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    MERGULHAR PRECISOParticipe pra valer da Olimpada 2010!

    ano VI nmero 13evereiro de 2010

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    No exagero dizer que o ano de 2010 estavasendo aguardado com enorme expectativa pornossa equipe. Todos esperando pela largadapara a 2- edio da Olimpada de Lngua Portu-guesa Escrevendo o Futuro que se realiza agora.Na verdade, ela j estava sendo pensada desdeo nal da edio anterior e 2009 oi todo dedica-do sua preparao. Foram organizados encon-tros de ormao por todo o Brasil; a comunidade

    virtual manteve contato permanente com proes-sores, por meio de cursos e inormaes atuali-zados; novas atividades e projetos preparatriosoram realizados, entre os quais o da Caixa deerramentas, que convidou os 150 proessoresnalistas da Olimpada de 2008 para um trabalhoexperimental e indito, envolvendo novos gne-ros: crnica e reportagem jornalstica. Na Pontado Lpis tambm contribuiu com entrevistas etextos literrios de grandes autores, alm de

    matrias e artigos com sugestes e experin-cias para quem quer se aprimorar no trabalhocom gneros textuais.

    Toda essa movimentao consequncia danossa convico de que a Olimpada capaz deampliar os horizontes de educadores e educan-dos. Ela nasceu com a proposta de premiar todosos participantes. Claro que existe a premiaode estudantes e proessores seminalistas e na-listas pelo trabalho que desenvolveram na escola.

    Mas sabemos que o sentimento geral o de quetodos saram vitoriosos. isso que dizem as car-tas e mensagens eletrnicas que chegam diaria-mente coordenao da Olimpada.

    E por que os participantes se sentem assim?Uma das pistas nos diz que a Olimpada aju-

    dou a resgatar um papel que sempre pertenceu

    COORDENAO TCNICACentro de Estudos e Pesquisas em

    Educao, Cultura e Ao Comunitria CENPEC

    CRDITOS DA PUBLICAO

    CoordenaoSonia Madi

    Texto e edioLuiz Henrique Gurgel

    Maria Aparecida LaginestraRegina Andrade Clara

    RevioRosania Mazzuchelli

    e Mineo Takatama

    Edio de arteCriss de Paulo e Walter Mazzuchelli

    IltraeCriss de Paulo

    EditoraoAGWM Editora e Produes Editoriais

    Tirae150 mil exemplares

    Contato com a redaoRua Minas Gerais, 228 So Paulo SP

    CEP 01244-010Teleone: 0800-7719310

    e-mail: [email protected]

    Agora, s falta voc!

    INICIATIVA

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    ao proessor: ser um agente do conhecimento.Para ns, todo educador tambm um pesquisa-dor. Seu trabalho no combina com monotoniaou rmulas prontas. Pensar em apereioa-

    mentos, em novas estratgias para estimular aleitura e a escrita entre os alunos tarea din-mica e exigente. A Olimpada oerece erramen-tas para que os educadores cumpram essa tareacom o maior xito possvel.

    Apesar de todas as escolas pblicas do pascomearem a receber, a partir de maro, os mate-riais com orientaes da Olimpada, s poderoparticipar eetivamente do concurso os proes-sores que se inscreverem. Por isso converse com

    o coordenador ou com o diretor de sua unidade, ouconsulte, na internet, as pginas da Olimpada,do Ministrio da Educao, da Fundao ItaSocial ou do Cenpec.

    O que vem por aquiNossa primeira edio do ano, com artigos

    especiais, convida os leitores para a 2- edioda Olimpada. Trazemos Carlos Drummond deAndrade, um dos maiores poetas da lngua por-

    tuguesa de todos os tempos; entrevistamos oproessor Joaquim Dolz, da Universidade deGenebra (Sua), especialista mundial no traba-lho de ensino da lngua undamentado no estudode gneros textuais. Tambm apresentamos textosexclusivos de dois pesquisadores importantes:lie Bajard, ormador de proessores na rea daalabetizao, que apresenta uma instigante dis-cusso sobre o que signica ler um texto eouvir um texto lido para ns; e Egon de Oliveira

    Rangel, proessor do Departamento de Lingus-tica da PUC-SP, que avalia a importncia daOlimpada como poltica pblica para o ensinoe aprendizagem da lngua portuguesa.

    Aguardando sua inscrio e participao naOlimpada de 2010, desejamos uma boa leitura eum bom incio de ano letivo!

    2ENTREVIsTA

    Joaquim Dolz

    7EsPECIAL

    A Olimpada e as

    polticas pblicas parao ensino e aprendizagem

    de lngua portuguesa

    10REPORTAgEm

    Uma caixinha de boas surpresas

    12PgINA LITERRIA

    Nossa amiga

    14TIRANDO DE LETRA

    Poesia que cativa a memria

    16DE OLhO NA PRTICA

    Revisar para escrever bem

    22CuLOs DE LEITuRA

    Escuta do texto ou leitura?

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    Qando ecoleo o nero coo ni-dade de enino, o qe podeo eninarao alno?Joaqi Dolz preciso clarear os curr-culos. Os gneros, quando entram na escola,trazem elementos das prticas sociais de ree-

    rncia, mas tornam-se objetos para aprender eescrever. undamental denir as capacidadeslingusticas discursivas que se pretende desen-volver com os gneros. Sou partidrio de trazerpara a sala de aula a diversidade e at trabalharcom gneros considerados pouco elegantes,mas sempre com olhos postos sobre o desen-rolar da linguagem e da lngua portuguesa.Antigamente tnhamos um livro com cartasde correspondncia e copivamos as cartas.

    Era dessa orma que se ensinava. Hoje, sevoc tem uma viso interacionista, um co-nhecimento mais consistente do gnero, podetrabalhar melhor a partir da troca de corres-pondncia, por exemplo. Se voc escreve umacarta-convite e recebe as respostas dos convi-dados, ou se voc escreve uma carta de opinioem resposta a um editorial de jornal, o uso daescrita outra coisa. Para trabalhar dessamaneira o proessor precisa ter ormao,

    conhecer as convenes e as caractersticasdos gneros e subgneros da correspon-dncia, todo tipo de variaes e ormulaesem portugus, desde que quem claras quaisso as prioridades.No vou dizer quais sequncias didticas

    devem ser desenvolvidas, mas j vi atividadesque eram animaes socioculturais paradivertir e animar a classe. preciso ter cuida-do porque uma das possveis derivaes dotrabalho de sequncias didticas com os g-neros azer uma pedagogia supercial:apresentar situaes de comunicao semocalizar as capacidades lingusticas, lingus-tico-discursivas e as necessidades dos alunos,que precisam aprender a escrever em portu-

    gus textos importantes para a vida.

    O proeore abe qai o neroqe a ecola deve trabalar?Joaqi Dolz No Brasil o perodo que osalunos passam na escola curto, por issoprecisa ser bem aproveitado. No podemosperder tempo com textos que os alunos apren-dem sozinhos oralmente ou na escrita, comoo dilogo escrito numa sala de bate-paposna

    De que adianta conhecer o cdigo,se no entende o texto?

    Se a maneira de trabalhar a leitura ou a escrita no coerente, pode-se alabetizar um alunosem que ele seja capaz de compreender o que est lendo isso porque, neste caso, o objeto doensino da leitura est limitado ao cdigo e no compreenso do texto. Esse oi um dos prin-cipais alertas que Joaquim Dolz, proessor da Faculdade de Psicologia e Cincias da Educao

    da Universidade de Genebra (Sua), ez nesta entrevista para Na Ponta do Lpis. Dolz esteve noBrasil em agosto de 2009 para ministrar cursos e palestras em universidades e instituies bra-sileiras, entre as quais o Cenpec. , na atualidade, um dos maiores especialistas no ensino delnguas com base em gneros textuais. Falou de suas pesquisas e do trabalho com gneros emsequncias didticas. Tambm relatou as impresses que teve ao vivenciar um tpico dia detrabalho de um proessor da perieria de So Paulo. Acompanhado do pesquisador Mauriciornica, pegou um trem metropolitano no centro de So Paulo e depois de quase uma horadesembarcou na estao de So Miguel Paulista, bairro do extremo leste da cidade. Foi conheceruma escola pblica localizada em regio de muitas carncias. Ficou impressionado com adedicao da diretora e dos proessores, apesar do barulho das salas de aula, do nmero

    de alunos e da carga horria a que os proessores se submetem. Uma nova experincia paraesse pesquisador que nasceu na pequena cidade de Morella, regio da Catalunha, na Espanha.

    Luiz Henrique Gurgel

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    internet, por exemplo. Agora, se vamos azerum projeto de troca de correspondncia entreargentinos, espanhis, portugueses e brasi-leiros por e-mail, outra coisa. Inspira os alu-

    nos a escrever: aprender a se apresentar numacarta enviada por e-mail; apresentar o bairro, acidade, o pas em que vive. Escrever primeirona prpria lngua portugus para os brasilei-ros; espanhol para os argentinos e espanhis.E, numa segunda ase, escrever uma parte dacarta na lngua do outro. Essa uma orma deintroduzir o gnero e-mail na escola a partirde nalidades educativas especcas, e pen-sando numa progresso.

    O trabalho deve permitir o desenvolvimentodas capacidades discursivas com uma visogeral do desenvolvimento da linguagem, casocontrrio voc est limitando a teoria dos g-neros textuais.

    O enor viito a ecola pblica bra-ileira. Qal oi a ipreo?Joaqi Dolz Visitei apenas uma escola. ainda uma representao provavelmente ing-nua e incompleta, mas gostei muito. O que mais

    me impressionou oi a direo, a organizao daescola e sua relao com a comunidade. Situadanum territrio muito dicil, do ponto de vistasociolgico havia pais de alunos na priso,mes que vendiam drogas, dierentes gangues ,a escola estava no meio. Dentro da escola todosos meninos estavam protegidos, eram iguais.Valia a lei da escola, e no a da selva. A comu-nidade tinha um respeito muito grande pelosproessores e particularmente pela diretora.

