÍDRICA

assa da hora de focalizar atenção nas propriedades rurais,

como principais colhedores e receptáculos das águas. As

informações escolares sobre o “nascimento” das fontes de

água são, dentro de um padrão didático, razoáveis. O aluno

aprende que a água vem das chuvas, que vêm das nuvens, que

vêm da evaporação da água. Em níveis mais adiantados,

aprende até que grandes evaporações ocorrem nos oceanos e

que o regime dos ventos conduz grandes nuvens que deságuam

nos continentes. Pronto: o milagre da formação da água

aconteceu.

Tal quantidade de informação acadêmica poderia ser

suficiente não houvesse necessidade de otimizar o

aproveitamento dessa dádiva preciosa da natureza. Os seres

vivos são, no geral e na média, água em mais de 70% de sua

composição. Para os humanos, além do consumo direto, a água

ainda é preciosa para lazer, higiene, processos industriais etc.

Ocorre que o século XX terminou com a consciência e o

conhecimento humanos em xeque. A razão: pela forma e no

ritmo em que é utilizada, a água aproveitável está ficando cada

vez mais escassa.

A população aumenta, o consumo também e em

proporção ainda muito maior. Há sobrecarga de poluentes e

resíduos que são direcionados para o solo ou cursos de água – e

daí sempre para os reservatórios hídricos. Atividade humana

pressupõe crescimento econômico: mais produção, mais

construções, o que equivale a desmatamento, e

impermeabilização de solo; o que equivale a menos retenção

hídrica em ambiente natural.

Qual a solução imediata? “Fabricar” mais água. É possível?

Claro, mas apenas se houver esforço maciço e conjunto de

todos os órgãos de educação e preservação ambiental,

públicos ou privados, para alertar os proprietários e produtores

rurais da sua responsabilidade na captação de água e na

ampliação da recarga hídrica. Demonstrar a importância,

como preciosos instrumentos de captação e retenção da água,

das matas de topo, das barragens e poços de contenção das

chuvas, das áreas de nascentes, das matas ciliares e áreas de

reserva legal etc. Basicamente, tornar nítido que a propriedade

valiosa do futuro será aquela que possuir um melhor índice de

riquezas naturais, principalmente água.

P

Page 14: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

QUEM É O VILÃO DA NOSSA HISTÓRIA?

de junho, Dia Mundial da Ecologia está próximo. Muitas

manifestações preparadas ao redor de todo o planeta. Há

o que comemorar? Plantar mudas de árvores, participar de

encontros em escolas, falar sobre os muitos problemas e as

poucas soluções que existem... Mas vamos fazer um exame de

consciência ecológica? Reconhecer as nossas culpas? Ótimo. A

reflexão é a mãe da sabedoria. Mas, daí, até vestir a carapuça

de vilão ecológico de nossa história, ainda há muita distância.

"Você já foi ao espelho, nego? Não?! Então, vá" (*). Nós temos

medo de ir ao espelho, fitar os nossos olhos de vilões. Ser

obrigado a reconhecer nossa vilania. Porque, se assim fizer,

teremos que repensar nosso modo de vida, mudar nossa

maneira de pensar e, por acréscimo, nossa maneira de habitar o

planeta. E quebrar um paradigma é muito mais difícil que

quebrar um recorde.

Aliás, em termos de degradação ambiental, o ser humano

nem mais se surpreende, tantos os recordes quebrados. Estudos

da ONU concluíram que 60% da água potável do planeta já

foram degradadas, poluídas e contaminadas e que a

veiculação hídrica é responsável por cerca de 50% das doenças

e óbitos, matando 10 vezes mais que as guerras. A NASA já

concluiu que temos tanta poluição suspensa na atmosfera que o

planeta precisaria de cerca de 500 anos para reciclar-se. O

desmatamento da Amazônia no último ano, bateu o recorde de

mais de 25.000 k² devastados no período. Na Mata Atlântica, se

muito, restam 5 a 7% da área original. Pesquisas dão conta que

nos dias atuais, dos prováveis 30 ou 40 bilhões de espécies que

compõem a biodiversidade planetária, estamos vorazmente

extinguindo de uma a duas por hora... Houve um aquecimento

médio de 1ºC desde 1850 - e isso representou um aumento de 15

cm no nível dos oceanos, por degelo de calotas polares.

Pressupõe-se que a temperatura irá se elevar em até 10°C até o

final do século. Dá para imaginar as catástrofes que isso

representaria?

Tá bem. Sua consciência está pedindo-lhe que plante uma

muda de árvore. Faça-o. A Natureza agradecerá. Mas não

deixe de se olhar fundo nos olhos, na frente do espelho, e

questionar o percentual de vilania com que você tem tratado o

meio ambiente. Claro que você não poderá, de uma hora para

outra, deixar de degradar. Afinal, precisamos de veículos

motorizados, precisamos de minérios e madeiras, precisamos ler

e nos informar, ao custo da vida de algumas árvores. Não se

pode estancar bruscamente o crescimento. O problema social

5

Page 15: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

seria, de imediato, uma catástrofe ainda maior e mais

perniciosa. Mas vamos por passos, aos poucos. Que tal começar

a pensar na separação seletiva do lixo? Doe os materiais

recicláveis (papeis secos e limpos, latas, garrafas plásticas etc.).

Que tal começar a fiscalizar as incipientes queimadas? Não as

faça, não deixe que outros as façam. Denuncie os piromaníacos

ao CODEMA ou à Polícia Militar Ambiental. Que tal não atirar

resíduos a esmo? Que tal....?? Que tal fazer um profundo exame

de consciência na frente do espelho, no dia internacional da

ecologia?

Falta ao ser humano a humildade de reconhecer que ele, e

sua gananciosa maneira de querer, é o grande vilão da nossa

história atual. E começar, com os pequenos gestos, uma

grandiosa ação de socorro à vida humana.

(*) trecho da letra de música de Raul Seixas

Page 16: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

TERRA, UMA MÃE ESQUECIDA

ais uma vez, com a vinda do segundo domingo de

maio, comemoramos o dia das mães. Festividades.

Abraços. Risos. Choros. Presentes... Homenagens e mais

homenagens. Mensagens, cartões, flores, comerciais e notícias,

muitas notícias. A mãe nos deu luz, vida e amor; carinho,

renúncias, cuidados, ternura e alimentos. Foi quem nos gerou e

nos nutriu, física, psicológica e espiritualmente. São justas as

homenagens. Merecidas, apropriadas e apreciadas.

Mas, como é habitual, uma mãe continua esquecida e

carente das homenagens que merece: a Mãe Terra. Doa-se a

nós, como qualquer mãe faz. Está se sacrificando, exaurida,

vilipendiada, ofendida e degradada, com o risco da própria

existência, para nos manter vivos. Não foi lembrada, nem

homenageada, nem ao menos, nem por isso, pelo menos

poupada um pouco dos ataques reais que lhe são desferidos, a

golpes duros e impiedosos.

Se não lhe posso render as merecidas homenagens, nem me

comprazer daquelas que por outros filhos seriam prestadas,

mitigo minha dor de inconsciência em uma oração:

Querida Mãe,

tu, que nos geraste no amor

de tuas benditas dádivas,

que nos nutres com a vida de teu sopro e a matéria de teu

corpo;

que nos dás calor, luz, alimento;

que nos acolhes e abrigas na segurança de tua proteção,

no carinho de teu aconchego,

na confiança de tua provisão;

tu, que nos concedes todas essas graças

pela benignidade paciente e gratuita

da grande Mãe que és;

M

Page 17: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

tu, que dás arrimo

às obras da razão,

aos voos de sonhos e ideais

que em ti são concretizados;

tu, que nos sustentas e amparas

e nos conduzes com o carinho de teu amor

em nossa viagem pelo universo infinito,

perdoa-nos.

Perdoa-nos se subjugamos

e oprimimos nossos semelhantes

aviltando neles o milagre e a graça da vida que lhes

concedeste;

perdoa-nos se em troca dos alimentos que, gentil, nos ofereces,

nós devastamos as tuas riquezas,

destruímos tuas belezas

e fazemos desertos de teu solo;

perdoa-nos se pelo ar que nos concedes

como alento e vida,

nós, desastrados,

envenenamos a atmosfera

e na ganância de adquirir poder e lucro

nela depositamos elementos perniciosos a toda forma de vida;

perdoa-nos se em troca de teu abrigo e de tua proteção

nós desmatamos,

destruímos,

matamos,

ofendemos,

queimamos;

se cegamente, ferozes,

te violentamos todo o tempo,

e tantas e tão profundas chagas te provocamos;

perdoa-nos se, impiedosos, te degradamos,

arrancando com ganância, dores e danos os frutos de tuas

vísceras;

perdoa-nos se tornamos estéril e venenosa a abençoada água,

Page 18: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

que tão docemente nos concedeste para sangue de nosso

corpo

e para alimento de todos os teus rebentos;

se depositamos detritos e sujeiras e escórias

nos tapetes das habitações que em ti nos acolhem;

perdoa-nos se em troca da abundância que nos concedes,

nós fomentamos a miséria

e a degradação física e moral

dos que são mais fracos

e menos afortunados;

se lhes destruímos a dignidade,

e os humilhamos,

e os aniquilamos

pelas doenças não tratadas,

pela fome não satisfeita,

pela esperança destruída,

pela instrução sonegada;

perdoa-nos se por tantas bênçãos e dádivas

que a cada segundo nos ofereces,

em troca te devolvemos todos esses e tantos outros sofrimentos;

perdoa-nos porque era de nossa obrigação e responsabilidade

conhecer que enquanto houver um só ferimento na harmonia

da Criação,

em ti, em toda a tua extensão,

em cada um dos elementos de tua existência,

existirá a dor agoniante e o lamento angustiante

que, pelo filho,

só a mãe é capaz de sofrer.

Perdoa-nos, Mãe,

perdoa-nos, se puderes,

porque...

...nós não sabemos o que fazemos!

Page 19: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

MEIO AMBIENTE COMO INSTRUMENTO DE BEM ESTAR

SOCIAL

dequada condição ambiental propicia qualidade de

vida ao indivíduo e, consequentemente, contribui com o

bem estar social.

O bem estar social depende da sadia qualidade de vida da

população. E a sadia qualidade de vida é baseada em um meio

ambiente equilibrado e em um ideal de cidade sustentável. Isso

significa uma população que tenha acesso à saúde, ao

emprego pleno, à moradia, à educação, à segurança etc.

Os instrumentos técnicos de proteção ambiental são

disponibilizados constitucionalmente para uso do Estado como

um todo (englobados os três poderes políticos – Executivo,

Legislativo e Judiciário – e os três níveis de governo da

federação – Federal, Estadual e Municipal). São eles,

principalmente, o processo legislativo (Legislativo), a execução

das normas legais (Administração) e sua aplicação coercitiva

(Judiciário).

Da soma desse encadeamento político surge a efetividade

das normas de proteção ambiental visando o bem estar social.

Esse processo visa, primordialmente, nos agrupamentos

sociais, o saneamento básico, a disposição de resíduos sólidos e

a preservação de ambientes necessários à qualidade de vida e

à saúde da população.

Na parte de saneamento, destacam-se a qualidade das

águas, seu tratamento e distribuição, o esgotamento sanitário de

resíduos líquidos e seu tratamento para devolução aos cursos de

água etc.

Quanto aos resíduos sólidos, a maneira de coleta (coleta

seletiva, reciclagem etc.) e a deposição final dos resíduos (aterro

sanitário, aterro controlado, lixão).

A

Page 20: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Na preservação ambiental, a proteção de áreas verdes, a

educação ambiental, criação de unidades de preservação

(parques, estações ecológicas etc.), o monitoramento da

qualidade das águas, o combate às diversas formas de poluição

(incluindo a poluição do ar: queima de combustíveis fósseis,

emissões oriundas do processo fabril, queimadas etc.).

O Estado dispõe de um sistema de meio ambiente, tanto a

nível federal, como estadual e municipal. Na União, o Ministério

do Meio Ambiente, no Estado a Secretaria Estadual de Meio

Ambiente e nos municípios a Secretaria Municipal de Meio

Ambiente ou um serviço especializado e adequado às funções

de preservação ambiental.

Todos esses sistemas são assessorados por Conselhos

(CONAMA, da União, COPAM, no Estado de Minas Gerais, e

CODEMA, no Município de Varginha), que são órgãos de

elaboração da política ambiental e por autarquias ou

fundações, que são os órgãos técnicos (IBAMA – federal -, IEF,

FEAM – estaduais. O município de Varginha ainda não possui

órgão equivalente).

Através desse sistema de proteção ambiental são feitas as

análises de impacto e o licenciamento de atividades

potencialmente poluidoras, a fiscalização e a punição

administrativa dos infratores.

Todo esse sistema visa o bem estar social através do

ambiente equilibrado e que possa abrigar vida que tenha uma

qualidade ideal e seja saudável.

Page 21: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

COMPETIÇÃO x COOPERAÇÃO

natureza, protegendo a evolução da vida no planeta,

criou a competição entre espécies e entre seres de uma

mesma espécie. Uma maneira de especializar e de

controlar raças. De proporcionar proles mais fortes e mais

adaptadas ao ambiente, aumentando, assim, a chance de

sobrevivência da espécie. Mas, dentro de um mesmo quadro de

evolução, alguns seres aprenderam que a cooperação

proporcionaria uma melhor oportunidade de evoluir e passaram

a ter uma relação simbiótica. Assim, a Criação trabalha seu

próprio progresso, protegendo e preservando a vida.

O que dizer dos seres humanos? Tal e qual os irmãos naturais,

são também seres viventes que compartilham ambiente comum,

mas desenvolveram técnicas diferentes de competir, partindo

de cérebros mais complexos. Seres racionais, enquanto o resto

da vida planetária é, segundo rotulado, irracional. Razão

utilizada como ferramenta de crescimento tecnológico e

avaliação unilateral dos sistemas vivos que coabitam o meio

ambiente planetário, causando visão equivocada de

superioridade aos demais seres da biodiversidade - supremacia

predatória e destrutiva. Os artefatos tecnológicos humanos não

permitem a competição honesta e equilibrada. Afetados ou

atacados por alguns "seres", como microrganismos, têm pronta

resposta tecnológica através de drogas e medicamentos que

restabelecem condições saudáveis ou aumentam a vida.

Nessa deslealdade competitiva, a raça dominou, procriou

em excesso e colocou seus rebentos em um patamar cada vez

mais alto de segurança contra os demais seres. Nada de errado

em ser a raça dominante da atualidade. Outras, como a dos

dinossauros, dominaram em tempos remotos. Ao contrário,

deveria ser motivo de orgulho. Aliada à razão, essa supremacia

coroaria a obra prima da Criação: a vida comandada pela

razão e pela inteligência. Mas esse "projeto divino", digamos

assim, está naufragando. A arca de Noé afunda rapidamente.

Em nome da razão, se arremessa para o extermínio da raça,

levando junto inúmeras outras. A razão se aliou à vaidade e à

competitividade. Isso gerou a máquina que está nos devorando.

Um monstro que embala uma desmedida ânsia de poder e de

domínio. Poder, sempre poder e, por fim, mais poder. Traduzindo:

competição elevada ao grau de sofisticação que permitiu o uso

de uma razão mais refinada.

