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[Ficha Técnica]
Títulonão se ama o mar sem amar as marés
Autorrui alexandre grácio
Coordenação EditorialPaula Grácio
CapaPé de Página Editores | Fotografia: Ricardo Grácio
Pré-impressãoPé de Página Editores
1ª ediçãoFevereiro de 2007
Impressão e acabamento: Tipografia do Carvalhido — Porto
ISBN: 978-989-614-061-8Dep. Legal:
© Pé de Página EditoresAvenida Emídio Navarro, 93, 2º, Sala B3000-151 COIMBRATelef.: 239832064 Fax. 239836112e-mail: [email protected]ítio: www.pedepagina.pt® Reservados todos os direitos
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as palavras
és nome do amor que viciou o verboas palavras são a vozcom que me prendes ao lemeescrevo-as com a avidezcom que ontem te sorvi a bocadando corpo aos afectos ondas em vagas de paixãoque se dirigem à praia onde me recebes
não se ama o mar sem amar as marés
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abraços
sabes?
adoro a maneira como me abraças com as palavras
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colo
dá-me um colo de palavraspara nele deitar a cabeçae repousar o silêncio da natureza
um colo de palavras que liberte grandezainvente hipóteses de vida para além da prisão das certezase sonhe e alente a improvável incondicionalidade
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casa das palavras
leio, releio, leio de novo e releioe suspiro e sorrio e releioe trago para te poder respirar (naquele sussurro já familiar)as letras da casa das palavras merecidastalvez injustas como o tacto cego que perscruta e onde as regras não sabem a descoberta
leio, releio, leio de novo e releioe é arrepio de dia ganhoo perder-me nos cabelos oferecidosda casa das palavras ondulantesonde o corpo se faz arco
leio, releio, leio de novo e releioe sinto texturas de porosa jogar a linguagem da pelee quando fico tonto e sem fomecorro para a casa das palavrasonde os inseparáveis cabelos abraçam o parto do poema
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brotar palavras
só tu poderias colher como gritos serenosas palavras que brotam do desejo de mimar-te
recebe-as de lábios abertospara que entrem e pousem no teu espírito
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mas a voz
o corpo tem feitiços que atordoame fazem amar como um contorcionista que todo quer ficar dentro de ti
mas a vozhipnótica e etéreaé do fundo da alma que se anunciae em bailados de alquimiafaz do seu sopro matériaum invisível regaço
braços amantes de promessas tacteiam na incerta probabilidadea inteireza do aconchego
e na surdina do eco relembram:acerca o teu espírito do meu peitocomo ontem aproximaste os lábios
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futuro
cada vez que te toco sei que te amo maiscada vez que me tocas sinto-me mais tua somos agora um só rosto virado para o futuro
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além do dizível
o abraço do amor que em mim floresceencontra-nos para além das palavras que habitam o dizível do mundo
o ar que respiro lembra-me os teus lábios
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como sangue que corre
deslizando entre letras e espaços as tuas palavras têm amor incorporadocomo sangue que corre e dirige o sopro da vida
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voar
na ressonância erótica da tua vozchega exigente o envolvimento que com requinte abre a porta para que as asas batam e voem
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cumplicidade
aconchegadas pelo teu ouvidoas minhas vergonhas são simples laços de cumplicidade
é a ti que confesso o inconfessávelé a ti que confio a voz alta dos pensamentos
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a praia já calma
nesse oceano de sensibilidaderesguardado por braços destemidos que trazem ao seu regaço a turbulência das vagasfazes-me chegar em doce marulhar ao cheiro da maresia que inunda a praia já calma
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desejo
escorrega em mim a humidade do desejotenho sede da boca que faz nascer os meus beijos
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sem sombra de pecado
sempre desnudadossem sombra de pecadodeliciámo-nos com carícias de palavras e silêncios
porto de coincidênciasolo de renascimentos
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virgindade
que importa o passado das águasse cada gesto teu desaguana virgindade do deslumbramento
aprendendo pela primeira vez o que palavra alguma dizno silêncio do depoisaté o rolar das primeiras lágrimas de amantenos foi querido
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respiração
no teu odor me abrigopara pernoitar embalado
em cada noite te sei na respiração libertada antes de adormecer
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fala comigo
fala comigo
com ninguém mais posso partilhar o cheiro que só reconheci como meu depois de sentir o teu
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elixir
bebendo-te como um elixir de vidatodas as manhãs renasço de um limbo tortuoso
compreendo agora a letra de todas as cançõescompreendo agora todos os poemas de amor
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espelhos
como nos fazemos espelho dos pedidos íntimos das almas?que perfeição lubrifica os lábiosque seiva de corposé sonho inesquecido?