    No conheo suicientemente os estabeleci-mentos escolares, o proessorado, os alunos,a realidade brasileira, mas vejo duas realida-des no pas: uma, mais desenvolvida, como a

    Europa, e outra, como prxima dos pasespobres em vias de desenvolvimento. Podemosencontrar meninos que aprendem ingls ourancs com proessores particulares ouem centros escolares de grande qualidade,tendo um suporte muito grande da amlia eda sociedade, e ver meninos na rua, que novo escola, com problemas de letramentoimportantes. As duas realidades so encon-tradas no Brasil.

    E o trabalo do proeor?Joaqi Dolz Para ter boas condies detrabalho, por cada trs ou quatro horas de pre-sena com os alunos, voc necessita de uma ou

    duas horas de planejamento.Preocupa-me um pouco o cansaodos proessores porque trabalharcom muitos meninos na classe emuitas horas deve ser duro. E, se

    voc tem 35 alunos, treze ou catorzehoras a cada dia, muito dicil pre-parar antes, est sempre improvi-sando. verdade que um proessorcom muita experincia no precisaplanejar as aulas no mesmo nvel,mas se tem 35 alunos com problemasmuito dierentes de expresso eadaptao precisa de tempo. Aavaliao das capacidades e dos

    obstculos dos alunos e a prepara-o de projetos de letramento moti-vadores so muito importantes eno podem ser improvisados.Ao propor inovaes da prtica ha-

    bitual, o proessor pode sentir-se inseguro,necessitando de tempo para se apropriar dasnovidades e para se coordenar com a equipedocente. A ormao do proessor precisa serreconhecida como tempo de trabalho. Digo

    isso por um respeito enorme, uma verdadeiraadmirao pelo trabalho dos proessores.

    verdade qe o enor fco ipreiona-do co o barlo na ecola? Faz parte dopapel do proeor eninar o alno a ovire trabalar e ilncio?Joaqi Dolz verdade. O nvel de baru-lho era bastante elevado e chamou a ateno.Isso no uma crtica, oi uma constatao

    obrigao da escola ensinar

    a ler e escrever, habilidades

    indispensveis ao cidado.

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    ao visitar uma escola. Por um lado, o barulhoera movimento, ruto do entusiasmo dosmeninos pela aula, pois todos queriam res-ponder as questes ao mesmo tempo. Mas o

    trabalho escolar exige condies, tranquili-dade. Suponho que o controle do volume, aescuta, os rituais de respeito palavra dooutro so aprendizagens de linguagem. Setodo mundo ala ao mesmo tempo impos-svel ensinar e aprender.

    Coo v a eqncia didtica de leitra?Joaqi Dolz As entradas para o apren-dizado podem ser diversas e o conceito de

    sequncia didtica pode aplicar-se leitura,mas no a nica possibilidade de trabalho.No caso da sequncia sobre a leitura, es-sencial a anlise dos obstculos para a com-preenso dos alunos. obrigao da escola ensinar a ler e escrever,habilidades indispensveis ao cidado. A pro-duo de textos convoca sempre leitura, deuma maneira ou de outra, porque quando vocescreve, voc l, mas as nalidades so die-

    rentes, o tipo de trabalho tambm.A novela policial um gnero interessantssi-mo para a leitura. Voc pode desenvolver v-rias estratgias quando trabalha a leituracontinuada de uma novela policial. O escritor,quando escreve a novela policial, situa-se emuma posio enunciativa particular, pois temque enganar o leitor. preciso uma leituraatenta de indcios para levantar hipteses e re-solver o enigma. Se voc l as cinco primeiras

    pginas e descobre quem o culpado, perdeo interesse. Do ponto de vista narrativo, uma ruptura cultural porque o crime, o resul-tado, aparece sempre no comeo e o leitor,

    etapa por etapa, tem que reconstruir comoaconteceu o crime. Do ponto de vista lingus-tico, sabemos quais so para alguns asdiculdades para compreender a leitura des-se gnero: compreender as inormaes,identicar os indcios, interpretar algumas

    unidades lingusticas. Podemos de-senvolver interpretao, criao dehipteses, operaes de relao,pois essas inormaes esto evi-

    dentes no texto. J pela perspectivada escrita o oco do trabalho a es-trutura narrativa, so os persona-gens e os aspectos associados aognero, de maneira geral.

    E a eqncia didtica e otradiciplina?Joaqi Dolz Nem sempre a se-quncia didtica sobre a lngua pode

    ser utilizada diretamente em outrasdisciplinas. Voc pode organizar umasequncia didtica em matemticapara trabalhar a resoluo de pro-blemas envolvendo leitura e com-preenso de texto.Em matemtica importante a com-

    preenso das consignas, da explicao, dademonstrao de um problema. So gneros;a demonstrao um gnero, uma consigna

    um gnero descritivo. O trabalho com os pro-essores de matemtica deveria permitiraprender a ormular e compreender as consig-nas do ponto de vista lingustico, para que osproblemas possam ser resolvidos corretamen-te. Isso um problema de colaborao entre osproessores de matemtica e os proessoresde lnguas.A disciplinarizao dos saberes oi um pro-gresso, primeiro para a cincia e depois para

    a escola. H saberes de biologia, saberes dehistria, saberes lingusticos, e o currculodeve ter uma viso dos saberes que ensina. Ainterdisciplinaridade pode ser muito interes-sante, mas undamental ter muito claro osobjetivos da histria, da biologia, da lngua.Quando voc desenvolve uma sequncia emmatemtica, biologia ou histria, tambm tra-balha a lngua e o gnero como erramentas. importante que os proessores de outras

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    [...] a escuta, os rituais de

    respeito palavra do outro so

    aprendizagens de linguagem.

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    disciplinas saibam que os problemas de com-preenso e de produo de textos estejamligados s habilidades provenientes da lnguaportuguesa.

    A Olipada de Lna Portea podeer caino para elorar a oraodo proeore?Joaqi Dolz Tenho inormao de que aOlimpada muito bem recebida pelos pro-essores e pelos alunos e o entusiasmo peloconcurso grande. Se compreendi bem, aproposta tem undamentalmente trs objeti-vos. Primeiro, possibilita a divulgao de ma-

    teriais didticos erramentas undamentaispara proessores de todo o pas. Em segundolugar, voltada para os alunos, permitindo odesenvolvimento da escrita de gneros tex-tuais (poemas, memrias literrias, crnicas eartigos de opinio). E, em terceiro, orma os pro-essores para melhorar o ensino da escrita.Minha viso do projeto muito positiva: a ma-neira de envolver as escolas, a proposta deum trabalho coletivo com os proessores e a

    ideia de levar aos dierentes centros escola-res uma cultura comum sobre o ensino da es-crita, isso me agrada muito.

    Teo o deaio de contribir para a or-ao a ditncia do qae 200 ilproeore enajado na Olipada poreio de ateriai de apoio. Coo apri-orar o ateriai de orao?Joaqi Dolz Vivo a mesma situao. Cadavez que escrevo para proessores, me pergunto

    qual a melhor maneira de dizer e como vaiser recebido. preciso azer um trabalhopara melhorar a escrita, ouvir os especialistasque analisam a linguagem dos proessores e

    dos ormadores, vericando qual a ormamais adequada de escrever. Porque eu, quan-do sou proessor, tenho diculdade para vera minha atividade, mas se o pesquisadoranalisa minha prtica, posso tomar distnciae enxerg-la de maneira crtica, tomar cons-cincia dos entraves.

    E recente paletra e cro, o enoralo obre validao didtica. Expli-

    qe-no o qe e coo e d a validaodidtica.Joaqi Dolz Primeiro, a validao did-tica pretende analisar o progresso, o aprendi-zado dos alunos. Depois de uma sequnciadidtica necessrio vericar o quanto o me-nino progrediu na escrita. Segundo, impor-tante vericar a legitimidade e a coernciados objetos de ensino do ponto de vista datransposio didtica. As caractersticas do

    gnero escolhido so pertinentes para o en-sino da leitura ou da escrita? A didatizao adequada em uno do grupo de alunos?

    Terceiro, a validao didtica exa-mina tambm as possibilidades deos proessores implementarem asatividades propostas nas suas con-dies de trabalho. A validao daserramentas de trabalho que elabo-ramos tem que encontrar um equil-

    brio para esses trs aspectos.Se a maneira de trabalhar a leituraou a escrita no coerente, pode--se alabetizar um aluno sem queele seja capaz de compreender oque est lendo isso porque, nestecaso, o objeto do ensino da leituraest limitado ao cdigo e no com-preenso do texto. Se, depois dequatro ou cinco anos de trabalho,

    125 alunos dos 700 matriculadosnuma escola no aprenderam a ler,isso um indicador problemtico da

    proposta de letramento.A primeira coisa a azer, ento, o diagns-tico da situao das escolas, a anlise dasnecessidades dos meninos e proessores.Podemos identicar as capacidades iniciaisdos alunos para, ento, adaptar o trabalho ssuas reais necessidades. Em seguida, denir

    Projetos de letramento motivadores

    so muito importantes e

    no podem ser improvisados.

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    os objetos prioritrios para desenvolver a es-crita, a leitura, a oralidade, a tomada de pala-vra para deender-se na vida um projeto paradignicar a cidadania brasileira.

