Negros Escravos Negros Papa-meis

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Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

Negros escravos, negros papa -mis: fugas e sobrevivncia africana nas matas de Alagoas e Pernambuco no sculo XIX.1Janaina Cardoso de MelloDoutoranda em Histria Social - UFRJ Professora Assistente de Histria do Brasil - UNEAL E-mail: [email protected]

RESUMO: Grande parte da atividade dos trabalhadores escravos nas provncias de Pernambuco e Alagoas era voltada desde o perodo colonial para a economia do acar, consistindo em afazeres intensivos diretamente relacionados ao cultivo da terra e produo do engenho. A multiplicidade de etnias africanas reelaborava uma rede de solidariedades mtuas no dia a dia de sua vivncia como cativos, espreitando brechas para articular uma resistncia possvel ao cerceamento de sua liberdade, coisifica o de suas vidas. A territorialidade que no passado abrigara o quilombo dos Palmares mantinha, aps sua destruio, mocambos esparsos que sustentavam a resistncia negra na floresta. A mata se tornava um espao de insurreio que revivificava o processo de luta por liberdade e posse de um pedao de terra para o cultivo dos roados. Em 1832 eclodiu nas matas do sul de Pernambuco e norte de Alagoas uma rebelio rural intitulada cabanada devido a participao de segmentos populares que residiam de forma precria em palhoas de terra batida. Entre 1834 e 1835 os negros papa-mis (fala regional que definia os escravos fugitivos que se alimentavam de mel silvestre nas matas) tornam-se a quase totalidade da revolta cabana sob a liderana do mulato Vicente Ferreira de Paula. A guarda-negra papa-mel ir constituir uma identidade de povos das matas assumindo o risco de uma morte em combate, porm preservando sua liberdade insurrecional para constituir um espao de sobrevivncia entre roados e a prtica do despique at 1850. PALAVRAS-CHAVE: Cabanada; negros papa-mis; escravido; etnias

1 Esse artigo faz parte da minha tese de doutoramento em Histria Social pela UFRJ, intitulada: O medo da guerra eterna! Resistncia e negociao na cabanada (1832 -1850), sob orientao dos Profes. Dr. Marco Luis Bretas e Dr. Marco Morel. Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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ABSTRACT: Much of the activity of the slave workers in the provinces of Pernambuco and Alagoas was focused from the colonial period to the economy of sugar, consisting of intensive metier directly related to the cultivation of land and the production of ingenuity. The multiplicity of ethnic African elaborated a network of mutual solidarity on the day of his experience as captives, hiding gaps to articulate a resistance to the possibl e curtailing of their freedom, "making thing" of their lives. The territoriality that in the past sheltered the quilombo dos Palmares had, after its destruction, mocambos sparse claimed that the resistance in the black forest. The forest became an area of insurgency that make living the process of struggle for freedom and possession of a piece of land for the cultivation of planting. In 1832 broke out in the woods south of Pernambuco and Alagoas north of a rebellion rural entitled cabanada due to participat ion of popular segments that resided on a precarious in houses of straw to hit land. Between 1834 and 1835 the black pope honeys (regional talks that defined the slave fugitives who fed the honey in the wild woods) become almost the whole of the revolt hut under the leadership of mulato Vicente Ferreira de Paula. The guard -honey-black pope will be an identity of "peoples of the woods" assuming the risk of death in combat, but preserving their freedom insurrectionary to be a space for survival between planti ng and practice of despique until 1850. KEYWORDS: Cabanada; black pope-honeys; slavery; ethnicities

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Grande parte da atividade dos trabalhadores escravos nas provncias de Pernambuco e Alagoas era voltada desde o perodo colonial para a economia do acar e consistia, portanto, em afazeres intensivos com empenho diretamente relacionados ao cultivo da terra. O engenho era uma estrutura econmica relativamente complexa, e demandava, por isso, certo nmero de trabalhadores qualificados; mas estes er am um percentual pequeno do nmero total de pessoas engajadas na produo aucareira. De acordo com Antonil:

os escravos so as mos e os ps do senhor do engenho, porque sem eles no Brasil no possvel fazer, conservar e aumentar fazenda, nem 2 ter engenho corrente