A

Page 22: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Gostamos de levar vantagem em tudo, certo? Lei de

Gerson, artigo único. Pobre ex-jogador que, submisso ao poder

econômico, naturalmente inconsciente do deslize, além de

propagandear o uso dos reconhecidos venenos tabaco e

nicotina, teve seu nome agregado a uma norma que é

expressão exata de nosso cinismo desmascarado. Sim, gostamos,

queremos e exigimos levar vantagem em tudo quanto nos for

possível. Ao custo da própria permanência no planeta. E da vida

de milhões de outros seres da biodiversidade.

Está na hora de revogar esse artigo e editar a provável Lei

do Bom Senso, para sustento e esteio da vida. Cooperar, ao

invés de competir. Afinal, irracionais, os dinossauros dominaram

cerca de 300 milhões de anos. Nós estamos no comando há

pouco tempo - 150 mil anos? - e naufragando. Se não taparmos

logo os furos do barco, desta vez a arca de Noé não poderá nos

conduzir a uma sobrevida além de um curto, negro e doloroso

futuro. De que nos valeram a inteligência e a razão?

Page 23: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

A LUTA CONTRA A DESERTIFICAÇÃO E A

CONSERVAÇÃO DO SOLO

m dos problemas ambientais de grande potencial de

danos a médio e longo prazo é a insidiosa desertificação.

Como o próprio nome indica, a desertificação é um

processo de esterilização do ambiente afetado. A imagem de

um ambiente desértico não é novidade para qualquer pessoa

de cultura mediana ou que tenha atravessado os primeiros anos

escolares do ensino básico. Fala-se em deserto e logo vêm à

mente as paisagens arenosas, quase estéreis e inóspitas do

grande Saara, o maior do planeta. Não é esse conceito de

deserto que se pretende destacar aqui, mas sim aquele que

teve origem em ações humanas.

O grande erro do raciocínio civilizado a respeito é

exatamente esse: não conceber a grandiosidade do problema

nas pequenas, múltiplas e espalhadas áreas de desertificação

que brotam em todos os lugares, na imensidão do planeta, onde

a conservação do solo não é parte da preocupação dos

habitantes locais. Diz-se aqui conservação do solo uma vez que

o foco dessa pequena análise é exatamente o deserto que

nasce nas regiões secas, deixando-se por ora a denúncia das

áreas aquáticas, de corpos hídricos menores, rios e oceanos,

que têm sido esterilizadas pela ação direta do ser humano.

Os desertos somados ocupam cerca de 1/3 da superfície

seca do planeta, o que representa mais de 51 milhões de

quilômetros quadrados de solo. Grande parte deles tem seu

ponto inicial nas ações típicas do ser humano. Em razão do

descuido na preservação do solo, nascem e crescem,

insidiosamente, geralmente sem que sejam percebidos, os

pequenos e perniciosos desertos domésticos.

De onde vêm? Para onde vão?

Esses nocivos desertos têm início em ações simples,

habitualmente consideradas necessárias para a sobrevivência

humana: desmatamentos para ocupação, construção, plantio e

pecuária. O solo desnudo é presa fácil para processos erosivos,

provocados habitualmente pelas chuvas e auxiliados pelos

ventos. A terra descoberta é levada de roldão pelos volumes de

água das precipitações. No meio desse processo também é

levada a verdadeira riqueza produtiva do solo: a cobertura de

U

Page 24: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

compostos orgânicos que lhe dão fertilidade. E um pequeno

deserto começa a aparecer.

Mas não somente os locais de fácil erosão são vítimas da

desertificação. Desde a deposição de resíduos produzidos pelos

humanos, como as áreas transformadas em lixões ou aterros, até

o pisoteio provocado pela atividade do gado, uma enorme

gama de intervenções quebra o frágil equilíbrio da proteção

verde do terreno e cria uma chaga que nem sempre tem

condições de se cicatrizar. Um bom exemplo disso são as

queimadas ditas controladas. Com o interesse de limpar o solo

para plantio de culturas vegetais necessárias ao consumo

humano, ou pastos necessários à sobrevivência da pecuária,

utiliza-se do fogo como instrumento de capina. A alta eficácia e

o baixo custo do processo motivam essa antiga prática rural

extremamente danosa ao solo.

O empobrecimento da fertilidade da área é rápido, porém

gradual, dando de início ao proprietário a falsa ilusão de que o

sistema é eficaz. Quando chega a se conscientizar dos danos

que provoca, de modo geral já é muito tarde e a área já se

tornou estéril e improdutiva.

O ciclo de desertificação é, por outro lado, um círculo

vicioso: qualquer processo de redução da cobertura vegetal

diminui a fertilidade e provoca o empobrecimento produtivo da

área, tornando-a sempre mais suscetível aos processos erosivos e

cada vez menos protegida. Como consequência,

paulatinamente sem vida. A morte do solo dá oportunidade ao

surgimento de um deserto que, como uma ferida infectada, vai

quase sempre se expandindo para horizontes sempre mais

distantes.

Os seres humanos, cegos à sua interferência, de um modo

geral abandonam aquela gleba destruída e vão reiniciar o

processo em outro local, dando início a um novo movimento

degenerativo.

A situação ameaça o equilíbrio ecológico do planeta e,

nessa esteira, a sobrevida da espécie e a sadia qualidade de

vida que se pretende destinar ao homem. Por isso, inúmeros

encontros internacionais têm ocorrido desde os anos setenta, no

final do século XX, para avaliação da extensão do problema,

sua evolução e os mecanismos de luta contra o processo de

desertificação. Esses encontros culminaram com a aprovação e

assinatura, por mais de 160 países, em 17 de junho de 1994, em

Paris, da Convenção Mundial de Luta contra a Desertificação.

Por esse motivo, o dia 17 de junho passou a ser considerado

o dia mundial de combate à desertificação. Não é uma data

que incentiva qualquer comemoração, mas incita a uma luta

que emerge como uma das mais importantes batalhas

ambientais: a preservação do solo.

Page 25: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

A RESPEITO DE HUMANOS E HUMANIDADE

emos como uma das definições do termo humano um

agregado moral que enaltece as qualidades nobres do

indivíduo: bondade, caridade, grandeza de alma etc.

Segundo o Houaiss eletrônico, “que mostra piedade,

indulgência, compreensão para com outra(s) pessoa(s)”. No

mesmo dicionário a etimologia apontada é “lat. humánus,a,um

'próprio do homem, bondoso, erudito, instruído nas

humanidades'”.

Pela lógica caolha do humor típico das comunidades de

internautas, se ser humano é ser bondoso logo o Ser Humano é

bondoso. Certo? Infelizmente, não. Essa talvez seja uma das

máximas menos adequadas a qualificar essa espécie de

mamífero que adquiriu capacidades tecnológicas, se expandiu,

adaptou-se, habitou e dominou todo o planeta.

A toda poderosa espécie humana, que se diz criação direta

das mãos da Divindade Suprema, e se gaba de ser

representação material da imagem e semelhança do Criador, é

também a única que se diverte pela perversidade. De todas as

espécies vivas que habitam o planeta, e que os cientistas

estimam em cerca de dez ou quinze milhões, uma única goza e

se compraz no sofrimento de outras e de outrem de sua própria

espécie. Infelizmente, fala-se aqui da espécie humana. De

cérebro capaz de elaborar questões metafísicas da mais alta

indagação, processar cálculos de extrema complexidade e de

engendrar e construir parafernálias tecnológicas de altíssima

precisão e complexos arquitetônicos de assustadora

grandiosidade, o indivíduo da espécie humana sente prazer em

provocar e presenciar dor.

Para que houvesse equilíbrio no desenvolvimento da vida no

planeta, a Criação, em sabedoria quase didática, adotou um

mecanismo de controle rígido conhecido por predação. Todos

os seres vivos que compõem o sistema natural do planeta Terra

são predadores. Isso significa que há um processo natural de

seleção através do desenvolvimento da chamada cadeia

trófica, isto é, ainda nas palavras do Houaiss eletrônico, “forma

esquemática us. para representar a transferência de energia ou

as relações alimentares, em parte de uma comunidade ou

ecossistema, através de uma série em que os seres vivos se

alimentam e servem de alimento para outros seres vivos”. Nesse

processo, a crueldade inerente ao indivíduo de qualquer

espécie tem como característica a utilidade. O impulso de

T

Page 26: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

sobrevivência está diretamente ligado à predação de indivíduos

de outra espécie que, por solução da própria natureza,

passaram a compor a cadeia alimentar do predador.

O mecanismo natural é simples e eficaz, embora muitas

vezes reputado de cruel. Propicia a manutenção da vida, o

controle da quantidade de indivíduos, a sobrevivência dos mais

aptos e o desenvolvimento do processo de seleção natural.

Fora desse sistema, os animais sempre nos surpreendem com

atos de verdadeira caridade, sem discriminar espécies. Exemplo

recente, fartamente explorado pelas mídias, é o da cadelinha

que salvou um recém nascido humano. O ser humano, no

entanto, quebrou a regra natural. Privilegiado com a evolução

de cérebro dotado de maior capacidade de processamento de

dados, aprendeu a burlar os mecanismos naturais de existência

e aumentou suas possibilidades de sobrevivência. Graças a seu

processo mental pôde se adaptar às mais variadas e adversas

condições do ambiente.

Esse mesmo mecanismo cerebral de extrema complexidade

e altíssima capacidade de elaboração acabou por solidificar

processos psicológicos intrincados e enigmáticos. Um deles é a

gratificação psicológica que o humano sente em presenciar ou

provocar a dor em outros seres vivos. Nem Freud explicaria. E se

explicasse, não se justificaria. As crueldades gozosas enfocam

não só a própria espécie – vejam-se exemplos de esportes

violentos, como os de luta – mas as demais espécies naturais,

principalmente animais. Nem é preciso apontar exemplos, que

abundantes eles são: maltratos em rodeios, circos, zoológicos,

rinhas de galo, caçadas, adestramento etc. Isso sem falar em

queimadas, poluição generalizada, extração comercial

inescrupulosa de riquezas etc.

Para confirmação basta acessar as páginas

www.renctas.org.br e www.pea.org.br . Mostram o trabalho de

duas instituições brasileiras sérias que combatem,

respectivamente, o tráfico de animais silvestres e a crueldade

contra animais.

O certo é que a espécie humana precisa reformular seus

conceitos sobre humanidade. Ou nós usamos esse maravilhoso

cérebro que nos diferencia dos demais seres vivos do planeta

para aprimoramento de nossas relações harmoniosas entre os

seres da própria espécie e entre seres humanos e outras espécies

vivas ou então devemos rever e reescrever em nossos dicionários

algumas das acepções ligadas às palavras humano e

humanidade.

Page 27: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

O CALOR NOSSO DE HOJE EM DIA

studos publicados por cientistas da Universidade de

Estocolmo, Suécia, dão conta de que não existe qualquer

registro de uma década tão quente como a de 90. Mesmo

o registro natural em vegetais, fósseis e rochas autoriza a

afirmativa de que não houve década mais quente nos dois

últimos milênios. O fascinante estudo, que considera dados

obtidos pela análise dos núcleos dos sedimentos e dos anéis dos

troncos de árvore, acompanhou a variação da temperatura nos

últimos dois mil anos e confirmou o que as ciências ambientais

vêm relatando: apesar de existir variações de temperatura por

causas absolutamente naturais, a interferência humana está

acelerando o processo de aquecimento global.

As pressões naturais sobre o aquecimento vêm

habitualmente de grandes erupções vulcânicas, responsáveis

pelo depósito de quantidades enormes de gases carbonados,

principalmente CO2 (dióxido de carbono), na atmosfera e de

alterações dos ciclos de radiação solar. Mas a existência de uma

vida tecnologicamente avançada, creditada ao ser humano,

interage com os processos naturais provocando uma

aceleração incontida no processo.

Por um lado, no mundo civilizado de hoje é necessário

aumentar as emissões de gases carbono pela queima artificial

de combustíveis fósseis, principalmente para manter a

continuidade e o crescimento do processo fabril e a grande

frota de veículos automotores em funcionamento. Por outro,

imperativo que se destruam áreas verdes, responsáveis pela

absorção desses gases, para ampliação de culturas e pastagens

e para sustentar o crescimento demográfico e a extração de

riquezas.

O crescente processo de “desertificação” dos mares e

oceanos do globo, principalmente pela deposição de resíduos

de esgotos domésticos e industriais, mata enormes áreas de

fitoplânctons, alga unicelular que é responsável tanto por

emissão significativa de oxigênio como pelo sequestro de gases

carbono.

Estudos pessimistas afirmam que a temperatura do planeta

subiu 1° C em média nos últimos cento e cinquenta anos e

subirá, ainda dentro deste século, cerca de mais 15° C. Os

otimistas fixam esses limites em 0,5° C e 5° C. Mas em uma coisa

E

Page 28: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

todas as pesquisas convergem: o planeta está em franco

processo de aquecimento. Cinco ou quinze graus representam

catástrofes de grande amplitude – enormes áreas submersas ou

alagadas, tempestades abundantes e destruidoras, redução de

áreas para sobrevivência humana, maior concentração

demográfica, processo de destruição mais acelerado... tudo isso

contabilizando o corte de milhares de vidas – humanas ou não.

No extinguir do século XX a humanidade participou de uma

grande convenção sobre aquecimento global. Dela, surgiu um

protocolo de ações que visa a redução gradual da emissão de

gases causadores do chamado efeito estufa. São ações tímidas,

frente a uma situação de tremendo potencial agressivo. Com a

queda da cortina de ferro e do muro de Berlim, o capitalismo

desenfreado ampliou a cultura do consumo e da extração

ilimitada de riquezas. Fala-se muito em crescimento sustentável e

consumo sustentável. Mas nenhum processo se sustentará, em

um quadro de mudanças climáticas tão rápidas como as que se

tem vivenciado e que ainda serão vividas, enquanto faltar o

principal ingrediente dessa fórmula: o bom senso do governo dos

países economicamente mais poderosos.

Page 29: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

O FUTURO DO PLANETA: ESTAMOS PRONTOS PARA

VIVER O NONO DIA DA CRIAÇÃO ou O SEGUNDO

DIA DA DESTRUIÇÃO?

grande questão desse início de milênio e de século é

avaliar as possibilidades de paralisar e reverter o quadro

dramático da degradação de nosso planeta. Caso isso

não ocorra a humanidade será, em futuro bastante próximo,

flagelada por catástrofes ambientais de grandes consequências,

dizimando não só a raça humana como todas as demais

espécies que o habitam.

Para que o planeta tenha futuro há a necessidade de um

movimento imediato no sentido de reverter o quadro atual. Isso

depende da conscientização global sobre a existência dos

problemas e da vontade de cada um de tomar parte na luta

pela recuperação e pela preservação do ambiente planetário.

Os países mais ricos têm que se conscientizar que, ao invés

de exercitar a atual política imperialista adotada vorazmente em

todo o mundo, eles precisam auxiliar os países devedores e os

países pobres. A sua própria sobrevivência depende disso.

As pessoas mais ricas, em todos os países, precisam ter

consciência em melhorar a distribuição de renda.