    Atalente, qal o oco de a peqia?Joaqi Dolz Sou um pesquisador umpouco disperso, atuando em vrias rentes,algumas pouco conhecidas na Sua. Nestemomento estou com um projeto sobre o ensi-no bilngue no Pas Basco, na Espanha, ondeh uma lngua que se chama euskera, que muito dierente do espanhol. Vamos estudar oeeito do ensino de sequncia didtica para

    alunos bilngues em espanhol e em euskera,um projeto que ganhou prmio depesquisa. O segundo projeto, muitosimples, mas que um prazer paramim, aborda a utilizao de sequn-cias didticas com alunos que tmdiculdades de aprendizagem. Oterceiro projeto sobre prticas deormao dos proessores na escrita,vou analisar as prticas das dieren-

    tes instituies da Sua rancesa:como os proessores ensinam a es-crita e como os estudantes, uturosproessores, realizam as prticas daescrita no curso de sua ormao. Ea quarta pesquisa, que estou termi-nando com Bernard Schneuwly, sobre o estudo dos objetos ensina-dos nas prticas de aula. So quatrorentes e muito trabalho.

    Fale de a peqia obre o e-to cotidiano do proeor na alade ala.Joaqi Dolz Essa pesquisa, em colabo-rao com o proessor BernardSchneuwly,oi realizada com proessores do secund-rio para saber como eles ensinam a gram-tica. Escolhemos unicamente uma estruturagramatical, a subordinada relativa e o texto

    de opinio. Uma de nossas preocupaesera identiicar os gestos proissionais dosproessores quando ensinam o discursocom a gramtica. Comeamos a entrar nasclasses para observar o trabalho que reali-zam cotidianamente.Alguns gestos so de regulao das intera-es, trocas com os alunos. Outros so paraidenticar as diculdades deles. Outros ain-da so gestos para conseguir memorizar,

    colocar o novo em relao ao antigo, ao tra-balho que izeram no passado.Poderamos alar tambm de outros gestospara compreender melhor a atividade docen-

    te. Este um tema novo de pesquisa. No Bra-sil, Anna Rachel Machado e outros autorestambm analisam a atividade do proessor,observando algumas das suas caractersti-cas. Ainda cedo para avaliar nossas obser-vaes sobre a ormao. Os estudiosos deergonomia trabalham muito comparando pr-ticas e atividades de dierentes proessores.Existem pesquisas sobre a ormao geral,mas sobre a leitura ou a escrita as pesquisas

    ainda so emergentes.

    Qal o e contato co o peqiadorebraileiro?Joaqi Dolz H um tempo ui convidadopara dar um curso na PUC-SP e assim z meuprimeiro contato com as duas pioneiras Ro-xane Rojo e Anna Rachel Machado e com arealidade brasileira. Depois comecei a desco-

    brir outros trabalhos muito diversos graas presena de muitos ps-doutorados e douto-rados que trabalhavam conosco em Genebra.Isso permitiu conhecer parcialmente arealidade educativa do Brasil. Tambm crieiuma relao com as proessoras Elvira LopesNascimento e Vera Cristovo, da Universida-de Estadual de Londrina (UEL), no Paran.Tenho um interesse muito grande pelo pasemergente e de potencialidades.

    Ao propor inovaes da prtica

    habitual, o professor pode sentir-se

    inseguro, necessitando de tempo

    para se apropriar das novidades.

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    Diante dos muitos e s vezes simultneosprojetos de que uma mesma escola participa,h ocasies em que o proessor se sente...simplesmente perdido. Mas, anal, em quecada um desses programas eetivamente co-labora para o melhor ensino e aprendizagem?Como se relacionam com as orientaes das

    secretarias e do MEC para o ensino?Para encontrar uma resposta satisatriapara perguntas como essas, preciso reser-var um pouco de tempo para conhecer os pres-supostos tericos e metodolgicos de cada

    projeto. Pensando na Olimpada de LnguaPortuguesa Escrevendo o Futuro, esse tra-balho que vamos desencadear aqui.

    Como todos sabemos, esse um projetocom caractersticas muito particulares:

    J a orientao terico-metodolgica da Olim-pada para o trabalho com leitura e produo

    de textos organiza-se em torno de trs eixosbsicos:

    1. A noo de gneroOrientado pela refexo de Mikhail Bakhtin

    a esse respeito, o projeto da Olimpada partedo pressuposto de que as diversas eseras daatividade humana esto, necessria e indisso-luvelmente, relacionadas ao uso da linguagem.Assim, cada esera de nossas atividades

    cotidiano-amiliar, religiosa, escolar, pros-sional, poltica etc. tende a desenvolver usosprprios, ou seja, gneros discursivos: a con-versa mesa, a orao, a dissertao escolar,o relatrio tcnico, a propaganda eleitoral, eassim por diante.

    2. A proposta da sequncia didtica (SD)como ferramenta bsica parao ensino e aprendizagemde leitura e produo de textos

    Inspirando-se em pesquisas e propostas detrabalho da Escola de Genebra e, em particular,na refexo de Bernard Schneuwly e JoaquimDolz, a Olimpada se organiza com sequn-cias de atividades de dierentes tipos e nveisde complexidade sistematizadas como ofci-

    nas e, por isso mesmo, orientadaspara um conjunto bastante coeso deobjetivos, por exemplo: (re)conhecero plano geral do texto de um artigode opinio; identicar as situaesde comunicao prprias das me-mrias literrias etc.

    3. As teorias de Lev S. Vygotskyrelativas aprendizagem

    As ocinas propostas pela Olim-pada supem aprendizes que, nocontexto das oicinas, podem cons-tituir-se como sujeitos ativos de suaprpria aprendizagem, e no comoalunos passivos cuja tarea se re-suma assimilao de contedos ermulas.

    Longe de se sobrepor ou de se contraporquer s orientaes oiciais, quer, ainda,

    refexo e atuao dos docentes, essa un-damentao terica, assim como a metodo-logia correspondente, est em sintonia tantocom as demandas da sala de aula quanto comas orientaes ociais para o ensino da ln-gua portuguesa. E no por acaso. que, tantoquanto os Parmetros Curriculares Nacio-nais, os princpios e critrios para a avaliaodos livros didticos do PNLD, os parmetroslevados em conta para selecionar livros para

    A Olimpada e as polticas pblicas para

    o ensino e aprendizagem de lngua portuguesa

    Egon de Oliveira Rangel

    Organiza e promove, no mbito de nossas redes pblicas

    de ensino, um concurso nacional de produo de texto

    para os trs nveis da Educao Bsica.

    Tem como um de seus principais objetivos proporcionar

    para os proessores e alunos inscritos um mesmo cho,

    em que todos possam plantar rmemente os ps. Partindo

    deste mesmo patamar e recorrendo aos mesmos par-

    metros e com as mesmas erramentas todos lutaro pela

    vitria em condies semelhantes.

    Caracteriza-se como um curso de ormao em servio

    para os docentes inscritos, inserindo-se no cotidiano da

    escola como parte da programao regular de lngua por-

    tuguesa, e no como mais uma atividade extracurricular.

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    o PNBE, e at mesmo os descritores combase nos quais se ormulam as provas desistemas de avaliao como o Saresp e oSaeb, a Olimpada se insere num movimento

    histrico que costumo chamar de viradapragmtica no ensino da lngua materna(Rangel, 2002).

    Exatamente como a expresso sugere,essa virada pode ser caracterizada como umabrusca e radical mudana na concepo tantodo que seja uma lngua quanto de como sedeve ensinar a lngua materna. Apesar de brus-cas e radicais, essas mudanas no se deramda noite para o dia. Foram ruto de transorma-

    es paulatinas ocorridas em pelo menos doisvastos campos do conhecimento cientco di-retamente relacionados educao escolar eao ensino de lnguas.

    As mudanas relativas concepo de ln-gua devem-se infexo das cincias da lingua-gem, desde os anos 1930, para os usos lingusti-cos e para a dimenso social e histrica dalngua. A concepo de que a lngua , essen-cialmente, um sistema de signos destinados a

    representar coisas e ideias passou a ser ques-tionada pelas pesquisas e refexes que reve-lavam aspectos antes negligenciados:

    Com base nessa investigao da lingua-gem como uso, e no apenas como sistemade signos, rmou-se a noo de discurso, quepodemos entender, genericamente, como alinguagem posta em ao e necessariamen-te entre parceiros (Benveniste, 1958, p. 284).

    E essa noo de discurso abriu a refexo lin-gustica para o que h, na linguagem, de acon-tecimento, de (inter)ao e de compromissosocial: toda produo lingustica , ento, umato situado no tempo, no espao e na vida emsociedade. Assim, oi possvel, entre outrascoisas, entender melhor, nosprocessos de lei-tura e escrita, as ormas pelas quais os senti-dos so (re)construdos pelos parceiros dodiscurso a partir do texto.

    J as mudanas relativas ao como ensi-nar devem-se s conquistas propiciadas pelasteorias da aprendizagem, especialmente a par-tir das grandes snteses produzidas na dcada

    de 1980. Desde ento, dispomos de descries,ou mesmo modelos, bastante plausveisda aprendizagem, tanto no que diz respeito orma como ela se processa na mente do indi-vduo quanto no papel undamental que ocontexto, a cultura, as situaes e os esque-mas de interao em jogo tm para o sucessodo aprendiz.

    o carter interacionale comunicacional daslnguas que az que toda atividade humanatenha o seu lado lingustico;

    seu poder de criarrealidades, e no apenasde represent-las que explica, entre outrascoisa, porque o imaginrio produzido pela

    mdia mais real para o pblico do que osatos eetivamente vividos no cotidiano.

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    Esta a razo pela qualafirmei que

    [...] a histria recente da educao podeser dividida, grosso modo, em dois gran-

    des momentos. O primeiro deles, que cha-maremos de tradicional, oi dominado pe-las preocupaes praticamente exclusivascom o enino. As grandes questes, paraos educadores, eram o que e como ensinar,considerando-se os saberes disponveis eos objetivos socialmente perseguidos emcada nvel de ensino.