Os estudos de Manuel Diegues Jnior revelam ao final do sculo XVI a Bahia e Pernambuco como os dois principais ncleos canavieiros responsveis por grande parte da exportao de acar brasileiro. Em Pernambuco a expanso poltica e territo rial encontra no engenho e na plantao as bases para a colonizao e permanncia do povoamento que se inicia de Olinda para o norte 3. A expanso dos engenhos na economia brasileira demonstra ter sido esta, principalmente ao norte do pas, uma atividade essencial cuja busca pela melhoria e valorizao da produtividade marcaria o empenho de seus proprietr ios. Citado por Manuel Diegues Jnior, Frei Vicente do Salvador relacionou um quantitativo de engenhos no Brasil antes da ocupao holandesa em Pernambuco, como pode ser observado na tabela 1.

2 Antonil, Andr Joo. Cultura e opulncia do Brasil. So Paulo/Braslia: Melhoramentos/INL, 1976, p.89. 3 Diegues Jnior, Manuel. O Engenho de acar no nordeste. Documentrio da vida rural. Macei: UFAL, 2006. p.16. Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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Tabela 1: Quantitativo de Engenhos no Sculo XVII Localizao Pernambuco Itamarac Paraba Bahia Rio de janeiro Engenhos 100 18 ou 20 Indefinido 50 40

Fonte: Tabela organizada a partir dos dados fornecidos por Frei Vicente do Salvador. In: DIEGUES JNIOR, Manuel. O Engenho de Acar no Nordeste. Document rio da Vida Rural. Macei: UFAL, 2006. p. 17.

A relao expe a grande participao da empresa aucareira no nordeste, configurando aproximadamente 140 engenhos nessa espacialidade, de um total de 230 engenhos no Brasil, o que corresponde a mais de 50% d a produtividade 4. Entretanto a montagem e conservao desse tipo de vetor econmico no era tarefa de fcil empreitada, como afirma Elcio Verosa a respeito da instalao destes em Alagoas:

Um engenho exigia uso intensivo de mo -de-obra, comeando com a construo da fbrica e derrubada da mata para o roado, e seguindo com sua manuteno, essa ainda mais custosa, que requeria braos para plantar, limpar, cortar e tombar a cana, para cortar e carregar a lenha para as caldeiras, para limpar os instrumentos de fabricar o acar, sem contar com os servios domsticos. Sendo o indgena local irredutvel ao cativeiro e refratrio ao tipo de trabalho que o engenho exigia, junto com o senhor de engenho vai vir o escravo africano para o trabalho de cultivar a cana, fabricar o acar e cuidar dos demais 5 servios braais da casa grande.

Nesse entremeio engenho-casa grande se configura a sociedade alagoana, com suas famlias patriarcais que constituem o emblemtico ruralismo urbano ao qual se referiu Diegues Jnior, pela acentuada influncia exercida na cidade pelo ambiente rural.

4 Ibidem, p.17. 5 Verosa, Elcio de Gusmo. Cultura e educao nas Alagoas. Histria, histrias. Macei: EDUFAL, 1997. p.45. Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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Relao que se fundamenta no interesse das famlias do acar, como centro do poder local, sobre o restante do contingente populacional da regio. 6 Manolo Florentino ao trabalhar as relaes do comrcio de escravos entre a frica e o Rio de Janeiro nos sculos XVIII e XIX, apreende a lgica do sistema escravista vinculada territorialidade brasileira nos aspectos polticos, sociais e econmicos. Segundo o historiador:

(...) o comrcio atlntico de almas exercia uma dupla funo estrutural (isto , recorrente no tempo). No Brasil era o principal instrumento viabilizador da reproduo fsica dos escravos (...), especialmente em reas intimamente ligadas ao mercado internacional em ex panso. Por outro lado, (...) tal viabilizao era necessariamente precedida pela reproduo social do cativo na frica, processo marcado por duas dimenses. A primeira, de contedo poltico -social, tinha por mvel a cristalizao da hierarquia social e da s relaes de poder nas regies africanas mais ligadas exportao de homens. A segunda, econmica strictu sensu, est relacionada forma pela qual se dava esta produo (a violncia), que permitia ao fluxo de mo -de-obra realizar-se a baixos 7 custos.

