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No poster do Dia Missionário Salesiano 2020 aparece um adoles-cente, como tantos outros, de umCentro Juvenil Salesiano europeu, a divertir-se feliz da vida. De fundohá um mural em que apareceDom Bosco com um grupo de rapazes e por trás o Senhor Ressus-citado, do sonho dos nove anos.

Os jovens de ontem e de hoje sãoum prolongamento do sonho deDom Bosco que continua a realizar-se nos oratórios e centros juvenis daEuropa. São verdadeiras “estaçõesmissionárias” num contexto cultural,por vezes, marcado pela indiferen-ça religiosa, por situações de famí-lias feridas, carências afetivas.

As casas salesianas de “portasabertas” são uma verdadeira oportunidade para crescer noamor e na fé.

Milhares de crianças, adolescentese jovens num clima de família eamizade continuam a escutar oanúncio sempre novo do Evange-lho no meio da algazarra juvenil deum pátio. Deste modo os oratóriose centros juvenis não são apenasum lugar de entretenimento e derecreio, mas são realmente frentesmissionárias em que mediante otestemunho dos salesianos, dos lei-gos e dos animadores empenha-dos, se anuncia a fonte da alegriae da felicidade: Jesus Ressuscitado.Dom Bosco, no poster, está como a ponte entre aquela juventudeem busca de alegria e de vida e o Senhor da vida.

O texto bíblico escolhido para oDMS 2020 é o da carta de S. Pauloaos Filipenses, a segunda leitura damissa de Dom Bosco: “Alegrai-vossempre no Senhor, novamentevos digo, alegrai-vos”. Um am-biente propício, são, de serenidadee alegria é o âmbito privilegiadopara receber e acolher a Boa Nova.Por outro lado, o próprio Senhor é a causa profunda e o conteúdoda alegria cristã. As cores vivas, em tonalidades de amarelo, falam-nos de luz, de alegria.

Jovens de ontem e de hoje, DomBosco, Jesus, alegria, luz, pingue-pongue... oferecem-nos uma belaimagem daquilo que querem ser os nossos oratórios e centros juvenis hoje: casas que acolhem, paróquiasque evangelizam, escolas que preparam para a vida e pátios onde encontrar-se como amigos.

EXPLICAÇÃOdoPOSTER

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índice

Dia Missionário Salesiano 2020Explicação do Poster.............................................................................................................................................................. 2

Carta do Reitor-Mor ................................................................................................................................................................ 4

Carta do Conselheiro das Missões..................................................................................................................... 6

Dia Missionário Salesiano: Uma tradição que continua .................................................... 8

Tema Geral para este sexénio: O Primeiro Anúncio ................................................................ 10

Juan José BARTOLOMÉ. A alegria de viver em Cristo, coração da propostasalesiana de santidade juvenil. Uma reflexão salesiana sobre Fil 4,4...... 15

Os oratórios e os centros juvenis QRPJS ..................................................................................................... 24

Papa FRANCISCO Christus Vivit ....................................................................................................................................... 26

Pe. Michal VOJTÁŠ, Evolução e transformações do Oratório Salesiano......... 27

Pe. Juan VECCHI, O oratório salesiano entre memória e profecia ........................ 34

Testemunhos de Atocha (Spagna) ................................................................................................................... 43

Testemunhos de Scutari (Albânia)...................................................................................................................... 46

Testemunhos de Lecce (Itália) ................................................................................................................................. 48

Testemunhos de Chemnitz (Alemanha)..................................................................................................... 53

Testemunhos de Bratislava - Trnávka (Eslováquia) ....................................................................... 56

Oratório e compromisso social: Beato Alberto MARVELLI,O animador do Oratório ............................................................................................................................................ 58

Oratório e missão: Venerável Attilio GIORDANI, Um animadormissionário do Oratório ................................................................................................................................................ 61

Oratório e martírio: Os mártires de Poznan, Os cinco Bem-aventuradosanimadores oratorianos mártires de Poznan .............................................................................. 65

Projeto “O oratório de Lunik” na Eslováquia....................................................................................... 71

Oração........................................................................................................................................................................................................ 72

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Caríssimos Irmãos, Acho o tema deste Dia MissionárioSalesiano 2020 muitíssimo bom. Comefeito, é também um forte apelo. Diria, uma provocação. Mas tam-bém um claro convite. Provocaçãoe convite a conservar e a fazer cres-cer as belíssimas realidades que te-mos e neste caso, concretamente,os numerosos oratórios e centros ju-venis da Congregação espalhadospor todo o mundo.

Mas, ao mesmo tempo, este Dia Mis-sionário é um convite e uma provo-cação a começar ou talvez a reco-meçar este maravilhoso serviço edu-cativo e pastoral em favor dos jovensmais pobres e afastados. Portanto,uma oportunidade a não perder!

São especialmente três os temas queeste Dia suscita na minha mente eno meu coração de Sucessor deDom Bosco, sobretudo à luz das inu-meráveis visitas que tenho feito na

Congregação nos cinco continen-tes durantes estes últimos seis anos.Três temas em que muitas vezes me encontrei a insistirem e a exortar, em particular ao encontrar-me comos irmãos.

1. Como Congregação e como mis-são salesiana, nascemos no Oratório.Turim - igreja de S. Francisco de Assis,8 de dezembro de 1841, BartolomeuGarelli. Este foi o nosso início. Qual-quer outro novo início em nome deDom Bosco não pode privar-se des-te molde oratoriano. Todos os novosempreendimentos missionários daCongregação não podem fugir aeste, diria, “útero” do qual todos nóssomos provenientes.

2. Ao mesmo tempo, mesmo se falamos do primeiro tipo de obra na missão salesiana, sabemos quenão se trata de fazer “só” aquilo. Aconstante mutação dos tempos eas necessidades sempre novas dos jovens, levaram-nos nestas déca-das – caminhando nas pegadas donosso pai Dom Bosco – a criar e aousar inventar o impossível com vis-

Carta doREITOR-MOR

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ta a oferecer as respostasadequadas para cadatempo e para cada lu-gar. Assim nos encontra-mos hoje em todas asnações a oferecer a nos-sa proximidade aos jo-vens, especialmente aosmais pobres, com uma ga-ma muito vasta de obras, estrutu-ras e serviços. Nesta ampla diversi-dade missionária e pastoral há umfio vermelho, uma linfa comum quedeveria nutrir todas as presenças sa-lesianas no mundo: o espírito orato-riano. Portanto, não tudo é oratório.Mas tudo impregnado deste espíritooratoriano que somos chamados aconservar e a fazer crescer sempre.Justamente, na ação missionária daCongregação somos chamados a“mobilizar todos os compromissoseducativos e pastorais próprios donosso carisma” (C30 – Os povos ain-da não evangelizados). Como onosso compromisso missionário e onosso espírito missionário não sãode modo nenhum genéricos, umdos seus ingredientes mais caraterís-tico é este espírito oratoriano.

3. Finalmente, recordando que nas-cemos no Oratório e que o espírito

oratoriano deve dar forma e calor a tudo o que somos, dizemos e faze-mos, cada uma das nossas obras tempor vocação tornar-se “outro Valdoc-co”. Quantas vezes o repeti nestesanos, especialmente ao visitar pe-quenas nações, como algumas daAmérica Central, África ou nas ilhasoceânicas do Pacífico: “esta casadeve tornar-se o Valdocco de...”

Por isso, queridos irmãos, desejo vi-vamente que este tema missionáriotão caro a Dom Bosco e tão empe-nhativo para toda a Congregação,possa trazer novos e abundantesfrutos missionários!

Pe. Ángel Fernández Artime, sdbReitor-Mor

Dia Missionário Salesiano 2020

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Carta doCONSELHEIRODASMISSÕESCaríssimo Delegado Provincialda Animação Missionária,Caríssimos irmãos,

Como bem sabeis, desde 1988, hámais de trinta anos, o Setor Missãoanima estes Dias Missionários Salesia-nos. Tanto espírito e impulso missioná-rio foram semeados ao longo destesanos em todas as Províncias e em to-das as casas. É justamente disto quese trata: de semear. A semente é mui-to boa. Quando a boa semente ficano bolso ou fechada numa gaveta,certamente não dá fruto. Não pode-mos deitar a culpa à semente. Masantes àquele que não ousou semeá-la na altura certa e no terreno certo.

Portanto, caríssimos DIAM (DPAM), ca-ríssimos irmãos: boa sementeira e boacelebração deste DMS 2020. Boa opor-tunidade para que não se apague ofogo missionário da nossa Província!

Vejo no tema do Dia Missionáriodeste ano 2020:

1. Uma poderosa fronteira missionáriaad gentes que uma vez mais seabre de par em par diante dos nos-sos olhos. Com efeito, os nossos Re-gulamentos falam-nos do “impulsomissionário” (n. 11) precisamente dooratório. Isto não só porque, espe-cialmente no contexto migratórioeuropeu, estamos a encontrar hoje,nos nossos oratórios e centros juvenis,muitas “línguas, povos e nações”.Com efeito, bastantes irmãos na Eu-ropa dizem-nos: “eu sou verdadeira-mente um missionário ad gentes.Não preciso de ir para longe. Eles jáviajaram muito. Todas as gentesencontro-as em minha casa!”. Isto é totalmente verdade. Todavia, osnossos oratórios são plenamentemissionários não só pelo enorme ecrescente caráter internacional dosrapazes que os frequentam, mas an-tes de tudo porque nos oferecem amaravilhosa oportunidade de lhesanunciar e dar Jesus. “Ide por todo

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Pe. Guillermo Basañes, sdbConselheiro das Missões

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Dia Missionário Salesiano 2020o mundo”, exorta-nos o Senhor Res-

suscitado. Temos nestes contextos avantagem de que o mundo vem terconnosco. O perigo é o de esquecera intenção d’Aquele que nos man-da: “Fazei discípulos!”. Eis, portanto,o desafio missionário central dos nossos oratórios e centros juvenis.Que evidentemente nada tem a vercom um “proselitismo oratoriano”.

2. Um tesouro do Projeto Europa. Al-guns dos nossos oratórios-centros ju-venis na Europa parecem de factoespaços das “Nações Unidas”. On-de não existem estes espaços, pare-ceria ser uma das respostas e pro-postas mais necessárias e aguarda-das. Este acolhimento evangélico,profético e indiscriminado, é já umpoderoso anúncio, que deveria des-pertar a Europa e o mundo. A diver-sidade não é um problema nem umperigo. Mas uma oportunidade tam-bém para proclamar, de forma mais

incisiva e fecunda, o Evangelho dafraternidade de todos os povos. Pro-vavelmente esta é a pérola mais be-la e mais necessária que os filhos deDom Bosco estamos a oferecer hojeaos jovens no contexto do ProjetoEuropa. Portanto, trata-se de um ca-minho missionário mesmo de ouro!

3. Finalmente, vejo no tema desteDMS um valiosíssimo instrumento deAnimação Missionária para as Pro-víncias. Mais do que um chama-mento à exclusividade de um tipode obra, trata-se de um chamamen-to a tornar cada vez mais missioná-rio o espírito oratoriano que deve in-vadir todas as nossas presenças eserviços. O Reitor-Mor recorda-nossempre que “todos nascemos nooratório”. Faço votos para que so-bretudo os nossos irmãos jovens e,entre estes, especialmente os tiroci-nantes, sejam envolvidos nesta ani-mação missionária. A Congregaçãoprecisa de irmãos que tenham ama-

durecido e consolidado,especialmente através dotirocínio, a paixão pelonosso compromisso orato-riano e missionário.

Em Dom Bosco missionário,

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DIA MISSIONÁRIO SALEUma tradição que continuaQue significa?Desde 1926 celebra-se em toda aIgreja o Domingo Missionário Mun-dial. A partir de 1988 é proposto umtema missionário a toda a Congre-gação Salesiana. Todas as comuni-dades salesianas têm oportunidadede conhecer uma realidade missio-nária específica. É um momentoforte de Animação Missionária nasComunidades salesianas provinciaise locais, nos Grupos juvenis e na Família Salesiana. Trata-se de umaoportunidade para envolver as co-munidades SDB e as comunidadeseducativo-pastorais (CEP) nas dinâ-micas da Igreja, reforçando a cul-tura missionária.

Para quê?Para dar um impulso à AnimaçãoMissionária oferecendo uma pro-posta que se torne projeto anualconcreto. Para ajudar toda a FamíliaSalesiana a conhecer o compro-misso missionário da Congregação,abrir os olhos para as novas realida-des missionárias, vencer toda a ten-tação de se fechar no próprioterritório ou contexto e recordar-sedo fôlego universal do carisma sale-siano. “As atividades de animaçãomissionária são sempre orientadaspara os seus fins específicos: infor-mar e formar o povo de Deus paraa missão universal da Igreja, fazernascer vocações missionárias adgentes, suscitar cooperação para aevangelização” (João Paulo II, Re-demptoris Missio, 83).

Quando?A proposta é que, por volta de 11 denovembro, data do primeiro envio

1988 Guiné - Conakry:O sonho continua

1989 Zâmbia: Projeto Lufubu1990 Timor Leste - Venilale:

Jovens evangelizadores 1991 Paraguai: Garotos da rua 1992 Peru-Vale Sagrado Incas:

Cristo vive nos carreiros dos Incas1993 Togo-Kara: Dom Bosco e a África

- um sonho que se torna realidade 1994 Camboja-Phnom Penh:

Missionários construtores de paz1995 Índia - Gujarat: Em diálogo para partilhar a fé1996 Rússia - Yakutsk: Luzes de esperança na Sibéria 1997 Madagáscar: Jovem, eu te digo, levanta-te 1998 Brasil: Yanomami: Vida nova em Cristo1999 Japão: O difícil anúncio de Cristo no Japão 2000 Angola: Evangelho semente de reconciliação 2001 Papua Nova Guiné: Caminhando com os

jovens

2002 Missionários entre os jovens refugiados 2003 O compromisso pela promoção humana na

missão 2004 Índia - Arunachal Pradesh:

O despertar de um Povo 2005 Mongólia: Uma nova fronteira missionária2006 Sudão: A missão salesiana no Sudão2007 Sudão: A missão salesiana no Sudão2008 HIV/AIDS: Resposta dos salesianos

- educar para a vida 2009 Animação missionária

- Mantém viva a tua chama missionária

DMS: uma tradiçao

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SIANO missionário, procuremos criar comu-

nhão nesta animação missionária,tal como se faz durante o outubromissionário para toda a Igreja. Se não for realmente possível estadata, a Província escolherá umadata ou período que se adapte melhor ao seu ritmo e calendário. É importante oferecer um itinerárioeducativo-pastoral de algumas se-manas, de que o Dia Missionário Sale-siano constitua o ponto culminante.O DMS é a expressão do espírito mis-sionário de toda a ComunidadeEducativo-Pastoral, mantido vivotodo o ano com diversas iniciativas.

Como é animado?A partir de uma reunião de Direto-res, onde o Delegado da animaçãomissionária explica o objetivo e dis-tribui os subsídios disponíveis para o DMS na Província (pág. Web provincial ou então um link para owww.sdb.org – DMS). Assim todas ascomunidades SDB são as primeirasdestinatárias das dinâmicas do DMS.Todos os anos se concentra a aten-ção num aspeto concreto da cultura missionária; rezando pelos

missionários apresentados no DMS eoferecendo apoio económico con-creto à missão

Quem celebra?O primeiro destinatário é a comuni-dade salesiana SDB. Depois, se-gundo as diversas possibilidades dasProvíncias, há vários modos de orga-nizar, adaptando-se aos ambientesda missão salesiana (escolas, cen-tros formação profissional, paró-quias, grupos juvenis especialmentegrupos ou voluntariado missionário)e da Família salesiana (SalesianosCooperadores, ex-Alunos, GruposADMA, etc.) abertos a todo o movi-mento salesiano e aos amigos deDom Bosco.

Que meios?Como no ano pastoral anterior, sãooferecidos a todas as comunidadessalesianas: um manifesto, um subsí-dio impresso, vídeo com filmagenssobre o tema, com material didáticoe audiovisual em várias línguas. Parao material impresso basta dirigir-seao Dicastério das Missões, Roma([email protected]). Os vídeossão produzidos pelas Missioni DonBosco, Turim, e disponíveis tambémno Youtube (http://www.settore missioni).

Dia Missionário Salesiano 2020

que continua (1988-2020)2016 Vinde em nossa ajuda! O Primeiro Anúncio

e as novas fronteiras na Oceânia 2017 ... E ficaram connosco: O Primeiro Anúncio

e os povos indígenas da América 2018 Sussurra a Boa Nova. O Primeiro Anúncio

e a Formação Profissional na Ásia 2019 “Sem saber hospedaram anjos”. O Primeiro Anún-

cio entre os Refugiados e desalojados na África2020 Europa. O primeiro Anúncio através dos

oratórios e centros juvenis. “Alegrai-vos ...”

2010 Europa: Os salesianos de Dom Boscocaminham com os Rom - Sinti

2011 América: Voluntários para proclamar o Evangelho

2012 Ásia: Narrar a história de Jesus2013 África: Caminho de fé 2014 Europa: Os outros somos nós

- Atenção salesiana aos migrantes 2015 Senhor: enviai-me!

- Vocação salesiana missionária

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A importância da oraçãopelas Missões Todos os membros da CEP contri-buem para a ação missionária daCongregação e da Igreja com aoração acompanhada de sacrifí-cios pelos missionários salesianos e pelas vocações missionárias. O dia 11 de cada mês é uma ocasiãopara rezar segundo a intenção Mis-sionária Salesiana. Todos os anoscom o tema do DMS é propostauma oração específica. A ação missionária brota do encontro comDeus e é sustentada por ele.

O Projeto do DMS 2020 Todos os anos é proposto um projetopara toda a Congregação. Esteconstitui uma parte importante dadinâmica do DMS. O primeiro obje-tivo do projeto do DMS não é só re-colher fundos. Antes, pretende seruma experiência educativa de soli-dariedade concreta para os jovens.O DPAM promove a solidariedadeatravés de várias iniciativas, em par-ticular durante os tempos litúrgicosfortes do Advento e Quaresma e durante o mês de outubro, ou comoparte da celebração do DMS. Todaa comunidade provincial é convi-dada também a dar um contributomonetário como expressão de soli-dariedade missionária.

A avaliação A avaliação do DMS é importante,tal como a preparação e a celebra-ção. Deve avaliar-se como é que o DMS favoreceu uma cultura missio-nária na comunidade local ou pro-vincial através do tema propostopara o ano, dando sugestões decorreção para o futuro.

Tema Geral deste

O PRIMEIRO Percurso da CongregaçãoDe 2015 a 2020, o tema de fundo doDia Missionário Salesiano diz respeitoao “primeiro Anúncio” (PA) em diversoscontextos culturais. Este ano é dedi-cado ao Primeiro Anúncio na Europaatravés dos oratórios e centros juvenis. Esta temática foi objeto de reflexãopor parte dos SDB e das FMA em to-das as Regiões do mundo: Europa(Praga 2010), Ásia Sul (Kolkata 2011),Ásia Leste (Sam Phran 2011), Oceâ-nia (Port Moresby 2011), África (AddisAbeba 2012), América (Los Teques2013), em contexto Muçulmano (Ro-ma 2012) e na Cidade (Roma 2015).Iniciou-se um processo de SemináriosRegionais, a partir de uma síntese dosseminários anteriores, para identificaras suas aplicações nos diversos seto-res e ambientes da missão (paró-quias, minorias étnicas, escolas, ora-tórios, centros de formação profissio-nal...); assim em 2018 já se realizaram,para este fim, todos os encontros: noBrasil (Belo Horizonte), Tailândia (SamPhran), Portugal (Fátima) e África(Joanesburgo). Considerámos o conceito do Primei-ro Anúncio em relação ao testemu-nho de cada cristão e de toda a co-munidade cristã; cada atividade ouconjunto de atividades que favore-çam uma experiência empolgante efeliz de Jesus que, sob a ação do Es-pírito Santo, suscita a busca de Deuse um interesse pela sua Pessoa, aomesmo tempo que se salvaguarda aliberdade de consciência que, em úl-

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sexénio:

ANÚNCIO

Dia Missionário Salesiano 2020

tima análise, conduz a uma inicialadesão a Ele, ou à revitalização dafé n’Ele. O Primeiro Anúncio é promo-vido com uma pedagogia gradual,atenta ao contexto histórico-social ecultural do interlocutor. Leva a viver aprópria vida como cristão “perma-nentemente em missão”, de tal mo-do que cada pessoa e cada comu-nidade se torne um centro de irradia-ção de vida cristã. O Primeiro Anún-cio é dirigido a diversos destinatários:1) Àqueles que não conhecem JesusCristo (aos não cristãos).2) Aos cristãos que receberam de ma-neira insuficiente o primeiro anúnciodo Evangelho; por isso aqueles que:a) depois de ter conhecido JesusCristo, O abandonaram;b) vivem a sua fé como algo de cultural, sem a prática cristã na suaparóquia, ou sem receber os Sacra-mentos;c) julgando conhecer já bastante Jesus, vivem a sua fé como rotina ou algo de simplesmente cultural, ou ainda, de forma contrária à pró-pria fé;d) têm uma identidade cristã débil evulnerável;e) já não praticam a sua fé.3) Àqueles que buscam Alguém, oualguma coisa, de forma não perso-nalizada.4) Àqueles que vivem a sua vidaquotidiana sem sentido algum.A nossa capacidade de escutaratentamente tornar-nos-á instintiva-mente sensíveis àquele momento im-

previsto em que a nossa vida, ativi-dade, presença ou testemunho decrentes e de Igreja possa despertarinteresse por conhecer a Pessoa deJesus Cristo e ter fé n’Ele.S. Francisco de Sales repetia uma be-la frase: “Cor ad cor loquitur”: “o Co-ração fala ao Coração”. Queremos,por um lado, que o Coração doEvangelho fale ao coração da cultu-ra e a cada pessoa. E também quedê, a cada um de nós missionários,esta capacidade de empatia: de ter aquela respeitosa confiança e in-timidade de sintonizar com os cora-ções dos nossos destinatários parapoder comunicar Aquele que maisamamos: Jesus Cristo.

Os seminários relizados na Europa sobre o PrimeiroAnúncio: 2010, 2015 e 2018Na Europa realizaram-se diversos en-contros sobre o Primeiro Anúncio:Missão Salesiana em situação defronteira e Primeiro Anúncio cristãona Europa hoje (Praga 2010); O Pri-meiro Anúncio na Cidade (Roma2015); Missionários Salesianos na Eu-ropa (Roma 2016), O Primeiro Anún-cio e a missão salesiana (Fátima2018). Deste último sublinhamos a im-portância que se deu à reflexão so-bre o tema do Primeiro Anúncio emrelação às migrações, família, mediae voluntariado.Apenas partilhamos uma pequenaparte da reflexão do padre UbaldoMontisci a respeito do Primeiro Anún-cio no contexto do oratório de DomBosco (Cf. La Pastorale Giovanile e la Città: la Sfida e la Gioia del PrimoAnnuncio; in Atti delle Giornate diStudio sul Primo annuncio di Cristo inCittà, Roma 2015, 141-179).