A legislação ambiental precisa ser ampliada e cumprida e

aplicada. As mínimas agressões ao meio ambiente devem ser

impedidas e evitadas.

O ser humano precisa de se conscientizar, imediatamente,

que ele não é um organismo único e isolado no planeta, que ele

não está só, nem sobrevive individualmente, mas que faz parte

de um grande organismo vivo, que serve de sua morada e de

fonte de alimentos e riquezas, o planeta Terra. Que esse grande

organismo também pode adoecer e até morrer. A morte desse

organismo, por qualquer motivo que seja, vitimará todos os seus

habitantes.

Há a necessidade de adoção de novos paradigmas. O ser

humano precisa deslocar-se de seu centro individualista e se

colocar em comunhão mental e espiritual com seus semelhantes

A

Page 30: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

e com todas as formas vivas do planeta. Precisa entender que

há uma interdependência cósmica unindo, como uma única

trama de fio, toda a espécie de vida em todo o planeta.

Qualquer coisa que prejudique qualquer forma de vida em um

singelo e longínquo recanto ressoa em todo o planeta.

Como medidas objetivas, é necessário que, imediatamente

haja educação permanente e persistente, maciça e impositiva,

apontando a necessidade de se reconstruir muito do que já foi

prejudicado. Há que se preservar o que ainda existe e criar

condições mais favoráveis ao meio ambiente, priorizando-se a

contenção do crescimento demográfico, a cessação das

atividades degradadoras, a erradicação da miséria e a reversão

drástica de degradações ambientais perigosas.

O futuro imediato poderá ser para nós ou o nono dia da

Criação, ou o segundo e definitivo dia da destruição. Cabe ao

ser humano decidir por qual dos dois caminhos irá optar.

Como será nosso “dia seguinte” dentro da Criação?

Será que o belo poema de Carlos Drummond de Andrade,

Dia seguinte, da obra Mata Atlântica, deixará o campo da

poesia e se solidificará em tenebrosa profecia?

Ouçamos a voz da arte e reflitamos sobre seus poderosos

desígnios:

Não, não haverá para os ecossistemas aniquilados

Dia seguinte,

O ranúnculo da esperança não brota

No dia seguinte

A vida harmoniosa não se restaura

No dia seguinte.

O vazio da noite, o vazio de tudo

Será o dia seguinte.

Page 31: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

PLANETA TERRA, UMA MÃE PEDINDO SOCORRO

No globo ocular colidem a visão e a percepção, a

criação e a reflexão. As esferas oculares de Jano são

uma porta giratória mágica em que o espírito criador

encontra a si mesmo no criado. O olho que olha para

o Universo é o olho do próprio Universo.

(...)

Precisa-se de bilhões de anos para criar um ser

humano. E ele só precisa de alguns segundos para

morrer.

Jostein Gaarder(*)

Planeta Terra é o nosso lar na imensidão do universo. É o

único lugar onde podemos viver e sobreviver. De suas

riquezas, extraímos todo o necessário à nossa existência,

desde a matéria que forma nosso corpo, o alimento que nos

nutre, até o ar que nos mantém vivos, o material para nossas

habitações e os lugares para nossa diversão. A Terra é a nossa

grande mãe. Ela nos gera e nos sustenta, e vai gerar e sustentar

nossos filhos e descendentes.

Mas, agora, esse nosso lar, essa grande mãe, corre perigo de

morrer. Ela está contaminada por uma doença que, à

semelhança de um câncer devorador, a está corroendo e

esgotando sua força vital. Essa doença está matando o único lar

que nós temos certeza que pode abrigar nossa forma de vida, e

que pode abrigar vida com consciência. A morte de nosso lar

vai ser a nossa morte, a morte de nossos filhos, e a não existência

de nossos netos. A vida levou quatro bilhões de anos para

chegar ao ser humano, o único animal que, segundo sabemos,

pôde abrigar a consciência. Em questão de poucos anos todo o

imenso trabalho dessa Consciência Cósmica pode vir a ser

destruído pela doença que corrói nosso planeta.

Essa doença somos nós mesmos. Os mesmos seres que

tiveram o privilégio de, após alguns bilhões de anos de

evolução, receber a dádiva da consciência, hoje a estão

usando para destruir o próprio meio em que sua evolução foi

incubada e em que sua consciência foi gerada... Nós, seres

humanos que tivemos o privilégio de receber a consciência, a

mais alta benção divina entre todos os seres vivos por nós

conhecidos no universo – e talvez sejamos um caso único, ou

raro, na vastidão do espaço infinito –, somos um câncer a O

Page 32: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

devorar a vida dessa nossa grande geradora e provedora: nossa

mãe Terra.

Nós consumimos as áreas verdes que são responsáveis pelo

equilíbrio da distribuição de nossa água, pela conservação de

nosso solo, pelo abrigo de milhares de outras formas de vida,

pelo frescor da temperatura, pela qualidade do ar que

respiramos... Nós produzimos lixo que intoxica a terra, que mata

os cursos de água, que contamina por diversas formas nosso

ambiente; nós provocamos queimadas, que destroem o verde,

exterminam florestas e sua biodiversidade – uma imensa e rica

massa de formas de vida que, na maioria das vezes, jamais

iremos conhecer, jamais iremos saber quantos e tantos remédios

para grandes males são e foram assim perdidos, quantos e

tantos alimentos que nós nunca experimentamos ou

experimentaremos... Nós provocamos queimadas de entulhos,

lixos, elementos tóxicos e nocivos, que causam doenças e

danos, que apodrecem nosso ar, o ar que respiramos, que

nossos filhos respiram, que nossos netos respirariam, se pudessem

viver...

Nós jogamos grandes quantidades de elementos perniciosos

no ar que nos alenta, como fumaça, excesso de gás carbônico,

metano, e muitos outros, que nos envenenam e que

sobrecarregam a atmosfera de gases efeito estufa, aumentando

o calor do planeta e as catástrofes naturais, como secas,

enchentes, furacões, desertificação, carência de água em

alguns lugares e excesso em outros. Nós nos procriamos sem

medidas e submetemos nossos semelhantes à escravidão do

poder econômico, gerando miséria, com todas as suas nefastas

consequências, como violência, fome, doenças, e degradação

ambiental de grande porte.

Nós somos a ingrata e nefasta doença que está

envenenando, corroendo, destruindo e matando nossa grande

mãe, a Terra. A grande mãe, que agora nos pede socorro. Que

agora nos implora para que a socorramos, para que cessemos

de destruí-la, para que a poupemos da morte que se demonstra

iminente. Não implora a vida para que possa sobreviver para si

mesma, porque seu objetivo, pelos bilhões de anos de sua

existência, como uma pérola perdida no infinito do espaço

sideral, sempre foi o de abrigar a vida de seus filhos e de lhes

conceder a consciência, para que, como verdadeiros filhos,

pudessem fazer a consciência divina se manifestar e ser

consciente de si mesma; para que a vida consciente

manifestada no ser humano possa se evoluir a patamares mais

altos de – quem sabe? – um projeto maior de Deus.

Com o coração negro pelo luto que brota dessa terrível

doença que está matando a nossa mãe, infelizmente não

podemos, de sã consciência, comemorar com despreocupada

alegria e com a tranquilidade que o amor nos oferece, a nossa

existência.

Page 33: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Meus pêsames, meus irmãos, meus pêsames... porque nós

estamos matando nossa mãe e temos tapado nossos ouvidos a

seus apelos de socorro e fechado nossos olhos às chagas

abertas que ela, ainda com humilde doçura, nos oferece como

testemunho da nossa culpa, esperando, talvez, que a

consciência que ela gestou por bilhões de anos para nos

presentear, como uma flor nascida do lodo do pântano,

desabroche em um ato manifesto de amor que a possa salvar e,

assim, ainda possa salvar seus filhos... Inclusive a própria raça

humana.

(*) Do livro “Maya”, Companhia das Letras, SP, 2000

Page 34: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

REFLEXÕES SOBRE O TEMA: “O PLANETA TEM

FUTURO?”

bservando os problemas ambientais, sociais e

econômicos do nosso Planeta, tornam-se óbvias a

nossos olhos as seguintes conclusões:

1. Se persistir o modelo de civilização hoje adotado,

baseado na submissão, no exercício de poder pela força, no

extrativismo ilimitado, no imperialismo e na falta de harmonia e

comunhão entre os seres que habitam o planeta, a humanidade

está em rota de choques iminentes com desgraças e

hecatombes ambientais, que poderão comprometer toda a

forma de vida que o habita.

2. Há uma urgente necessidade de mudança de

paradigmas. O ser humano precisa se deslocar do foco da

individualização cega para o da humanização; precisa saber e

sentir que é apenas uma parte de um todo maior e infinito e que

tudo o que lhe diz respeito afeta o todo e a todos os demais,

assim como é afetado por qualquer alteração do todo.

3. O futuro do planeta depende de como cada um dos seus

habitantes passe a se relacionar e a interagir com o todo. Cada

um tem que se conscientizar da existência dos problemas

ambientais e perceber que é um dos responsáveis pelo estado

geral do meio ambiente, sendo agente conjunto de sua

degradação ou de sua recuperação.

4. Cada um tem que adotar seriamente posição definida e

eficaz no sentido de direcionar suas ações para uma melhora do

mundo como um todo. Há de se acatar como lema a filosofia

do grande pacifista Gandhi de que “Nós precisamos ser a

mudança que queremos ver no mundo” e se libertar

urgentemente do paradigma atual, que hoje, mais que nunca,

pode ser identificado pela desolação íntima e pessoal muito

bem retratada pela frase “Erguemos muros que nos dão a

garantia que morreremos cheios de uma vida tão vazia” (trecho

de letra de música da banda Engenheiros do Hawaii).

5. Cabe, portanto, a cada um de nós, como parte

integrante e indivisível do todo, consciente da participação

O

Page 35: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

efetiva nos processos de coexistência com os demais seres e

elementos do planeta e de ocupação e utilização ambiental,

responder se a Terra tem futuro, e qual a qualidade do futuro

que terá.

Page 36: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

OS PROPRIETÁRIOS RURAIS E A RESPONSABILIDADE

NA RECARGA HÍDRICA

assa da hora de focalizar atenção nas propriedades rurais,

como principais colhedores e receptáculos das águas. As

informações escolares sobre o “nascimento” das fontes de

água são, dentro de um padrão didático, razoáveis. O aluno

aprende que a água vem das chuvas, que vêm das nuvens, que

vêm da evaporação da água. Em níveis mais adiantados,

aprende até que grandes evaporações ocorrem nos oceanos e

que o regime dos ventos conduz grandes nuvens que deságuam

nos continentes. Pronto: o milagre da formação da água

aconteceu.

Tal quantidade de informação acadêmica poderia ser

suficiente não houvesse necessidade de otimizar o

aproveitamento dessa dádiva preciosa da natureza. Os seres

vivos são, no geral e na média, água em mais de 70% de sua

composição. Para os humanos, além do consumo direto, a água

ainda é preciosa para lazer, higiene, processos industriais etc.

Ocorre que o século XX terminou com a consciência e o

conhecimento humanos em xeque. A razão: pela forma e no

ritmo em que é utilizada, a água aproveitável está ficando cada

vez mais escassa.

A população aumenta, o consumo também e em

proporção ainda muito maior. Há sobrecarga de poluentes e

resíduos que são direcionados para o solo ou cursos de água – e

daí sempre para os reservatórios hídricos. Atividade humana

pressupõe crescimento econômico: mais produção, mais

construções, o que equivale a desmatamento, e

impermeabilização de solo; o que equivale a menos retenção

hídrica em ambiente natural.

Qual a solução imediata? “Fabricar” mais água. É possível?

Claro, mas apenas se houver esforço maciço e conjunto de

todos os órgãos de educação e preservação ambiental,

públicos ou privados, para alertar os proprietários e produtores

rurais da sua responsabilidade na captação de água e na

ampliação da recarga hídrica. Demonstrar a importância,

como preciosos instrumentos de captação e retenção da água,

das matas de topo, das barragens e poços de contenção das

chuvas, das áreas de nascentes, das matas ciliares e áreas de

reserva legal etc. Basicamente, tornar nítido que a propriedade

valiosa do futuro será aquela que possuir um melhor índice de

riquezas naturais, principalmente água.

P

Page 37: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

INVERNO, FRIO E SECA - UMA MISTURA INCENDIÁRIA

frio chegou. Novas frentes frias estão chegando ao

litoral sul. Provavelmente devem trazer geadas para

nossa região. Com a natural seca do tempo frio, baixa

umidade do ar e matos ressequidos, chega o triste período das

queimadas. Neste ano, por uma generosidade natural, a

temporada de chuvas se estendeu até agora, reduzindo o risco

dos incêndios. No entanto, a seca tarda mas não falha. É o

estopim das queimadas.

A despeito da ignorância da maioria a respeito, queimar

lotes urbanos é crime. Essa má técnica utilizada para limpeza,

está, em vários aspectos, enquadrada como atividade criminosa

na Lei dos Crimes Ambientais, com previsão de penas que

variam entre quatro meses e oito anos, dependendo da

gravidade do resultado que a queimada atingiu.

A queimada provoca morte e extinção de seres da

biodiversidade, como animais e plantas. Coloca no ar uma

quantidade perigosa de diversos tipos de poluentes, inclusive

alguns venenosos, como, por exemplo, o resíduo da queima de

plásticos, pneus, tintas, peças industrializadas, pilhas etc. Essa

poluição, somada à baixa umidade do ar, acarreta um visível

aumento de doenças nos seres humanos e em animais de

estimação. São doenças cardiorrespiratórias, alergias de amplo

espectro, doenças oculares, irritação de pele, vômitos, enjôos,

dores de cabeça... As principais vítimas, os idosos e os recém

nascidos.

Há um vultoso aumento das internações hospitalares no

período. Socorros médicos são procurados de forma incessante.

Há prejuízos econômicos ao setor produtivo. A previdência, que

já se diz deficitária, arca com um volume enorme de prejuízos

em internações, atendimentos, exames e fornecimento de

remédios.

Prevenir, nos diz a sabedoria dos antigos, continua sendo o

melhor remédio. A ausência de poluição atmosférica

provavelmente reduziria os atendimentos médicos e hospitalares

em até 50%, ou mais, e representaria uma economia bastante

apreciável tanto ao setor produtivo como ao setor público. E

essas despesas são naturalmente contabilizadas aos

consumidores e aos contribuintes. O repasse final de qualquer

prejuízo, em qualquer esfera, é para o povo. A população,

como um todo, não apenas sofre os efeitos diretos e imediatos

O

Page 38: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

em sua saúde e em sua qualidade de vida, como também em

seu bolso, já naturalmente extorquido pela economia recessiva

que maltrata o país.

Não bastasse isso, o acúmulo exagerado de gases efeito

estufa, na atmosfera, sofre uma maior pressão, contribuindo para

o aquecimento global e as naturais catástrofes que isso provoca.

Os jornais mostram diariamente o resultado desse desarranjo

natural: secas, tempestades e inundações, frio intenso em

algumas regiões, enquanto em outras o calor mata dezenas de

pessoas. Até o Brasil, país que se sentia imune ao ataque de

ciclones extratropicais vem sendo por eles vitimado.