A utilizao da mo de obra escrava ao norte do pas havia sido a opo corrente desde os primeiros aportes de navios negreiros na Amrica Portuguesa. As lavouras de cana de Pernambuco, Bahia e Alagoas necessitavam desse material dinamizador das relaes produtivas. Era ele, o escravo, tornado foice, enxada e fora motriz nos engenhos, concretizava a purgao do acar, bem como a lucratividade dos proprietrios da regio. No perodo de ocupao holandesa em Pernambuco, as terras do norte alagoano receberam escravos vindos de Angola para desempenharem seus trabalhos nas lavouras de acar e nos trabalhos do Emprio da Barra Grande fundado pela West-Indische Compagnie (WIC), a Companhia Holandesa das ndias Ocidentais, destinado a venda de produtos de primeira linha como fazendas europias, azeites e demais mercadorias aos habitantes de condio financeira abastada. Ao tratar dessa espacialidade, Dirceu Lindoso chama a ateno para o relatrio de 5 de janeiro de 1634 elaborado por Van Ceulen e Johan Gyselingh, localizando a Barra Grande como um ancoradouro de navios negreiros:6 Ibidem, pp.49-50. 7 Florentino, Manolo. Em costas negras. Uma histria do trfico de escravos entre a frica e o Rio de Janeiro. So Paulo: Cia. das Letras, 2002. p.9. Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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(...) incendiamos um navio de bom tamanho, vindo negros para a Barra Grande, onde haviam sido negros; mas esse navio vendo que nos dirigamos saiu de l e entrou em Porto das Pedras; a 8 abandonaram.

de Angola com 300 desembarcados os para Bar ra Grande, os portugueses o

Reportando-se ainda ao relatrio intitulado Breve Discurso sobre o estado das quatro capitanias conquistadas , escrito pelos holandeses em 1638, Lindoso descortina a preferncia pela importao de escravos angolanos no nordeste. Segundo os relatos:

os de Angola so aqui tidos pelos melhores, j porque melhor se prestam ao trabalho e j porque, sendo recm -chegados, melhor so instrudos pelos negros velhos, pois que ele s entendem a lngua uns dos outros. Os que porm a Companhia obtm na costa de Ardra so cabeudos, tardos e difceis de se empregar no trabalho, se bem que, quando querem faz-lo, trabalham muito mais do que os Angolas. A princpio no sofrem nenhum gover no rigoroso, levamtam-se todos no campo contra os feitores que os dirigem e os moem de pancadas, ao que d causa falarem eles uma lngua que os nossos velhos no entendem, nem pessoa alguma, resultando da equvocos...Sem tais escravos no possvel fazer alguma coisa no brasil: sem os engenhos no podem moer, nem as terras so cultivadas, pelo que necessariamente devem haver escravos no Brasil e por nenhum modo 9 podem ser dispensados.

A despeito dos escassos trabalhos que versam sobre as origens african as dos negros que foram escravizados em Alagoas, a fala dos holandeses permite apreender a presena de negros angolanos na regio norte da provncia , bem como um canto popular alagoano, referente s plantas encontradas em alguns arraiais cabanos demonstra a procedncia de negros do Congo nessa territorialidade: de Congo, de Congo, i, cong i, cong R, r, de Congo.10

