NCO 43 - 1 de Maio DE 2020 · Dickens à sociedade capitalista não per-deram, de todo, nem a...

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Edição 39 * 1 de Janeiro de 2020 * Mensal * Gratuita Director: Carlos Mesquita

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Edição 39 * 1 de Janeiro de 2020 * Mensal * GratuitaDirector: Carlos Mesquita

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2 - Nova Costa de Oiro - Maio de 2020Publicidade

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Nova Costa de Oiro - Maio de 2020 - 3

Nesta edição

Na «Nova Costa de Oiro» não seutiliza a Reforma Ortográfica de

1990-2008, indevidamente chamada«Acordo Ortográfico».

Sumário

Ficha Técnica:Director e Editor: Carlos MesquitaColaboradores nesta edição: António Mário Barroso, Artur de Jesus, AssociaçãoFilatélica e Numismática Gil Eanes - Lagos / Carlos Pernas, Carlos Conceição, HugoPalma, José António Nunes, José Francisco Rosa, Nuno Marques e Silvestre Ferro.Proprietário: JL, UnipessoaL, Lda/Carlos ConceiçãoAdministração: Rua Dr. José Tello Queiróz, lote 14 . 1º E - 8600-707 - LagosSede Social, Redacção e Editor:Rua D. Xavier, nº 6 – 8600-754 Lagos - Telefone: 00 351 96 705 91 06Capital Social da Empresa Proprietária:JL, Unipessoal, Lda/Carlos Conceição com 100% do capital socialNa Internet em: http://www.novacostadeoiro.comCorreio electrónico: [email protected]

Editorial

Tempos DifíceisPágina 4 - Memória de Maio de 1996 - Na rubrica Cont(r)a-corrente,afirmava-se que, em 1996, cerca de 20% dos portugueses viviamabaixo do limite da pobreza...Páginas 6 a 17 - A Abrir / Tema de Capa - Lagos agora. E o futuro?Dados do Intituto Nacional de Estatística (INE) e depoimentos deNuno Rocha, Miguel Velhinho, João Pedro Jacinto, Fábio Mateus,Jaime Maximiano, Rui Catarino e Nuno Marques.Páginas 20 e 21 - Efeméride - 1º de Maio - Dia do TrabalhadorLagos, trabalhadores e trabalhoPáginas 22 e 23 - Olhares - Lagos ontem e hoje:Tanques de lavar em São JoãoO Jardim dos AmuadosPáginas 24 a 27 - Gente da Nossa Terra - LacobrigensesD. Luís da Silveira, D. Francisco da Gama, o Forte da Ponta daBandeira e a defesa de LagosPor Artur de JesusPáginas 30 e 31 - Ruas da Nossa TerraRua Maria Margarida MesquitaPágina 34 - Actividades - Para Pais e Filh@sLagos em casa... comPágina 35 - Coleccionismo - Coleccionar é aprenderPortugal nas moedas do Mundo: Missionários nos HimalaiasPor Carlos PernasPáginas 36 e 37 - O imprevisto aconteceu e...A cabra-mochaPor José Francisco RosaPágina 38 - Clube das Comisquices - Receitas com enlatadosPor EpicuroPágina 39 - Leituras: «Cem anos de Indústria Conserveira emLagos»Por Francisco CasteloPágina 40 - Músicas - My Dance / My ChartsNo Facebook e no SpotifyPágina 41 - Músicas - Damos-lhe música no SPOTIFYPágina 42 - Em Junho, na Nova Costa de Oiro

«Hard Times - ForThese Times», «TemposDifíceis» (1854) é o títulode um livro do escritor in-glês Charles Dickens(1812-1870). Nesta obra,o autor retrata a socie-

dade inglesa durante a Revolução Indus-trial, criticando ferozmente as condiçõesde vida dos trabalhadores ingleses e des-tacando a discrepância entre a pobrezaextrema de uns e o conforto dos mais ri-cos. Passados 166 anos, as críticas deDickens à sociedade capitalista não per-deram, de todo, nem a actualidade nema pertinência. Hoje, não obstante direi-tos, liberdades e garantias da populaçãoe do trabalhadores estarem inscritos naLei Fundamental da República Portugue-sa (a nossa Constituição), constata-seque, em 2019, 21,6% da nossa Popula-ção vivia em risco de pobreza ou de ex-clusão social (Fonte: INE).

A pandemia provocada pelo Covid-19veio revelar, ainda mais, as fragilidadesdo tecido económico e social português.Segundo inquérito recente da Universi-dade Católica, «só num mês de crise163.000 trabalhadores já perderam oemprego, 981.500 estão sem actividadee 1.766.700 já sofreram redução impor-tante nos seus rendimentos». E nada in-dica ou aponta para que os tempos maispróximos não venham a ser mais difíceis,ainda. O Algarve que agora só vive doturismo, o Algarve que abandonou oscampos e o mar, o Algarve da sazonali-dade e da precariedade laboral, poderávir a sofrer brutalmente por opções erra-das do seu passado mais recente.

Duas últimas notas: a fotografia dacapa desta edição é da autoria de Antó-nio Mário Barroso, que já vendeu no seuestabelecimento milhões de jornais e re-vistas, mas que nunca tinha o seu nomena ficha técnica de uma. E assinalar oregresso de Nuno Marques, nosso cola-borador desde 1995, às nossas páginas.Obrigado, amigos! E bem-vindos!

Carlos Mesquita

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4 - Nova Costa de Oiro - Maio de 2020Memória / Maio 1996

Na edição de Maio de 1996, a NovaCosta de Oiro entrevistou Ana Balmori,da Academia de Música de Lagos e daComissão Municipal dos Descobrimen-tos. O Governo de Portugal afirmava que

a Via do Infante iria chegar a Lagos em1999 (chegou em 2003), José AlbertoBaptista e José Veloso analisaram as «IJornadas de Lagos» e Nuno Marques, o«1º Fórum Vila-a-dentro - A Cidade e Os

Jovens», que tinha organizado. Na rubrica Cont(r)a-corrente, afirma-

va-se que, em 1996, cerca de 20% dosportugueses viviam abaixo do limite dapobreza...

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Nova Costa de Oiro - Maio de 2020 - 5Publicidade

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6 - Nova Costa de Oiro - Maio de 2020

Lagos agora. E o futuro?A abrir / Tema de capa Em tempo de pandemia

Em Agosto de 2019, escreveu-se oseguinte na Nova Costa de Oiro: «Anoapós ano, quando chega o mês de Agos-to, escuta-se um pouco por toda a cida-de a mesma lamúria: «Nunca mais che-ga Setembro, para termos alguma tran-quilidade...». E, também: «Como desti-no turístico de “Sol e Praia” é no Verão eem especial no mês de Agosto que La-gos recebe maior número de visitantes.

Estima-se que nestes 31 dias, o nú-mero de pessoas presentes seja cercade três vezes superior ao da populaçãoresidente. E, assim, acaba por aconte-cer o inevitável mau-estar que se verifi-ca por estes dias. E as queixas que seescutam um pouco por todo o lado.

No espaço de 8 meses, o Mundomudou e, com ele, as expectativas e aspreocupações das populações do plane-

ta e as dos empresários, igualmente. Umvírus, para o qual não há ainda vacina,veio alterar tudo.

Em Lagos (e noutros destinos turísti-cos), onde antes havia muitos que recla-mavam dos excessos provocados pelagrande afluência de veraneantes, espe-cialmente durante o período estival, hojeteme-se a falta de trabalho e de rendi-mento para milhares de pessoas.

Nesta edição da Nova Costa de Oiro,proceder-se-á a uma análise do impactoda pandemia nas empresas locais, atra-vés da recolha de depoimentos de laco-brigenses de vários sectores de activida-de.

Escutámos Nuno Rocha, lacobrigen-se, bancário, Miguel Velhinho, lacobri-gense, 54 anos, fundador e CEO do Pro-jecto Manhattan, profissional de comuni-

cação que trabalha há 30 anos na indús-tria do marketing e da publicidade, JoãoPedro Jacinto, lacobrigense desde osprimeiros 4 dias mas nascido em Faro,arquitecto, empresário / proprietário deum pequeno aldeamento turístico deapartamentos turísticos em Lagos, FábioMateus, de 31 anos, natural de Burgau,autarca (presidente da Junta de Fregue-sia de Budens), pescador, Jaime Maxi-miano, “algarvio” há quase há 50 anos,na área da restauração, Rui Catarino,55 anos, comerciante no ramo da ouri-vesaria (proprietário da Ourivesaria Co-imbra) e do lacobrigense Nuno Marques,urbanista.

A primeira análise é de Nuno Rocha,45 anos, 20 anos de experiência no sec-tor bancário, em Portugal e nos EUA, comformação académica em Economia, »»

Lagos em Agosto de 2019 e em meados de Março de 2020 (as duas imagens foram captadas cerca das 14:30)

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Lagos agora. E o futuro?Em tempo de pandemia

»» e especialização em análise financei-ra e banca de empresas. Actualmente, éresponsável pela sucursal Barlavento Ne-gócios, do Banco Comercial Português:

«Atravessamos um período sem pre-cedentes, e sem ponto de comparaçãocom o passado, algo que em econo-mia é difícil de aceitar, porque retiraqualquer hipótese de previsão, e per-mite o reinado da especulação.

Desta vez não foi culpa do ímpetogastador do país, ou dos erros debancos ou empresas, ou mesmo dequalquer outra característica intrínsecaque nos acompanha há séculos comonação, e que irritantemente nos temmantido na cauda da Europa.