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O oratório permanece “critério per-manente” de discernimento e de re-novação das comunidades e fonteinspiradora de todas as atividadespastorais dos filhos e das filhas deDom Bosco. No Oratório desenvolve-sede forma admirável a ação educativade Dom Bosco e revela-se de algummodo profética ou, seja como for,possui valores permanentes. Conside-ro que podem resumir-se ao menosnas seguintes intuições educativas eevangelizadoras ainda de atualidade:a) Dom Bosco insere a instrução reli-giosa tradicional num contexto hu-mano e educativo global, em quesão cultivados consciente e coeren-temente todos os elementos deter-minantes da comunicação da fé. Aação educativa de Dom Bosco églobal: não se esgota em pura assis-tência social nem só na evangeliza-ção; a atividade catequística assu-me, ao invés, o aspeto de uma inicia-ção humana e cristã integral. O pon-to de partida é o jovem concreto, deque a promoção humana cuidaatravés da procura de um posto detrabalho, de um salário justo, de umacontínua qualificação profissional, ea formação cristã através do anún-

Um lugar privilegiadodo Primeiro Anúncio: o OratórioTodas as ocasiões da vida são “pro-videnciais” para o anúncio. Tal cons-ciência tem consequências sobre omodo de entender a pastoral e aspráticas evangelizadoras.É necessário requalificar continua-mente a presença e o compromissonaquele que é “o” lugar por exce-lência para as aividades salesianas:o Oratório. O padre Paulo Albera(Carta Circular, 1913), segundo suces-sor de Dom Bosco, apresentava de forma sobremaneira significativaa ligação entre “espírito salesiano” e oratório.O padre Rua dizia um dia a um salesiano que ele enviava a abrir umoratório festivo:

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“Ali não há nada, nem sequer terrenonem local para reunir os rapazes,

mas o oratório festivo está em ti: se és verdadeiro filho de D. Bosco, encontrarás

certamente onde poder plantá-lo e fazer crescer uma árvoremagnífica e rica de frutos”

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cio do Evangelho, sustentado poruma catequese apropriada, pelotestemunho pessoal de vida sacer-dotal e pela amizade profundamen-te humana de Dom Bosco. O jovemé educado à liberdade e à autenti-cidade e capacitado para dar ra-zão da sua fé nos ambientes de vida;b) A proposta religiosa de Dom Boscotem a vastidão e a intensidade deum PA e de uma verdadeira e pró-pria iniciação cristã, realizada numcontexto em que os rapazes fugiamdo papel formativo da família e daparóquia. Ele constrói um ambiente –o oratório – em que se respiram osvalores evangélicos e propõe um iti-nerário que recupera os elementoscomunitários e educativos e favore-ce as dimensões fundamentais doanúncio, liturgia e serviço num climade comunhão fraterna;c) Dom Bosco valoriza o quotidianopor meio de experiências ordinárias,mas qualitativamente significativasem vista do amadurecimento depersonalidades humanamente har-moniosas e adultas na fé. Ele pareceintuir a importância e, ao mesmotempo, a insuficiência só da instru-ção catequística que, todavia, nun-ca falta nos seus ambientes. Mais doque à preparação para os Sacra-mentos, à introdução à oração ou à

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Dia Missionário Salesiano 2020

adesão a práticas religiosas pon-tuais, mas de algum modo avulsasda vida, o santo orienta os jovens afazer delas constante experiênciapara a reforma da existência inteiraem sentido ético-religioso. Dom Bos-co guia os jovens a uma existênciacristã que se aprende também vi-vendo a vida humana segundo asorientações do Evangelho, atravésdo exercício de viver cristãmente a vida de cada dia, empregue me-diante propostas exigentes, mas ade-quadas aos diversos níveis de matu-ridade dos interlocutores. Esta opção– retomada hoje – em referência àIgreja e à pertença à mesma, pare-ce sugerir uma finalidade “transfor-mativa” da iniciação cristã: os jo-vens, mais do que a uma simples inserção nas comunidades cristãs,são preparados para viver responsa-velmente como protagonistas o seucristianismo;d) Dom Bosco dava grande impor-tância ao amadurecimento em gru-po e incentivava a participação nas

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“companhias”. Do ponto de vistaeducativo, é urgente ter o cuidadode favorecer nas comunidades acriação de grupos. Ao prescindir dodispositivo posto em ação por movi-mentos e associações, é bom que ascomunidades paroquiais se dotemde uma multiplicidade de grupos,que permitem “humanizar” as muitasvezes anónimas e frias comunidadeseclesiais e constituem um dos recur-sos mais válidos para o assumir daidentidade cristã e para a experiên-cia de pertença eclesial. O grupo échamado a ser um espaço acolhe-dor, humanizante, rico de relações“calorosas”, em que as pessoas são reconhecidas e se confrontam,onde se vai e se volta com gosto, emque – através da participação, doenvolvimento e do protagonismo –se pode amadurecer humana e cristãmente. Para a nossa Família éoportuno fazer referência ao estilode cristianismo típico do MovimentoJuvenil Salesiano.e) Depois, o facto de esta «religião» sebasear na razão e ser proposta numclima de amabilidade (amorevolez-za) tem em conta dois elementos fun-damentais do crer de hoje: por um la-do, o fundamento racional do cristia-nismo (útil não só para enfrentar cer-tas derivas fideístas ou ingenuamenteespiritualistas, mas apto a favorecer odiálogo mesmo com aqueles quenão creem, enquanto se inspira emvalores religiosos de fundo – consti-tuindo como que uma “preparatioevangelica” – facilmente partilháveispor todos aqueles que buscam aDeus) e, por outro lado, a dimensãoafetivo/relacional, cujo valor é hojefortemente sublinhado e apreciadosobretudo pelas jovens gerações;f) A prevalência, sobre qualquer ou-

tro conteúdo ou método, da relaçãohumana e cristã com o educador,num clima de alegre e confianteacolhimento. O jovem “pobre eabandonado” faz experiências sim-ples mas significativas: encontra al-guém que se interessa por ele, quelhe quer bem, que o aceita como é;encontra estruturas mínimas em quepode fazer aquilo de que gosta (jo-go, música, teatro...), mas pode tam-bém estudar e qualificar-se profissio-nalmente. Vive num ambiente emque se cuida a relação pessoal, umarelação antes de tudo humana, deconhecimento pessoal e de relaçõesamigáveis, em que a fé cristã é trans-mitida habitualmente no contactoestreito com adultos crentes. O jo-vem é inserido num ambiente (gru-po, escola, estrutura oratoriana...) depessoas que creem nos valores cris-tãos, estão convictas deles e os tes-temunham considerando que têmfuturo e são fundamentais para atransformação qualitativa da huma-nidade. A da comunidade educati-va, capaz de envolver em “clima defamília” o maior número possível depessoas, típica da nossa tradição, étambém uma das principais aquisi-ções pastorais para a eficácia daação evangelizadora.

Na base de tudo havia a confiançacheia de esperança de Dom Bosconas possibilidades de amadureci-mento do jovem como honesto ci-dadão e bom cristão: «Em cada jo-vem mesmo o mais desgraçado háum ponto acessível ao bem e o pri-meiro dever do educador é desco-brir este ponto, esta corda sensível docoração e tirar proveito dela» (Me-morie Biografiche v, 367). No fundo, éa fé do educador nele que gera asua fé no formador e naquilo que elecrê e vive!

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Dia Missionário Salesiano 2020

O texto bíblico deste DMS 2020 é o mes-mo que acompanhava a estreia doReitor-Mor, padre Pascual Chávez, de2013: “Como Dom Bosco oferecemosaos jovens o evangelho da alegria atra-vés da pedagogia da bondade”.O padre Juan José Bartolomé faz umareflexão à luz do texto de Fil 4,4. Devidoao caráter de divulgação deste opús-culo, apenas oferecemos alguns estra-tos do texto e sem as riquíssimas notas(umas oitenta) que o acompanham. Otexto completo pode encontrar-se inNote di Pastorale Giovanile 2012.

1. A citação paulina A frase paulina pertence à parte finalda carta em que Paulo concentra, ha-bitualmente, a sua exortação apostóli-ca. Após uma longa e azeda polémicacontra um grupo bem determinado demissionários judaizantes (Fil 3,2-21) –“cães”, “maus operários” como lheschamou (Fil 3,2) – o apóstolo volta auma mais serena, mas não menos apai-xonada exoração: “meus caríssimos esaudosos irmãos, minha coroa e alegria,permanecei assim firmes noSenhor, caríssimos” (Fil 4,1).

1.1. Contexto imediatoAdvertências, solicitações eapelos sucedem-se semgrande coesão interna (Fil4,2-20). Referem-se a cir-cunstâncias concretas da vi-da da comunidade e a mo-tivos caros ao autor (Fil

1,1.4.9). Contêm uma premente chama-da à vida de concórdia e de alegria emcomunidade (Fil 4,2-7), uma singularapreciação dos valores morais da éticapagã que considera louváveis, que to-davia os crentes devem viver segundoo exemplo transmitido por Paulo (Fil 4,8-9) e, por fim, uma sincera profissão dasua gratidão porque os filipenses ha-viam tomado “parte nas suas tribula-ções..., repleto como se vê dos seusdons recebidos” (Fil 4,10-20).Dentro de argumentos tão variados, omandato paulino a viver na alegriaaparece de surpresa, um pouco isola-do, até imotivado. A alegria na qual vi-ver sempre não encontra, portanto,nem uma explicação: é um estado quedeve caraterizar o cristão. Vem depoisum veemente apelo feito pelo apóstoloa alguns dos seus estreitos colaborado-res, “cujos nomes estão no livro da vida”(Fil 4,3), a viver em concórdia, ajudan-do-se mutuamente: na comunidadecristã não há espaço para o desenten-dimento nem para o conflito entreapóstolos (Fil 4,2-3); nela, deve reinar a

alegria que “no Senhor” édom gratuito. É seguido deuma exortação maisabrangente, que o apósto-lo dirige à comunidade,em primeiro lugar, animan-do-a a usar de afabilidadepara com os homens,“que deve ser conhecidade todos” (Fil 4,5), depois,encorajando-a a ter con-

A alegria de viver em Cristo,coração da proposta salesianade santidade juvenilUma reflexão sobre Fil 4,4

JUAN J. BARTOLOMÉ, sdb

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fiança plena em Deus com orações epedidos “em todas as necessidades” (Fil4,6). Pelo contexto mais imediato nãoparece, portanto, haver indício algumque torne mais compreensível a nature-za, o motivo, a finalidade da exortadavida de alegria.

1.2. A formulaçãoNem sequer o mesmo enunciado dafrase, à primeira vista, traz muita luz à suacompreensão. A presença de imperati-vos e a sua reiteração, o seu traço maiscaraterístico, são de todo normais numaexortação. Além disso, o convite doapóstolo a viver com alegria não é no-vo na carta (Fil 2,18; 3,1). Três pormeno-res, porém, a ter em conta. 1º. A repetição, repisada, do verbo alegrar-se no imperativo identifica a alegria reco-mendada como comportamento impos-to; não se trata de uma emoção involun-tária ou íntima, natural, mas de uma con-duta imposta. Para o cristão, pensa Paulo,há uma obrigação de alegria: “sede sem-pre alegres” (1 Ts 5,16; cf. Rom 12,12; 2 Cor13,11). Se é imposta não pode considerar-se simples bem-estar pessoal.2º. Esta alegria deve-se viver sempre enão de forma intermitente, isto é, sóquando uma pessoa se sente bem ouquando tudo corre bem, mas sem pau-sas nem exceções, custe o que custar. Éuma alegria não fortuita, nem efémera,viva no quotidiano, que não depende,porque não provém, de motivações ex-ternas e que se deve experimentar tam-bém em momentos de dificuldade. “Afli-tos, mas sempre alegres”, diz Paulo sobreo ministério apostólico (2 Cor 6,10) e aoscristãos de Roma: “gloriamo-nos tam-bém das tribulações” (Rom 5,3).3º. A alegria prescrita por Paulo aos seusé para se viver “no Senhor”. Noutras pas-sagens o apóstolo acrescenta novosmotivos para fundamentar a alegria pe-dida (Fil 1,18: o anúncio do evangelho;Fil 1,25-26: o crescimento na fé da co-munidade; Fil 2,18: a entrega da vida doapóstolo pela fé dos filipenses; Fil 2,29: o

acolhimento do enviado por Paulo).Aqui a motivação exprime-se com umafórmula que é das mais caraterística dePaulo (Fil 1,14: 2,24.28; 3,1; 4,2.4; 2,19),desconhecida na prática pelos outrosautores do NT: “no Senhor”. O que tornaainda mais insólita esta alegria: tem oSenhor Ressuscitado como espaço oulugar de realização.

1.3. Alegrar-se – e sempre! –, podeser imposto?

Para Paulo, a alegria pode, antes, deveser sempre pedida ao cristão porqueprimeiro lhe foi dada; como “fruto do Es-pírito” (Gal 5,22; Rom 14,17). Sendo o Es-pírito o modo de Deus se fazer presenteno mundo, a alegria é o que esta pre-sença, sentida e consentida, produz nocrente: só aos ‘salvos’ compete a ale-gria. Poder senti-la é um modo de saber-se salvo em Cristo Jesus.Não é por acaso que de facto, em gre-go, alegria (chara) e graça (charis) de-rivam da mesma raiz: “alegria e graçaandam juntas”. A alegria é a forma cris-tã de viver na graça, isto é, de viver re-conciliado com Deus. “Elemento centralda experiência cristã” afunda as suasraízes, portanto, na salvação adquiridapela morte de Cristo (cf. Rom 5,10-11); écomo um compêndio da existência cris-tã (cf. 2 Cor 13,11), a prova da sua au-tenticidade (cf. 2 Cor 1,24). A alegria éo modo de testemunhar uma salvaçãoque se recebeu, de um encontro que seteve com Cristo, sinal de uma “fé queprogride” (Fil 1,25), que se torna visívelno exterior e se apresenta ao mundo. É,diria, o rosto visível de uma vida de féem Cristo.O autor da 1Pt acertou em cheio quan-do escreveu: “Sem o terdes visto, vós oamais; sem o ver ainda, credes nele evos alegrais com uma alegria indescrití-vel e irradiante, alcançando assim ameta da vossa fé: a salvação das al-mas” (1 Pd 1,8-9). Esta alegria pode, an-tes, deve ser imposta, só porque é parase viver “no Senhor”.

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Dia Missionário Salesiano 20201.4. Alegrar-se no Senhor

“No Senhor”, juntamente com “In Cristo[Jesus]”, “n’Ele”, são variantes de umaformulação do apóstolo, que lhe é mui-to querida, mas um tanto rara, quasesem paralelo na literatura contemporâ-nea. O que surpreende não é o factode Paulo não costumar explicar seme-lhante linguagem, mas que a use comobase para argumentar (1 Cor 6,13-18;10,14-21; Gal 3,14-16), dando por adqui-rido que os seus leitores compreendemsem mais explicações.Ainda que a preposição “in” da fórmulatenha marcado sentido local, juntamen-te com Cristo/Senhor pode indicar lu-gar, modo, causa ou instrumento. O usopaulino parece favorecer a ideia de as-sociação ou pertença, de solidarieda-de e participação. Exprime o ato reden-tor realizado em Cristo, o estado objeti-vo de salvação, a nova criatura (2 Cor3,17; 5,17) que a intervenção divina tor-nou já possível e que se define comouma identificação íntima e misteriosaentre Cristo e os cristãos.O apóstolo recorre a ela para falar daexistência cristã, entendida quer indivi-dual quer coletivamente (1 Ts 4,1; 1 Cor3,1; 7,39; 15,58; 2 Cor 2,14) como parti-cipação do crente na morte e ressurrei-ção de Cristo. O cristão está em Cristoporque esteve n’Ele já salvo por Deus eporque n’Ele espera sem temor a salva-ção definitiva. Estar no Senhor é umarealidade estável que determina a vidado cristão até que o Senhor venha, o es-tado que medeia entre o início da sal-

vação e a sua ardentemente desejadaconsumação.Cristo, mais do que como instrumento, éespaço de salvação, [13] âmbito emque a eficácia da ressurreição está emato e está operante o Espírito: “não hámais condenação alguma para os queestão em Cristo Jesus” (Rm 8,1-2); “estaisno Espírito..., Cristo está em vós” (Rm 8,9-10). Os cristãos estão em Cristo (Gal1,22; 3,28; Fil 3,8-9) e Cristo está nos cris-tãos (Rm 8,10; Gal 2,20): os crentes têmo seu fundamento n’Ele e Ele está ativoneles (Gal 2,8; Rm 8,2.39; Fil 2,13; Col1,29). Cristo é quem determina, dirige,impõe e torna possível a vida do cristão.A alegria de estar no Senhor não é, por-tanto, uma sensação emotiva, um mo-vimento salutar da alma, nem sequerapenas a alegre disposição do cora-ção do crente para obedecer sempreao seu Senhor. É antes o bem-estar queresulta de deixar que seja Ele a viver emnós (cf. Gal 2,20).É Ele, o Senhor, morto e ressuscitado, olugar em que os cristãos estão, experi-mentam sentimentos e agem: “tendeentre vós os mesmos sentimentos, queestão em Cristo Jesus” (Fil 2, 5). “Portan-to, não é um otimismo fácil que está nabase da alegria cristã, mas a consciên-cia de estar unido a Cristo e participan-te da sua vida”.

1.5. A situação concreta Falta ainda fazer referência às circuns-

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tâncias concretas que levaram Paulo ainstar os filipenses a viver sempre na ale-gria. Desconhecer a particular situaçãoque tanto o apóstolo como a comuni-dade atravessavam, não facilitaria detodo a correta compreensão não ape-nas da frase do apóstolo mas, antes detudo, da sua real intenção.Fil transmite-nos a imagem de uma co-munidade em que Paulo tinha posto denovo toda a sua confiança (Fil 1,3-11;2,12; 4,1.16) e da qual se sentia amado(Fil 1,7.27; 2,12.18.24). Retribuía o seu afe-to com a sincera e concreta dedicaçãodos seus diletíssimos filipenses (Fil 1,7: “te-nho-vos no coração”). Era, com efeito, aúnica comunidade da qual aceitou, porvárias vezes, ajudas financeiras (Fil 4,15;2 Cor 11,8-9). Fil é provavelmente a cartamais serena (Fil 1,5; 2,1; 3,10; 4,15; 3,2), amais pessoal (Fil 1,7-8; 2,18; 4,1.14), a me-nos dogmática saída da pena de Paulo.Nela o apóstolo descobre-se a si mesmoe os seus pensamentos mais íntimos, re-vela com pormenor e rara transparênciao seu encontro pessoal com Cristo (Fil3,2-16). Pareceria, portanto, que a ale-gria de ser apóstolo (Fil 4,1) e de perma-necer cristão (Fil 1,25) é de casa na co-munidade de Filipos.Quando Paulo, por volta do ano 56, es-creve aos filipenses é um homem vital-mente maduro, amadurecido no traba-lho apostólico..., e prisioneiro: encontra-se “no pretório..., prisioneiro por Cristo”(Fil 1,13), incerto sobre o destino que oespera, mas seguro de que, qualquerque seja o resultado da sua prisão, acausa do evangelho sairá reforçada (Fil1,12). Se bem que alimente o desejo devoltar a vê-los pessoalmente (Fil 2,24),não lhes esconde que provavelmentenão lhe será possível, não sabendo sesairá vivo ou morto da prisão; decisivopara ele é que “agora como sempre,Cristo será engrandecido no meu cor-po, quer pela vida quer pela morte” (Fil1,20). Mais adiante falar-lhes-á do dra-ma íntimo em que vivia o seu ministério,

capturado entre duas fidelidades: a fi-delidade a Cristo, seu único lucro (Fil 3,7-11) e a fidelidade àquela sua queridacomunidade, sua alegria e sua coroa(Fil 4,1): “Estou pressionado dos dois la-dos: tenho o desejo de partir e estarcom Cristo, já que isso seria muitíssimomelhor; mas continuar a viver é mais ne-cessário por causa de vós. É confiadonisto que eu sei que ficarei e continuareijunto de todos vós, para o progresso e aalegria da vossa fé (Fil 1,23-25).Não se deve esquecer, portanto, que oseu imperioso apelo a viver na alegriavem de um encarcerado, cuja sorte estáem dúvida: se os filipenses não voltarema vê-lo, poderão todavia recordar queo apóstolo sentiu alegria quando lhes es-creveu da prisão (Fil 4,1) e que alegrar-se sempre no Senhor (Fil 3,1; 4,4; cf. 1,25;2,28.29) foi a sua última exortação. A ale-gria que quer que reine nos seus fiéis éuma alegria que ele sente quando pen-sa neles e reza por eles (Fil 1,4).Nem sequer era boa a situação da co-munidade de Filipos, primícias da missãopaulina em território europeu. Paulo che-gou ali pela primeira vez por volta doano 49, acompanhado por Silvano, Timó-teo e, provavelmente, por Lucas (At16,16-17). A sua estadia não deve ter si-do muito prolongada; depois de ter so-frido algumas dificuldades (1 Ts 2,1-2),denegrido, maltratado e metido na pri-são (cf. Fil 1,7.30; 2 Cor 11,25; At 16,26-34),viu-se forçado a abandonar a cidade epartiu para Tessalónica (At 16,40-17,1; 1Ts 2,1-2), deixando atrás de si uma comu-nidade pouco numerosa, certamente,mas consolidada na fé (Fil 1,27-30) e mui-to ligada afetivamente à sua pessoa (Fil1,10; 4,10; 2 Cor 8,1-5; Rm 15,26; At 26,17).Nem tudo, porém, corria da melhor ma-neira. A rivalidade pessoal que Paulo sen-te em alguns pregadores enquanto eleestá a prisão (Fil 1,15) e que “estão aagravar a tribulação que sofro nas mi-nhas prisões” (Fil 1,17); o apelo à concór-dia nos sentimentos e na humildade a

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Dia Missionário Salesiano 2020exemplo de Jesus Cristo (Fil 2,2: “fazei

com que seja completa a minha alegria:procurai ter os mesmos sentimentos”) odoloroso convite público a Evódia e Sín-tique “a terem o mesmo pensamento noSenhor” (Fil 4,2) e, principalmente, a pre-sença subversiva de propagandistas ju-deo-cristãos que se comportavam “co-mo inimigos da cruz de Cristo” (Fil 3,18),empenhados como estavam numa con-tra-missão que exigia a circuncisão doscrentes (Fil 3,2-19), demonstrando quenão faltavam mal-entendidos, conflitospessoais e graves controvérsias. Além dis-so, a comunidade por sua vez teve desofrer por Cristo (Fil 1,29: “a vós foi dadaa graça de assim atuardes por Cristo:não só a de nele acreditar, mas tambéma de sofrer por Ele”) até ao ponto quePaulo pôde afirmar que tinha sofrido asua mesma paixão (Fil 1,7.27.30).A comunidade que recebe o mandatoapostólico de se alegrar no Senhor é,portanto, uma comunidade provada,que conhece a dissensão interna e aperseguição externa, mas fiel ao após-tolo (Fil 4,10.14) e fiel ao Senhor. A ale-gria de viver a fé não fica ao seu arbí-trio, nem a torna possível um contenta-mento nascido das satisfações na vida;não se apaga no sofrimento nem se ali-menta no triunfo. Segundo Paulo, pode,antes, deve florescer enquanto e por-que se combate “numa só alma, pelafé no Evangelho e não vos deixando intimidar em nada pelos adversários” (Fil 1,27-28) e noutro lugar ele mesmo se propõe como exemplo: “Estou cheiode consolação e transbordo de alegriano meio de todas as nossas tribulações”(2 Cor 7,4). Portanto, só é cristã a alegriaque pode viver na paz e conviver coma prova (cf. Mt 5,11-13).

2. Dom Bosco,“mensageiro da alegria”

“Deus é Deus da alegria”, pensava S.Francisco de Sales. Melhor ainda, em“Deus tudo é alegria pois que tudo é

dom”. Dom Bosco, como lúcido educa-dor cristão, fez da alegria “elementoconstitutivo do sistema [educativo], inse-parável do estudo, do trabalho e dapiedade”, o fruto por excelência deuma autêntica prática da pedagogiasalesiana”. Necessidade basilar de vida,desejo intimamente sentido durante ajuventude, a alegria é, para Dom Bosco,“resultado de uma avaliação cristã davida... Da religião do amor, da salvação,da graça, só pode brotar a alegria, o jú-bilo, o otimismo confiante e positivo”. Éprecisamente por isso que em casa deDom Bosco, “a alegria faz-se coincidircom a santidade”, como se verifica ex-plicitamente na vida de Domingos Sá-vio e nas outras vidas escritas por DomBosco: “o jovem – comenta o padreCaviglia – que se sente na graça deDeus experimenta naturalmente a ale-gria”. Dom Bosco sabia que os jovenstendem naturalmente à alegria, e pre-cisam de divertimentos e jogos, mas pa-ra ele a verdadeira alegria só existe na-quele que vive na graça de Deus.Desta convicção nasce o projeto edu-cativo. Um ano depois de ter encontra-do o Oratório, sede estável no alpen-dre/casa Pinardi, na periferia de Valdoc-co (12 de abril de 1846), Dom Bosco pu-blicava O Jovem Instruído, onde apare-cem já algumas das suas ideias e op-ções educativas fundamentais. Emborativesse a aparência de “um livro de prá-ticas de piedade idóneas” para ajudaros rapazes a cultivar a religiosidade e avirtude, Dom Bosco apresentou-o “logonas primeiras linhas do proémio, À Juven-tude, como ‘método de vida cristão’”,que favorece ao mesmo tempo a pie-dade e a felicidade: “Quero ensinar-vosum método de vida cristão, que seja si-multaneamente alegre e feliz, acrescen-tando-lhe quais são os verdadeiros diver-timentos e os verdadeiros prazeres, demodo que possais dizer com o santo pro-feta David: sirvamos o Senhor em santaalegria: servite Domino in laetitia. Tal

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apontamento é o objetivo deste livrinho,servir o Senhor e estar sempre alegres”.Na mente de Dom Bosco, O Jovem Ins-truído não era outro manual de piedadepara jovens, nem podia garantir sozinhoo cumprimento dos fins que propunha, is-to é, “tornar-vos a consolação dos vossospais, a honra da pátria, bons cidadãos naterra e depois um dia felizes habitantesdo céu”. O opúsculo era para ele umaverdadeira proposta educativa que osseus primeiros destinatários haviam co-meçado a conhecer e a experimentar,“nele, com efeito, fruto da primeira ativi-dade sacerdotal e literária de Dom Bos-co, encontramos o programa de santida-de juvenil, que ele concebeu e formu-lou”. É possível que nem todos os rapazesdo Oratório o tivessem lido do princípioao fim, mas “a experiência religiosa queele propunha estava ligada a todo o sis-tema e estilo de vida em que os jovensestavam imersos no quotidiano do Ora-tório... [No Oratório] os sem- família en-contravam as doçuras de uma casa, asegurança da paternidade e da fraterni-dade na pessoa do diretor e dos educa-dores, a alegria da amizade, as perspeti-vas de uma inserção significativa na so-ciedade com uma cultura e uma capa-cidade de trabalho digna e rentável; si-multaneamente um estilo geral de ale-gria garantido por infinitas manifestaçõesque o génio educativo sabia inventar: jo-go, teatro, excursões, música, canto”.

