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7/21/2019 Nazare Informa 4 http://slidepdf.com/reader/full/nazare-informa-4 1/55 nazaré  in forma REVISTA DE INFORMAÇÃO MUNICIPAL OUTUBRO 2005 NÚMERO 4 Distribuição gratuita INFO MAIL 2450 Nazaré Taxa Paga  A APANHA DA PÊRA fotoreportagem 3 de Setembro, o FERIADO que a memória apagou «Queríamos, através do ensino, fazer uma  transformação da vida e da própria Nazaré» Entrevista Drª. MANUELA SOARES VEADOS REGRESSAM AO PINHAL DE N. SRA. DA NAZARÉ A HERANÇA DOS MONGES DE CISTER Valado dos Frades

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nazaré informaREVISTA DE INFORMAÇÃO MUNICIPAL 

OUTUBRO 2005

NÚMERO 4Distribuição gratuitaINFO MAIL 2450 Nazaré Taxa Paga

 A APANHA DA PÊRA fotoreportagem

3 de Setembro,o FERIADO que a memória apagou

«Queríamos, atravésdo ensino, fazer uma

 transformação da vidae da própria Nazaré»

Entrevista Drª. MANUELA SOARES VEADOS REGRESSAM AO PINHAL DE N. SRA. DA NAZARÉ

A HERANÇA DOS MONGES DE CISTER Valado dos Frades

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04 FOTOREPORTAGEM

A apanha da pêra.A apanha da pêra.A apanha da pêra.A apanha da pêra.A apanha da pêra.

09 DOSSIER  AGRICULTURA NO CONCELHO DA

NAZARÉ.

17 CRÓNICA CULTO DA MEMÓRIA OU CELEBRA-ÇÃO DO EFÉMERO?, por José Raimundo Noras .

18 PATRIMÓNIO  HISTÓRICO O feriadoO feriadoO feriadoO feriadoO feriadoque a memória apagouque a memória apagouque a memória apagouque a memória apagouque a memória apagou , por 

Mónica Maurício.

22 ENTREVISTA MANUELA SOARES, veterinária e

directora do Externato D. Fuas Roupinho.

25 NAZARÉ UM CONCELHO DE FUTURO.

28 AMBIENTE ESPÉCIES VEGETAIS  INVASORAS, por 

Susana Poças.

30  PATRIMÓNIO NATURAL Um passeioUm passeioUm passeioUm passeioUm passeiopelas estórias das rochas.pelas estórias das rochas.pelas estórias das rochas.pelas estórias das rochas.pelas estórias das rochas.

SUMÁRIO2020202020

nazaré informa

Revista Mensalnúmero 4 - Outubro de 2005info mail distribuição gratuitadepósito legal 229236/05

[email protected]

DIRECÇÃO Engº. Jorge Codinha AntunesBarroso COORDENAÇÃO EDITORIAL Ana

Pouseiro GRAFISMO Ana Pouseiro e SóniaTiago FOTOGRAFIA António Balau([email protected]), Vitor Estrelinha([email protected]), arquivo CMNIMPRESSÃO HESKA Portuguesa, SA, SintraTIRAGEM 7.000 exemplares.

COLABORAM NESTA EDIÇÃO Ana Mª.Arsénio, Carla Maurício([email protected]),Carlos Filipe,Delfim Mateus, José Raimundo Noras([email protected]), José Soares, JúlioEstrelinha ([email protected]), MªLaura Anastácio ([email protected]),Mónica Maurício ([email protected]),

Reinaldo Silva, Susana Poças.

EDIÇÃO E PROPRIEDADEMunicípio da Nazaré - Câmara MunicipalAv. Vieira Guimarães, 54 - 2450 NazaréTelf.262 550 010 Fax 262 550 [email protected]

NO PRÓXIMO NÚMEROFOTOREPORTAGEM: “PÁTIOS DA NAZARÉ”HISTORIAL DA MEIA MARATONA DA NAZARÉ

VALADO DOS FRADES: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

  ASCENSOR

DA  NAZARÉ

1313131313 HERANÇA DOS MONGES DE CISTER

4747474747NAZARÉ EM FESTA

2626262626BIVALVES

A CHUVA QUE ME MOLHA

DEIXA-TE SECA!, por Júlio Estrelinha

5454545454

33 BIODIVERSIDADE  Veados regres-Veados regres-Veados regres-Veados regres-Veados regres-sam ao pinhal do Sítio dasam ao pinhal do Sítio dasam ao pinhal do Sítio dasam ao pinhal do Sítio dasam ao pinhal do Sítio daNazaré.Nazaré.Nazaré.Nazaré.Nazaré.

36 REQUALIFICAÇÃO NOVA VIDA PARA OPARQUE DA PEDRALVA.

38 PLANEAMENTO AGENDA XXI LOCAL.

40 DESPORTO MUNICÍPIO DA NAZARÉ PREMIADO.

42 CULTURA CÂNDIDO FERREIIRA, ACTOR .

44 UM SIGNIFICANTE ELEMENTAR, por José Soares.

45  CRÓNICA “A nossa viagem“A nossa viagem“A nossa viagem“A nossa viagem“A nossa viagema Kandersteg”a Kandersteg”a Kandersteg”a Kandersteg”a Kandersteg”, por Delfim Mateus,

Secretário do Agrupamento de Escuteiros de Famalicão.

50  Verão Musical noVerão Musical noVerão Musical noVerão Musical noVerão Musical noParque Atlântico.Parque Atlântico.Parque Atlântico.Parque Atlântico.Parque Atlântico.

55 O CARTOON DE... Carlos Filipe.

foto de capa: Vítor Estrelinha

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EDITORIAL

Após um intervalo maior que o normal, aqui está o nº 4 de Nazaré Informa.

Este é um projecto que, como todos os bons projectos, deve ser sempre melhorado e não se deveperder; pelo contrário, deve merecer a especial atenção e participação de todos.

Por motivos de defesa da revista Nazaré Informa, optei por só agora lançar a edição que deveria sair noprincípio de Outubro.Possivelmente perder-se-á um número, mas não corremos o risco de, em pleno período de eleições,fazer passar este novo projecto pela máquina trituradora da campanha eleitoral. Desta forma, perdeu-se talvez um número, mas ganhou-se a revista e um projecto que, mais do que uma edição autárquica,é um projecto de todos.Longe vai - e espero que não volte – o tempo em que os Boletins Municipais eram usados como uminstrumento de pressão eleitoral. Aproveitava-se então aquela margem sempre subjectiva de interpre-tação entre o direito à informação e o dever de informar.Este projecto é mais do que isso. É, acima de tudo, um acto de reforço de cidadania quando pretende

tornar acessível a todos, os estudos e projectos em curso, ao mesmo tempo que os relaciona com arealidade do nosso concelho.Assim, iremos em cada edição procurar tornar de todos o que de melhor temos no concelho, em cada

um dos lugares e em cada uma das pessoas, com as suas histórias e experi-ências de vida. Actividades e assuntos não faltam.

Espero que continuem a gostar da revista Nazaré Informa como até à presentedata, como testemunham as palavras e opiniões que têm chegado até nós.Mas seguramente poderá melhorar, através do seu contributo, de forma aque, todos juntos, possamos também construir um melhor veículo de infor-mação.

O Presidente da Câmara Municipal da Nazaré

 Jorge Codinha Antunes Barroso

ESTE PROJECTO É MAIS DO QUE

ISSO. É, ACIMA DE TUDO, UM

ACTO DE REFORÇO DE CIDADANIA

QUANDO PRETENDE TORNAR ACES-

SÍVEL A TODOS, OS ESTUDOS E

PROJECTOS EM CURSO, AO MESMO

TEMPO QUE OS RELACIONA COM A

REALIDADE DO NOSSO CONCELHO.

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Um dia na apanha

da pêra

outubro 2005   nazaré  informa

A fruticultura é uma das principais actividades agrícolas no concelho da Nazaré,sobretudo nas freguesias de Famalicão e Valado dos Frades. A maçã e a pêra,introduzidas na região pelos monges de Cister, são as principais culturas produzi-das, com grande procura nos mercados consumidores nacionais e internacionais.A apanha da fruta é, sem dúvida, a fase mais emblemática do processo produtivo.

É este o momento em que se colhe o fruto do labor de toda uma época. Omomento em que se justifica o esforço, o investimento e o sacrifício. E o momentoda esperança de bons proveitos e um melhor futuro para a vida do campo.Uma reportagem fotográfica de VÍTOR ESTRELINHA

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nazaré  informa outubro 2005

fotoreportagem   07

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outubro 2005   nazaré  informa

A época da apanha da fruta representa o cul-

minar de um ano de trabalho no terreno. Nes-

ta altura, os campos animam-se, ganham nova

vida. Muitas pessoas que não fazem da agricul-

tura o seu modo de subsistência aproveitam a

época da apanha da fruta para ganharem uns

“trocos” extra. Num sector em que a mão-de-

obra escasseia ano após ano, estes trabalhado-

res sazonais são essenciais para o produtor.

Nestes rituais da subida à árvore, estender a

mão para apanhar a fruta e colocá-la nos ces-

tos, há também tempos de convívio e de troca

de experiências.

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 A agriculturano concelho da Nazaré

TextoANA POUSEIRO

FotografiaVITOR ESTRELINHA

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10 agricultura

(*) Fonte: Instituto Nacional de Estatística. Recenseamento Geral da Agricultura, 1999.

Oconcelho da Nazaré temcomo principal referência omar, enquanto base de sus- tentação de uma economia

piscatória, por um lado, e turística, por outro.Contudo, as vagas do mar encontram pa-ralelo nos sulcos da terra que, ao longo deséculos, foi cultivada por gerações de cam-poneses. Desde os primórdios da nacio-nalidade e até 1834, data da extinção dasordens religiosas em Portugal, as terras quehoje englobam o município da Nazaré in- tegravam as extensas propriedades agrí-

colas do Mosteiro de Alcobaça. Valadodos Frades estava no centro desta intensaactividade, liderada pelos monges brancosde Cister que conquistaram férteis terre-nos às margens pantanosas da Lagoa daPederneira e criaram, na Quinta do Cam-po, a primeira escola agrícola implantadaem Portugal [ver artigo nesta revista].Extinta a Ordem de Cister, no segundoquartel do século XIX, as propriedadesforam adquiridas por particulares, inician-do um novo ciclo na exploração agrícola.

Contudo, a dimensão das propriedadesfoi progressivamente diminuindo. As alte-rações legislativas do Liberalismo tiveramconsequências sobre o regime de herança,com a partilha dos bens por todos osherdeiros e não apenas o filho primogéni- to. Assim, o sistema latifundiário foi dando

lugar ao minifúndio que hoje caracteriza anossa paisagem rural.Apesar da pequena dimensão das explo-rações, a agricultura continua a ser umaactividade importante no tecido económi-co do concelho da Nazaré. Segundo da-dos do Instituto Nacional de Estatística (*),a taxa de população activa neste sector éde 6,5%, um valor significativamente acimada média nacional, que ronda os 4%.Famalicão é a freguesia onde a percenta-gem de pessoas que fazem da agriculturaa sua actividade principal é maior: 22%. Em

Valado dos Frades, a população agrícola éde 13,7% e, na freguesia da Nazaré, ape-nas de 1,6%.De acordo com a mesma fonte, Valadodos Frades é a freguesia que maior su-perfície agrícola utilizada apresenta, relati-vamente à área total, com 720 hectaresde cultivo. Desta área, quase 70% respei-

 ta a explorações por conta própria e 27%a situações de exploração por arrenda-mento. Em Famalicão, a superfície agríco-la utilizada é de cerca de 300 hectares e,na freguesia da Nazaré, apenas 83 hecta-res são dedicados à utilização agrícola.Estes números demonstram a existênciade diferenças – ainda que subtis – entrea agricultura praticada nas freguesias deFamalicão e de Valado dos Frades. Ape-sar da taxa de população activa no sec- tor ser inferior em Valado dos Frades, aárea afecta à produção agrícola é mais do

dobro da registada em Famalicão, o queindica a existência, nesta freguesia, de umaagricultura de características empresariais,com explorações de maior dimensão emecanizada. Em Famalicão, a agriculturapraticada apresenta características maispróximas de uma realidade rural de pro-dução própria, para auto-consumo e para

FAMALICÃO NAZARÉ V. FRADES

População agrícola (indivíduos) 369 163 455Superfície agrícola utilizada(SAU) 297 ha 83 ha 720 haSAU por conta própria 174 ha 60 ha 495 haSAU – arrendamento 64 ha 22 ha 194 haSuperfície agrícola não utilizada 38 ha 6 ha 22 ha

OS NÚMEROS DA AGRICULTURA NO CONCELHO DA NAZARÉ

VALADO DOS FRADESHÁ CERCA DE 30 ANOS.Os agricultores de Valado dos Fra-

des deslocavam-se aos rios paralavar toda a sua produção de ce-noura, antes de serem transporta-das para os mercados.

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venda nos mercados de proximidade. Aocontrário, grande parte da produção agrí-cola em Valado dos Frades destina-se aosmercados abastecedores exteriores.Paralelamente a este cenário, em que aagricultura é a principal fonte de subsistên-cia de parte significativa da população doconcelho, existe um outro, tão próprio donosso meio rural: o do cultivo da terra comoactividade complementar na economiadoméstica ou ocupação do tempo, comumentre os cidadãos mais idosos.

Hortofrades dá a conhecer cenourade Valado dos Frades à EuropaComo referido anteriormente, o sector agrícola no concelho caracteriza-se essen-cialmente pelo predomínio da pequenapropriedade, explorada pelo proprietárioe sua família e cuja produção se destinaaos mercados abastecedores locais.Contudo, existem no concelho algumasempresas que se têm destacado por con-ferir à actividade agrícola uma vertentede empresarialização e, até, de inovação.É este o caso da Hortofrades, em Valadodos Frades, que se dedica à distribuiçãoe comercialização de produtos agrícolas,sobretudo cenoura (que representa amaior percentagem) e batata.Nascida há cerca de 8 anos como umasociedade de agricultura de grupo, hoje éconstituída por três firmas distintas, com23 postos de trabalho e uma produçãoanual de 10.000 toneladas/ano, destina-da às grandes cadeias de distribuição ali-mentar nacionais e à exportação.

Segundo Mário Monteiro, um dos quatrosócios da Hortofrades, a empresa trabalhacom dezenas de agricultores locais e deoutras regiões do País, em sistema de pro-

dução acompanhada, fornecendo semen- tes e fazendo o acompanhamento técnicodos campos. Nas suas instalações deValado dos Frades, a empresa procede à

normalização, embalagem e comercializaçãodos produtos, contando, para tal, com umafirma própria de transporte.«A cenoura é sem dúvida o nosso princi-pal produto, mas estamos a apostar nabatata e na cebola. Actualmente repre-sentam apenas 10 por cento das vendas,mas são produtos em crescimento e dealto valor», explica Mário Monteiro. Con- tudo, a Hortofrades procura também al-guma diversificação de produção, nome-adamente através da exportação de cou-

ve-coração e lombardos durante os me-ses de Inverno, para alguns mercados daEuropa Central, especialmente França.Os principais clientes da Hortofrades sãoas grandes cadeias de distribuição alimen- tar: Pingo Doce, Recheio, Feira Nova e Lidl.No último ano, a empresa começou a abas- tecer também as cadeias “Minipreço” e“Dia”. A exportação é a aposta seguinte.«Se as coisas continuarem a correr bem,começaremos a fornecer Espanha», ex-plica Mário Monteiro. Um passo natural,dado que a empresa já possui em Espanhauma presença comercial. Recentemente,foram também encetados contactos coma Alemanha.A maior parte da cenoura comercializadapela Hortofrades é produzida na zona doRibatejo, em particular Almeirim. Isto por-que aí existem as grandes áreas agrícolas,reduzindo, assim, os custos de produção.No entanto, o empresário reconhece queesse produto é diferente da cenoura deValado dos Frades. «O sabor e o valor proteico é muito superior na cenoura da

nossa região», explica. «Os ingleses, por exemplo, não querem outra cenoura quenão a do Valado. Por isso, a nossa cenouraé destinada à exportação, porque tem um

valor competitivo muito acrescido».Em consequência deste valor, aHortofrades tem como um dos principaisobjectivos futuros aumentar a área de

cultivo de cenoura nos campos de Valadodos Frades, na medida em que a áreaactual não é suficiente para corresponder a um mercado cheio de apetência peloproduto. «Neste momento, e dado es- tarmos a obter bons resultados, vamosprocurar incentivar as pessoas do Valadoa cultivar cenoura», refere Mário Monteiro.«O Valado tem um nome que nunca seperdeu e temos muito boas expectativaspara os próximos anos relativamente aeste produto. É também uma boa apos-

 ta para os produtores», acrescenta. «Ape-sar de haver muitos terrenos despreza-dos, acredito que ainda há muitos jovensno Valado que podem ser incentivados aproduzir. Hoje há maquinaria e tecnologianova, a agricultura já não é como há duasou três décadas atrás. Nós próprios te-mos a tecnologia necessária para prestar apoio aos produtores».Com toda esta actividade, a Hortofradesatingiu o pico de capacidade face às ins- talações existentes. A empresa aguardao licenciamento de um projecto de inves- timento e modernização que lhe permitaexpandir a actividade, de acordo com asexigências da União Europeia. O principalobjectivo é assegurar a rastriabilidade dosprodutos, ou seja, identificar todos ospassos da vida do produto desde a pro-dução até chegar ao consumidor final.«Estamos a fazer isto manualmente, mas trata-se de uma logística demasiado com-plexa. Precisamos de modernizar eautomatizar estes procedimentos», sali-enta Mário Monteiro, para quem este é

um exemplo da burocracia que colocaobstáculos ao desenvolvimento do sec- tor e à iniciativa privada. «Trata-se de uminvestimento de 800 mil euros que

HORTOFRADESMário Monteiro aposta na valorizaçãoda cenoura de Valado dos Frades

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estamos dispostos a fazer. Se os organis-

mos públicos não ajudarem, o desenvol-vimento do sector é mais complicado.Isso e a carga fiscal, que em Portugal éenorme quando comparada com outrospaíses, inviabiliza que nos tornemos com-petitivos». Uma situação que, para o em-presário, é incompreensível, dado que«Portugal muitas potencialidades. Temoso clima ideal para produzir quando ou- tros países da Europa não conseguem,devido ao Inverno rigoroso. Poderíamosaproveitar isso para apostar na exporta-

ção e conquistar esses mercados. A Hor- tofrades já faz isso há cinco anos e espe-ramos continuar a fazer. Não podemospensar só em abastecer o mercado inter-no, porque aí não temos hipótese. Te-mos de pensar em ir mais longe», conclui.