Uma crise de saúde pública, pro-vocada por um vírus, ainda perigosa-mente desconhecido, mais uma vezcom origem no Império do Meio, con-seguiu parar o Mundo, e criar-nos umanova rotina, que muitos já denominamde novo normal, mas que a maioriaanseia por um regresso à outra tradi-

cional e antiquada normalidade, queserá no futuro, certamente, muito maisvalorizada.

Vivíamos no Algarve um períodode clara expansão económica, espole-tada pelas medidas decididas e imple-mentadas em mais um período de inter-venção do FMI, onde se destacaram anova lei do Alojamento Local, o GoldenVisa, e o Estatuto de Residente não Ha-bitual, cujos benefícios permitiram des-pertar a atenção da comunidade interna-cional, tornando este rectângulo à beiramar plantado um destino preferencial deinvestimento estrangeiro, e desta vez,não apenas concentrado nas ilhasbritânicas.

Lagos é um dos expoentes máximosdessa realidade, quer em termos turísti-cos, quer em termos de mercado imo-biliário, onde a construção tem vindo aassumir um papel catalisador dumamultiplicidade de outros sectores, e emque os preços por metro quadrado dahabitação atingem valores estratosféri-cos, rivalizando mesmo, com outros des-

tinos bem mais famosos e conhecidos.Esta era a realidade nos primeiros

meses deste ano, e nada faria prever que2020 não desse continuidade ao desem-penho dos anos anteriores.

Infelizmente tudo mudou.Agora, o nosso tecido empresarial

luta pela sobrevivência, e os Bancos sãoliteralmente inundados por pedidos definanciamento, que suportem as ne-cessidades de tesouraria dos próxi-mos meses, e por moratórias de crédi-to, que chegam aos milhares. Estasmedidas são correctas, e teoricamente,irão ajudar a superar este período,mas mais uma vez se constata que émais fácil para um político as anunci-ar, do que depois as implementar.

Mas atenção, que ninguém penseque existe uma única solução milagrosa,que por si só consiga resolver todosos problemas. Empresas e emprega-dos deverão recorrer a todos os meiosque foram criados para superar esteterrível período, como as medidas fis-cais e de apoio à actividade e ao »»

Dados do INE (por Sector de Actividade, o Alojamento Local e a Restauração sofreram os maiores constrangimentos)

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8 - Nova Costa de Oiro - Maio de 2020A Abrir / tema de capa

»» emprego. Será a utilização conjuntae simultânea de todos estes instrumen-tos criados para o combate às conse-quências nefastas do Covid-19, quepermitirão mitigar os seus efeitos.

Acredito que gradualmente a econo-mia do país seja reactivada, e que deacordo com novos parâmetros de segu-rança e saúde, os nossos hotéis, unida-des de alojamento, restaurantes e cafésvoltem a laborar. Seria insustentável nãoo fazermos. Outros países já tomaramessa iniciativa.

Tenho a certeza que as companhiasaéreas, e operadores turísticos, não irãoficar de braços cruzados, e que lançarãoagressivas campanhas turísticas, para o

retomar do sector, apesar de nos próxi-mos tempos termos que nos habituar aentrar num avião de máscara cirúrgicaposta, e de óculos embaciados. E queseja.

Tenho igualmente esperança, que oAlgarve, e Lagos em particular, pos-sam inclusivamente beneficiar da for-ma como atravessámos estes temposde Covid-19. Vários artigos na imprensainternacional chamam a atenção paraesse facto. Poderá mesmo ser uma im-portante vantagem competitiva, que nãoiremos certamente desperdiçar. E justi-ça seja feita, o Município de Lagos, aocontrário de outros na Região, tomoumedidas concretas e de forma rápida,

impedindo a propagação dos casosinfectados. O que é bem feito, terá sem-pre o seu retorno.

Contudo, esta crise também vem co-locar a nu a cada vez maior dependên-cia do Algarve ao sector do Turismo.

Continuamos sempre a seguir o ca-minho mais fácil, e a optar pelo que dágarantia de retornos imediatos, não setendo apostado na diversificação da eco-nomia Regional.

Temos condições para sermos umaregião de forte investimento em indústri-as tecnológicas, e pessoalmente, prefe-ria sermos a Califórnia do que a Floridada Europa…

Hoje foi o vírus, mas amanhã poderáser uma outra qualquer catástrofe, queexporá novamente a “doentia” dependên-cia do Turismo.

Que este momento também sirva paraaprendermos com os erros, e que nos dêcoragem, para nem sempre seguirmos ocaminho mais curto e mais fácil.».

Eis o diagnóstico detalhado e perti-nente de Miguel Velhinho, lacobrigen-se, fundador e CEO do ProjectoManhattan, profissional de comunicaçãoque trabalha há 30 anos na indústria domarketing e da publicidade:

«Uma das actividades que desenvol-vo em permanência desde que trabalhoem estratégia de marketing é a análisede tendências de mercado e o modocomo estas afectam o comportamentodas pessoas em geral. Perceber e ante-ver o futuro, numa óptica de consumo éa minha matéria para desenvolver estra-tégia de marketing e de comunicaçãopara as marcas.

É com muito prazer que partilho con-vosco as minhas observações e previ-sões, ressalvando o facto que prever ofuturo para desenvolver estratégia, sejaela de tipo for, é sempre um exercícioonde se consideram cenários alternati-vos feitos com base em experiênciaspassadas e presentes. Como sabemoso presente é dinâmico e por isso as pre-visões não conseguem na maior parte »»

Lagos agora. E o futuro?Em tempo de pandemia

Dados do INE (impacto por Sector de Actividade)

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Nova Costa de Oiro - Maio de 2020 - 9A Abrir / tema de capa

»» das vezes ser 100% certeiras.O tema é vasto e por isso partilharei

convosco alguns temas que consideroque terão impacto na comunidade laco-brigense e deixarei para outra oportuni-dade temas mais gerais, relevantes paraa sociedade humana como um todo.

A contenção do VírusUma das coisas que temos de ter em

conta é que o modo como lidamos com acontenção do vírus, de uma forma glo-bal, tem um impacto directo na vida daspessoas de Lagos. Enquanto não existiruma vacina ou um anti-viral, teremos queter regras de contenção. Neste momen-to, países pelo mundo forma testam no-vas abordagens à contenção do vírus enão é ainda claro qual o modelo a seguirpara se conseguir manter a economia a

funcionar (que implica sempre algumgrau liberdade na circulação de pesso-as) e ao mesmo tempo manter os índi-ces de contágio baixos para que os ser-viços nacionais de saúde não entrem emcolapso. Na altura em que escrevo, ospaíses que tinham adoptado uma abor-dagem mais descontraída (Holanda, Su-écia e Grã-Bretanha) começam a obser-var um maior aumento de contágios o quedeixa antever que as regras de conten-ção tenderão a apertar.

Mais contenção significará que asfronteiras continuarão fechadas durantemais tempo e isso terá um impacto maisprolongado no turismo e consequente-mente na economia lacobrigense.

Olhando para o passado, para as ca-racterísticas do surto de gripe Espanho-la em Portugal, vemos que existiu um

primeiro surto, grave, na primavera de1918; e um segundo surto, muito maisgrave, no inverno do mesmo ano. Hojeos responsáveis de saúde começam aalertar para eventualidade de um segun-do surto quando voltarem a baixar as tem-peraturas. O fenómeno foi semelhantenoutros países.

O turismoMesmo que as fronteiras terrestres e

aéreas sejam reabertas após 17 de Maioo turismo sofrerá uma quebra grande porvários motivos:

- os estrangeiros, que também esti-veram confinados em quarentena nosseus países, não terão um período deférias normal para gozar. A maioria acor-dará com as suas empresas um períodopequeno de férias para gozar e trabalha-rá o resto do ano para compensar o lon-go período que estiveram de quarente-na, sem trabalhar.

- a maioria dos turistas estrangeirosque estão dispostos a viajar no próximoverão terão um perfil muito particular: amaioria estará nas faixa 18-30 anos (ida-des menos afectadas pelo vírus) e teráum poder de compra mais baixo que amédia dos anos anteriores.

- a maioria dos turistas estrangeirosfará um planeamento e compra de fériasnum período obviamente mais curto queo normal. Irão aproveitar as promoçõesdas companhias aéreas e da oferta ho-teleira e comprarão férias com 3 a 1 se-mana de distância do check-in.

- o turismo interno voltará a ser o seg-mento mais importante para a comuni-dade lacobrigense, o que muito prova-velmente terá um impacto no tipo de ofer-ta dos negócios em Lagos. Existe umconjunto de produtos e serviços que sãomuito procurados pelos estrangeiros quenão têm a mesma procura pelo mercadointerno. Terão de se reinventar para serrelevantes para os turistas portugueses.

- o turismo interno também será umturismo de curta duração (uma média de7 dias de estadia) pelas mesmas »»

Lagos agora. E o futuro?Em tempo de pandemia

Miguel Velhinho (fundador e CEO do Projecto Manhattan)

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10 - Nova Costa de Oiro - Maio de 2020A abrir / Tema de capa

»» razões apontadas acima para o turis-mo estrangeiro, mas terá uma média deidades mais elevada e uma média depoder de compra ligeiramente maior queos estrangeiros.

- O turismo de terceira idade (relevan-te para reduzir a sazonalidade na comu-nidade lacobrigense) tenderá a sofreruma queda abrupta.

- Em 2020 a sazonalidade será maissentida (já está a ser) e os turistas virãomais tarde e regressarão a casa maiscedo. Este ano parecerá um ano do “anti-gamente” onde os turistas se concentra-vam essencialmente entre 15.07 e 15.09.