8 Lindoso, Dirceu. A utopia armada. Rebelies de pobres nas matas do Tombo Real (1832 -1850). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. p.301 9 Ibidem, p.310. 10 Duarte, Abelardo. Folclore negro das Alagoas (reas da cana -de-acar). Macei: DAC, 1974, p.218. Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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Ainda no relatrio de Van der Dussen, em 1639, alm das referncias aos angolanos e aos ardras como seu contraponto, tambm os calabares so descritos como menos estimados que os ardras, por no manifestarem interesse ou coragem pelo trabalho. Os negros da Guin a Serra Leoa e Cabo Verde so apresentados como limpos e vivazes, embora no muito trabalhadores, acentuando -se uma preferncia pelo uso das mulheres nos servios domsticos. 11 Caractersticas presentes na tipologia social dos escravos realizada pelo ingls Henry Koster. A anlise da tabela 2 permite identificar no olhar do viajante as opinies correntes que vinculavam uma i dia de naturalidade ao cativeiro e trabalhos intensivos a serem realizados pelos negros vindos do continente africano, sendo, portanto aqueles contrapostos a essa ordem, elementos indesejveis e comprometedores do sistema escravista, por isso o baixo cust o das peas. Nesse sentido, as etnias que manifestavam sua rebeldia ao processo de transmigrao atlntica eram concebidas como perigosas e por isso requeriam uma ateno redobrada dos mecanismos de coero, saber, feitores e severos castigos. Tambm, a compleio fsica era relacionada ao bom desempenho destes no labor ou propenso para insurreies. O idioma portugus era uma forma de sociabilidade, sujeio e controle. Os escravos mais antigos e adaptados ao sistema eram encarregados da tarefa de civilizar os recmchegados, conforme as necessidades da sociedade branca. Porm, a resistncia fosse pelo suicdio, banzo ou levante mantm -se entre a maioria das etnias descritas, refletindo o temor dos brancos mediante a perda de capitais investidos como de suas prprias vidas. Tabela 2: Tipologia Social Escravista do Sculo XIX.Eram cativos no pas de origem; possuam portugueses como senhores em Luanda; mesmo os que outrora foram livres em Angola e vieram como escravos para o Brasil no levantavam to facilmente revolta; eram negros de natureza dcil e bons escravos domsticos; esforavam -se por obter liberdade. Eram tratveis como os provenientes de Angola; eram negros pesados, bons para o trabalho no campo; eram menos inteligente s que os africanos de Angola; mas aprendiam rpido o idioma portugus. Eram negros de baixa estatura e robustos, pele fosca e rosto chato; mais obstinados e sujeitos ao desespero que os demais negros escravos. Eram negros recentes no Bras il; vendidos baixo preo; cogitavam -lhe hbitos antropofgicos; possuam aspecto mais selvagem que os demais negros;

Angola

Congo

Rebolos Gabo

11 Lindoso, Dirceu. A utopia armada... Op.cit, p.310. Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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sujeitos ao desnimo pelo estado de cativeiro de onde costumavam fugir pelo suicdio ou banzo; eram de difcil catequizao pela dificuld ade no aprendizado da lngua portuguesa; eram de difcil adaptao ao trabalho nas plantaes; quando superavam dificuldades de adaptao podiam mostrar -se bem humorados, inteligentes e prestativos; eram negros de talho alto, compleio robusta, rosto mais ou menos achatado e grosseiro. Eram feios, lnguidos, preguiosos, propensos melancolia; a pele escura com todas as caractersticas negras; custavam como escravos um preo bastante baixo; cogitavam-lhe s ms qualidades dos negros do Gab o; sem a sua robustez e vigor.

Moambique

Fonte: Tabela organizada a partir de dados fornecidos por Henry Koster. IN: LINDOSO, Dirceu. Rebelies de pobres nas Martas do Tombo Real (1832 -1850) Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1983. pp 310-312.

Nas cidades onde havia uma intensa circulao de homens e mercadorias, como Salvador, Recife, So Luiz e Rio de Janeiro, os escravos de ganho executavam seus servios como doceiros, sapateiros e uma variedade de outros servios espera de contrato. De acordo com Alberto da Cost a e Silva:

Em cada uma dessas esquinas, reuniam -se os que se tinham por da mesma nao, ou falavam a mesma lngua, ou eram, na frica, vizinhos ou culturalmente aparentados, ou eram malungos, ou seja, tinham chegado ao Brasil no mesmo navio. Aqui ficavam os nags; ali, os jejes; l, os cabindas; acol, os angolas; mais adiante, os moambiques identidades que os africanos criaram no Brasil. E entre os seus aparentados e semelhantes ajustavam fidelidades e renovavam os 12 contatos com a frica de cada um.

Essa multiplicidade de etnias reelaborava uma rede de solidariedades mtuas no dia a dia de sua vivncia como cativos, espreitando brechas para articular uma resistncia possvel ao cerceamento de sua liberdade, coisificao de suas vidas. Apoiado nos estudos de Joseph Miller a respeito dos nmeros, origens e destino dos escravos no sculo XIX, o historiador Marcus Carvalho discorre que em 1810, havia em Pernambuco aproximadamente 49.233 oriundas de Luanda. Ressaltava ainda que em 1819, havia um quantitativo de 939 escravos provenientes de Benguela. 13