Viveiros Hélio PaivaOutra empresa que caracteriza apotencialidade agrícola do concelho daNazaré produz um volume anual de 50milhões de plantas. Os “Viveiros HélioPaiva”, também localizados em Valado dosFrades, abrangem uma área de cerca de17.000 m2 que, em breve, aumentará emmais 7.000 m2, com a construção de no-vas estufas.Os viveiros fornecem plantas para a pro-dução de lombardo, bróculo, couve flor,alface e salsa, no mercado de frescos; e tomate, a partir de Fevereiro, para a indús-

 tria. Segundo o empresário Hélio Paiva, os

principais clientes são os produtores daregião de Alcobaça e Nazaré, no que serefere ao mercado de frescos, e os agricul- tores do Ribatejo, na vertente indústria.Os Viveiros funcionam também como umserviço de apoio ao produtor mas, nestecaso, e ao contrário da Hortofrades, na fasepré-produtiva. «As sementes são actual-mente muito caras, na medida em queresultam cada vez mais da investigaçãolaboratorial», explica Hélio Paiva. «Um pro-dutor pode chegar a ter um desperdício

na ordem dos 60 por cento. Aqui, nasestufas, compramos as sementes e cria-mos as plantas. A nossa taxa de eficáciasitua-se entre os 90 e os 95 por cento.Portanto, compensa aos agricultores com-prar a planta em vez das sementes».Esta taxa de eficácia deve-se ao facto de,nas estufas, todo o ambiente ser controla-do, ao contrário do que acontece numaexploração comum, mais exposta aos agen- tes atmosféricos e às aves que procuramas sementes. «Aqui tudo é desinfectado,desde o terreno aos tabuleiros», salienta oempresário.À semelhança de Mário Monteiro, tambémHélio Paiva considera que os produtos agrí-colas da região são de elevada qualidade erepresentam valor acrescentado. Mas, nasua opinião, esse aspecto não tem sidosuficiente para potenciar o desenvolvimen- to do sector. «Peca por falta de organiza-

ção dos produtores», afirma o empresário.«Existem muitos pequenos agricultores, logoa rentabilidade não é elevada. Esta é umadas zonas mais individualistas do país, so-bretudo no sector hortícola. Os produto-res, sozinhos, não têm capacidade de colo-car os seus produtos no mercado. Tem dese evoluir no caminho do associativismo,como forma de combater os produtos quechegam de fora com preços mais competi- tivos. Um certo comodismo tem feito vin-gar as empresas em vez das organizaçõesde produtores», remata.Para Hélio Paiva, outro problema que atin-ge o sector agrícola é a deficiente gestãodos incentivos aos produtores. «Há poucocontrole dos fundos comunitários que sãoatribuídos, por vezes a projectos que fe-cham as portas pouco tempo depois doinício de actividade», declara. «Mas as em-presas rentáveis, activas e que dão empre-go a pessoas não têm qualquer tipo deauxílio, nem do Estado nem da banca». Dá

como exemplo a sua própria empresa e oprojecto de expansão da área de estufa.«Submeti esse projecto para o IFADAPhá dois anos, para conseguir algum apoioao investimento. Está lá parado porque nãoé considerado prioritário», conta. «Quan-do criei esta empresa, foi um investimen- to de mais de 30.000 contos. Hoje conti-nua a laborar e dá emprego a 10 pesso-as. Não há apoio para estas empresas,mas há para outras que aparecem e de-saparecem sem ninguém controlar para

onde foi o dinheiro», lamenta.Apesar da falta de apoios, os Viveiros Hé-lio Paiva vão avançar com o projecto deexpansão, num investimento de 300.000euros, totalmente auto-suportado.

DINAMISMO EMPRESARIALHélio Paiva defende critérios mais claros

no apoio aos produtores

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nazaré  informa outubro 2005

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Nove séculos depois, a paisagem dos campos de Valado dos Frades é ainda um

dos mais fortes testemunhos da presença dos monges brancos de Cister na nossa

região. Dinâmicos e engenhosos, conquistaram terra à Lagoa da Pederneira, desviaram

leitos de rios, elevaram margens, construíram canais de irrigação e complexos sistemas

hidráulicos, deixando uma marca tão poderosa na sua relação com a paisagem que o tempo

e a evolução tecnológica não conseguiu apagar. Todo este conhecimento estava concentrado

na Quinta do Campo, uma das dez granjas agrícolas que os monges de Cister fundaram no

território dos seus coutos de Alcobaça, e a única que sobreviveu até aos nossos dias. Hoje

unidade de turismo rural, durante séculos foi uma escola agrícola e pólo de transmissão de

saberes inovadores na área da agricultura e da engenharia hidráulica

QUINTA  DO C AMPO EM V  ALADO DOS FRADES

 A herança dos monges de Cister 

TextoANA POUSEIRO

FotografiaVITOR ESTRELINHA

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património rural

Falar de agricultura no concelhoda Nazaré significa, forçosamen-

 te, falar da riquíssima herançados monges de Cister e,

consequen-temente, recuar aos distantes tempos da fundação da Nacionalidade.Grande parte do que é hoje a paisagemagrícola do concelho, sobretudo nos cha-mados campos de Valado/ Cela (e que

abrangem também as zonas baixas da fre-guesia de Famalicão), deve-se à monumen- tal obra de engenharia hidráulica que osfrades da Ordem de Cister desenvolve-ram na região, a partir do século XII. Du-rante os mais de 200 anos que durou aconstrução da Abadia de Santa Maria deAlcobaça, os monges fundaram dez gran- jas agrícolas, umas das quais a Quinta doCampo, cuja área abrangia, grosso modo,a actual freguesia de Valado dos Frades.A sua implantação obedeceu às necessi-dades de desbravamento e povoamen-

 to das terras da época [ver caixa], sendoo local de instalação cuidadosamente es-colhido. A Quinta do Campo situava-seno extremo poente da área de influência

directa do Mosteiro, junto a um extensobraço de mar, a Lagoa da Pederneira.

Distinguiu-se das restantes granjas por não ter dado, de imediato, origem à fundaçãode uma povoação junto a ela (Valado dosFrades só se desenvolveria mais tarde).

Em vez de se tornar um pólode colonização, a granja trans-formou-se numa escola agríco-la. A necessidade de conquis- tar terreno à extensa lagoa esecar as zonas pantanosasenvolventes revelou-se umaoportunidade para aplicar os

conhecimentos e experiênciados monges de Cister na áreada hidráulica agrícola. Terá sidodestes campos ganhos à água,aráveis e férteis, que a granjaadquiriu a sua designação.Das granjas cistercienses cria-das nesse tempo, apenas aQuinta do Campo sobreviveuaté aos nossos dias, manten-do os traços arquitectónicosprimitivos. Na opinião de JoãoPedro Collares Pereira, o actualproprietário, a Quinta doCampo é «o mais antigo exem-plar da arquitectura agrícolamedieval existente em Portugal».

De facto, à volta do que é hoje o pátiocentral do complexo de edifícios que com-

põem a quinta, existe um conjunto deconstruções em forma de U que integra-riam o núcleo primitivo da granja,vocacionado para as actividades agríco-las, designadamente os antigos celeiros.No local onde outrora se situava ummosteiro e uma igreja (que ficou em ruí-nas após as convulsões que causaram aextinção das ordens religiosas) ergue-sehoje a casa principal. Um majestoso edifí-cio oitocentista, desenhado pelo arquitec- to francês Amável Granger, sob orienta-

ção do bisavô do actual proprietário que,na época, adquirira a quinta arruinada.«Ao contrário das outras granjas, quedesapareceram á medida que davam ori-gem a povoações, esta permaneceu eafirmou-se como um pólo de desenvolvi-mento agrícola», explica João Pedro Pe-reira. É visível o seu orgulho pela dimen-são histórica da Quinta do Campo aoindicar, do alto do miradouro existenteno jardim, a vastidão das terras original-mente pertencentes à propriedade.«Aqui os frades dominaram a água, con-quistaram campos e iniciaram a gigantes-ca obra do sistema de drenagem da La-goa da Pederneira», recorda. Um traba-lho alicerçado na criação de uma escola

 João Pedro Collares Pereira, o actual proprietário, no miradouro do jardim,

indicando a antiga vastidão dos terrenos da granja cisterciense

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nião, encerra alguns segredos que talvezo tempo se encarregue de revelar…Mais recentemente, e após a sua aquisi-ção pelos antepassados de João PedroPereira, a Quinta do Campo continuou aescrever linhas na história de Valado dosFrades. No século XIX, a construção docaminho-de-ferro exigia a cedência de ter-renos e, na sua grande extensão, a Quin- ta do Campo era literalmente atravessa-

da de alto a baixo. O proprietário daépoca cedeu ao Estado, gratuitamente, os terrenos necessários, com uma única exi-gência: a de que se situasse em Valadodos Frades uma estação ferroviária, queservisse Alcobaça e Nazaré, já à épocaimportantes pólos turísticos.Foi este facto que provocou a emergên-cia e o desenvolvimento populacional deValado dos Frades, com alguns serviçosde apoio ao caminho-de-ferro, transpor- tes e mercadorias.

A Quinta do Campo hojeA importância histórica, cultural e patrimonialdo conjunto edificado da Quinta do Cam-po valeu-lhe a classificação como imóvel deInteresse Arquitectónico, Histórico e Cultu-ral pela Direcção-Geral de Turismo e a clas-sificação como Imóvel de Interesse Públicopelo IPPAR. Há várias décadas que a agri-cultura deixou de ser a base de sustenta-ção da Quinta do Campo, mas a memóriadessa herança foi cuidadosamente preser-vada, valorizando a sua nova actividade: o

16

outubro 2005   nazaré  informa

Hoje adaptados a alojamento de

turismo rural ou infra-estruturas deapoio à realização de festas e eventos,

os antigos celeiros e adegas da granja

mantêm ainda a arquitectura concebida

pelos monges-agricultores

Na biblioteca da casa principal, existe um acervo documental significa-

tivo sobre os concelhos de Alcobaça e Nazare, e sobre a actividade da

Ordem de Cister, no qual pontuam algumas raridades

 turismo rural e o turismo de animação eeventos. Por todo o lado, respira-se histó-ria e não é difícil imaginar a actividade in-

 tensa dos monges de Cister e dos colonosprimitivos para tornar produtivas aquelas terras pantanosas. Uma relação entre pa-

 trimónio, ruralidade e turismo de qualida-de que, na opinião de João Pedro Perei-ra, ainda não é potenciada da melhor for-ma, para proveito do concelho. «A Nazarénão se limita ao mar e à pesca. É umconcelho muito rico e diversificado, em quea agricultura tem também um peso mui- to importante. Falta ainda estudar as im-plicações históricas, culturais e sociais dessadiversidade», defende.

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O

Culto da memóriaou celebração do efémero?

crónica

«A partir do homo sapiens, a constituição de uma utensilagemda memória social domina todos os problemas da evolução humana.»

(Leroi-Gourham, in Le geste et la parole, pp. 24)

simples acto de recordar temmais implicações para a vidado que poderíamos supor.De facto, o conhecimento do

passado é vital para que os organismosvivos sobrevivam e evoluam ao longo do tempo. Mesmo do ponto de vista biológi-co, a memória é uma capacidade essencialpara qualquer ser vivo, ou seja, todo o tipode memórias que os seres vivos possuem,desde do início dos tempos, tem servidocomo capacidade natural de adaptação ao

meio e forma de assegurar a sobrevivên-cia. Por outro lado, quando falamos da me-mória humana, temos em consideração que,desde a aurora do pensamento filosófico,esta foi definida como base do conheci-mento. Platão, por intermédio da figura deSócrates, define todo o conhecimento comoreminiscência – ou anamenese – de umaverdade última anterior à vida presente.Aspecto essencial à vida, elemento basilar na constituição da identidade e para mui- tos, base epistémica de todo o saber, a

memória sempre constituiu ponto de par- tida para especulações variadas. Comonos lembramos? Porque duram umas me-mórias mais do que outras? Onde no cé-rebro humano se localiza a memória? Serápossível memória sem esquecimento? Será toda a memória real ou, por definição,ficção dos próprios sujeitos cognoscentes?Têm sido estas as questões principais dasciências que estudam a memória.Hoje em dia, na nossa “sociedade da in-formação”, coexistem duas atitudes paracom a memória. Constantemente, se cons- troem edifícios do saber sob a capa defalsas memórias, usando e abusando dopassado. Todavia, por outro lado, vive-mos na sociedade do aqui e do agora,

da aceleração do tempo até ao infinito.Estas duas concepções memorativasrevelam atitudes antagónicas para com aMemória e o Esquecimento. Uma idolatra-a e para ela transfere a responsabilidadesdas acções humanas. A outra tende aesboroar a necessidade de memória,como se o Homem fosse, por natureza,um ser amnésico. Esta circunstância traduz-se na realidade efectiva da contradiçãosocial referente à memória ou, segundoalguns autores, no proclamar do grau zero

do tempo, no qual a memória será quasedespida do seu valor ontológico. Destafeita, a ideia de aceleração do tempo trans-forma-se na máquina fatal, que tritura, noculto do efémero, as nossas necessidadesmnésicas – lembrando as palavrasperturbadoras de Pierre Nora, só se fala tanto de Memória, pela razão dela já nãoexistir».Tzvetan Todorov, sociólogo búlgaro, pro-põe um “dever da memória”, como valor central da nossa relação com o passado,

necessariamente subordinado à ideia deBem. Já, Marc Augé, na obra Formas deEsquecimento, postula antes a necessidadedo esquecimento como a fuga necessáriapara o presente. Porque esse esquecimen- to é parte dialéctica essencial no proces-so anamenésico e caminho de regressodo passado para o presente. Na realida-de, o culto desenfreado da memória traduz-se, tão só, na celebração celeradado efémero. Todavia, uma relação sau-dável com os nossos conteúdos mnésicos terá sempre de encarar o esquecimentocomo processo construtivo da memória,assumindo-se, à partida, que esta nos de-fine enquanto seres únicos, moldando noTempo a identidade dos Homens.

 JOSÉ RAIMUNDONORAS

Licenciado em Histó-

ria pela Faculdade de

Letras da Universida-

de de Coimbra. Au-

 tor da tese de licen-

ciatura O Crepúsculo da Memória na Socie-dade da Informação – que Limites Éticos paraos Discursos Memorativos?  (Coimbra, 2004).

Foi orador convidado no X Encontro

Nacional de Municípios com Centro His-

 tórico, realizado na Nazaré em 2005, com

o tema “Da Comemoração Total à Pre-servação do Essencial - Algumas conside-

rações sobre a Memória na sociedade

moderna”, de onde resulta o presente

artigo.

Texto JOSÉ RAIMUNDO NORAS

Que passado preservar? – deverá ser sempre esta a questão primordial em ter-mos patrimoniais. Decorre, logicamente, dospressupostos atrás enunciados, que a iden- tidade dos Homens – e das cidades ouvilas que edificam – está simbioticamenteligada à sua relação com a Memória. Aliás,na linha do que sustenta Daniel Schacter,como que comprovando a frase de JoséSaramago, “sem memória não existimos”.Por isso, urge, nessa relação afável com aMemória, descortinar, não só qual o passa-

do a preservar, numa lógica de preserva-ção do essencial, mas sobretudo que pre-sente preservar. Dado que, inexoravelmen- te, este nosso presente será o passado asalvaguardar das gerações vindouras.Deste modo, só encontrando o pontode equilíbrio entre o dever de memória ea necessidade de esquecer evitaremos oinelutável crepúsculo da memória na socie-dade de informação.

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O FERIADOque a memória apagou

18 3 de Setembro

evolução político-administrativa do concelho da Nazaré tem uma importância fundamental para a compreensãoda História do mesmo, na sua actual configuração.Importa ter em conta que o termo Pederneira designava

a vila que actualmente se conhece por Nazaré, e não apenas olugar de Pederneira dos dias de hoje, fazendo então parte doconcelho da Pederneira. A origem da Nazaré enquanto concelho érecente, na medida em que o local onde actualmente se situa ocentro da vila da Nazaré se encontrava submerso pelo mar, sendoapontada a sua povoação apenas a partir do século XVIII.A origem e a configuração do concelho da Pederneira têm sido temáticas bastante discutidas. Desta forma ao facto de que a

Pederneira teria sido concelho a 1 de Outubro de 1514, durantea reforma dos forais levada a cabo por D. Manuel I em todo o território nacional, opõe-se a tese de que «o verdadeiro e antigoforal que por D. Afonso Henriques fora concedido à mesma vila»(O Arqueólogo Português, Vol XXV, 1922) é que lhe teria dado origem.Existe ainda a teoria de que a existência da Pederneira enquantoconcelho apenas se teria verificado após a extinção das ordensreligiosas a 1834.A história do concelho da Pederneira não é contínua, já que este,por duas vezes se extinguiu. O concelho manteve a sua autonomiaaté 6 de Novembro de 1836, altura em que, por decreto provisório,foi anexado ao concelho de Maiorga, voltando a ser autónomo a12 de Junho de 1837. Pela Reforma da nova divisão territorialpara o serviço judicial e administrativo (Ministério dos NegóciosEclesiásticos e de Justiça, de 24 de Outubro de 1855-D.G. nº283),voltou o concelho de Pederneira a ser extinto, passando a integrar o de Alcobaça. Todo este processo de anexações e desanexaçõesinscreveu-se no âmbito de uma organização territorial que tevelugar no ano de 1838, data em que se organizou o municípiomoderno segundo as linhas mestras do liberalismo português.

Restauração do Concelho da PederneiraPor Carta de Lei de 11 de Junho de 1898, deu-se a restauraçãodo concelho da Pederneira, tornando-se independente do deAlcobaça. Fica assim constituído pelas freguesias de Famalicão (que

 já tinha pertencido aos concelhos de Alcobaça e das Caldas daRainha, a este último desde 8 de Setembro de 1895 até Maio de1896), Valado dos Frades e Pederneira.Aquando o regresso da autonomia concelhia à Pederneira, esta já

não era a vila próspera de outrora. A Praia ocupava agora o lugar central, detendo o maior número de habitantes, sendo que com adinamização do turismo tinha sofrido uma evolução, que lhe conferiao estatuto ideal para receber os Paços do Concelho. Como atenta

 J. C. Poças, «só em quatro meses do ano de 1875 se concluírammais de 20 prédios para residência de banhistas». Deste modo, aPraia recebeu os serviços camarários, embora o concelho tenhacontinuado a designar-se Pederneira.No mês seguinte, funcionavam já todas as repartições públicas doConcelho da Pederneira. A 20 de Agosto, a Câmara Municipaldeliberava, em sessão extraordinária, que as sessões camaráriasfossem realizadas na casa de Alberto de Carvalho Remígio, na Ruada Alfândega, destinada a Paços do Concelho e alugada por 81mil réis por ano. A rua onde se instalou a repartição da Câmara,passou a designar-se Rua 3 de Setembro, devido ao facto de ter sido nesta data que o arquivo camarário do antigo Concelho da

Pederneira veio de Alcobaça.Uma vez instalados os serviços camarários na Praia, iniciou-seuma luta para mudar o nome do concelho, visto que já não faziasentido a manutenção da designação Pederneira. Deste modo, oConcelho da Pederneira passa a denominar-se Nazaré a 18 deDezembro de 1912. O Século de 5 de Junho de 1911 refere: «No tempo da monarquia falou-se, por mais de uma vez, em pedir aosgovernos para que fosse mudado o título do Concelho daPederneira para o de Nazareth, apresentando-se com motivos justificativos o funcionamento das repartições nesta vila (...) e ainda

A

TextoMÓNICA MAURÍCIO (*)

Edifício dos Antigos Paços do Concelho, Pederneira.

nazaré  informaoutubro 2005

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o existirem aqui as repartições oficiais com os títulos de capitaniado porto da Nazareth, posto fiscal e estação telegrafo-postal».O Alcôa

 de 30 de Agosto de 1917 notícia: «Há poucos anosdevido ao incremento tomado pela população da praia, passoua denominar-se concelho da Nazaré».

Festividades do dia 3 de SetembroDesde 1899, 3 de Setembro passou a ser a data escolhidapara a comemoração do feriado municipal, celebrando oaniversário do restabelecimento do concelho da Pederneira. Nestadata decorriam várias festividades e todos os estabelecimentosoficiais fechavam portas. Deste modo, a 3 de Setembro de1899, um ano após a restauração do concelho, foi inauguradona Praça Sousa Oliveira um coreto, utilizado diversas vezes nacomemoração do feriado, actuando nele várias bandas

filarmónicas.As festividades desse feriado pressupunham a realização deconcertos públicos, protagonizados pelas bandas da Marinha deGuerra, da Filarmónica do Valado, da Filarmónica MusicalNazarense, entre outras. A fachada do edifício onde se encontravainstalada a Câmara era iluminada e promoviam-se festivaisartísticos, desportivos e taurinos. «Comemorando o 32ºaniversário da Restauração do nosso concelho, a Filarmónica doValado cumprimentou (...) as autoridades locais, percorrendovárias ruas da Nazareth e dando á noite concerto no coreto»,relata o Notícias da Nazareth, de 7 de Setembro de 1930.«Foram queimadas muitas barricas de alcatrão, no mar e ao

longo da base do promontório, subindo ao ar grande númerode balões e sendo queimados muitos foguetes» ( A Nazareth, 4de Setembro de 1910).