Dom Bosco, obviamente, não havia sidoo primeiro “a verificar a relação entre fe-licidade e religião”. Seria também ana-crónico considerar O Jovem Instruído co-mo uma espécie de manual de espiri-tualidade juvenil ante litteram. Nem pre-tendia sequer reunir a totalidade da ex-periência educativa do Oratório, umainstituição que, de resto, estava aindanos seus inícios. Mas o livro tornou-se ma-nual de oração e programa de vidasubstancialmente imutável durante asdécadas seguintes nas casas salesianas,lido e relido por gerações de jovens atéà primeira metade do século XX. O su-cesso da proposta reflete a perspicáciaeducativa de Dom Bosco, que soubemostrar não só a plena congruência en-tre piedade e alegria, vida de fé e ver-dadeira felicidade, mas ensinou tambémo caminho concreto para a conseguir.O Jovem Instruído não era só uma acer-tada e atual proposta educativa parauma juventude que com dificuldade po-dia pensar na felicidade ao mesmo tem-po que tinha de lutar para sobreviver nu-ma sociedade em rápida e profundamudança. Este “método de vida cristã”oferecia, além disso, algumas ideias es-senciais sobre a espiritualidade do padreeducador dos jovens, em que Dom Bos-co se havia tornado. A sua convicçãopessoal, segundo a qual não havia emabsoluto oposição entre servir a Deus evida feliz, baseava-se no intenso amor

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Dia Missionário Salesiano 2020que alimentava pelos seus jovens: por-

que os amava, queria que estivessemalegres agora e na eternidade, costuma-va repetir. Assim, por exemplo, concluía abreve introdução: “Meus queridos, amo-vos de todo o coração, e basta que se-jais jovens para que vos ame muito, eposso afirmar-vos que encontrareis livrosescritos por pessoas muito mais virtuosase mais doutas do que eu, mas dificilmen-te encontrareis quem vos ame mais doque eu em Jesus Cristo, e que deseje avossa verdadeira felicidade... Vivei felizes,e o Senhor esteja convosco”.Fruto e prova da caridade pastoral deDom Bosco é, portanto, um sistema edu-cativo que tem “a alegria como um dosprimeiros fatores”. A alegria é para DomBosco “não só recreação, divertimento,mas autêntica, insubstituível realidadepedagógica”, “o timbre particular do[seu] amor educativo”.

3. Tópicos para uma ulterior reflexão Entre a repetida exortação paulina aosfilipenses a viver alegres no Senhor e aoferta de Dom aos rapazes de Valdoccode um método para viver alegres no ser-viço de Deus, há uma grande diferença.O apóstolo de Tarso faz um apelo gené-rico, aparentemente sem um motivoconcreto; o educador de Turim apresen-ta a alegria como o modo comum de ser santo e esboça um caminho parao realizar. Há, porém, profundas corres-pondências que mereceriam não só ser anotadas brevemente, mas que sãodignas de ulteriores aprofundamentos.

3.1. Querem-se felizes àqueles se querem bem

“Meus caríssimos” (Fil 2,12), escreve Pau-lo aos filipenses: “Deus é minha testemu-nha de quanto anseio por todos vós,com a afeição de Cristo Jesus” (Fil 1,8),“meus caríssimos e saudosos irmãos, mi-nha coroa e alegria” (Fil 4,1). Dom Bos-co: “Se bem que aqui em Roma..., omeu pensamento voa sempre para on-de tenho o meu tesouro em Jesus Cristo,

os meus queridos filhos do Oratório”.Não me parece irrelevante que ambos,Paulo e Dom Bosco, desejem a felicida-de daqueles que amam com predile-ção. O mandato de se alegrar, em Pau-lo, o servir a Deus na alegria como �mé-todo de vida’, em Dom Bosco, têm co-mo origem e causa o amor apaixonadoque cada um deles sentia pelos seus: osprediletos dos apóstolos devem viveralegres! Primeiro sabem-se amados, de-pois sentem-se felizes. O que significatambém que só quem ama pode, co-mo Paulo aos filipenses, ordenar que seviva feliz e sabe, como Dom Bosco, tra-çar um caminho para alcançar a felici-dade. A alegria imposta ou facilitada ésinal e prova de um amor de apóstolose educadores.Precisamente por isso, para que haja aalegria como compromisso de vida, acomunidade deve saber-se amada atéao fim (cf. Jo 13,1). Paulo e Dom Boscoreproduziram o comportamento de Je-sus, autentificando-se assim como seusapóstolos: “Assim como o Pai me temamor, assim Eu vos amo a vós. Permane-cei no meu amor... Manifestei-vos estascoisas, para que esteja em vós a minhaalegria, e a vossa alegria seja comple-ta” (Jo 15,9.11).

3.2. A alegria, imposta pelo apóstolo,facilitada pelo educador

“De resto, meus irmãos, alegrai-vos noSenhor” (Fil 3,1); Novamente vos digo –insiste Paulo – alegrai-vos!” (Fil 4,4). DomBosco, por sua vez, escreve: “Quero en-sinar-vos um método de vida cristãoque seja ao mesmo tempo alegre e fe-liz, de modo que possais dizer com osanto profeta David: sirvamos o Senhorem santa alegria”.Exortar à alegria é tarefa de apóstolosde Cristo. Enquanto Paulo pode exigir eesperar dos seus que vivam na alegriaporquanto foram salvos em Cristo Jesus,Dom Bosco, talvez com mais realismoprático e sensibilidade educativa, pro-porciona um ambiente adequado e

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uma metodologia precisa para fazercom que os seus rapazes sirvam a Deusna alegria. O objetivo final de ambosmantém-se sempre o mesmo, viver noSenhor, em linguagem paulina, isto é avirtude ou a santidade, como prefereDom Bosco. O mérito de Dom Bosco,em comparação com Paulo, é que elepôs à disposição dos seus rapazes umprograma adequado a eles e uma ex-periência quotidiana de santidade ale-gre. O apóstolo ‘pode’ proclamar aalegria, o educador deve torná-la pos-sível mostrando o caminho da mesma.

3.3. Uma alegria para viver sempre “Alegrai-vos sempre no Senhor!” (Fil 4,4),exorta Paulo. “Está alegre”, repete comfrequência Dom Bosco. Reflete: “Por ou-tro lado, vemos que aqueles que vivemna graça de Deus estão sempre ale-gres e, mesmo nas aflições, têm um co-ração alegre. Pelo contrário, aquelesque se entregam aos prazeres vivem ir-ritados e esforçam-se por encontrar apaz nos seus passatempos, mas estãosempre infelizes: Non est pax impiis”. Pouco antes de repetir o mandato daalegria (Fil 4,1.4), Paulo pôs de sobreavi-so os seus para que se afastassem dos‘cães’, pregadores que perturbavam avida comum (Fil 3,2), inimigos verdadei-ros da cruz de Cristo (Fil 3,17). A alegria,quando é questionada ou combatidaem comunidade, seja defendida, por-que é dom a conservar como graçaque é. Não devemos deixar passar des-percebida a insistência de Dom Bosco:vive-se sempre, alegre ou contente, in-feliz ou irritado; a diferença radica emviver com ou sem Deus. “A alegria ge-nuína autêntica não é possível a quemnão tem o coração em paz, ao mesmotempo que se torna um eficaz apelopara quem estivesse privado dela: ‘odemónio – dizia Dom Bosco – tem me-do da gente alegre’” (MB X, 648). Nas palavras de Dom Bosco aparece aexperiência profundamente cristã: a fe-licidade é uma experiência sentida

sempre..., sofrida às vezes (cf. Mt 5,11):quem vive em graça tem “o coraçãoalegre mesmo nas aflições”. A misturade aflições e alegria nos bons é o pre-ço a pagar. Dom Bosco bem o sabia;basta recordar aqui o sonho do cara-manchão de rosas. A alegria cristã, aalegria salesiana, “é uma alegria que sealimenta no sacrifício, por vezes árduo,acolhido com sorriso nos lábios..., comocoisa de todo normal, sem atitudes de vítima ou de herói”. “Estou cheio deconsolação e transbordo de alegria nomeio de todas as nossas tribulações” (2 Cor 7,4), reconhece Paulo aos coríntios.Dom Bosco, ao fiel coadjutor Enria: “Ho-je Dom Bosco está mais alegre do quehabitualmente... no entanto hoje recebio maior desgosto da minha vida”.A defesa apostólica da alegria crente,portanto, impõe a necessidade – senti-da por Dom Bosco – de um verdadeirodiscernimento sobre “quais são os ver-dadeiros divertimentos e os verdadeirosprazeres”. Árdua tarefa para o educa-dor cristão hoje! “O mundo modernooferece aos jovens muitos prazeres e di-vertimentos, mas pouca alegria. O edu-cador pode considerar que deu umgrande passo em frente na sua práticaeducativa quando fez compreender e,melhor ainda, experimentar ao jovem a diferença que existe entre o prazer ea alegria”. O facto de ser muito difícil,não o torna menos urgente. Mas o edu-cador salesiano, adverte-nos o padreChávez, deve ajudar os jovens a reco-nhecer e usufruir as alegrias quotidia-nas: “é necessário um paciente esforçode educação para aprender, ouaprender novamente, a saborear, comsimplicidade, as múltiplas alegrias hu-manas que o Criador coloca diaria-mente no nosso caminho”.

3.4. Só no Senhor é possível a alegria

“Alegrai-vos no Senhor!” (Fil 4,4). “Se qui-serdes – dizia muitas vezes Dom Boscoaos rapazes – que a vossa vida seja ale-

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Dia Missionário Salesiano 2020gre e tranquila, deveis procurar estar na

graça de Deus”. Dom Bosco, como an-tes Paulo, estava convencido de quefelicidade plena e duradoura só é pos-sível vivendo na graça de Deus, agindocomo cristão. Sem excluir o valor peda-gógico da alegria, como ambiente arespirar nas suas obras, e a sua falta, co-mo critério de diagnose infalível parajulgar a sua privação e eficácia educa-tiva, para Dom Bosco a alegria tem oseu fundamento em Deus: “Dom Boscovê nela uma imprescindível manifesta-ção da vida de graça... A vida em san-ta alegria é precisamente o modo devida cristã que Dom Bosco entendepropor aos rapazes”.Mesmo por isso, além de cuidar até aopormenor outras expressões mais visto-sas de alegria no Oratório, Dom Boscocolocou e defendeu a prática sacra-mental como meio habitual e indispen-sável de educação integral: “Diga-se oque se quiser sobre os vários sistemas deeducação, mas eu não encontro ne-nhuma base segura senão na frequên-cia da confissão e comunhão”. Nas pá-ginas que ele escreveu sobre o sistemapreventivo, aquele breve tratado emque se baseia a sua fama de educadorpedagogo”, Dom Bosco afirma-o comforça: “A confissão frequente, a comu-nhão frequente, a missa quotidiana, sãoas colunas que devem sustentar um edi-fício educativo, do qual se quer afastara ameaça e o chicote”. Em seguidaaconselha que se sublinhe com fre-quência aos rapazes “a beleza, a gran-deza, a santidade da Religião que pro-põe meios tão fáceis, tão úteis à socie-dade civil, à tranquilidade do coração,à salvação da alma como são precisa-mente os santos Sacramentos.Digno de nota me parece, e muito, queDom Bosco privilegie a confissão como“chave da educação”. Nela apreciavao mesmo estilo de abordar o jovem queele utilizava no processo educativo:“trata-se da mesma paternidade, ami-

zade e confiança que despertam nojovem a atenção aos movimentos dagraça”. “O segundo sustentáculo da ju-ventude é a sagrada comunhão”, es-creveu no sonho biográfico de Besuc-co. Na vida de Domingos Sávio colocana boca do seu protagonista: “Se euquero algo de grande, vou receber a Hóstia santa... Que me falta para serfeliz? Nada neste mundo... Daqui – co-menta Dom Bosco – nascia aquela hila-ridade, aquela alegria celeste quetransparecia em todas as suas ações”.Não há dúvida, Jesus Cristo, recebidonos Sacramentos, “domina a vida espi-ritual de Dom Bosco e do ambienteque ele coloca ao centro”. Estar comEle, n’Ele, é motivo de alegria.“Entre os obstáculos à nova evangeliza-ção está mesmo a falta de alegria e deesperança [...] Com frequência estafalta de alegria e de esperança sãotão fortes que corroem o mesmo tecidodas nossas comunidades cristãs [...].Possa o mundo do nosso tempo, queprocura ora na angústia, ora na espe-rança, receber a Boa Nova não deevangelizadores tristes e desanimados,impacientes e ansiosos, mas de minis-tros do Evangelho, cuja vida irradie fer-vor, que primeiramente hajam recebidoem si a alegria de Cristo, e aceitem pôrem jogo a própria vida a fim de que oReino seja anunciado e a Igreja implan-tada no coração do mundo».Salesianos e salesianas, bem como osoutros membros da Família Salesiana,sentimo-nos orgulhosos de ter recebidode Dom Bosco uma herança pedagó-gica que soube fazer da alegria não só uma experiência de vida, mas sobre-tudo o caminho salesiano para a santi-dade, para Deus. Não é de estranhar,portanto, que as palavras “alegria”,“alegre” tenham um lugar de honranas nossas Constituições, onde foramacolhidas como “traço constitutivo” do carisma salesiano. Assim devem permanecer.

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A originalidadedo Oratório salesianoO Oratório de S. Francisco de Sales emValdocco foi a primeira obra estável,aquela que deu início a todas as outras.O ambiente educativo criado no Orató-rio foi a resposta pastoral de Dom Boscoàs necessidades dos adolescentes e dosjovens mais necessitados da cidade deTurim.À maior parte deles, juntamente com acatequese, oferecia um são divertimen-to, a instrução elementar e competên-cias de trabalho para a vida. Dom Bos-co soube garantir formação e compro-misso aos rapazes que lhe apresenta-vam desafios educativos mais urgentes.O cunho pessoal de Dom Bosco deu for-ma ao Oratório e a sua práxis tornou-secritério preventivo aplicado aolongo dos anos:• de uma inicial lição de cate-

quese à presença-participação na vidado jovem, com o cuidado das suas ne-cessidades, dos seus problemas e dassuas oportunidades;• de um oratório festivo a «tempo limita-do» a uma casa a «tempo inteiro» quese prolonga no decurso da semanacom contactos pessoais e atividadescomplementares;• de um ensino de conteúdos catequís-ticos a um programa educativo-pastoralintegral, o Sistema Preventivo;• de alguns serviços pensados para jo-vens a uma presença familiar dos edu-cadores no meio dos rapazes, nas ativi-dades lúdicas e nas propostas religiosas;• de uma instituição referencial aosadultos a uma comunidade de vidacom os rapazes, de participação juve-

nil, de convivência aberta a todos;• da primazia do programa à pri-mazia da pessoa e das relaçõesinterpessoais;

O Oratório - Centro Juvenil no Quadro de Referência da

PASTORAL JUVENILSALESIANA

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Dia Missionário Salesiano2020

• da paróquia, centradano culto e na devoção,ao impulso missionário deuma comunidade juvenilque se abre aos jovensque a não conhecemnem encontram naquelaparóquia qualquer refe-rência.

Este dinamismo própriodo Sistema Preventivo sus-citava nos jovens o desejode crescer e amadurecer,passando das exigênciasimediatas de divertimentoou de instrução, a compromissos mais sis-temáticos e profundos de formação hu-mana e cristã e, envolvidos nas ativida-des, aprendiam a ser protagonistas deatividades, os jovens aprendiam a seranimadores de um ambiente educativoao serviço dos outros companheiros. OOratório de Dom Bosco está na origemde toda a obra salesiana e constitui oseu protótipo. Com esta inspiração de-senvolvem-se todos os diversos projetose serviços de evangelização da missãosalesiana (cf. Cost. 40). O desenvolvimen-to histórico e a expansão da obra deDom Bosco não modificaram os princí-pios inspiradores nem as caraterísticaspróprias do Oratório salesiano. Todavia,as novas situações socioeducativas e osfenómenos que marcaram a condiçãojuvenil exigem a sua reactualização.Nasceu uma nova conceção do tempolivre, uma realidade cada mais valoriza-da pelas nossas sociedades como espa-ço aberto a todo o tipo de experiênciasocial, cultural, desportiva, onde desen-volver as relações sociais e as capaci-dade pessoais. Nasceram novos am-bientes e agências educativas abertasao protagonismo juvenil. Numa situaçãoem que o tempo livre dos jovens está sa-turado de tantas atividades geridas ca-da vez com mais frequência tambémpor instituições com recursos ingentes, oOratório acolhe os pedidos de ativida-des com atenção ao coração oratoria-

no, ao estilo, à qualidade,convicto de que com otempo e com a colabora-ção das famílias, as nossaspropostas educativas te-nham sucesso. Os Orató-rios salesianos têm sabidoadaptar-se às novas situa-ções, com modalidadesdiferentes, assumindo aténomes diferentes. Nalgunscontextos, por “Oratório”entende-se um progra-ma, festivo ou diário, des-tinado especialmente

aos rapazes (crianças e pré-adolescen-tes), aberto a um público amplo, commétodos de abordagem que favore-cem no seu ambiente várias forma detempo livre e de encontro religioso. Por “Centro Juvenil entende-se uma es-trutura sobretudo aos adolescentes eaos jovens, aberta a todos, com váriaspropostas de amadurecimento integral,com prevalência da metodologia degrupo para um compromisso humano ecristão. Com Oratório-Centro Juvenil”compreende-se ao mesmo tempo, quera realidade oratoriana aberta quer tam-bém o compromisso para os jovens ma-duros (cf. Cost. 28; Reg. 5, 7, 11-12, 24;CG21, n.122). Muitas obras da Congre-gação são atualmente Oratórios-Cen-tros juvenis que levam por diante váriosprojetos educativos com uma ampla fai-xa de destinatários, capazes de interes-sar e envolver os jovens. Assumem múlti-plas formas e caraterísticas, em funçãodas diversas áreas geográficas, religiosase culturais. Existem, por exemplo, orató-rios noturnos, presenças itinerantes parajovens em risco, oratórios de zona ou debairro ligados em rede entre si, oratóriosque oferecem aos jovens desemprega-dos e à margem do sistema escolar apossibilidade de adquirir uma formaçãode base ou de se preparar para algumtrabalho; alguns procuram também recuperar jovens em situação de graverisco social.

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Ambientes adequados216. Em todas as nossas instituições, deve-mos desenvolver e reforçar muito mais anossa capacidade de acolhimento cor-dial, porque muitos dos jovens que che-gam encontram-se numa situação pro-funda de orfandade. Não me refiro a cer-tos conflitos familiares, mas a uma expe-riência que atinge igualmente crianças,jovens e adultos, mães, pais e filhos. Paramuitos órfãos e órfãs, nossos contemporâ-neos – talvez para nós mesmos –, comuni-dades como a paróquia e a escola de-veriam oferecer percursos de amor gra-tuito e promoção, de afirmação e cresci-mento. Hoje, muitos jovens sentem-se filhosdo fracasso, porque os sonhos de seuspais e avós acabaram queimados na fo-gueira da injustiça, da violência social, do«salve-se quem puder». Quanto desenrai-zamento! Se os jovens cresceram nummundo de cinzas, não é fácil para elessustentar o fogo de grandes ilusões e pro-jetos. Se cresceram num deserto vazio desentido, como poderão ter vontade de sesacrificar para semear? A experiência dedescontinuidade, desenraizamento equeda das certezas basilares, favorecidapela cultura mediática atual, provoca es-ta sensação de profunda orfandade àqual devemos responder, criando espa-

ços fraternos e atraentes onde haja umsentido para viver.

217. Criar «lar» é, em última análise, «criarfamília; é aprender a sentir-se unido aosoutros, sem olhar a vínculos utilitaristas oufuncionais, unidos de modo a sentir a vidaum pouco mais humana. Criar lares, “casasde comunhão”, é permitir que a profeciaencarne e torne as nossas horas e dias me-nos rudes, menos indiferentes e anónimos.É criar laços que se constroem com gestossimples, diários e que todos podemos rea-lizar. Como todos sabemos muito bem, umlar precisa da colaboração de todos. Nin-guém pode ficar indiferente ou alheio, por-que cada qual é uma pedra necessáriana sua construção. Isto implica pedir aoSenhor que nos conceda a graça deaprender a ter paciência, aprender a per-doar-nos; aprender cada dia a recome-çar. E quantas vezes temos de perdoar erecomeçar? Setenta vezes sete, todas asvezes que for necessário. Criar laços fortesrequer a confiança, que se alimenta dia-riamente de paciência e perdão. Destemodo se concretiza o milagre de experi-mentar que, aqui, se nasce de novo; aquitodos nascemos de novo, porque sentimosa eficácia da carícia de Deus que nos per-mite sonhar o mundo mais humano e, con-sequentemente, mais divino».

218. Neste contexto, é preciso oferecer lu-gares apropriados aos jovens, nas nossasinstituições: lugares que eles possam gerira seu gosto, com a possibilidade de entrare sair livremente, lugares que os acolhame onde lhes seja possível encontrar-se, es-pontânea e confiadamente, com outrosjovens tanto nos momentos de sofrimentoou de chatice como quando desejamfestejar as suas alegrias. Algo do génerofoi realizado por alguns oratórios e outroscentros juvenis, que em muitos casos sãoo ambiente onde os jovens vivem expe-riências de amizade e enamoramento,

Christus VivitPAPA FRANCISCO

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onde se encontram e podem comparti-lhar música, atividades recreativas, des-porto e também a reflexão e a oraçãocom pequenos subsídios e várias propos-tas. Assim abre caminho aquele indispen-sável anúncio de pessoa a pessoa, quenão pode ser substituído por nenhum re-curso ou estratégia pastoral.

219. «A amizade e o intercâmbio, frequen-temente mesmo em grupos mais ou me-nos estruturados, possibilitam reforçarcompetências sociais e relacionais numcontexto onde não se sentem avaliadosnem julgados. A experiência de grupoconstitui também um grande recurso pa-

ra a partilha da fé e a ajuda mútua notestemunho. Os jovens são capazes deguiar outros jovens, vivendo um verdadei-ro apostolado no meio dos seus própriosamigos».

220. Isso não significa que se isolem e per-cam todo o contacto com as comunida-des paroquiais, os movimentos e outrasinstituições eclesiais. Mas os jovens inserir-se-ão melhor em comunidades abertas,vivas na fé, desejosas de irradiar JesusCristo, alegres, livres, fraternas e compro-metidas. Tais comunidades podem ser oscanais que os levam a sentir que é possí-vel cultivar relações preciosas.

Dia Missionário Salesiano 2020

EVOLUÇÃO eTRANSFORMAÇÕESdo Oratório Salesiano

PE. MICHAL VOJTÁS, sdb

1. Antecedentesde um Oratório Festivo(anos ’20 e ’30 do século XIX)

As atividades daqueles anos seriam ca-raterizadas pelo “fazer bem” e “tomar adefesa dos pequenos” e na organiza-ção de encontros que alternavam aoração, as histórias, a catequese e a re-

creação. Nos anos de estudo em Chieri,João Bosco organiza a “Sociedade daAlegria” que nas suas regras simplicíssi-mas encarna as duas lógicas comple-mentares: os deveres e a alegria da vida cristã.

“Nos Becchi havia um prado, onde en-tão existiam diversas plantas, de que

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ainda subsiste uma pereira, que naque-le tempo me era de muita ajuda. Nestaárvore prendia uma corda, que ia ligar-se a outra árvore a alguma distância;depois, uma mesinha com a sacola; emseguida, um tapete no chão para saltarem cima. Quando tudo estava prepa-rado e todos estavam ansiosos por ad-mirar as novidades, então convidavatoda a gente a rezar o Terço, no fim doqual se cantava um cântico religioso.Terminado este, subia a uma cadeira,fazia a prédica, ou melhor, repetia oque recordava da explicação do Evan-gelho ouvida de manhã na igreja; ouentão narrava factos ou exemplos ou-vidos ou lidos nalgum livro. Terminada aprédica, fazia-se uma breve oração, elogo se dava início aos entretenimen-tos. Naquele momento, como já disse,ver-se-ia o orador tornar-se charlatãoprofissional. Fazer de andorinha, dar osalto mortal, andar de mãos no chãode pernas para o ar; depois pôr a saco-la, comer as moedas e ir recuperá-lasna ponta do nariz deste ou daquele”.(Memorie dell’Oratorio, in Fonti salesia-ne, 1179).