    No segundo momento, a apren-

    dizae, ou melhor, o que j sa-bemos a respeito dela, que comandao ensino. Atentos aos movimentos,estratgias e processos tpicos doaprendiz numa determinada asede sua trajetria e num certo con-texto histrico e social, os educa-dores procuram organizar situa-es e estratgias de ensino omais possvel compatveis e ade-

    quadas. Nesse sentido, o esoroempregado no planejamento do en-sino e na seleo e emprego de es-tratgias didtico-pedaggicas emsala de aula acaba tomando o pro-cesso da aprendizagem como prin-cpio metodolgico de base (Rangel,2009; com adaptaes).

    Por todos esses motivos, os objetos de

    ensino e aprendizagem, no contexto da vira-da pragmtica, tm sido concebidos como

    procedimentais. Devem-se ensinar usos,orais e escritos, da lngua. No por acaso,tanto os PCN do Ensino Fundamental quan-to os princpios e critrios de avaliao de

    livros didticos do PNLD deinem como ob-jetivo do ensino do portugus o desenvolvi-mento da procincia oral e escrita do alunoe, em particular, sua insero qualicada nomundo da escrita.

    Se retomarmos agora o conjunto deste ar-tigo, veremos acilmente que o projeto daOlimpada se insere na mesma virada prag-mtica que d origem s orientaes ociaispara o ensino do portugus:

    Eon de Oliveira Ranel proessor do Departa-mento de Lingustica da PUC-SP, membro do ComitAssessor da Secretaria de Educao Superior (Sesu).

    Reerncia

    BENVENISTE, mile. 1958. Da subjetividade na linguagem, in: Pro-blemas de lingustica geraI I. 2- ed. Campinas: Pontes/Editora da

    Unicamp, 1988.

    RANGEL, Egon de Oliveira. Livro didtico de lngua portuguesa: oretorno do recalcado, in: DIONISIO, Angela Paiva e BEZERRA, Ma-ria Auxiliadora (orgs.). O livro didtico de portugus: mltiplos olha-res. 2- ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

    RANGEL, Egon de Oliveira. Para no esquecer: de que se lembrar, nahora de escolher um livro do Guia? Braslia: SEB/MEC, 2009. Mimeo.

    ao eleger o gnero como unidade de trabalho, traz a

    lngua em uso para a sala de aula;

    ao eleger Vygotsky como reerncia terica para a sua

    concepo de ensino e aprendizagem, mostra-se em dia

    com as conquistas propiciadas pelas pesquisas em

    aprendizagem;

    ao se organizar em sequncias de atividades inspira-

    das na noo de sequncia didtica, organiza a leitura,

    a oralidade e a refexo sobre a lngua e a linguagemem torno das demandas de produo textual geradas

    por um concurso de redao de escala nacional. Nesse

    sentido, a Olimpada constitui, por si s, todo um con-

    texto de uso da escrita.

    Participar da Olimpada no , portanto,apenas participar de um jogo entre outros,por mais divertidas que as ocinas tambmpossam ser. , antes de tudo, envolver-senuma proposta de trabalho que pode se cons-tituir, para o proessor, como uma reernciainteressante para, at independentemente doconcurso, articular e moldar as atividades deensino e aprendizagem de lngua portuguesa.

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    A primeira reao da proessora Adrianade S Costa, de Campina Grande (PB), ao re-

    ceber pelo correio a Caixa de erramentas Para o ensino da produo de textos daOlimpada de Lngua Portuguesa Escrevendoo Futuro, oi de estranhamento: Qual a propos-ta da equipe da Olimpada? Antes a sequn-cia didtica vinha prontinha. Agora queremque a gente planeje e apresente para eles asatividades?.

    Sem querer, Adriana acertou. Era esse oobjetivo da Caixa de erramentas enviada no

    primeiro semestre do ano passado aos 150 pro-essores nalistas da Olimpada de 2008. Omaterial da caixa oi elaborado para o trabalhocom novos gneros de escrita: crnica e repor-tagem jornalstica. Crnica j proposto em2010 para alunos do 9- ano do Ensino Fundamen-tal e do 1- ano do Ensino Mdio; reportagem serintroduzido em uturas edies da Olimpada.

    Todas as aes deveriam ser desenvolvi-das at o dia 30 de setembro, data-limite para

    que os proessores participantes enviassema sequncia didtica elaborada, os textos pro-duzidos pelos estudantes e o relato dessaexperincia.

    A proposta da Caixa de erramentas eramenos dirigida que o Caderno do Proessor Orientao para produo de textos. Quera-mos analisar como o proessor elabora e de-senvolve as atividades. Enquanto registra, oeducador pode refetir sobre o trabalho reali-

    zado e identicar outros caminhos para inter-vir no processo de aprendizagem dos alunos.Sonia Madi, coordenadora pedaggica daOlimpada, tambm destaca a preocupaoem convidar proessores a se tornarem cola-boradores da equipe da Olimpada. Com basenas inormaes da Caixa, eles criaram e rea-lizaram as atividades com seus alunos, docu-mentando cada etapa do processo de ensinoe aprendizagem num Dirio de viagem.

    Uma comisso julgadora ormada por tc-nicos e colaboradores do Cenpec escolheu os

    trs melhores trabalhos, premiando com li-vros as proessoras Flaviana Fagotti Boni-cio, de Limeira (SP); Antonia Ivalda da SilvaOliveira, de Piripiri (PI); alm de Adriana deS Costa, de Campina Grande (PB). Quere-mos incentivar a autonomia do proessor para

    que ele seja protagonista e articulador de umaproposta para o ensino da leitura e da escri-ta, arma Sonia.

    Registrar preciso

    Para a proessora Flaviana, que trabalhoucom crnicas, o material da Caixa de erra-mentas trazia muitas inormaes para elabo-rar as atividades, alm de estimular o regis-tro. Eu no tinha o hbito de registrar minhasexperincias. Comecei a azer isso partici-pando da Olimpada. Fui minuciosa. Aprendia planejar melhor, estabelecer metas, explorarmais o potencial de cada um dos alunos, ob-servar as diculdades, pensar em alternativas

    Uma caixinhade boas surpresas

    Luiz Henrique Gurgel

    Um trabalho dierente, realizado com os proessores fnalistas em 2008,

    valorizou o registro das experincias na sala de aula e trouxe novos

    subsdios para a equipe da Olimpada.

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    para super-las e avaliar o que deu resultado uma experincia importante!.

    Antonia Ivalda ez reportagem com seusalunos. Para ela no oi dicil organizar um

    registro dirio das aes: muito bom regis-trar porque a gente no perde o pique e no seesquece de detalhes. Vai trabalhando e ava-liando ao mesmo tempo. Alm disso, a Caixa antstica porque no traz uma receita pron-ta. Ela oerece um roteiro e abre caminhos. surpreendente como esses incentivos enri-quecem e tornam mais viva nossa atuao emsala de aula.

    J Adriana, que trabalhou crnica com uma

    das turmas e reportagem com outra, tambmarma que s recentemente passou a regis-trar suas experincias de trabalho: Registrar bom porque a gente pode utilizar isso depois.Eu nunca tinha sistematizado uma sequnciacom a consistncia e qualidade da Caixa de

    O que havia na Caixa?

    Colorida, cil de manusear e transportar, e com todo o material

    necessrio para planejar uma boa proposta de ensino de leitura e

    escrita, a Caixa de erramentas, que os proessores nalistas da

    Olimpada em 2008 receberam, trouxe o Manual do Proessor umguia de 48 pginas com orientaes e dicas passo a passo para ela-

    borar uma sequncia didtica; o livreto Mapa de Reerncias, com

    inormaes e anlises de reportagens e crnicas de importantes

    escritores brasileiros, alm de um histrico sobre o surgimento desses

    gneros textuais; e o Jornal da Olimpada, com reproduo de ma-

    trias publicadas em importantes rgos da imprensa. O Dirio de

    viagem completava a Caixa, abrindo espao para o registro de todas

    as atividades do projeto.

    erramentas. A proessora apresentou a ex-perincia na Semana Pedaggica de CampinaGrande, que reuniu tcnicos e proessores darede municipal de ensino.

    A proessora Maria Imaculada Pereira, doCenpec, uma das avaliadoras dos trabalhos,ressaltou que o registro permite descrever,analisar, comparar, generalizar e alterar a rotaem razo da necessidade dos alunos.

    Sonia Madi ainda az reerncia qualida-de dos relatos enviados, s experincias mui-to particulares vividas pelo proessor comseus alunos em sua sala de aula, que podemsubsidiar novas aes de ormao para os

    educadores. E naliza citando Clarice Lispec-tor: Escrevo porque medida que escrevovou me entendendo e entendendo o que querodizer, entendo o que posso azer. Escrevo por-que sinto necessidade de aproundar as coi-sas, de v-las como realmente so....

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    No bastante alta para chegar ao botoda campainha.

    O peixeiro presta-lhe esse servio, tocando.Algum abre.

    Foi a garota que pediu para chamar...Quando no algum transeunte austero,

    senador ou ministro do Supremo, que atende sua requisio.

    Com pouco, a soluo j no lhe satisaz.Descobre na porta, a seu alcance, a aberturaorrada de metal e coberta por uma tampamvel, de matria idntica: por ali entram ascartas. Os dedos sacodem a tampa, desenca-deando o necessrio e afitivo rumor. Antes deabrir, perguntam de dentro:

    Quem est a? de paz ou de guerra?De ora respondem: Luci Machado da Silva. Abre que eu

    quero entrar.Ante a intimao peremptria, ranqueia-se

    o recinto. Entra uma coisinha morena, des-penteada, s vezes descala, s vezes co-mendo po com cocada, mas sempre sria,ar extremamente maduro das meninas detrs anos.

    ora de entrar, sair, tornar a entrar minu-tos depois, tornar a sair, lanchar, dormir na pri-meira poltrona, praticar pequenos atos doms-ticos, dissolveu a noo de residncia, se queno a reticou para os dicionrios do uturo.