Desaparecimento do feriado de 3 de SetembroCom o desenrolar do tempo, a comemoração do feriado foiperdendo o seu carácter exuberante, dado que «este dia eraassinalado (...) com alguns acontecimentos festivos, queultimamente e nem sempre se limitam ao gasto de umas tantasdúzias de foguetes e morteiros», (Nazaré, Dezembro de 1956).Esta data foi comemorada até ao fim do ano de 1951, sendopublicado no ano seguinte o decreto nº38.596 de 4 de Janeirode 1952, que veio estabelecer novas normas para os feriadosmunicipais. «O decreto não acabou completamente com osdias de feriados municipais, antes os integrou dentro de umnovo espírito que se encontra expresso no seu artigo 4:“relativamente aos concelhos em que se realizar alguma festa tradicional e característica, poderá o Governo por decreto doMinistério do Interior e do Ultramar, autorizar que as respectivasCâmaras Municipais considerem feriado o dia especialmenteconsagrado a tais festas”» (Nazaré, Dezembro de 1956). Estamedida foi contestada, visto que muitos eram os que gostavamver restabelecido o feriado municipal a 3 de Setembro. Chegou-se a pedir para que esta data fosse celebrada juntamente comas festas em honra da Nossa Senhora da Nazaré, a 8 de

Setembro. Com o passar do tempo, caiu no esquecimento a co-memoração da Restauração do Concelho, celebrando-se actual-mente apenas o dia 8 de Setembro, feriado de cariz religioso.

(*) Historiadora

Placa toponímica da antiga Rua da Alfândega 19

Fachada actual da casa deAlberto Carvalho Remígio, onde se instalou aCâmara Municipal a 3 de Setembro de 1898.

«O arquivo camarário da antiga câmara da Pederneiraveio de Alcobaça no dia de hoje [3 de Setembro de 1898],sendo recebido na ponte do Cardial - extrema do concelho- e acompanhado por muito povo até ao edifício que haviade servir de Paços do Concelho.A valiosa mesa que, durante séculos, serviu na sala dassessões nos Paços de Concelho da Pederneira e que era

pertença da Câmara ficou em Alcobaça, por lá se negarema entregá-la, embora tivessem perfeito conhecimento deque pertencia à Pederneira.»

 A Nazaré-Coisas ouvidas, lidas e vistas. José Pedro, in O Mensageiro,1942.

outubro 2005nazaré  informa

 V .E .

CHEGADA DO ARQUIVO CAMARÁRIO

 V. E.

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http://slidepdf.com/reader/full/nazare-informa-4 20/55outubro 2005   nazaré  informa

Sítio e a Praia mantiveram, durante décadas, umdistanciamento não só geográfico, mas sobretudo

social. A construção de um ascensor, no fim do séculoXIX, veio pôr termo a este afastamento, propiciando-

se a ligação de uma mesma população dividida em dois pelorelevo geográfico.A 15 de Outubro de 1888, formou-se uma parceria sediadaem Lisboa, que tinha como objectivo a construção de um ascensor na Nazaré, de que faziam parte o Dr. Tavares Crespo, FranciscoMorais, Joaquim Carneiro D’Alcáçovas de Sousa Chicharro, JoséEduardo Ferreira Pinheiro, Barão de Kessler e Raul Mesnier. Autilidade da construção de um ascensor advinha do facto de aNazaré ser, já nesta época, uma estância balnear de grandeimportância, recebendo no Verão um grande número de

visitantes, e de os habitantes da vila se encontrarem longe daReal Casa da Nazaré, actual Confraria da Nossa Senhora daNazaré. Na deslocação entre o Sítio e a Praia havia somenteuma estrada de grande distância e uma ladeira de areia solta.A escolha do autor do projecto recaiu sobre Raul Mesnier dePonsard, engenheiro nascido no Porto, de ascendência francesa,autor e colaborador de diversos projectos de elevadoresportugueses como, por exemplo, o elevador de Santa Justa emLisboa, e discípulo de Gustav Eiffel.As primeiras experiências do Ascensor tiveram lugar a 19 deMaio de 1889, diante de um grande número de populares curiosose incrédulos com a nova máquina. Esta experiência,contextualizada no final do século XIX, foi uma novidade tanto

para a Nazaré como para Portugal, já que foi um dos primeiroselevadores do género a funcionar.A 28 de Julho de 1889, procedeu-se à inauguração do ascensor,ao som de música e foguetes, com a presença do Ministro das

Obras Públicas e Fazenda, e com a cobertura jornalística daimprensa local, regional e da capital. Em homenagem à protectora

da vila, o ascensor foi benzido e denominado de Nossa Senhorada Nazaré.Inicialmente, o ascensor funcionava apenas durante a épocabalnear (entre 15 de Agosto e 15 de Outubro, período em quegrande número de turistas visitavam a Nazaré) desde as 6h damanhã até às 21h com carreiras regulares de meia em meiahora. Nas festas de Nossa Senhora da Nazaré, o horário estendia-se até às 24h, e o preço dos bilhetes aumentava.Em Dezembro de 1922, o ascensor começou a funcionar duranteo Inverno. «Tem trabalhado desde o princípio do mês o ascensor da Nazaré, inaugurando assim o novo serviço da época deInverno. É um benefício muito sensível para as gentes que ao

Sítio vão ou de lá vêm, e era uma quase necessidade, atendendoà importância crescente das relações de toda a espécie quedeve haver e há de facto entre a Praia e o Sítio. Que o públicosaiba sentir esta necessidade, e o serviço manter-se-á para bemde nós todos e para proveito da empresa, está claro». (JornalProbus de 5 de Dezembro de 1922)Devido à grande crise económica que se fazia sentir, cedo sepercebeu que não se conseguiria lucro no ascensor durante oInverno, pois as pessoas acabavam por ir a pé, visto que nãopossuíam dinheiro para pagar a viagem. «Esteve prestes a parar depois de transcorridos dois meses de serviços na presente temporada de Inverno, mas enfim sempre continuou trabalhando.Agora dizem-nos que parará definitivamente no fim do mês em

que estamos. Se vai deixar de prestar-nos os seus serviços, éporque eles não são género de primeira necessidade, e serviráde explicação a este acontecimento a extraordinária falta depeixe que tem havido desde há meses e que tem exaurido as

ASCENSOR   da Nazaré

O

TextoMÓNICA MAURÍCIO, Historiadora

20

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nazaré  informa outubro 2005

bolsas dos que dele vivem. Vai parar o elevador por falta defrequentadores, mas... fecharão acaso as tabernas por falta debebedores.» (Jornal Probus, 20 de Fevereiro de 1923).

Tal como sucede actualmente, o ascensor encerrava duranteuma parte do ano, geralmente entre Abril e Maio, para seproceder às revisões e arranjos necessários, mantendo-se destemodo uma segurança constante.A 1 de Outubro de 1924, a Confraria da Nossa Senhora daNazaré comprou o Ascensor, com o intuito de efectuar aangariação de meios para a manutenção do Hospital de NossaSenhora da Nazaré e facilitar o acesso dos fiéis ao Santuário.Cerca de uma década depois, a 19 de Dezembro de 1932,a Câmara Municipal da Nazaré adquiriu o ascensor, no valor de 368.013$00, sendo ainda hoje o proprietário do imóvel.No contrato, ficou acordado que nos meses de Agosto,Setembro e Outubro os bilhetes seriam aumentados dez

centavos, aumento destinado à manutenção do Hospital oude outro estabelecimento de beneficiência dependente daConfraria da Nossa Senhora da Nazaré.Com o decorrer dos anos o ascensor foi sofrendo diversasalterações, como arranjos das gares, colocação de sinais sonoros,entre outros. «Os Serviços Municipalizados introduziram noscarros do elevador, sinais sonoros para advertir os passageirosda partida dos carros, assim como da aproximação do túnele da chegada às gares, em especial à do Sítio, isto é dasaproximações do perigo» (Nazaré, Setembro de 1958).Símbolo da Nazaré, o ascensor foi desde a sua abertura umsucesso, uma atracção única para o visitante da Nazaré que,

maravilhado com a curta viagem, não a esquece, como nosrevela este relato: «(...) instalado nesse elevador, que começa adescer lentamente, como um ruído mudo, por vezes bruscamenteentrecortado como se lhe dessem um puxão mais violento. Eoutra vez, mas agora com um vigor mais intenso, a fúria doscarros, ao sair do túnel, a vasta amplidão das águas, asmontanhas, tudo tão por baixo, de nós que parece que virmosmergulhar sobre a praia, descendo a prumo do céu, e essadúvida fantástica quase nos obriga a fechar os olhos, tamanhaé a atracção, tão rigorosa e empolgante é a sensação que nosdomina. Mas pouco, as casas vão-se distanciando, está maispróximo o marulho das águas, as montanhas perdem-se nohorizonte, e entramos solenemente e vagarosamente sob umalpendre» (José Sarmento, Praia da Nazareth).Ainda hoje, passado mais de um século desde a sua abertura,o ascensor mantém a sua função, transportandoquotidianamente a população local e maravilhando milhares turistas presenteados com a viagem neste ex-libris nacional, aovisitar a tipíca Nazaré.

O ASCENSOR ORIGINAL E AS SUAS OBRASDE MODERNIZAÇÃO

O ascensor original possuía dois carros que comportavam 62pessoas, lotação que podia ser aumentada para 100, desdeque fossem retirados os bancos, o que acontecia frequentementedurante as festas de Nossa Senhora da Nazaré. Os bancosestavam dispostos no sentido longitudinal, com coxia ao centro,sendo a vedação lateral dos carros feita por grades de ferrocorrediças que davam entrada e saída aos passageiros por quatroaberturas além das entradas principais, situadas na parte superior dos carros. Estes encontravam-se ligados por um cabo de aço eeram accionados através de uma máquina a vapor, provenienteda fábrica Esslingen-Machinen, na Alemanha.

A linha dos elevadores encontra-se assente em leito próprio,deslizando numa extensão de 310m, com uma inclinação de42%. O cabo funciona a descoberto sobre roldanas podendo,deste modo, ser facilmente vistoriado e limpo.Em 2002, o Ascensor da Nazaré beneficiou de um complexoprocesso de modernização que incluiu a substituição das velhascarruagens por um equipamento mais moderno e confortável, arecuperação da linha e chassis da estrutura e a beneficiaçãoarquitectónica e funcional das gares. Um investimento de cercade 1,5 milhões de euros e que teve como principal objectivo,não apenas a modernização do equipamento, mas essencialmentereforçar a vertente da segurança. Com esta intervenção, o

Ascensor da Nazaré ficou dotado de condições que permitemo seu funcionamento à luz das apertadas directivas comunitáriasno que concerne os meios de transporte por cabo.

No dia 2 de Fevereiro [de 1930], à noite «na casa das máquinasdo elevador da Nazareth e no momento em que os carros faziam

uma das suas habituais carreiras, soltou fora do volante a correia,que o punha em movimento (...) dentro dos carros estabeleceu-seo pânico do qual resultou alguns passageiros saltarem à linha. (...) ocondutor do carro, que começou a descer, vendo que o carrocomeçava a ganhar velocidade, soltou os travões automáticos

obrigando o carro a uma paragem brusca, mas evitando assim umgrande acidente» (A Nazareth, 6 de Fevereiro de 1930).

A 15 de Fevereiro de 1963 sucedeu outro acidente, mas bastantemais grave que o primeiro, resultando a morte de duas pessoas edezenas de feridos, o elevador esteve encerrado durante um longoperíodo, reabrindo a 1 de Abril de 1968, com a colocação de novoscarros.

Acidentes no Ascensor

Carros originais do Ascensor, inaugurado a 28 de Julho de 1889Álvaro Laborinho

V.E.

Ascensor da Nazaré, Julho de 2005

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outubro 2005   nazaré  informa

Manuela Soares, veterinária e entidade tutelar do Externato D. Fuas Roupinho

Continuo a ver os alunos como

os «meus meninos»

A dra. Manuela Soares foi uma dasprimeiras veterinárias do País, numa altura em que a educação superior ainda era rara entre as mulheres.Quer falar-nos um pouco acerca disso?

É verdade. Fiz a minha educação emSantarém, onde vivia com a minha família,e frequentei o Liceu Sá da Bandeira, jun- tamente com um reduzido número dealunos porque, nessa época, o estudo nãoera prioridade e era, até, considerado umluxo, sobretudo para as raparigas. De-pois, fui para Medicina Veterinária que,então, era uma escolha esquisita para umarapariga. Na verdade, fui a terceira mu-lher a ingressar neste curso em Portugal,fui a primeira veterinária municipal e a pri-meira a fazer clínica rural. A minha escolha

foi um pouco difícil de acatar. O meu ir-mão achava que deveria fazer um cursodiferente, mas tive alguém que me deusempre força, o meu pai.

E porquê medicina veterinária?Achava melhor para mim, talvez um pou-co influenciada por haver uma escola agrí-cola em Santarém. De início ainda penseiem ir para Direito porque, nessa altura, o7º ano dava acesso tanto a letras como

a ciências. No 7º ano, já dava explicaçõesa uns alunos em matérias de ciências efiquei entusiasmada. Escolhi então Medici-na Veterinária e durante os três primeitosanos do curso era a única mulher. Noquarto ano entraram mais duas colegaspara o primeiro ano. Entretanto, a partir do terceiro ano tive sempre um colegade estudo que veio a ser meu marido.Conhecemo-nos logo no primeiro ano,mas começámos a ser colegas de estudoa partir do terceiro. Acabámos o curso eo meu marido ficou como veterinário mu-

nicipal interino na Nazaré. No ano seguin- te, foi aberto concurso, ele foi o melhor classificado e ficou. Dois anos depois de terminado o curso, foi chamado para a

 tropa e depois de passar por Mafra eTorres Novas, foi colocado em Caldasda Rainha fazendo o serviço de veteriná-rio no quartel. Foi nessa altura que noscasámos e eu vim para a Nazaré para osubstituir durante o serviço militar. Com-

pletada a tropa, regressou à Nazaré epassámos a trabalhar juntos. Ele retomouo seu lugar na Câmara Municipal.

Como eram esses tempos?De início, foi muito difícil. A Nazaré é umconcelho com seis quilómetros de raio eas pessoas estavam habituadas a chamar o veterinário de Alcobaça. Mas como nóséramos um bocadinho teimosos [risos],fomos tentando trabalhar o melhor pos-sível, fazendo vacinações nos concelhosvizinhos. Entretanto, eu tive o meu pri-

meiro filho logo 11 meses depois de ca-sar e tinha de conciliar o trabalho com ofacto de precisar de estar mais tempoem casa.

TextoANA POUSEIRO

FotografiaVÍTOR ESTRELINHA

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nazaré  informa outubro 2005

Apesar da sua família viver em Por- to de Mós, Manuela Soares nasceuna Nazaré, onde residiam os avósmaternos. Viveu em Porto de Mósaté aos seis anos, quando a famíliamudou para Santarém, onde um ir-

mão mais velho desenvolvia os seusestudos. Manuela concluiu o 7º anono Liceu Sá da Bandeira e ingres-sou em Medicina Veterinária, emLisboa. Aí conheceu Fernando Soa-res, um lisboeta que frequentava oseu ano e que viria a ser o seu com-panheiro de vida. Após a conclusãodo curso, vieram ambos para aNazaré, onde exerceram a profissãode veterinários e, entre diversos pro- jectos de intervenção cívica, fundaramo Externato D. Fuas Roupinho, uma

instituição que, ao longo de décadas,permitiu aos jovens da Nazaré estu-dar na sua terra, sem ter de sair paraoutras localidades.

BIOGRAFIA

23

Obviamente, a Nazaré devia ser muito diferente nessa altura…

Oh, era completamente diferente daquiloque é hoje. Sempre gostei muito da Nazaré, talvez por ter nascido cá, não precisei debeber água da fontinha [risos].Mas o meumarido, que era de Lisboa e que veio paraaqui aos 24 anos, começou logo a dar-secom as pessoas. Nessa altura, reuniam-sena praça, no Café Oceano, que era o pon- to de encontro… As senhoras só iam aocafé no Verão; no Inverno, por sinal só íaeu [risos]. Lembro-me que só havia quatromédicos, não havia sequer um advogado,

o conservador do registo civil vinha cá devez em quando… Por isso, a comunidadeera pequena, era quase uma família.Consequentemente, pessoas a estudar eram poucas e essas tinham que se deslo-car a Alcobaça, Leiria ou Caldas da Rainha,o que se tornava muito dispendioso.

Então, como surgiu o ensino nasvossas vidas?Durante as férias, apareciam pessoas defamília e amigos que tinham outros fami-liares com exames para fazer na 2ª épo-

ca. Começámos a dar explicações até quepensámos, em conjunto com dois profes-sores primários, ensinar o 1º ano, isto em1956. Alugámos então uma casa na ruaRuy Rosa, onde tínhamos sete alunos. Co-meçámos logo a tentar legalizar a sala deestudo mas, entretanto, houve uma quei-xa do colégio de Alcobaça por estarmosa dar aulas. Veio um inspector que nosdisse que os professores primários não po-deriam colaborar connosco mas que nós tínhamos todas as possibilidades, legalmente,

de darmos as aulas, mas apenas a cincoalunos por não termos instalações adequa-das – só que nós já tínhamos sete e apare-ceram mais! Depois, passámos para o pré-dio do Varela, na Avenida de Olivença,numa cave. Começou a haver dificuldadede arranjar professores da Nazaré e, en- tão, veio um licenciado em Francês de Cal-das da Rainha que o meu marido tinhaque ir buscar e levar porque não tinhacarro. Contávamos também, em trabalhosmanuais, com o capitão Frazão que che-gou a ser Presidente de Câmara. E foi as-sim que começámos, caminhando para Lis-boa a ver se conseguíamos o alvará parapodermos funcionar. Não foi fácil, porqueo Inspector do Ensino Particular umas ve-

zes dizia que poderíamos abrir actividades,outras vezes dizia que não era fácil… An-

dámos muito tempo neste vai-vem paraconseguir a licença. Finalmente, prometeu-nos o alvará mas foi dizendo que era pre-ciso arranjar um edifício próprio. Nessa al- tura, já tínhamos três andares a funcionar como escola na Avenida de Olivença e ob- tivemos o alvará. Estivemos ali até cons- truirmos o actual edifício. Não foi fácil, não tínhamos dinheiro, as dificuldades eram gran-des, mas conseguimos que o terreno [dasactuais instalações] fosse a hasta pública.O meu marido fez questão de ser eu a

comprar, porque queria que o colégio fos-se meu, e lá comprei o terreno a um preçomuito acessível, isto à volta de 1958.

A construção do Externato foi tam-bém uma luta difícil…Pois foi. Finalmente tínhamos o alvará e o terreno, mas faltava a construção. Contra- támos uma firma que tinha feito obras nohospital. A certa altura, a obra parou por falta de dinheiro. Fizemos então um con- trato no qual vendíamos o terreno, elesfaziam a construção e nós pagávamos a

renda. Foi assim que começámos e só mais tarde comprámos o edifício… Olhe, lem-bro-me de um episódio curioso. Aindaquando estávamos na Avenida de Olivença,veio um inspector de Lisboa - por sinal opai de João de Deus Pinheiro - para fazer ainspecção das instalações. Depois de ver uma sala virou-se para mim e disse “Masagora diga-me a senhora, o que quer, ensi-nar peixinhos do mar?”. Fiquei estarrecida erespondi-lhe: “pode ser que os peixinhosdo mar se reproduzam”. Ele veio depois

ver o edifício novo e perguntou-me quantosalunos tinha. Depois de responder, acres-centei: “Afinal não viemos ensinar peixinhosdo mar, mas sim meninos e meninas!”. Bom,o tempo foi passando e começámos a ter bons resultados. Havia aulas de manhã e à tarde até às 17 horas, e depois até às 19horas os alunos tinham aulas de estudoacompanhado. E, quando se portavam mal, também vinham à noite!

Muitas pessoas da Nazaré passa-ram por estes bancos, não é?Sim. A primeira licenciada saída do Exter-nato foi a Maria Gil Varela, que é médicaem Coimbra. No dia em que se formouveio à Nazaré com dois ramos de flores,

um deles para mim e outro para colocar na campa do pai. Foi um gesto que nun-

ca esqueci. Hoje há imensas pessoas li-cenciadas que passaram por aqui, e con- tinuo a vê-los como os meus “meninos”.