O mercado imobiliárioA menor procura turística terá um im-

pacto nos pequenos negócios de aloja-mento local. Os AL que conseguiremaguentar o embate da crise do turismoem 2020 terão novas (e melhores) opor-tunidades em 2021. Mas uma grandeparte destes pequenos negócios não re-sistirá e isso aumentará a oferta de habi-tação na região: as pessoas preferirão

ter algum rendimento certo ao longo doano do que voltar a arriscar perder o seurendimento abruptamente por tempo in-determinado.

Dependendo da velocidade da recu-peração económica, o mercado imobiliá-rio poderá sofrer um embate considerá-vel, o que fará que com o preço do metroquadrado baixe.

A importância da comunidadee do made in Portugal

Uma das mudanças comportamentaisesperadas no pós Covid-19 está no modocomo compramos e consumimos. Os por-tugueses estão neste momento mais des-pertos para a importância de comprar por-tuguês, porque sabem que, ao fazê-lo,estão a ajudar a economia do seu país eajudar aqueles que, no período longo dequarentena, fizeram chegar os bens deconsumo até si. Este fenómeno de pro-teccionismo é global, vemos o mesmoacontecer em países vizinhos.

Do ponto de vista local iremos ver emLagos o renascer da economia de comu-

nidade de uma forma mais evidente e nãoapenas confinada ao mercado de fim desemana. Produtores de bens consumoalimentares locais terão no futuro maisoportunidade de negócio do que tiveramaté hoje. O impulso da economia digitalna logística e distribuição, que falarei aseguir, fará com que este fenómeno co-munitário entre no dia a dia da comuni-dade de uma forma muito transversal atodos os negócios, mas principalmentena área da alimentação.

Logística e DistribuiçãoA logística e a distribuição impulsio-

nadas por plataformas digitais, foramduas áreas intimamente ligadas que têmcrescido exponencialmente durante operíodo de quarentena dos portugueses.O responsável de um grande banco na-cional dizia-me há dias que “há anos queestava a trabalhar na digitalização do seunegócio e foi preciso aparecer um víruspara, que de momento para o outro, co-locasse a trabalhar uma série de solu-ções inteiramente digitais”. »»

Lagos agora. E o futuro?Em tempo de pandemia

Projecto Manhattan (primeira central portuguesa de planeamento estratégico de marketing e comunicação)

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Nova Costa de Oiro - Maio de 2020 - 11A abrir / Tema de capa

Lagos agora. E o futuro?Em tempo de pandemia

»» É certo que antes do vírus já existi-am uma série de plataformas digitais quefaziam chegar os bens a casa das pes-soas, mas depois do vírus nada voltaráa ser o mesmo nesta área. E uma maiordigitalização poderá levar a uma recupe-ração económica/financeira mais rápida.Por exemplo, um restaurante em Lagospoderá minimizar o impacto financeiro deter menos clientes desenvolvendo refei-ções para entrega ao domicílio (com en-trega próprio ou recorrendo a plataformasexistentes de distribuição como a UberEats ou a Glovo).

Tele-trabalhoA maioria das empresas e uma gran-

de parte dos serviços públicos testaramneste últimos 2 meses, modelos de tele-trabalho e acredito que, também nestaárea, iremos assistir a mudanças profun-das quando se perceber que, apesar daspessoas em regime de tele-trabalho tra-balharem menos tempo (em média 6 ho-ras diárias segundo um estudo da Ma-rktest feita em Março passado) são maisprodutivas. As próprias pessoas sentemuma melhoria na qualidade de vida (dor-mem mais, gastam menos em comidafora de casa, têm mais tempo livre, equando as crianças tiverem aulas nasescolas, o tele-trabalho será mais fácil).

Novas regras de socializaçãoO vírus irá mudar o modo como soci-

alizamos, pelo menos num futuro próxi-mo onde continuará a estar presente onosso instinto de protecção. Seremos umpouco menos latinos e um pouco maisescandinavos, mas é algo que na minhaopinião será muito difícil de alterar por-que está enraizado na nossa cultura. Emudar aspectos culturais não é algo quese faça por decreto governamental. Va-mos certamente voltar aos beijos, aosabraços e aos amigos, mas durante al-gum tempo seremos mais cuidadosos.

Sejam cuidadosos. Mantenham-seseguros.

Utrapassaremos isto juntos».

Passamos a palavra a João PedroJacinto, que analisa a situação actual etraça linhas para o futuro próximo, queantevê como «negro»: «o cenário futuroé negro e vai tratar-se de simples sobre-vivência», diz.

«Sou João Pedro Jacinto, lacobrigen-se desde os primeiros 4 dias mas nasci-do em Faro.

Trabalho em três áreas distintas háalguns anos. A primeira como arquitectoinscrito na Ordem dos Arquitectos Portu-gueses com o nr. 5151 desde 1993, nasegunda exploro como proprietário umpequeno aldeamento turístico, de apar-tamentos turísticos em Lagos, desde2003. E sou ainda inventor, com umapatente registada e outras na forja. Voupor isso referir o que se passa nestes trêssectores de actividade.

A situação actual face ao alargamen-to do corona vírus 2 e a respectiva doen-ça Covid-19 teve impacto muito directo e

brutal na actividade turística, a minha ea dos restantes hoteleiros.

Os meus apartamentos têm as reser-vas barradas até 7 de Junho por minhainiciativa há cerca de um mês, uns diasantes das escolas encerrarem.

E embora as reservas estejam aber-tas a partir dessa data a minha esperan-ça de vir a trabalhar este ano é muito re-duzida, pois os poucos turistas que re-servaram ou venham a reservar não te-rão as disponibilidades de voos que exis-tia antes desta crise mundial e provavel-mente não virão. Mesmo que o vírus sejavencido.

Ou seja, estamos a viver o pior anodo turismo de sempre, nem o vulcão fin-landês chegou perto disto.

A minha temporada tinha começadoem 2 de Março, já tinha contratado aspessoas e serviços para a época portan-to as despesas são certas. Já as recei-tas parecem uma miragem. »»

João Pedro Jacinto

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12 - Nova Costa de Oiro - Maio de 2020A abrir / Tema de capa

»» A receita ganha nos anos anterioresirá esfumar-se em breve e será compli-cado manter ordenados e pagamento deserviços normais, além das contas cer-tas de electricidade e água.

Este sector (alojamento turístico) é oque mais sofre directa e indirectamentecom esta crise juntamente com os trans-portes de turismo, por enquanto.

Nós hoteleiros teremos de nos rein-ventar, tal como todos os outros ramosde actividade e urgentemente, para po-dermos sobreviver enquanto empresári-os.

Os que não têm empréstimos sobreo negócio como eu, estão mal, mas piorestá quem investiu recentemente com re-curso a crédito. Pois os bancos nunca fo-ram benevolentes com os clientes de cré-dito e não acredito que o venham a seragora.

O futuro? Esse passará pela recon-versão de algumas unidades para habi-tação permanente, decorrente do ajus-tamento natural à menor procura turísti-ca, especialmente o alojamento local que

voltará ao seu uso e destino inicial comohabitação.

Haverá uma baixa nos preços quan-do o turismo voltar a ser possível, querdevido à menor procura que será inevi-tável e decorrerá da perca de poder decompra dos clientes, quer pela concor-rência existente. Pois todos os clientesdo turismo estão a perder dinheiro, querem ordenados quer em receitas e mes-mo que o vírus desapareça levará algumtempo até o luxo que é o turismo sejapossível à classe média.

A excepção será às unidades maisluxuosas ou com mais valências, pois aclientela dessas tem capacidade econó-mica para viver vários anos só das pou-panças.

A classe de trabalhadores com rendi-mento baixo será das mais afectadas,pois quem vive de ordenado mínimo ouparecido não teve condições para pou-panças e essas pessoas estarão a viveruma crise brutal já em Setembro. Ou seja,o cenário futuro é negro e vai tratar-sede simples sobrevivência.

Lagos agora. E o futuro?Em tempo de pandemia

Como arquitecto estou prestes a ini-ciar um novo trabalho ainda não adjudi-cado. Em caso de adjudicação virá dar-me alguma capacidade para ir pagandoas despesas do negócio e da casa. Poiscom ou sem turismo a procura por apar-tamentos não vai desaparecer e sendo oAlgarve o que é, há muita gente a perce-ber que aqui no Algarve a qualidade devida está ao nível do melhor do mundo.Logo a procura pode baixar um pouco,mas não irá desaparecer.

Entretanto irei desenvolver umas idei-as que venho trabalhando há alguns anosaté as efectivar em patentes. Em áreasda aeronáutica, do automóvel e das ener-gias renováveis. Mas estou atento àsnecessidades que surgem devido à Co-vid-19 e irei tentar criar respostas onde asociedade não esteja a consegui-las.

Os ventiladores já têm uma respostados inventores, portugueses por acaso,mas outras necessidades irão surgir eserá preciso espírito inventivo para onovo mundo que estamos a viver.

E é disso que se trata, um novo »»

«Apartamentos Falfeira», de João Pedro Jacinto

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Nova Costa de Oiro - Maio de 2020 - 13A abrir / Tema de capa

Lagos agora. E o futuro?Em tempo de pandemia

»» mundo em gestação. Nada será comoantes, mas muitos perderão tudo... atéhoje já mais de cem mil perderam a vida,perderam tudo.

E, infelizmente, a crise ainda mal co-meçou. Temo o efeito do vírus em África,na Índia e na América do Sul, Países comzonas densamente povoadas em sobre-lotação mas sem os meios que a Europatem.