2. Experiência de fundaro Oratório Festivo de Valdocco (anos ’40 e ’50 do século XIX)

O oratório de Dom Bosco para a juven-tude não queria ser para grupos restritosnem reservado aos jovens do âmbitoparoquial; ele visava sobretudo os dascamadas populares e não excluía osmarginais dos submundos de periferia;não se apoiava no constrangimento efazia apelo à livre e espontânea partici-pação para lá de qualquer pertença aparóquias urbanas. Este oratório festivocresce com a oferta de aulas noturnas,depois alarga-se com o alojamento daCasa Anexa. Nos anos ’50, Dom Bosco éo padre dos oratórios que amadureceem plenitude a sua missão de educa-

ad un accia; o ogni mirare te del uesto glio ri-

ngelo tti od dica si tratte- vi dissi, a ron-

rpo in ndarli

1

a

essere ni del-

elli dei ndi di

a sulla ppar- cresce

oggio degli atore,

ella ri- a alle-

giuo- luogo

al lab- o luo- ocava

a tutte iovani a i gio- confi- mi dis-

a con- tutto

Diven- si pre-

dor, e acompanhante para a santidade(Domingos Sávio).

“Parecia-me estar no antigo Oratório nahora do recreio. Era uma cena toda vi-da, todo movimento, toda alegria. Unscorriam, outros saltavam e outros faziamsaltar. Uns jogavam à rã, ao caixão-par-tido e à bola. Aqui estava reunido umcírculo de rapazes em suspenso dos lá-bios de um padre que narrava uma his-torieta. Ali um clérigo que no meio deoutros rapazes jogava ao burro-voa e àsprofissões. Cantava-se, ria-se por toda aparte e por todo o lado havia clérigos epadres e à volta deles, os rapazes a fa-zer barulho, cheios de alegria. Via-seque entre os rapazes e os superiores rei-nava a maior cordialidade e confiança.Eu estava encantado com este espetá-culo e Valfrè disse-me: Veja, a familiari-dade gera amor, e o amor gera confian-ça. É isto que abre os corações e os jo-vens manifestam tudo sem temor dosmestres, dos assistentes e dos superiores.Tornam-se sinceros na confissão e forada confissão e disponibilizam-se comdocilidade para tudo o que quiser man-dar aquele de quem estão certos de seramados” (Lettera da Roma alla comu-nità salesiana dell’Oratorio di Torino-Val-docco 1884, in Fonti salesiane, 444-445).

3. “O oratório anexo”ao colégio salesiano(anos ’60, ’70 e ’80 do século XIX)

Os oratórios são postos de lado por difi-culdades económicas e pela crescentecolegialização – os salesianos são pre-parados dentro dos colégios para o tra-balho dos colégios, especialmente parao ensino e o Oratório já não entra no es-quema mental da maioria. É necessárioreconsiderar a importância dos oratóriose debater algumas ideias como, porexemplo, “um padre qualquer basta pa-ra levar por diante um Oratório festivo”(Bollettino Salesiano 40 (1916) 6, p. 165)

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Dia Missionário Salesiano 2020“Cada diretor tenha a solicitude de im-

plantar um Oratório festivo na sua Casaou Instituto, se ainda não existe, e de-senvolvê-lo, se já esta fundado. Consi-dere esta obra como uma das mais im-portantes que lhe foram confiadas, re-comende-a à caridade e benevolên-cia das pessoas ricas do lugar, para dis-por dos subsídios necessários, fale delacom frequência nas conferências, en-corajando os irmãos a ocupar-se dela,e preparando-os para isso, e não se es-queça de que um Oratório festivo já foi berço da nossa humilde Congrega-ção” (Deliberazioni del terzo e quartocapitolo generale della Pia Società salesiana tenuti in Valsalice nel settem-bre 1883-1886, Tip. Salesiana, S. BenignoCanavese 1887).

“O Oratório festivo não é fonte de lucro,mas antes de despesa contínua: é porisso que em vários lugares em que osSalesianos foram chamados a dirigir umOratório e abandonados depois a simesmos, se viram obrigados a abrir in-ternatos e colégios, também para sus-tentar a vida” (Bollettino Salesiano 27(1903) 4, p. 108).

4. O oratório diário em desenvolvi-mento na época dos Congressos (anos ’90 do século XIX e primeirasduas décadas do século XX

Com a importância da questão social edas propostas anticlericais cresce a sen-sibilidade pela relevância e a qualidadeda instrução catequística e da forma-ção cristã dos jovens. Os oratórios são o‘lugar’ ideal para as realizar, mas nosCongressos discute-se até sobre ascondições para pôr os oratórios aopasso dos tempos: oratório diá-rio como resposta ao fenó-meno do tempo livre, asso-ciações desportivas, escu-tismo, experiências com ocinema na catequese...

Na última reunião sobre os Oratóriospresidida por Dom Rua em 1909 afirma-se a adequação dos Oratórios festivosaos tempos, sobretudo para os jovensdos 14 aos 25 anos; 1) premente conviteaos encarregados a “renovar-se no es-tudo quotidiano das questões de atua-lidade” a fim de compreender toda aimportância da sociologia cristã para asalvação da sociedade”; 2) viva reco-mendação a completar a ação dosOratórios “com obras de orientaçãoeconómico-social, de modo que os jo-vens nelas encontrem “aquela instru-ção e assistência moral que lhes é ofe-recida por Círculos e Instituições anticris-tãs”; por exemplo: círculos de cultura;conversações sociais; escolas profissio-nais; secretariados do trabalho; secçãode inscrição na Caixa Nacioanl de pre-vidência; seguros operários populares;conferências de higiene profissional; instruções sobre a legislação do trabalho;operários emigrantes segundo o sistemade Kolping, etc. (P. BRAIDO, Per una storiadell’educazione giovanile nell’oratoriodell’Italia contemporanea, L’esperienzasalesiana, LAS, Roma 2018, p. 86).

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5. O associativismo e os oratóriosna época fascista (anos ’20 e ’30 do século XX)

Perante o impulso dado por Pio XI aoapostolado dos leigos, Filipe Rinaldi insis-tia em sustentar que no interior dasCompanhias e dos círculos juvenis sale-sianos estava já presente todo o desíg-nio do Papa sem uma formal agrega-ção à Ação Católica. Com o crescenteimpacto das novidades recreativas ede comunicação, Rinaldi afirma que osistema salesiano de educação leva emsi o segredo da genial modernidade,aceita tudo o que é verdadeiramentecristão, mas exclui com energia quantoo desvia e corrompe. O resto, ou o bati-zamos, isto é, ou o fazemos nosso, ou oabandonamos aos outros; caetera tolle!(ACS 11 (1930) 55, pp. 913-918).

“Agora, fazer bons cristãos que partici-pem a seu tempo no apostolado hierár-quico é a missão especial da nossa So-ciedade, na qual a participação ativados leigos no apostolado é um factopermanente.[...] Todavia, na nossa missão de prepa-rar e formar os futuros sujeitos da AçãoCatólica, isto é, os leigos para o aposto-lado hierárquico da Igreja, devemos se-guir os exemplos do Beato Pai e praticarfielmente os seus métodos. Entre estesmétodos ocupam um lugar importanteas Companhias da Imaculada, de S.Luís, de S. José, do SS.mo Sacramento edo pequeno Clero. Estas entram na listadaquelas Associações tão queridas ao Santo Padre e por ele tantas vezescomentadas e recomendadas, as quaiscom admirável variedade de organis-mos tendem, quer a uma mais intensacultura ascética, quer às práticas depiedade e de religião e particularmen-te ao apostolado da oração, quer aoexercício da caridade cristã em todasas suas vertentes, exercendo, de facto,um largo e eficacíssimo apostolado,

individual e social, com formas de orga-nização muito variadas e apropriadasàs diversas iniciativas, mas por isso mes-mo diferentes da organização própriada Ação católica, mas podendo e de-vendo dizer-se verdadeiras e providen-ciais auxiliares da mesma” (ACS 1 (1930)55, 915-916).

6. A cruzada catequística nos ora-tórios e as suas influências (anos ’40 e ’50 do século XX

A catequese era chamada a tornar-seum poderoso meio de atração e de for-mação na visão de Pedro Ricaldone. Asua argumentação é a seguinte: as ori-gens da obra salesiana estão ligadas àcatequese; a ignorância religiosa é afonte do afastamento das massas daprática cristã; é necessário então um re-novado empenhamento catequístico-oratoriano, através: do regulamento, doprojeto, do pessoal, dos catequistas, daformação, da Congregação da Doutri-na Cristã, dos meios para atrair os jovensao oratório, do método, de Dom Boscocatequista, dos subsídios didáticos e doslivros, das atividades, dos exames, dosconcursos, das festas, da Palavra deDeus, da recreação, do teatrinho, dasopções arquitetónicas, dos subsídios pa-ra o exame de consciência...

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Dia Missionário Salesiano 2020“É verdade, somos poucos e imprepa-

rados para as necessidades avassala-doras e imensas; além disso, o nossoapostolado é de ontem [...] O essencialé que ninguém fique surdo à chamadae que todos, no imenso e multiformecampo de ação, deem com entusias-mo e sempre o seu contributo. Já queDivina Providência quis que os pobres fi-lhos de Dom Bosco plantassem as suastendas em toda a parte, é nosso dever,nesta faustosa data das comemora-ções centenárias, dar folgo às trombe-tas e fazer ressoar sob todos os céuscom frémito possante a voz de Deus eda Igreja, que a todos convida à santacruzada” (Strenna del Rettor Maggiore,SEI, Torino 1940, pp. 34-35).

7. Mudanças do Vaticano II (anos ’60 e ’70 do século XX)

No Capítulo Geral de 1965 refletem-seas instâncias do mundo juvenil: vivo sen-tido da liberdade, vivo sentido social e

vivo sentido de pertença aomundo de hoje, mas veem-

se também sintomas de debilidade. En-tre os temas educativos emerge a estra-tégia da gradualidade, a necessidadede respeitar os ritmos de evolução dojovem, a necessidade de atualizar a direção espiritual e educar para o amorcristão e para a pureza. O Capítulo afir-mou solenemente na primeira delibera-ção sobre o tema do apostolado juvenilque “se dediquem especialíssimos cui-dados à obra ‘primordial’ do Oratório,oportunamente atualizada e redimen-sionada” (ACS 47 (1966) 244, p. 103). Para esta finalidade devia servir um“Centro Oratórios” e uma “ConsultaCentral” a nível de governo-geral daCongregação que deviam redigir umRegulamento Geral dos Oratórios e de-pois eram propostas diversas estruturasa nível de Conferências Provinciais, Pro-víncias e Casas.

“O Oratório, tal como o centro juvenil,conserva a sua validade e é mais atualdo que nunca, sobretudo na situaçãopresente [...] A pastoral renovada do Concílio Vaticano II sublinhou a vali-dade desta fórmula de aproximaçãodos jovens com formas abertas, inseri-das na vida, aderentes à sua psicologia,dando resposta aos seus mais vivos evariados interesses, criadoras de umambiente ideal para o encontro entresacerdotes e jovens. [...] O Oratório nãodeve limitar-se à massa juvenil que o fre-quenta, mas deve tornar-se o instrumen-to pastoral para a abordagem de toda a juventude, abrindo-se com espírito de diálogo e missionário a todos os jo-vens da Paróquia, da zona, da cidade,ou seja dos afastados” (ACS 47 (1966)244, p. 137).

8. Oratório e Centro Juvenil entreprojeto e animação de grupos (anos ’80 e ’90 do século XX)

A vida do oratório faz parte do ProjetoEducativo-Pastoral Salesiano com algu-

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da animação. A animação baseia-sena convicção de que em cada jo-vem há sempre reservas de bem adespertar. Acolhe por consequên-cia a pessoa e valoriza as suasenergias. Abre continuamentenovos horizontes de humani-dade e de fé despertando aresponsabilidade. Com istoentende tornar o jovemprotagonista e gestor dasua própria vida” (Pasto-rale Giovanile Salesiana,1990, p.95).

9. Oratório pós-moderno do ter-ceiro milénio No terceiro milénio nota-se uma diminui-ção do associativismo espontâneo dosgrupos, típico no pós-concilio. Na vidados jovens há mais individualismo e soli-dão, passividade induzida pela ausên-cia de cenários de esperança e novasmodalidades de comunicação que nofim criam um sentido de solidão “pós-apocalíptica” – o passado como se nãoexistisse e o futuro é incerto. Os pontosfortes da proposta oratoriana giram emtorno do acompanhamento pessoal,discernimento vocacional e uma ne-cessária evangelização “radical”, quesai da lógica proporcional “educa-ção/evangelização=50/50

“O ponto qualificante é o Evangelho, asua função orientativa e a sua lógicaradical: é um anúncio que interpreta avida, mais em profundidade do quequalquer outro. A evangelização temuma força que provoca. Não chega“depois”. O Evangelho entra na lógicaformativa da unidade estrutural da per-sonalidade. Os seus critérios de avalia-ção e operativos baseiam-se em JesusCristo. Um serviço educativo que cominteligência vise a formação integraldos jovens, não tem medo de se inter-rogar continuamente sobre o significa-

mas caraterísticas tipicamente oratoria-nas da Comunidade Educativo-Pasto-ral: uma grande capacidade de apro-ximação e de partilha com o mundodos jovens, atentos aos seus pedidos enecessidades; flexibilidade e criativida-de para se adaptar cada vez mais à di-versidade e espontaneidade do am-biente oratoriano; mas ao mesmo tem-po com uma consciência clara e parti-lhada da proposta e do projeto que fa-voreça a unidade de critérios e a con-vergência de intervenções, evitando adispersão e o individualismo; acolhi-mento e atenção a cada pessoa, supe-rando as relações sobretudo funcionais;um amplo espaço à participação eresponsabilidade dos mesmos jovens;sensibilidade e presença no território,disponível para colaborarem ativamen-te com as instâncias educativas nosmesmos (QRPG 1988, pp 60-61).Os pontos fortes de uma mentalidade“aberta” inserem-se depois na vida dosgrupos que forma implícita e explicita-mente o Movimento Juvenil Salesianocom o conceito de animação:

“O grupo, como lugar assinalado davoluntariedade, fez emergir algumascondições indispensáveis ao cresci-mento do jovem, que foram organiza-das em torno do conceito e da prática

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Dia Missionário Salesiano 2020do e sobre as razões da evangelização.

[...] O Evangelho inspira os critérios de juízo, guia as opções fundamentaisda vida, ilumina a conduta ética priva-da e pública, regula as relações inter-pessoais e indica a orientação do agire do viver. A dignidade da pessoa é ele-vada na interação com a fé. No encon-tro com a boa notícia a pessoa huma-na atinge o vértice da “imagem deDeus”, que revela à vida o seu destinotranscendente, ao mesmo tempo queilumina com luz nova todos os direitos”(QRPG 2014, 62-63).

10. O oratório do futuro...Os jovens no encontro pré-sinodal (19-24 de março 2018) indicaram alguns de-sejos sobre a pastoral juvenil do futuro:gostaríamos que a Igreja fosse ao nossoencontro nos diversos lugares em que,atualmente, está pouco ou nada pre-sente. Sobretudo, o lugar em que que-remos ser encontrados pela Igreja é “arua”, ali onde se encontram pessoas detodo o género. Do mesmo modo que osvários lugares físicos em que podemosser encontrados, a Igreja deve tomarem consideração o mundo digital. Emsuma, queríamos ser encontrados ali on-de estamos – intelectual, emotiva, espi-ritual, social e fisicamente.As iniciativas que têm sucesso sãoaquelas que nos oferecem uma expe-riência de Deus. Por isso respondemospositivamente àquelas iniciativas quenos permitem compreender os Sacra-mentos, a oração e a liturgia, a fim depodermos partilhar e defender de ma-neira apropriada a nossa fé num mundosecularizado. Também pequenos gruposlocais, onde possamos exprimir as nossasdúvidas e compartilhar a fraternidadecristã, são de primeira importância parasustentar a fé. Estes pequenos eventosnos vários contextos sociais têm a capa-cidade de preencher a diferença entre

os acontecimentos eclesiais de alcancemais amplo e a paróquia. A Igreja deve adotar uma linguagemem condições de se relacionar com oshábitos e a cultura dos jovens, de modoque todos possam ter a oportunidadede escutar a mensagem do Evangelhoservindo-se de alguns instrumentos:• Multimédia – A Internet oferece à Igre-ja uma oportunidade inédita para a evangelização através das novas tecnologias da comunicação e dosconteúdos multimédia online;

• Anos sabáticos – Períodos de tempoempregues em serviço com movimen-tos e associações de caridade dão aos jovens uma experiência de missãoe um espaço em que praticar o discer-nimento;

• Artes e beleza – A beleza são univer-salmente reconhecidas e os jovens respondem de maneira particularmen-te positiva à criatividade e à expressivi-dade;

• Adoração, meditação e contempla-ção – Apreciam também o contrastedo silêncio através da Adoração Euca-rística e da oração contemplativa. O si-lêncio é o lugar onde podemos escutara voz de Deus e discernir a sua vontadea nosso respeito;

• Testemunho – As histórias das pessoasque fazem parte da Igreja são vias eficazes de evangelização. As vidas dos Santos para nós são ainda relevan-tes enquanto percursos para a santida-de e para a realização pessoal;

• Sinodalidade – sentimos que este diá-logo entre a Igreja e jovem madura um processo de escuta vital e fecunda.Esta cultura de abertura é extremamen-te salutar para nós (Cf. SINODO DEI VESCOVI XV, Documento final da reu-nião pré-sinodal Roma 19-24 marzo2018, art. 13-15).

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1. O Oratório plasma a identidadesalesiana

[...] Dom Bosco, segundo o parecer unâ-nime dos estudiosos, assumiu uma institui-ção existente e modelou-a conforme asnecessidades dos jovens aos quais se diri-gia e segundo a própria genialidade oucarisma. Isto teve incidência definitivanão só na organização externa do orató-rio (atividades, estruturas...), mas plasmouo seu estilo e a sua fisionomia interna. Aesta transformação o biógrafo padre Ce-

ria dedica um capítulo dos Annali, repor-tando a avaliação de Dom Bosco sobreos oratórios existentes: «pelo exame dosmesmos viu que já não eram para os nos-sos tempos». Indica as razões: «Além deestarem abertos apenas algum tempode manhã ou à noite, não se admitiamsenão rapazinhos de boa conduta, apre-sentados pelos seus pais com a obriga-ção de os retirar, se não se comportas-sem bem; onde se juntavam os traquinasnos internatos de patifórios, usavam-semodos policiais quer para os obrigar querpara os entreter. Ele, ao invés, partia detrês conceitos diametralmente opostos.O oratório devia preencher todo o diafestivo, devia abrir as portas ao maior nú-mero possível de rapazes, devia ser go-vernado com autoridade paterna».Mas se Dom Bosco deu forma original aooratório, este por sua vez fez tornar práxispastoral aquela caridade que o tinha im-pelido para os rapazes e assim o oratórioplasmou a identidade, o espírito e a pas-toral salesiana.É justo por isso esclarecer que estudar ooratório salesiano não significa verificartecnicamente a validade de uma institui-ção genérica, mas remontar a um caris-ma original, colocando-se na perspetivada vocação e missão salesiana. [...]

2. O Oratório Salesiano «MissãoAberta» no continente juvenil

Dom Bosco teve nos jovens pobres eabandonados a primeira e substancialreferência para a sua vocação. A missão

O ORATÓRIO SALESIANOentre memória e profecia

PE. JUAN VECCHI, sdb

Tomemos alguns estratos do rico artigo “L’oratorio salesiano tra memoria e profezia”, in AA.VV., Oratorio Salesiano tra società civile e comunità ecclesiale. Atti della conferenza nazionale CISI, Tipografia Don Bosco, Roma, 1987.

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Dia Missionário Salesiano 2020que lhe era confiada não consistia em in-

serir-se, mesmo que fosse com novidadede enquadramento, numa determinadainstituição pastoral, mas chegar aos jo-vens com uma intervenção de salvação.Sabia que um oratório podia ser «paro-quial», gerido pela paróquia e destinadoaos jovens que dela faziam parte. Mas es-tabeleceu o seu dirigindo-se diretamenteàs necessidades dos jovens, sem títulosde jurisdição canónica, impelido e auto-rizado pela caridade e pelo sacerdóciorecebido.Podendo colocar-se dentro das institui-ções existentes, com as relativas e indis-cutíveis competências sobre determina-dos temas e áreas, escolheu dirigir-se«aos jovens que não tinham paróquia ounão sabiam a que paróquias perten-ciam». Teve consciência de ser enviadodiretamente a eles, de ser missionário dosjovens; a instituição eclesial de então«autorizou» a atuação de Dom Bosco co-mo válido complemento da ação pasto-ral lá onde a igreja «organizada» nãoconseguia chegar.

2.1. Do encontro à proposta O oratório salesiano nasce diferente dosoutros: não como uma sede para pro-postas «de serviços normais» para quemdeles quisesse aproveitar; mas comouma busca pelas ruas, pelas oficinas, pe-los estaleiros. Coloca-se num âmbito hu-mano e social mais do que numa jurisdi-ção territorial. É uma escolha de determi-nados sujeitos, antes que uma programa-ção de conteúdos e atividades. Se estessujeitos não se aproximam, é preciso, co-mo primeiro passo, ir ao seu encontro:não dar por adquirido que virão, se aproposta é objetivamente válida segun-do um parâmetro comum.Do encontro com estes sujeitos nascemos programas. Isto tem influência no estilodo oratório e na sua inserção na pastoralgeral. Com efeito, os sujeitos escolhidossão os «últimos» e, a partir destes, todos.Por isso e pela sua referência direta às ur-gências dos jovens pobres, mais do que a

títulos e estruturas canónicas, o oratóriode Dom Bosco vem a ser «marginal» doponto de vista institucional, ao passo queemergente do ponto de vista da «signifi-catividade». Encontrou-se no centro dointeresse social tanto e mais do que oeclesiástico, e tornou-se uma iniciativa aomesmo tempo religiosa e secular, umaexpressão de caridade pastoral e de so-lidariedade humana.O oratório de Dom Bosco aparece assimcomo uma iniciativa sem fronteiras, comoum movimento em direção aos jovenspara ir procurá-los onde eles se encon-tram física e psicologicamente. Resultauniversal como a vontade salvífica deDeus. O movimento é sempre em dire-ção às fronteiras e às margens religiosas,sociais e humanas, com o olhar voltadopara aqueles que as instituições regularesnão tomam em consideração, sem ex-cluir, antes convidando os outros. É paratodos, não destinado aos especiais do

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ponto de vista da excelência ou do des-vio, mas ao pobre comum no qual há vi-vos recursos para acolher uma propostade recuperação e crescimento.A missionariedade não se refere apenasaos sujeitos, mas também à sociedade.Através da intervenção no vivo de umproblema social fortemente sentido, DomBosco pôs em nova luz a missão da co-munidade cristã na convivência huma-na. As suas expressões a respeito da forçada religião sobre os sujeitos, sobre as mo-tivações dos educadores e sobre a refor-ma da sociedade, revelam o tipo demensagem que propunha a todo o con-texto social.