Apesar de ser um estabelecimentode ensino particular, é conhecido quea dra. Manuela e o seu marido apoi-aram os estudos de muitos alunos…É verdade. Claro que, sendo particular, osalunos tinham de pagar mensalidade, masnunca houve aluno algum na Nazaré que,por falta de meios, tivesse que desistir. Não

foi por não nos poderem pagar que deixa-vam de estudar e tirar um curso. Quería-mos, através do ensino, fazer uma transfor-mação da vida e da própria Nazaré.

Qual o papel do Externato nessa modificação?Acho que houve uma modificação bas- tante grande. Há imensas pessoas que tiraram cursos que não teriam possibili-dades de se deslocarem para outros lo-cais. A própria mentalidade das pessoasda Nazaré modificou-se, perceberam que

a educação não é um luxo mas uma ne-cessidade de evolução.

entrevista

»»»

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24

Esse é um papel que ainda se man- tém, não é? Não há ensino secun-dário público no concelho…Olhe, posso dizer que a construção da es-cola Amadeu Gaudêncio foi absolutamen- te ilegal, porque foi o presidente da Câma-ra da altura que resolveu fazer uma escola.Por lei, não pode ser construído um esta-belecimento de ensino a menos de 4kmsde distância de outro. Esta escola foi feitaao lado. Começou por ser provisória e es- teve sem funcionar porque havia esse im-pedimento. Veio mais tarde o director re-gional da DREL falar connosco e com oactual presidente da Câmara, propondo-nos ele que o Externato ficasse com o en-sino secundário, o ensino recorrente e umnúmero estipulado de turmas no 3º ciclo,sendo que este último ponto nunca foi cum-prido. Em contrapartida, ficou decidido quenão nos oporíamos ao seu funcionamento.Não é fácil manter um estabelecimentodestes, mas cá fomos fazendo o nosso

melhor. Hoje mantemos contratos simplese de associação com o ministério da Edu-cação, o que facilita o funcionamento.

Que diferenças vê entre o sistema educativo de então e o de hoje?É muito diferente. Ao princípio, como erammenos alunos, eram mais dedicados aosprofessores. Os meninos começaram a ter outro espírito, mas aqui continua a ser ain-da um pequeno paraíso se comparado coma realidade de outras escolas. As crianças

hoje têm outra atitude, mas é a evoluçãoprópria dos tempos.

É mais difícil ser professor hoje doque naquele tempo?Dei aulas até há três anos atrás e garanto-lhe que nunca tive o mínimo problema comos alunos. Lidava com eles de forma dife-rente, fazendo-lhes ver que a função delesaqui era estudar e a minha era ensinar.Agora, de vez em quando, já aparecemalguns alunos que criam alguns problemas,mas nada de muito grave.

E quanto à motivação dos profes-sores?Todos os professores, na sua grande mai-or estão motivados, e muitos deles foram

nossos alunos que voltaram à casa, e mui- tos deles estão cá há mais de 20 anos. Sãoprofessores interessados, procuram adap- tar o método de trabalho à turma.

Para além do ensino, a senhora e o

seu marido tiveram também uma forte intervenção social, nomeada-mente a criação da CERCINA…Sim, o meu marido foi um dos sócios fun-dadores da CERCINA e foi ele quem este-ve sempre muito ligado. Quando, há uns tempos, lhe fizeram uma homenagem naCERCINA, ele disse que o seu sonho era acriação de um lar residencial para acolher os deficientes mais idosos que, muitas ve-zes, já não têm familiares ou podem vir aperdê-los. Ele dizia que o Externato e a

CERCINA eram as paixões da sua vida…Mas, muitas vezes, quando fazíamos clínica,era normal as pessoas não terem dinheiropara pagar. Então davam produtos da agri-cultura, ovos, etc., e isso ía tudo para aCERCINA. Quantas vezes a instituição não tinha dinheiro para pagar aos funcionáriose era o meu marido quem pagava os or-denados… As coisas faziam-se de uma for-ma mais pura e dedicada, não havia subsí-dios para nada.

Como foi a passagem de seu mari-

do pela vida autárquica?Muito interessante. Enquanto ele esteve naCâmara, depois do 25 de Abril, foi a se-gunda vez que estive nas funções de vete-

rinária municipal, a substitui-lo. O 25 de Abrilfoi uma alegria muito grande. Vínhamos deinspeccionar o peixe, como fazíamos todasas manhãs. Quando chegámos ao carro éque ouvimos pela rádio que tinha havidouma revolução, e quando nos apercebe-

mos que era uma revolução democrática,foi uma alegria imensa! A Nazaré passou a ter uma vida completamente diferente, foiuma abertura enorme!

Como vê Portugal agora?Não é a democracia com que sonhámos,mas Portugal está muito melhor. Lembro-me de, quando era secretária da associa-ção de estudantes da faculdade, sentir aopressão do regime e chegar a ter medodos cavalos da Guarda Republicana nos

passeios à saída da faculdade. Só o factode ser uma mulher numa faculdade de ra-pazes… era suspeita.

Qual a sua opinião sobre os cursosde especialização tecnológica insta-lados na Nazaré?Acho uma iniciativa óptima! É uma possibi-lidade das pessoas aumentarem os seusconhecimentos sem sair da própria terra ede melhorar os nossos recursos humanos.A educação não pode ser vista como umluxo. É pena que nem toda a gente possa

 tirar um curso, independentemente do seu trabalho. Talvez a sociedade fosse maiscompreensiva se todos tivessem mais co-nhecimentos.

outubro 2005   nazaré  informa

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Nazaré, um concelho de futuro

PRÉMIO DISTINGUE MUNICÍPIO ENTRE OS MELHORES DO P AÍS

Município da Nazaré foi o único, a nível nacional,a receber dois prémios na cerimónia promovidano passado dia 15 de Setembro, em Coimbra,pelo diário nortenho “O Primeiro de Janeiro”,

que distinguiu os municípios portugueses que mais investi-ram no bem-estar das populações e no desporto [sobre esteprémio em particular, ver página 40 desta revista].A Câmara Municipal da Nazaré fez-se representar pelo pre-sidente Jorge Barroso, que teve oportunidade de dirigir algu-mas palavras sobre a importância desta distinção.No âmbito desta iniciativa, a Nazaré classificou-se em 1º lu-gar no ranking do distrito de Leiria, e em 4º lugar a nívelnacional, do Prémio Nacional “Municípios de Futuro”, cria-

do para distinguir os concelhos com maior investimento nobem-estar e progresso sócio-económico. Assim, o concelhoda Nazaré foi considerado como o que apresenta, no distritode Leiria, a melhor média na relação “investimento/n.º de

No ranking  dos municípios que mais investem no bem-estar das

populações, o concelho da Nazaré surge em primeiro lugar no distrito de

Leiria, e em 4º lugar no todo nacional. O ranking  foi construído por um conjunto

de individualidades convidadas pelo jornal “O Primeiro de Janeiro”, com base

nos dados do Instituto Nacional de Estatística, referentes a 2003.

eleitores”, no ano 2003, apresentando simultaneamente, se-gundo os promotores da iniciativa, «índices de crescimentoe desenvolvimento bastante significativos».O júri, constituído por personalidades independentesseleccionadas pelo “O Primeiro de Janeiro”, teve em aten-ção áreas tão diversificadas como o ambiente, cultura, des-porto, actividades sócio-económicas, património cultural eoutras. Na área do ambiente, especificamente, foram analisa-dos parâmetros como a gestão dos resíduos sólidos, a pro-tecção dos solos e dos recursos hídricos subterrâneos, e adefesa da biodiversidade e das paisagens naturais. As despe-sas efectuadas por cada município a concurso, nestas áreasde intervenção, foram os principais critérios que fundamen-

taram o prémio atribuído.Os indicadores analisados pelo júri foram extraídos dos “Re-tratos Territoriais” do Instituto Nacional de Estatística, refe-rentes a 2003.

O

nazaré  informa outubro 2005

O presidente da CâmaraMunicipal da Nazaré, Jorge

Barroso, na cerimónia deatribuição do Prémio Nacional

“Municípios de Futuro”

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s moluscos bivalves são um importante recurso naindústria da pesca. A procura de bivalves paraconsumo humano tem conhecido um aumentonotável, o que se tem reflectido num maior volume

de capturas, assim como uma maior produção em aquacultura.Esta crescente procura não pode ser dissociada do reconhecidovalor nutritivo destes moluscos, nem das suas qualidadesorganolépticas (nomeadamente cor, odor, aspecto físico esabor).No nosso país, os bivalves de maior importância económica esujeitos a exploração são a amêijoa, a ostra, o berbigão e omexilhão.

Os bivalves são um grupo extremamente bem sucedido ediversificado, constituídos por duas valvas calcárias que encerramas partes moles. As valvas articulam-se numa charneira quepossui geralmente, dentes, fechando-se devido à acção dosmúsculos.São animais exclusivamente aquáticos, mas podem ocorrer emambientes de salinidade diversa como água salgada, doce ousalobra. A maioria das espécies é bentónica e vive junto aofundo. Alguns bivalves, são organismos sésseis que se fixamao substrato através do bisso (e.g. o mexilhão), uma segregaçãofibrosa, enquanto que outras espécies vivem enterradas nosfundos arenosos (e.g. amêijoa, berbigão, ostra). As espéciesque vivem soltas podem deslocar-se através de propulsãoconseguida por expulsão de água sob pressão e/ou pela acçãomuscular do pé.Os bivalves, para respirarem e alimentarem-se, filtram grandequantidade de água que atravessa as estruturas branquiaisdeixando nestas as partículas que se encontram em suspensãoe se concentram no molusco.Devido à sua capacidade filtradora, estas espécies, podem ingerir e armazenar grandes concentrações de microorganismos quepõem em causa o seu consumo pelo Homem, funcionando comovector de várias doenças como por exemplo a cólera, hepatitesinfecciosas, salmonoloses, etc...Tais factos fazem dos moluscos bivalves os organismos que

melhor reflectem a qualidade da água em que vivem. Quandocriados em ambiente adequado são um alimento deextraordinário valor nutritivo comparável aos ovos e ao leitefresco.

BIVALVES: características

e importância económicaTexto

CARLA MAURÍCIO (*)

O

26

Foto1.

Identificação dos sifões

(A) e do Pé (B) no

Molusco Bivalve.

setembro 2005   nazaré  informa

REPRODUÇÃOOs bivalves são na maioria bentónicos, vivem junto ao fundo,mas na fase inicial do seu ciclo de vida, que não dura maisque um mês, são plantónicos (vivem livres na coluna deágua).

Estas espécies são na generalidade dióicas (sexos separados)e não apresentam dimorfismo sexual (diferença entre macho efêmea), sendo impossível através de um exame macroscópicoda gónada distinguir os sexos, e o seu estado de evolução,

Exalação

(água do mar 

filtrada)Inalação

(água do mar 

  não filtrada)

Filamentos Branquiais

Sediemento

Zooplanton

Algas

Contaminantes

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ambiente   27

nazaré 

informa setembro 2005

CURIOSIDADE

A substância acumulada por estesanimais é o glicogénio; durante agametogénese o gl icogénio é transformado em lípidos, por isso osbivalves mudam de sabor no verão.Este motivo, e o facto de no verão os

bivalves serem mais sujeitos acontaminações bacteriológicas, estão nabase do dito popular que “não se

devem comer bivalves nos meses

sem R ”.

Foto 2. Mexilhão macho

(A) – cor esbranquiçadaou creme - e fêmea (B) –

cor alaranjada.

AAAAAAAAAABBBBBBBBBB

visto os organismos apresentarem umamassa visceral uniforme e esbranquiçada.No caso do mexilhão, torna-se possíveldistinguir os sexos através da coloraçãoda gónada, apenas na fase que antecedea desova.As ostras apresentam a particularidadede em cada estação de desova, osorganismos podem mudar de sexo, sendoentão denominados hermafroditassequenciais. Portanto, um mesmo

indivíduo pode desovar como machonuma estação e como fêmea na seguintedesova, e assim sucessivamente.A produção de ovócitos (gâmetasfemininos) e dos espermatozóides(gâmetas masculinos) é denominadogametogénese, no entanto o tamanho dobivalve, a temperatura e a quantidade equalidade do alimento é indubitavelmenteimportante para iniciar este processo. Agametogénese ocorre durante o Inverno,podendo prolongar-se até ao início daPrimavera.A desova, que consiste na libertação degâmetas, pode ser provocada por diversos factores ambientais, tais como, a

 temperatura, estímulos químicos e físicos,corrente da água ou uma combinaçãoentre estes ou outros factores. A presença

de gâmetas na água provoca

frequentemente desova noutros animaisda mesma espécie.Os bivalves atingem a idade dematuração ao fim de 1 a 2 anos, afecundação é externa, ou seja, os gâmetassão emitidos para a água, ocorrendoentão a fecundação.Após a fecundação, ocorre odesenvolvimento embrionário, as célulasvão-se dividindo e depois de 12 a 18horas, há a formação de uma lavra livre-natante, denominada trocófora. Passadas

24 horas da fecundação a larva assumeo formato de D ou véliger. Essa larva jápossui a capacidade de se alimentar, como auxílio do velum, que também servepara natação. Quando completam 14 a18 dias, as larvas deixam de ser plantónicas e começam a procurar umsubstrato ideal para se fixarem. Assim quese fixam, sofrem uma metamorfose,assumindo a forma definitiva, tendoporém um pequeno tamanho.

(*) Bióloga MarinhaCâmara Municipal da Nazaré

Foto 3. A amêijoa fêmea na época da

desova, emitindo os ovócitos para a água.

TENHA EM ATENÇÃO

- A fervura não destrói as biotoxinas (apesar de ser útil na eliminação dasbactérias);

- A depuração com água não elimina suficientemente as biotoxinas;

- Os bivalves contaminados não têm cor, cheiro ou sabor diferentes dos próprios

para consumo;

- Quando os bivalves são colhidos em período de florescimento de microalgasprodutoras de biotoxinas, a água do mar não apresenta necessariamentecoloração invulgar.

< 1 hora

< 2 dias

< 14 dias

10-14 dias35-40 dias

4mm

espermatozóides

ovócitos

1

2

3

4

5 1- Fertilização;

2- Estado Larva-D;

3- Larva Madura;

4- Juvenil;

5- Crescimento.

Ciclo de Fecundação.

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Entende-se por espécie

invasora   aquela que seexpande naturalmente semintervenção do Homem em

habitats naturais ou semi-naturais,provocando alterações, na estrutura, nacomposição ou nos processos dosecossistemas, sendo frequentementeespécies exóticas.A espécie exótica   é aquela que após te r si do in troduz id a ac identa l ouintencionalmente pelo Homem se fixa forada sua área de distribuição natural.As espécies vegetais exóticas

28

Texto

SUSANA POÇAS (*)

invasoras  têm características comuns -a sua elevada fertil idade quandocomparadas com as espécies nativas

(o mesmo que indígenas, espontâneas ou

autóctones), possuindo mecanismos dedispersão eficazes, elevada longevidadedas suas sementes, elevada capacidadecompetitiva, tolerância à sombra,crescimento rápido das suas raízes,resistência ao pastoreio e ausência deinimigos naturais.Em Portugal, nos dois últimos séculos, apercentagem de espécies vegetais exóticasaumentou 1000%, em 1800 existiam cerca

de 33 espécies sub-espontâneas

listadas (espécies deslocadas acidental ouintencionalmente para zonas onde nãoexistiam, onde se multiplicam e propagam

sem intervenção do Homem) e,actualmente temos cerca de 500. Destenúmero, 40% são espécies consideradaspotencialmente invasoras ou invasivas,incluindo as invasoras de habitats naturaise infestantes agrícolas, sendo que 7% sãoconsideradas como invasoras

perigosas no território português.As espécies sub-espontâneas podem-semanter estáveis durante muito tempo atéque algum fenómeno facilite o aumentoda sua distribuição: um fogo, uma tempestade, a alteração do uso do solo,etc. Estas perturbações resultam muitasvezes na abertura de clareiras vazias queconstituem uma excelente oportunidadepara uma espécie invasora se fixar. Comaumento das alterações climatéricasglobais, é possível que estas perturbaçõessejam mais frequentes, agravando osproblemas de invasão.O aumento da distribuição da espécieinvasora depende da sua taxa decrescimento e reprodução, mecanismos dedispersão e características do habitat

invadido pelo que, após interagirem comas espécies vegetais e animais que asrodeiam, podem ou não estabilizar.A maioria das espécies introduzidas não

nazaré 

informa

ESPÉCIES VEGETAISINVASORAS

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ambiente

chegam a tornar-se invasoras. Em Portugaldas 400 espécies vegetais introduzidas,

apenas 27 são classificadas comoinvasoras, nos termos do Decreto-Lei565/99 (chorão das praias, acácias, erva-canária, azedas, figueira-do-inferno e jacinto-de-água são alguns exemplosdestas plantas).Este diploma regula a introdução naNatureza de espécies não indígenas, comexcepção das destinadas à exploraçãoagrícola, visando promover o recurso aespécies autóctones para os mesmos fins.Este decreto proíbe a disseminação oulibertação de espécimes de espécies nãoindígenas, visando o estabelecimento depopulações selvagens e listando asespécies invasoras e as que comportamrisco ecológico. Proíbe ainda acomercialização, cultivo, transporte, criação,exploração económica e utilização como

planta ornamental ou animal decompanhia das espécies identificadas.

Os impactos mais comuns das espéciesinvasoras nos ecossistemas são: adiminuição da biodiversidade, poispromovem a substituição dascomunidades de elevada diversidadeexistentes, por outras pouco diversificadasde invasoras; a alteração do regime defogos e quantidade de água disponível; aalteração da disponibilidade de nutrientesno solo; a alteração de processosgeomorfológicos; e a extinção de espéciesautóctones, entre outros.Todas estas alterações têm efeitosprofundos na composição da flora e faunada região afectada, alterando por completo a sua paisagem, contribuindopara a diminuição da biodiversidade àescala mundial.Assim, devido à dificuldade em controlar 

as espécies invasoras em todas as zonasatingidas, torna-se imprescindível o

estabelecimento de áreas e espéciesprioritárias.É importante começar pela prevenção,evitando quer a introdução de espécies compotencial invasor, quer de novas espéciescujo potencial invasor é desconhecido.A educação ambiental  é fundamental,de forma a minimizar as introduçõesacidentais, alertando para as ameaças querepresentam e envolvendo cada um naresolução deste problema. É tambémimportante o investimento na gestão deáreas invadidas, estabelecendometodologias de controlo das espécies jáinvasoras e restringindo a introdução denovas espécies potencialmente invasoras.

(*) Técnica Agrícolana Câmara Municipal da Nazaré

No sentido de implementar umplano de gestão de controlo daacácia no concelho da Nazaré, aautarquia iniciou uma campanha deerradicação da acácia ,nomeadamente das espécies Acacia

longifolia  e  Acacia melanoxylon . Aprimeira acção decorreu na área

envolvente do mercado municipal deValado dos Frades, onde se cortoue tratou todas as acácias e seefectuou, igualmente, a remoção dochorão-das-praias (Carpobrotus

edulis), vulgarmente conhecido comobálsamo, espécie também de grandepotencial invasivo. Esta iniciativacontou com o apoio da CâmaraMunicipal da Nazaré.Recentemente, iniciaram-se os trabalhos numa área invadida por 

acácias nas Matas Nacionais ,próximo do Monte de S .Bartolomeu. Os trabalhos consistem

Remoção de espécies invasorasno concelho da Nazaré

no controlo físico de arranque dasplantas jovens , e fectuando aremoção da raiz e, nas plantasadultas, procedendo-se ao corte dasárvores no colo (transição raiz-caule), seguido de controlo químico,cuja aplicação é quase imediata umavez que, quanto menor for o tempo

entre o corte e a aplicação doproduto, maior será a sua eficácia.Neste sentido, utiliza-se um fitocidase lect ivo, não res idua l , cujasubstância activa é o glifosato.A longo prazo, e dada a elevadalongevidade das sementes no solo,será necessár io reforçar estaintervenção através de umacompanhamento posterior, deforma a remover manualmente asplântulas do solo.

