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NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVES
ADRIANA LETE/ ANA MARIA/ TELMA PAES.
Na poesia abolicionista, Castro Alves se apresenta
fecundado por sincera adesão a uma causa social e
humanitária de caráter atual e dá expansão ao seu
talento de orador.
Amós Coelho da Silva - Professor da UERJ/UGF.
► Foi publicado pela primeira vez em 1868 (20 anos
antes da abolição da escravatura no Brasil).
► Dividido em seis partes, apresenta a liberdade
formal do Romantismo.
►Pertenceu à última fase do Romantismo (3ª
geração), condoreira, Pré-Realista.
►Poema narrativo, retrata o traslado dos escravos da
África para o Brasil.
►Ideologicamente, defende o abolicionismo num
país sustentado pela mão de obra escrava.
O Navio Negreiro exige ser
declamado em praça pública, em
tom de discurso político para
contagiar, atingir grandes
platéias, tal a carga emocional
que possui. É poema rico em
hipérbole (imagens grandiosas,
exageradas), recurso poético
usado para reforçar a exposição
de ideias. Assim, o poeta
expressa linguagem
grandilouquente, pomposa,
altissonante.
1ª Parte: Descrição do Cenário
“O mar, o céu
e o infinito são
descritos
configurando
o ambiente
onde será
desenvolvida a
“Tragédia no
Mar”.
BELEZA NATURAL X HORROR DA
ESCRAVIDÃO
O Poeta nos conduz imaginariamente ao mar. Mostra a beleza da noite de luar e o contraste do
cenário (céu estrelado, mar) com a tragédia descrita, narrada dentro do Navio Negreiro.
O Espaço/ O Narrador/ O Leitor...
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaçoBrinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas (grandes ondas) após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamentoOs astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias(fosforescência marítima),— Constelações do líquido tesouro...
Céu e Oceano... “Dois Infinitos...”
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...”
O Narrador visualiza o navio'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as
velasAo quente arfar das virações
marinhas,Veleiro brigue corre à flor dos mares,Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço ?
Neste saara os corcéis (cavalo veloz) opó levantam
Galopam, voam, mas não deixam traço
ALUSÃO À LIBERDADE...
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
A BELEZA POÉTICA DO CENÁRIO DESCRITO.
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
(Pélago: mar alto)
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?(Pávido: temeroso, medroso).
CONDOREIRISMO
Albatroz! Albatroz!
águia do oceano,
Tu que dormes das
nuvens entre as gazas
(transparências)
Sacode as penas,
Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz!
dá-me estas asas.
2ª PARTE: EXALTAÇÃO DOS MARINHEIROS.
Exalta a todos os marinheiros
independente da nacionalidade. É a
valorização do belo humano e suas ações
no espaço marítimo.
O NAUTA E O MAR
Não importa aorigem (espanhol,italiano inglês,heleno = grego) dohomem do mar, oque importa é aexperiênciaadquirida nas suaatividades e asrecordações dosmomentosvividos.
Que importa do nauta o
berço,
Donde é filho, qual seu
lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho
mar!
Cantai! que a morte é
divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da
mezena=vela/ mastro de ré
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
VIDA LIVRE X VIDA ESCRAVA
“Nautas de todas as plagas (país),
Vós sabeis achar nas vagas (ondas)
As melodias do céu! ..”
O homem do mar tende a cantar suas
saudades, soube buscar em sua liberdade
o conhecimento de Deus (melodias do
céu). A liberdade da vida do nauta
contrasta com da vida do negro
escravizado, subtraído de sua terra natal.
3ª PARTE: ANUNCIA A TRAGÉDIA NO MAR.
No último verso da 1ª parte do poema, o poeta,
em exclamação altissonante, fala – “Albatroz!
Albatroz! Dá-me estas asas...” Evidenciando o anseio
em desvendar os mistérios que envolvem o brigue
voador. Busca, assim, o poeta a liberdade criadora
que lhe permite participar da ação que observa. A
águia do oceano é o poeta, pois só ele poderia
transmutar-se e surgir como uma ave com o olhar
humano. É como ser humano que ele vê das alturas
com espanto o pavoroso quadro que segue....
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais...
não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que
horror!
A EMOÇÃO DO NARRADOR...
O narrador age como se anunciasse o
início de um grande espetáculo. Condizente
ao Romantismo, a linguagem apresenta
recursos estilísticos (reticências,
exclamações), significativas pela carga
emocional... “Meu Deus! Meu Deus! Que
horror!”
4ª PARTE: O Horror do Tombadilho Era um sonho dantesco... o tombadilhoQue das luzernas (clarão) avermelha o brilho.Em sangue a se banhar.Tinir de ferros... estalar de açoite...Legiões de homens negros como a noite,Horrendos a dançar...
O sonho dantesco é a descrição do inferno
feita por Dante na “Divina Comédia” em que as
almas condenadas ao suplício eterno, são
atormentadas pelo diabo.