Um ar mais limpo e puro proporciona uma condição

bastante melhor de existência, mais conforto, mais calma,

menos estresse. Vamos dar nossa contribuição para reduzir esse

mal que nos afeta ano após ano. Não faça queimadas. Não

permita que outros a façam. Denuncie os incendiários. Eduque,

quem estiver ao alcance de seu poder de persuasão para que

não as faça. Vamos melhorar nosso ar, nossa qualidade de vida

e nossa saúde e a de nossos filhos.

Page 39: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

OLHOS BAÇOS E OUVIDOS MOUCOS

ormi mal.

Acordei com os olhos ardendo. Arranhados pela

secura e pela sujeira do ar. Olho, da janela, a

cidade, sonolenta ainda, acordando aos poucos.

Embaçada. Horizontes imprecisos, de cor indefinida.

Serão meus olhos, gastos pelo tempo e cansados pela vida, que

as lentes dos óculos não conseguem corrigir? Ou fumaças

vagueando insidiosas nas brumas da manhã?

Lembranças brotam desconexas, miasmas em cantos

indefinidos da mente, e invadem meus pensamentos. Distantes

no tempo, as aulas da D.ª Cecília, em manhãs sonolentas como

esta, ecoam no silêncio da sala de aulas do Grupo Escolar

Aphonso Pena (ou no escuro de minha memória?): “O céu é azul

marinho”. E era. A gente via, comprovava.

“Lembranças, quantas lembranças / dos tempos que lá se

vão ”. Lembrança puxa lembrança e sopra versos nostálgicos no

poema de infância: “... vai para o céu a fumaça / fica na terra o

carvão”. A fumaça está no céu, e o céu deixou de ser anil. A

memória infantil realça os detalhes. O azul marinho seria apenas

uma aquarela a reforçar a memória de criança? Acho que não.

Para os jovens de hoje eu garanto: “meninos, eu vi!”. Vi de

fato um céu anil; azul profundo, lindo e comovente. Manhãs

como esta, dias claros e limpos, ficávamos em algum ponto alto

olhando o perfil da Serra da Mantiqueira, compondo e

recompondo as linhas mágicas, divisas de uma Shangrilá de

maravilhas incalculáveis, olhos postos longe no horizonte que

sonhávamos ganhar e ultrapassar. Hoje, os horizontes estão

próximos e indistintos. Não se prestam a embalar sonhos das

crianças aventureiras.

“...Criança! /Não verás nenhum país como este! / Olha que

céu! Que mar! Que rios! Que floresta! / A natureza, aqui,

perpetuamente em festa...”. Em sã consciência eu poderia

atiçar a imaginação das crianças de hoje: olha que céu, que

mar?! Vã ilusão. Que céu sujo! que mar poluído! Difícil me vestir

do patriotismo do poeta. Afinal, que país é esse que ostenta o

nefasto título de quarto maior emissor mundial de gases

prejudiciais ao ar? E ao azul do céu? Que país é esse onde as

queimadas destroem as matas, matam a vida e vedam a vista

de céus e horizontes? De esperanças e de sonhos?

“Santa Clara, clareai”, mais um eco no meio de tantos

outros. Clareai o anil de nossos céus, mas também e

principalmente a mente e a alma de nosso povo. Com

sabedoria, diz o popular que pior cego é aquele que não quer

D

Page 40: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

enxergar. Horizontes opacos são ideais para quem não quer

enxergar. Um homem sábio e justo já disse: “quem tem olhos,

veja; quem tem ouvidos, ouça”. Eu me pergunto: quem quer

enxergar? Há alguém disposto a ver?

O carro passa acelerado na rua, dispersando meus

devaneios no ruído do motor desregulado e barulhento. Solta

fumaça escura e fedorenta. Lá dentro, o rádio ligado executa

tão alto quanto o motor, ou mais alto ainda, uma sequência de

batidas fortes (que alguém me disse se chamar funk): “tem-que-

tê, tem-que-tê, tem-que-tê uma amante!”.

E essa lágrima, teimosa, que insiste em correr?

É a secura do ar?

Page 41: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

AGENDA 21 ESCOLAR

esde a realização da Eco-92, também conhecida como

Rio-92, fala-se de Agenda 21, mas poucos se

aprofundaram no assunto. Apesar de cobertura

jornalística razoável, persistem dúvidas, confusões e mal

entendidos. O documento mestre que resultou do evento, a

Agenda 21 Global, é vasto, com quarenta tópicos. A ideia que

veicula, entretanto, é simples: desenvolvimento sustentável. Ou

seja, como não se pode frear o desenvolvimento a curto prazo,

há que se balizá-lo para que não haja degradação ambiental,

social e individual como incômodo e perigoso resíduo do

progresso.

As bases do modelo econômico dominante não se

sustentarão sem que sofram uma radical e eficaz interferência e

correção de rumos e nós, bípedes dominantes do planeta,

seremos engolidos e devorados pela ânsia de poder e lucro,

junto com muitos outros seres da biodiversidade. Quadro

perturbador e evidência iminente: em algumas dezenas ou em

uma centena de anos, nossa raça será fustigada e destroçada

por cataclismos e catástrofes ambientais de larga escala.

Enterrados no monstruoso volume do lixo que produzimos,

queimamos a atmosfera, destruímos reservas naturais e

envenenamos o ar. Promovemos mudanças da temperatura.

Degradamos e desperdiçamos água. Cultivamos a miséria e a

segregação social, amplificando a violência a níveis

assustadores.

A ideia de se adotar a Agenda 21, ou seja, um modelo mais

tolerável e menos prejudicial no século XXI, surge em momento

crucial na história da humanidade. Dependemos de predatória

extração de riquezas da natureza. Madeira, ferro, barro, cimento

e areia para nossas casas. Utilizamos e queimamos produtos e

subprodutos de elementos fossilizados. Agora, há que se

controlar o estouro da ânsia que impele às chamadas riquezas e

ao sonhado progresso, à custa de um preço que pode vir a ser

impossível de se pagar. E a palavra mágica para esse momento

é: sustentabilidade.

Previu-se a criação das agendas 21 nacionais e locais. As

primeiras para uso dos países participantes. As segundas, para

adoção por estados, municípios, distritos, localidades, regiões,

etc. A genialidade da ideia está em que poderá ser ela

adaptada para qualquer universo, tanto no macro como no

microcosmo da ocupação humana. Pretende-se que possa ser

D

Page 42: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

estendida a um conceito de idealização, servindo de meta para

um ajuste a médio ou longo prazo, mas que também seja

aplicada, de forma prática, de imediato, aos fatos emergentes;

é, ao mesmo tempo, um horizonte a se chegar e os primeiros

passos a dar. Parte-se da prática do caminhar, no aqui e agora,

corrigindo direção, evitando tropeços, aprendendo caminhos.

O primeiro e mais importante passo pode estar

potencializado no embrião da cultura e do conhecimento, elo

que na base e na alma une indivíduos, meio social, econômico e

ambiental: a escola. É aí - na fertilidade do terreno onde se

formam opiniões, pensamentos e se produz conhecimento - que

encontramos solo para plantar uma primeira semente, a Agenda

21 Escolar...

Page 43: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

POSSO PERGUNTAR?

uando se fala de problemas ambientais, é seguro que

todos têm ciência de grande parte deles. Ninguém

desconhece que, persistindo a atual situação geral, de

deposição irregular dos resíduos humanos, chamados de

resíduos sólidos, o planeta vai ficar literalmente atolado em lixo.

Da mesma forma, todos sabem que o lixo contamina e polui

água, solo e ar. Não é mistério para ninguém que o volume de

água doce disponível para consumo está sofrendo redução

gradual, cada vez mais acelerada, principalmente pela

poluição oriunda dos esgotos domésticos e industriais, pelo uso

inconsequente e pela distribuição irregular, fruto de

desmatamentos, queimadas e outras atividades humanas que

interferem na qualidade da água e nos regimes dos ventos e

chuvas.

Quando se fala em aquecimento global, todos são

verdadeiros especialistas. Muitos, escorados na ampla

divulgação da mídia, sabem qual vai ser o potencial das águas

gélidas que se somarão aos oceanos, aumentando-lhes nível e

afetando negativamente a atualmente famosa Corrente do

Golfo, em razão do derretimento das geleiras da Groelândia.

Sabem quantos graus a temperatura vai se elevar nos próximos

dez anos, quantos centímetros os oceanos vão subir, qual o

aumento da incidência de furacões, tornados e outras

tempestades tropicais.

O mesmo acontece quanto a outros prejuízos ambientais

causados pelas atividades humanas no planeta. Difícil encontrar

quem não se diga conhecedor de situações prejudiciais de

grande vulto, causadas por atividades como queimadas ou uso

descontrolado e excessivo de produtos químicos, papel, água

ou energia elétrica.

Se alguém perguntar para qualquer estudante, dona de

casa, operário ou empresário, servidor público (aqui incluídos os

políticos) ou a quem quer que seja quem é o responsável pelos

agravos à natureza, a resposta é unânime: o homem, no sentido

lato de ser humano. Cada um de nós observa com bastante

acuidade a “pegada ecológica” de nosso semelhante. Pegada

ecológica, aqui, tem o sentido técnico que lhe é emprestado: a

pressão que cada um exerce no ambiente pela sua maneira de

viver, produzir e consumir. Mas poucos olham, atrás de si, seu

próprio rastro no ambiente.

Q

Page 44: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Vamos simplificar. Se você tem casa, carro, consumo de

classe média, provavelmente para que todos os habitantes do

planeta pudessem ter o mesmo padrão de vida que o seu, seria

necessária a existência de riquezas equivalentes às disponíveis

em dois planetas Terra. Assusta? Mas essa é a realidade.

Segundo estudos dos técnicos responsáveis pela avaliação de

dados do “peso” ecológico de cada um, um padrão de classe

média do cidadão dos EEUU pede a existência de três a quatro

planetas Terra de riqueza. A conta é complexa, mas lógica:

pega-se o valor somado das riquezas globais disponíveis e

disponibilizáveis, dividindo-o pelo número de habitantes. O

resultado é a riqueza a que cada um de nós tem direito. Usar

mais que isso é ter uma pegada ecológica mais pesada do que

o sistema natural pode suportar.

Tire a prova dos nove: veja seu peso ecológico no site

www.myfootprint.org. Na página principal, direcione o mouse no

mapa do Brasil, clique em português (esse é o idioma escolhido)

e faça o teste que se abre a seguir. No final, o site vai

certamente acusá-lo de excesso de peso na natureza.

Naturalmente, para seguir esses procedimentos ou para ler este

artigo você necessita ter computador e ligação com a rede

mundial. Só esse privilégio já o posiciona em uma situação

ambiental pouco confortável: não dá para toda a população

do planeta gozar desses privilégios.

Vamos, então, ligar os elos de nosso raciocínio: conhecemos

os problemas ambientais, sabemos que o ser humano é causa

de influência negativa e aceleração desses processos de

degradação, temos consciência de que somos humanos e que,

portanto, degradamos produzindo lixo, gastando água, usando

combustível fóssil à base de carbono e consumimos

excessivamente. Parece lógico concluir-se que se somos a causa

de efeitos negativos ao ambiente, basta desacelerar nossa

influência prejudicial ao meio que os problemas serão

minimizados. Lógico, mas...

Incoerentes. É o que somos: incoerentes. Será que não

percebemos e não tivemos nossa consciência desperta para o

fato de que se somos o agente prejudicial podemos, por nossa

vontade espontânea, ajudar a reverter a gravidade da

situação? Qualquer um sabe prever as catástrofes que estão por

vir, sabe identificar o porquê dessas catástrofes. Será que não

pode contribuir para estancar as causas das catástrofes? Em sua

própria vida, em sua casa, em seu trabalho, em seu consumo?

Então, posso perguntar? O que você tem feito de efetivo e

prático para reduzir a sua influência perniciosa no ambiente?

Você já percebeu que você é, como todos os outros seis bilhões

e meio de habitantes do planeta, responsável pela degradação

ambiental? Pense nisso. Pergunte-se isso na próxima vez que se

mirar em um espelho.

Page 45: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

PROBLEMAS AMBIENTAIS RELEVANTES:

UM RESUMO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS QUE MAIS ASSUSTAM

OS BRASILEIROS

O desaparecimento da água potável

isponibilidade: 97,5% de água salgada e 2,5% de água

doce, assim distribuídos:

- 68,9% calotas polares e geleiras

- 29,9% águas subterrâneas

- 0,9% outros reservatórios

- 0,3% rios e lagos

- 0,75% da água do planeta é disponível para satisfazer as

necessidades humanas

- 0,7% dessa água são águas subterrâneas

- 0,05% águas de superfície

Dados da Organização das Nações Unidas - 2000:

"No ritmo atual de poluição e explosão demográfica, as

perspectivas são sombrias. Em 25 anos um terço da humanidade

estará morrendo por sede ou contaminação de água. As

primeiras vítimas serão moradores de metrópoles e regiões

desérticas".

Uso da água pelo ser humano:

- alimento

- ingestão direta

- agricultura

- elaboração de alimentos

- doméstica

- industrial

- escassez de água

- fome

- desidratação

D

Page 46: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

O corpo humano é composto de 70% de água

Necessita de consumir, em estado natural, uma média de 2/3

litros dia

O corpo humano perde:

- 0,80 litro pela transpiração

- 1,5 a 3 litros, pela urina

- 0,50 litro na respiração

- 0,20 nas fezes

Cerca de 3 a 4,5 litros/dia de perda.

Média ideal de gasto por pessoa dia: 40 litros

Média de gasto no Brasil, por pessoa dia: 200 litros de água

tratada.

Estima-se que 70% da água tratada no Brasil são desperdiçados

em vazamentos

O consumo sobe em média 5% ao ano - tendendo a aumentar

proporcionalmente ao aumento da população

Isso equivale à construção de uma Usina de Itaipu a cada 4 anos

78% da água do Brasil estão na Região Norte, sendo 60% só na

Amazônia

13% de toda água doce disponível no mundo estão no Brasil

Os problemas da falta d’água são em razão de:

- distribuição irregular dos reservatórios

- contaminação

- poluição

- desperdício

- maior demanda (crescimento demográfico e ampliação dos

rebanhos)

Mais de um bilhão de pessoas no mundo não tem acesso a

água potável

Page 47: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

58% dos municípios brasileiros não têm água tratada

25 mil pessoas morrem diariamente como consequência direta

ou indireta da carência de água

Poluição/Contaminação:

- produtos químicos e pesticidas (Sul)

- metais tóxicos - mercúrio (Centro)

- esgotos industriais e residenciais (Sudeste)

No agreste nordestino uma lata de 20 litros custa 50 centavos

Em São Paulo, mil litros de água tratada custam 66 centavos (no

agreste, a mesma quantidade custaria 25 reais)

Segundo dados das Nações Unidas, em menos de 25 anos 2 em

cada 3 habitantes do planeta serão afetados por alguma forma

de escassez: sede, pobreza ou doenças contagiosas. Hoje, a

proporção é de 1 por 3.

Hoje há pelo menos 70 conflitos declarados por causa da água.