    Qual a sua casa? Esta. E a outra de onde voc veio? Tambm. Quantas casas voc tem?

    Esta e aquela. De qual voc gosta mais? Que que voc vai me dar? Nada. Gosto da outra. Tem aqui esta pessegada, esta banani-

    nha... Gosto desta casa! Gosto de voc!No gulodice nem interesse mesquinho...

    Ser antes prazer de sentir-se cortejada, mi-

    mada. Esquece a merenda para car na sala,de mo na boca, olhando os ps estendidos,enquanto algum lhe acarinha os cabelos.

    Nem tudo so fores, no espao entre asduas residncias. H Catarina e Pepino.

    Catarina oi inventada pressa, para rus-trar certa depredao iminente. Os bichosde cristal na mesinha da sala de estar tenta-vam a mo viageira. Pressentia-se o momen-to em que as ormas alongadas e rgeis se

    Nossa amigaCarlos Drummond de Andrade

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    desariam. Na parede, esquecida, preta, pou-sara uma bruxa.

    No mexa nos bichinhos.Mexia. No mexa, j disse...Em vo. Voc est vendo aquela bruxa ali?

    Catarina. Que Catarina? Uma menina de sua idade, igualzinha a

    voc, talvez at mais bonita. Muito mexedeira,mas tanto, tanto! Um dia oi brincar com o ca-chorrinho de vidro, a me no queria que elabrincasse. Catarina teimou, mexeu e quebrouo cachorrinho. Ento, de castigo, Catarina vi-rou aquela bruxinha preta, horrorosa. Para oresto da vida.

    A mo imobiliza-se. A bruxa est presatanto na parede como nos olhos xos, gran-des, pensativos. Entre os mitos do mundo(entre os seres reais?) existe mais um, alado,crepuscular, rebelde e decado.

    Pepino tem existncia mais positiva. Cir-cula na rua a rua o espao entre as duasquadras, repleto de surpresas geralmente

    tarde. Vem bbado, curvado, expondo em ra-ses incoerentes seus problemas ntimos. Pe-gador de crianas.

    Vou embora para minha casa. Voc vaime levar.

    Mas voc mora to pertinho... E Pepino? Pepino no pega ningum. Ele cama-

    rada. Pega, sim. Eu sei.

    Pois eu vou dar uma esta para as crian-as desta rua e convido Pepino. Voc vai verse ele pega.

    Eu no vou na esta. Voc quem perde. Vem Elzinha, Nesi-

    nha, Helosa, Alice, Maria Helena, Lourdes,Brbara, dison, Careca, Joo e Ado. Pepinovai danar para as crianas. Voc, como umaboba, no toma parte.

    At logo!

    Sai voando, a porta echa-se com estron-do. Da varanda, ainda se v o pequeno vultodesgrenhado.

    Carlo Drond de Andrade, Itabira (MG), 1902 Rio de Janeiro (RJ), 1987. Poeta, cronista, contista, ensasta e tradutor.Sua estreia na literatura ocorreu em 1930, com a publicao deAlguma poesia, em edio de 500 exemplares paga pelo autor.Em 1942, a publicao de Poesias o ez nacionalmente reconhecido, at mesmo pela crtica especializada.Confsses de Minas,1944, oi sua primeira publicao no gnero crnica, trabalho que manteve, entre 1969 e 1984, na coluna semanal no Jornal doBrasil. J a primeira incurso na prosa de co ocorreu em 1951, com Contos do aprendiz. Em sua obra, problematiza a vida eos acontecimentos do mundo, oerecendo ao leitor as memrias da inncia e a experincia do homem moderno na grande cida-de, questionando o prprio azer potico, com ironia. (Fonte: Enciclopdia Ita Cultural .)

    Espere a, voc no tem medo do Pepino? No. Estou zangada com voc.Com a zanga, desaparece o temor. Seria

    realmente temor? Gosta de ser acompanha-da, para dizer me, quando chega em casa:

    Espia quem me trouxe.Volta meia hora depois, penteada, calada,

    vestido limpo. Espia minha roupa nova. Meu sapato

    branco. Mas que beleza! Onde voc vai? Vou na esta.Para tomar banho e trocar de vestido, ne-

    cessrio que se anuncie sempre uma esta,jamais localizada ou realizada, mas que opera

    interiormente sua ascinao. No h pressaem ir para ela. A merenda, a conversa gravecom pessoas grandes, estranhamente preeri-das a quaisquer outras, o brinquedo persona-lssimo com o primeiro encontro do dia umcarretel, a galinha que salta do carrinho de ei-ra azem esquecer a esta, se no a consti-tuem. E resta saber se o enganado no ser oadulto, que sugere terrores ou recompensasantasiosas. Nas campinas da imaginao,

    esse galope de ormas ser a verdade?Senta-se no corredor, e com uns panos

    velhos, lpis vermelho, pedrinha, qualquerelemento poetizvel, representa para si s aimemorial histria das mes.

    Comadre, seu lhinho como vai? T bom, comadre, e o seu? T com dedo machucado e dodi na

    barriga. Vai tomar injeo. Ento vou dar no meu tambm.

    Perguntas e respostas, recolhidas em con-versas de adulto, saem da mesma boca inexpe-riente. O objeto que serve de lho embaladocom seriedade. A doena existe, existem ossustos maternais. Mas tudo se desaz, se acasoum intruso vem surpreender a criao, tiradaem partes iguais da vida e do sonho, e que os pro-longa. Assim pudesse a me antiga tornar invi-svel seu lho, ante os soldados de Herodes.

    Texto extrado do livro Contos de aprendiz (Rio deJaneiro: Editora do Autor, 1963, p. 153). Este conto oiselecionado por talo Moriconi e consta tambm dolivro Os cem melhores contos brasileiros do sculo.

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    Se bem me lembro, iniciei as atividadessobre memrias literrias lendo o poema Re-cordo ainda, de Mario Quintana.

    Recordo ainda... E nada mais me importa...

    Aqueles dias de uma luz to mansa

    Que me deixavam, sempre de lembrana,

    Algum brinquedo novo minha porta...

    Mas veio um vento de Desesperana

    Soprando cinzas pela noite morta!

    E eu pendurei na galharia torta

    Todos os meus brinquedos de criana...

    Estrada aora aps segui... Mas ai,

    Embora idade e senso eu aparente,

    No vos iluda o velho que aqui vai:

    Eu quero meus brinquedos novamente!

    Sou um pobre menino... acreditai...

    Que envelheceu, um dia, de repente!...

    Depois da leitura, zemos uma anlise in-terpretativa desse poema. Recordamos atose acontecimentos marcantes que ocorreramna inncia dos alunos. Emocionados, eles

    narraram muitas histrias, zeram uma via-gem ao passado: alaram das brincadeiras,travessuras, viagens, estas, incidentes ocor-ridos na inncia.

    O gnero memrias literrias tanto eranovo para mim como para meus alunos. Essenovo nos ez buscar o velho para assimentend-lo. A leitura de trechos do livro Velhosamigos, de Ecla Bosi, ez que os alunos per-cebessem que as pessoas mais velhas podem

    nos ajudar a compreender a histria de umacidade, de um povo.

    Os alunos conversaram com amiliares,proessores de histria e de geograa da es-cola, pessoas da comunidade para conhecermelhor So Miguel dos Campos.

    Em sala de aula, escolhemos moradorespara contar histrias da cidade. Para isso,elaboramos perguntas que pudessem des-pertar lembranas. Tambm realizamos uma

    Poesia que cativa a memriaO trabalho era com o gnero memrias literrias, mas proessora de Alagoas usa a poesia

    para despertar um olhar dierente sobre a histria de seus prprios alunos,

    da cidade e de seus moradores. Como todo bom trabalho, teve idas, vindas, recomeose mudanas. No fnal fcou a certeza de que proessora e estudantes passaram

    a perceber a cidade em que vivem de outro jeito.

    Jeane Cristina Rodrigues do Nascimento

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    quanto s questes estruturais do texto: cla-reza, coeso, coerncia e conciso do gnero.

    Mas, para meu espanto, constatei a inse-gurana de vrios alunos diante da escrita in-dividual. Era como se no tivessem se apro-

    priado de toda a experincia vivida. Ento,decidi retomar cada etapa do percurso, res-saltando tudo o que haviam aprendido.

    Ao propor o aprimoramento do texto, citeio grande escritor alagoano Graciliano Ramos,que nos d uma boa recomendao quanto aoato de escrever: Deve-se escrever da mesmaorma como as lavadeiras de Alagoas azemseu ocio. Li o texto para os alunos, ressal-tando que o ato de escrever exige trabalho,

    esoro, dedicao.Ao escrever esse breve relato, me dou

    conta dos desaos que eu e meus alunos, co-rajosamente, enrentamos: a resistncia ini-cial do grupo, a alta de entusiasmo de alguns,as diculdades de aprendizagem de outros eminhas dvidas enquanto proessora diantede uma nova proposta. Tambm percebi queas entrevistas, as visitas, as ocinas de leitu-ra e escrita, as orientaes passo a passo

    trouxeram vitalidade ao trabalho.Por m, considero que a proposta da Olim-

    pada ortaleceu minha atuao em sala deaula, enriqueceu o universo cultural de cadaaluno e despertou a conscincia para a buscade melhorias no lugar em que vivemos.

    Jeane Critina Rodrie do Naciento pro-essora da Escola Municipal Luzinete e LindalvaJatob, de So Miguel dos Campos (AL).

    entrevista com o poeta Ernandes Bezerra, queescreve sobre nossa terra. Essa atividade oimuito proveitosa. Os alunos zeram pergun-tas, interagiram com o escritor, anotando ospontos mais importantes da entrevista. Ao

    nal da conversa, o poeta nos encantou, dizen-do poesias que exaltam a cidade.