12 Silva, Alberto da Costa e. Um Rio chamado Atlntico. A frica no Brasil e o Brasil na frica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/UFRJ, 2003. p.158. 13 Carvalho, Marcus. Rumores e rebelies: estratgias de resistnci a escrava no Recife, 1817-1848. RevistaTempo, vol.3, n6, Niteri: UFF, 1998. In: http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg6 -5.pdf. (22/11/06) p.14. Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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O quantitativo demogrfico relacionando pessoas de origem africana mostrava um crescente em sua reproduo nas terras brasileiras, mesmo que ainda no se realizasse em propores suficientes para atender s d emandas por mo-de-obra nas atividades econmicas. Alberto da Costa e Silva salienta que comparado a cerca de um milho de escravos em 1850:no recenceamento de 1872, contavam -se dois milhes de negros e quatro milhes de mulatos, num total de dez milhes de habitantes, a fazer prova de que os negros, africano ou crioulo, se reproduzia como 14 pessoa, sobretudo como liberto ou livre.

Esse contingente negro envolve -se nos distrbios urbanos e rurais que ocorrem em funo dos embates polticos nas provncias ao longo do sculo XIX, ou mesmo em funo da busca por uma liberdade possvel que aliava escravos e forros. Marcus Carvalho ressalta a referncia do viajante Tollenare a execuo de negros envolvidos em uma sedio no Recife, em 1814.15

Comenta ainda as brechas abertas pela insurreio

de 1817 e a Confederao do Equador de 1824 que propiciaram oportunidade para a fuga de escravos que encontravam nas matas um espao privilegiado para erigir seus mocambos:Onde havia mato, sempre houve gente escondida, mas um volume to grande de quilombolas perto do recife s pode ser entendido como resultado das fugas dos cativos dos proprietrios que se envolveram naquelas insurreies. Comeando quase que s portas das cidades gmeas de Recife e Olinda, nos morros e flo restas dos subrbios a noroeste delas, os mocambos espalhavam -se pelas matas que serpenteavam entre os engenhos da zona da mata norte, conhecidas 16 pelo nome de floresta do Catuc.

Regio que terminou abrigando o quilombo de Malunguinho que recepcionava os escravos egressos de engenhos e plantis de acar durante as cises entre as elites locais.17 Isto posto que ocorrncias como as sedies militares de 1831 e 1832 no Recife, bem como o prprio movimento cabano (1832 -1835) ao sul de Pernambuco e norte de Alagoas alargavam fissuras s quais eram aproveitadas pelos escravos de forma individual ou coletiva que buscavam na vida selvtica das matas um espao de sobrevivncia longe da chibata e da rotina exaustiva dos engenhos.

14 Silva, Alberto da Costa e. Um Rio chamado... Op. cit. p. 159. 15 Carvalho, Marcus. Rumores e rebelies... Op.cit. p.2 16 Ibidem, p.7 17 Ibidem. Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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Esta territorialidade que no pass ado abrigara o quilombo dos Palmares mantinha, aps sua destruio, mocambos esparsos que sustentavam a resistncia negra na floresta. A mata se tornava um espao de insurreio que revivificava o processo de luta por liberdade e posse de um pedao de terr a para o cultivo dos roados, nesse sentido:

a importncia das matas notvel quando se pensa na vida de sociedades "excludas da histria". As florestas foram uma presena estratgica tanto para a sociedade quilombola no sculo XVII quanto para os revoltosos cabanos do sculo XIX. Nesses episdios, a mata atuou como um terceiro personagem; foi cenrio de lutas e lugar de refgio e de sobrevivncia, detendo da grande poder de representao. Por isso a floresta responsvel pela gerao daquilo que Manue l Digues Jnior (1958) denominou "ciclo do caboclo" no folclore alagoano, que levou criao de personagens como a Caipora, o Pai da-mata, as fulzinhas, o Curupira, entre outros. Representaes construdas a partir de elementos que o imaginrio da mata produzia e despertava coletivamente. tambm no Vale do Munda que se d a maior recorrncia de manifestaes do folclore negro de Alagoas, 18 segundo nos indica Abelardo Duarte (1975).