Mª Laura Anastácio

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A

GEOLOGIA no VerãoUm passeio pelas estórias das rochas

Quando é que vemos as pegadas dos dinossauros? A ingénua perguntachega feita pelo Afonso, seis anos cheios de curiosidade e um mundointeiro por descobrir. O crocodilo de borracha na sua mão não engana:este jovem “cliente” do programa “Geologia no Verão” gosta de répteisgrandes e sabe ao que vem. Mas nem mesmo quando alguém no grupolhe disse que as pegadas dos dinossauros existentes na Serra da Pescarianão faziam parte do programa da visita desse dia, mas sim do diaseguinte, o entusiasmo do Afonso esmoreceu.

setembro 2005

companhado pelo pai,residente em Alcobaça, opequeno explorador estádisposto a tirar o melhor 

partido de uma aventura pelo passadogeológico da Nazaré. Pode nãocompreender a maior parte da informaçãoque é transmitida aos outros participantes, todos adultos, mas passear pelas rochase pelas dunas «é muito giro».O ponto de partida desta acção, intitulada“Milagres da Geologia no Sítio da Nazaré”,é o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré.Hoje, o grupo é heterogéneo em termosde faixas etárias e proveniência dosparticipantes. Alguns são “veteranos” dasacções do “Geologia no Verão”, promovidopelo projecto Ciência Viva, percorrendo

diversos pontos do País. Mas, na opiniãode uma professora aposentada, oriunda daregião de Coimbra, o litoral Oeste, em geral,e a Nazaré, especificamente, são «dos locais

mais interessantes» e «as acções muito bemorganizadas».Participar nesta actividade significa recuar qualquer coisa como 100 milhões de anos,até ao período Cretácico. Mais recentedo que o Jurássico da Serra da Pescaria(a formação geológica mais remotaexistente na área do concelho da Nazaré),mas ainda assim um período longínquoem que se deu a chamada deriva doscontinentes e o que é hoje a Europaseparou-se da América.A maior parte das rochas existentes naregião formaram-se a partir dessa altura.São rochas sedimentares, formadas debaixode água e próprias de ambiente marinho,por isso muito fossilizadas. Logo, comosalienta a geóloga Maria Laura Anastácio,

responsável pelas acções no concelho daNazaré, são rochas que registam, tal papelquímico, o passado da Terra, contendoinformações preciosas sobre a

paleontologia, a biologia e os ambientesdessas épocas remotas.Depois de alertados para esta situação,e em pleno passeio pelo promontório daNazaré, não foi difícil aos participantesaperceberem-se da enorme quantidadede fósseis marinhos que existem à nossavolta ou debaixo dos nossos pés. Mas,entre muitas outras “preciosidades”geológicas de que o promontório e a zonaenvolvente à Praia do Norte sãoriquíssimos, a guia desta visita chama a

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património natural

atenção para a existência de vestígios debasalto na estrutura do Promontório, queé essencialmente calcário. «Trata-se de ummilagre geológico», afirma Maria LauraAnastácio, explicando que é um filão difícilde identificar e que não se conhece comoele está orientado no interior dopromontório, nem qual a sua extensão.Na opinião da geóloga, poderá ter sidoesta estrutura interna basáltica (de origemmagmática e, portanto, mais dura) quepermitiu ao promontório da Nazaré

manter uma estabilidade que o fezsobreviver, mais do que toda a área àsua volta, aos fenómenos da erosão.Os sinais da erosão – fenómenogeológico permanente – estão patentespor toda a paisagem circundante. Durantea visita, o grupo passa, na encosta dopromontório virada a norte, por um“grand canyon” em miniatura, ou seja,pequenos vales muito sulcados queexemplificam, à escala, os efeitos erosivosdas águas escorrenciais.Também a Praia do Norte tem os seusmistérios. Ficámos a saber, por exemplo,que a magnífica cor avermelhada que a grutado Forno d’ Orca apresenta ao pôr-do-solse deve à presença de arenitos muitobrilhantes, sobretudo mica, que reflectem aluz. E que lá se pode ver uma chamada“estrutura de impacto”, um cone de rochadestruído devido, certamente, a umfenómeno sísmico intenso, e que foirecentemente capa de uma revista científica.Depois destas curiosidades geológicas, avisita prosseguiu rumo à Duna da

Aguieira, reconhecida internacionalmentecomo a maior duna consolidada daEuropa. Apesar de não ter conseguido aclassificação como “geomonumento”,solicitada também aquando daclassificação do Monte de S. Bartolomeu,

a Duna da Aguieira é um interessante testemunho de preservação de areiasdunares pela vegetação do pinhal deLeiria, que permitiu a sua fixação. Nãosendo possível o acesso automóvel, atingir a duna exige alguma dose de esforço físico;logo recompensado, porém, com a vistaque é possível alcançar do alto dos seus156 metros de altitude.O passeio pelos “Milagres da Geologia noSítio da Nazaré” ficou concluído com umavisita ao Museu Etnográfico e Arqueológico

Dr. Joaquim Manso, onde estão expostosalguns interessantes testemunhos destepassado longínquo, a cuja história apenas temos acesso através das rochas.

NAZARÉ CRIA PERCURSOS PEDESTRES

“Rota dos Milagres” é como se chamará o primeiro percurso pedestre no concelho daNazaré. O projecto está actualmente em fase de desenvolvimento pela Câmara Municipalem parceria com o Clube Ibérico de Orientação e Montanhismo, que colabora naorganização deste percurso de pequena rota.A elaboração de um percurso pedestre é a criação de uma infra-estrutura desportiva

que favorece o desenvolvimento turístico sustentável em harmonia com o espaçonatural e com a população. Esta infra-estrutura é um espaço que permite a realizaçãode um conjunto muito diversificado de actividades. Para além do aspecto desportivo elúdico do pedestrianismo, as actividades podem revestir carácter cultural, pedagógico,ambiental e ecológico, como ocupação de tempos livres de uma forma activa e saudávelem contacto com a natureza e dando a conhecer, ao mesmo tempo, novos caminhos,locais, regiões, tradições, fauna, flora e a paisagem natural e construída.A “Rota dos Milagres”, o primeiro de um conjunto de dois que estão em fase dedesenvolvimento, é um percurso circular com início e finalização junto ao Santuário daNossa Senhora da Nazaré. Tem um total de 12 kms de extensão, abrangendo áreas depaisagem diversificada como dunas, pinhal, mata mediterrânea e área urbana com várioslocais de interesse cultural e patrimonial.

A marcação do percurso é feita através de placares informativos e marcas ao longo docaminho, utilizando as regras homologadas pela Federação Portuguesa de Campismo.O outro percurso em estudo localiza-se numa zona da Serra da Pescaria e do Salgado,com uma extensão ligeiramente inferior e será denominado “Rota dos Trilhos”. Estepercurso vai permitir a realização de actividades mais viradas para o património naturale, especialmente, o geológico e paleontológico.

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setembro 2005

PASSEIOS

“Nazaré: Uma terra moldada pelo mar“

16 e 22 de Outubro - 10.00 horas

Santuário de Nª. Srª. da Nazaré

Inscrição gratuita - Telf. 262 56 11 94

Duração: todo o dia

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nazaré  informa

ambiente

“FUNDO LIMPO”lança alerta sobre lixo subaquático

Porque sensibilizar para o problema da poluição e degradação dos fundos marinhosé uma tarefa urgente, cerca de sete dezenas de mergulhadores participaram, nopassado dia 3 de Setembro, na acção “Fundo Limpo”, promovida pela CâmaraMunicipal e pelo Clube Naval da Nazaré. Ao longo da enseada, na zona entre aPedra do Guilhim e a linha de praia, os mergulhadores procederam à recolha de maisde cinquenta quilos de detritos que estavam sob as águas, numa acção que envolveu14 embarcações e participantes oriundos da Nazaré, Alcobaça, Marinha Grande,Figueira da Foz e Lisboa.

Grande parte dos detritos recolhidos pelas equipas de mergulho consistiu em restos daactividade piscatória, nomeadamente redes, cabos, covos e ferros. Contudo, foram também

retirados latas, garrafas e até chapéus-de-sol, entre outros tipos de resíduos.Promovida no âmbito da “Bandeira Azul

Nazaré 2005” e do projecto AWARE,da PADI (Professional Association of Diving Instructors), a acção “FundoLimpo” tem como principal objectivo, maisdo que a quantidade de lixo recolhida,alertar a opinião pública para asconsequências da acção humana sobreos ecossistemas marinhos e, emparticular, para a poluição dos oceanos.A educação para a sensibilidade ambientalé uma das principais linhas de actuação doprojecto AWARE (Aquatic WorldAwareness, Responsability and Education),em que participam o Clube Naval daNazaré e a Câmara Municipal, através desta

actividade. “A preservaçãocomeça com acompreensão danecessidade de proteger aságuas necessárias à vida»,defende a AWARE.A acção “Fundo Limpo”contou com a colaboraçãoda Capitania do Porto daNazaré, Escola de Mergulho

ANFIBIUS, Escola deNavegação NOROESTE eAssociação de Mergulho daFigueira da Foz.

setembro 2005

Foi com grande entusiasmo que, nopassado dia 18 de Agosto, cerca desessenta crianças participaram no projecto“Oficinas Bichos d’Água” que teve lugar na Biblioteca de Praia da Nazaré, numaacção integrada no programa BandeiraAzul.Este projecto pedagógico, cuja temáticaé o ambiente, tem por missão levar aosmais jovens,

 

através de metodologiasexperimentadas,  um atelier lúdico,animado e cheio de cor que, a partir demateriais reciclados, ajuda-os a construir os seus novos “amigos” marinhos. Emplena praia, através de práticas deanimação interactiva, as crianças foramconvidadas a construir, a partir de lixo

doméstico (garrafas de água, cartão doleite e outros materiais) representações tridimensionais e/ou articuladas de animaisque, naturalmente, vivem na ou da água(golfinho, tartaruga, etc.), ao mesmo tempo que recebiam informação sobre temas como a cadeia alimentar e apreservação do ambiente, entre outros.A vertente de comunicação adoptadapelos monitores responsáveis por esteprojecto permitiu que os jovens que neleparticiparam desenvolvessem o seudiscurso oral e escrito, dando-lhesoportunidade de criarem as suas própriashistórias e de transmiti-las, sem bloqueiosou inibições, colocando à prova o seuespírito inventivo.

BIBLIOTECA DE PRAIA,Crianças aprendem com “Bichos d’Água”

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nazaré  informa setembro 2005

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 Veados regressam aos pinhaisdo Sítio da Nazaré

Uma das representações mais famosas do imaginário nazareno prende-

se com o milagre de Nossa Senhora, cuja intervenção divina salvou D. Fuas Roupinho dese precipitar nas falésias do Sítio quando perseguia um veado. Na fronteira entre o mito ea história, permanece o facto de, há vários séculos, as matas circundantes ao Sítio daNazaré terem sido habitadas por espécies de caça grossa, nomeadamente cervídeos, queforam desaparecendo ao longo do tempo.Agora, os veados estão de regresso ao pinhal de N. Sra. da Nazaré, numa acção dereintrodução cinegética destinada a fins educativos e de sensibilização ambiental. Masquais as principais características destas espécies? Qual o seu contributo para abiodiversidade local? Eis uma abordagem inicial ao universo dos cervídeos

TextoANA MARIA FAUSTINO ARSÉNIO (*)

Oveado é um animal de grandeporte da família dos cervídeos(Cervidae) , forte, mas ágil e pru-dente. Esta família inclui animais

mamíferos ungulados ruminantes, isto é,mamíferos que têm o casco dividido emduas secções ou dedos e cujo estômago émulti-compartimentado para maior apro-veitamento dos vegetais de que se alimen- tam. Na família do veado estão incluídos ocorço (Capreolus capreolus), o gamo (Dama

dama), o alce ( Alces alces) e a rena (Rangifer 

tarandus). O veado (Cervus elaphus) ocor-re em quase toda a Europa estando aindarepresentado ao nível da sub-espécie noNorte de África, Ásia Menor, Tibete,Caxemira, Turquemenistão e Afeganistão, tendo sido introduzido na Austrália e NovaZelândia. Na Europa, o veado existente naPenínsula Ibérica é considerado uma sub-espécie diferente das que ocorrem na Eu-ropa Central, Escócia, Córsega e Sardenha.O macho é denominado veado e a fêmeacerva ou veada (em português antigo).O veado é o segundo maior cervídeo eu-

ropeu, imediatamente a seguir ao alce. Opeso dos machos varia conforme as regi-ões podendo atingir os 350 kg na EuropaCentral mas na Península Ibérica, em con-

dições naturais, raramente excede os 250kg. As fêmeas podem atingir os 150 Kg.Ambos, machos e fêmeas fazem mudançade pêlo com a passagem da estação. As-

sim, o veado apresenta pêlo castanhoavermelhado durante o Verão e castanhoescuro no Inverno. As crias até aos doismeses de idade apresentam manchas bran-cas dorsais, que favorecem a camuflagemna vegetação. Dois caracteres que diferen-ciam o veado de outros cervídeos são acauda e o escudo anal. A cauda é curta,acastanhada e sem tons de preto. O escu-do anal corresponde a uma zona em tor-no do ponto de inserção da cauda, carac- terístico dos cervídeos, em que o pêlo é

mais claro. No caso do veado esta zona tem tons amarelados. Tal como quase todosos machos das espécies pertencentes à fa-mília Cervidae, os veados possuem hastes.

As hastesAs hastes são formações de natureza ós-sea ao nível do crânio, que todos os anoscaem após a época da reprodução e se tornam a desenvolver no mesmo ano, aocontrário do que se passa no grupo dosbovinos que possuem estruturas equiva-lentes, de natureza permanente, denomi-nadas por cornos.O crescimento das hastes é determinadopor processos de natureza hormonal. Coma excepção da rena, cuja fêmea possui has-

 tes, apenas os machos dos cervídeos apre-sentam aquele tipo de formações ósseas.As hastes, enquanto crescem, encontram-se cobertas por uma epiderme denomina-

da por veludo extremamente rica em va-sos sanguíneos que protege e irriga a hasteem desenvolvimento. Quando a haste atin-ge o tamanho final para esse ano, a redede vasos sanguíneos seca, o veludo cai, e aparte óssea fica exposta. Após a época dereprodução, as hastes caem mas passadasalgumas semanas inicia-se um novo ciclode crescimento anual com o desenvolvi-mento de novas hastes.Geralmente, em cada ano, as hastes au-mentam de tamanho e em número de ra-

mificações ou pontas, existindo por isso umarelação entre a idade do macho e o tama-nho das hastes (Figura 1). Sabe-se no en- tanto que a qualidade da alimentação, maisdo que a idade do indivíduo, é um dosmais fortes condicionantes do tamanho dashastes. Factores genéticos estão tambémenvolvidos nestes processos.A idade dos veados pode ser avaliadapelos dentes, mais precisamente pelo des-gaste dos molares, à semelhança de ou- tros herbívoros e ruminantes.

Para que servem as hastes?As hastes são sobretudo utilizadas du-rante as lutas entre machos na altura dareprodução. Devido à morfologia que apre-

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setembro 2005 nazaré  informa

34   biodiversidade

sentam têm tendência para se entrelaçar 

durante as lutas e funcionam mais como“medidores de força” do que propriamen- te instrumentos para ferir ou matar o anta-gonista nos despiques entre machos. O tamanho e complexidade das hastes estãocuriosamente relacionados com o tipo deorganização social dos cervídeos durante areprodução. As espécies como o veado,com tendência para possuir hastes maio-res e mais ramificadas, apresentam poliga-mia, isto é, formas de reprodução em quecada macho copula com várias fêmeas e

possui geralmente um harém de fêmeas.Cervídeos, como por exemplo o corço, comhastes mais pequenas e menos ramificadas tendem para sistemas onde a monogamiaé mais frequente. Dentro de cada espécieo tamanho das hastes está directamenterelacionado com o tamanho corporal, por isso os machos que possuem hastes maio-res e mais ramificadas são também os maiscorpulentos e dominantes. Nestes casos asdiferenças de tamanho corporal entre ma-chos e fêmeas (ou dimorfismo sexual) au-mentam. Nas espécies animais, as situaçõesde maior dimorfismo sexual coincidem tam-bém com os casos em que a poligamia émais frequente.

Influência do habitat na gestão de veadosPara se averiguar qual a densidade ideal

FIG. 1  Representação de hastes

de veados com idades compreen-didas entre seis meses a um ano

(a), com dois anos (b), com três

anos (c), com cinco anos (d), com

seis anos (e) e com sete anos (f).

FIG. 2 Representação das partes

constituintes de uma armação de

veado.

Nota: as figuras são ilustrativas

dos veados introduzidos no

cercado do Sítio da Nazaré

para um determinado habitat ter-se-á deanalisar o estado físico dos animais e asua dinâmica populacional. Esta definiçãoda densidade ideal deve por sua vez ter em atenção a capacidade de suporte domeio, podendo ser preferível manter adensidade dos veados inferior a esta ca-pacidade para: evitar um impacte negati-vo no ambiente onde os animais vivem;melhorar a condição física dos animais;incrementar a fertilidade das fêmeas; au-mentar a sobrevivência das crias; aumen- tar o valor do troféu; e aumentar as taxasde recrutamento.A escassez de alimento, resultante de umadensidade populacional elevada, afectaráprimeiro os machos (principalmente os mais

velhos) por haver quem admita serem maisfracos competidores por alimento do queas fêmeas, situação que começará por re-flectir-se na diminuição da qualidade do tro-féu [*]. De uma maneira geral será preferí-vel ter um número idêntico de machos efêmeas, ou mesmo estar em número ligei-ramente inferior, pois a maior capacidadedas fêmeas na competição pelo alimentodesfavorece a nutrição dos machos.As acções de gestão vão no sentido dereduzir o número de animais (normalmen- te os de pior condição física) para níveisque o meio tenha capacidade de suportar,no sentido da diversificação e aumento daquantidade de alimento com renovação depastagens, plantação de árvores produto-

ras de fruto e mesmo suplementos alimen- tares em comedouros.

Os habitats do veadoO veado ocupa uma grande variedade dehabitats. Na Europa Central, o tipo de

A Confraria de Nossa Senhora da Nazaré e a

Câmara Municipal deram início a uma acção de

repovoamento de uma área de cerca de seis

hectares, na zona da Praia do Norte.

Nesta fase, foram introduzidos três exempla-

res. O principal objectivo é criar um novo

espaço de características lúdico-pedagógicas.

coroa

pontaintermédia

contra-estoque

estoqueroseta

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habitat mais comum é constituído por flo-resta de resinosas ou folhosas com váriasclareiras onde cresce erva. Na Escócia aspopulações de veado são muito abundan- tes nas vastas áreas de urze existentes nas“Highlands”, enquanto que na Península Ibé-rica é frequente a presença do veado nos

matagais de esteva e nos montados, so-breirais e azinhais com algum mato, embo-ra esta espécie procure sempre clareirasonde cresça erva necessária à alimentação.Os eucaliptais, pela tranquilidade que ofe-recem, constituem importantes zonas derefúgio para o veado em Portugal eEspanha. Quando estas áreas de eucaliptalse encontram perto de áreas de montadode azinho e sobro é frequente o movimen- to de animais entre os dois tipos de áreas.No Tejo Internacional, o reaparecimentonatural do veado iniciou-se em meados dos

anos 80, proveniente da população espa-nhola vizinha. Tal reaparecimento é umaconsequência das condições de expansãocriadas pela alteração da paisagem que sefez sentir em terras espanholas, e depoisem Portugal, em resultado do êxodo rural.

Reintrodução de veadosNo caso de um grupo de veados introdu-zidos na Serra da Lousã, recorreu-se a téc-nicas de rádio-telemetria para efectuar oestudo da utilização do espaço ao longo

do tempo. Os animais provinham de ou- tras regiões de Portugal Continental sendoo grupo constituído por quatro fêmeas, doismachos adultos e um macho com um ano.Durante os primeiros cinco meses os ani-mais permaneceram próximo das áreas delargada, que se caracterizava pela presençade um coberto florestal essencialmente defolhosas e pela presença de uma pequenamassa de água. Apesar das diferenças ob-servadas entre os animais seguidos em ter-mos de áreas ocupadas e de comporta-mento alimentar, os indivíduos apresenta-ram uma forte sobreposição em termosde áreas utilizadas, passando a maior par- te do tempo muito próximo do ponto delargada, o que se traduz numa reduzida

dispersão. Os resultados obtidos evidenci-am que a escolha do local de largada é umfactor muito importante no processo dere-introdução do veado. A presença deáreas de alimentação de qualidade junta-mente com a presença de coberto de abri-go e existência de água, para além do bai-

xo nível de perturbação humana, são fac- tores determinantes para evitar fenómenosde elevada dispersão.