Se na Europa com todas as condi-ções de hospitais, redes básicas de sa-neamento, etc acontece isto, nos paísessem essas condições a crise poderá atin-gir proporções quase inimagináveis. E daísurgirem novas vagas do vírus no futuro.

É um quadro feio admito, mas não sebaseia em teorias da conspiração, ape-nas nos factos e eventos ocorridos.

Entre a ciência e a adaptabilidade danatureza a crise será debelada. E o ve-lho mundo será um novo mundo».

As análises e os depoimentos anteri-ores centraram-se, essencialmente, nosector terciário da actividade económica.

Procurando perceber como o sectorprimário está a viver o actual momentode excepção, escutámos Fábio Mateus,31 anos, natural de Burgau, autarca (pre-sidente da Junta de Freguesia de Bu-dens, no concelho vizinho de Vila do Bis-po), pescador desde 2009 (com forma-ção específica nesta área) e proprietárioda embarcação de pesca de cerco «Florde Burgau».

Fábio Mateus é, igualmente, Presi-dente da Associação AAPABA (Associa-ção de Armadores da Pesca Artesanal doBarlavento Algarvio) desde 2015 e Se-cretário na Barlapesca (Cooperativa dosArmadores da Pesca do Barlavento).

«Neste momento vivemos temposmuito difíceis devido ao surto do vírus queprovoca a Covid-19, momentos em que

todos os sectores estão a ser afectadosprofundamente.

A junta de Freguesia de Budens, emconjunto com todas as Juntas de Fregue-sia do concelho, tomou algumas medi-das de apoio à população. Todos nóssabemos que as juntas de freguesia têmautonomia limitada, contudo fazemosaquilo que é possível para ajudar aque-les que mais precisam.

Participámos no lançamento de pro-gramas de apoio à população de risco,levando às suas casas bens alimentaresde primeira necessidade e medicamen-tos. Em conjunto com a Santa Casa daMisericórdia e com a Câmara Municipalconseguimos ainda levar cabazes comalimentos para aqueles que mais preci-sam.

Na pesca, estamos também a atra-vessar dificuldades.

O arrastar de algumas debilidades »»

Fábio Mateus, ao leme da sua embarcação de pesca de cerco «Flor de Burgau»

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Em tempo de pandemiaA abrir / Tema de capa

Lagos agora. E o futuro?

»» do sector acentua-se nesta crise, pri-meiramente devido à idade das embar-cações que, por ser excessiva, não per-mite uma adaptação eficiente da pesca.

As condições de trabalho, em termosde higiene e segurança, são poucas, sen-do que com as normas impostas pelaDGS quase nenhuma embarcação estáa pescar de forma adequada.

No que diz respeito ao pescado, asembarcações têm ido ao mar e têm con-seguido trazer peixe para a lota. Toda-via, o preço do peixe também baixou e,nos primeiros dias que o estado de emer-gência foi implementado, o preço do pes-cado baixou imenso.

Foi depois melhorando, pelo que nes-te momento o valor está um pouco me-lhor para o pescadores, ainda que varieconforme a quantidade, dado que nãodevemos capturar muito pescado aten-dendo ao baixo escoamento do mercado.

Penso que tempos ainda mais difíceisse avizinham.

Tudo vai depender de como vamossuperar o vírus e as consequências vãoser muitas; todos os sectores estão liga-dos ao turismo e se não tivermos turis-mo vamos ficar muito afectados.

Mas não podemos baixar os braços:o pescador tem de continuar a pescar eo agricultor tem de continuar a cultivar,todos os sectores tem de começar a la-borar segundo as medidas do Estado.

Isto é muito importante, porque o quepreocupa mais é o facto de que se aspessoas não laborarem, não será possí-vel obter rendimentos, significando umcrescendo de dificuldades para as quaistemos de estar preparados sem um hori-zonte de certezas, do “quando” e “como”vai ficar tudo bem.

Penso que a pesca vai ser um sectorimportantíssimo para toda a região do

Algarve, como sempre o foi.Consumimos muito pescado oriundo

de outros Países e neste momento te-mos de voltar a consumir o que produzi-mos, o que capturamos, melhorar o con-sumo interno.

Nesse sentido devemos consumiraquilo que é nosso, aquilo que o nossomar nos dá, contribuindo para gerar cres-cimento económico local.

Para além do facto nutricional, dadoque é importante manter as defesas emalta para enfrentar o vírus e o peixe donosso mar é rico em vitaminas essenci-ais, pelas propriedades já reconhecidas.

A pesca tem de se adoptar, medidaspara que o preço do pescado não desva-lorize em lota e que seja de um valor jus-to para o consumidor final e para a fonte,para quem o captura.

Acima de tudo, preocupa-nos muitoa pesca da sardinha neste momento, »»

«Flor de Burgau», de Fábio Mateus, embarcação de pesca de cerco no barlavento algarvio

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Em tempo de pandemia A abrir / Tema de capa

Lagos agora. E o futuro?

»» porque só vamos começar a pescarnos primeiros dias de Junho.

Num momento em que os santos po-pulares foram cancelados, era nessasfestividades em que os pescadores docerco obtinham maior rendimento, eranesse período que o preço da sardinhaaumentava, muitas destas embarcaçõesestão paradas, à semelhança de tudo naeconomia, uma espera que pode causardanos a muitas famílias.

Esta preocupação com o desconhe-cido está a assombrar a pesca, uma ac-tividade ancestral que já superou outraspandemias e inimigos invisíveis vê-seagora a braços com uma crise nova e di-ferente que acentua problemas antigos».

Do sector primário da actividade eco-nómica, regressamos ao terciário, maisconcretamente à área da restauração,com o depoimento de Jaime Maximia-no, revelador de sérias preocupações:

«O meu nome é Jaime Maximiano.Não nasci no Algarve, mas sou “al-

garvio” há quase 50 anos.

Sou sócio gerente do RestauranteAdega da Marina (em parceria) e dosRestaurantes Campimar (na Praia de »»

Antonio Protazio e Jaime Maximiano, na Adega da Marina (fotografia de arquivo do jornal Correio de Lagos)

O restaurante Adega da Marina, na Avenida dos Descobrimentos, em Lagos

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Em tempo de pandemiaA abrir / Tema de capa

»» Porto de Mós), D. Henrique e Giovan-ni, em Lagos, na Rua 25 de Abril.

Por segurança, devido ao COVID 19,encerrámos todos os estabelecimentosno dia 16 de Março.

Quero acreditar que esta crise é ape-nas mais uma batalha para ser vencida,mas não é fácil. Estou, naturalmente,

muito preocupado.Receio pelo futuro, pelo meu, o da mi-

nha família e especialmente pelo de qua-se cem colaboradores, cuja sustentabili-dade é o seu trabalho nos meus restau-rantes.

Receio também que o Verão do Al-garve esteja condenado, pois a restau-

Lagos agora. E o futuro?ração é uma área muito sensível e nãoestou a imaginar restaurantes cheios nospróximos tempos.

Os apoios financeiros que nos forampropostos, podem, se se concretizarem,servir para atenuar ou adiar a ruptura datesouraria das empresas, mas penso quenão resolvem o problema».

De acordo com os dados recolhidose processados pelo Instituto Nacional deEstatística (INE), em resposta ao inqué-rito realizado por esse organismo esta-tal, 83% os respondentes declararam queas restrições levadas a cabo no contextode estado de emergência tiveram «mui-to impacto» no seu ramo de actividade.

Rui Catarino, 55 anos, comercianteno ramo da ourivesaria, em Lagos, estáentre os que foram muito afectados pe-los efeitos da pandemia. O seu depoi-mento: «Neste momento tenho as lojas

encerradas por tempo indeterminado, de-vido a pandemia Covid-19, actualmentesem realizar receitas. As despesas sãodiárias e a situação vai apertando a cadadia que passa.

Nas crises, o sector é dos primeirosa sentir o impacto e das ultimas a deixarde senti-lo. Logicamente, com a quebrado poder de compra, o consumo vai des-tinar-se para os bens essenciais (SaúdeAlimentação e Educação), no final é queestão os chamados bens “supérfluos”(onde está o meu ramo).

Estou preocupado e aproveito estapausa para tentar estar muito atento àsmudanças para a elas responder da for-ma mais eficaz.

Até ao fim do ano, acho que devería-mos retomar o nosso quotidiano de umaforma muita lenta e cautelosa, após apermissão da abertura do comércio pe-las instâncias superiores, ainda que comas restrições para a segurança de todos.

Na minha opinião e se tudo correrbem, só no Verão de 2021 é que come-çará o inicio da retoma».

Rui Catarino, à porta da Ourivesaria Coimbra, de que é proprietário, na Rua Cândido dos Reis, em Lagos

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Em tempo de pandemia A abrir / Tema de capa

Lagos agora. E o futuro?

Nuno Marques, lacobrigense, urbanista, nosso colaborador desde 1995

Terminamos a nossa recolha de de-poimentos, de opiniões e de análises coma de Nuno Marques, colaborador daNova Costa de Oiro desde a sua primei-ra edição, em Outubro de 1995, e queestá agora de volta ao nosso convíviomensal, nesta que foi e que será semprea sua e a nossa «casa».

Na sua página de Facebook,intitulada «15 Segundos de Urbanismo»,Nuno Marques, em artigo intitulado «Queturismo na “Era das Pandemias”?»conduz-nos à necessária reflexão:

«A incerteza adensa-se. O Turismonão foge à regra. A corona-crise já obri-ga a hotelaria clássica a adaptações sig-nificativas. Tenderá a 'apartamentar-se'.