A existncia desses mocambos no interior das matas revela a constitui o de uma rede de solidariedades pluritnicas entre os pobres das matas (negros papa -mis, ndios e caboclos) que buscam nessa espacialidade a fuga da escravido, da servido, do18 CAVALCANTI, Bruno Csar; BARROS, Rachel Rocha de Almeida. Desejos de cidade: imaginrios urbanos em assentamentos rurais numa rea de reserva de mata atlntica brasileira. Horiz. Antropol., Porto Alegre, v.12, n.25, 2006. In: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104 -71832006000100011&lng=en&nrm=iso. (16/12/2006). Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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recrutamento forado aos contingentes militares e dos aldeamentos compulsri os. Embora cada um desses elementos possusse suas especificidades e contrastes, na Guerra dos Cabanos de 1832, a unidade guerrilheira entre estes tem como base as privaes de ordem econmica, social e mesmo cultural aos quais estavam sujeitos enquanto pertencentes aos segmentos mais desvalorizados da sociedade. Em 1832 eclodiu nas matas do sul de Pernambuco e norte de Alagoas uma rebelio rural intitulada Cabanada devido a participao de segmentos populares que residiam de forma precria em palhoas de t erra batida. A documentao oficial do governo provincial pernambucano relatava s autoridades centrais:

Panelas por cujo interior se derramavo os desgraados rebeldes, he hum territrio de inacessveis montanhas, e coberto de gigante arvoredo; poucos homens prticos daquelles lugares, grimpando pelos outeiros, fazem repentinamente fogo estragador sobre os nossos caadores e fogem por 19 pequenos e quaze intranzitaveis trilhos .

Esse movimento social provinha das tenses entre os grupos polticos regionais compostos por liberais (exaltados e moderados) e restauradores absolutistas. Pois com a elevao do governo moderado Regncia, muitos Senhores locais haviam perdido posies importantes que ocuparam at a abdicao de D. Pedro I, a exemplo de Torres Galindo, o ex-capito mor da vila de Santo Anto e responsvel pela conduo dos primeiros conflitos que desencadearam a guerra no interior das duas provncias do norte do pas.20 Outros chefes locais restauracionaistas, como Joo Batista de Arajo, proprietrio de terras em Barra Grande (Alagoas), empenharam -se na sublevao da populao rural que contava com a participao de pequenos proprietrios, posseiros, libertos e escravos acompanhados por seus senhores. Aps um incidente relacionado ao recrutamento f orado e apropriao de terras indgenas no qual o cacique Hiplito Nunes Bacelar foi assassinado durante sua priso

19 Ofcio do governo de Pernambuco ao Ministro d o Imprio Nicolau Pereira de Campos Vergueiro em 1o \11\1832. A citao faz parte das transcries que compem o acervo documental do pesquisador Manuel Correia de Andrade compreendendo sua pesquisa na seo de manuscritos do Arquivo Pblico Jordo Emerenc iano (PE). O referido material gentilmente cedido pelo autor, encontra -se sob minha guarda pessoal. Optou -se pela manuteno do linguajar original em todas as transcries. 20 ANDRADE, Manuel Correia de. A guerra dos Cabanos. Recife: UFPE, 2005, pp.49 -51 Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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por tropas do governo, os ndios do aldeamento localizado s margens do rio Jacupe aderiram ao movimento cabano. A participao de pobres no movimento cabano defendendo o retorno de Pedro I ao trono brasileiro contrastava -se com outros movimentos sociais do perodo como a cabanagem (PA) ou a Balaiada (MA) nos quais os segmentos populares engajavam -se em torno de grupos liberais exaltados que defendiam propostas republicanas. Por isso a cabanada permaneceu durante muito tempo obscura na historiografia brasileira que apenas ressaltava seu carter reacionrio sem perceber as complexidades em jogo. A guerra cabana eclodiu num momento em que as te ndncias liberais em divergncia no trouxeram melhorias significativas vida dos homens e mulheres simples do campo. Logo, suas idias eram vistas com desconfiana, enquanto a imagem do prncipe, deposto arbitrariamente em sua concepo, se fortalecia na tradio do pai protetor. Concepo percebida nas palavras do lder cabano Vicente Ferreira de Paula:

Adoramos o nosso Imperador o Senhor D. Pedro Primeiro, respeitamos o seo Augusto Filho, porm odiamolo no carter de Imperador, porque seo Pai no abdicou Coroa Brasileira por sua espontnea liberdade, mas 21 sim foi um roubo feito que todo o Brasil conhece!