Dieta alimentar A bolota é um importante recurso alimen- tar que o veado encontra nos montadosdurante a estação do Outono/ Inverno. Naalimentação são ainda incluídas ervas di-versas, frutos, rebentos de árvores e ar-bustos, variando o consumo com a quali-dade e quantidade de alimento disponívelno terreno e as necessidades fisiológicas da

espécie (crescimento das hastes nos ma-chos, períodos de aleitamento e gestaçãodas fêmeas, por exemplo).O conhecimento da dieta de uma espécie torna-se imprescindível para a fundamen- tação da sua correcta gestão e ordena-mento. O estudo da dieta alimentar dosveados pode ser feito através da técnicada análise micro-histológica das fezes, parareconhecimento das epidermes das dife-rentes espécies vegetais encontradas. Maiaet al. (8) realizaram colheitas de fezes du-

rante a época de reprodução, entre Se- tembro e Novembro de 1994. Os resul- tados observados relativamente à compo-sição da dieta no mês de Setembro, de-monstram uma composição em vegetaçãolenhosa da ordem dos 68,7% e herbáceascerca de 31%. Relativamente aos mesesde Outubro/Novembro, a bolota surge jácom grande significado, reduzindo-se a par- ticipação das lenhosas para 20,3% e dasherbáceas para 24,8%. Estes dados, em-bora de forma meramente indicativa, de-monstram já a importância da manuten-ção de um coberto arbóreo, como basepara a disponibilização de uma componen- te de alto valor nutritivo como a bolota.Outra técnica para o estudo da dieta é a

análise dos n-alcanos (hidrocarbonetossaturados de cadeia longa constituintes es-pecíficos de cada espécie de planta) parainvestigação da nutrição destes animais. Oprocedimento já foi utilizado com sucessoem zonas temperadas estando em valida-ção como ferramenta para o estudo da

dieta do veado na área do Mediterrâneo.A organização social e a reproduçãoCom excepção da época de reprodução,machos e fêmeas encontram-se segrega-dos e ocupam áreas geográficas diferentesdurante a maior parte do ano. Os machosconstituem-se em grupos relativamentenumerosos enquanto as fêmeas tem ten-dência para se agrupar em gruposmatriarcais constituídos normalmente por uma fêmea adulta, a sua filha e neta ou filhado ano anterior. Durante a época de re-

produção a segregação sexual deixa de ser evidente, e nesta altura os machos consti- tuem e defendem haréns de fêmeas ouprotegem das incursões de outros machos, territórios onde ocorram fêmeas.É durante a época de reprodução, entreSetembro e Novembro consoante as regi-ões, que acontecem as lutas e despiquesentre machos. Muitas vezes existe apenasuma “avaliação” de forças entre competi-dores, através da intensidade e volume de“bramidos” emitidos pelos machos. Este

som, com semelhanças com o mugir dasvacas, é uma das mais fortes característicasda época de reprodução do veado. Por este motivo esta época toma também onome de brama. As fêmeas são fecunda-das nesta altura do ano vindo as crias anascer cerca de sete a oito meses mais tarde entre Maio e Junho.

(*) Engenheira agrónoma

[*] Designação dada à armação dos veados,que pode ser considerada um troféu de caça.

Nota do Editor: Por ser muito extensa, não seindica a bibliografia usada pela autora. No en-tanto, os interessados poderão solicitar as refe-rências bibliográficas através do [email protected]

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setembro 2005   nazaré  informa

Parque da Pedralva vai ser alvo de uma intervenção derecuperação, visando a suavalorização enquanto espaço

público e, sobretudo, enquanto zona ver-de privilegiada no centro da Nazaré.

As mais recentes perspectivas relaciona-das com ordenamento do território evalorização da vida urbana estabelecemos espaços verdes como uma parte fun-damental da urbe – locais de encontro,partilha, lazer e coesão social e, simultanea-mente, espaços urbanos ambientalmentesustentáveis.

Nova vida para o

Parque da Pedralva

requalificação

OEstes espaços, todavia, devem corresponder  também às necessidades da comunidadeonde se inserem, nomeadamente a cres-cente aspiração a uma maior qualidade devida. Da mesma forma, os espaços verdesdevem ser, também, o prolongamento daidentidade cultural local.Foi com base neste entendimento que aCâmara Municipal da Nazaré decidiu pro-ceder a uma intervenção de valorizaçãodo Jardim da Pedralva, concebido em fi-nais da década de 1920, com o objecti-vo de dotar a Nazaré de um espaço depasseio de qualidade.

O novo projecto, da autoria do arquitec- to paisagista Álvaro Manso, mantém pra- ticamente inalterada a actual estrutura do Jardim da Pedralva, centrando a sua in- tervenção na requalificação das principaiszonas de fruição daquele espaço. A áreaenvolvente ao lago e aos campos de ténisserá alvo de trabalhos de embelezamentoe valorização, que incluem, como aspectomais visível, a instalação de um quiosquepara serviço de café e similar.A vegetação será outro aspecto a mere-cer atenção, com a limpeza das encostasdo Monte Branco e valorização do dese-nho paisagístico existente.Contudo, as obras mais notórias deste pro- jecto vão centrar-se no miradouro do MonteBranco, que será sujeito a uma significativaintervenção. Sendo um dos mais belos mi-

radouros sobre a Nazaré, o promontórioe a linha de costa, é também um dos maisdesconhecidos para os visitantes e poucofrequentado pela população local.

EN 8-5

S

N

Miradouro

Entrada junto ao

Centro Comunitário

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nazaré  informa setembro 2005

É a pensar na inversão desta situação e nadignificação deste local como ponto privile-giado para uma das mais impressionantesvistas panorâmicas da região, que se de-senvolve o projecto de requalificação domiradouro, o qual contempla o arranjo docaminho pedonal desde a base do Parqueaté ao cimo do Monte Branco e a recria-ção do próprio miradouro, que se apre-sentará sob forma de plataforma suspensa.Devolver ao Jardim da Pedralva a sua dig-nidade enquanto espaço verde por exce-

lência da vila da Nazaré, e criar condiçõesde atractividade para uma utilização maisfrequente deste espaço público, quer paraa população local, quer para os visitantes,são os principais objectivos deste projecto.

A origem do Parque da PedralvaOs primeiros trabalhos de valorizaçãoda zona da Pedralva (ou Peralva, comoera também designada) parecem re-montar a 1928. O “Diário de Notícias”dava conta, esse ano, da «construçãode uma ponte e caminho de acesso aoMonte Branco […] e construído ummirante para que os nossos visitantespossam apreciar e gozar o lindo pano-rama que dali se divisa».A obra, promovida pela Comissão deIniciativa da Nazaré, baseava-se, segun-do notícia do mesmo jornal datada deNovembro de 1928, na «feliz ideia de transformar o Monte da Pedralva numaprazível passeio». Assim, terá sido feita«uma ponte de 14 metros sobre o valedos Barrancos, ligando a estrada nacional

a meia encosta do Monte, rasgou cami-nhos por entre o pinhal existente, colo-cando nas curvas graciosos bancos rústi-cos que dominam lindas perspectivas,

ensaibrando o piso e calçando-o por for-ma a não magoar os pés mais mimososou mais atacados de calos» [Diário deNotícias, 27-XI-1928].Esta obra vinha dar corpo a anseios anti-gos. O jornal “Notícias da Nazareth” de26 de Setembro de 1926 defendia a ne-cessidade de «um parque abrangendo ocircuito da Sra. dos Anjos pela estrada àPrimavera e dali pela calçada que vai àcapela. Este parque terá no alto daPedralva um belvedere e um casino com

um pequeno hotel de luxo».O projecto da Comissão de Iniciativa nãofoi tão ambicioso, mas em 1928 dava-seandamento ao processo de aquisição domonte da Pedralva e de uma várzea nosopé, e a Câmara Municipal terá cedido«amigavelmente» um vale de eucaliptos,para «a construção de um parque […] e transformação do Monte da Pedralva emretiro agradável com quatro entradas, sen-do três com elegantes portas de ferro […],vários caminhos em lancetes para, com me-

nos esforço, atingir o ponto mais alto, me-sas à sombra rodeadas de bancos e apro-veitados pelos visitantes para abancareme comer os seus farnéis […]» [O Mensa-geiro, “A Nazaré, Coisas Ouvidas, Lidase Vistas por José Pedro”, 1942].A obra da Comissão de Iniciativa daNazaré de 1928 não viria a ser executa-da na sua totalidade. Desentendimentosno seio da Comissão levaram a umamudança dos seus líderes. O novo presi-dente da Comissão, Goulard de Medeiros,desiste do projecto anterior e atribui ao

«distinto paisagista Jacinto de Matos» aelaboração da nova planta «de um fu- turo parque com um belo lago, courtde ténis, patinagem […] ajardinar a

O projecto de recuperação do Par-que da Pedralva, a desenvolver pelaautarquia Nazaré, é da autoria deÁlvaro Manso, um dos mais reco-nhecidos arquitectos paisagistas donosso país. Ao longo da sua car-reira, tem-se especializado na áreada paisagem mediterrânica. Actu-almente, coordena e executa diver-sos projectos e obras de arquitec- tura paisagista. Desde 1995, pro- jecta espaços públicos como fac- tor de qualificação das áreas urba-nas, nomeadamente em zonas dehabitação social, tornando-os pal-co de integração social.No domínio da água, estuda e in-vestiga o seu valor como compo-

nente ecológica e estética da pai-sagem natural, bem como a suavertente lúdica, ornamental e didác- tica.

parte plana junto ao sopé do monte e também uma parte do campo de euca-liptos» [“A Voz”, 11-05-1929].Os jornais da época faziam eco deste in-vestimento, considerando ter sido«construído um lindo parque, formosa-mente arborizado e com um grande lagopara recreio. Ali afluem numerosamenteos banhistas da Nazaré, organizando pic-nics». E o miradouro era também alvo dereferências generosas: «Olha-se de lá todo o dorso da vila, os recortes admirá-veis da costa, a vastidão oceânica» [in “AVoz”, 1929]; «[…] entre o Monte e omar, desenrola-se panoramicamente,como o correr de um filme, a linda povo-ação da Nazaré, com as suas casas mui-

 to brancas, as suas ruas todas direitas àpraia […] Extasia a vista do espectador.»[in “Diário de Notícias”].

O AUTOR DO PROJECTO

Estudos para o projecto de recuperação do Parque da Pedralva, da autoriade Álvaro Manso. O projecto prevê, entre outros aspectos, a requalificaçãoda zona envolvente ao lago e do miradouro do Monte Branco.

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Agenda 21 Local1 , tal comofoi concebida em 1992, no

Rio de Janeiro, e aprofundadaem 2002, em Joanesburgo (1),é um instrumento de desen-

volvimento sustentável das comunidadeslocais, orientado para a melhoria qualita- tiva do bem-estar humano, através daconciliação da ecologia, da economia e dasociedade, nas suas diversas dimensões:desenvolvimento económico, protecçãoambiental, justiça social e governação.O desenvolvimento sustentável preten-de ser economicamente eficaz, socialmenteequitativo e ecologicamente sustentável.

Respeita os recursos naturais e osecossistemas, sem perder de vista a efi-cácia económica e as finalidades sociaisdo desenvolvimento: a luta contra a po-

O desenvolvimento sustentável

começa aquibreza e contra as desigualdades e a ex-clusão, bem como a promoção de níveiscrescentes de satisfação das pessoas nacomunidade a que pertencem. Reflecte,na sua essência, uma comunidade orien- tada sobretudo para a sua dimensão hu-mana.É ao nível do poder local que grande par-

 te dos problemas do desenvolvimentosustentável se podem resolver, uma vezque, somente perto das comunidades ecom o envolvimento destas, é possívelidentificar, planear, executar e monitorizar o desenvolvimento sócio-económico eambiental dessas mesmas comunidades.Neste sentido, a metodologia desenvol-

A Agenda 21 Local é o instrumento de integração

e articulação, ao nível da comunidade local, dos quatropilares do desenvolvimento sustentável: ambiente,

economia, sociedade e conhecimento e inovação.

setembro 2005   nazaré 

informa

vida pela IPI – Inovação, Projectos e Inici-ativas, Lda., respondendo a necessidadesdiferenciadas num contexto global demudança e crescente exigência ética,autonomiza o conhecimento e inovaçãocomo pilar do desenvolvimento susten- tável, entendendo que os recursos huma-nos são o factor determinante na cons-

 trução da coesão social e territorial e dacapacidade de compromisso com cami-nhos que protejam o ambiente.A Agenda 21 Local é, assim, o instrumen- to de integração e articulação, ao nível dacomunidade local, dos quatro pilares dodesenvolvimento sustentável: ambiente,economia, sociedade e conhecimento e

A

TextoIPI – INOVAÇÃO, PROJECTOS E INICIATIVAS(*)

 A GENDA  21 LOCAL  DA  N AZARÉ

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planeamento

A Agenda 21 Local é um processo de

âmbito internacional e europeu, cuja refe-

rência inicial é o Capítulo 28 do Plano de

Acção para o Século 21 (Agenda 21), da Con-ferência das Nações Unidas sobre Ambien-

te e Desenvolvimento (CNUAD), realizada

no Rio de Janeiro em 1992. O seu desen-

volvimento subsequente operou-se, nome-

adamente, através dos seguintes instrumen-

tos: Carta de Aalborg, elaborada na Confe-

rência Europeia sobre Cidades Sustentáveis,

ICLEI (Conselho Internacional para as Inici-ativas Ambientais Locais), 1994; Estratégia

de Lisboa, Conselho Europeu de Lisboa,

2000; Estratégia Europeia de Desenvolvi-

mento Sustentável, Conselho Europeu de

Gothenburg, 2001; 6.º Programa Comuni-tário de Acção em Matéria de Ambiente

(2001-2010); Declaração Final da Conferên-cia Mundial sobre o Desenvolvimento Sus-

tentável, Joanesburgo, 2002.

inovação.Trata-se de um processo colectivo basea-

do na abertura, participação, responsa-

bilização, eficácia e coerência, que implica o

envolvimento das instituições públicas e

privadas, das empresas, da sociedade civil

e dos cidadãos individualmente considera-

dos. Só desta forma é possível construir 

uma visão partilhada, um compromisso e

uma direcção claros, que constituam a pla-

 taforma de concretização da estratégia e

das acções que a Agenda 21 Local implica.

Os objectivos locais

A Agenda 21 Local da Nazaré é um pro-

 jecto do e para o Município da Nazaré

que está a ser elaborado pela IPI, Lda., o

qual, para além dos quatro pilares do

desenvolvimento sustentável, integra comorecurso estratégico e preponderante,

 transversal àqueles pilares, o mar.

São objectivos principais da Agenda 21

Local da Nazaré:

- A integração dos princípios do desen-

volvimento sustentável nas políticas, pro-

gramas e processos de decisão local.

nazaré 

informa setembro 2005

É ao nível do poder local que grande parte dos problemas do desenvolvimento sustentávelse podem resolver, uma vez que, somente perto das comunidades e, com o envolvimentodestas, é possível identificar, planear, executar e monitorizar o desenvolvimento

- O envolvimento dos cidadãos e dosagentes económicos, sociais e culturais nos

processos de decisão e actuação locais.

- A presença e afirmação dos interesses

da comunidade, mediante a participação

activa em redes e parcerias locais, regio-

nais, nacionais e transnacionais.

- A definição de objectivos operacionais

e a concretização de planos de acção fo-

calizados na consolidação e reforço do

desenvolvimento sustentável local.

- A aprendizagem e a adaptação à mu-

dança, no quadro dos valores e objecti-

vos da comunidade local.

- O acompanhamento da evolução regis-

 tada, mediante a monitorização dos indi-

cadores de desenvolvimento sustentável.

- A revisão periódica dos objectivos e

metas de desenvolvimento sustentávellocal, incorporando as novas necessida-

des e aspirações da comunidade num

processo de melhoria contínua.

Para a concretização destes objectivos é

indispensável a opinião da comunidade, a

ser escutada e incorporada de diversas

formas. Para tanto, o envolvimento e a

participação da população são cruciais eimprescindíveis, devendo obedecer, para

serem eficazes, credíveis, mobilizadores e

consequentes, a um mínimo de

institucionalização, ainda que flexível e

aberta.

Assim, através das comunidades escola-

res, das associações culturais e desportivas,

das instituições privadas de solidariedade

social, dos agentes económicos e das ins-

 tituições públicas, pretende-se dotar a

comunidade de instrumentos para se

empenhar e participar efectivamente na

construção e implementação da Agenda

21 Local da Nazaré:

- Promovendo informação e formação

para a sustentabilidade;

- Dando a conhecer os recursos e os pro-

blemas da comunidade;- Promovendo a adopção de comporta-

mentos mais sustentáveis;

- Desenvolvendo relações de confiança

entre todos os intervenientes e construin-

do consensos quanto aos percursos a

adoptar.

39

(*) EQUIPA DA AGENDA 21 LOCAL DA NAZARÉ

      V .      E .

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setembro 2005   nazaré 

informa

40   desporto

O desporto desempenha cinco funções que constituem a sua

especificidade:

1. Uma função educativa: a actividade desportiva constitui um

excelente instrumento para equilibrar a formação e o desenvol-

vimento humanos do indivíduo em qualquer idade;

2. Uma função de saúde publica: a actividade física oferece a

possibilidade de melhorar a saúde dos cidadãos e de lutar 

eficazmente contra certas doenças, tais como as afecções cardí-

acas ou o cancro; pode contribuir para preservar a saúde e a

qualidade de vida dos idosos;

3. Uma função social: o desporto representa um instrumento

Município da Nazaré foi dis-

 tinguido com o “Prémio Alves

Teixeira”, atribuído pelo jornal

“O Norte Desportivo” aos

municípios que mais e melhor investem

na área do desporto. A Nazaré ficou em

primeiro lugar no ranking dos 50 conce-

lhos que maiores investimentos fizeram

em actividades e equipamentos

desportivos, por relação ao número de

eleitores inscritos.

O “Prémio Alves Teixeira”, criado pelo

escultor André Alves em referência ao

emblemático director de “O Norte

Desportivo” com o mesmo nome, foi

atribuído numa cerimónia pública que

decorreu no passado dia 15 de Setem-

bro, em Coimbra.De acordo com o Director-Geral deste

projecto editorial, Eduardo Costa, “O

Norte Desportivo” «pretende distinguir 

o que ainda não é objecto de qualquer 

reconhecimento público: os municípios que

mais e melhor investem no fenómeno

desportivo. Acreditando que aqueles que

dão prioridade ao desporto nas suas

políticas de investimento, melhor garan-

Município da Nazaré premiadopor investimento na área do desporto

 tem, no presente e no futuro, uma activi-

dade desportiva que os distinguirá nesta

área».

O Prémio Alves Teixeira é atribuído atra-

vés de um concurso, com o objectivo de

distinguir as realizações e/ou equipamen-

 tos desportivos num determinado muni-

cípio, num determinado ano civil, na rela-

adequado para promover uma sociedade mais inconclusiva,

para lutar contra a intolerância e o racismo, a violência o abuso

de álcool ou o consumo de estupefacientes; o desporto pode

contribuir para a integração das pessoas excluídas do mercado

de trabalho;

4. Uma função cultural: a prática desportiva permite ao cidadão

criar laços mais profundos com um território, conhecê-lo me-

lhor, integrar-se melhor e estar mais empenhado na protecção

do seu ambiente;

5. Uma função lúdica: a prática desportiva representa uma com-

ponente importante dos tempos livres e do lazer individual e

colectivo.

A Criança que habitualmente pratica actividade física obtém:

Formação desportiva no concelho da Nazaré

TextoREINALDO SILVA (*)

O

ção custo/nº de eleitores, de entre os con-

celhos seleccionados pelo jornal. Para a

avaliação dos municípios a concurso, foi

escolhido o indicador “Despesas das Câ-

maras Municipais em Desporto – Jogos e

Desporto”, dos “Retratos Territoriais” de-

senvolvidos pelo Instituto Nacional de Es-

 tatística, referentes ao ano de 2002/2003.