As pessoas continuarão a precaver-se. Formas de fazer turismo com mode-rado contacto social e maior autonomiainteressarão mais. Parece. E algum alo-jamento local não-hostel ou o auto-caravanismo poderão não perder tantocomo alguns vaticinam.

Os territórios de Turismo, esses, têmde procurar antecipar os efeitos destasmudanças. Inevitavelmente. Agora».

«15 Segundos de Urbanismo», pode ser acedido nesta ligação: https://www.facebook.com/15segundosdeurbanismo

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Nova Costa de Oiro - Maio de 2020 - 19Publicidade

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Celebra-se anualmente (em Portugal,em Liberdade e após a Revolução de 25de Abril de 1974), o 1º de Maio, o «Dia doTrabalhador». Esta efeméride evoca osacontecimentos que tiveram lugar na ci-dade de Chicago, nos Estados Unidos daAmérica, no 1º de Maio de 1886. Nessedia, mais de 500 mil trabalhadores saíram

1º de Maio - Dia do TrabalhadorEfeméride

Lagos, trabalhadores e trabalho

às ruas, numa manifestação pacífica, ereivindicaram a redução da jornada de tra-balho para 8 horas. Quando a polícia ten-tou dispersar essa manifestação, feriu ematou dezenas de operários.

Em 1841, a nível laboral, o municípiode Lagos era muito diferente do actual.

Recorrendo à «Corografia, ou Memó-

ria Económica, Estadística, e Tipográfi-ca do Reino do Algarve», de João Bap-tista da Silva Lopes, ficamos a saber que«as pescarias são o principal ramo de ri-queza desta cidade [...]», com poucomais de «400 marítimos matriculados».

«Os campos dos arredores desta ci-dade estão bem cultivados, cobertos »»

Almanchar - Secagem do figo Amendoeiras em flor

Malhando o milho - Lagos Uma tanoaria - Lagos

Carroça de recolha de dejectos - Lagos Carroça de aguadeiro - Lagos

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1º de Maio - Dia do Trabalhador Efeméride

»» de vinhas, figueiraes, e searas [...].Colhe cereaes e legumes de sobejo paraseu consumo, de sorte que exporta tri-go, cevada, favas e tremoços, assim desua produção [...]. O figo he um dos prin-cipais ramos da producção do seu terre-no; secca-se e exporta-se bastante, con-some-se muito na distillação para aguar-

dente [...]. Por todos estes respeitos rei-na alli a abastança; a classe mais pobrenão vê ali o rosto da fome; porque o mar,as praias, as rochas, e a terra lhe sub-ministrarão artigos, com que a pouco ounenhum custo se alimentão: peixe guapo,excelentes mariscos enterrados nas prai-as ou pegados ás rochas, hervas e

fructos em quantidade, milho, e principal-mente figos são deste número [...]».

As imagens acima retratam uma rea-lidade já pouco lembrada ou conhecidada larga maioria dos lacobrigenses. Sãodos tempos em os trabalhadores não ti-nham direitos, e em que era proibido ce-lebrar-se o «1º de Maio», o seu dia.

Lagos, trabalhadores e trabalho

Chegada de barco de pesca - Praia da Luz Barcos de pesca - Lagos

Descarga de peixe no Cais da Solaria - Lagos Fábrica de conservas de José d'Abreu Pimenta - Lagos

Fábrica de conservas da Ribeira - Lagos Greve vitoriosa das conserveiras (Lagos), Jornal Avante!

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Lagos ontem e hojeOlhares

Tanques de lavar em São João

Na entrada e saída de Lagos (paraquem vinha ou ia para norte), quase àsportas (Portelas) da cidade, existiram unstanques de lavar roupa. Neste local, nes-tes tanques públicos, dezenas de mulhe-res lavavam e secavam não só as suas

peças, como também as das suas clien-tes abastadas.

Quando terminavam esta árdua tare-fa, carregavam à cabeça as trouxas, quera caminho das suas casas, quer às dequem as tinha incumbido da lavagem.

Com a progressiva banalização dotanque de lavar individual e, mais tarde,das máquinas eléctricas de lavagem, estelocal deixou de ser utilizado, tendo sidoreconstruído em 2002, tal como se podetestemunhar na imagem inferior.

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Lagos ontem e hoje Olhares

O Jardim dos Amuados

Na actual Avenida dos Descobrimen-tos e em frente ao Mercado Municipal,em Lagos, existiu nos anos 40 do séculoXX um jardim, que era popularmente co-nhecido e denominado como «Jardim dosAmuados». Este espaço público da cida-

de ficou conhecido assim uma vez queos bancos ali colocados obrigavam aspessoas a sentar-se de costas umas paraas outras, como se tivessem problemasde relacionamento entre elas, ou, então,estivessem amuadas...

Em 1997, perto do Mercado Munici-pal, foi inaugurada uma escultura da au-toria de Xana (Alexandre Barata), conce-bido para homenagear os navegadoreslacobrigenses que iniciaram no século XVas viagens ao longo da costa africana.

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LacobrigensesGente da Nossa Terra

Se as águas da Ribeira de Bensafrime da Baía de Lagos são hoje um cenáriotranquilo para o lazer de muitos residen-tes e visitantes, nos tempos passados arealidade, porém, nem sempre se reveloutão pacífica. Portugal nasceu de armas namão e em diversas ocasiões da sua His-tória teve que defender e afirmar a suasoberania. A esse facto, acresceu o im-portante papel que, de uma forma maissubstancial, desempenhou a partir do Sé-culo XV, enquanto ponto de partida parao reconhecimento e descoberta de outrosterritórios, povos, civilizações, culturas emercados. Ora Lagos desempenhou umimportante papel nestas realidades, umavez que as suas condições naturais fize-ram com que alcançasse um estatuto deponto de apoio e de base de operaçõesmarítima de excelência. Complementar-mente, essa posição foi reforçada com oestabelecimento na cidade da sede docargo de Governador e Capitão-Generaldo Reino do Algarve. A partir de entãoLagos tornou-se um dos mais importan-tes centros militares do país.

No presente texto, destacaremos doishomens que exerceram essas funções ecuja obra evidenciou, de forma perfeita,o papel cumulativo que as acções huma-nas tiveram (e continuam a ter) no espa-ço e no tempo históricos. Graças à obraque um começou e que outro concluiu,temos o privilégio de usufruir de uma obrade fortificação que se impõe na paisagemribeirinha da cidade. Analisaremos, as-sim, as figuras do 2.º Conde de Sarze-das, do 2.º Marquês de Nisa e 6.º Condeda Vidigueira e uma importante obra queos uniu em termos de acção militar: oForte de Nossa Senhora da Penha deFrança, ou da Ponta da Bandeira, cujasorigens recuam ao Século XVII.

A história desta notável sentinela dabarra de Lagos, começou durante a go-vernação de D. Luís Lobo da Silveira(1640-1706). O 2.º Conde de Sarzedasexerceu as funções de Governador e Ca-pitão-General do Reino do Algarve entre

os anos de 1679 e 1683. Foi durante es-ses anos que o senhor de Sarzedas, deSobreira Formosa, Alcaide de Seia e ad-ministrador da Casa e das diversas co-mendas de que fora herdeiro mandou edi-ficar a fortificação. No curso da sua vida,o Conde de Sarzedas exerceu, ainda, ocargo de Vedor da Fazenda (1701) e fezparte dos Conselhos de Estado (1704) ede Guerra. Além de iniciar a construçãodeste forte, D. Luís da Silveira mandouedificar na cidade um armazém de armase foi, durante os anos de 1679 e 1682,

Provedor da Misericórdia de Lagos.Como se disse, foi D. Francisco Luís

Baltasar António da Gama (1636-1707),2.º Marquês de Nisa e 6.º Conde da Vidi-gueira, que concluiu as obras do Fortede Nossa Senhora da Penha de França(ou da Ponta da Bandeira). Este nobredestacou-se nas campanhas e opera-ções militares da Guerra da Restauração(1640-1668), tendo prestado socorro aÉvora (1663) e exercido o cargo de Ge-neral de Cavalaria na Beira. Exerceu ogoverno do Reino do Algarve entre os »»

D. Luís da Silveira, D. Francisco da Gamao Forte da Ponta da Bandeira e a defesa de Lagos

Duas imagens do Forte da Ponta da Bandeira (início século XX)

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Nova Costa de Oiro - Maio de 2020 - 25

Lacobrigenses Gente da Nossa Terra

»» anos de 1683 e 1692. Da sua acção,destacam-se a conclusão do forte a quenos referimos (em 1690), bem como al-gumas obras no Castelo e construção doCorpo da Guarda, em 1691.

A obra deste Marquês de Nisa – quefoi, ainda, Deputado da Junta dos TrêsEstados, Governador das Armas em Pe-niche (1701), Conselheiro de Guerra e deEstado (1704) – encontra-se bem atesta-da em duas belas obras escultóricas eepigráficas que podemos admirar em doisedifícios da cidade. Uma encontra-se nafachada, voltada à Messe Militar, do anti-go edifício da Vedoria (conhecido por Mer-cado de Escravos): uma Coroa Régia, como símbolo heráldico do Marquês e a refe-rência às obras que protagonizou. A outrasitua-se, precisamente, sobre a Porta deArmas do Forte da Ponta da Bandeira,onde se destaca o Brasão com as Armasda família Gama assentes sobre uma ân-

D. Luís da Silveira, D. Francisco da Gamao Forte da Ponta da Bandeira e a defesa de Lagos

cora, uma clara alusão à categoria de Al-mirante do Mar das Índias a que estavaassociado o Marquesado de Nisa e Con-dado da Vidigueira.