    Ainda na busca de lembranas, pedi aosalunos que, em casa, remexessem o undo doba. Os alunos coletaram otos, objetos anti-gos, notcias, reportagens mostrando as trans-ormaes sicas, o modo de vida, os aconte-cimentos marcantes de So Miguel.

    Fizemos tambm uma visita Casa de Cul-tura. Cada oto, cada objeto nos levou a reviver

    um pedacinho do passado e conhecer os he-ris da terra, pessoas que contriburam para odesenvolvimento histrico-cultural da cidade.

    Com as leituras dos textos recomendadose outras memrias literrias pesquisadas pelosalunos, estudamos os recursos utilizados nessegnero textual: os sinais de pontuao, o usodo pretrito pereito e impereito, a descriode acontecimentos, as palavras e expressesque marcam o tempo passado, as compara-

    es do tempo antigo com o atual. Para a ela-borao do texto coletivo, tomamos como basea entrevista com o poeta. Foi realmente umensaio geral. Assumimos o papel do entrevis-tado e, ao relembrar os atos, registramostudo o que oi considerado importante, comoa origem da cidade, a enchente que no dei-xou boas recordaes, as lendas, os hbitos ecostumes da poca. Reconheo que nessaaula consegui esclarecer algumas dvidas

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    Uma boa crnica ao fagrar acontecimen-tos pitorescos do cotidiano capaz de sur-preender, emocionar, divertir quem a l. Mas,por trs da linguagem leve e coloquial, bem aoencontro da rapidez dos tempos ps-moder-nos, h um trabalho minucioso e consistentedo escritor. So mltiplas escritas, leituras,

    reescritas, antes que o texto chegue s mosdo leitor.

    Sabemos que cabe escola por meio dainterveno do proessor criar condiespara que o aluno possa aprender a se deslocar

    para o lugar de leitor do prprio texto e, as-sim, identicar o que no est claro, o que al-ta, o que precisa ser modicado, para que aescrita ganhe qualidade.

    Vamos por meio dos registros e refexessobre a prtica da proessora Adriana de SCosta, da Escola Municipal Padre Antnio, de

    Campina Grande (PB), nalista da Olimpadade Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro em2008, conhecer como ela desenvolveu as ativi-dades de reviso e o aprimoramento da crni-ca ao trabalhar com a Caixa de erramentas.

    Revisar para

    Veja a anotae do Dirio de viae

    da proeora Adriana:

    Depoisdelerediscutiralguns

    textos,ogrupoteveumaviso

    geralacerca

    dognero,demonstrandomotiv

    aopararealizaraproduoin

    icial.Achei

    interessanteaobservaodea

    lgunsalunos,argumentandoque

    teriamde

    escreversobreumgnerosemt-loe

    studadodeformamaissistemt

    ica.

    Naspalavrasdeles:Professora,comoqueagent

    ejvaiescreveruma

    crnicaseasenhoracomeoua

    falarsobreelaagora?

    Expliqueiqueeuprecisavafaze

    rumdiagnstico,identificandoo

    conhecimentodecadaumsobre

    acrnica.

    Percebiumgrandeesforodogrupon

    atentativademelhoraressa

    produoemrelaoanterior.Retomeiospas

    sosparaaescritada

    crnicaelembreiaosalunosque

    ,aoescrever,nodeveriamperderdevista

    oleitor,jqueostextosseriam

    publicados.

    Realizeiumplanodeescritaco

    mosalunos,retomandooselem

    entosdo

    gnero,sobretudoocartercrti

    co,subjetivo,dacrnica.

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    Primeiras linhasA anlise do texto inicial permite que o

    proessor identique o que os alunos j sa-bem e tambm suas principais diculdades. Apartir desse mapeamento, pode planejar asintervenes necessrias para que a turmaavance.

    undamental que o proessor ensine aosalunos que um texto bem escrito aquele quecumpre a nalidade a que se prope, conquistalegitimidade perante o leitor um processorepleto de idas e vindas. Cada nova leitura

    uma possibilidade de aprimorar uma ideia, che-

    car o que est conuso, ambguo, redundante,adequar o vocabulrio, ajustar a pontuao, cor-rigir algum deslize ortogrco, gramatical.

    O incentivo do proessor decisivo paraencorajar os alunos a enrentar a reviso e oaprimoramento do texto. Sempre que poss-vel, prepare um bilhete com observaesindividualizadas que ajudem o aluno a identi-icar o que pode ser revisto para apereioaro prprio texto.

    escreverbemDemaneirageral,pudeobservarquehouveavanosem

    todasasprodues.

    Algunsdefatonoconseguiramescreverumaboacrnica,mas,em relao

    primeiraproduo, odesempenhomelhoroumuito.Nomomentodareescrita,providenciei,paratodososalunos,cpiasdotexto

    queseriaaprimorado.Assim,elespoderiamler,analisar,proporeacompanhar

    asalteraes.Euescrevianoquadroassugestespropostas.Percebiqueosalunospassaramafazerobserva

    esmaisconsistentes.

    Almdisso,aprenderamasugerirsemcriticar.Essaatitude respeitosa

    melhorouarelaoentreeles.Duranteasatividadesde reescritaalgunsalunosdemonstravamdesinteresse.

    Alegavamque noaguentavammaisolharparaotexto.Procureianim-los,

    esclarecendoqueesteoprocessopeloqualotextopassaatdosescritores

    experientes, consagradosantesdeserpublicado.Eotextodelesprecisava

    ser bemescrito,poisseriapublicadono blogenojornaldaescola.

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    Verifqe a anlie atentada proeora Adriana:

    Luan,Vocescolheuumi

    nteressantepersonagemde suavida

    paraescreveracrnica.Pe

    rceboem seutextopitadas

    deironia.Htambmemooaonarraraexperinciado

    Velhodochineloquandoelevomarpelaprimeiravez.

    Deixouma sugesto:procure leroutra

    scrnicas,observar

    ojeitodeocronistanarrarosfatos

    docotidiano,antes

    dereescrevero seutexto.

    Velho do chinelo

    Em um stio bem prximo da cidade a estrela mais conhecida l era o Velho do chinelo.

    Todos diziam que ele era muito azarado e sempre perdia o chinelo.Um dia como outro qualquer, um rosto novo pelas redondezas.

    Os outros moradores fcavam se perguntando quem era este jovem? Ningum sabia, mas ele estava

    ali para poder realizar um sonho neste dia.

    O senhor pode vir comigo?, perguntou o rapaz.

    O senhor, com certo medo, diz que vai.

    No caminho para a praia o Velho do chinelo v o mar pela primeira vez. Os olhos fcam molhados

    com suas lgrimas, nem espera o carro parar e vai ao encontro do mar. Em um belo mergulho perde seu

    par de chinelos. Sem pensar ele grita o mais que pode. E com uma voz de choro, ele pergunta:

    Cad meu chinelo?

    Acompanhe a devolutiva que a proessora deu ao Luan Vieira, valorizando o que

    o ele j sabe e apontando os conhecimentos que precisam ser aprendidos.

    O olhar apurado do proessor ao examinar as produes de seus alunos permite

    que ele conhea as necessidades do grupo e as intervenes que devem ser eitas.

    O aluno escolheu um episdio com um personagem prximo de sua realidade:o morador de um stio, conhecido como Velho do chinelo. Parece que ele j sabe o que dizer.

    H sucesso de acontecimentos no texto que precisam ficar mais claros para o leitor.

    Incluiu dilogo entre os personagens da trama, numa tentativa de envolver o leitor no enredo.

    Mesclou ironia, humor e at umas pitadas de lirismo, mas ainda no definiu o tomda crnica.

    Usou um bom recurso para finalizar o texto, entregando o desfecho nas mos do leitor.

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    Fazer junto: hora doaprimoramento coletivo da crnica

    Depois de cada pergunta, d tempo aosalunos para se maniestarem. V anotando, aolado da verso original, as contribuies daturma. Leia para o grupo as vrias possibili-dades apresentadas.

    Velho do chinelo

    O Velho do Chinelo era a pessoa mais conhecida naquelas paragens. Morava num stio no muito

    longe da cidade de Pedrinha. Distrado, sempre perdia objetos pessoais, principalmente o chinelo. Fo-

    ram tantas perdas e conuses, que a ama de atrapalhado se espalhou pelo lugarejo.

    Um dia apareceu um rosto novo pelas redondezas. Intrigados, os moradores do lugar fcavam per-

    guntando quem seria aquele jovem, por que estava na cidade. O que ningum sabia que ele sobrinho

    do velho veio cidade especialmente para realizar o sonho do tio.

    O senhor quer dar um passeio comigo? perguntou o rapaz ao velho.

    Meio ressabiado h tempos no tinha notcias do jovem aceitou o convite. Eu preciso levar alguma coisa? perguntou o velho ao rapaz.

    Nada de especial, apenas uma roupa conortvel respondeu o sobrinho.

    Mochila pronta, os dois iniciam o passeio.

    Ainda na estrada, o Velho do chinelo avista o mar pela primeira vez. Emocionado, os olhos fcam

    molhados de lgrimas. Nem espera o carro parar direito e sai correndo pela praia ao encontro do mar.

    O velho d um belo mergulho e perde seu par de chinelos. Sem pensar, ele grita o mais que pode.

    No era de elicidade ou por causa da gua ria. Com uma voz de choro, resmunga: Cad meu chinelo?.

    preciso que o proessor, durante o proces-so de aprimoramento do texto, que atento smudanas realizadas para preservar a autoria.

    Conhea como cou a verso apereioa-da do texto:

    A reescrita az parte do processo de escri-

    ta. uma prtica trabalhosa, mas essencialpara o ensino da produo textual.