O Complexo Desportivo Municipal foi um dos principais investimentos

realizados, com a construção, entre outros equipamentos, do novo pavilhão

gimnodesportivo, do campo de treinos sintético e da pista de atletismo.

      V .

      E .

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outubro 2005nazaré  informa

aumento das habilidades para a satisfação das actividades dodia-a-dia; melhoria das habilidades motoras; redução de lesões;redução de condições para desenvolvimento de doenças cróni-cas futuras ligadas ao sedentarismo; melhoria da auto-estima;melhoria do sentido de responsabilidade; melhoria da auto-confi-ança; melhoria da adaptação social; melhoria da expressão pes-soal e liberdade; e um maior desenvolvimento espaço-temporal.

Todos estes propósitos foram tidos em consideração pela Câ-mara Municipal da Nazaré quando lançou um projecto para oConcelho da Nazaré sobre formação desportiva. Todas as cri-anças têm acesso gratuito a todas as modalidades desportivascom técnicos pagos pela Câmara Municipal da Nazaré e apoio

logístico. Um projecto que tem valido a pena, pois todos os nos-sos jovens têm correspondido a esse esforço financeiro com oseu empenho. Não procuramos medalhas nem campeões, tudoisto tem sido uma consequência lógica do bom trabalho reconhe-cido pela população e não só!É bom o Concelho da Nazaré ter conquistado, entre 50 municípi-os, o primeiro lugar no ranking nacional como o município quemais e melhor investiu no desporto. A nossa Juventude mereceeste prémio e, para a autarquia, representa uma responsabilidadeainda maior para fazermos sempre mais e melhor segundo olema “Desporto é na Nazaré”.

(*) Vereador do Desporto da Câmara Municipal da Nazaré

»»» A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DESPORTIVA

41

CLUBE DE TÉNIS DA NAZARÉ COM ÉPOCA DOURADAAs atletas do Clube de Ténis da Nazaré, Magali de Lattre e Ana Nogueira,sagraram-se respectivamente campeã e vice-campeã nacional, no escalãosénior, no decurso do campeonato nacional absoluto que decorreu emÉvora. Magali conseguiu o feito de, na mesma época, conquistar o título decampeã nacional de juniores e seniores.

Ainda no campeonato nacional absoluto de Seniores, a também atleta doClube de Ténis da Nazaré, Joana Pangaio, sagrou-se campeã nacional empares femininos. Além disso, Joana Pangaio é vice-campeã nacional em juniores(ficando atrás apenas da colega de equipa, Magali) e conquistou duas me-dalhas de prata e duas de bronze, nos I Jogos Ásia-Europa da Juventude(ASEM), que decorreram na Tailândia. A jovem tenista do CTN integrou aequipa nacional de ténis, inserida na delegação do Comité Olímpico Portu-guês, que arrebatou, no total, 21 medalhas (Portugal ficou em 3º lugar entre os países participantes). A prestação de Joana Pangaio, em individu-ais e na equipa feminina, valeu duas medalhas de prata, sendo o bronzearrecadado em pares mistos e pares femininos.

VANDA HILÁRIO NA SELECÇÃONACIONAL DE TAEKWONDO

Vanda Hilário, atleta da Escola de Taekwondo daCâmara Municipal da Nazaré, esteve no Campeo-nato Europeu de Técnica daquela modalidade, quese realizou na Letónia. Integrada na selecção nacio-nal, Vanda Hilário foi considerada atleta revelaçãonesta prova, demonstrando “uma maturidade téc-nica e espírito belicoso que foi motivo de liderançaem quase todos os rounds”, segundo comunicadoda Federação Portuguesa de Taekwondo.

MEDALHAS PARA O CONCELHONA TAÇA DA EUROPA DE PATINAGEM

O concelho da Nazaré subiu, por duas vezes, aopódio da Taça da Europa de Patinagem Artística,que decorreu precisamente na Nazaré, de 28 deSetembro a 1 de Outubro. Valter Silva, atleta daBiblioteca de Instrução e Recreio de Valado dos Fra-des, conquistou a medalha de ouro no escalão deIniciados Masculinos (Programa Longo). Por seu lado, João Sousa, do Patinamar Nazaré Clube, obteve obronze em Cadetes Masculinos (Programa Livre).As cores do concelho estiveram igualmente repre-sentadas por Mariana Ferreira, também convocadapara a Selecção Nacional nesta prova e que falhou,

por muito pouco, um lugar no pódio.Toda a reportagem da Taça da Europa da PatinagemArtística no próximo número.

ATLETA DO CLUBE NAVAL DA NAZARÉNO EUROPEU DE CAÇA SUBMARINAO atleta do Clube Naval da Nazaré, Paulo Alves,esteve integrado na representação portuguesa, quedisputou o Campeonato Europeu de Caça Subma-rina, que se realizou no final do mês de Setembro,em Biarritz (França).

ESCOLA DE DANÇA DA CÂMARA MUNICIPAL DA NAZARÉEM GRANDE ACTIVIDADE

A Escola de Dança da Câmara Municipalda Nazaré vai lançar uma Classe de Adul- tos, destinada a pessoas residentes noconcelho da Nazaré com mais de 20 anos.As inscrições podem ser efectuadas naCâmara Municipal ou no Centro Cultural.Continuam também abertas as inscrições

para a classe de formação da Escola de Dança da Câmara Municipal daNazaré, gratuita para crianças até 12 anos. Composta actualmente por cerca de 30 alunos, a escola conta no seu palmarés com inúmeros espectá-culos em todo o País e aparições em programas televisivos.

A Escola de Dança da Câmara Municipal da Nazaré vai estar presente jáno próximo dia 5 de Novembro, num espectáculo de passagem de mode-los, a ter lugar no Clube Recreativo e Beneficente Valadense, em Valadodos Frades. No dia seguinte, domingo, a Escola de Dança efectuará umaexibição na Associação Arneirense, nas Caldas da Rainha.

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42

outubro 2005   nazaré  informa

cultura

Ao fim de um ano de teatro profissional feito esedeado na Nazaré, que balanço é possível fazer des- ta experiência?Após um ano de trabalho, podemos dizer que obser-vamos a nossa actividade com alguma satisfação mas,ao mesmo tempo, com muita frustração por nãopodermos ter ido mais longe na realização dosespectáculos e, sobretudo, na alargamento da suacontinuidade e divulgação assim como na possibilida-de de uma maior estabilidade das equipas, a fim depodermos experimentar os seus plenos desenvolvi-mento e produtividade. Realizámos quatro criações

próprias e em breve estará em cena a quinta. “A Apos- ta” com textos de Eduardo De Filippo, estreado noVerão passado e reposto em Novembro, “É PrecisoViver”, a partir de uma história de Aquilino Ribeiro,espectáculo para crianças que ainda mantemos emcarteira, assim como as duas peças de Synge,“Cavalgada para o Mar” e “Na Sombra da Ravina”.Para completar este primeiro ano de actividade, estre-ámos recentemente “O Nariz”, a partir da obrahomónima de Gogol, espectáculo de rua que perma-necerá em “cena” o tempo que a vida o determinar, eainda este Outono, realizaremos uma nova obra para

o público jovem.Como tem sentido a reacção do público em geral ao trabalho desenvolvido pela companhia?O público do Chaby Pinheiro não se pode circunscre-ver ao da Nazaré, mas temos de ter como primeiraetapa habituar as pessoas do concelho a frequenta-rem com regularidade o teatro, a começarem a expe-rimentar o prazer do teatro e a elevarem o seu espíri- to crítico e o grau de exigência. Enfim, os que têm idover os nossos trabalhos têm “gostado”, mas temos deir muito mais além, porque têm de ir muitos mais e ogosto tem de ser crítico em relação às nossas opções.

Quais são as actuais expectativas relativamente ao apoioplurianual do Estado para a companhia? Como será ofuturo do projecto se não existir este apoio estatal?Hoje, mais que nunca, parece-nos claro que para po-dermos elevar a complexidade das nossas criações epodermos elevar a qualidade e divulgação precisamos

CÂNDIDO FERREIRA, ACTOR 

O Teatro Chaby Pinheiro precisade afirmar o seu destino todos os dias

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outubro 2005nazaré  informa

de um modo vital do apoio e algumempenho do Ministério da Cultura. Semesse apoio esta pequena equipa, nãoobstante a boa vontade de toda a gente,vai acabar por soçobrar.

Apesar das dificuldades, sobretudo deordem financeira, como caracteriza o so-nho, se assim podemos chamar, da Con-fraria, da Câmara e da ADN de dotar aNazaré em geral, e o Teatro Chaby Pi-nheiro, em particular, de uma companhia

de teatro profissional residente?Quando a Câmara, a Confraria e a ADNsonharam poder a Nazaré ter uma com-panhia profissional residente, afigurava-seser um sonho realista, apesar de Portugalser um país subdesenvolvido em termosculturais. Foram muitos anos de obscu-rantismo e a vida moderna, assim comoo próprio desenvolvimento, exigem quea formação e os horizontes de grandesfranjas da população se apropriem demúltiplos conhecimentos e experiências da

humanidade, apreciadas e sentidas nasvárias vertentes e dimensões. Ora aNazaré tem um belo teatro, tem uma boa tradição lúdica, está inserida numa zonacarenciada, é local de visitação e estadiapara muitos milhares de turistas, tem natu-ral ambição de aumentar as alternativas paraos seus filhos e está inserida num territórioonde existem grandes aglomerados depopulação e a pouco mais de uma horade distância da capital. Com o concursoque foi realizado pelas três instituições, fo-ram criadas as condições subjectivas que

permitem tornar o sonho realidade. Quemfalhou redondamente foi o Estado.

Falando agora do trabalho apresentadoao longo deste ano. Qual tem sido o cri- tério da Companhia para as peças de teatro escolhidas?O critério da companhia em termos dereportório tem sido ousado e prudente.Ousado na medida em que não cede-mos ao populismo nem à facilidade e te-mos criado de acordo com as nossas

perspectivas artísticas. Prudente na medi-da em que temos procurado problemáti-cas e linguagens que possam ser assumi-

das pelo nosso público-alvo.

Esta última peça, “O Nariz”, tem a parti-cularidade de incluir dois músicos daNazaré. Também a primeira peça, “AAposta”, tinha a participação de uma can- tora local. É uma preocupação da com-panhia incluir nas encenações, quandopossível, “caras” do concelho?Na medida das possibilidades, temos pro-curado, e continuaremos a fazê-loempenhadamente, que em todas as rea-

lizações participem artistas do concelho.Foi seguindo este critério que, para a pri-meira produção, convidámos a TeresaRadomanto e também a Sónia Tavares,oriunda da vizinha Alcobaça, e nas seguin- tes temos contado com a participaçãoFernando António da Capucha, jovem quefez o Chapitô e que está a terminar osseus estudos teatrais na Universidade deÉvora. E com o recente “O Nariz” foi pos-sível alargar a participação ao WilsonFerreira e ao Fábio Constantino. Não

podemos esquecer também a colabora-ção e a mútua aprendizagem com o mes- tre João Bexiga, com a D.Josefina Codinha,com a D.Isabel Ramos e também com oAmérico Santos, cujo saber técnico res-pectivamente nas áreas da carpintaria,costura, sapataria, montagem, nos temsido imprescindível. Em todos os casos todos ficámos enriquecidos. É evidenteque, sem baixar o grau de exigência nemo profissionalismo da companhia, pensa-mos que êxito será também, dentro dealgum tempo, termos jovens artistas da

Nazaré que fizeram a sua formaçãoacadémica e que aqui se podem realizar.

O vosso projecto, que venceu o concur-so para a criação de uma companhia noTeatro Chaby Pinheiro, apresentava comouma das características a interligação coma comunidade local e, designadamente,com as escolas. O que tem sido feito nestecampo e o que está previsto?Em termos de implantação temos dadopassos muito significativos, nomeadamen-

 te no trabalho no Centro de Dia com osmais idosos, que já fizeram uma repre-sentação que tão entusiasticamente foi

recebida pela população; com os jovensestudantes que, neste ano lectivo, pode-rão ter uma actividade continuada nosclubes de teatro nos respectivos estabe-lecimentos de ensino; e, finalmente, a “Ofi-cina do Chaby” que tem uma composi-ção mais heterogénea mas que, num fu- turo próximo, dará os seus frutos.

Finalmente, sobre o Teatro Chaby Pinhei-ro propriamente dito. Muitos dos artistasque têm pisado este palco elogiam a be-

leza e, até, uma certa “mística” deste tea- tro. Partilha dessa opinião?É verdade que este edifício que foi teatro,sala de espectáculos, armazém em ruína,espaço sem rumo, este edifício, dizia, foideterminante para a nossa opção.Encarámo-lo como uma laranja sem sumoou como uma vida sem poesia. O Chaby precisa de afirmar o seu destino todos osdias. É um belo e secreto teatro. Tem voz,respiração própria e história feita. O Chaby Pinheiro não pode ser nem sede de co-

lectividade nem local de eventos sem cri- tério, porque tal significaria roubar-lhe aalma. O Chaby tem de ser um local ondese viva a festa do teatro.

BIOGRAFIA

Inicia a actividade como actor em 1971.Em 1974, é um dos fundadores de O

Bando, onde permanece 12 anos comoactor, dramaturgo, encenador e produ- tor. Posteriormente, e entre outros, tra-balha com os encenadores Mário

Viegas, Luís Miguei Cintra, João Brites,Antonino Solmer, José Carretas, AntónioAugusto Barros, Ana Tamen, KonradZchiedrich, Christine Laurent. Em 1998é-lhe atribuído o Prémio Garrett - in- terpretação masculina, pelo trabalho noespectáculo Comunidade, de LuizPacheco. Entre outros trabalhos, foi oresponsável artístico da Animação Diur-na da Expo’98. No cinema trabalhou,nomeadamente, com os realizadoresManoel de Oliveira, Eduardo Guedes, Joaquim Leitão, Luís Filipe Rocha, Ruy

Guerra, Joaquim Sapinho e José Álva-ro de Morais.  Até Amanhã, Camara-

das  foi a última das várias séries televisivas em que tem participado.

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44

A

outubro 2005   nazaré  informa

linguística

mais pequena palavra do nos-so léxico é a . A sua história,porém, é um pouco compli-cada. Na verdade ela é arti-

go definido feminino, a  mulher, a mesa

(lat. illa ) ; pronome pessoal, se a vires diz-

lhe que a espero aqui (lat. illa ) ; pronome

demonstrativo, a irmã dela é a que vemà frente (lat. illa ) ; preposição, vou a Lis-

boa (lat. ad). Há, entretanto, um sem-número de outros significados que seriafastidioso enumerar aqui. Mas já é inte-ressante indicar outras funções desta par- tícula, como é o caso da composição deoutros vocábulos, por exemplo, do seuemprego como prefixo, ora derivado dogrego, no sentido de negação, atópico,

fora do lugar, e, com o mesmo sentido,anormal, derivado do latim (prep. a ou

ab ); ora ainda, com esta mesmaetimologia, no sentido de movimento,a juntar (prep. ad). É característica do fe-minino, a Maria , a régua; da terceira pes-soa do singular  dos verbos da primeiraconj., no presente do indicativo, no pre- térito imperfeito e pretérito mais-que-perfeito.; está entre os raros infixos danossa língua, pint ainho. Também emimensos arabismos da nossa língua, o a inicial corresponde ao artigo al, entre- tanto expurgado da consoante, açude,

arroz.

Para não se alargarem mais estas gene-ralidades, passamos a referir como elainterfere no falar nazareno, em determi-nada situação.

a (conj. cop.). e, em vinte  a   um, vinte  a dois, etc. (Cf. em Suma Oriental, de ToméPires, séc. XVI: ‘’...e de vimt a sete fios fei-

tos em três’’).

Em expressões como pouco a pouco (cp.Raul Brandão, in A Morte do Palhaço:‘’pouco e pouco, alastrava-se pela paisa-

gem...’’, ou, mais recuadamente, emCastanheda, séc. XVI, ‘’despois vão pou-co & pouco...’’, expressões que continu-am a ser correntes) e numerais forma-dos por justaposição e anaptixe, comodez asseis, a  é metaplasmo de ac (conj.lat.).Também Antônio Geraldo da Cunha, noseu Dicionário Etimológico da Língua Por- tuguesa (4ª impr. – 1981), refere a ori-gem deste a  à conjunção latina ac e datao seu uso já no séc. XIV.

Afirma Bourciez que o a destes nume-rais (deza sseis, deza ssete, dezóito edeza nove) é a conjunção latina ac [de-

 zoito parece não obedecer ao mesmoprincípio: a conj. ac  procura palavracomeçada por consoante, o que não é ocaso. E dezanove tem a variante dezenove,a que se atribui outra formação: dez enove, séc. XV. Ismael de Lima Coutinho,Gram. Hist., diz que o ó de dezoito ( lidodezóito) resultou da contracção de o+o

da forma arcaica dezooito (<dezaoito <

dece ac octto). Ribeiro de Vasconcelosinclina-se para a hipótese de que ele sejaaí a expressão latina ad . Assinala ogramático português, sem documentar asformas do latim vulgar decem ad sex,

decem ad septem. Antenor Nascentes

explica-o como sendo a modificação dacopulativa e. Leite de Vasconcelos achaque a composição se deu dentro da lín-gua, e assim a justifica: ‘este a não repre-senta a conjunção e, mas a preposição a;é como quem dissesse dez junto a seis, a

sete, etc.

Também José Pedro Machado, Dic. Etim.– 6ª ed., regista a  como sendo conj.coord., em exemplos já acima citados.Mas nas entradas dezanove, dezasseis edezassete, omite por completo, a hipó-

 tese ac, remetendo para a origem et  aformação destes numerais.Acontece que, no falar dos nazarenos, ahipótese ac  não permanece em outranumerações, aparecendo em seu lugar, tudo leva a crer, a conj. et , como emtrintèdois, -três, -quatro, etc., curentèdois,

etc.: triginta et duo [tri(g)ntè(t)dois].Por curiosidade se refere que, em fran-cês, pouco a pouco se diz peu à peu oupetit à petit, e não peu et peu. Será queeste à  é também correspondente a ac?

Um significante elementar

 A palavra “a” é a mais pequena do nossoléxico. Como interfere ela no falar nazareno?