A construção desta fortaleza foi dirigi-da pelo Capitão de Engenharia IgnácioPereira, falecido em Lagos, em 1691. OForte, tal como a própria cidade que de-fendia, foi devastado pela acção do ma-remoto subsequente ao terramoto de 1 deNovembro de 1755. Sofreu obras em1762. Uma vez que as mesmas terão sidodemoradas, tal justifica a colocação deuma nova Pedra de Armas com a CoroaReal e uma cartela onde sobressai o títu-lo do Conde de Vale de Reis. Importa re-ferir que, efectivamente, D. Nuno José Ful-gêncio Agostinho João Nepomuceno deMendonça e Moura (1733-1799), 6.º Con-de de Vale de Reis exerceu as funções deGovernador e Capitão-General do Algar-ve, entre 1786 e 1795. Aliás, a escultura

O Forte da Ponta da Bandeira, visto da Avenida dos Descobrimentos (2020)

das Armas Reais é em tudo semelhante àPedra de Armas que encontramos no Hos-pital Militar (actual Messe), lavrada naépoca do seu governo (1794). Por outrolado, este Governador foi o responsávelpela elaboração de um levantamentoexaustivo de todas as Praças de Guerra,Fortalezas e Baterias do Reino, elabora-do pelo Tenente-Coronel José Sande deVasconcelos, em 1788.

Porém, uma fortificação nada é sema sua guarnição e artilharia. Em termosde espaço, ficamos a saber, pela Plantan.º 30 do trabalho de José Sande de Vas-concelos, que se compunha, no planotérreo, por uma ponte levadiça, pela en-trada, pelo corpo da guarda, pelo quar-tel, por uma cisterna arruinada, pela pri-são e pelos armazéns. No plano superi-or, cujo acesso era feito por escadas,encontrava-se a bateria, onde estavamdispostas as peças de artilharia que »»

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D. Luís da Silveira, D. Francisco da Gamao Forte da Ponta da Bandeira e a defesa de Lagos

LacobrigensesGente da Nossa Terra

Entrada do Forte da Ponta da Bandeira

Planta do Forte da Ponta da Bandeira»» defendiam a entrada da barra e pro-tegiam a navegação.

Vejamos, agora, quem guarneceu estenotável edifício militar e o material de guer-ra que o apetrechou, no Século XVIII.

Sabemos que no ano de 1762, o For-te de Nossa Senhora da Penha de Fran-ça foi guarnecido por 1 Oficial Subalter-no do Regimento de Artilharia e Marinhado Algarve, por 1 Sargento e 10 Solda-dos da mesma unidade militar. Dispunha,então, de 20 peças de artilharia, de bron-ze, de diversos calibres (40, 18, 16, 10,6, 2, 4 e 1). Tratavam-se de canhões, mei-os-canhões, quartos de canhão, oitavosde canhão e falconetes.

Anos depois, um inventário identifi-cou, em 1777, a existência de 15 bocas-de-fogo, 13 de bronze (calibres 24, 20,18, 16, 12 e 1,5) e 2 de ferro (calibre 18).Por sua vez, nos finais do Século XVIII,mais concretamente em 1796, o Fortedispunha de 14 peças de artilharia.

Além das suas funções de defesa, oForte da Ponta da Bandeira, como é co-nhecido ainda hoje, serviu, também, de pri-são. Tal situação ocorreu, por exemplo»»,

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Nova Costa de Oiro - Maio de 2020 - 27

D. Luís da Silveira, D. Francisco da Gamao Forte da Ponta da Bandeira e a defesa de Lagos

Lacobrigenses Gente da Nossa Terra

Fontes e Bibliografia: - “1755 – Terramoto no Algarve”, coordenação de Alexandre Costa e Maria da ConceiçãoAbreu, Faro, Centro Ciência Viva do Algarve, 2005. - BOTELHO, José Justino Teixeira,“Novos Subsídios para a História da Artilharia Portuguesa”, Volume II, Lisboa, Comissão deHistória Militar, 1948. - CALLIXTO, Carlos Pereira, “História das Fortificações Marítimas daPraça de Guerra de Lagos”, Lagos, Câmara Municipal de Lagos, 1992. - “Nobreza de Por-tugal e do Brasil”, direcção, coordenação e compilação de Afonso Eduardo Martins Zuquete,Volume III, Lisboa, Edições Zairol, Lda., 2000. - ROCHA, Manuel João Paulo, “Monografiade Lagos”, Faro, Algarve em Foco Editora, 1991. Fontes Digitais: - Biblioteca NacionalDigital: VASCONCELOS, José Sande de (1738-1808), “Mappa da configuração de todas aspraças, fortalezas e baterias do reyno do Algarve/Segundo a ordem do Ill.mo e Exm.º Se-nhor Conde D’ Val D’ Reis G[overnad]or e Capp[it]am General do mesmo Reyno; Feito peloTen[en]te Cor[on]el José d’Sande Vasco[ncelo]s. http://purl.pt/762 - http://fortalezas.org/index.php?ct=fortaleza&id_fortaleza=1330&muda_idioma=PT - https://geneall.net/pt/forum/15878/governadores-do-algarve-lista-nao-exaustiva/

Brasão no antigo edifício da Vedoria Brasão com as Armas da família Gama e a Cartela do Conde de Vale de Reis

»» por altura da 1.ª Guerra Civil portugue-sa, entre as forças liberais de D. Maria II eas forças absolutistas do Rei D. Miguel.

O Forte de Nossa Senhora da Penhada França e as suas muralhas conhece-ram novas alterações pelos inícios daDécada de 60 do Século XX, quando re-cebeu as guaritas nos seus cantos. Tes-temunhou a inauguração da Avenida daGuiné, da estátua em honra de Gil Ea-nes e as obras nas históricas Muralhasda cidade. Observou, também, a chega-da quotidiana do pescado e as inúmerasentradas e saídas das traineiras, gasoli-nas e botes que davam vida às águas eum colorido muito especial a Lagos e aesta faixa costeira. Hoje, recebe e acom-

panha os visitantes que dali obtêm umcenário idílico que abarca o grande arealda Meia Praia, a surpreendente Ria de

Alvor e a Barra de Portimão.Artur Vieira de Jesus,

Licenciado em História

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30 - Nova Costa de Oiro - Maio de 2020

Conhecer e visitar

Rua Maria Margarida Mesquita

A Rua Maria Margarida Mesquita temo seu início na Rua da Filarmónica 1º deMaio e o seu término na Avenida da Re-pública, na Urbanização CHESGAL, emLagos.

Maria Margarida da Conceição RosaCorreia de Mesquita, nasceu na Fregue-sia de S. Sebastião de Lagos, no dia 23de Outubro de 1932, filha de João Fran-cisco e de Laura da Conceição Rosa. Eracasada com o Professor Júlio Henriquede Jesus Correia de Mesquita. Faleceuem 15 de Maio de 1998.

Frequentou o Curso de “Costura eBordados” da Escola Industrial e Comer-cial de Lagos e o Curso de Auxiliar deEnfermagem, da Escola de Enfermagemda Casa de São Vicente de Paulo. Pos-teriormente, fez Formação ProfissionalComplementar, que lhe conferiu o títulode Enfermeira.

Trabalhou cinco anos no Hospital deSanta Maria, Serviço de Patologia-Cirúr-gica e depois transitou para a Clínica

Oftalmológica Dr. Henrique Moutinho,tendo por razões familiares, interrompi-do a sua actividade profissional durantesete anos. Posteriormente, ingressou noEnsino Secundário, como ProfessoraProvisória da disciplina de “Noções de Hi-

giene”, na Escola Industrial e Comercialde Lagos e em 1979, no Centro de Saú-de de Lagos.

Maria Margarida Mesquita, tambémparticipou na vida cívica e política da ci-dade. Sempre com o maior sentido da»»

Ruas da Nossa Terra

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Nova Costa de Oiro - Maio de 2020 - 31

Conhecer e visitar

Rua Maria Margarida Mesquita

»» responsabilidade e colaboração, de-sempenhou dignamente a defesa dos in-teresses dos mais desfavorecidos, comoMembro da Assembleia Municipal de La-gos e da Assembleia de Freguesia deSão Sebastião, Órgãos do Poder Localque lhe prestaram as suas homenagensaquando da sua morte.

Antes de morrer, em 15 de Maio de1998, Maria Margarida Mesquita numaanálise ao seu “Curriculum Vitae”, reviutoda uma vida passada e simultaneamen-te autoavaliou sentimentos, experiênci-as vividas e dificuldades, perguntando-se se teria valido a pena? «Pesados, ana-lisados e ponderados os dados propos-tos, uma resposta, que o meu subcons-ciente sempre reteve, sem dela me aper-ceber, surgiu clara e responsável: “SIM,VALEU A PENA! ”.

Toda uma vocação, desabrochada najuventude, toda uma satisfação de dar umpouco de mim para minimizar o sofrimen-to dos outros, e o balanço feito ao fim de

Ruas da Nossa Terra

um dia de trabalho e do dever cumprido,compensam larga e positivamente, coma paz interior sentida, o cansaço por ve-zes presente e logo esquecido».

A Câmara Municipal de Lagos, emreunião realizada no dia 7 de Fevereiro

de 2007, reconhecendo os méritos da En-fermeira Maria Margarida Mesquita, deli-berou atribuir o seu nome a uma Rua dacidade.

(texto de Silvestre Marchão Ferro)

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Para Pais e Filh@sActividades

Lagos em casa... com

Em período de confinamento e dedistanciamento social, o Município deLagos tem apresentado desafios paratoda a família, com o objectivo de incen-tivar os lacobrigenses a aproveitarem oseu tempo em casa.