O consumo dobra em média a cada 25 anos, tendendo a

aumentar

No ritmo atual, em 2008 - 60% da população mundial não

disporá de água doce potável.

Desmatamento – Amazônia

uase 70% das florestas do mundo estão distribuídas entre

Brasil, Rússia e Canadá.

Madagascar hoje tem apenas 10% da cobertura original

Q

Page 48: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Indonésia e Ilhas Sumatra e Bornéos, 7,8%

Filipinas, 3%.

No Brasil:

- 13% da área da Floresta Amazônica brasileira foram

desmatados desde 1500

- 57,4% da Floresta Amazônica está no Brasil - equivalente a 4,9

milhões de quilômetros quadrados

- Os cerrados têm apenas 20% da área original

- A Mata Atlântica, apenas 7,5%

A cobertura vegetal é necessária para

- ambiente para vida - ecossistemas

- liberar oxigênio necessário à respiração

- reter dióxido de carbono - prejudicial

- sombrear - refrescar

- reter água na terra e umidade no ar

- produzir frutos/alimento e abrigo

- proteger o solo da desertificação

As destruições de cobertura vegetal se dão principalmente em

razão de:

- queimadas

- madeireiras

- ocupação humana

O programa oficial Avança Brasil - a ser implantado até 2007 -

com pavimentação da BR 163 - Cuiabá/Santarém vai acelerar o

desmatamento da Amazônia, que poderá chegar, em 20/30

anos a 42% da floresta brasileira original (de 1.500), com apenas

5% de área intocada (dados do IMPA e do Smithsonian

Institucion)

75% do desmatamento ocorrem em torno das rodovias

Até 100 quilômetros ao lado delas são ocupados

O consumo de madeira cresceu em mais de 60% em 40 anos, a

maior parte, como lenha nas regiões pobres (aumentando a

pobreza, aumenta o desmatamento para esse fim).

Page 49: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Aquecimento Global

umentos periódicos de temperatura são comuns (em

períodos de cerca de 120 mil anos)

O aquecimento hoje é causado em grande parte pelo homem.

Vai afetar sua existência.

Efeito estufa é causado principalmente pelo acúmulo de CO2,

gás carbônico na biosfera, impedindo a fuga de parte do calor.

É imprescindível para a vida (sem os gases “efeito estufa” a

temperatura média do planeta seria em torno de - 18º).

A concentração desses gases está crescendo de forma

alarmante,

Principalmente, por causa de:

- queima de combustíveis fósseis (carros, indústrias)

- incêndios e queimadas

- plantações de arroz e criação de gado (metano, óxido nitroso

e outros)

Acredita-se que a emissão desses gases deve dobrar

neste século Desde 1861, o nível do mar já subiu até 15 cm em

razão de degelo de geleiras.

Com o aumento do nível do mar, morrem os recifes de

coral, responsáveis pela habitação de 65% das espécies de

peixes.

O aquecimento altera e prejudica todo o ecossistema do

mundo

Pesquisadores e o último Painel Intergovernamental da

ONU apontam o ser humano como o responsável por uma

assombrosa mudança no clima.

Há previsão de que a temperatura suba cerca de 6º até o

final do século, causando inúmeras catástrofes em todo o

mundo e para toda forma de vida.

O aquecimento agrava o problema

- das queimadas,

- da desertificação,

- dos desmatamentos

- e, consequentemente, da fome, da miséria, etc

- das áreas próprias para ocupação - que diminuem

Com o aquecimento, aumenta o nível dos mares, pelo

degelo das calotas polares e pelo aquecimento da água (que,

aquecida, aumenta de volume). A água e a atmosfera

aquecidas propiciam maior número de catástrofes naturais,

como tufões, furacões, tornados, temporais tropicais, etc.

Apenas por interesses econômicos, os países do mundo

não chegam a um consenso quanto à redução de emissões.

A

Page 50: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Os EEUU, com 4% da população mundial e responsável

por 25% da emissão de gases, não aceitam em firmar o

Protocolo de Kioto que prevê a redução gradativa dessas

emissões.

Destruição da amada de ozônio - chuva ácida

tribuem-se a destruição da camada de ozônio aos gases

clorofluorcarbonos

A camada de ozônio, na estratosfera, retém parte dos raios

ultravioletas vindos do sol. Os buracos são áreas com a camada

mais rarefeita.

Prejuízos no ser humano:

- câncer de pele

- envelhecimento precoce da pele

- manchas solares

- queimaduras

- prejuízos ao sistema imunológico

Prejuízos nos ecossistemas marinhos:

- afetam os fitoplânctons (algas unicelulares), prejudicando toda

a cadeia alimentar dos oceanos

- prejudica a fotossíntese

- altera estruturas de DNA

Chuvas ácidas são provocadas por gases provenientes de

combustíveis fósseis que se convertem, através de reações

químicas na atmosfera, em ácidos nítrico e sulfúrico. São

depostos pela chuva ou neve.

A

Page 51: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

O que fazer com o lixo?

ada brasileiro produz, pela média, 440.000 quilos de

lixo/ano

O Brasil produz 88 milhões de toneladas/ano e

240.000 toneladas/dia

Degradação no meio ambiente:

- papel, 3 meses

- filtro de cigarro, 1 a 2 anos

- goma de mascar, 5 anos

- madeira pintada, 14 anos

- náilon, 30 anos

- latas alumínio, 200 a 500 anos

- plásticos, 450 anos

- fraldas descartáveis, 600 anos

- vidro, 4.000 anos

- borracha, inestimado

No Brasil, 25% da população joga lixo nas ruas, terrenos baldios e

encostas

O lixão, praticado na maior parte das cidades do país, é um

sério problema, já que deixa o lixo a céu aberto

O lixo industrial é altamente tóxico - indústrias químicas,

eletroeletrônicas, metalúrgicas, indústrias de peças para carros e

materiais de borracha, etc.

Cerca de 50% do volume e 30% do peso do lixo são compostos

por embalagens

O lixo atômico é composto principalmente de plutônio, que leva

cerca de meio milhão de anos para perder seu potencial

agressivo

A produção anual de plutônio é de cerca de 200 a 250 quilos,

sendo que bastariam 500 gramas para causar câncer de

pulmão em todos os habitantes do planeta.

No Brasil, apenas 137 municípios, dos 5.507 existentes, praticam

alguma forma de coleta seletiva de lixo.

C

Page 52: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

São Paulo produz 13.800 toneladas de lixo dia. Segundo dados

da Limpurb, 92% vão para grandes aterros, 7% para

incineradores e usinas de compostagem e 1% é reciclado.

PERDA DA BIODIVERSIDADE

Biodiversidade estimada no mundo: 5 a 50 milhões de espécies.

Dessas, apenas cerca de 1,4 milhão foram identificadas e

catalogadas.

- 800 mil insetos

- 250 mil vegetais

- 40 mil vertebrados

- restante: invertebrados, algas, fundos e microrganismos.

No Brasil estão 10 a 20% de todas as espécies do planeta.

A biodiversidade é destruída por

- desmatamentos

- queimadas

- extração mineral

- comércio ilegal de variedades

A velocidade da destruição das espécies:

- Entre 1500 e 1850 - 1 espécie eliminada por cada dez anos

- Entre 1850 e 1950 - 1 espécie por ano

- Em 1990 foram eliminadas 10 espécies por dia

- Em 2000, uma espécie por hora ou 24 por dia.

De 1975 a 2000 foram extintas 20% das espécies vivas.

De 1950/2000 eliminado 1/5 das florestas tropicais

Mais de 14% das espécies vegetais estão em extinção

2/3 das 9.600 espécies de aves do planeta estão em declínio e

11% ameaçadas de extinção

11% das 4.400 espécies de mamíferos encontram-se em perigo

iminente de desaparecimento

1/3 de todas as espécies de peixes estão sob ameaça.

Page 53: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Excesso de poluição no ar, na água e no solo

esde o início da revolução industrial - 1751 - 271 bilhões

de toneladas de carbono foram depositadas na

atmosfera.

Nos últimos 50 anos, apenas os EEUU lançaram 186 bilhões de

toneladas.

Problemas mais sérios:

- gases "efeito estufa" em quantidade excessiva

- resíduos tóxicos nas bacias hidrográficas

- "smog" - massa de ar estagnado composto por diversos gases,

vapores de ar e fumaça

80% da poluição atmosférica das grandes cidades vêm do

escapamento dos carros.

20% das fábricas, incineradores de lixo, incêndios, etc.

A poluição das águas é causada por lixo, esgoto, deposição de

detritos e outras formas de sujeira, mercúrio dos garimpos,

resíduos de baterias e pilhas, etc.

A poluição sonora provoca estresse, distúrbios físicos, mentais,

psicológicos, insônia, deficiência auditiva, altera a pressão

arterial, causa problemas digestivos, má irrigação sanguínea da

pele e até impotência sexual.

A poluição do solo vem principalmente da deposição de

resíduos e da excessiva e má utilização de agrotóxicos e

algumas formas de adubo. Afeta diretamente água, solo e

atmosfera.

A poluição visual prejudica a qualidade de vida das pessoas,

ofende sua integridade psíquica, causa nervosismo, cansaço e

mal estar; prejudica o hábito de alguns animais, confundindo-os.

D

Page 54: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Queimadas

ão responsáveis em grande parte pela extinção da

biodiversidade, eliminando plantas e animais.

Causam:

- doenças nos seres humanos:

- respiratórias

- asfixia

- alérgicas

- oculares

- de pele

- cardiológicas, etc.

- ressecamento da atmosfera

- aumento da poluição do ar, do solo e das águas

- aquecimento global

- deposição de gases tóxicos pela queima de lixo (borracha,

tintas, materiais de construção, etc.) e materiais químicos - e

industriais

- desertificação.

Superpopulação

tualmente, pouco mais de 6 bilhões de habitantes

ocupam o planeta.

Para 2010 estão previstos 7 bilhões de habitantes e 8 bilhões em

2021.

S

A

Page 55: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Nos últimos 25 anos a população cresceu em 2 bilhões de

pessoas; no mesmo período, a cobertura florestal planetária

diminuiu 10%, as 100 principais espécies de água doce

reduziram-se em 45%, desapareceram 50% de todos os mangues

e várzeas - houve uma queda de 30% nos ecossistemas (1,5% ao

ano) - segundo o IPV (Índice Planeta Vivo) do Fundo Mundial da

Natureza.

O aumento da população provoca derrubada de árvores para

ocupação, deposição de lixo e resíduos no solo, nos rios e

oceanos, eliminando formas de vida, aumento da atividade

produtiva agrícola e industrial, na criação de gados, aumento

da emissão de gás carbônico, de incêndios e queimadas,

demandas por alimentos, etc.

Nos próximos 30 anos, os 30% de países mais pobres responderão

por 90% do crescimento populacional.

Segundo o relatório "State of the World", do Worldwatch Institute,

"dentro de no máximo uma geração países como Mauritânia,

Etiópia e Haiti estarão praticamente sem vegetação por causa

da busca de lenha para cozinhar".

O desmatamento da Amazônia brasileira - responsável por 20%

de toda a biodiversidade mundial - chega a 18.000 quilômetros

quadrados, o equivalentes a 1 milhão e 800 mil Maracanãs, ou

49,34 quilômetros/dia, equivalentes a 4.931,5 Maracanãs.

Nos últimos 40 anos, a pesca oceânica saltou de 18 milhões de

toneladas anuais para 95 milhões. As espécies mais importantes

estão esgotadas.

Estimam-se 90 milhões de novos habitantes por ano, o que vai

exigir 26 milhões de toneladas de alimentos a mais em cada

ano.

O que pensar do nosso futuro?

grande questão desse início de milênio e de século é

avaliar as possibilidades de paralisar e reverter o quadro

dramático de nosso planeta.

Para que a vida no planeta tenha futuro há a necessidade de

um movimento emergente no sentido de reverter o quadro. Isso

A

Page 56: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

depende da conscientização global da existência dos

problemas e da vontade de cada um de tomar parte nessa luta.

Os países mais ricos têm que se conscientizar que, ao invés de

exercitar a atual política imperialista adotada vorazmente em

todo o mundo, eles precisam auxiliar os países devedores e os

países pobres. Sua própria subsistência depende disso.

Os mais ricos, em todos os países, precisam ter consciência em

melhorar a distribuição de renda.

A legislação ambiental precisa ser ampliada e cumprida e

aplicada. As mínimas agressões ao meio ambiente devem ser

coibidas.

Algumas medidas possíveis de serem adotadas

principal medida a ser adotada é a de que o ser

humano se conscientize de que ele não é um organismo

único no planeta, que ele não está só, mas faz parte de

um grande organismo vivo. A morte desse organismo, por

qualquer motivo que seja, vitimará todos os seus habitantes. A

doença social ou ambiental desse organismo afetará

igualmente a todos de uma ou de outra forma.

Há a necessidade de adoção de novos paradigmas. O ser

humano precisa se ver em seus semelhantes e em todas as vidas

do planeta. Precisa entender que há uma interdependência

cósmica unindo toda a espécie de vida em todo o planeta

como um único fio. O que prejudica a vida em um singelo e

longínquo lugar ressoa em toda a vida, em todo o planeta. E

talvez em todo o Universo.

Como medidas objetivas, é necessário que, imediatamente:

- haja uma educação permanente e persistente, maciça e

impositiva, apontando a necessidade de se reconstruir o muito

que já foi prejudicado, preservar o que ainda existe, e construir

condições mais favoráveis ao meio ambiente;

- contenha-se a explosão demográfica;

A

Page 57: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

- cessem as atividades de degradação;

- a miséria seja erradicada;

- haja a reversão de degradações, principalmente em regiões

ambientalmente vulneráveis ou que representem situações

ambientais perigosas.

O futuro imediato poderá ser para nós ou o nono dia da

Criação, ou o segundo e definitivo dia da destruição.

Cabe ao ser humano decidir sobre qual dos dois caminhos irá

adotar.

Page 58: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

15 DE ABRIL - DIA NACIONAL DA CONSERVAÇÃO

DO SOLO

adrão de solidez e robustez para nossas comparações

cotidianas, suporte de 6 bilhões de habitantes da raça

humana, o solo começa a dar mostras de cansaço e de

esgotamento. O solo terrestre não é muito novo, já que a

formação do sistema solar data de alguns bilhões de anos.

Nunca foi muito calmo, passando por transformações constantes

e muitas vezes violentas no vômito de uma atividade vulcânica,

no sacolejo de um terremoto. Foi estruturado e reestruturado,

pintado, desenhado, redesenhado, esculpido, e transformado,

pelos cinzéis afiados do vento, das tempestades, dos cursos de

água, mas sempre sustentou uma importante fatia da biota

planetária.

Esbarrou, enfim, com a sofreguidão, a ânsia e a ganância de

uma das raças que sustentou e alimentou, a humana. E esse filho

desnaturado está a comprometer, sem medidas e sem

precauções, a vitalidade do solo, a exemplo de um tumor

maligno que alastra-se por toda a pele até sua máxima

exaustão e morte (naturalmente, morrendo junto) do hospedeiro.