2.2. Uma missionariedade a reatualizarEsta é «memória». O traço missionárioque aparece tão nítido nas origens dooratório e que fica embaciado em suces-sivas realizações provoca à reflexão emalgumas direções.A primeira reflexão diz respeito ao tipo dedestinatário à medida do qual é neces-sário pensar hoje o oratório e, a partir daqual, abri-lo a todos. Há o convite daIgreja a partir dos últimos; daqueles queficaram fora dos circuitos normais deevangelização e de atenção educativa.São os «afastados». Sobre o facto da suaconsistência numérica não há dúvidas.Parece evidente nos dados sobre a «as-sistência» dominical, sobre a catequese eaté sobre o batismo e primeira comu-nhão. O número de jovens atingidos pe-las iniciativas eclesiais constitui uma per-centagem insignificante da totalidadedos sujeitos. Uma avaliação não igual,mas certamente «análoga», pode fazer-se a respeito das instituições educativas,dado o andamento da marginalidadejuvenil.O fenómeno foi objeto de reflexões apro-fundadas e de cuidadosas distinções.Há os «afastados» por aquelas preocupa-ções éticas que poderiam constituir umabase de diálogo: aqueles que perderamo interesse pela dimensão religiosa;aqueles em quem a mensagem cristã

reentra no genérico do pensamento reli-gioso; aqueles que de modo nenhum sereconhecem na Igreja; aqueles que, em-bora reconhecendo-se, já não a frequen-tam.Não poucos deles não se afastaram: sim-plesmente nasceram «noutro continentecultural», assimilaram «outra linguagem»,cresceram «noutros ambientes», desen-volveram «outras pertenças».O chamamento a uma nova evangeliza-ção é, portanto, mais do que nunca justi-ficado mesmo no que diz respeito aos jo-vens.O oratório não é um cenáculo para osmelhores nem uma sede para a recupe-ração daqueles que caem em gravesdesvios.Constrói-se à medida «deste» rapaz-jo-vem comum, categoria a que pertencehoje o maior número.Desta urgência abre-se a urgências maisparticulares na medida em que o am-biente o permite e a comunidade se tor-nou capaz de dar soluções a estas ne-cessidades através de iniciativas especí-ficas e articuladas.A pergunta sobre os sujeitos refere-setambém ao problema da idade. O orató-rio nascido para rapazes até à adoles-cência, sente hoje a necessidade deadequar as suas propostas à juventudenão só pela diminuição demográfica,mas sobretudo pelo alargamento da ida-

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de juvenil e do período educativo. Comefeito, é na idade juvenil que aparecemhoje os fenómenos mais preocupantesde abandono, os riscos mais graves demarginalização e também as manifesta-ções mais interessantes de compromissoe envolvimento.Outra série de reflexões diz respeito à«missionariedade, seja a nível dos orató-rios paroquiais seja dos que servem umaárea mais vasta. Em igrejas como as dehoje, que se sentem em comunhão deenergias apostólicas e de carismas, a dis-tância entre marginalidade institucionale significatividade carismática deveriaser superada ou muito encurtada.Em comunidades cristãs que sabem sermissionárias na comunidade dos ho-mens, a atenção aos afastados deveriaser um compromisso de toda a açãopastoral e não apenas de «pioneiros» so-litários. A inserção do oratório numa pas-toral orgânica parece, portanto, não sópossível mas recomendável. Todavia, co-mo o oratório não pode esgotar todas aspossibilidades de pastoral juvenil de umaou mais paróquias, assim a ação paro-quial não poderá enquadrar todas aspossibilidades de um oratório. Este serásempre uma iniciativa de fron-teira, no ponto de encontro

entre comunidade cristã e sociedade ci-vil: uma presença dos cristãos entre a ju-ventude e uma iniciativa de evangeliza-ção da comunidade eclesial.É necessário manter os dois polos da ten-são: ser missionários para lá das paró-quias, agir dentro da comunhão eclesialmais do que só entre os limites de umacircunscrição pastoral, tornando-se sensi-bilizadores das comunidades e dos pas-tores a respeito da condição juvenil edos prolemas daí emergem.Há, por fim, a questão prática de comoatualizar hoje aquela busca dos jovenstão caraterística de Dom Bosco. O con-tacto «fora dos muros» é indispensável.Muitos oratórios desenvolvem-se refor-çando a própria capacidade de convo-car com a presença naquelas sedes emque conflui a juventude. Mas o ponto fun-damental é conseguir colocar-se psicoló-gica e pastoralmente no centro dos pro-blemas em que os jovens menos favore-cidos se debatem.O «território» torna-se então referênciaobrigatória e um ponto de atenção pre-ferencial como «campo de levantamen-to e como espaço de trabalho, mas tam-bém como sujeito agente que nos permi-te chegar aos jovens de forma mais total.Além da presença nas sedes em que setratam problemas juvenis e no confrontocom as agências que se ocupam da for-mação dos jovens, não é de excluir o en-contro direto com os grupos juvenis es-pontâneos ou a presença na rua me-diante animadores.

3. A missão tem um “ambiente”de referência e irradiação

A missão aberta exprime-se e concentra-se num ambiente, ainda que não se limi-te a ele. Se não houvesse o ambiente, tor-nar-se-ia problemático (se não impossí-vel) desenvolver programas consistentesde recuperação e crescimento; mas se ooratório se fechasse no próprio ambien-te, a sua missionariedade desvanecer-se-ia, tornando-se assim um normal serviçode «manutenção» religiosa. O ambiente

Dia Missionário Salesiano 2020

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é então a base onde se atua, donde separte e no qual se conflui.O significado de ambiente é compósito.Comporta diversas componentes e rela-tivas atenções. A mentalidade hodiernaajuda-nos a captar o seu significado glo-bal, o conjunto completo e equilibradode fatores que favorecem a qualidadede vida.Dom Bosco intuiu a sua importância des-de os primeiros encontros com os rapazesna prisão e na rua, estudou cuidadosa-mente as condições para o crescimentodos jovens e codificou-o através de múl-tiplas indicações. [...]

4. Missão aberta e ambiente de referência propõem-se a salvação dos jovens

A palavra é talvez inesperada num en-contro de projeto. Embora sendo rica designificados pode parecer demasiadocompreensiva e, portanto, genérica paraexprimir as finalidades concretas a pro-por na nossa situação particular.É útil, então, para a nossa finalidadeaprofundar o seu significado de eventoobjetivo e de experiência subjetiva. Co-mo evento objetivo, a salvação é liberta-ção real dos riscos que podem compro-meter o desenvolvimento de uma exis-tência conforme à vocação do homem,a abertura a possibilidades novas de vi-da, a oferta de oportunidades e de aju-da para realizar estas possibilidades en-trevistas.Enquanto experiência subjetiva é cons-ciência, vivida alegremente pelo sujeito,da própria recuperação, do afastamentodas condições negativas de existência eda descoberta de horizontes de vida, en-carnados em pessoas, propostas e am-bientes.Ao oratório, portanto, não correspondecomo primeira e principal definição a de«catequese», nem a de instituição «edu-cativa» em sentido formal, nem a de ini-ciativa para o «tempo livre». É tudo istojunto numa «mistura» conveniente para

abrir à vida sujeitos de um determinadocontexto, mediante o acolhimento e avalorização daquilo que eles já trazemem si como desejo, tensões, patrimónioadquirido, perspetivas e mediante pro-postas que impelem a avançar.A condição geral dos jovens e o seu mo-do de elaborar as escolhas e o sentidobem como os condicionamentos quepodem comprometer o seu desenvolvi-mento são, portanto, substituídos em con-tinuidade e interpretados à luz da salva-ção. O oratório apresenta-se como umradar sensível às problemáticas juvenisque emergem no território para poderdecidir em concreto em que imagem,gesto, anúncio e intervenção a salvaçãopode tornar-se evento e experiência. Há, porém, uma indicção que pertenceà identidade. Para realizar a salvação dajuventude Dom Bosco, entre as muitaspossíveis, preferiu a via «educativa». Foiuma opção reforçada de forma especialface a outras duas: a que pendia maispara o político e a participação diretana reforma da sociedade, e a que pen-dia totalmente para a vertente «cate-quística»: isto é, que considerava o orató-rio à maneira de catequese paroquialcom acrescentos apenas de algumasatividades lúdicas, como atrativas semrelevância na formação do rapaz.A mesma via educativa é entendidamais como capacidade de enfrentar avida nos seus atuais desafios e de se pre-parar para o futuro do que como desen-volvimento de programas formais siste-máticos.Partindo da ideia do oratório-catequese,Dom Bosco chegou a uma fórmula totalse bem que não totalizante, à medidaque tomava contacto com as condiçõesde vida dos seus rapazes. A forte conota-ção catequística permaneceu como umtraço fundamental não único nem isola-do dos outros que conformam a respostaglobal. [...]

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5. Um programa original de ex-pressão juvenil, evangelização,animação cultural

Pela memória conhecemos os três ele-mentos sobre os quais se fundava o ora-tório: jogo, catequese, instrução-promo-ção (posteriormente «extraescolar»). Ca-da um deles parece ter encontrado lu-gares próprios, pelos quais o conjuntonão serve senão como legitimação paraa existência do oratório.Com efeito, não é para fazer uma políti-ca do desporto, para que todos os rapa-zes possam jogar, que se faz hoje o orató-rio; algo de semelhante, com um poucomais de respeito, poder-se-ia dizer dos ou-tros dois aspetos (a catequese e a ativi-dade extraescolar).Deste motivo emerge a necessidade deuma avaliação cuidadosa de cada umadas áreas de atividade do oratório e doseu conjunto, precisamente em relaçãoà sua identidade e à procura educativaatual dos jovens.Já o facto de ter substituído as palavrascomporta uma mudança de perspetiva.No lugar do «jogo» colocámos «expres-são juvenil; «catequese» substituímo-lapor «evangelização»; as atividades ex-traescolares incluímo-las na animaçãocultural.Problema importante é o conteúdo ma-terial de cada um destes aspetos, masmais ainda a sua qualidade. Isto leva-nosa aprofundar a vertente educativa epastoral, mais do que a «técnica».Que jogo faz o oratório para ser ele mes-mo e não um clube, um luna-park? Queevangelização podemos esperar do ora-tório para ser alargamento e não «répli-ca» da catequese paroquial? Que ani-mação cultural se propõe para não seconfundir com os inumeráveis «centrosculturais» ou comissões de bairro?Põe-se em relevo que na «política» orato-riana cada um dos três elementos supra-mencionados inclui necessariamente osoutros. Os três confluem no objetivo jádescrito: o crescimento pessoal e social,

Dia Missionário Salesiano 2020secular e eclesial da pessoa mediante a

participação ativa num ambiente propo-sitivo. Daí se segue que a qualidade decada um não se constrói só com os ele-mentos próprios, mas resulta da sua inser-ção num «sistema». O relevo que se dá acada um deles no conjunto e a orienta-ção «educativo-pastoral» que se lhe im-prime determinam aquelas imagens glo-bais de oratório enumerámos no inícioda relação.

5.1. A expressão juvenilO primeiro elemento a levantar proble-mas é o jogo-expressão. Deste, mais doque de qualquer outro elemento, o ora-tório salesiano tira a sua originalidade.Não que seja o mais importante. MasDom Bosco e gerações de salesianos su-blinharam-no como fator educativo deprimeira ordem.Da sua experiência pessoal e da sua práxis educativa pastoral Dom Bosco tira

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algumas conclusões que por muito tem-po orientaram as opções dos salesianos.A primeira é que «o pátio atrai mais doque a igreja». São palavras suas. O primei-ro passo, portanto, para o tipo de sujeitoque ele tinha entre mãos, jovem e pobre,era viver positivamente esta tendência.Atribuía-lhe uma importância extraordiná-ria na totalidade da vida do rapaz, parti-cularmente do pobre, para o qual consti-tuía o necessário contrapeso de liberda-de às horas de trabalho e de convivênciadifícil nas oficinas e na família. Libertandoe desenvolvendo a alegria e a vitalidade,pensava consolidar o equilíbrio humano e espiritual, e predispor para o positivo. O jogo tinha uma função facilitante de to-do o processo educativo: nós em vez decastigos temos a assistência e o jogo».Nem por isso eram subestimados os valo-res que o jogo-expressão desenvolve pe-la sua mesma natureza: sentido de liber-dade, desenvolvimento das forças físicas,disciplina acordada e aceite, comunica-ção, competências várias. Integradonum ambiente comunitário e num «siste-ma» de atividades e intervenções, assu-mia outros valores, como o encontro comos companheiros, a amizade, a colabora-ção, o sentido social, o clima festivo, e dava ao educador a possibilidade de seinserir no ritmo vital do rapaz, conhecen-do-o nas manifestações espontâneas efalando-lhe como amigo. [...]

5.2. A evangelizaçãoMas o oratório carateriza-se pelo factode o jogo-expressão juvenil ser levedadopelo anúncio do Evangelho feito aos jo-vens, pelo seu aprofundamento atravésde um caminho «catequístico» e pelaproposta de uma espiritualidade para vi-ver, que se inspira nas bem-aventuranças:«Quero mostrar-vos um caminho para serfelizes...». Este anúncio dá razão do aco-lhimento da alegria juvenil espontânea eaprofunda-a até fazê-la tornar-se progra-ma. O oratório foi desde o início um lugarde ensino da doutrina e de prática reli-giosa pessoal e comunitária.

Também em relação à evangelização secoloca a interrogação sobre a qualida-de e sobre as modalidades possíveis edesejáveis no oratório. Com efeito, cir-cunstâncias, programas e métodos con-formam diversos modelos de comunica-ção da fé: há o modelo «familiar», o «es-colar», o «paroquial», o «associativo», o«secular».Cada um destes modelos reforça algunsaspetos, sublinha algumas modalidades,prefere um tipo de experiência, escolheuma forma de comunicação: sistematici-dade, experiência imediata, inserção navida da comunidade, relevância da experiência vivida, confronto com os problemas culturais, compromisso social.

5.3. Que «evangelização oratoriana»?Qual é o modelo oratoriano, que nãosubstitui os outros mas os recicla numanova síntese?

• O oratório propõe-se fazer uma evan-gelização «missionária»: parte do anún-cio essencial e retoma-o continuamentepara se colocar ao nível dos «últimos» epara ancorar todo o novo progresso cog-nitivo e prático na experiência funda-mental. Isto comporta: a centralidade dapreocupação pelo anúncio de Cristo nacomunidade, na organização e na quali-ficação dos operadores; o acolhimentode quem se encontra a níveis baixos defé; a busca de quem está potencialmen-te disponível, mas não se mostra interes-sado; a saída da sua zona de conforto...para comunicar uma primeira parte doanúncio a quem não se aproxima; a«prática» das diversas formas de primeiroanúncio.

• O oratório faz uma evangelização quefala da vida e sobre a vida. Isto significaque nele os «factos» que envolvem os jo-vens se tornam evento e anúncio de sal-vação; que apresenta a vida, com assuas pulsões e esperanças, como uma«dádiva»: valoriza aquilo que os jovenstêm dentro de si como desejo e idealsem conseguir dar-lhe ainda um nome

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religioso; que reúne as perguntas queprovêm da experiência vivida; que é pre-valentemente «experiencial»: ajuda adescobrir a fé e inicia em vivê-la envol-vendo numa vida já inspirada pela fé,mais do com explicações verbais.

• O oratório faz uma evangelização queé mais busca provocada e acompanha-da do que «lição» ainda que didatica-mente valiosa: o grande mistério a explo-rar é a vida dos cristãos e de Jesus quecaminha com eles; o acompanhante é o catequista que se apresenta mais como amigo-animador do que como«mestre»; as vias são múltiplas; tudo levauma mensagem de salvação: jogo, en-contro pessoal, grupo, celebração, co-munidade, como vias complementares econvergentes; o critério fundamental:conseguir dizer aquilo que os jovens sãocapazes de viver e viver aquilo que pu-deram dizer: perceber, aprender e re-ex-primir a fé.

• A evangelização do oratório sabetambém ser «sistemática» sem se desligarda experiência vivida: a catequese éelemento de todos os oratórios; aí seatua uma seleção de «núcleos» significa-tivos para uma iluminação da experiên-cia vida-salvação-Jesus Cristo; os pontos

de referência para a escolha são: a vidado oratório, a idade dos rapazes (cicloescolar), os acontecimentos mais signifi-cativos e vividos, o ritmo litúrgico, os pro-blemas culturais.

• O oratório na evangelização propõe-semetas «qualificadas» e procura atingi-lasseguindo o ritmo dos rapazes: da forma-ção cristã de base, que é sua caraterísti-ca, à profissão forte, serena, militante dafé (Paulo VI) através da proposta e aqui-sição de conhecimento da fé, culturacristã, espiritualidade salesiana, participa-ção numa presença empenhada naárea profissional e social («bons cristãos ehonestos cidadãos»).

5.4. A animação culturalPor fim, há um terceiro elemento: a ani-mação cultural. A expressão recorda algumas realidades cujo conhecimentogeral damos por adquirido. Lembramos só que a cultura compreende o alarga-mento da experiência pessoal, a perce-ção de novas dimensões da vida e dahistória, a busca e a elaboração de umsentido para a existência, o encontro cria-tivo com o esforço que pessoas e comu-nidades fazem pela qualidade da vidapessoal e social.A animação cultural põe em evidênciauma modalidade de aprofundar a féatravés do confronto com os problemas

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da cultura e da convivência, e de clarifi-car estes procurando o seu sentido na fé [...]

6. Conclusão: Que profeciaEstamos, diz-se, em tempos de utopias emitos «frios», excetuando os momentoscoletivos de exaltação. Talvez a nossatenha parecido uma «profecia contida»,expressa sob a forma de «resposta pasto-ral» que vai ao encontro de uma per-gunta atual sem renunciar a perspetivasulteriores. Todavia, se se aprofundar bem,descobrir-se-á que se coloca na linha do futuro, da esperança, dos eventos desalvação.Com efeito, o oratório, assim concebido,quer se uma forma de anúncio numtempo de nova evangelização em con-textos secularizados. Procura trabalharsobre uma imagem de homem em tem-pos de projectualidade de baixo investi-mento; tenta unificar cultura e vida numtempo de fragmentação; quereria colo-car a experiência cristã no centro destasíntese num tempo de rotura entre fé ecultura; constitui-se em lugar educativo eagregativo em tempos difíceis de per-

tença; procura restabelecer a harmoniaentre liberdade individual e seriedade ob-jetiva na busca de sentido e qualidadeda vida num tempo de elaboração indi-vidual e de pluralismo; quereria repropora gratuidade como categoria central daexistência num tempo em que domina ofuncional. É «mediação de igreja» para osafastados num tempo em que a comuni-dade cristã sente uma certa irrelevânciapelo menos «numérica»; propõe-se tor-nar-se fermento na comunidade humananum momento em que a Igreja se reco-nhece «no» e «com» o mundo, se bemque não «do» mundo.Não é este um anúncio de futuro... umautopia da qual conseguimos realizar al-guma parte? Aos salesianos, que estandojá ocupados nas escolas aduziam faltade pessoal para abrir o oratório, DomBosco respondeu: «Só deste modo sepode fazer um bem radical à populaçãode um país». Por isso o historiador padreCeria conclui: «o oratório... continua a sera obra verdadeiramente popular de DomBosco, obra à qual está mais ligada a suafama de apóstolo da juventude».

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ATOCHA (Espanha)

P. IÑAKI LETEDiretor da Obra e Pároco do Santuáriode Maria Auxiliadora

Os Salesianos chegarama Madrid em 1899, numlugar diferente em rela-ção àquele em que nos

encontramos agora.Logo nos demos conta de que aquela “casi-ta” não era suficiente para permitir aqueleque podia ser o grande desenvolvimento daobra salesiana no território madrilenho. Jáem 1900, os Salesianos tiveram oportunida-de de se deslocar para o local onde nos en-contramos agora, para Atocha, um bairronaquela altura na periferia de Madrid e ago-ra totalmente central, rico de vitalidade. Naestrutura salesiana de Atocha encontramostrês ambientes muito definidos e ao mesmotempo muito relacionados. A escola, grande,com uma escola profissional e todos osgraus de ensino para adolescentes e jovens;o ambiente do centro juvenil, também estecaraterizado por muita juventude e vitalida-de e por fim a paróquia Santuário de MariaAuxiliadora, autêntico ponto de referência ede atração de Madrid. Os três ambientes es-tão muito relacionados entre si e pode di-zer-se que verdadeiramente as pessoas vi-vem o espírito salesiano.

SERGIO HUERTACoordenador geralda Pastoral da Casae diretor do CJ.

O meu nome é Sérgio, tenho 42 anos e sou dire-tor do centro juvenil deAtocha.

O centro juvenil de Atocha é uma estruturaque faz parte de uma grande escola, commais de 2.700 alunos; muitas das pessoasque se encontram na casa passaram por to-dos os ambientes, quero dizer: começaramno cento juvenil, agora são docentes na es-cola, pertencem à paróquia, batizaram aquios filhos e fazem parte desta comunidadecristã.

JAIME BLANCOCoordenadordo Crisma

Sou Jaime, cheguei aooratório da escola da ca-sa salesiana de Atocha,quando nos informaramque havia um espaço on-

de poder estar com os próprios amigos. Uma vez chegado ao oratório, fiquei sempreligado a ele, primeiro participando nas suasatividades e depois dirigindo-as e organizan-do-as, primeiro como animador e depois co-mo coordenador dos crismas.Na preparação para os crismas procuramos

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TESTEMUNHOSOratorianos

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sobretudo fazer de modo que haja reuniõessemanais distribuídas por todos os dias, co-meçando em primeiro lugar com a “boa-tar-de” a modo de oração, como fazia Dom Bos-co, e em segunda instância organizamossempre um musical, algum café teatral e atéalgum torneio desportivo.Estou empenhado no centro juvenil um pou-co para devolver aquilo que me foi oferecidoquando eu era pequeno

JOSÉ ANTONIOSAN SEGUNDOAnimador do grupode catecumenato juvenil

Chamo-me José António esou animador da casa deAtocha, no centro juvenil,

há 11 anos, e participante do mesmo centrohá muitos mais, desde quando tinha 7 anos eentrei na Catequese da primeira comunhão.Atualmente, oriento um grupo de catecume-nato de jovens a partir da idade universitá-ria em diante, um grupo que está pratica-mente a terminar esta etapa.Senti-me acolhido pelas pessoas, pelos meuscolegas, pelos animadores, pela presença sa-lesiana, e isto é para mim o oratório, isto éo que tem significado na minha vida: uma fa-mília com uma busca comum, com o nomede Jesus como denominador comum, nomedo qual nos aproximamos um pouco mais ca-minhando juntos.

DAVID BLANCOAnimadordo Oratório

Olá, sou David e tenho 20anos, oriento um grupode rapazes do primeiro esegundo ciclos. Este é omeu segundo ano como

animador e, sinceramente, trata-se de umaexperiência muito gratificante, porque meajuda muito a nível pessoal e de crescimen-to; além disso, temos também grupos de fé

específicos para os animadores, o que ajudao nosso crescimento pessoal, para nos apro-ximarmos de Deus e testemunharmos estecrescimento perante os nossos rapazes.Portanto, nos sábados à tarde, das 17 às20.30, realizamos atividades com eles e averdade é que estou muito contente porqueas pessoas que não nos conhecem e sabemque atividades fazemos com os pequenos, di-zem que somos diferentes dos outros e temosalgo de especial que nos carateriza: trabalha-mos com os rapazes como fazia Dom Bosco.

CRISTINA JIMÉNEZCoordenadora dooratório e professorana escola “SalesianosAtocha”

Olá, chamo-me Cristina,tenho 26 anos e sou do-cente na escola salesia-na aqui na Atocha e te-

nho também a sorte de ser coordenadora,juntamente com outras duas moças, do ora-tório do centro juvenil.Fui aluna desta escola desde pequena e tivea sorte de frequentar o oratório por algunsanos desde que aqui cheguei e de continuarpor mais algum tempo no centro.Aos16 anos, na realidade, deixei de vir aocentro juvenil porque os meus amigos nãovinham por outros motivos, e andei um pou-co da minha vida por fora: fiz o liceu, seguio curso de economia na universidade e hou-ve uma altura, quando tinha 20 anos, emque fiz Erasmus e quando regressei no verãosentia que alguma coisa me faltava.Nessa ocasião encontrei-me com uma amigae ela disse-me: “Escuta, porque não pensasem participar num campo de férias do cen-tro juvenil? ”Fui ao campo do oratório e para mim foi defacto uma experiência que me apaixonou epenso que o oratório foi a fonte de graças naqual encontrei a minha vocação: se não ti-vesse passado por aqui, se não tivesse sidoanimadora, se não tivesse participado desde

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Dia Missionário Salesiano 2020pequena, provavelmente nunca teria sonha-

do em ser professora e, portanto, abriu-me a porta para aquela que julgo ser umadas coisas mais belas que tenho até hoje naminha vida.

IRENEO meu nome é Irene, te-nho 25 anos; aquilo que,no meu entender, me de-fine é a parte artística,em particular as ativida-des plásticas ou os semi-nários, coisas deste tipo.

Por exemplo, este quadro e outros que estãodistribuídos pelas nossas instalações onde pas-samos as tardes; pintámo-los o meu irmão e eu.O que tentam representar é precisamente aatmosfera que se vive no centro juvenil, quese vive no oratório: como a figura de DomBosco, que dá início a tudo isto, ou comoaqueles meninos de diversas idades e diver-sas situações sociais, que no fim por um mo-tivo ou outro se aproximam dele e, precisa-mente graças a ele, conseguem chegar a Je-sus, compreender um pouco esta experiên-cia e desenvolver a sua vida em torno da fé.

ALBA DUCHEMINCoordenadora doApostolado Social

Olá, sou Alba, animadorado centro juvenil de Ato-cha e filha do oratório,porque desde pequena osmeus pais, que são Sale-

sianos Cooperadores, me educaram na fé eno carisma de Dom Bosco.Colaboro no apostolado social e procuramosocupar-nos das realidades mais significati-vas do bairro, que muitas vezes não são na-da simples, e das culturalmente diferentes,e tentamos educar um pouco para os valo-res, para a alegria, para a convivência, es-tes pequenos.Há já 5 anos que colaboro neste apostolado,e posso dizer que estamos a crescer e levan-

do os valores do oratório para fora das nos-sas casas salesianas.