Negras mulheres, suspendendo as tetasMagras crianças, cujas bocas pretasRega o sangue das mães:Outras moças, mas nuas e espantadas,No turbilhão de espectros arrastadas,Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra
irônica, estridente...
E da ronda fantástica a
serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no
chão resvala,
Ouvem-se gritos... o
chicote estala.
E voam mais e mais...
O riso reflete o
sarcasmo dos
mentores deste
horrendo
espetáculo. A
orquestra =o som
do chicote (espiral)
que estala, os
gritos de dor que
enchem o espaço.
Presa nos elos de uma só cadeia,A multidão faminta cambaleia,E chora e dança ali!Um de raiva delira, outro enlouquece,Outro, que martírios embrutece,Cantando, geme e ri!
O Riso de Satanás diante do horror...
No entanto o capitão manda a manobra,E após fitando o céu que se desdobra,Tão puro sobre o mar,Diz do fumo entre os densos nevoeiros:"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!Fazei-os mais dançar!..."
(...)
E da ronda fantástica a serpenteFaz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
As imagens saltam do poema e desfilam na mente do leitor como se
fossem reais. Presos, os negros escravizados perdem o equilíbrio
físico e psicológico e enlouquecem de tanto martírio. Cantando, gemem, riem. A rotina torna insensíveis os
tripulantes do navio negreiro à desgraça dos infelizes.
5ª Parte: O Poeta Interpela DeusSenhor Deus dos
desgraçados!Dizei-me vós, Senhor Deus!Se é loucura... se é verdadeTanto horror perante os céus?!Ó mar, por que não apagasCo'a esponja de tuas vagasDe teu manto este borrão?...Astros! noites! tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares, tufão!
Quem são estes
desgraçados
Que não encontram em
vós
Mais que o rir calmo da
turba
Que excita a fúria do
algoz?
Quem são? Se a estrela
se cala,
Se a vaga à pressa
resvala
Como um cúmplice
fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
A Musa - “severa,
libérrima, audaz” – é
Melpomene, musa
da tragédia.
Segundo a mitologia
grega são nove
divindades que
presidem as Artes, a
História e a
Astronomia.
Mneumosine
(memória) é filha de
Zeus, tendo cada
uma função
específica.”
São os filhos do deserto,Onde a terra esposa a luz.Onde vive em campo abertoA tribo dos homens nus...São os guerreiros ousadosQue com os tigres mosqueadosCombatem na solidão.Ontem simples, fortes, bravos.Hoje míseros escravos,Sem luz, sem ar, sem razão. . .
A Severa Musa narra ao poeta a vida dos
negros desde a África ate o momento de
sua desventura. E compara a liberdade
vivida em sua terra, com a condição de
escravo manifesta na gradação
ascendente... “Míseros escravos,/ Sem
luz,/ sem ar, sem razão...”
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios=escasos
passos
Filhos e algemas nos
braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Tem que dar para Ismael.
Personagem bíblica, escrava de Sara
(esposa de Abraão), foi expulsa de
sua casa com seu filho Ismael. Este
era filho do seu senhor. A
comparação prende-se a semelhança
do sofrimento das negras escravas
com o de Agar, que nem o leite do
peito tinha para dar ao seu filho, na
caminhada que empreendeu pelo
deserto de Sur, próximo de Canaã. A
liberdade vivida por essas mulheres
em seus países, é interrompida
quando por eles passa a caravana
maldita que lhes rouba a liberdade.e
as arrebata de sua pátria.
Ontem a Serra Leoa,A guerra, a caça ao leão,O sono dormido à toaSob as tendas d'amplidão!Hoje... o porão negro, fundo,Infecto, apertado, imundo,Tendo a peste por jaguar...E o sono sempre cortadoPelo arranco de um finado,E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,Nem são livres p'ra morrer. .Prende-os a mesma corrente— Férrea, lúgubre serpente —Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,Dança a lúgubre coorteAo som do açoute... Irrisão!...
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Nos versos...“Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta,/ Quem imprudente na
gávea tripudia?” O poeta expressa o impacto que sente ao descobrir que a
bandeira é a de sua própria pátria. E ante ao silêncio, o poeta fala à musa... “Musa... Chora, e chora tanto/ Que o pavilhão se
lave no teu pranto!”
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Em tom de expressiva revolta, o poeta rememora os momentos grandiosos da Pátria em que a bandeira era ostentada com orgulho. Ele preferia que ela fosse manchada de sangue numa luta justa, do que cobrir de luto escravo
africano.
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
O poeta pede à fatalidade que exterminar o
brigue(navio) imundo, bem como o trilho
(caminho) que Cristovão Colombo abriu. Invoca
os heróis do Novo Mundo para que arranquem a
bandeira do mastro do navio negreiro. Com este
gesto acabaria o trafico negreiro e a escravidão
no Brasil.