    Antes de propor que cada aluno revejae apereioe seu texto individual, impor-tante que se aa essa atividade coletiva-mente. A reescrita coletiva o azer junto possibilita aos alunos uma experincia mo-

    delar, que vai ajud-los na reormulao das

    ideias, para que eles possam dizer mais,dizer de outro jeito, analisar e/ou corrigir oque oi dito.

    Transcreva o texto que ser reescrito e,com antecedncia, prepare algumas pergun-tas que possibilitem aos alunos enxergar assolues para o texto. Por exemplo:

    Voc no acha interessante apontar outras caractersticas do personagem?

    Ser que azarado o melhor adjetivo para o personagem?

    Quem o jovem que se aproximou do velho?

    O discurso direto no daria mais vivacidade ao texto?

    Diante da aceitao do convite feito, quais foram os preparativos para a viagem?

    No caminho para a praia o velho j avistou o mar? Esse fato poderia ser narrado de outra maneira?

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    H outras estratgias para encaminhar areescrita coletiva. Voc pode analisar todosos textos e selecionar trechos diversos queprecisam ser revisados e reescritos. Nestecaso, organize os alunos em duplas ou pe-quenos grupos e pea a eles que leiam e apon-tem as alteraes que julgarem necessrias.

    Outra possibilidade selecionar trechos devrias produes que apresentam o mesmotipo de problema e azer atividades de refe-xo sobre a lngua portuguesa com eles.

    Por certo, voc vai encontrar sua prpriaorma de ensinar os alunos a ler, revisar e rees-crever os textos deles.

    Aprender a fazer sozinhoDepois de exercitar o aprimoramento de

    texto com a colaborao do proessor e dosdemais colegas da turma, hora de o alunocaminhar rumo autonomia, aprender a olharcriticamente para o prprio texto, identican-do o que precisa ser alterado. necessrio

    que os alunos percebam que preciso darsentido aos seus dizeres, se aam entenderpor aqueles que iro ler seu texto. Para aju-d-los nessa tarea, o proessor pode ler otexto em voz alta para que eles percebam oque no cou claro, onde esto os problemas,azer algumas perguntas que os ajudem aenxergar o que precisa ser alterado, obser-vando as orientaes propostas no roteirode reviso e aprimoramento.

    Escolhi um texto que representava as principais dificuldades dos alunos.

    Pedi autorizao do autor para utilizao do texto.

    Copiei, previamente, a crnica numa folha de papel kraft.

    Conversei sobre alguns combinados indispensveis para manter no grupo o respeito mtuo e a cooperao.

    Expliquei aos alunos a importncia de revisar e aprimorar o texto.

    Elaborei, antecipadamente, perguntas que ajudassem os alunos a pensar nas modificaes e nosajustes que precisavam ser feitos no texto.

    Relembrei com eles a situao de comunicao: quem fala; de que lugar; com que objetivo;para quem ler, como; onde ir circular; em que suporte ser publicado.

    Li o texto na ntegra com os alunos.

    Verifiquei se o texto reporta de forma significativa e pertinente algum aspecto ligado vidacotidiana do local.

    Apontei o que est bom no texto e o que precisava ser melhorado.

    Pedi que verificassem se a crnica cumpre o objetivo a que se prope: emocionar, divertir, refletir,surpreender o leitor.

    Conferi se os recursos da linguagem estavam adequados ao tom do texto: irnico, humorstico, lrico, crtico;

    Preparei um cartaz com o roteiro para reviso.

    Ajudei o grupo a identificar se o enredo da crnica est bem desenvolvido, coerente, se h umaunidade de ao, se no desenrolar do texto as caractersticas da narrativa (personagem, cenrio,

    tempo, elemento surpresa ou conflito e desfecho) esto presentes.

    Ouvi as alteraes propostas e decidi, junto com o grupo, qual a melhor forma de escrever o texto.

    Assegurei a interao e participao de todos os alunos, evitando o monoplio daqueles que tm maiordomnio da escrita.

    Reli com o grupo cada pargrafo produzido para verificar se o texto atende s convenes daescrita (morfossintaxe, ortografia, acentuao, pontuao).

    Pedi turma que fizesse as alteraes necessrias e conferisse se o texto mantm a coeso,a coerncia, se o sentido do texto foi preservado.

    Revendo o caminho percorrido

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    Roteiro de reviso e aprimoramento

    Veja, e otro texto, a indicaepropota pela proeora Adriana:

    Nacrnica,

    notousual

    darnomeaospersonagens.

    Vocquerrever?

    possvelcriarumclima

    desuspense

    pormeiodo

    dilogoentre

    osvizinhos?

    A narrativapode ganharagilidade se vocusar o discursodireto. Que tal

    reler o textopara identificarquais pargrafosmerecem ajustes?

    Para tornar alinguagem maiselegante preciso substituirexpresses,deslocar certosadvrbios(finalmente);deixar osperodos maiscurtos, revera pontuao.Vamos tentar?

    O mistrio do aude velhoPriscila A. Ferreira

    O aude velho, que j matou tantas vezes a sede da populao de Campina

    Grande, que oi to importante para o crescimento e desenvolvimento da nossa ci-

    dade, hoje se encontra assim... poludo. Mas no sobre esse tema que escrevo essa

    crnica, e sim sobre um dilema vivido, e at mesmo esquecido, por ns campinen-

    ses. Afnal, h ou no um jacar, vivendo nas guas do aude velho?Pensando nisso, resolvi tirar essa histria a limpo, sa, de casa em casa prxi-

    mas ao aude , perguntando se algum j tinha visto o amoso jacar do aude ve-

    lho. Alguns moradores me diziam que apesar de nunca o terem visto, acreditavam na

    sua existncia, outros diziam que aquilo tudo era absurdo, que no havia como um

    animal sobreviver naquelas guas imundas e poludas. Continuei na estaca zero, pois

    ningum tinha visto nada estava provado. Mas eu no desisti.

    Na penltima casa que visitei fnalmente, o morador que jurava ter visto o rp-

    til! Ento existe sim um jacar no aude? O morador se chamava Fernando e me

    disse que j viu o jacar vrias vezes, pergunte para ele porque de todos os vizinhos

    ele era o nico a ver o jacar. Ele me respondeu que os vizinhos costumavam men-

    tir. Eu achei aquilo estranho, porque os vizinhos iriam mentir? Por qual motivo?

    Dei obrigado ao morador meio sinistro e ui terminar a minha pesquisa, indo

    para a ltima casa aproxima ao aude. O ltimo morador, coincidncia ou no,

    era irmo de Fernando (o morador esquisito). O irmo dele me disse que Fernando

    no alava coisa com coisa, que do mesmo modo que ele diz ter visto jacar no aude,

    ele diz ter visto duendes. Fiquei muito triste. Ento no existe jacar nenhum...

    No caminho de volta, vim olhando o aude, desanimada. Quando de repente vi

    uma coisa se mexendo nas guas do aude velho, nem acreditei, no que era o

    amoso jacar, fquei muito contente, tirei vrias otos. Assim pude concluir que, se

    existem duendes eu no sei, mas que o morador estranho estava certo em relao

    ao jacar... Isso estava.

    O cenrio da crnica reflete o lugar onde vive?

    Ela cumpre o objetivo a que se prope: emocionar, divertir, provocar reflexo, enredar o leitor?

    E o episdio escolhido, como tratado pelo autor? H um modo peculiar de dizer?

    Organiza a narrativa em primeira ou terceira pessoa?

    As marcas de tempo e lugar que revelam fatos cotidianos esto presentes?

    Que tomo autor usa ao escrever: irnico, humorstico, lrico, crtico?

    Utiliza uma linguagem simples, espontnea, quase uma conversa informal com o leitor?

    O enredo da crnica est bem desenvolvido, coerente? H uma unidade de ao?

    No desenrolar do texto, as caractersticas da narrativa (personagem, cenrio, tempo, elementosurpresa ou conflito e desfecho) esto presentes?

    Faz uso de verbos de dizer?

    Os dilogos dos personagens so pontuados corretamente?

    H alguma palavra que no est escrita corretamente, frases incompletas, erros gramaticais,ortogrficos? E a pontuao est adequada?

    O ttulo mobiliza o leitor para leitura?

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    lie Bajard

    As editoras vm publicando hoje livrosacompanhados de CD. Com a multiplicaodas memrias eletrnicas, a narrativa escri-ta tem se tornado cada vez mais acessvel,por se enderear aos ouvidos de pblicos di-versicados, como cegos, analabetos oupessoas ocupadas com outras tareas, comodirigindo um carro ou azendo jogging. As-sim, a histria adota uma orma dupla. Naspginas do livro, a narrativa publicada parasua apreenso visual; no CD tornada p-blica mediante a voz de um locutor, comose diz no rdio. Como nos dois casos a hist-ria tem autoria nica e constituda pelasmesmas palavras em uma ordem xa, consi-deramos que estamos em presena de umtexto nico com duas representaes: a pri-meira, impressa; a outra, sonora.

    Na pgina do livro, o texto impresso, acom-panhado ou no por ilustraes, se espalhasobre uma supercie, endereando-se visode um leitor potencial. Constitudo mediantepalavras individualizadas por espaos bran-cos, o texto orma uma imagem percebida poruma olhada nica ou por diversos zoomsque destacam aqui um ttulo, ali um grupo depalavras. Por no ter correspondncia sonora,

    Escuta do texto ou leitura?

    o espao carter mais requente do teclado az escapar nossa escrita de um unciona-mento puramente onolgico. A competnciado leitor consiste em ser capaz de extrair daleira de palavras individualizadas pelo espa-o uma histria at ento desconhecida.

    A gravao em CD ou em walkman mobili-za a audio dos que recebem a narrativa

    desenrolada no tempo de maneira sequencial:as palavras aparecem e desaparecem no mo-mento da sua pronncia. No individualizadascomo no texto impresso,elas so embutidasem blocos dentro de uma msica chamadaprosdia1. Separados por silncios, esses blo-cos compem o texto sonoro. A compreensodessa lngua sonora supe que o ouvinte, atra-vs de operaes mentais especcas, saibatirar signicado daqueles blocos sonoros.