Assim, a Câmara de Lagos convida:* as crianças a ilustrarem o seu dia-

a-dia: «Sabemos que os pequenos laco-brigenses são muito criativos e com umaenorme imaginação. Desafiamos os maisnovos a desenvolverem trabalhos artísti-cos acerca do seu dia-a-dia em casa».Os trabalhos digitalizados ou fotografa-dos podem ser enviados para o email

* a população a compor poemas:«Passar tempo em casa é propício a mo-mentos de introspecção que poderão seraproveitados para a escrita.

Deixe que a sua inspiração flua e com-ponha poemas sobre qualquer tema queache relevante».

* Fotografarem o seu dia em casa:«Neste período de quarentena, as redessociais tornaram-se numa plataforma re-

Desafios para toda a família:

cheada de fotografias criativas publica-das pelos seus utilizadores. Queremosver as fotografias dos nossos lacobrigen-ses e como estão a passar os seus dias.Certamente teremos boas surpresas»!

* Lagos em casa com... Música: Omunicípio uniu-se a vários artistas deLagos para lançar vídeos musicais na suapágina de Facebook, de forma a trans-mitir afectos, esperança, espírito positi-vo e alegria para todos, com as suasmensagens e vivências. Se é músico outem competências a este nível, fale con-nosco. Já estão disponíveis os trabalhosde Wesley Seme - Eu fico em casa, Plas-ticine - Tunataka Amani, Humberto Silva- Vai ficar tudo bem, Stacatto Limão -Besta, Gabriel Fialho - Foi Deus e MartaAlves - Amor a Portugal.

* Lagos em casa com... Humor:«Mostre o artista que há em si e envie-nos os seus trabalhos de cartoon humo-rístico no âmbito da Pandemia Covid-19.Este concurso de âmbito nacional visa pre-miar os mais criativos e originais artistas.

* Lagos em casa com... Leitura: « ABiblioteca Municipal seleccionou algunslivros para sugerir aos seus leitores nes-te período de confinamento. Convidamosa todos os munícipes que queiram parti-lhar connosco as suas sugestões de lei-tura e livros favoritos, contando um pou-co sobre os mesmos».

Os trabalhos podem ser enviadospara o email:

[email protected] o seu nome e localidade de

Lagos e colocando no assunto «A Câma-ra Convida» (o email não poderá exce-der os 9mb).

Os trabalhos de Ilustração, Poesia eFotografia serão utilizados e divulgadosúnica e exclusivamente na página deFacebook do município, no âmbito dasactividades promovidas durante o perío-do de isolamento, resultante do vírusCovid-19. Mais informação aqui:

h t t p s : / / w w w . c m - l a g o s . p t /municipio/covid-19/255-a-camara-con-vida/7908-a-camara-convida-a

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Coleccionar é aprender... Coleccionismo

Missionários nos Himalaias

Email de contacto:[email protected]

«Os nossos objectivos são a pro-moção e dinamização do coleccionis-mo em todas as vertentes.

Organizamos Encontros todos os2ºs Domingos do mês, para trocas».

Esta Associação tem página noFacebook, que pode ser acedida clican-do na ligação abaixo:

https://www.facebook.com/pg/As-sociação-Filatética-e-Numismática-Gil-Eanes-Lagos-299499500752800/

Portugal nas moedas do Mundo:

Sobre a terra e sobre o mar, a epo-peia d’Os Descobrimentos marcou cate-goricamente a nação portuguesa e tudoaquilo que esta representa.

Mas acima de tudo, o grande méritodos portugueses daquele tempo, mesmosem terem noção disso, foi a instituiçãoda “Aldeia Global”: uma união de bensculturais, saberes, símbolos, linguagense significados que modificaram para sem-pre a nossa forma de estar no mundo, onosso pensamento.

O missionário jesuíta João Cabral, na-tural de Celorico da Beira, foi um dessesportugueses que fez do mundo casa,aventurando-se na mais alta cadeia mon-tanhosa do mundo, os Himalaias, junta-mente com Estêvão Cacella. Foram, ali-ás, os primeiros europeus a entrar noButão, em 1627, no Nepal, Tibete Cen-tral, Ladaque e no Reino de Siquim, dei-xando-nos admiráveis registos das suasviagens pelo “Reino do Potente”.

Para perpetuar a façanha destes por-tugueses, o Reino do Butão encomen-

dou à The Royal Mint a cunhagem de10.000 exemplares de uma moeda deprata PROOF (39mm; 31.45g), com va-lor facial de 300 Ngultruns, a unidademonetária do Butão.

O anverso apresenta o emblema doButão, composto por um duplo diaman-te-raio (vajra) colocado acima de um loto,encimado por uma jóia e ladeado por doisdragões. Na orla inscreve-se a legenda“KINGDOM OF BHUTAN”, em inglês e noalfabeto tibetano, bem com o ano deemissão, 1994.

O reverso mostra em primeiro planoJoão Cabral, no cimo de um cume, apoi-ado num cajado e devidamente identifi-cado pela inscrição “JOAO CABRAL1599-1669”. Atrás deste vê-se um segun-do missionário e um iaque, animal nativodo planalto tibetano. Ao fundo um mos-teiro Chagri e no exergo o valor facial cir-cunscrito por um friso.

Associação Filatélica eNumismática Gil Eanes - Lagos

Carlos Pernas

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O imprevisto aconteceu e...Memória

José Francisco Rosa

A Nova Costa de Oiro tem o grato pra-zer e a honra de publicar em exclusivoalgumas memórias de um lacobrigensede 96 anos, compiladas em trabalho decirculação restrita. Este é um revisitar deLagos em décadas passadas, de traqui-nices e tropelias. Mas, e acima de tudo,é um importante registo hisórico, quepode e deve servir para memória futura.

O seu autor é José Francisco Rosa,nascido em Lagos, a 21 de Fevereiro de1924 e que completou os seus estudosem Lisboa, tendo ingressado no ensinoaos 20 anos, como Mestre do Ensino Téc-nico Profissional.

A cabra-mocha…O imprevisto aconteceu, porque ele a cabra incitou,

pulou, marrou, ele numa posição crítica ficou e...

O quintal da casa onde vivia possuíaum telheiro que servia de redil, para umrebanho de cabras pernoitar depois de

regressar à tardinha do pasto.O cabreiro (pastor) deixava-as lá de

manhã, antes de sair com o rebanho

para o campo, para pastarem, mugia-as e ia levar o leite, que vendia às suasfreguesas. »»

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O imprevisto aconteceu e... Memória

A cabra-mocha…O imprevisto aconteceu, porque ele a cabra incitou,

pulou, marrou, ele numa posição crítica ficou e...

»» Como o miúdo tinha acesso ao quin-tal, um dia foi ver as cabras que ainda seencontravam no telheiro e reparou queuma delas não tinha chifres e, aquilo, fez-lhe confusão.

Era uma cabra-mocha e ficou amatutar se aquelas cabras sem chifrestambém marravam. Interrogava-se lápara com ele… Será que marram?… Ounão marram?…

Pensou em experimentar e se o pen-sou mais depressa fez a experiência.

Dirigiu-se para a cabra e, com asmãos bem abertas, na direcção da ca-beça incitando-a, avançando e recuan-do, tal e qual os forcados nas touradas.

Tanto insistiu que o imprevisto acon-teceu e…

É que a cabra-mocha não foi de mo-das e, lá para com ela, pensou: queresfesta? Então toma lá!… Empinou-se naspatas traseiras, deu um pulo para a fren-te e, com a cabeça, atingiu o rapazinhona barriga, sendo este atirado ao ar, ca-indo de cangalhas, batendo com o cu nochão no interior de uma pequena arma-ção de madeira colocado na parede doprédio (ver ilustração), onde o seu pro-prietário colocava um cântaro de barro,que enchia de dejectos da fossa paraadubar as suas terras de cultura. Por si-nal, nesse dia, o cântaro não se encon-trava lá colocado...

Bastante combalido com a pancadaque a cabra lhe deu, procurava sair doespaço acanhado onde tinha caído, o que

a muito custo conseguiu. Muito dorido,dirigiu-se para sua casa, subindo as es-cadas das traseiras, convencido já queas cabras-mochas, apesar de não pos-suírem chifres, também marram.

Entrou e, sem dar conhecimento àmãe do que se tinha passado, foi sentar-se na cadeira de verga que se encontra-va junto à janela da sala, pois além deestar dorido também estava envergonha-do com o sucedido.

Passado algum tempo, já refeito, foibuscar o seu livro de aventuras predilec-to: Sandokan, o Tigre da Malásia, deEmilio Salgari.

Mas, enquanto lia, a cabra-mochanão lhe saía da cabeça…José Francisco Rosa (memória/1935)

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Receitas com enlatadosGastronomias Clube das cosmiquices

Até há cerca de 10 mil anos (o cha-mado período Neolítico, ou da «pedrapolida»), a alimentação humana consis-tia exclusivamente de alimentos frescos.

Com a domesticação de animais e oaparecimento da agricultura, o Homemfixou-se nos diferentes territórios e obte-ve excedentes de vários produtos alimen-tares. Daí que, ao longo do tempo, tenhaprocurado diversas formas e métodos depreservar a sua comida, seja no gelo daterra dos países e locais onde ocorreneve, seja com o recurso ao fogo (defu-mar), ao Sol (secar), ou com sal (salga).

O Homem também começou a utili-zar recipientes, neles envolvendo os ali-mentos em substâncias protectoras epreservadoras como a argila, o mel, oazeite, o vinho, o vinagre e as gordurasvegetais e animais.