Dessa forma as lideranas caramurus aliavam tradio brechas possveis para conquistas sociais mais amplas. Sob esse aspecto afirma Edward P Thompson que: (...) quando procura legitimar seus protestos, o povo retorna freqentemente s regras paternalistas de uma sociedade mais autoritria, selecionando as que melhor defendam seus interesses atuais. 22 A diversidade tnica e de classes sociais q ue caracterizou esse movimento aponta para a defesa de tradies que eram apropriadas diferentemente por seus partcipes. De um lado os proprietrios rurais desejavam manter seus privilgios e comando poltico, revertendo a situao de alijamento de fune s politicamente valorizadas na provncia. De outro lado, as camadas pobres desejavam assegurar seu acesso s terras de florestas (que em momentos de extrema escassez de vveres lhes

21 Carta de 20 de dezembro de 1834, publicada pelo Dirio da Administrao Pblica, de 5 de janeiro de 1835 , alocado no setor de documentao microfilmada da Fundao Joaquim Nabuco. 22 THOMPSON, E. P. Costumes em comum. Estudos sobre a cultura popular tradic ional. So Paulo: Cia das Letras, 2005. p.19 Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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garantia frutos, peixes e mel consumidos como nica fonte de sobrevivncia alimentar), uma vez que se intensificava o processo de avano da economia aucareira sobre as matas incultas.] Ao trabalhar a reivindicao dos costumes nas sociedades rurais inglesas do sculo XVIII, Thompson ressalta a ambivalncia deste e sua melhor co mpreenso a partir do conceito de habitus de Bourdieu, enquanto um ambiente que inclua prticas, expectativas transmitidas, regras que impunham limites, mas tambm possibilidades:

No contexto desse habitus, todos os grupos procuravam maximizar suas vantagens. Cada um se aproveita dos costumes do outro. Os ricos empregavam os seus bens, todas as instituies e o temor respeitoso da autoridade local. Os fazendeiros medianos, do tipo pequeno proprietrio rural, influenciavam os tribunais locais e procuravam redigir regulamentos mais rigorosos que servissem de barreiras contra grandes e pequenos abusos; podiam tambm empregar a disciplina das leis de assistncia aos pobres contra os que estavam abaixo deles na escala social, e de vez em quando defendiam os seu s direitos contra os ricos e poderosos na justia. Os camponeses e os pobres empregavam atos furtivos, o conhecimento de cada arbusto e atalho, e a fora de seu 23 nmero.

Assim, para alm do marxismo clssico que incide na definio de classes ajustadas a sua localizao na estrutura econmica em relao aos meios de produo, os estudos de Thompson abriram um novo espao para uma concepo mais plural que percebe as relaes inter e intragrupais. Alicerado por esse vis interpretativo, o estudo da cabana da opera uma nova dimenso que implica na observncia de valores cotidianos, usos e negociaes possveis. Entre 1834 e 1835 os negros papa-mis (fala regional que definia os escravos fugitivos que se alimentavam de mel silvestre nas matas) tornam -se a quase totalidade da revolta cabana sob a liderana do mulato Vicente Ferreira de Paula. A rgida disciplina militar com a qual conduzia as foras cabanas e o aldeamento do Riacho do Mato Frio era proveniente do perodo em que fora soldado. Procurava ser recon hecido como

23 Ibid, p. 90 (grifo do autor) Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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Comandante-geral da Fora Restauradora, general das Foras Realistas ou Capito de Todas as Matas. 24 Dessa forma, a representao que ele criava de si mesmo era alicerada pela defesa dos postulados absolutistas, pregando fidelidade ao ex -imperador do Brasil e professando a f catlica. Era ele aquele que frente dos cabanos restauraria o trono ao seu legtimo dono: Pedro I. Seus pontos de vista foram colocados em uma carta de 1834, na qual afirmava: eu trabalho na riligio sancta edefendo a o sr. Dom Pedro primeiro ou quem suas vezes fizer vindo assignado pelo mesmo Sr. Que Deos o Guarde.25 A guarda-negra papa-mel ir constituir uma identidade de povos das matas assumindo o risco de uma morte em combate, porm preservando sua liberdade insurrecional para constituir um espao de sobrevivncia entre roados e a prtica do despique at 1850. Para essa parcela populacional s restaria o retorno ao cativeiro em caso de capitulao, por isso permanecer de armas em punho era a nica alternativa ao sistema escravista que se perpetuava no Brasil oitocentista. As aes da guarda-negra papa-mel eram marcadas por saques s plantaes vizinhas, das quais retiravam vveres e escravos, alm de manterem vivo o costume do despique com o consentimento de Vice nte Ferreira de Paula. Isto posto que o perodo regencial, envolto em variados conflitos entre os diferentes grupos polticos locais, fragilizara uma sociedade cujo temor de insurreies escravas e ofensivas militares eclodindo em vrios cantos do pas abr ia brechas a ataques menores. Ao estudar a realidade da Bahia, Joo Jos dos Reis e Eduardo Silva afirmam que:Os negros parecem atentos e, por toda a parte, agem nos momentos mais oportunos, quando a sociedade est dividida, seja por guerra de invaso, se ja por dissenes internas (...). Muitos, por toda a parte e em todos os perodos, 26 aproveitam-se das desarrumaes da casa.