    No plano lingustico existe uma dierenanotvel entre a recepo do texto impresso ea do texto sonoro. Para ser compreendido, oprimeiro exige a longa aprendizagem da ala-betizao, enquanto o segundo entendidomesmo pelo analabeto, se a lngua do texto

    1. Parte da gramtica tradicional que se dedica s carac-tersticas da emisso dos sons da ala, como o acento e aentonao.

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    corresponde sua cultura. De ato, nossa ca-pacidade de entender um texto sonoro he-rana de nosso domnio da lngua oral, poislngua alada e texto sonoro recorrem mes-ma matria acstica constituda de unidadessonoras estruturadas pela prosdia.

    Assim, o Evangelho proerido pelo padre compreendido pelos cristos analabetos;o Alcoro recitado no minarete entendidopelos is desprovidos do livro; o poema ditopor Manguel, jovem pesquisador, escuta-do por Borges, renomado escritor, j cego.Da mesma maneira, a histria contada pelame na beirada da cama encanta a crianaainda no escolarizada.

    Nessas situaes os ouvintes se bene-ciam da mediao da voz alheia para teracesso histria do livro como dizem ascrianas, para distingui-la da histria da boca,improvisada pelo contador enquanto nopodem entender o texto grco. Assim, as duasormas do texto sonora e impressa reque-rem um conjunto distinto de operaes men-tais para serem compreendidas. desse modoque, hoje, a criana entra na cultura da lnguaescrita pela escuta e manuseio do livro antesde ser alabetizada, enquanto no passado o

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    mundo da escrita era acessado apenas atra-vs da cartilha. As condies sociais da ala-betizao mudaram; a abordagem das corres-pondncias entre sons e letras no constitui

    mais o rito de iniciao no mundo letrado.Hoje, a criana chega ao momento da alabe-tizao com uma experincia na lngua escritaignorada ontem. Ela sabe que a narrativa quepassa pela boca do mediador provm do li-vro, que as palavras e sua ordem so imutveis,que a lngua lxico e sintaxe requintada,e, para ser entendido, o texto impresso exigeuma complexa aprendizagem. Assim, no hmais idade mnima para que a criana usurua

    a literatura.No entanto, a escuta do texto pode ser pro-porcionada por duas situaes distintas. Achamada do almuadem2 pode ser proerida aovivo, ou, como ocorre requentemente em nos-sos dias, provir de uma gravao. Nos dois ca-sos o texto perene; no possvel trocar aspalavras do texto sagrado.

    Essa xidez imposta por duas circuns-tncias: pela gravao e pelo texto mesmo.

    Quando gravado, o texto repetido a cadaemisso com a mesma msica; no existenenhuma variao nem nas palavras, nemna prosdia. No texto proerido ao vivo, aocontrrio, no existe repetio; se as palavrase sua ordem permanecem xas, cada trans-misso do texto adota uma prosdia nova,vinculada singularidade da situao.

    A gravao possui uma eccia espec-ca, na medida em que cada ouvinte pode, a

    partir de uma memria eletrnica, ter acessoa textos sem requerer a disponibilidade dosolhos, nem a presena de algum. A crianaque no sabe ler ou o adulto impossibilitadode ler por alguma razo tm sempre a possibi-lidade de recorrer gravao para usuruir oprazer do texto. Quando realizada com cuida-do, por um ator, por exemplo, essa gravaopode convidar proessores e alunos a apro-priarem-se da voz alta ao vivo para se comu-

    nicarem entre si.Quando se compara o texto ao vivo com otexto gravado, necessrio levar em contacritrios suplementares. Alm da matria lin-gustica com a prosdia varivel ou repetida ,mudam as condies relacionais. Enquanto aescuta do texto gravado no deixa de ser um

    2. Pregoeiro que, do alto da torre da mesquita, chama osis orao.

    encontro rustrado o locutor grava sua vozsem auditores; os ouvintes a escutam na au-sncia dele , a emisso ao vivo instaura umencontro entre um mediador presente e seusauditores, em um aqui e um agora com-partilhados pelos participantes. Entre elesnascem inter-relaes que transitam, semdvida, pelas palavras do texto, mas tambmpor gestos e olhares, isto , por linguagensno verbais. Mesmo o espao real que acolhelocutor e ouvintes pode se transormar em lu-gares de co, foresta ou castelo. As pala-vras ditas remetem no apenas ao tempo c-tcio da histria, mas ao momento atual vividopelos protagonistas. As palavras pertencemcertamente ao personagem da histria, mastambm voz do locutor que as enuncia. Amenina pode at escutar com receio as pala-vras Eu vou te comer pronunciadas no so-mente pelo lobo da narrativa, mas magia darepresentao oriundas tambm da vozmasculina do mediador, acompanhada porseu olhar xo. A situao ao vivo enriqueci-da pela qualidade das interaes que acabampilotando o fuxo da voz endereada aos ou-vintes, enquanto a gravao mantm-se xa,quaisquer que sejam as condies da recep-o. essa adaptao da voz presena dosouvintes que torna singular cada escuta do

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    mesmo apreciada pelos amadores de teatro.Seu exerccio na sala de aula plenamentejusticado pelos rutos que produz: prazer daescuta, conhecimento da literatura, enrique-

    cimento da lngua.No entanto, escutar texto no ler. Se o pro-essor visa tornar o aluno capaz de tomarconhecimento de um texto grco desconhe-cido, situao vivida pelo assinante de jornalque descobre as notcias do dia, ou pelo candi-dato ao vestibular diante de um texto distri-budo no incio da prova, a escuta do texto no a erramenta pedaggica adequada, pois oassinante de jornal e o vestibulando necessi-

    tam compreender o texto sem a voz de nenhumlocutor. No podem escapar s operaes men-tais que possibilitam transormar o texto atento desconhecido em texto conhecido.

    Se a escuta oerece uma alternativa para aspessoas que no sabem, no podem, no que-rem ler, o proessor que pretende desaar osalunos leitura no pode queimar seu prpriodesao mediante uma emisso sonora que,por si mesma, anula a necessidade de ler. Cabe

    ao proessor, ento, se perguntar: ser quemeu objetivo apenas propiciar a compreen-so do texto com o menor custo cognitivo pos-svel? Ser que ao azer ressoar a musicali-dade do texto sonoro quero instaurar umacomunicao real mediante um texto ccio-nal? Ou ser que pretendo propiciar a conquistadas estratgias de descoberta do signicado apartir da graa?

    A escuta do texto contempla de ato os

    dois primeiros objetivos, mas impossibilita arealizao do terceiro. Se o proessor deve or-ganizar a escuta de textos para que seus alu-nos se beneciem das vantagens literrias elingusticas que ela propicia, imprescindveltambm que exija deles, em outros momen-tos, operaes mentais de leitura. Se o pro-essor tiver reconhecido essa necessidade,poder atribuir escuta unes distintas damera uga das situaes de leitura.

    lie Bajard, doutor em lingstica, ormador deproessor na rea da alabetizao. Trabalhou emvrios pases (Arglia, Frana, Marrocos, Vietn).No Brasil oi o idealizador (1990) do Pr-Leitura,projeto de cooperao ranco-brasileiro lanadopelo MEC para ormao de proessores alabetiza-dores. Atuou na ps-graduao da Universidade deSo Paulo. Trabalha hoje com diversas ONGs dedi-cadas educao.

    texto ao vivo. O mesmo texto dito por um, doisou vrios alunos se expressa em novos ges-tos, novos olhares, nova voz; recebe, a cadavez, nova vida.

    Tamanha eervescncia na sala de aula su-pe um locutor com conhecimento pleno dotexto. De ato, sem conhecer a narrativa porcompleto, como atribuir-lhe uma tonalidadetriste, alegre ou apavorante? Como introduzirsilncio para criar suspense, se o nal igno-rado? Mais ainda: quando o mediador ezquesto de tomar conhecimento do texto comantecedncia, seus olhos, menos presos aolivro, estabelecem, durante a emisso vocal,idas e voltas geis entre a pgina da qualso extrados ragmentos e o pblico, com oqual mantm a comunicao.

    Nessa prtica, a voz alta tem por nali-dade no a descoberta do signicado do texto,mas sua comunicao com os ouvintes. Des-se modo, negando o texto gaguejado, a salade aula ferta com prticas culturais: sarau,jogral, recitao potica ou cena de teatro.

    Se a escuta do texto az parte dos recursosdo proessor, ela deve ser escolhida cuidado-samente em uno dos eeitos suscetveisde serem contemplados. Assim, a escuta dotexto no somente um paliativo para anala-betos; ela uma prtica cultural plena, at

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    Poema para alunos de 5- e 6- anos do Ensino FundamentalMemrias literrias para alunos de 7- e 8- anos do Ensino Fundamental

    Crnica para alunos do 9- ano do Ensino Fundamental e 1- ano do Ensino Mdio

    Artigo de opinio para alunos de 2- e 3- anos do Ensino Mdio

    De 2 de maro a 14 de maio de 2010.Inormaes: www.escrevendoouturo.org.br

    Professor, inscreva-se na

    Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro

    Voc no pode perder essa oportunidade.

    Em 2010, todos os professores de sua escola do 5- ano do Ensino Fundamental ao 3- ano do

    Ensino Mdio podem participar da Olimpada de Lngua Portuguesa Escrevendo o Futuro.

    A escola recebe os novos materiais didticos com atividades de leitura e de escrita para

    trabalhar com seus alunos: Cadernos de Orientao do Professor, Coletnea de textos e

    CD-Rom voc pode ouvir, imprimir ou apresentar em datashow.