Parece uma comparação drástica. Afinal, a raça humana,

pressuposto de uma criação superior divina, tem consciência,

tirocínio e inteligência. Sabe avaliar e diagnosticar, comparar e

medir, criar e corrigir. Mas, a comparação procede. Agimos

como câncer de pele, deitando tentáculos e sugando a

vitalidade de nosso hospedeiro, o planeta.

Dia 15 de abril foi, acanhado, dia nacional comemorativo

da preservação do solo, instituído pela Lei 7.876/89.

Comemorativo?! Quando se trata de itens ambientais

dificilmente há um dia comemorativo. No máximo, uma vaga

lembrança e na melhor das hipóteses, um dia de reflexão. Não é

diferente, quando se trata da conservação do solo, degradado

de forma irresponsável pela deposição de uma quantidade

alarmante de detritos, e pelo despejo de metais tóxicos e

pesados, pesticidas, adubos e outros produtos agro protetores

de alto potencial danoso.

Difícil acreditar que uma simples goma de mascar possa

demorar 5 anos para se decompor no solo, como parece coisa

de ecologista leviano estimar que o plástico pode durar 500 anos

sem se degradar. A preocupação com produtos químicos,

agrotóxicos, adubos e metais pesados parece arroubo de

pessimistas românticos estressados que vêem em tudo um risco à

P

Page 59: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

existência. Não há pessimismo (ainda que haja muito estresse)

em tais constatações. Alguns venenos usados na agricultura ou

na pecuária podem levar dezenas de anos para se decompor.

O mesmo se diz de muitos outros produtos químicos, às vezes

camuflado na singeleza da tinta que deu graça e vida a um

simples rótulo de um produto de consumo qualquer. Centros

mundiais de pesquisa avaliam os custos dessa verdadeira

invasão às entranhas de nosso solo. Queimadas,

desmatamentos, impermeabilizações e outras atividades típicas

do ser humano também constrangem as possibilidades naturais

de auto regulação e de se auto recuperação do solo. Criamos

desertos em um canto, ilhas de concreto em outro, terras

pisoteadas e improdutivas mais adiante. Extraímos das vísceras

da terra grande parte das chamadas "riquezas minerais",

deixando catastróficos impactos no ambiente manipulado.

Não comemorados. Nem deveríamos. Mas, vamos

aproveitar a oportunidade e a chance de refletir sobre a

importância de nosso solo e o descaso com o qual o vimos

tratando.

Page 60: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

ESTAMOS QUEIMANDO NOSSA ATMOSFERA

uem assistiu ao primeiro dos filmes da série Matrix,

realizado no final dos anos 90, viu que o nosso planeta,

depois de ter sua atmosfera queimada pelos seres

humanos, passou a viver em um inferno glacial (perdoem a

aparente contradição dos termos). Foi um filme chocante que

ocupou e incentivou acaloradas discussões filosóficas dos meios

acadêmicos e, dentre uma série de temas focados, trouxe à

baila discussões ecológicas relevantes. Pôs a claro e denunciou

chagas profundas que a humanidade dissimula em favor de

interesses particulares. Acusou o ser humano de se comportar

não como um mamífero, mas sim como um vírus: uma forma de

vida danosa a seu hospedeiro e que pode destruí-lo.

Ficção à parte, o ser humano está, literal e velozmente,

queimando a atmosfera do planeta. Entre abril e outubro -

época que antigamente era caracterizada pelo famoso céu

azul-anil – a paisagem comum é manchada por densos e grossos

novelos de fumaça em todos os cantos das cidades e ao longo

das estradas, como se cercadas por uma infinidade de vulcões

ativos com suas esfaimadas e destrutivas bocas prontas a engolir

o ambiente natural. Essa fumaça está envenenando o ar pela

deposição de gases tóxicos, provocando ou agravando

inúmeras doenças. Os que mais sofrem são os idosos e as

crianças, o que se agrava para os portadores de problemas

cardiorrespiratórios e alérgicos. Por outro lado, grandes são os

prejuízos ecológicos, principalmente pelo aumento da

concentração de gases carbônicos na atmosfera, que acelera o

famoso efeito estufa, aquecendo desmesurada e irregularmente

o planeta.

Os brasileiros aprenderam e aprendem que o Brasil é o

grande paraíso ecológico da humanidade, mas não tomaram

consciência de que está entre os vinte países mais poluidores da

atmosfera global. Na maior parte em virtude das inúmeras

queimadas que ocorrem em todo o território nacional. Em alguns

dias secos os satélites de monitoramento chegam a captar seis

ou oito mil grandes focos de incêndios no país. O sonho de

alguns, de receber ajuda econômica pelo hoje em dia tão

divulgado seqüestro de carbono pode estar ameaçado pelo

excesso que as queimadas depositam na atmosfera. Quase 80%

dos gases efeito estufa produzidos no Brasil são compostos por

dióxido de carbono liberado pelos focos de incêndio.

Em 1997 uma grande parcela dos países do planeta se

reuniu no Japão, em Kyoto, quando se firmou um acordo para

redução das emissões de gases que provocam o aquecimento

global. A despeito de apontar metas para a redução de gases-

estufa para vários países, a convenção, conhecida como

Q

Page 61: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Protocolo de Kyoto, não estabelece metas para o Brasil, apesar

de ser ele um dos países signatários do acordo.

Mesmo um olhar mais acanhado para as cidades demonstra

a gravidade dessa situação. Em alguns dias, cidades do porte

de Varginha chegam a ter 10 ou 15 rolos de fumaça evoluindo

na atmosfera do entardecer. Um cenário às vezes semelhante a

um campo de guerra recém bombardeado. A fuligem e a

fumaça, e o característico mau cheiro, prejudicam imensamente

a qualidade do ar.

Não existe mais o céu azul-anil de antigamente. Os olhos dos

jovens de hoje não puderam, e os das gerações futuras não

poderão ver o profundo azul, típico dessa época, que os olhos

dos jovens de ontem, um dia tiveram o privilégio de admirar. Os

netos das atuais gerações, provavelmente nem mais verão o

azul pálido e anêmico dos dias de hoje, se conseguirem

sobreviver às catástrofes ecológicas iminentes. A comparação

com uma infestação virótica do planeta, como feito no filme

acima citado, foi bem colocada.

E o que é pior: a humanidade não está participando de uma

superprodução hollywoodiana, não está vivendo em um

hipotético mundo no reino da ficção científica, descartável nos

letreiros finais, mas na mais dura e crua realidade.

Page 62: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

O TEMPO ENLOUQUECEU OU ENLOUQUECEMOS

NÓS?

ntigamente, as águas de março fechavam o verão. As

enchentes das goiabas. Hoje, todos se perguntam sobre

os destemperos do tempo. Ano passado foi muito seco.

Este ano está chovendo muito, a não mais parar... Meados de

maio, época de estio, mas, lá fora, a chuva continua caindo,

impassível, como se não conhecesse as mínimas leis de respeito

aos ciclos do tempo. No começo do ano, época de chuvas, fez

seca no sul. Mas o sertão nordestino, que costuma ser

ressequido, inundou. O sertão virou mar, os campos plantados

de soja, no sul, viraram desertos.

No litoral sul do país, ciclones extratropicais provocaram

estragos, mortes e, acima de tudo, sustos. Até nos cientistas. Não

existiam registros desse tipo de temporal no Brasil. As altas

temperaturas do verão europeu, no ano passado, mataram

centenas de pessoas. Os governos, principalmente o francês,

estão preocupados e tomando medidas que mitiguem os danos

de um verão ainda mais quente este ano. A previsão é que a

temperatura vá subir muito além do que deveria. No Canadá,

no Alasca e no norte dos EEUU, ursos acordam de sua

hibernação natural cedo demais. Não há alimentos, nem é

temporada de seus petiscos prediletos. Invadem cidades e

fazendas em busca de alimentos. Tempos de tempo maluco.

Imprevisível.

O tempo enlouqueceu... Ou nós enlouquecemos. Afinal, dos

motores de nossos carros, das chaminés de nossas indústrias, dos

pastos que queimamos para “limpeza”, sobem centenas de

toneladas de compostos e particulados para a atmosfera todos

os dias. Gazes, alguns venenosos, tóxicos, outros que

sobrecarregam a atmosfera, agravando o efeito estufa. É bem

verdade que, sem um efeito estufa providencial, teríamos dias

extremamente quentes e noites geladas. A temperatura média

do planeta cairia para alguns graus Célsius abaixo de zero e a

vida humana seria inviável.

O planeta especializou-se, no curso de alguns bilhões de

anos, em abrigar e manter a vida, tal como a conhecemos. Em

apenas alguns anos, desequilibramos o sistema. Os processos

naturais são lentos e eficientes. Afoitos, assumimos o papel que a

filosofia e a literatura antecipavam: homem, lobo do homem.

Alteramos o ambiente aquecendo a atmosfera, matando-nos a

nós próprios e outras vidas do sistema. Considerando-se o pouco

A

Page 63: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

tempo que a raça humana é a dominante, e a velocidade

meteórica com que se multiplica e multiplica os processos de

agressão ao ambiente, estamos em acelerado ritmo de

autodestruição. Desde 1850, quando começaram medições,

houve aumento médio da temperatura do planeta em 1º C. Os

mares subiram cerca de 15 centímetros (por degelo de calotas

polares). Estudos otimistas concluem que, na velocidade atual

de poluição atmosférica e acréscimo de gases efeito estufa, a

temperatura média se elevará em pelo menos 4 graus neste

século 21. O suficiente para causar catástrofes inconcebíveis,

alagamentos de cidades costeiras, inundação de países baixos

e tempestades gigantescas de alto poder destrutivo. Os mais

pessimistas... bem, é melhor não citá-los.

Para nossas loucuras, a resposta não menos louca da

natureza. Ação e reação. Recebemos o retorno dos próprias

atos. O tempo não enlouqueceu: nós, em nossa insana maneira

de viver, estamos provocando-o a se alterar. O resultado, nem

mesmo as raras mentes sãs podem prevê-lo.

Page 64: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

EM BUSCA DE ESMERALDAS NO RIO DOS DOURADOS

io de águas esmeraldas. Pontos de luzidios reflexos verdes.

Águas que abrigam vida, muita vida. E dourados – peixe

grande, escamas de ouro, de carne saborosa, em imensos

cardumes. Haja fartura. E as matas das margens? Árvores

imensas, pendidas em um balanço dolente, abaixando-se em

solene cumprimento à passagem às vezes molenga, outras

apressadas e até brabas de vez em quando, das águas mornas

de vida. Cipós, lianas, flores. Capões e capoeirões a se perder

de vista. Cheios de vida alegre e saltitante, gritos animados de

muriquis, sauás e bugios. E o barulho da passarada? Nem dá

para separar, tantos tons de sons, tantos tons de cores, que se

sobrepõem e se mostram e escondem nas vastidões desses

maciços da Mata Atlântica.

Água que nasce prata, nas muitas pingadeiras, cascatas,

que correm e se precipitam em centenas, ou milhares, de pontos

murmurantes, qual arrulho de juriti apaixonada, refletindo,

quando o sol invade sua intimidade, mil pontos de estrelas;

constelação no meio da mata, na flor da terra. Joias celestes

incrustadas em pedacinho de chão. Milagre divino de Criação!

Isso lá dentro da frondosa Mata Atlântica, que veste de muita

riqueza as vertentes, costas e encostas da Mantiqueira. Prata

que acolhe o ouro dos dourados e que se transforma nas

esmeraldas da correnteza que vai deslizando suas riquezas pelos

mansos, remansos, caudalosos, escandalosos, precipitados, mas

sempre vivos, deliciosos e delicados caminhos em direção ao

grande rio, ao Rio Grande – lá onde se despeja com muita

graça e contribui, solene mas em humilde entrega, para reforçar

a grandeza do donatário... - depois de ser dadivado com

tributários limpos e cristalinos, que ainda trazem o perfume e o

cheio das matas.

Rio Verde.

Rio Verde?!

É; Rio Verde de minha infância. Tempos distantes, quase

meio século atrás. Serão tão distantes assim? Para a humilde

mediocridade de uma vida que, se tanto, pode apenas resvalar

em 80 anos, parecem um não mais findar de voltas do planeta,

a seu redor, ao redor do Sol... Mas, comparando-os aos quatro

bilhões de anos em que a Terra é depositária da vida, riqueza

maior da Criação, são, quando muito, um único grão de areia

R

Page 65: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

jogado nas praias sem fim desse nosso belo país. Pode ser. Mas

tempo suficiente para que o rio fosse esterilizado. Para que as

matas fossem destroçadas, e sua infertilidade matasse a alegria

da vida esfuziante e esvoaçante que as ornamentava,

impedindo a plenitude de seu ciclo de captura e

aproveitamento de água. Para que secassem nascentes,

corrompessem terrenos e envenenassem a seiva do sangue de

transluzido verde, dando-lhe coloração escura, opaca e

indefinida.

A infância dos meus filhos é mais moderna, mais civilizada.

Mas muito mais pobre. Pobre deles, que não podem colher as

riquezas da prata, do ouro, das esmeraldas, que eram vivas,

alegres e puras. Pobres de meus netos que hão de nascer,

pobres deles ao receberem a perversa herança de uma

modernidade corrompida, de uma civilização destroçada. E de

uma existência sem qualidade necessária o suficiente para

sustentar padrões mínimos de saúde e de alegria. Sem as

riquezas de prata, ouro e esmeraldas do Rio Verde, que,

submisso e humilhado, chora sua correnteza por lamentos

soluçados nas pedras afiadas que rasgam seu peito. Febris

delírios pelo leito imundo de tralhas, lixos e esgotos. Coitado, nem

se pode dar ao luxo de se sentir verde...

Page 66: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

PLANO DE AÇÃO DO SOLDADO AMBIENTALISTA

ambientalista moderno não é apenas um estudioso dos

problemas ambientais e das condições de vida do meio

ambiente. É um verdadeiro soldado, engajado na luta

para a reversão da degradação ambiental, para a preservação

do ambiente ainda intacto e para a recuperação moral e ética

do ser humano. Batalha na natureza, nos gabinetes dos políticos

e administradores, nas escolas e estabelecimentos educacionais,

nas organizações governamentais e não governamentais, nas

praças e logradouros.

Sabe que precisa vencer a violência e a miséria. Que o

desemprego e a falta de instrução são inimigos do bem estar

comum e colocam em risco a existência e a coexistência

pacífica da espécie. Sabe que não se pode falar em meio

ambiente ecologicamente equilibrado referindo-se apenas ao

meio ambiente natural – ar, água, solo, fauna e flora – mas que o

equilíbrio ambiental se escora no tripé: natureza, sociedade e

economia. Sem um desses pés, os outros dois desabam.

O ecologista moderno engaja-se nessa guerra consciente de

que somente a vitória poderá fazer com que o mundo seja

viável para as futuras gerações. E, por isso, luta sem se descuidar

um só momento, e luta bravamente.

Aqui está um pequeno plano de ação, com batalhas que

você pode lutar e vencer:

Assuma uma missão ecológica diária:

Todos os dias, determine-se alguma ação concreta em prol

do ambiente. Se não puder fazer algo grande, faça uma tarefa

simples: coleta seletiva em sua casa, um plano para economizar

energia e água ou para o consumo útil e consciente. Destine-se

uma tarefa como, por exemplo, catar dez garrafas ou latas de

bebidas que estiverem espalhadas em vias públicas ou terrenos

baldios e coloque-as apropriadamente no lixo. Use a

criatividade.