JAIME MARTÍNEZAnimador do grupode catecumenato juvenil, pai de família,professor na escolaSalesiana “Paseo Extremadura”

Chamo-me Jaime, demomento sou animador

de jovens de idade compreendida entre os20 e 21 anos. A minha história foi sempremarcada por estes quatro muros, porqueaqui fui aluno desde os 6 aos 18 anos; nestacapela confessei-me pela primeira vez; pre-cisamente na Igreja aqui em cima recebi aprimeira Comunhão, casei e recebi o Crismae aquela zona ali, ou seja, os locais do ora-tório, foi o lugar onde tive a experiênciamais completa do que significa uma casa salesiana.De segunda a sexta-feira vinha estudar na-quela zona e nos fins-de-semana vinha fazeroutras coisas: ao princípio não sabia bem o que vinha fazer, vinha divertir-me, jogar,estar com os amigos, com as moças...Sim, divertia-me, mas pouco a pouco istoestava a transformar a minha vida a tal ponto que, mesmo a nível profissional, cheguei a tomar a decisão de me dedicaraos jovens: decidi ser professor, depois de ter trabalhado numa empresa privadapor vários anos.Para mim, o oratório foi uma experiênciafundamental, que mudou todo o meu modode ser e de viver: o encontro com Jesus que se verificou na altura em que transpusaquelas portas, transformou todo o meu ser até ao ponto de, como dizia, no oratórioter encontrado a minha vocação, ter com-preendido o que quero fazer a nível pessoal,mas também encontrei aquela que é a mu-lher da minha vida, a minha esposa quetambém frequentou o oratório e mais tardefoi animadora.

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Agora, os nossos três filhos fazem parte daescola e dois deles, por idade, são tambémdestinatários no oratório.Porquê? Porque, como pais, pensamos queé o melhor que podemos oferecer-lhes: a ex-periência completa da pertença a uma casasalesiana.

SCUTARI (Albânia)DRITAN BUSHISalesiano em formação

Encontramo-nos em Dajce este é mesmo o am-biente de minha casa on-de cresci. Cresci numafamília muito simples.Quando terminei a esco-

la média, os meus pais para me proporcio-nar um nível de instrução mais elevado, pro-curaram uma escola em Scutari.Depois havia o problema, mesmo que esti-véssemos só a 20 minutos de caminho, ha-via o problema de dormir... estamos a falarde há 15 anos, em 2004, em que não haviatanta organização dos meios de transporte.O meu pai ouviu falar do internato “DomBosco”, nunca tínhamos ouvido falar de DomBosco até então. O meu pai encontrou esteinternato, inscreveu-me na escola e tambémno internato “Dom Bosco”.Fui mesmo com a ideia de encontrar umaescola, não sabia quem era “Dom Bosco”nem os Salesianos. No fim do quarto ano saíe comecei a universidade. Fiz o primeiro anode universidade numa casa arrendada comamigos e ao fim desse ano tive a sorte de serchamado pelos Salesianos.Precisavam de alguém que pudesse cuidar dosoutros internos, portanto de um assistente.Digo sempre que isto foi para mim umagrande sorte, porque entre tantos internosque tinham terminado a sua estadia ali, melhores do que eu, fui eu o chamado, o escolhido.Desde que os salesianos chegaram, o orató-

rio para Scutari continua a ser um ponto fir-me e é muito importante para todos os ra-pazes do lugar, para todos os jovens.Ultimamente também para as famílias, paraos maiores, digamos assim.Nos últimos anos conseguiu, através dos ra-pazes, envolver também as suas famílias.É importante porque mudou seguramente avida de muitos rapazes. Mudando a vida demuitos rapazes mudou muito também amentalidade, a cultura, a história da cidadede Scutari.

Pe. BLEDAR HUBADiretorda comunidade salesiana de Scutari

Sou o padre Bledar, sa-lesiano, encarregado dooratório de Scutari, ondeatualmente nos encon-

tramos. Não sei quantos de vocês conhece-rão esta cidade do norte da Albânia em que os Salesianos trabalham há mais de 25 anos. Eu estou no setor dos jovens, no oratório,trabalhei na pastoral juvenil, na diocese, oque me deu a possibilidade de conhecer asituação juvenil desta cidade.Aqui os Salesianos trabalhamos na paró-quia, no oratório, no centro de formaçãoprofissional, no internato, etc.Acolhemos muitíssimos rapazes durante oano, graças a Deus o oratório é muito fre-quentado e os rapazes gostam muito de cáestar.O contexto, como sabem, é muito religiosoe em Scutari a maioria é muçulmana, oumetade muçulmana e metade católica, paraalém de uma pequena minoria de outras re-ligiões.Também nós, desde o início, optámos poracolher no nosso ambiente, nas nossas ati-vidades todos os rapazes, portanto fazemosaquilo que Dom Bosco diz: “basta que sejaisjovens para que eu vos queira bem”.Há uma belíssima convivência, também com

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Dia Missionário Salesiano 2020os jovens mais envolvidos, que são anima-

dores, muitos deles fascinados por DomBosco, mesmo aqueles que não partilham anossa fé.Todos os dias temos também um momentode oração, depois de havermos feito umacordo de que quem não é cristão fica emsilêncio e reza no seu coração. Os cristãosfazem o sinal da cruz, mas isto é pacífico ebonito de ver porque a amizade vence sem-pre. O facto é que todos se sentem bem, quese encontram nos salesianos, na comunida-de, num ambiente acolhedor, em que todosficam a ganhar e isto é muito bonito. Creioque é assim em todo o mundo salesiano,mesmo que por vezes haja dificuldades a separar-nos, mas o amor, a amizade, a“amorevolezza” fala as línguas de todos.

TONILDA ELAAnimadora do oratório

Para recordar como co-nheci os Salesianos te-nho de recuar até 5 deoutubro de 2006. Foinesse dia que conheci ooratório e os Salesianos,

de quem nunca tinha ouvido falar.Foi uma amiga que levou ao oratório, disse-me que era o lugar perfeito para jogar e eu imaginava um campo de jogo, mas era um lugar onde eu podia também ter cate-quese.O mais interessante e o mais bonito era queo oratório não tinha só jogos, mas muitasoutras coisas.Uma delas era o grupo formativo, que pode-mos definir como a base do oratório.Graças aos grupos formativos pude conhe-cer os animadores, os educadores, todosaqueles que me acompanharam desde os 10 anos.Hoje que tenho 23, após 13 anos de oratório,posso dizer sinceramente que sou muito felize me sinto animadora e filha de Dom Bosco.Seguramente, quando nos reunimos em seu

nome, tudo o que fazemos no oratório se tor-na mais belo e precioso.

XHULIO KERIOratoriano

Eu sou Júlio, tenho 14anos, cheguei ao oratórioem outubro e gosto deestar aqui, fazemos mui-tíssimos belos jogos e os animadores fazem-me

sentir bem. São simpáticos comigo e eu sousimpático com os meus animadores.O meu desejo é ser também animador como eles e poder ajudar a comunidade de Dom Bosco.Agora faço o campo de férias “estate ragazzi”.

FIORELA PLANIProfessorada escola

Eu sou Fiorela, tenho 30anos! Desde 2003 façoparte do oratório de DomBosco em Scutari!Cheguei com alguns meus

amigos pela primeira vez ao oratório e des-de aquele tempo tenho continuado a fazerparte do oratório, porque para mim tornou-se algo de muito importante.Comecei a vir simplesmente porque meagradava como ambiente, era muito juvenile gostava de estar com os amigos, mas anoapós ano, apesar de eu ser voluntária e tra-balhar no oratório, o oratório passou a tor-nar-se algo muito importante para a minhavida, porque quanto mais eu dava ao orató-rio, mais recebia dos jovens, das crianças e dos Salesianos que sempre foram comouma segunda família para nós.Nos anos seguintes conheci Franc que eraanimador, e ele foi também o meu primeiroanimador. No ano em que cheguei, o encar-regado do oratório era o padre Marek, quetinha nomeado Franc como a pessoa que devia guiar-nos como novos animadores.

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FRANC PLANIDocentena escola

É muito interessante ofacto de nós termos rece-bido do oratório muitosbenefícios: o oratório for-mou-nos e a formação foi

a parte principal, mas o que nós verificámosdurante todo este tempo é que o oratório nosuniu e nos deu a possibilidade de encontrartrabalho.Através da animação também encontrei trabalho, porque é normal para nós anima-dores desfrutar do ambiente onde estamospara crescer e encontrar trabalho.É justo que nós incentivemos os rapazes aparticipar nas nossas atividades, criandoassim sonhos e uma corrente que nos impe-le a avançar numa vida de valores.Para nós é uma grande alegria, quando vamos pela rua e vemos crianças que desdepequenas frequentavam o oratório e agora,que já cresceram, nos cumprimentam com muita alegria e afeto, reconhecendo quenós demos o máximo por elas e por isso nos respeitam.

LECCE (Itália)

SERGIO PETRARCASalesiano Cooperador

Chamo-me Sérgio Pe-trarca, sou salesianocooperador do centro deLecce. Sou marido deLaura e pai de Matteo eGiovanni e exerço a ad-

vocacia. Frequento o oratório desde peque-nino. Recordo ainda o primeiro dia que pas-sei no oratório e o clima de acolhimento e de alegria que se respirava; recordo tam-bém que um salesiano, quando vim inscre-ver-me no 5º ano, me perguntou: “Mas não vieste buscar ima noiva?”, Eu pensava

em tudo menos isso... Mas a verdade é quedepois conheci a minha mulher graças aooratório.Com o passar dos anos, conhecer cada vez mais Dom Bosco levou-me a optar por ser Salesiano Cooperador, compreendique Dom Bosco não podia faltar na minhavida, ele queria um lugar central, um lugarimportante.A vida no oratório e a experiência de ani-mação levaram-me a aprofundar a minhavida de fé, o meu percurso, que de outraforma, penso eu, que me conheço, teria fi-cado numa vida cristã mais acomodada nasuperficialidade, sem procurar a profundi-dade, profundidade que me permitiu comu-nicar aos outros esta experiência porque,trabalhando para os outros, na realidadetrabalha-se para si mesmo, atingem-se me-tas que se julgavam impossíveis.A música é algo que sempre me fascinou,não só ouvi-la, mas também tentar criá-la eescrevê-la, e pensei precisamente naquilode que poderia falar a minha música, daqui-lo que provinha um pouco das minhas emo-ções mais profundas, devia falar das coisasmais importantes, daquelas que vale mes-mo a pena comunicar aos outros. Por issooptei por escrever canções salesianas, can-ções sobre Dom Bosco, sobre a espirituali-dade salesiana e, em suma, sobre o modosalesiano de seguir Jesus. É uma experiên-cia que já iniciei há muitos anos, desde pe-queno e, com algumas limitações, procurolevar por diante, pensando que é tambémum modo de contribuir para fazer avançaro carisma salesiano na minha pequenez edentro das minhas possibilidades.Na música optei por falar daquilo que para mim é importante e, portanto, segura-mente do encontro com Dom Bosco e da vi-da salesiana para seguir Jesus. Por issopensei também em tentar difundir o maispossível, utilizando os meios que a comuni-cação moderna hoje oferece, como youtubespotify, de modo que podem ser partilhados

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Dia Missionário Salesiano 2020com maior número de pessoas. Esta canção

intitula-se “Tu és”, e o primeiro verso afir-ma: “Tu és o ar que respiro agora”. Apontapara o facto de encontrar Deus em tudo,mas também para a sensação de ter neces-sidade da presença de Deus. Esta é uma dasheranças que seguramente recebi da minhavida salesiana, da minha vida oratoriana.

CRISTIANA CALOGIURICooperadorasalesiana,setor CINEMA TEATROSou Cristiana Calogiuri,desde há muitos anosanimadora no oratóriodos Salesianos de Lecce.Neste momento estamos

no D.B. d’Essai de Lecce. É uma sala de ci-nema e teatro que se encontra ao lado dabasílica, é uma sala dos anos ’70, em que osSalesianos costumavam também construirdeste modo: o templo, o cinema, o teatro, oespaço ao ar livre para os pátios, os giná-sios, etc.Esta sala foi confiada à cooperativa de DomBosco desde quase 20 anos atrás. Nasceucom dois objetivos: por um lado, trabalharhonestamente, dando aos jovens perspecti-vas de trabalho e, por outro lado, oferecervida, animar este espaço cultura e comouma sala cultural, somos uma sala de arte,tentando criar o máximo de espaço possívelpara a animação dos jovens.Porque esta sala, além de trabalhar à noitecom os shows, tenta trabalhar muito com asescolas da região. Há 5-6 anos trabalhamoscom um grupo de cerca de 100-120-150 jovens que vêm ao cinema todas as semanase assistem ao espetáculo, e deopois discu-tem e debatem.Nós tentamos trabalhar com eles e tambémdar-lhes perspectivas, Muitos desses jovenstambém optaram por canalizar seus estudosuniversitários para o mundo do espetáculo,do cinema ou do teatro.

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DANIELE BIONDIAnimador do Oratório

Chamo-me Daniele Bio-ndi, tenho 17 anos, fre-quento o oratório deLecce há 12-13 anos,comecei aqui a cateque-se quando tinha 6 anos e

fiz aqui todo o percurso. Mas foi a partirdos 12 anos que entrei verdadeiramente nooratório, porque comecei a frequentar ocampo de férias “estate ragazzi “ e a en-contrar-me com os meus amigos, num lugaronde passar as tardes. Para mim o oratórioé uma segunda família porque me sintobem, rodeado de tantos amigos, e nele pas-so mais tempo do que em casa. Vou para lásempre que tenho tempo livre, não apenaspara jogar, conversar ou divertir-me, mastambém para me encontrar com o Senhor,obviamente. Sou animador e o ano passadocomecei a acompanhar um grupo do 1º ci-clo. Esta é também uma experiência forma-tiva como trabalho de grupo porque estoucom outros animadores, mas também doponto de vista da realização pessoal e dasboas relações e amizades criadas.

Outra bela experiência para mim é que, des-de o ano passado, comecei a ocupar-me doMusic-hall porque consigo conciliar a minhapaixão, que é o teatro, com a ajuda aos ou-tros, portanto estar com os amigos, mastambém ajudar outros rapazes a desenvol-ver a minha mesma paixão.O oratório tem-me ajudado muito porquetem mudado a minha maneira de ser: antes,era muito tímido e agora sou muito espon-tâneo. Encontrei pessoas que através do jo-go me acolheram no seu grupo e me fizeramsentir cada mais em casa. Por outro lado, o teatro e a música, bem como o campo deférias “estate ragazzi”, ajudaram-me a ven-cer a timidez e a exprimir-me à vontade etambém a fazer novos conhecimentos e aabrir-me cada vez mais aos outros.

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Dia Missionário Salesiano 2020ELENA DEL COCO

Animadora esalesiana cooperadora

Olá, sou Elena, animado-ra e salesiana coopera-dora, nascida e criadanesta paróquia. Estudeie formei-me, apaixonan-

do-me pela figura de Dom Bosco e, comoprofessora, tornou-se quase espontâneo enatural para mim utilizar a sua pedagogia ea sua didática no ensino. Abri-me por inteiroà salesianidade que se tornou para mim umestilo de vida, na medida em que trabalhocom os rapazes no oratório e na escola, e omeu modelo é sempre Dom Bosco.Desde há alguns anos para cá, tenho-meconfrontado com uma nova experiência,aceite de modo consciente. Fui colocada co-mo professora numa escola de adultos ondeencontrei os rapazes de Dom Bosco, aquelesque, por motivos, problemáticas e razões di-versas, abandonaram os estudos e que, por-tanto, precisavam de ser devolvidos ao ca-minho, aos sonhos e aos projetos que tinhamabandonado. Aqui contactei também pelaprimeira vez com rapazes estrangeiros mi-grantes, ajudada por ótimos colegas profes-sores, naquilo que constituiu para mim umaexperiência muito forte. Cada um desses ra-pazes tinha uma história diferente a narrare, na altura em que me tornei professoraefetiva, optei por esta escola e por Dom Bos-co que é sempre o meu guia. É a Providênciaque me indica o caminho e as opções a to-mar dando-me a possibilidade de escolhermesmo esta escola. Ao princípio, quando fa-zia entrevistas aos rapazes, voltava semprepara casa a chorar, não por pena ou com-paixão, mas por me sentir totalmente inútil,inadaptada, e por me parecer mesmo absur-do ter de ensinar e corrigir os seus traba-lhos do ponto de vista gramatical e ortográ-fico, quando narravam a sua história de vidae a viagem que os tinha trazido à Itália paramudar de vida de um modo tão trágico, do-

loroso e desesperado. Ao mesmo tempo, sin-to ter aprendido, adquirido e absorvido delesuma energia incrível, uma energia cheia dedignidade. Estes rapazes têm muita vontadede aprender e de reconstruir as suas vidaspara dar forma aos seus sonhos, aos seusprojetos. Da minha parte, tento ajudá-los omais que posso em tudo aquilo que faço.

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Padre FRANCESCOREDAVIDDiretor em Lecce

Sou o padre Francisco eestou aqui há 1 ano, fuichamado para ser ani-mador, desta comunida-de, desta bela comunida-

de de Lecce. Encontramo-nos no oratório-centro juvenil desta bela obra, fortementecaraterizada pela presença ainda viva de S.Domingos Sávio. A presença mais bela destaobra, desta referência ao santo jovem daCongregação, é mesmo a basílica a ele de-dicada. Esta basílica foi muito desejada pe-los habitantes de Lecce porque, em 1950,aqui e na vizinha cidade de Maglie, se reali-zaram os dois milagres que depois significa-ram a canonização de Domingos Sávio. Em1950 foi a beatificação deste jovem santo, eduas mães, precisamente pensando e escu-tando esta notícia, pediram a sua interces-são porque estavam em perigo de vida, fo-ram escutadas e o Senhor, precisamentegraças a esta intercessão, a este pedido deauxílio na oração, concedeu a cura a estasduas mães. Por esse motivo decidiu-se cons-truir esta basílica em honra de S. DomingosSávio. Esta presença, esta caraterística en-che-nos de satisfação no que diz respeito ànossa ação educativa e formativa ainda ho-je, porque S. Domingos Sávio é de facto ummodelo ainda válido, um modelo ainda pre-sente que pode ajudar-nos a viver o que énecessário para poder formar e fazer cres-cer de maneira positiva os jovens de hoje.Os dois pulmões desta obra salesiana são abasílica que está no centro da nossa açãopastoral e o centro juvenil oratoriano. Esteoratório acolhe mesmo, permite a muitos jo-vens, a muitos rapazes do bairro desenvol-ver atividades lúdicas com jogos livres nopátio com alguns animadores universitários,e oferece também possibilidades desporti-vas variadas como futebol, patinagem, bas-

quete, voleibol..., bem como formativas comtudo o que diz respeito à formação cristã e humana.A partir das classes primárias até à univer-sidade, há possibilidade de frequentar gru-pos de animação e de catequese, preparar-se para a celebração dos Sacramentos,crescer segundo aquelas que eram as maisbelas intenções que Dom Bosco realizavaatravés da sua ação educativa, viver o Evan-gelho também hoje. Nós como salesianosacreditamos que ainda é possível atualizare educar através do Evangelho porque oferece a possibilidade de crescer e de serpessoas, jovens, rapazes formados, adultoscapazes de pensar, capazes de enfrentar tudo aquilo que a sociedade oferece nestemomento e de ser pessoas verdadeiramenteinteligentes e de coração.Lecce é uma cidade artística e marítima, co-nhecida em toda a Itália também pela suabelíssima arte barroca. O centro de Lecceestá cheio de ricos monumentos barrocos.Os habitantes de Lecce são muito organiza-dos no sentido positivo do termo e entusias-tas, propõem ideias e isto repercute-se tam-bém no oratório com os rapazes. É uma ci-dade voltada para o Mediterrâneo e istodeu-lhe também a possibilidade de ser hos-pitaleira, no passado foi sempre muito aber-ta e acolhedora daqueles que aqui pediamhospitalidade. Esta caraterística, precisa-mente por ser cidade costeira, mantém-senos seus habitantes, que são muito hospita-leiros, disponíveis e acolhedores. Concluímos este dia com um dos maioresdesejos de Dom Bosco, organizamos todasas nossas atividades no oratório, incluindoa que estamos a viver neste período, comum objetivo principal, um objetivo que DomBosco tinha muito a peito, ser bons cristãose honestos cidadãos. Atenção porque nomeio das duas atitudes há um “e” de conjun-ção, este “e” está a significar que uma, a pri-meira atitude não pode prescindir da outrae vice-versa. Somos honestos cidadãos se

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Dia Missionário Salesiano 2020conseguimos ser bons cristãos e, ao mesmo

tempo, conseguiremos ser bons cristãos seformos capazes de ser cidadãos honestos.Mas que significa ser cidadãos honestos?Significa ser respeitadores, respeitadoresde tudo, de todas as nossas relações, na es-cola, em casa, no oratório, onde vivemos, vi-ver bem as nossas relações e ser educados,ter consciência de que, se vivermos bem oamor recíproco, estaremos contentes, e é is-to que o Evangelho nos comunica. O Evan-gelho diz-nos que é bom ser cristão, seguira pessoa de Jesus. Não basta falar de Jesusou ler livros sobre Ele, Jesus é uma pessoaque nos ama, que está viva, que nos acom-panha sempre, que habita no nosso coração.Ele é o nosso Salvador que quis ficar con-nosco até ao fim dos tempos. Conhecê-lo,amá-lo e servi-lo é um direito inalienávelque ninguém pode tirar-nos. Se nos empe-nharmos em escutá-lo, falar com Ele, viverem comunhão com Ele, então seremos bonscristãos e por isso seremos também hones-tos cidadãos. Deste modo o sonho que DomBosco tinha continuará realizar-se ainda hoje, também nós seremos bons cristãos ehonestos cidadãos.

CHEMNITZ (Alemanha)

Don THOMAS HAJEKPadre

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NATHALIE, voluntáriaOlá, eu sou a Nathalie,tenho 21 anos e sou vo-luntária aqui na CasaDom Bosco.Exatamente... o que mefascina em Dom Bosco éisto, o seu espírito. Ele

provém de condições muito, muito pobres,sim, ele realmente conseguiu construir umaenorme obra em Turim para todas as crian-ças, especialmente para as mais pobres. Ele

podia falar por experiência própria, porquetambém ele veio de tais condições. Eu achoisso simplesmente fascinante.Também eu me preparo para ser SalesianaCooperadora de Dom Bosco. Eu gostaria defazê-lo porque percebi que colaborar aquicomo voluntária é divertido, mas sem dúvi-da, também por algo mais. Sim, depois aprofundei meu conhecimento eassumi mais responsabilidades e pensei nosSalesianos Cooperadores. Tenho participadoaqui e ali em alguns eventos, e agora estoua preparar-me em breve irei fazer a promes-sa como Salesiana Cooperadora.

Pe. ALBERTKROTTENTHALERDiretor da comunidadede Chemnitz

Eu sou Don Albert Krot-tenthaler, diretor da co-munidade em Chemnitzcom quatro irmãos e tam-

bém diretor da Casa de Dom Bosco. Algumaspalavras sobre a história da nossa presença.O sistema preventivo de Dom Bosco foi bem-sucedido nos “Länder” (povoados daAlemanha Oriental). Don Viganò tinha dadoo impulso a nossa inspetoria do sul da Ale-manha na época, para começarmos o nossotrabalho nos novos “Länder” alemães apósa mudança política. Os dois primeiros ir-mãos fizeram-no com muita perícia.O padre Johannes Schreml abriu uma tea-room, que se tornou um grande serviço de as-sistência aos jovens “Casa de Dom Bosco”,ainda com 35 colaboradores. As iniciativasdo Ir. Reinhold Kurz tornaram-se a obra deDom Bosco “Jugendwerk”, onde 180 empre-gados ajudam na reabilitação profissional decerca de 400 jovens que trabalham aqui emBurgstädt, na Saxônia. Os inícios foram aben-çoados! Sobre o que os dois irmãos criaram,demos continuidade com confiança, sabendoque somos bem recebidos e que contamoscom a simpatia das pessoas de Chemnitz.

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Dia Missionário Salesiano 2020Eu mencionei o sistema preventivo de Dom

Bosco. Ajuda-nos também a evangelizar e aviver a Boa Nova.Antes de mais nada, é o amor, a aceitaçãohumana, bondosa e incondicional das crian-ças e dos jovens, que muitas vezes não estãohabituados a que alguém esteja realmenteao seu lado e isto durante muito tempo, al-guém que também os apoia, que os acompa-nha a caminhar.É a razão, é o profissionalismo também doscolaboradores. A inspetoria da Alemanhatem mérito de prepara-los muito bem, paraque trabalhem como especialistas de umaforma pedagógica e psicológica atual combom senso e sabedoria.É a religião, que é um elemento do qual pre-cisamos muita criatividade. Por exemplo,uma maneira de encontro com as criançasusamos fantoches que as fazem refletir so-bre as suas vidas, interpretarmos o que elesexperimentaram e os convidamos a cantarcânticos cristãos. Precisamos que as comu-nidades ofereçam experiências eclesiaisanimadas através da Semana Religiosa daCriança ou de iniciativas semelhantes.Precisamos de colaboradores que tambémestejam dispostos, nas conversas pessoais,a dar testemunho da própria esperança queenche os seus corações.