JOSÉ SOARES

Escritor 

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outubro 2005nazaré  informa

crónica 45

a manhã de 11 de Agosto de 2005, o Agrupamento

de Escuteiros nº 924 de Famalicão deu início à reali-zação de uma actividade internacional, que prometiavárias surpresas e aventuras. Nesta epopeia a terras

de Kandersteg, na Suíça, participaram 75 elementos.A viagem começou em Famalicão até ao Aeroporto de Lisboa,sendo o transporte de autocarro cedido pela Câmara Municipalda Nazaré. Viajámos de avião até Zurique, o que foi uma novaexperiência para a maioria de nós, assim como poder ter umprimeiro contacto com os hábitos alimentares Suíços e provar os seus deliciosos chocolates, dado que viajámos através deuma transportadora Suíça. De seguida fizemos uma viagem de três horas de autocarro até ao Centro Internacional Escutista deKandersteg.A direcção do Agrupamento, após juntar alguns “trocos” com afundamental ajuda da Câmara Municipal da Nazaré e da Juntade Freguesia de Famalicão, e do patrocínio de várias empresasda região e casas de comércio locais, assim como a ajuda ecolaboração dos pais e o apoio de um português radicado naSuíça, conseguiu proporcionar aos nossos jovens novas vivênciasescutistas.Escolhemos Kandersteg por ser o único Centro Escutista verda-deiramente internacional no mundo. Fundado em 1923, o Cen- tro Escutista Mundial foi o sonho de Baden-Powell (fundador doescutismo), criado pelos seus familiares. Situado a cerca de 1200metros acima do nível do mar e a cerca de 65 quilómetros de

Berna, está aberto durante todo o ano. Constitui uma excelentebase para explorar os Alpes Suíços e para encontrar muitos

escutas vindos de todo o mundo. Uma das salas retrata bem a

variedade de escuteiros que por lá tem passado, através doslenços usados em todo o mundo.Os nossos escutas participaram em várias actividades realiza-das pelo Centro tendo como base a Amizade Internacional e aAventura Alpina. Estas actividades permitiram-nos desenvolver novas experiências com pessoas de outros países nos belosAlpes Suíços, criando uma autêntica e única atmosfera internaci-onal. Ficámos numa zona de acampamento que pode acolher até 1400 pessoas em mais de 60 locais diferentes.De Kandersteg apanhámos um excitante cabo teleférico quenos levou ao cume de uma montanha “Oeschinen”, onde pude-mos andar em pequenos carros de ferro que se deslocavam emcalhas de metal, sendo a velocidade controlada por cada escuta.De seguida fizemos uma caminhada até ao lago frio de“Oeschinensee”, originado por escorrências dos antigos glaciares.Este percurso tem alguns dos cenários mais bonitos e vistas des-lumbrantes dos Alpes, culminou com uma fascinante descida pe-destre até ao Centro, acompanhados pelo Vereador Júlio Faustino.Também realizámos um raide desde o Vale de Gaster, um dosmais espectaculares da Suíça. Com a ajuda de um guia atravésdeste lindo vale, pudemos aperceber-nos de alguns espectacu-lares cenários e aproveitar as paisagens de neve de Kandersteg,os picos e os glaciares antigos, realizando actividades radicais. Opercurso pode atingir 300 metros de altura e tem aproximada-mente 14 quilómetros. No final realizámos uma breve descida

até ao Centro, passando através das margens do rio Kander.Participámos também no Fogo Conselho Internacional onde efec- tuámos uma dança escutista característica do nosso país, assimcomo aprendemos danças e canções de vários países presentesnesta actividade.Os nossos escutas também fizeram vários percursos pedestrescom o intuito de conhecerem a localidade de Kandersteg e oshábitos da população Suíça.Os jovens ficaram deslumbrados com tudo o que lhes foi pro-porcionado, ficando até mesmo com alguma água na boca, pe-dindo-nos mais actividades com este cariz, embora dispendiosas.Por tudo isto, o Agrupamento agradece a todos aqueles que

 tornaram possível esta actividade para enriquecimento do co-nhecimento e da experiência dos nossos escutas.

DELFIM MATEUS

Secretário de Agrupamento

N

 Agrupamento de Escuteiros de Famalicão

 A nossa viagem a Kandersteg

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A INOVAÇÃO DO PROFANO E A CELEBRAÇÃO DO SAGRADO

  “NAZARÉ EM FESTA”

FESTAS EM HONRA DE NOSSA SENHORA DA NAZARÉ

O Parque Atlântico voltou a receber, de 2 a

11 de Setembro, o evento “Nazaré em

Festa”, o programa de animação das

 tradicionais Festas em Honra de Nossa

Senhora da Nazaré. A segunda edição de

“Nazaré em Festa” ficou marcada pelo

reconhecimento geral da inovação inerente

a este novo modelo de organização das

festas, que devolve à dimensão religiosa o

seu local privilegiado, e confere à dimensão

lúdica um novo enquadramento.

setembro 2005nazaré  informa

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s Festas em Honra de Nossa Senhora da

Nazaré encontraram, através do evento

“Nazaré em Festa”, um novo fôlego. O slogan

“As Festas no Seu Espaço” demonstrou ser 

mais do que um chavão: no seu segundo ano de

existência, o Parque Atlântico convenceu a população

do concelho enquanto local privilegiado para acolher,

condignamente, a vertente “profana” das festividades em

honra de Nossa Senhora da Nazaré.

Após alguns anos de indefinição quanto à local ização do

recinto, subsequente à sua retirada do Largo do Santuário,

as Festas reencontraram o seu espaço numa área ampla,

bem situada, com um enquadramento natural privilegiado,

boas infra-estruturas de apoio aos visitantes e aos

feirantes e organizada em zonas temáticas, possibilitando

um melhor ordenamento das actividades que, desde

então, passaram também a ser mais diversificadas.

O relativo afastamento do Parque Atlântico face à malha

urbana da vila foi minorado com a cr iação de um serviço

permanente de transporte público de passageiros, que

registou um elevado índice de procura. Uma aposta

 também ganha ao nível da mobilidade, contribuindo para

A

48

nazaré 

informasetembro 2005

Tony Carreira, um dos artistas mais

reconhecidos do público português

Actuação da Escola de Dança

da Câmara Municipal da Nazaré

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http://slidepdf.com/reader/full/nazare-informa-4 50/55nazaré  informa setembro 2005

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a redução do uso do veículo privado e,assim, para reduzir as situações de

conflito no trânsito.

Criado em 2004, no âmbito de uma

parceria institucional entre a autarquia,

a Confraria de Nossa Senhora da

Nazaré e a Associação de Defesa da

Nazaré, o Parque Atlântico é a face

mais visível do novo figurino da

componente de animação das Festas

em Honra de Nossa Senhora da

Nazaré. Um figurino que parece ter 

conquistado a população do concelho

e os muitos visitantes do evento,

oriundos um pouco de todo o País. José

Marques, de Torres Novas, é um

frequentador habitual das Festas desde

há largos anos, e reconhece o sentido

da mudança. «Tiro sempre uns dias de

férias para vir à Nazaré nesta altura»,

explica, em declarações à revista Nazaré

Informa. «Vim cá o ano passado e voltei

este ano, e acho que está ainda melhor,

o espaço está ainda mais bonito e

arranjado. E a ideia dos restaurantes é

muito boa, para quem gosta doconvívio com os amigos», remata.

O programa de animação musical, um

dos motivos de atracção do evento, é

Tradição pode voltar a ser o que era

As Festas em Honra de Nossa Senhora da Nazaré foram, durante séculos,

uma das principais manifestações de fé e religiosidade da Estremadura, de que

os círios eram uma componente importante.

Progressivamente, as festividades “profanas”, com carácter de animação popular,

foram ganhando terreno às demonstrações religiosas e, numa fase recente, as

festas tradicionais atravessaram uma fase de certa descaracterização. Contudo,

a separação física das duas vertentes (as celebrações religiosas no Santuário eno Terreiro, as actividades recreativas localizadas agora no Parque Atlântico)

contribuiu para a dignificação de ambas, e as manifestações de fé readquiriram

o brilho merecido.

A música ligeira portuguesa

representada por Toy 

o «melhor de tudo» para Emília Figueira,residente na Nazaré. «Este ano há

concertos de grande qualidade»,

afiança. «Mas está tudo muito arranjado

e há muito povo», acrescenta,

visivelmente satisfeita.

De facto, os concertos de Tony Carreira,

Toy e o espectáculo “Os Quatro Cantos

do Fado” foram os momentos altos da

programação musical do evento, que

procurou abranger públicos diversificados,

com exibições de bandas rock, pop, jazz

e música ligeira.

Mas as opiniões favoráveis não se esgotam

nos visitantes. Ao nível dos empresários

presentes na feira, e apesar de alguns

sectores de actividade sentirem os efeitos

da redução do poder de compra geral

dos portugueses, o balanço da

participação no certame é muito positivo.

«Estou muito satisfeito com a nossa

presença nesta feira», afirma Almerindo

Almeida, sócio da empresa Telegest,

representada no Pavilhão das Novas

Tecnologias. «Fizemos promoções

especiais de feira, apostámos no

marketing directo e tivemos um excelente

resultado».

Tony Carreira, um dosartistas mais reconhecidos

do público português

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 Verão musical no

Parque Atlântico

O Verão trouxe calor, animação

e muita música à Nazaré e,

particularmente, ao Parque Atlântico,

bem pertinho da Praia do Norte.

Durante o mês de Agosto,

passaram por este recinto os “The

Kelly Family”, Daniela Mercury, Clã,DZRT e algumas bandas locais, em

concertos que mobilizaram milhares

de pessoas e demonstraram

a versatilidade do Parque Atlântico.THE KELLY FAMILY

s “The Kelly Family”, a mítica banda irlandesa que,desde há largos anos, reúne legiões de fãs por todaa Europa, foi a primeira de um conjunto de nomessonantes do panorama musical a pisar o palco do

Parque Atlântico, no dia 6 de Agosto.Se é certo que em Portugal os “The Kelly Family” não têm osucesso editorial que conhecem noutros países, não é menosverdade que os fãs são dedicados e chegaram à Nazaré, pro-venientes de todos os pontos do País e, até, de Espanha.A Pilar e a Consuelo, 17 anos, instalaram-se nas imediações doParque Atlântico dois dias antes do grande concerto. Oriundasda Andaluzia, queriam garantir os lugares na fila da frente e, por isso, decidiram acampar no pinhal, juntamente com um grupode algumas dezenas de outros fãs, igualmente vindos de longe.Ainda faltavam muitas horas para o momento de ver os seusídolos e, para matar o tempo, aproveitaram para conhecer aNazaré. «Já fomos à povoação, adorámos o ascensor. E já

fomos também a esta praia [do Norte], que é espectacular. EmEspanha já não existe uma praia assim, tão grande e sem nin-guém», contam as duas amigas, que não se importaram defazer tantos quilómetros para assistir ao concerto dos “TheKelly Family”. «Vai ser maravilhoso, conhecemos as músicas to-

das e queremos estar logo à frente», afirmam. Quanto às con-dições do recinto, «ainda não vimos lá dentro mas, para já, istoparece ser muito bonito. Tem muito espaço verde e é ao pé domar. É perfeito», concluem.O entusiasmo dos fãs foi crescendo até ao tão ansiado mo-

mento da entrada em palco dos membros da banda. Joey, Jimmy,Angelo e Patricia Kelly não defraudaram as expectativas e man- tiveram ao longo de todo o concerto uma relação de grandeproximidade com o público. O alinhamento foi constituído emlarga medida por canções do último disco da banda, “Homerun”,dividido em duas partes: uma composta por canções mais cal-mas e introspectivas; a outra por músicas intensas, mais próxi-mas do rock.Em declarações a “Nazaré Informa”, Jimmy manifestou o conten- tamento da banda por estar mais uma vez em Portugal. «Nãovendemos muitos discos cá, mas temos um público muito fiel emuito simpático», afirma o músico, reconhecendo que «existe

uma certa mística» à volta do grupo, motivada, na sua opinião,«por sermos uma família e existirmos há tantos anos». Umalongevidade que, segundo o irmão mais velho, Joey, se deve aofacto de «sermos muitos irmãos e nem todos estamos na ban-da ao mesmo tempo. Cada um tem os seus projectos», conclui.

O

50

FOT

OS:VÍTOR

ESTRE

LINH

A

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O grande fenómeno de popularidade dos últimos tempos passoupela Nazaré, num concerto absolutamente memorável para os mi-

lhares de fãs que se deslocaram ao Parque Atlântico, no passadodia 23 de Agosto. Falamos, naturalmente, dos DZRT, a banda danovela “Morangos com Açúcar” que, durante todo o Verão, mobili-zou multidões de admiradores de norte a sul do País.Na Nazaré, os DZRT não deixaram os seus créditos por mãosalheias e realizaram um espectáculo de grande qualidade e, sobretu-do, muita energia. Perante um público entusiasta (um ambiente fa-miliar e muito jovem), os DZRT assistiram ao primeiro grande mo-mento de euforia logo que saltaram para o palco. O segundo mo-mento de loucura aconteceu quando os jovens artistas gritaram“Nazaré!”. O resto foi histórico para os jovens fãs nazarenos dabanda. O grande êxito “Para mim tanto faz” foi cantado em unísso-no, com uma multidão em delírio, pulando e dançando. “Ganda pú-blico!”, gritou a banda em resposta. E o concerto prosseguiu em altavelocidade, até ao momento final da despedida. “Sigam os vossossonhos!”.

DZRT NA PRIMEIRA PESSOA

Nazaré Informa: O que acharam do concerto

esta noite na Nazaré?

DZRT:  Um grande concerto. Gostámos parti-

cularmente do cenário, com a lua a nascer

mesmo à nossa frente. Foi algo de muito es-

pecial e muito tranquilo. Estávamos mesmo a

curtir estar naquele palco.

N.I.: E quanto ao público?

DZRT: O público mostrou muita energia e deu-

nos também muita energia. Se o público puxa

por nós, reagimos e damos mais de nós.

N.I.: Quem são os membros dos DZRT? São aspersonagens dos “Morangos com Açúcar”?

DZRT: Somos uns sortudos por termos tido

este início de carreira, associado à novela, mas

os alter-egos começam a distanciar-se. Nove-

la é novela e nós pessoas reais. O público já

nos chama pelos nossos nomes próprios nos

concertos, e isso é importante porque quere-

mos uma continuidade.

N.I.: Os DZRT são um fenómeno passageiro?

DZRT:  Desde o início que é nosso objectivo

fazer uma coisa diferente, fazer um projecto

bem feito. Os DZRT ao vivo, enquanto banda,

é um projecto original nosso, aproveitando asnossas capacidades enquanto actores e músi-

cos. Andamos sempre a compor porque que-

remos construir algo para o futuro. Tudo é con-

cebido e feito por nós, na esperança de conse-

guirmos criar o nosso estilo e a nossa presen-

ça em palco.

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Loucura

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Daniela Mercury mostrou, na Nazaré, porque é conhecida como o “furacãoda Bahia”. A famosa cantora brasileira foi a cabeça de cartaz do “NazaréSons e Cores – Festival de Música”, que se realizou no Parque Atlântico, dias12 e 13 de Agosto último. Cerca de sete mil pessoas assistiram a um dosseus exuberantes espectáculos de música, dança e ritmos quentes.

Daniela trouxe à Nazaré a digressão “Carnaval Electrónico”, nome do seumais recente disco, mas não esqueceu temas mais antigos, como “Rapunzel”e “Nobre Vagabundo”, para delícia da multidão que cantou a uma só voz.Durante todo o concerto, a cantora contagiou o público com a sua energiae entusiasmo, e arrancou ainda mais aplausos quando falou do Carnaval eda mulher nazarena.Em conferência de imprensa, Daniela Mercury explicou porque optou por não fazer música popular brasileira (MPB). «Queria ser compositora de no-vos géneros, e consegui com esse tipo de música percussiva que venhofazendo desde o início da minha carreira. Eu achava que a MPB já tinha tantos grandes intérpretes que era preciso buscar coisas novas para a minhageração se afirmar», esclareceu a artista, anunciando na ocasião o lançamen-

 to, no final deste ano, de mais um álbum, a que chamou «um disco decarreira». Neste trabalho, Daniela Mercury diz «regressar às minhas origens ereferências», cantando temas clássicos da música popular brasileira. «É um trabalho totalmente distinto do que os portugueses conhecem, é um projec- to especial que permite obter uma visão complementar do meu trabalho»,declara.Mas nem só de Daniela Mercury se fez um grande festival, no Parque Atlân- tico. Na mesma noite, pisaram o palco duas bandas locais, os premiadosÉden e os Flooding, que deram a conhecer a sua música ao público presente.No dia seguinte, o “Nazaré Sons e Cores” foi integralmente dedicado àsbandas portuguesas. Os “Pratyahara”, da Nazaré, fizeram as honras da casacom o seu rock alternativo e abriram caminho para duas bandas nacionaisde nomeada: os Pluto, um dos grupos da nova geração do pop português,e os consagrados Clã. Apesar da hora tardia em que entrou em palco, abanda de Manuela Azevedo prendeu o público do primeiro ao último minu- to, num concerto que percorreu os temas de “Rosa Carne”, o último traba-lho do grupo, e as canções que tornaram os Clã numa das bandas dereferência da música portuguesa.

“Furacão” Daniela arrasouno festival NAZARÉ SONS E CORESNAZARÉ SONS E CORESNAZARÉ SONS E CORESNAZARÉ SONS E CORESNAZARÉ SONS E CORES

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nazaré  informa agosto 2005

(*) Psicólogo

Os CLÃ, de Manuela Azevedo, agarraram o público do primeiro ao último minuto

PLUTO, o novo rock no Nazaré Sons e Cores EDEN, uma das bandas da Nazaré a pisar o palco do Festival

FLOODING e PRATYAHARA, os novos talentos e

novos sons da música “made in” Nazaré

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A

 juli o.estrel inha@gmail .com

lex não teve uma infância fácil,e a necessidade de afecto quedaí derivou foi-lhe fatal. O seucoração bateu mais forte

desde a primeira vez que viu Sofia, tinhaele apenas dez anos. Ela era linda de fazer corar o universo, e ele passou a ver ascoisas mais simples tornarem-se

misteriosas quando ela as tocava. Agora,com quinze anos, faziaum balanço da espiral de sentimentos queo agonizava há cinco longos anos, por  ter de amar em segredo. Espacialmente,a sua vida resumia-se a dois lugares: umdeles eram muitos num só, ou seja, eram todos os lugares que ela frequentava epara os quais se sentia constantementeatraído (conhecia todas as suas rotinas e tinha de vê-la tantas vezes quantas lhefosse possível); o outro era um jardim

onde sofria aquele amor em silêncio esimulava vivências – ali era só virar àesquerda na Rua das Tulipas, seguir pela

A CHUVA QUE ME MOLHA

DEIXA-TE SECA!Travessa do Roseiral, evitar o Beco (semsaída) dos Malmequeres, para finalmentechegar à Avenida dos Amores-Perfeitosonde Sofia o esperava. O jardim era umailha que lhe oferecia conforto, mas que oisolava do continente e da realidade.Fazia-o agir como um insular que olhavao continente com temor embora o

ambicionasse, nunca se decidindo poréma conquistá-lo.Desencorajado, recusava ter memória elembrar o seu passado. Porque haveriade fazê-lo, se só tinha saudade do quenunca tinha vivido? No seu coraçãoestava bordado cada movimento, cadarotina, cada sorriso de Sofia, e ela nemsequer sabia. -“Se ao menos eu

conseguisse contar-lhe; talvez com o

tempo ela também pudesse vir a gostar 

de mim!” – pensava em vós alta. Ele sabia

que o amor amplia o que temos demelhor, pois quando amamos e somosamados, o nosso ego fica fortalecido e

permite-nos ter um dia-a-dia melhor e estar bem com(quase) tudo; Afinal, é por querermos ser amados, quesentimos uma necessidadeconstante de mostrar e ver reconhecido (pelo outro) oque de melhor temos paraalém do que a linguagemcorporal é capaz de revelar.E se o amor não tem lugar na nossa vida, sóconseguimos comunicar através do rancor (infligindohumilhação e medo), sinalmaior de que somos fracose estamos muito carentes.Assim era seu pai, umhomem sombrio que havia

Então, a dada altura da vida (Porque sediz “a dada altura da vida” mesmo paravidas que nunca tiveram qualquer altura?Vidas que têm uma paixão pela qual seluta até ao fim e o momento da partidase confunde com o da chegada?), eleganhou toda a coragem do mundo, edecidiu dizer-lhe, não lhe fosse nascer 

musgo na voz. Surpreendentemente, aspalavras jorraram-lhe como água da fonte,e Sofia, surpresa, deixou-se molhar atése transformar num rio, e respondeu-lhecom um beijo...molhado. Depois disso (eentendam por depois o tempo quequiserem), ela sorriu e disse-lhe adeus,mas Alex não respondeu. É que “adeus”podia significar muita coisa que ele nãodesejava que acontecesse: que aqueleencontro não se voltaria a repetir; queiriam viver entre outras pessoas; rir por 

outros motivos e chorar de outrasdores; terem encontros diferentes emnoites diversas, guiados por diferentesestrelas; que o sol que a ilumina nuncairia aquecê-lo; que a chuva que o molhaa deixaria seca.Alex permaneceu imóvel a segui-la como olhar, enquanto ela prosseguiulentamente rua fora, e viu-a virar-se umaúltima vez. Foi então que soube queela nunca mais iria fugir-lhe. É que ele tinha acabado de conquistar as asascom que antes ela fugia dele. Tinhaacabado de vencer a longa Batalha quevinha travando com o medo, e tinhaconstruído a primeira de muitas pontespara um continente imenso que teriade explorar, embora já o conhecesse tão bem. Por fim, ainda se indagou: “-

 Agora sou outra pessoa?” . Reflectiu umbreve momento, e apressou-se asatisfazer a própria curiosidade: -“Não,

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