Os romanos, que ocuparam o territó-rio que hoje conhecemos como Lagos,criaram aqui diversas unidades fabriscom salgadeiras de preparados piscíco-

las (cetárias), que daí eram enviados parao seu Império.

No início do século 19, Nicolas Appert(1749-1841), desenvolveu um processoque não era baseado em fenómenos na-turais já conhecidos, mas utilizando reci-pientes que vedavam a entrada de ar. Erao início dos alimentos enlatados, hoje ba-nais e banalizados...

Nesta edição, trazemos «Receitascom enlatados - Alimentação Saudávelem Tempos de Isolamento à Base deConservas de Pescado e Leguminosas»,nome do manual recentemente editadopela Direcção-Geral de Saúde (DGS),que explica e ensina a confeccionar ali-mentos preservados em embalagens delata.

Almôndegas de atum, caldeirada decavala em tomate e brigadeiro de sardi-nha e broa são algumas das receitas quese podem encontrar neste documentosobre alimentação saudável em temposde confinamento social à base de con-

servas de pescado e leguminosas.Foi elaborado pelo Programa Nacio-

nal para a Promoção da AlimentaçãoSaudável (PNPAS) e pela Estratégia In-tegrada para a Promoção da Alimenta-ção Saudável (EIPAS), tendo contadocom a colaboração do Chefe Fábio Ber-nardino. São apresentadas «dezenas dereceitas saudáveis, saborosas, rápidas efáceis de preparar e ao mesmo tempo“sofisticadas”, mostrando a grande diver-sidade de pratos que é possível fazer comestes produtos.

Numa altura em que, devido à pan-demia de COVID-19, os portugueses fa-zem compras mais espaçadas, os enla-tados voltam a ter uma grande importân-cia na nossa alimentação», declaram osresponsáveis por esta edição.

O PDF pode ser descarregado aqui:https://www.dgs.pt/documentos-e-

publicacoes/receitas-com-enlatados-pdf.aspx

Epicuro

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Nova Costa de Oiro - Maio de 2020 - 39Leituras

Cem anos de IndústriaConserveira em Lagos

O livro «Cem anos de Indústria Con-serveira em Lagos - a memória em ima-gens», da autoria de Francisco Castelo /Fototeca Municipal de Lagos, foi apresen-tado no 1º Congresso da Associação deMunicípios «Terras do Infante», em Mar-ço de 2019, e é uma «súmula das empre-sas de conservas de peixe e da distribui-ção das suas unidades fabris no territóriodo município de Lagos, recorrendo ao au-xílio de imagens. Dessa proliferação deempresas e fábricas se extrai uma provada importância económica e social destaindústria, no decurso de um período rela-tivamente recente da história de Lagos».

Neste documento, que pode ser des-carregado em formato PDF através daligação que disponibilizamos abaixo, oautor começa por evocar a ligação da ci-dade com a preparação de pescado, des-de o período romano, até aos nossosdias, em que «Desaparecidas as fábri-cas de outrora restam-nos as memóriasde uma indústria condenada pela mar-cha do tempo e pela ausência de planifi-cação e modernização; e os seus últimostestemunhos materiais, as chaminés,imponentes estruturas que outrora expe-

liam fumos que riscavam os céus, e quehoje albergam emblemáticos inquilinosalados».

O autor recorda que «A indústria con-serveira algarvia atingiu o seu apogeu emmeados do século XX. Em 1945 existi-am 246 unidades fabris no Algarve», es-clarecendo que «O declínio desta activi-dade resultou, em grande parte, da con-corrência marroquina. Os franceses es-tabelecidos em Marrocos, onde os cus-tos de mão-de-obra eram baixíssimos, to-maram muitos dos mercados anterior-

mente ocupados pela nossa indústriaconserveira».

Profusamente ilustrado, de leitura fá-cil, «Cem anos de Indústria Conserveiraem Lagos - a memória em imagens» éum trabalho de levantamento exaustivoe rigoroso, merecedor de leitura atenta eimprescindível para se conhecer maissobre a realidade sócio-laboral de Lagose a sua história.

Descarregar o documento aqui:https://www.cm-lagos.pt/municipio/noticias/download/11300/6882/104

A memória em imagens

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40 - Nova Costa de Oiro - Maio de 2020Músicas

My Dance / My ChartsMuita música no Facebook e no Spotify

Em período de confinamento obriga-tório, o lacobrigense António Pereira (co-nhecido por Toy), decidiu criar um grupono Facebook, a que chamou «My Dance/ My Charts).

Todos os dias, os membros do gruposão convidados a partilharem até 5 mú-sicas, segundo um tema proposto. Estetanto pode ser livre, ou ser de um estilomusical específico, como blues, countrye folk, hip pop, acid jazz ou electrónica,por exemplo.

Contando actualmente com mais de300 membros activos, esta iniciativa ul-trapassou largamente todas e quaisquerexpectativas do fundador aquando dacriação deste grupo. «Mas o mérito nãoé só meu e tenho de o partilhar com aequipa de moderadores, sem os quais jánão seria possível aguentar o barco ecom todos os membros que com a quali-dade dos seus posts contribuem diaria-

mente para que o grupo seja um lugarinteressante para se passar algum tem-po diário, tão útil neste período de confi-namento obrigatório», constatou AntónioPereira.

Este grupo de amantes da músicapode ser encontrado e acedido em pes-quisa no Spotify Free, ou nesta ligação:

https://www.facebook.com/groups/782730455553010/

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Nova Costa de Oiro - Maio de 2020 - 41

A nossa música no SPOTIFYMúsicas

01 – Hino da CGTP Intersindical – Vários02 – For mir Arois – Marc Oreget03 – The Red Flag – Labour Chorus04 – The Watchword of Labour – Irish Transport General Worker’s Unite05 – There is Power in a Union – Billy Bragg06 – Working Man Unite – Joe Glazer07 – If I Had a Hammer – Pete Seeger08 – This Land is Our Land – Woody Guthrie09 – Solidarity Forever – Pete Seeger10 – We Shall Overcome – Pete Seeger11 – Le Chant des Partisans – Chorale Révolutionnaire12 – Le Chant des Partisans – Yves Montand13 – Song of the French Partisan – Buffie Sainte Marie14 – Le Chant des Partisans – The Red Army Choir15 – Fischia il Vento – Gruppo Folk Italiano16 – Bella Ciao – Giorgio Gaber17 – Bella Ciao – The Red Army Choir18 – Bandiera Rossa – Artisti per l’italia19 – The Partisans – Miki Theodorakis20 – The Partisan – Leonard Cohen21 – Manobras de Maio 06 – Dead Combo22 – A Cor do Maio – Sétima Legião23 – Aí ven o Maio – SonDeSeu24 – Maio Maduro Maio – Carlos Martins25 – Maio Maduro Maio – Couple Coffee26 – Maio Maduro Maio – Coro Académico da Universidade do Minho27 – Maio de 78 – Cordis28 – 1º de Maio – Pedro Barroso29 – 1º de Maio – José Mário Branco30 – A Internacional – Mário Laginha e Bernardo Sassetti31 – The International – Billy Bragg

A playlist da Nova Costa de OiroMaio de 2020

Assinala-se a 1 de Maio o Dia Interna-cional do Trabalhador, que visa homena-gear e recordar os acontecimentos domesmo dia do ano de 1886, quando umagreve na cidade norte-americana de Chi-cago, com o objectivo de conquistar con-dições melhores condições laborais foi re-primida violentamente, com prisões emortes de trabalhadores. Não obstantealguns retrocessos havidos não só emPortugal como noutros países, parte sig-nificativa dos trabalhadores de todo o mun-do conquistou direitos. E, nessa luta, ossindicatos também tiveram o apoio damúsica e dos músicos, que trazemos aqui.

Na Europa, a II Guerra Mundial che-gou ao fim em Maio de 1945, com a ca-pitulação da Alemanha à União Soviéti-ca (em 09 desse mês).

Em solo europeu, as acções de gru-pos de guerrilha ou de resistência foramdeterminantes para derrubar o regimenazista alemão e o fascista italiano. E tra-zemos a esta lista algumas das cançõesque recordam os homens e as mulheresque em França, na Itália, na Grécia, quena noite tudo fizeram para que viesse aluz do dia da Liberdade: «Ohé,partisans, ouvriers et paysans, c'estl'alarme. [...] Chantez, compagnons,dans la nuit la Liberté vous écoute»...

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42 - Nova Costa de Oiro - Maio de 2020

Em Junhona Nova Costa de Oiro

Na próxima edição...

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Assinala-se a 30 de Junho «O DiaMundial das Redes Sociais», uma cria-ção do site Mashable, em 2010.

Esta é uma forma de reconhecer aimportância da revolução comunicacio-nal que decorreu da criação de váriasredes sociais utilizadas por milhões depessoas de todo o Mundo

O dia é comemorado com a organi-zação de encontros informais de pesso-as de todo o mundo por meios tecnológi-cos ou presencialmente. Alguns eventossão transmitidos online e em directo e sãoabertos a todos, para tornar a data ver-dadeiramente social. O destaque dosencontros vai para a partilha de conheci-mentos sobre as áreas transversais àsredes sociais e as suas especificidades.

Presidentes de repúblicas, governos,autarquias locais e empresas reconhe-ceram a importância das redes sociais eutilizam-nas regularmente, bem como ci-dadãos comuns. Por essas plataformastrocam-se informações e por elas tam-bém se recebem críticas, sugestões, ouofertas de emprego.

E como é Lagos na grande «teia»mundial da comunicação virtual (a WorldWide Web - WWW)? Vamos ver...

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