BARBARA KLOSESalesiana Cooperadora

O meu nome é BarbaraKlose, Sou Salesiana Coo-peradora de Dom Bosco.Fiz a promessa em 2009.Conheci os Salesianosquando nos mudamos pa-

ra Chemnitz em 1996, vindos da Renânia doNorte-Vestfália e depois, em 1999, tambémna paróquia de Santo António que era entãouma paróquia salesiana.Temos feito muito trabalho com os jovens e,acima de tudo, gostávamos ir à igreja comos nossos filhos sem problemas porque não

havia dificuldade se as crianças fizeram barulho ou não estavam tão contentes porparticipar na celebração religiosa. As cele-brações religiosas atraíram-me desde o início. Eram celebrações animadas, haviauma alegria simples. Então, conversando com os Salesianos ecom outras pessoas, surgiu mais uma ques-tão: Não desejarias tornar-te uma SalesianaCooperadora de Dom Bosco? Por que traba-lhas tanto com jovens?No início pensei que isso não era necessá-rio, já que eu já estava a trabalhar com jovens. Mas com o passar do tempo, tive odesejo de confirmar a minha fé novamente.Como disse, venho da Renânia do Norte-Vestefália e cresci numa área onde há muitos católicos, onde era normal ser umcrente e ir à missa aos domingos. Então,em Chemnitz, conheci pessoas que tinhamdificuldades para viver a sua fé, por exem-plo, não podiam estudar, não tinham per-missão para concluir os estudos. Conhecipessoas que só decidiram batizar-se aos 20ou 25 anos de idade. Isso mudou a minhafé, reavivou-a e a fez mais profunda, cres-ceu, e eu queria confirmá-la ainda maiscom esta promessa de Salesiana Coopera-dora.Interessei-me por São Francisco de Sales;li muito sobre Dom Bosco e seu trabalho,também, sobre o compromisso de Dom Bosco com os jovens do mundo, com ascrianças e adolescentes mais pobres, e sim-plesmente me entusiasmou, me fascinou. A sua espiritualidade, a sua alegria, o seuotimismo que eu sentia, me fez entenderque eu também queria este compromisso,queria apoiar e participar deste trabalho.Por este motivo, decidi em 2009, depois deum percurso de formação, fazer a promessacomo Salesiana Cooperadora.

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SOPHIE, educadorO meu nome é Sophie, etrabalho aqui na casa de Dom Bosco.Para mim é particular-mente importante cola-borar e levar a pedagogiade Dom Bosco ao mundo,para que as nossas crian-

ças e jovens aceitem os seus valores e pro-postas. É muito importante para mim viversegundo o lema “Ainda bem que estás aqui”.

ESLOVÁQUIA (Bratislava - Trnávka)

Pe. STANISLAVHURBANIDiretor Trnávka

No nosso oratório encon-tramos jovens e rapazescom muita sensibilidadeespiritual. Alguns acredi-tam, outros procuram

com sinceridade. Há também aqueles quenão acreditam.Tentamos oferecer-lhes um espaço ondepossam encontrar os Salesianos, os nossoscolaboradores e aos animadores. Eles ofe-recem o seu tempo gratuitamente e issoprovoca perguntas nos jovens sobre o por-quê de o fazerem. Conversamos muito tempo sobre as pergun-tas que eles nos fazem, tentamos compreen-der a sua sensibilidade e ajudá-los a com-preender o que significa acreditar em Deus.

JURAJ KALAFÚTanimador

O meu nome é Juraj, souum animador aqui emBratislava.No centro, seguimosprincipalmente as crian-ças de famílias desfavo-

recidas, em particular eu colaboro no ora-

tório às terças e sextas-feiras. O meu papelé ajudar e estar presente entre eles.Sob a pergunta de sobre como lhes transmi-timos a fé, nós certamente o fazemos prin-cipalmente pelo nosso exemplo e sem tervergonha de manifestar nossa fé.

Pe. MARTIN JOSKODiretor do oratóriode Bratislava

Bem-vindo ao oratório deDomenico Savio em Bra-tislava (capital).Aqui estamos na perife-ria da cidade e como po-

des ver, há muitos edifícios ao nosso redor.O nosso oratório foi fundado em 1994; a es-trutura já estava lá, construída durante operíodo comunista. Os cidadãos nos pedi-ram para retomar esta estrutura para fazerum trabalho com os rapazes, porque era umsubúrbio muito propenso ao crime nos anos90, após a queda do comunismo. Então vie-mos, assumimos a estrutura e abrimos umoratório. Depois da igreja pública, fizemosestes campos desportivos... Começamoscom reuniões semanais e mensais para osjovens, semanais, retiros e assim por dian-te.Aqui estamos no campo de futebol onde há5 anos começamos com a equipa de futebole fazemos parte de outra equipa da casa sa-lesiana em Trnávka. Começamos este traba-lho porque há muita gente nesta área, há umsubúrbio: o maior subúrbio da Eslováquia.Muitos jovens e muitas famílias jovens vêmaqui. Famílias que vivem e trabalham aquicom salários suficientes para viverem; po-dem viver aqui porque há muito espaço.Assim, as pessoas mudam-se das váriaspartes da Eslováquia para estes subúrbiose muitas famílias jovens vêm para cá comos seus filhos.

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Dia Missionário Salesiano 2020PAVOL KOSTIC

treinador

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ORATÓRIOcompromisso sociale

Nascido em Ferrara a 21de março de 1918. É osegundo de seis irmãos,cresce numa família ver-dadeiramente cristã, emque a vida de piedadese conjugava com a ati-vidade caritativa, cate-quética e social. Fre-quenta o Oratório sale-siano e a Ação Católica,onde amadurece a suafé com uma opção deci-siva: “o meu programacompendia-se numa palavra: santo”.Reza com recolhimento; dá cateque-se com convicção; manifesta zelo,caridade, serenidade. Tem um tempe-ramento forte, firme, decidido, volun-tarioso, generoso; tem um forte senti-do da justiça. Tem um grande ascen-dente entre todos os companheiros. Éum jovem desportista e dinâmico:gosta de todos os desportos: ténis, vo-leibol, atletismo, futebol, natação, ex-cursões na montanha. Mas a suagrande paixão será a bicicleta, mes-mo como meio privilegiado do seuapostolado e da sua ação caritativa.Durante a guerra, depois de cadabombardeamento é o primeiro a cor-rer em socorro dos feridos, a animar os

sobreviventes, a assistiros moribundos, a en-terrar nos destroços ossepultados vivos.Não só destroços, mastambém fome. Albertodistribuía aos pobresaquilo que conseguiarecolher: colchões,cobertores, panelas.Dirigia-se aos lavrado-res e negociantes,comprava todo o gé-

nero de víveres. Depois, de bicicleta,carregada de cestos, ia onde sabiaque havia fome e doença. Por vezesregressava a casa sem sapatos ousem bicicleta: tinha-os dado a quemprecisava mais deles.Durante a ocupação alemã, Albertoconseguiu salvar muitos jovens dasdeportações alemãs. Conseguiu, comuma ação heroica e corajosa, abrir osvagões, já lacrados e para partir daestação de Santarcangelo e libertarhomens e mulheres destinados aoscampos de concentração.Depois da libertação da cidade, a 23de setembro de 1945, constituiu-se aprimeira junta do Comité de Liberta-ção. Entre os assessores está também

Animador oratorianoBeato ALBERTO MARVELLI

(1918-1946)

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Alberto Marvelli: não está inscrito emnenhum partido, não foi partigiano:mas todos reconheceram e aprecia-ram o enorme trabalho que ele fezem favor dos desalojados.Num pequeno bloco de notas, Alber-to escreve: “servir é melhor do que serservido. Jesus serve”. É com este espí-rito de serviço que Alberto enfrenta oseu compromisso cívico. Sentiu e vi-veu o seu compromisso na políticacomo um serviço à coletividade or-ganizada: a atividade política podiae devia ser a expressão mais alta dafé vivida. Em 1945, o Bispo chama-o adirigir os Laureados Católicos. O seucompromisso poder-se-ia sintetizar emduas palavras: cultura e caridade.A intimidade com Jesus Eucarísticonunca é um fechar-se em si mesmo,alienação dos seus compromissos eda história. Antes, quando adverteque o mundo à sua volta está sob osigno da injustiça e do pecado, a Eu-caristia torna-se para ele força paraempreender um trabalho de reden-ção, de libertação, capaz de huma-nizar a face da terra.Na noite de 5 de outubro de 1946, vaide bicicleta realizar um comício elei-toral; também ele é candidato naeleição da primeira administraçãomunicipal. Às 20.30 um camião militaratropela-o. Morrerá, com apenas 28anos, poucas horas depois, sem ter re-cuperado os sentidos; a mãe Maria,forte na dor, está a seu lado.Foi grande em toda a Itália a mágoapela sua morte: na história do aposto-lado dos leigos, a figura de AlbertoMarvelli é a de um autêntico precur-sor do Concílio Vaticano II, no que dizrespeito à animação e ao compro-misso dos leigos na animação cristãda sociedade. O servo de Deus Gior-gio La Pira escreveu acerca dele: “AIgreja de Rimini poderá dizer às novas

gerações: eu mostro-vos como é autêntica a vida cristã”.

No Oratório SalesianoA morte repentina do pai, ocorrida a7 de março de 1933, submete a duraprova a fé e o equilíbrio afetivo de Al-berto, mas é também um momentode amadurecimento: será Alberto asustentar a mãe e os irmãos, tornan-do-se quase um segundo pai para to-da a família.Na sua paróquia, Maria Auxiliadora,confiada aos Salesianos, existe um flo-rescente oratório, frequentado porquase todos os rapazes da zona.Alberto inscreve-se logo da Juventu-de Católica Italiana do círculo “DomBosco” e começa a frequentar assi-duamente o oratório. À ação forma-dora da família junta-se a do oratório,que terá uma grande influência nasua vida espiritual e apostólica. Noambiente salesiano vive-se uma at-mosfera de grande fervor religioso ede profunda espiritualidade. Os Sale-sianos acompanham os rapazes, ani-mam os jogos, corrigem os defeitoscom bondade, previnem desordens elitígios, procuram criar no ambientedo oratório uma vida serena e alegre,rica de atividades. O princípio peda-gógico é: “Colocar o jovem na moralimpossibilidade de pecar”:

Dia Missionário Salesiano 2020

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A matriz da formação humana, apos-tólica, espiritual de Alberto é salesia-na. Os Salesianos compreendem logode que tecido é o fato; levam-no aempenhar-se, dão-lhe confiança,guiam-no pelo caminho do cresci-mento espiritual. Aos quinze anos é jádelegado dos aspirantes e generosoanimador do oratório. Trabalha com omáximo empenho no meio dos rapa-zes, animando-os dentro de uma justavisão do jogo e do divertimento, pro-curando oferecer-lhes muitas possibili-dades de encontro.Sempre com o objetivo de envolver omais possível os jovens, de fazer viveros momentos mais importantes doseu crescimento em comunidade, ti-nha também promovido o pequeno-almoço depois da Missa dominical;ao sair da Igreja aguardava-os com acesta cheia de sandes.Aberto reza com recolhimento, dácatequese com convicção, manifes-

ta zelo, caridade, serenidade, pureza.Sobressai entre todos os bons rapazesdo oratório pelas suas virtudes nãocomuns e pela aparente facilidade enaturalidade com que faz tambémas coisas mais difíceis.Entre os rapazes do oratório circula aVida do jovenzinho Domingos Sávioescrita por Dom Bosco. Quando, nodia 9 de julho de 1933, Pio XI procla-ma a heroicidade das virtudes do ve-nerável Domingos Sávio, um facto sus-cita um vasto eco no ambiente sale-siano e influi profundamente no âni-mo de Alberto adolescente. Encon-tramos traços disso no seu comporta-mento e no seu Diário. Escreveu em 8de dezembro de 1934: “Consagrei omeu coração a Maria Imaculada” ena Páscoa de 1935: “Jesus, antes mor-rer do que pecar”; esta proclamaçãoé seguida de um pormenorizado pro-grama de vida.Assim havia feito Domingos Sávio. De-le imitou certamente também o amor

à Eucaristia e o seu estilo apos-tólico do serviço e do sorriso.Um belo perfil de Alberto ado-lescente. “Era um rapaz extraor-dinário: inteligente, esperto, do-tado de boa memória, pacíficose bem que vivo, cheio de saú-de, forte de caráter, firme, deci-dido, voluntarioso, generoso, se-reno, animado de um profundosentido de responsabilidade ejustiça, reflexivo, embora impulsi-vo por natureza, metódico e pre-ciso; graças às suas qualidadeshumanas, tinha um forte ascen-dente sobre os seus companhei-ros; mas era estimado sobretudopelas suas virtudes, pela finurados modos, pelo espírito de tole-rância, o equilíbrio, a fidelidadeàs promessas, o entusiasmo quepunha no apostolado”.

Homilia de S. João Paulo II

“Jesus envolveu-me com a sua graça”,

escrevia no seu diário; “não vejo senão

a

Ele, não penso senão n’Ele. Alberto tinh

a

feito da Eucaristia diária o centro da sua

vida. Na oração buscava inspiração tam

bém

para o compromisso político, convencido

da

necessidade de viver plenamente como

filho

de Deus na história, para fazer desta u

ma

história de salvação. No difícil período d

a

Segunda Guerra Mundial, que semeava

morte e multiplicava violências e sofrime

ntos

atrozes, o beato Alberto alimentava uma

intensa vida espiritual, da qual brotava

aquele amor a Jesus que o levava a esque

cer-

se constantemente de si para carregar a

cruz dos pobres.

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ORATÓRIOmissãoe

Há um lugar em Milão que ficou célebre pelamúsica de Adriano Celentano: “Azzurro”.

“Sembra quand’eroall'oratorio con tanto sole, tanti anni faQuelle domeniche da solo in un cortile, a passeggiarOra mi annoio più di allora neanche unprete per chiacchierar.”

“Parece quando estava no oratóriocom tanto sol,há tantos anos...Naqueles domingossozinho num pátio, a passear...Agora aborreço-me maisdo que então, nem sequerum padre para tagarelar.”

É o oratório salesiano da rua Copérni-co, em Milão. Foi o principal campo deação do venerável Attilio Giordani. Nas-ce em Milão em 1913; a mãe domésti-ca, o pai ferroviário, um irmão e uma ir-mã. Durante os primeiros ciclos da es-cola frequenta o oratório dos Salesia-nos, cresce no espírito de Dom Bosco,entre relações simples e carinhosas, tira

o diploma da ScuolaTecnica Commercialee constrói a sua perso-nalidade de homem ede cristão na alegria.Um dos seus segredos écomeçar o dia a asso-biar baixinho. Na reali-dade o seu bom humoré expressão de umaconsciência dominadapela fé. Pai de família,

catequista e animador do oratório, sa-lesiano cooperador e missionário. Mem-bro da paróquia salesiana de S. Agosti-nho. Attilio é a alma do oratório e daparóquia, é um mago do oratório, umfenómeno de inventiva, de alegria e decapacidade educativa com os rapa-zes. A sua vocação de leigo cristão em-penhado floresce e amadurece noscampos do oratório, com o coraçãoapostólico e alegre de Dom Bosco.

Grande animador oratorianoÉ um ator excecional, que fascina como seu modo de recitar: muita naturali-dade e sempre com frescura. Tem umacarga, algo como um segredo, comouma graça, que não é a do ator. O que

Um animador missionário do OratórioVener. ATTILIO GIORDANI

(1913-1972)

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atrai é algo de belo que tem dentro desi. Estar com os rapazes é a vocação deDom Bosco e de cada salesiano. DomBosco chamou-lhe “assistência”. O mo-do de estar com os rapazes de Attilioencanta como o seu modo de recitar.Não tem medo dos rapazes, é naturalcom eles. Todavia prepara tudo muitobem antes de ir para o meio dos jovens:cânticos, avisos, versos, gritos. Sabe es-cutá-los, escuta atentamente, reparanaquilo que dizem e tem sempre umapiada viva, briosa, que assenta comouma luva. Em geral fala em dialeto mi-lanês. É um espetáculo Attilio no meiodos rapazes: assim devia ser Dom Bos-co! Presta atenção ao grupo e tem de-baixo de olho o indivíduo. Está atento àsituação real, acompanha o instintodos rapazes e refreia-o com a sua in-ventiva. Se os rapazes estão na brinca-deira, em vez de aprender o catecis-mo, se gostam de gritar, saltar, deitar fo-ra algum anidrido carbónico e depoisretomar as rédeas e o silêncio, a sua in-ventiva é adaptar-se às situações.As etapas do seu caminho foram as doseu tempo: no tempo do fascismo, pro-cura a liberdade no oratório, na AçãoCatólica; em tempo de guerra e pós-guerra, quando a política e os partidosnos olham de través, inventa a cruzadada bondade; em tempo de contesta-ção, quando os jovens se apropriam doterreno que os idosos deixam vazio deideais, ele apoia a Operação MatoGrosso que os seus filhos lhe levarampara casa. O seu método e modo deestar com os rapazes manifesta a suapreocupção constante pela alma dorapaz, o seu respeito pelo jovem. Aquiloque Dom Bosco pedia aos seus salesia-nos, em Attilio era tarefa sempre bemfeita. A mensagem que Attilio transmitecom este seu método, sempre atualiza-do, pode resumir-se na palavra “bon-dade”. Partilha com Noemi, a sua noiva

e depois a sua esposa, que se deixa en-volver até ao fim pelo entusiasmo irresis-tível do seu Attilio: “Querida Noe, o Se-nhor nos ajude a não ser bons sem ceri-mónia, a viver no mundo sem ser domundo, a ir contra a corrente...».Sem ter estudado pedagogia, revela aarte do educador, aprendida na escolade Dom Bosco. É um organizador formi-dável. A cada um confia a sua tarefa,mas o mais atarefado é sempre ele. As-sim torna-se realizador convicto e pru-dente da Fraterna Ajuda Cristã, um mo-vimento de caridade dentro das asso-ciações tradicionais, inventa a Cruzadada Bondade para alargar também aosjovens o espírito de caridade que estána base desta nova onda de partilha.Attilio Giordani possui também um dotenão comum: sem ter frequentado esco-las de recitação, mostra-se capaz de divertir e de entreter. Possui uma comici-dade inata, a sua aparição no palco sus-cita hilaridade e o teatro torna-se ummodo de estar com os rapazes, de lhes fazer perder a timidez, de os habituara enfrentar o público, a saborear a gestualidade, a rir-se de si mesmo, a purificar o próprio espírito. Com ele em cena nunca há riso forçado, mas ocalor dos aplausos à solta. Assim cria a filodramática, outro percurso em que reúnerapazes e adultos, em torno da alegriaque nasce do amor de Deus e da pazcom os outros.

Um cristão rico de expressões O catequista – Ensinava os rapazes pre-cisamente com o estilo de Dom Bosco.A sua pacatez e gentileza a todos con-quistava. Os mais turbulentos eram en-viados para ele. O seu grupo chegavaa ter mais de 60 alunos.

O educador – Estas suas capacidadede tocar o coração dos rapazes maisdifíceis, de ver dentro deles para lá dasaparências. O padre Luigi Melesi, por

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Dia Missionário Salesiano 2020muitos anos capelão da prisão de San

Vittore, conta que, quando era diretordo instituto salesiano de Darfo (provín-cia de Brescia), Attilio levou-lhe um ra-paz, filho de emigrantes meridionais,que parecia um incapaz. Conseguiu in-terná-lo no instituto, oferendo-se parapagar a mensalidade, porque sentiaque se podia extrair alguma coisa dele.Com o tempo, o rapaz aprendeu umofício. Como adulto fez-se empresário etornou-se ele próprio uma pessoa ca-paz de ajudar os outros.

O animador – Todos os testemunhos fa-lam da sua veia para inventar semprenovos jogos, a fim de manter vivo o in-teresse dos rapazes, ou para comporcânticos para alegrar o ambiente. Esfor-çava-se especialmente a preparar es-petáculos de teatro da paróquia. Maisdo que escrever guiões, preferia impro-visar. É recordado como um cómico ir-resistível. Mas o seu maior sucesso era a“Cruzada da Bondade”, abençoadapelo arcebispo de Milão, Montini, o futu-ro papa Paulo VI. Esta iniciativa foi reto-mada noutras cidade da Itália, e tam-bém no estrangeiro. O patriarca de Ve-neza, Roncali, futuro papa João XXIII,declarou: “A Cruzada da Bondade te-ve uma penetração nas crianças euma ressonância nos fiéis que nuncaimaginaria”.

O homem de caridade – Ia pela rua àprocura das pessoas necessitadas de ajuda, e levava consigo os seus rapazes para que contactassem direta-mente com a dura realidade. Mobili-zava-se para dar assistência, trabalhoou alojamento aos barbudos que en-contrava.

O leigo – Mas, fora da paróquia, passa-va a sua vida quotidiana como empre-gado da Pirelli. Não hesitava em levar oseu testemunho de Cristão mesmo aolocal de trabalho. Sempre o padre Me-lesi, refere a narrativa de um ex-traba-

lhador da Pirelli sobre um episódio ocor-rido durante o Outono Quente. Os ope-rários da empresa estavam em greve.Attilio foi à Assembleia geral, dominadapelos “comunas”, e tomou a palavra.Ao início apanhou chuvadas de asso-bios, no fim recebeu um mar de aplau-sos ensurdecedores

O pai de família – Uma pessoa poderiaperguntar-se como fazia Attilio, comtanta coisa a solicitá-lo, para se dedicarà família. O testemunho dos filhos: PierGiorgio, Maria Grazia, Paola, é límpido:«Quando o papá entrava em casa, era todo nosso; não levava para casaas tensões de fora. Estava sereno, disponível, não fechado; era algo de“nosso”».

Missionário Leigo: Acompanhará os seusfilhos em serviço missionário no Brasil. Lá morrerá rodeado pelos jovens com aalegria de ter alargado o coração ora-toriano até à outra margem do Atlânti-co. Os seus restos mortais chegam à Itá-

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lia como se fosse qua-se Natal: a recebê-losestá toda a paróquia,os seus rapazes, os co-legas de ofício, os ami-gos. Repousam na igre-ja dos salesianos, ali on-de cresceu e viveu asua vocação de pai defamília e de educador.

Missionário no OratórioEle havia assimilado profundamente oespírito de Dom Bosco. Para Attilio, jánão havia qualquer realidade humana‘separada’ e em oposição ao ‘sagra-do’: ele educava evangelizando eevangelizava educando. Para ele ooratório era o lugar ideal para anunciarJesus aos jovens.“Foi a catequese no seu Oratório – es-creve o padre Sandro Zoli ex-pároco deSant’Agostinho e amigo pessoal – ocentro unificador da vida de Attilio, aótica que nos permite captar e com-preender a sua ardente fantasia pasto-

ral, a sua presençaanimadora. Sinalconcreto e eloquen-te da sua paixãoeducativa, era umapequena agenda,que trazia no bolsointerior do casaco,com o inseparávellápis. Aquela agen-dinha continha no-mes e números detelefone dos seus

Rapazes; ... nela recolhia reflexões, intui-ções, propostas, frases captadas narua, factos de crónica referentes aomundo dos Rapazes.Programas de festas, versos, esboços decartazes, indicações para uma volta ouum retiro, jogos para uma tarde no ora-tório, tópicos param uma pequena ce-na”. Acompanhava os pais e os filhos, acada um atribuía a sua tarefa a de-sempenhar. Era um acompanhante for-midável. “Todos tinham que fazer, masele sempre mais do que todos” – anotaum amigo.

1. Limitar a missão de catequista só ao ensino serve depouco.

2. O problema é formar as crianças e fazê-las viver cri-stãmente. As atividades de classe e de grupo devem tenderpara isto.

3. É necessário viver aquilo que se quer fazer viver.

4. Ensinar bem o catecismo, ser perito em pedagogia, são ótimas qualidades que são anuladas, se a presença for rara e descontínua por parte do catequista.

5. Para ensinar aos rapazes a pontualidade à S. Missa festiva e à catequese, é necessário que o catequista chegueantes do seu início.

6. A turma e o grupo são formados por indivíduos. Cadarapaz é conhecido, amado, acompanhado, mesmo quandoas coisas não correm bem.

7. É preciso constância: outros recolherão. Rapazes quehoje prometem pouco, talvez amanhã sejam apóstolos. Situações destas repetem-se.

8. As realidades “turma” e “grupo” não são realidadesisoladas; embora com uma dinâmica própria, vivem as rea-lidades comunitárias do oratório e abrem-se à paróquia e ao mundo.