24 ALMEIDA, Luis Svio de. Memorial biographico do Capito de Todas as Matas . Tese de doutorado UFPE, Recife: 1995. 25 Carta de 20 de dezembro de 1834, publicada pelo Dirio da Admini strao Pblica, de 5 de janeiro de 1835 no setor de documentao microfilmada da Fundao Joaquim Nabuco. 26 REIS, Joo Jos; SILVA, Eduardo. Negociao e conflito. A resistncia negra no Brasil escravista. So Paulo: Cia das Letras, 2005, p.74 Revista frica e Africanidades - Ano I - n. 2 Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354 www.africaeafricanidades.com

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Assim tambm agiam os segmentos cativos de Alagoas e Pernambuco em busca de uma sobrevida nas matas. Fugir ou ser resgatado de um engenho de acar possibilitava novas formas de sociabilidade. Por isso a identidade do grupo no est dada porque o mesmo formado majoritariamente por negros fugitivos, convivendo com poucos ndios e mestios, casos que evidenciam diferentes posies n a estrutura social, uma vez que a liberdade tolhida aos escravos no o era com relao aos indgenas ou lavradores livres que participaram da cabanada e permaneceram na regio fronteiria de Pernambuco e Alagoas no ps guerra. O rearranjo de seu ambiente t radicional promove a desconfigurao do que outrora representara clivagens entre os atores sociais. Assim, a partilha de terras no Riacho do Mato, a liderana de Vicente Ferreira de Paula e a posse de terras para subsistncia so nutridas por uma negocia o simblica entre as partes envolvidas. A cor da pele ou a nomenclatura dos habitantes das matas so substitudas naquele local, mesmo que temporariamente, pela designao de povos das matas. Deste modo so reconhecidos pela sua liderana imediata, como tambm pelas foras do governo que os observam distncia. Nesse aspecto, pode-se compreender que a complexidade das relaes intertnicas entre os cabanos, aliada a solidez dos laos estabelecidos tornava a fidelidade ao projeto de sobrevivncia nas mata s, constantemente ameaado pelo avano dos canaviais, uma questo de sobrevivncia coletiva. Eduardo Frana Paiva, em seus estudos sobre Minas Gerais setecentista, j havia apontado um esforo individual e coletivo para atenuar a violncia e a desumanidade do escravismo:Uma boa estratgia para usufruir de alguns privilgios reservados aos livres foi, certamente, facilitar a miscigenao tnica e o sincretismo cultural e religioso. A partir da e distante do poder institucionalizado ou das regras de classif icao social mais visveis, instala -se um sistema de influncias mtuas, uma 27 verdadeira via cultural de mo dupla, que atenua a discriminao.

Herana do escravismo colonial, no perodo regencial os escravos buscavam formas de resistir ao sistema que a inda perdurava em bases violentas. A negociao27 PAIVA, Eduardo Frana. Escravos e libertos nas Minas Gerais do sculo XVIII . Estratgias de resistncia atravs dos testamentos. So Paulo: Annablume, 2000,p.196

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insere-se ento no quadro de atitudes cotidianas na qual se desenvolvia um processo de incorporao dos modos de vida brancos (em muitos casos muito mais uma teatralizao do que sua real aceitao), mas, sob retudo compreendendo uma reelaborao desses valores a partir da experincia de negros e mestios. Essas resignificaes culturais no se limitavam ao crculo das camadas populares, mas sim transmigravam para as classes abastadas como artifcio de intera o que no se restringia a uma simples relao de foras entre dominantes e subordinados. At porque, havia uma rede de relaes sociais muito mais plural, cuja plasticidade de interpretaes e vivncia tornava possvel uma intermediao entre mundos desig uais.

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