Faça uma agenda de conscientização ecológica:

O

Page 67: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Adquira uma agenda, ou um caderno, e anote todos os

dias, como em um diário, de um lado, em uma primeira coluna,

as boas ações socioambientais praticadas. Faça um exame de

consciência e anote em uma segunda coluna os atos

ecologicamente incorretos (jogar lixo em lugares impróprios,

quebrar ou danificar árvores ou arbustos etc) e as omissões

(poderia ter gasto menos eletricidade, gasto menos água,

poderia ter ajudado a plantar uma árvore etc). Esforce-se

permanentemente para que a cada dia mais ações sejam

registradas na primeira coluna e menos na segunda.

Adote uma árvore:

Escolha uma árvore em uma praça pública e cuide dela.

Peça ajuda a pessoal especializado. Acompanhe seu

crescimento. Informe-se sobre sua espécie e suas características

próprias. Observe a vida que depende dela (pássaros, insetos

etc).

Exerça a cidadania:

Anote as boas ideias que beneficiem o meio socioambiental.

Apresente suas ideias aos órgãos oficiais responsáveis.

Apresente-as aos políticos (prefeito, secretários, vereadores) de

sua cidade. Cobre o resultado das ações apropriadas. Fiscalize a

execução das obras. Una-se a outras pessoas, interessadas na

solução dos mesmos problemas, para juntos exercerem com

mais eficácia esse controle.

Participe:

Exerça com energia a cidadania, mas não espere que os

resultados venham apenas dos poderes políticos. Faça sua

parte. Avalie ações com as quais você pode participar. Esforce-

se para colocar em prática suas ideias. Procure parceiros e

amigos. Arregace as mangas e trabalhe. Sempre que possível,

procure sensibilizar as pessoas de seu relacionamento: parentes,

amigos, vizinhos, colegas. Some forças.

Some forças:

Seja ativo em uma organização ou em um movimento de

cidadania socioambiental. Procure algum grupo já existente e

afilie-se a ele ou forme um grupo com seus amigos ou colegas e

seja atuante. Mantenha-se em contato com outras entidades

ambientalistas ou sociais, principalmente com aquelas que têm

mais experiência e maior número de projetos realizados.

Recrimine os atos ecologicamente incorretos:

Page 68: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Demonstre sua insatisfação com empresas, entidades ou

pessoas que pratiquem atos prejudiciais ao meio

socioambiental. Não compre produtos de origem duvidosa. Não

adquira nem crie animais selvagens. Boicote estabelecimentos

ecologicamente incorretos e prestigie os que respeitam e

protegem o meio ambiente e têm compromissos de

responsabilidade social.

Cuide dos resíduos:

Não jogue poluentes em cursos d'água ou no esgoto. Separe

o lixo reciclável, doando a entidades beneficentes os papelões,

as latas de alumínio e as garrafas de refrigerante. Não deixe

pilhas e baterias jogadas diretamente no meio ambiente. Cuide

para que o lixo de sua casa seja acondicionado de maneira

apropriada e entregue aos caminhões de coleta.

Este plano é só um esboço. Acrescente-lhe ações

apropriadas. Execute-as. Divulgue-as sempre em seu meio de

relacionamento. Lembre-se: um soldado deve estar sempre

alerta e sua batalha deve ser continuada. Comece a agir agora.

A situação socioambiental do mundo de hoje exige ação

imediata. Não há tempo para pausas ou descansos.

Page 69: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

QUEIMADAS – SAÚDE, DINHEIRO E BEM ESTAR QUE

VIRAM FULIGEM E FUMAÇA

m dos grandes problemas que assolam em especial o

ambiente planetário e, em particular, o brasileiro são as

queimadas. Com ocorrência habitual entre os meses de

maio e outubro, época mais seca, são geralmente provocadas

de forma intencional. Ou seja, com autoria consciente, pré-

determinada e intencional de um ser humano. Sejam as

queimadas urbanas ou rurais, ambas causando elevado grau de

prejuízo ambiental, são uma forma drástica e danosa de,

literalmente, queimar dinheiro e saúde. As queimadas, em

qualquer ambiente em que ocorram, lançam no ar uma

quantidade enorme e prejudicial de gases efeito estufa, como o

dióxido de carbono, contribuindo para o acelerado processo de

aquecimento global que hoje já causa sérios transtornos – como

inundações, fortes temporais intra e extra tropicais, excesso de

nevascas, calor, seca etc.

É de se considerar ainda que, computando-se as inúmeras

queimadas nesse período em território brasileiro, o País é o

quarto maior emissor de gases efeito estufa do planeta.

Mas não param aí os estorvos e prejuízos do ar poluído pelos

gases que se originam das queimadas. Há um aumento de

distúrbios físicos consequentes: desde pequenas irritações

oculares, peles ressecadas, enjoos e mal estar digestivos, até

sérios problemas cardíacos e respiratórios. Ocorre considerável

volume de internações hospitalares associadas à má qualidade

do ar, fruto principalmente de escapamento de veículos

automotores, fábricas e incêndios. Muitos óbitos são, inclusive,

registrados e associados a tais causas nos períodos secos,

normalmente agravados pela coincidência com a época de

frio. Além disso, relacionam-se à má qualidade do ar o

aparecimento ou agravamento de cânceres e a ocorrência de

morte súbita em recém nascidos.

O período seco e frio do ano é época de fácil transmissão

de gripes e pneumonias e a má qualidade do ar, que provoca

irritação e pequenas lesões nas vias respiratórias superiores (nariz,

garganta), facilita grandemente a transmissão e o contágio

dessas doenças, possibilitando fácil ingresso dos respectivos

agentes patogênicos nos organismos humano e de animais

domésticos.

U

Page 70: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

As queimadas rurais empobrecem a terra, destroem

cobertura vegetal imprescindível à manutenção do ciclo hídrico

regular e causam desertificação. O solo, sem a proteção da

cobertura vegetal, é vulnerável às erosões. A radiação de calor

devolvida ao espaço aumenta, incrementando o processo de

aquecimento do planeta. Isso quando o prejuízo não é

infinitamente maior pela transposição do fogo para matas e

florestas, destruindo habitações da fauna, inviabilizando a

ocorrência de biodiversidade e ressecando áreas de recarga de

água, sem falar no agravamento das chuvas ácidas.

Áreas, sejam rurais ou urbanas, submetidas insistentemente

às queimadas acabam por ter seu valor econômico diminuído.

Isso, sem falar nos inúmeros acidentes que o fogo acarreta,

danificando e destruindo patrimônios públicos e particulares,

além de danos nas linhas de transmissão de eletricidade,

gerando grande custo a todos. Pesquisas realizadas por

universidades concluíram que a desvalorização patrimonial em

razão de danos ambientais pode chegar a mais de 20%.

Lugares, com áreas naturais preservadas, são comercialmente

mais valorizados e, consequentemente, mais procurados.

O fogo sacrifica a vida que se tenta proteger nos parques

florestais. Terras expostas em razão de queima da cobertura

vegetal, permitem um fluxo maior e mais rápido de poluentes e

agentes contaminantes para o ar e para os leitos de água.

Permitem, também, um trânsito rápido e inadequado de

material orgânico necessário à qualidade sadia do solo. A

queima de produtos tóxicos, como plásticos, tintas, papéis

industrializados, borracha etc., envenena o ar. Os prejuízos são

incontáveis: desde o aborrecimento das donas de casa,

assaltadas pela sujeira impertinente da fuligem, até as graves

doenças associadas ao ar ressequido, poluído e envenenado.

É imprescindível que sejam tomadas medidas drásticas e

imediatas para reduzir o volume das queimadas. Cabe a cada

cidadão, no exercício do direito e do dever de resguardar um

ambiente saudável e adequado para a manutenção da vida no

planeta, principalmente das gerações futuras, impedir que atos

tão perniciosos, como a prática danosa de provocar

queimadas, continuem a ocorrer.

Page 71: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

ÁGUA, O TESOURO QUE VASA PELO RALO

im, quando se trata de recursos naturais, o Brasil é o grande

vencedor. Medalha de ouro em quantidade de água

(cerca de 13% da água potável disponível no planeta), em

biodiversidade (quase 20% das espécies vivas), em florestas

(cerca de 60% da maior floresta tropical úmida, a Amazônica).

Mas, na direção oposta, somos também grandes competidores:

alto índice de desmatamento (a Mata Atlântica está reduzida a

míseros 5 ou 6% da área original – tendo como parâmetro o

descobrimento oficial, 1500 -, a floresta Amazônica está sofrendo

um desmatamento equivalente a uns três mil metros quadrados

por hora), poluição atmosférica crescente (milhares de

toneladas de carbono originárias das queimadas, dos motores a

combustíveis fósseis, das fábricas) etc.

Fixemo-nos, por ora, no enorme desperdício da água. A

metade da água distribuída é desperdiçada, quantidade que

daria para abastecer ao mesmo tempo a França, Bélgica, Suíça,

Norte da Itália e Holanda, conforme atesta o teólogo, filósofo e

ecologista Leonardo Boff. Ressalta, ainda, que, para que seja

produzido um quilo de carne bovina, são gastos 15 mil litros de

água; um quilo de vegetais, mil e 300 litros. Um ovo nos custaria

mais de mil litros.

Apenas 3% da água existente no planeta são potáveis e

somente 0,75% está acessível para consumo humano e utilização

agrícola e industrial. A maior parte, cerca de 70%, vai para a

irrigação e produção agrícola e para a agroindústria. As

indústrias utilizam a média de 20% e 10% são utilizados nas casas.

O maior desperdício vem na má utilização, distribuição irregular

e poluição da água urbana e industrial. As construções e vias

impermeabilizam o solo, cerca de ¼ parte da água tratada e

distribuída se perde em vazamentos, entre o fornecedor e as

torneiras do consumidor. A destruição da cobertura vegetal,

principalmente a eliminação das matas de topo, alteram

radicalmente a distribuição dos reservatórios. A falta das matas

ciliares permite que as águas escoem em velocidade

inconveniente para os cursos principais, provocando

assoreamentos e não raramente enchentes no período de

chuvas e escassez no período de secas.

O excesso de agrotóxico utilizado nas lavouras, além de

contaminar lençóis freáticos, escoa com rapidez, água abaixo,

contaminando cursos de água. Idem, no que se refere ao lixo

irregularmente atirado no ambiente. As queimadas ressecam e

S

Page 72: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

aquecem em demasia o ar, alterando os ciclos dos ventos e das

chuvas. As consequências: desertificação, tempestades tropicais

e extratropicais anômalas, secas em um dos pratos da balança,

com temperaturas extremamente altas, e esfriamento em outro,

com tempestades de neve, inundações etc. etc.

Hoje, perto de 70% das internações hospitalares e doenças

tratadas têm origem em veiculações hídricas, ou seja, vêm da

água ou de sua carência. Mais de 2 bilhões de humanos, dos 6

que habitam o planeta, padecem pela falta ou má qualidade

da água, segundo dados da ONU, que também adverte que

essa proporção crescerá, em menos de vinte e cinco anos, para

2/3 do contingente populacional.

A água, também segundo dados da ONU, mata, pela má

qualidade, dez vezes mais que as guerras armadas. Informa que

cerca de 70 conflitos existem hoje pelo acesso a esse precioso

líquido. O grande tesouro do século atual se degrada

rapidamente. Nós estamos sofrendo as consequências da

degradação. Sofreremos cada vez mais, enquanto não

soubermos aproveitar bem tão precioso. Sem dúvida, estamos

deixando escapar pelos ralos uma riqueza inestimável. Nossos

descendentes nos cobrarão essa dívida.

Page 73: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA:

A ÁGUA QUE MATA A SEDE E O SER QUE MATA A ÁGUA

evidência da “morte” de nossas águas salta à vista: a

má qualidade hídrica é responsável por cerca de até

70% das doenças diagnosticadas e internações

hospitalares. Mais da metade da água doce aproveitável do

mundo está comprometida por poluição e contaminação. De

todos os grandes rios do planeta, apenas dois estão despoluídos:

o Amazonas, na América do Sul, e o Congo, na África.

A imundície carregada pelos cursos de água já transformou

imensas áreas marinhas em verdadeiros desertos – cerca de 150

zonas mortas, uma delas no sudeste brasileiro – que estão

evoluindo em ritmo veloz e voraz. Cada um com um índice de

oxigênio dissolvido na água inferior ao necessário para manter a

vida. A cada década a área morta dos oceanos dobra. Muitas

espécies de peixes marinhos, grande fonte de alimentação,

estão criticamente ameaçadas pela progressão das zonas

mortas.

Queimadas ressecam o ar, prejudicam a saúde da

biodiversidade, destroem habitat e, dentre tantos outros

prejuízos, envenenam a água, além de interferir prejudicialmente

no ciclo das chuvas. Os inúmeros rolos de fumaça que evoluem

na atmosfera das periferias e arredores mostram um cenário de

pós-bombardeio. Um campo de batalha onde todos são vilões e

vítimas.

O quadro de desolação não tem um fim: esgotos nos cursos

de água, lixo atirado a esmo, agrotóxicos esbanjados

contaminando lençóis freáticos e aqüíferos; garimpos

despejando mercúrio e assoreando os leitos aquosos;

desmatamentos, impedindo a concentração de água na

atmosfera e no solo... Uma interminável lista de armas letais que

estão levando nossos escassos recursos hídricos – menos de 1%

do total da água planetária – à morte.

Enquanto isso, por outro lado, a demanda aumenta. Durante

o século XX a população mundial triplicou (de 2 para 6 bilhões

de habitantes), o consumo de água foi multiplicado por sete, as

áreas irrigadas cresceram mais de 6 vezes, enquanto a

degradação dos mananciais subtraiu um terço das reservas

hídricas do planeta. Estão nítidas as advertências de morte da

A

Page 74: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

água potável. Ou acordamos a tempo de resgatar a vida da

água que nos mata a sede, ou morreremos junto com ela, na

maior e mais catastrófica extinção de espécies que já pudemos

algum dia supor.

Page 75: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

DIA DA AMAZÔNIA – 5 DE SETEMBRO

alvez alguém se pergunte: por que nós, que estamos tão

distantes da Amazônia, devemos nos preocupar com a

lembrança do dia instituído em sua homenagem? A

resposta é fácil: nós devemos efetivamente nos ocupar em

lembrar daquela imensa área de nosso país, como nos

preocupar com o que acontece com ela.

Quer um motivo simples? Ela é nossa. Mais da metade –

cerca de 60% - da Floresta Amazônica está no território brasileiro.

Some-se a isso o fato de ser ela a maior floresta do mundo.

Acrescente que detém entre dez a vinte por cento da

biodiversidade global, sendo a área que comporta a maior

diversidade de vida do planeta. Lembre-se, ainda, que é a área

que possui maior quantidade de água doce disponível de todo

o globo, sustentando cerca de sessenta por cento da água

brasileira – país que tem sob sua responsabilidade uma média de

12% de toda a água doce do mundo.

