Natália Correia
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O Livro dos AmantesI
Glorifiquei-te no eterno. Eterno dentro de mim fora de mim perecvel. Para que desses um sentido a uma sede indefinvel.
Para que desses um nome exactido do instante do fruto que cai na terra sempre perpendicular humidade onde fica.
E o que acontece durante na rapidez da descida a explicao da vida.
II
Harmonioso vulto que em mim se dilui. Tu s o poema e s a origem donde ele flui. Intuito de ter. Intuito de amor no compreendido. Fica assim amor. Fica assim intuito. Prometido.
III
Prncipe secreto da aventura em meus olhos um dia comeada e finita. Onda de amargura numa gua tranquila. Flor insegura enlaada no vento que a suporta. Pssaro esquivo em meus ombros de aragem reacendendo em cadncia e em passagem a lua que trazia e que apagou.
IV
D-me a tua mo por cima das horas.
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Quero-te conciso. Ado depois do paraso errando mais ntido distncia onde te exalto porque te demoras.
V
Toma o meu corpo transparente no que ultrapassa tua exigncia taciturna Dou-me arrepiando em tua face uma aragem nocturna.
Vem contemplar nos meus olhos de vidente a morte que procuras nos braos que te possuem para alm de ter-te.
Toma-me nesta pureza com ngulos de tragdia. Fica naquele gosto a sangue que tem por vezes a boca da inocncia.
VI
Aumentmos a vida com palavras gua a correr num fundo to vazio. As vidas so histrias aumentadas. H que ser rio.
Passmos tanta vez naquela estrada talvez a curva onde se ilude o mundo. O amor ser-se dono e no ter nada. Mas pede tudo.
VII
Tu pedes-me a noo de ser concreta num sorriso num gesto no que abstrai a minha exactido em estar repleta do que mais fica quando de mim vai.
Tu pedes-me uma parcela de certeza um desmentido do meu ser virtual livre no resultado de pureza da soma do meu bem e do meu mal.
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Deixa-me assim ficar. E tu comigo sem tempo na viagem de entender o que persigo quando te persigo.
Deixa-me assim ficar no que consente a minha alma no gosto de reter-te essencial. Onde quer que te invente.
VIII
Eis-me sem explicaes crucificada em amor: a boca o fruto e o sabor.
IX
Pusemos tanto azul nessa distncia ancorada em incerta claridade e ficamos nas paredes do vento a escorrer para tudo o que ele invade.
Pusemos tantas flores nas horas breves que secam folhas nas rvores dos dedos. E ficmos cingidos nas esttuas a morder-nos na carne dum segredo.
Natlia Correia, in "Poemas (1955)"
O Livro dos Amantes