9. Para estimular a presença dos rapazes, é ótimo tornarinteressante a vida comunitária de turma. Os concursos, ascompetições podem servir para isso. Falta destas atividades:cometer injustiças, não expor periodicamente as classifica-ções, não dar aos merecedores o prémio prometido.

10. Quando a turma é vital, os rapazes fazem de ponteentre oratório e família.

DECÁLOGO ORATORIANO DOs CATEquIsTAsRedigido por Attilio Giordani, já avançado nos anos, como “súmula das suas convicções” e como“fruto das suas experiências”, em resposta a quantos lhe pediam o segredo do seu sucesso como catequista:

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A 1 de setembro, de1939 Hitler invade a Poló-nia, dando início à Se-gunda Guerra Mundial. Acasa salesiana de Poz-nan, na rua Wroniecka, éocupada e transforma-da em armazém dos sol-dados alemães. Os jo-vens continuavam a reu-nir-se nos jardins fora dacidade e nos bosques vi-zinhos. Surgiram numero-sas associações secretas.Em setembro de 1940,Francisco Kesy e quatrocompanheiros oratoria-nos foram presos sob acu-sação de pertencer a uma organiza-ção ilegal. Foram levados para a te-mível Fortaleza VII na mesma Pozna�,onde foram torturados e interroga-dos. Em seguida, foram transferidospara diversas outras prisões, ondenem sempre tiveram a sorte de estarjuntos. Reconduzidos a Poznan, foramprocessados e acusados de alta trai-ção e condenados à morte. Forammartirizados em Dresden a 24 deagosto de 1942. Viveram o cativeirocom espírito de fé e espiritualidadesalesiana. Rezavam continuamente:terço, novenas a Dom Bosco e a Nos-

sa Senhora Auxiliado-ra, oração da manhãe da noite. Procura-vam estar em con-tacto com as pró-prias famílias atravésde mensagens quecom frequência con-seguiam enviar se-cretamente. Encora-javam-nas, pediam easseguravam ora-ções. Quando po-diam animavam ale-gremente as festas li-túrgicas passadas nacela. A sua fé nuncavacilou. Foram teste-

munhas credíveis até ao fim. O decre-to de martírio foi publicado em 26 demarço de 1999; beatificados a 12 dejunho de 1999 por João Paulo II.Emblema: Palma Martirológio Roma-no: Em Dresden na Alemanha, beatosCeslao Józwiak, Eduardo Kazmierski,Francisco Kesy, Eduardo Klinik e Iarog-nievo Wojciechowski, mártires, que, deorigem polaca, metidos no cárcereno mesmo período, sofreram o martí-rio à machada.Os oratórios têm ocupado sempre umpapel privilegiado nas atividades sa-lesianas. Também em Poznan (Poló-

ORATÓRIOmartírioe

Os cinco Bem-aventurados animadoresMártires de Poznan

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nia), na RuaWroniecka, per-to da casa sale-siana, a educa-ção típica de S.João Bosco, fei-ta de cuidadopaterno e decaridade con-creta para comos rapazes, ocu-pava um papelexcecional. Eram os anos da ocupa-ção nazi. O exército alemão entrouem Poznan em 11 de setembro de1939. Todas as noites, quando tinhamalgum tempo livre, como já faziamantes da guerra, os rapazes reco-lhiam-se numa sala de reuniões dooratório salesiano. Entre os mais velhosdo grupo havia cinco futuros mártires.Czesław Józwiak nasceu a 7 de se-tembro de 1919 em Łazyn, perto deBydgoszcz. Os pais Leon e Maria ha-viam-se transferido para Poznan e ha-bitavam próximo do centro. Tiveramquatro filhos, dois rapazes e duas me-ninas. Durante a ocupação alemãCzesław trabalhava como pintor daconstrução civil, ao passo que no leti-vo de 1938/39 frequentou o 3º ciclo.Edward Kazmierski nasceu no dia 1de outubro de 1919 em Poznan. Seupai Wincenty era sapateiro, a mãeWładysława era doméstica. Edwardtinha cinco irmãs. Quando terminou aescola elementar, o seu tio propôs-lhetrabalhar num negócio que perten-cia a um judeu, Jakub Abramowicz.Edward trabalhou como aprendiz du-rante um mês, depois, graças à ajudade um salesiano, Władysław Barton,começou a trabalhar numa oficinade mecânica. Lá permaneceu duran-te a guerra.Franciszek Kesy nasceu a 13 de no-vembro de 1920 em Berlim-Wilmers-dorf. Os seus pais, Stanisław e Anna,haviam regressado à Polónia em

1921, estabele-cendo-se em Poz-nan. Tinham cincofilhos. O pai eracarpinteiro e tra-balhava numacentral elétricada cidade. Fran-ciszek havia jáexpresso a inten-ção de entrar no

seminário salesiano de Lad e prepara-va-se como aspirante. Durante a ocu-pação alemã trabalhava comCzesław Józwiak como empregado.Edward Klinik nasceu no dia 21 de ju-lho 1919 em Poznan. Era filho de Woj-ciech e de Anastazjia. Seu pai eramecânico. Edward tinha uma irmãmais velha, Maria, que depois se tor-naria religiosa, e um irmão mais novo,Henryk. No ano letivo de 1936/37 Ed-ward concluiu o 3º ciclo no colégiosalesiano de Oswiecim e, no ano de1938/39, ficou aprovado no examede maturidade no 3º ciclo de Bergerem Poznan. Durante a ocupação ale-mã trabalhava numa empresa deconstrução civil.Jarogniew Wojciechowski, o mais no-vo dos cinco, nasceu em 5 de novem-bro de 1922 em Poznan. O pai Andr-zej, que trabalhava numa drogaria,embriagava-se e abandonou a famí-lia. Por isso Jarogniew viu-se obrigadoa interromper os estudos. A sua únicairmã mais velha Ludosława deviaocupar-se da mãe Franciszka e do ir-mão. Jarogniew frequentava a esco-la municipal de comércio e trabalha-va como empregado numa drogaria.

Vida oratorianaEstes rapazes, quer depois das aulasquer depois do trabalho, passavam oseu tempo livre no oratório salesiano,onde participavam ativamente emdiversas atividades. A vida culturalque se desenvolvia naquele lugar era

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uma lição de vida que formava o ca-ráter, desenvolvia a sensibilidade e osentido do bom humor. O sorriso entre-laçava-se com a oração, o jogo coma reflexão, e do céu S. João Bosco ve-lava por tudo. As almas destes rapazeseram formadas também pelo contac-to pessoal com Deus. Nesta atmosferacresciam, formando a sua fé e a suapersonalidade. Czesław Józwiak erapresidente da Companhia da Imacu-lada. Edward Kazmierski e FranciszekKesy, à vez, dirigiam como presidentesa Companhia de S. João Bosco: eramassociações internas do oratório se-gundo o espírito salesiano. Os cincoeram animadores do oratório. Desem-penhavam sempre uma parte ativanos espetáculos teatrais, organizadoscom grande criatividade. Edward Kaz-mierski era especialmente apaixona-do pelo teatro e pela música. Deixoucinco grossos cadernos em que haviaescrito um diário das suas ocupaçõese experiências, de 1 de fevereiro a 28de maio de 1939. No fim de cada anofazia a lista dos papéis interpretadosnas cenas teatrais no oratório. A suasegunda grande paixão era a música.Gostava de ir à ópera, e havia com-posto também alguns trechos musi-cais. Na opinião dos seus companhei-ros era um grande músico, de formaque o haviam apelidado: o Composi-tor. Gostava de pertencer ao corocom Kazmierski e Edward Klinik. Fran-ciszek Kesy gostava especialmente dodesporto e praticava-o com gosto.Durante a guerra, a casa salesiana daRua Wroniecka foi ocupada por vá-rias dezenas de soldados alemães,que haviam transformado todo o edi-fício e a igreja em armazém militar. To-davia os rapazes continuavam a reu-nir-se nos jardins fora da cidade. Pen-savam cada vez mais em aderir aomovimento de resistência, inserindo-se numa das numerosas organizaçõessecretas que então estavam a for-

mar-se em Poznan. Não se pode de-monstrar ao certo quanto os cinco ra-pazes tenham participado nestes mo-vimentos, mas sabe-se apenas queem setembro de 1940 foram presos,acusados de pertencer a uma orga-nização ilegal.

Início do CalvárioEdward Klinik foi preso antes dos seuscompanheiros no dia 21 de setembrode 1940. Foi preso diretamente no tra-balho, sem poder despedir-se de nin-guém. Com um pequeno lápis escre-veu à mãe no diário da prisão: “Nãote preocupes comigo, porque voupara a batalha da vida com uma féforte. Sei que Aquela a cuja proteçãome confiei, tornando-me seu Cavalei-ro, vela sobre mim e nunca me aban-donará”. Depois da prisão de Ed-ward, os outros ficaram consternados;o pai de Czesław Józwiak aconse-lhou-os a fugir da cidade, mas os ra-pazes decidiram não deixar os seusentes queridos. Na noite de 23 de se-tembro foram todos presos.Reencontraram-se assim os quatro na“Casa do soldado” que, que pela for-ma cruel como decorriam os interro-gatórios, era chamada “a Gestapo”de Poznan. Ao fim de 24 horas de in-terrogatório, foram transferidos para aFortaleza VII, onde provavelmente jáse encontrava Edward Klinik. A Forta-leza VII tinha uma fama ainda maissombria do que a da “Casa do solda-do”. Havia sido construída no séculoXIX como fortaleza para defender acidade, com um fosso e grossas mura-lhas, e transformada num cárceredentro do qual, vítimas de fome, detorturas e de execuções, perderam avida milhares de polacos. Os rapazeschegaram ali no dia 24 de setembro.Foram revistados e privados de todosos seus objetos pessoais. Nos bolsosdos quatro alunos salesianos os car-cereiros pouco encontraram. Havia,

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porém, um objeto que suscitou a tro-ça e a raiva dos seus carcereiros:eram os terços, de que os jovens nun-ca se separavam. Foram parar aocesto dos papéis, mas bastou um momento de distração dos guardaspara que voltassem aos bolsos dosseus donos. Desde aquele momento,acompanhá-los-iam durante os lon-gos meses de sofrimentos no cárceree reanimariam o seu espírito nos mo-mentos de prostração.A tortura na Fortaleza VII era coisanormal, a que também os nossos jo-vens eram sujeitos. Disso dá testemu-nho um gryps (comunicação escritaclandestina entre os prisioneiros) deJarogniew Wojciechowski à família,enviado com a roupa interior para la-var. Num pedaço de papel, embru-lhado no lenço encharcado de san-gue, Jarogniew escreveu que é es-pancado até perder os sentidos, e im-plora orações. Também no diário deEdward Klinik encontramos uma notamuito eloquente: “Segunda-feira, umdos dias mais terríveis da minha vida,que certamente nunca mais esque-cerei”. Que sofrimentos terá suporta-do naquele dia, só Deus sabe. Umgrande mérito por manter elevado oânimo dos seus companheiros do ora-tório teve-o Czesław Józwiak. Compaciência explicava-lhes o sentidodos tormentos sofridos na prisão. “De-veis compreender – dizia – que osnossos sofrimentos não são inúteis.Não perecem. Uns combatem de ar-mas na mão pela liberdade da Poló-nia, outros sofrem por ela. Ambas ascoisas são importantes. Mas o maisimportante é ser-lhe fiel”:Depois de um breve período, foramtransferidos para outra região de Poz-nan, em que a vida era mais tranqui-la, sem as torturas e sem o medo con-tínuo, mas infelizmente sempre sem li-berdade. Durante o dia trabalhavam

e à noite, durante o repouso, ouvia-seda sua cela a reza do Terço e dasorações salesianas. Com admiraçãoe incredulidade, e até com inveja, oscompanheiros de desgraça olhavampara aqueles jovens a quem havia si-do tirado tudo e, apesar disso, tinhamtanta força e fé, tanta alegria interior.Por vezes diziam-lhes: “Não vos daisconta do que vos espera?”. SomenteDeus o sabe – respondiam – e nós te-mos confiança n’Ele. Seja o que forque aconteça, será sempre a suavontade”. Perante tal resposta só res-tava calar-se.Em novembro de 1940 foi assinaladauma nova transferência para Wronki epela prisão em isolamento, em celasseparadas. Este foi um sofrimentoainda mais doloroso para estes jovens,habituados a apoiar-se reciproca-mente, mas foi também um tempo degraça. Edward Klinik anota no seu diá-rio as “perguntas” que ele próprio fazao Senhor: “Ó Senhor, porque me pu-niste tão fortemente? Mereci de factoisto? Porque puseste aos meus ombrosuma cruz tão pesada?”. Edward,porém, não se contenta de fazer per-guntas, mas busca a resposta. “Filho,não desesperes – responde Deus – enão busques a consolação dos ho-mens, porque quem busca a consola-ção dos homens afasta-se de mim.Meu filho, olha para mim que, carre-gado com uma pesada cruz por teuamor, caminhava para o Gólgota enem uma palavra de lamento me saiuda boca, e tu já agora te queixas?Dá-me só amor por amor”.Edward Kazmierski até fala deste período como de um tempo de exer-cícios espirituais. “Precisamente emWronki cheguei a um acordo comigomesmo. Ali conheci-me melhor e dei-me conta de que me falta ainda mui-to para ser um bom filho de Dom Bos-co, para agradar a Deus, para ser útil

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ao próximo e pa-ra honrar a famí-lia. Agora creioque, quandoconseguir a liber-dade, Deus aju-dar-me-á, e esta-rei em condi-ções de cumpriras resoluções to-madas”. Pala-vras semelhan-tes escreve Franciszek Kesy: “EmWronki, por estar eu só na cela da pri-são, tive tempo de me examinar afundo a mim mesmo [...] e prometi vi-ver de outro modo, como nos reco-mendou Dom Bosco, viver para agra-dar ao Senhor e à sua Mãe, MariaSantíssima”.Em Wronki os nossos jovens vivem asfestas de Natal tentando cantar umacanção, mas foi-lhes bruscamente im-pedido pelos guardas. Na Páscoa fo-ram transferidos para uma prisão naAlemanha, primeiro em Berlim e de-pois em Zwickau. Outro ano de prisão,cheio de esperanças, mas tambémcheio de fé. O ritmo do trabalho é en-trecortado pelo ritmo da oração quesustenta o seu espírito. Interessam-semuito pelas suas famílias, como pode-mos ler nos famosos gryps enviadosde vários modos para casa. São rapa-zes como todos os outros, cheios deprojetos. Imaginam o simples futurotrabalhando, vivendo numa casinhacom a família que querem formar.“Nós, com Edward, sonhamos umacasita com jardim nas proximidadesda cidade – lemos no gryps de Fran-ciszek Kesy – mas que projetos temos?Deem-nos só a liberdade, e depoisbasta arregaçarmos a sério as man-gas para o trabalho”.Pedem a Deus boas condições desaúde, e contam que a sua vida ago-ra é bastante tranquila, tanto que

nem o aproxi-mar-se da tãodesejada datado processo osperturba. “Den-tro em poucodeve ser o nossoprocesso – es-creve EdwardKazmierski numgryps à sua irmã– mas eu nãoacredito nada

disso, porque já falam dele há quasedois anos. Como Deus quer [...]. Nãopensamos muito neste assunto [...]. Ofim da guerra está iminente”. Depois,noutro gryps aos pais, confirma ainda:“Talvez fosse melhor que este proces-so se não realizasse. De resto Deus sa-be, e que nos envie uma boa surpre-sa! O que acontecer será segundo asua vontade”.

Tenha a cruz levantada!Entretanto foi marcada a data do pro-cesso: dia 1º de agosto de 1942, às9:00 horas, perante o tribunal extraor-dinário de Pozna�, na sessão à partede Zwickau. Os jovens informaram assuas famílias da data, suplicaram paraaquele dia uma oração especial eaguardaram. No dia 1º de agostoapresentaram-se em julgamento aotribunal. De pé, escutaram o auto deacusação. De resto sabiam-no de cor:a preparação de um golpe de Estadocom o intuito de fazer sair do Reichalemão uma parte do mesmo Estadoalemão. O processo foi breve e maisbreve ainda foi a consulta dentro dotribunal. A sentença de condenaçãoatingiu os nossos jovens como um raiode céu sereno: para os cinco, “penade morte!”. Os jovens oratorianos pas-saram os seus últimos 24 dias na celade morte número 3 do Palácio da Jus-tiça de Dresden. Não vivem em deses-pero, mas preparam-se para a hora

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da morte com os sacramentos da Re-conciliação e da Comunhão eucarís-tica. Compreendemos a sua grandezade ânimo lendo os trechos das últimascartas que escrevem aos familiares.Palavras simples, cheias de amor, quese tornam um verdadeiro tratado dasua heroicidade.«Pouco antes das 21:30, os oito deti-dos entoaram um cântico religioso,em voz baixa, na sua língua mater-na», recordou o então capelão docárcere, padre Franz Bänsch, queacompanhou os jovens nas suas últi-mas horas de vida. «No fim, pouco an-tes de o primeiro deles ser conduzidopara fora, pediram-me: “Tenha a cruzlevantada, de modo que possamosvê-la!” Cada um deles foi em silênciopara a guilhotina».“Minha amadíssima mãe, e caríssimasirmãs – escreve Edward Kazmierski –recebi a vossa carta de despedida[...]. Dai graças ao Senhor pela suagrande misericórdia. Concedeu-me aserenidade. Resignado à sua santís-sima vontade, daqui a pouco partodeste mundo [...]. Muito obrigado,mãe, pela tua bênção. Deus assimquer. Ele pede-te este sacrifício [...].Peço-vos perdão de todo o coração[...]. Peço-vos uma oração”.“Meus amadíssimos pais, irmãos e ir-mãs – começa a sua carta FranciszekKesy – chegou o momento de medespedir de vós. O Bom Deus toma-me consigo. Não deploreis que emidade tão jovem eu parta deste mun-do. Agora estou em estado de graça,e não sei se mais tarde teria sido fielàs minhas promessas [...]. Vou para o céu, adeus. Lá, no céu, rezarei aDeus [...]. Rezai também por mim [...].Agora vou”.“Amadíssimos pais, mamã, papá, Ma-ria, Henryk – assim se dirige aos fami-liares Edward Klinik – misteriosos são osdecretos de Deus, mas nós devemos

resignar-nos, porque tudo acontecepara o bem da nossa alma [...]. Atéao último momento, Maria foi a minhaMãe. Agora quando tu, mamã, já nãome tiveres, toma Jesus [...]. Meus carís-simos, não desespereis por causa demim nem choreis, porque eu estou jácom Jesus e Maria”.“Meus caríssimos pais, Joana, irmãos –escreve Czesław Józwiak – precisa-mente hoje, ou seja, no dia dedicadoa Maria Auxiliadora [...] parto destemundo [...]. Só vos peço que nãochoreis, não desespereis, nem amar-gureis o coração. Deus assim quer[...]. Rogai ao Senhor pela paz da mi-nha alma. Eu rogarei a Deus por vós,para que vos abençoe, e podermosum dia ver-nos todos no céu. Um beijopara cada um de vós”.“Amadíssima e caríssima Ludosława –assim tranquiliza a irmã JarogniewWojciechowski (a mãe havia falecidodurante o segundo ano da sua prisão)– tem a certeza de que não estás so-zinha nesta terra. Eu e a mãe estare-mos sempre ao teu lado. Peço-te umacoisa: confia os sentimentos de cadamomento da tua vida só a Jesus e aMaria, porque com eles encontrarás apaz [...]. Já vou, e espero-te lá no céucom a nossa querida mãe”.As sentenças foram executadas nodia 24 de agosto de 1942; de tal de-ram notícia os manifestos publicadosno dia seguinte nos muros de Poznan.Condenados sem processo regular,sem possibilidade de defesa e, sejacomo for, por causas tais que não jus-tificam a pena de morte, deram umexemplo heroico de fé e de vida cris-tã. Tinham-na assimilado no oratóriosalesiano de Poznan e dela haurirama força de aceitar com serenidade “avontade de Deus”, a ponto de per-doar aos seus algozes, segundo o maisgenuíno espírito do Evangelho.

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Nos últimos anos propusemos um PROJETO para apoiar uma comunidade, um projeto em sintonia com o tema do Dia Mundial Missionário Salesiano do ano. O principal objetivonão é angariar muitos fundos. O principal objetivo do projeto, como para todas as outrasatividades que propomos, é a ANIMAÇÃO MISSIONÁRIA. Partilhar informação sobre os ora-tórios é importante, mas ainda mais eficaz, na animação, poderia ser envolver as pessoas. A angariação de fundos para o projeto é uma poderosa ferramenta de animação. Em 2019, Vietnam,Coreia e outros nos mostraram o caminho. O Vietnam, por exemplo, convidou estudantes, paroquianos,indivíduos, famílias e grupos a comprar alguns "tijolos" para as capelas dos campos de refugiados na África. É isto que encorajamos - o ENVOLVIMENTO do maior número possível de pessoas, em vez de apenas doar fundos da Província?

O ORATÓRIO LUNIKNA ESLOVÁQUIAOs Salesianos estão a operar na Lunik desde2008. É basicamente uma povoação cigana.Há 4500 pessoas da comunidade cigana queali vivem em condições socioeconómicas muitoprecárias, sem água corrente, aquecimentocentral e gás. É comum duas famílias viveremem um apartamento com cerca de 20 pessoas.A nossa atividade começa com um trabalho derua, contactando os jovens na rua. Aproxima-mos as crianças do oratório através da nossasala de jogos e as senhoras através da lavan-daria. Pouco a pouco aumentamos a nossa in-fluência educativa: mais pontualidade, com-portamentos sociais menos agressivos... Ofe-recemos diferentes atividades e programas se-manais para grupos, por exemplo, a possibi-lidade de cantar em um coral jovem. Quandomostram mais interesse no desenvolvimentofuturo, procuramos um animador que se en-contre semanalmente com eles durante umaou duas horas. Após um ano de preparação,é oferecida às crianças mais motivadas a opor-

O ORATÓRIO DE LUNIKna Eslováquia

Teremos o maior prazer em fornecer-lhe mais informaçõese fotos, de acordo com as suas necessidades.

SALEZIÁNI DON BOSCA-SLOVENSKÁ PROVINCIA Mileticova 7; 821 07 Bratislava - SLOVAKIA

Account number: SK65 0200 0000 0040 4823 9457IBAN: SK65 0200 0000 0040 4823 9457Bank: Všeobecná úverová banka, a.s.;Mlynské nivy 1; 829 90 Bratislava 25;

Bank designation: SUBA; SWIFT code: SUBASKBX

As nossas propostaspara o projeto:• Reconstrução da casa salesiana e alojamento para os voluntários: € 54.000• Construção de uma sala de música entre a igreja e o oratório : € 21.000• Sino para a Igreja : € 2.000• Despesas para o funcionamento do ano: € 70.000

• O número de atividades dependerá do apoio que recebermos.

tunidade de se integrarem nas escolas da co-munidade. O progresso das crianças tornou-se um estímulo para os pais. Para adultos ofe-recemos um escritório de colocação de empre-go, onde eles podem se preparar.O nosso objetivo é ajudar as pessoas a saí-rem da pobreza multigeracional. Algunsacabam o liceu, outros conseguem comprarum apartamento para a sua família. Muitosficam aqui em Lunik e tornam-se modelospara os mais jovens. Às vezes acontece queapenas uma pessoa da família consegue umemprego e tem de apoiar toda a famíliaalargada; no entanto, mesmo isto é umgrande passo em frente para esta particularcomunidade. No oratório temos 4 funcioná-rios e 14 voluntários. Os nossos custos ope-racionais para o oratório ascendem a cercade 70.000 euros por ano. Os salesianos estão prontos para crescer, pa-ra servir melhor a comunidade através desteoratório, que tornou-se um verdadeiro pátiode encontro, uma escola, uma igreja e umagrande família, como queria Dom Bosco.

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Setor das Missões

Sede Central Salesiana

Via Marsala, 42 - 00185 RomaTel. (+39) 06 656.121e-mail: [email protected]ção:Setor das Missões SalesianasFotos: IME Comunicazione s.r.l.Pôster: IME Comunicazione s.r.l.

Gráficos e Im

pressã

o: Tipolitog

rafia Istituto Salesian

o Pio XI - Tel. 067

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23 • tip

olito@

donbosco.it

Pai, mestre e amigo dos jovens,disseste e testemunhaste com a tua vida

que “quem ama educa”.Ajuda-nos a ser

apaixonados educadores à vida plena e abundante do Evangelho,

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para com quem é mais fraco.O teu exemplo ajuda-nos

a amar intensamenteo Senhor da vida,

S. João Bosco,a propor aos rapazes que encontramos,o Oratório como,Casa que acolhe,Paróquia que evangeliza,Escola que prepara para a vida,Pátio para encontrar-secomo amigos na alegria.Guia-nos pelos caminhosde uma vida santapara que possamos saboreara alegria do Paraísoagora e na eternidade.