Você não acha isso pouco, acha? Por apenas esses

pequenos dados você consegue ter consciência da grandeza e

da riqueza da Amazônia? Resumo em uma única e pequena

frase: é a área naturalmente mais rica – e incrivelmente mais rica

do que qualquer outra – de todo o mundo. E é, em grande

parte, brasileira. Esses, por si só, já seriam motivos suficientes para

que pensássemos permanentemente nela.

Recentemente circulou pela internet – e ainda circula até

hoje – um mapa mundi, que teoricamente seria elaborado por

autoridades americanas (dos Estados Unidos da América do

Norte), destacando a Amazônia não como uma área brasileira,

mas sim multinacional, de interesse de todos os governos do

mundo. Milhares de internautas circularam o tal mapa, cheios de

indignação e de orgulho cívico ferido. Um professor universitário

comentou em classe com os alunos que, tendo visitado a

América do Norte, viu, ao vivo, em cores e em papel, o Atlas em

que estaria estampado. Posteriormente, e de forma tímida,

circulou um desmentido – o mapa brasileiro, com a deformação

que lhe emprestava a carência da Amazônia, teria sido um

trote, um brincadeira comum a alguns internautas,

habitualmente geniais mas com maturidade que beira a

infância, que sentem prazer e orgulho em engodar, via

eletrônica, os milhares de consumidores dessa mídia.

T

Page 76: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Brincadeira de mau gosto, ou verdade, o fato é que a

Amazônia realmente interessa a todo o mundo. É nela que está

o rio que tem o maior volume de água do planeta e que

também pode ser considerado seu maior rio (no meio científico

tradicional, o Rio Nilo continua a ser apontado como o de maior

extensão, mas estudiosos mais evoluídos e mais comprometidos

com a verdade, aceitam que o Rio Amazonas é o detentor

desse status). Na imensa biodiversidade vegetal existem ainda,

às escondidas, milhares de elementos químicos que poderão se

transformar em remédios e medicamentos, aguardando apenas

que o ser humano os saiba pesquisar. Lá estão animais e

incontáveis formas de vida que contribuem para o equilíbrio

ecológico do planeta. Se destruída, a temperatura da Terra,

apenas por isso, elevaria em mais de um grau Celsius. Se fosse

queimada de uma hora para outra, sua fumaça encobriria o

céu no mundo todo.

Temos motivos para pensar na Amazônia? Para deseja-la

íntegra e protegida? Sim, porque apesar de constituir tamanha

riqueza, está sofrendo um ataque de degradação incalculável.

Por hora, hoje, são desmatados cerca de dois quilômetros

quadrados da Floresta, o que corresponde a uma cidade de

porte médio. Milhares de espécies vivas estão sendo

definitivamente destruídas ou correm risco de desaparecimento

iminente, em razão de queimadas, de ocupação humana, do

desmatamento e da caça e do comércio ilegal de variedades.

Poucos dias atrás, satélites do Impe apontaram o absurdo

número de mais de cinco mil focos de queimadas no país, a

maioria na Amazônia. A degradação chega a um tamanho tão

absurdo que é percebida do espaço, pelos astronautas da

NASA.

A Amazônia é a maior riqueza natural do mundo, é vital para

a existência humana, e sua maior parte está em nosso território.

Temos por isso muitos motivos para permanentemente pensar a

respeito de sua proteção. Antes que, por uma forte pressão de

interesses econômicos, às vezes até baseados na força bélica,

desculpando-se em nome da preservação ambiental de uma

Floresta que afeta em muitos aspectos todo o mundo, aquele

mapa espúrio da internet acabe sendo oficial e definitivamente

estampado em todos os Atlas Geográficos do globo.

Page 77: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

MALEFÍCIOS DAS QUEIMADAS

(parte 1)

Desvalorização patrimonial

s queimadas, comuns nas épocas secas do ano, podem

provocar acidentes, destruir patrimônios, prejudicar a

saúde humana e agredir ao meio ambiente, além de ser

uma prática criminosa.

Observe como as queimadas são danosas: sujam suas

residências e degradam o ambiente de sua rua e seu bairro,

onde são realizadas e, por isso, desvalorizam seu patrimônio.

Pesquisa universitária realizada por alunos da USP

demonstrou que em bairros limpos, não poluídos, sem lixo

espalhado, sem queimadas, os imóveis valem em média cerca

30% a mais que em bairros semelhantes que sofram problemas

ambientais.

Pesquisas médicas indicam que a qualidade de vida em

bairros ambientalmente preservados, com arborização de

calçadas, praças e parques cuidados, é muito superior à de

áreas não preservadas. Morar em ambiente preservado ajuda a

eliminar o estresse, incentiva o rejuvenescimento e colabora

para que as pessoas sejam mais calmas e tranquilas, e, portanto,

mais felizes.

Ambientes preservados são mais arejados, têm temperatura

mais amena, são mais agradáveis de se viver e, portanto, fazem

bem à saúde física e mental dos habitantes.

A

Page 78: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

Danos à saúde

s queimadas provocam danos sérios à saúde humana e

de animais. As queimadas poluem o ar que respiramos,

depositando nele fuligem, fumaça e gases tóxicos e

prejudiciais à saúde e à vida. Quando os ambientes queimados

contêm lixo ou entulhos, há muitas vezes a deposição no ar de

gases venenosos oriundos da queima de pneus, borrachas,

plásticos, certos alimentos e óleos, tintas, vernizes, remédios,

materiais de limpeza, lixos contaminados etc.

Esse ar poluído e contaminado, ao entrar em contato com o

organismo humano e dos animais, através da respiração e do

contato com a pele, provoca inúmeros males, destacando-se:

pessoas idosas, com problemas respiratórios podem ser vítimas

de pneumonias, ataques de bronquites, agravamento de asmas,

diminuição da circulação cardiovascular, falta de oxigenação

cerebral e ataques cardíacos. Muitas vezes, casos de óbito são

relacionados com suspeita de má-qualidade do ar respirado.

Crianças, principalmente recém-nascidos, sofrem de

intoxicação, asfixia, problemas alérgicos, bronquite, asma,

broncopneumonias, rinites, sinusites e agravamentos de outras

doenças crônicas ou episódicas, como gripes etc. Existem

inúmeros casos de óbitos infantis relacionados com suspeitas do

envenenamento por poluição do ar.

Em qualquer idade, há agravamento de doenças

cardiovasculares, respiratórias, oculares, secura de pele,

aparecimento de escamas, eczemas e feridas pelo corpo,

agravamento de feridas provocadas por varizes, redução da

circulação periférica e da circulação cerebral, nervosismo, falta

de ar, tonturas, enjoos, vômitos, mal estar generalizado, dores de

cabeça, irritação dos olhos e da conjuntiva (conjuntivite), perda

de apetite, disfunções sexuais, fadigas imotivadas, desatenção

etc.

Como se vê, apesar de as crianças e os idosos serem os mais

prejudicados, mesmo pessoas jovens e saudáveis sofrem os

efeitos do ar poluído pelos gases oriundos das queimadas.

Animais, inclusive animais domésticos, são também prejudicados

com o ar poluído, chegando muitas vezes a morrer por causa de

intoxicação e envenenamento causados pelo ar de má

qualidade. O excesso de gases venenosos no ar, inclusive o gás

carbônico, diminui a oxigenação necessária à boa saúde física

e mental das pessoas, em qualquer idade e mesmo que

saudáveis.

A

Page 79: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

MALEFÍCIOS DAS QUEIMADAS

(parte 2)

Degradação ambiental

s queimadas degradam o meio ambiente. Dentre

inúmeros prejuízos que as queimadas provocam ao meio

ambiente, podem ser destacados os seguintes: as

queimadas, por colocarem grande quantidade de micro

resíduos na atmosfera, juntamente com os gases de

escapamento dos carros e os chaminés de indústrias, reforçam a

camada (cúpula) de elementos que impedem o necessário

vazamento do calor vindo do sol para o espaço, aumentando o

“efeito estufa” e o calor médio do planeta, o que é causa de

muitas catástrofes naturais, como secas, calor excessivo,

enchentes, furacões e tornados, ventania, diminuição da água

etc. No Brasil, são responsáveis por mais de 70% da poluição

atmosférica total do país.

As queimadas degradam o solo, muitas vezes tornando-o estéril

e provocando a desertificação de grandes áreas, propiciando

as erosões, tornando o solo improdutivo ou fraco. As queimadas

ressecam o ar, destroem a cobertura vegetal que é necessária

para conservar a umidade do ar, formar evaporação necessária

às nuvens, resfriar as altas temperaturas, manter nascentes e

cursos de água. Com isso, agravam o problema do

aquecimento ambiental, diminuem a quantidade de chuva,

reduzem o volume de água das nascentes, ribeiros e rios.

As queimadas destroem locais de habitação e ninho de animais

silvestres, além de matar diversos animais, principalmente filhotes,

provocando, com isso, desequilíbrio ecológico. Animais

daninhos, como ratos, ou peçonhentos, como cobras, fogem

das queimadas e das áreas estéreis podendo invadir áreas

urbanizadas, colocando em risco a saúde e integridade física

dos moradores. O gás carbônico, abundante nas queimadas, e

outros gases produzidos pelas queimadas, são fatores prejudiciais

à destruição da camada de ozônio.

A

Page 80: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

As queimadas são ilícitas

s queimadas são legalmente ilícitas e até criminosas. A

prática de se fazer queimadas é punida pela lei, inclusive

pela lei penal, podendo sujeitar o infrator a diversas

penalidades, dentre elas:

a) processo criminal: poluir o ar, por queimadas, prejudicar a

saúde pública, através dos gases resultantes das queimadas,

destruir áreas de preservação permanente ou de interesse

público, destruir a fauna ou a flora, são atividades criminosas,

sujeitando o infrator a prisão de até seis anos, dependendo dos

resultados agravados de seu ato;

b) indenização em dinheiro: além do processo criminal, o

infrator poderá ser condenado a indenizar o meio ambiente,

através da ação civil pública, e a indenizar o proprietário da

área atingida, por perdas e danos ocasionadas pelo fogo. Tais

indenizações são pecuniárias e podem atingir a grandes cifras

de dinheiro;

c) multas e penalidades alternativas, administrativas: além

de se sujeitar a processo crime, de indenizar os danos causados

ao meio ambiente e a terceiros, a pessoa envolvida na prática

de queimadas pode ser ainda multada pelo poder público em

valores que atingem cifras superiores a mil reais, ou se submeter

ao exercício de trabalho comunitário alternativo.

As queimadas colocam patrimônios em risco de incêndio ou

outros danos, são uma das grandes causas de acidentes,

inclusive com vítimas fatais e lesões graves e irreversíveis.

Proteja seu patrimônio,

Proteja sua vida,

Proteja a vida e a saúde de seus filhos,

Respeite o meio ambiente,

Tenha melhor qualidade de vida, vida mais longa e mais

saudável. Seja mais feliz:

Dê um basta às queimadas!

Denuncie quem as provoca ao Corpo de Bombeiros, à

Polícia Militar do Meio Ambiente, à Vigilância Sanitária ou

Secretaria de Saúde do seu município, ao CODEMA, nos

municípios em que existir, ao Promotor de Justiça Curador do

Meio Ambiente ou a ONGs atuantes. Mas não fique calado! Não

permita que destruam sua vida, a vida de seus entes queridos,

seu patrimônio e sua qualidade de vida.

A

Page 81: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

INVERNO, FRIO E SECA - UMA MISTURA INCENDIÁRIA

frio chegou. Novas frentes frias estão chegando ao

litoral sul. Provavelmente devem trazer geadas para

nossa região. Com a natural seca do tempo frio, baixa

umidade do ar e matos ressequidos, chega o triste período das

queimadas. Neste ano, por uma generosidade natural, a

temporada de chuvas se estendeu até agora, reduzindo o risco

dos incêndios. No entanto, a seca tarda, mas não falha. É o

estopim das queimadas.

A despeito da ignorância da maioria a respeito, queimar

lotes urbanos é crime. Essa má técnica utilizada para limpeza,

está, em vários aspectos, enquadrada como atividade criminosa

na Lei dos Crimes Ambientais, com previsão de penas que

variam entre quatro meses e oito anos, dependendo da

gravidade do resultado que a queimada atingiu.

A queimada provoca morte e extinção de seres da

biodiversidade, como animais e plantas. Coloca no ar uma

quantidade perigosa de diversos tipos de poluentes, inclusive

alguns venenosos, como, por exemplo, o resíduo da queima de

plásticos, pneus, tintas, peças industrializadas, pilhas etc. Essa

poluição, somada à baixa umidade do ar, acarreta um visível

aumento de doenças nos seres humanos e em animais de

estimação. São doenças cardiorrespiratórias, alergias de amplo

espectro, doenças oculares, irritação de pele, vômitos, enjoos,

dores de cabeça... As principais vítimas, os idosos e os recém-

nascidos.

Há um vultoso aumento das internações hospitalares no

período. Socorros médicos são procurados de forma incessante.

Há prejuízos econômicos ao setor produtivo. A previdência, que

já se diz deficitária, arca com um volume enorme de prejuízos

em internações, atendimentos, exames e fornecimento de

remédios.

Prevenir, nos diz a sabedoria dos antigos, continua sendo o

melhor remédio. A ausência de poluição atmosférica

provavelmente reduziria os atendimentos médicos e hospitalares

em até 50%, ou mais, e representaria uma economia bastante

apreciável tanto ao setor produtivo como ao setor público. E

essas despesas são naturalmente contabilizadas aos

consumidores e aos contribuintes. O repasse final de qualquer

O

Page 82: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

prejuízo, em qualquer esfera, é para o povo. A população,

como um todo, não apenas sofre os efeitos diretos e imediatos

em sua saúde e em sua qualidade de vida, como também em

seu bolso, já naturalmente extorquido pela economia recessiva

que maltrata o país.

Não bastasse isso, o acúmulo exagerado de gases efeito

estufa, na atmosfera, sofre uma maior pressão, contribuindo para

o aquecimento global e as naturais catástrofes que isso provoca.

Os jornais mostram diariamente o resultado desse desarranjo

natural: secas, tempestades e inundações, frio intenso em

algumas regiões, enquanto em outras o calor mata dezenas de

pessoas. Até o Brasil, país que se sentia imune ao ataque de

ciclones extratropicais vem sendo por eles vitimado.

Um ar mais limpo e puro proporciona uma condição

bastante melhor de existência, mais conforto, mais calma,

menos estresse. Vamos dar nossa contribuição para reduzir esse

mal que nos afeta ano após ano. Não faça queimadas. Não

permita que outros a façam. Denuncie os incendiários. Eduque,

quem estiver ao alcance de seu poder de persuasão para que

não as faça. Vamos melhorar nosso ar, nossa qualidade de vida

e nossa saúde e a de nossos filhos.

Page 83: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental

O conteúdo desse trabalho pode ser livremente copiado,

replicado, repassado, retransmitido, divulgado, publicado,

distribuído etc. para uso em atividades educacionais e/ou com

objetivo socioambiental. Mas, por favor, não o adultere e

sempre faça a citação da fonte. Caso queira contatar o autor,

escreva para [email protected].

Page 84: Nem tanto, nem tão pouco  - reflexões em educação socioambiental