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habitação
inundas-me com uma belezaque de mim já desertarahabito agora a plenitudeno pulsar das tuas células
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incondicional
nunca a exigência existirá no sopro da minha voz não penses que me apodero de ti
busco apenas que o infinito viva no finitoa dedicação se eternize no contingenteo humano receba a gota do divino
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repouso
na paz da frenética tarefa cumpriremos os desígnios dos deusese sobre a seiva dos orgasmos tingidos no virginal elo repousaremos o aconchego da partilha
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porvir
das minhas palavras mergulhadas na penumbra do amorfez a tua doçura guerreirao porvir mais desejado
serenaste a irreversibilidade da nossa pertença fecunda
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vício de te amar
admiro a tua inteligência com o fascínio dos investigadoresamo o teu corpo com a veneração dos artistassorvo a tua inteireza como quem se funde na transcendência
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genuína
os sons íntimos que nos guiaramsão a mais genuína das linguagens
cozinha-me e come-mepois assim voltarei ao prazer de nos ouvir dentro de ti
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mote
cada frase minha para o mundo traz escondido um repetido amo-te mote de cada batida do coraçãopele que cobre o meu peito
vives no sumo dos meus lábios
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conversão
converto o que de ti em mim
palavras que levam afagosno sussurro do beijo nocturno
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pétala
serás parteirada semente fecundada para te levar a macieza da pétala?
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cada segundo
nascemos da explosão da mesma estrelae a ela voltaremos quando nos reencontrarmoscada segundo é uma investida tua no meu ventre
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única
a bênção do teu amor elegeu-te em mim como aquela que será únicadisso faço a causa que me moveesse o sal
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adorno
a nossa pele tem a lisura do amor serenonua nos teus braços visto-me como rainhao único adorno é o desejo
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cosmogonia
é cosmogonia de amora combustão das nossas forçasem criação
em sublime ardência damos forma terna ao volátil
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descansa
o corpo arfante chamou por tia mão percorreu-o com a intensidade certadescansa agora a boca sedenta no meu seio nu
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descoberta
debaixo da coberta és o refúgio mais terno descoberta o pedaço mais gostoso
por baixo da colchaés o aconchego divinopor cimao pecado mortal
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au revoir
fica coberto de beijos com a mão no interior quente das minhas pernas
fica envolta de afagosrecordando o movimento ondulantedos meus quadris
cada estrela do céuserá um pensamento para ti
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que nome?
que nome darias à proximidade mais próximamas que ainda assim exige que nos aproximemos mais mais e sempre mais?
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in separação
cuidas de mim ao pormenor quando fazemos amor no descansodo cheiro siamês da nossa peleestendida num leito de penas brancasseparo-me apenasno acto de te acolher
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cada dia
és aquela que se aproxima sempre longeda pequena tentação da censuradelicada nunca deixas que o meu coração ganhe uma cicatriz por falta de mimo talvez não tivesse sobrevivido ao dia de hoje se não fossem os afagos matinaismas fizeste com que me quisesse aperfeiçoare descreveste-me como precisava de ser dito
preenches cada dia em que me reinvento
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ninho de luz
a luz ténue fez o nosso ninhoe as tuas mãos passearam pelo meu corpo com o conhecimento profundo de amante eternoo meu coração gritou que te amava enquanto a minha voz se apagava no fino som do prazero meu sorriso procurava o teuem doce confirmação de amordepois embalaste-me como a uma criatura frágil e etéreae os teus sons de amor eram música dos anjos
no tacto em que te descubro real o prazer confunde-se com a perfeição
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golpes de amor
sempre a golpes intensosde inexcedível dedicaçãolevas-me pela mão para o porto seguro
amas-me como eu não sabia ser possíveldás de uma forma que eu desconheciainventas-me como eu desejara ser
elo mais preciosoés bálsamo de todas as coisas
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guião
bebemos a seiva do bem-querer e celebramos o esplendorcom a curiosidade dos aprendizese a ferocidade dos progenitores
mas o que eu adoro mesmoé o requinte com que cuidamos do nosso guião
trago no corpo a camisa de noite que na segunda-feira recebeu o teu cheiro agora sobrepôs-se ao meu
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crescente
e cada novo dia nasce risonho porque carrega a esperança de te poder dizercom urgência renovadaa intensidade crescente do amor
mesmo tendo-te em cada batidanão consigo evitar a saudade
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inscrever
que nome dara esta urgência de sempre repetircomo se fosse a vez primeira?
que marcações inscrevem na matéria corporal a vertigem da irreversível pertença?
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oração
tens todo o meu desejorezo para que o eternizes
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memória
desejo que o teu peso marque de novo a memória das minhas célulasrecebo-te separando aquilo que é par no meu corpoaltero a respiração para que entres na minha bocae o pescoço pede que regresses ao ninho
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lentidão
recebo-te apenascom uma flor carmim na orelha
tu demoras cada peça despidainvadindo o corredor com o olhar
em faces navegadas por expressões amadasanuncias-te marinheirosedento nas nádegas contraídasentre as minhas pernas
somos então possuídoscom a lentidão de um navio que desliza e sulca as primeiras ondas do mar
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âmago
no âmago do teu sexoo nexo de cada pensamento meu
a obscenidade do amor tudo engloba e ameniza
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eros
sobre o colchão daquela camadois corpos abraçados devolveram-se à pertença natural
voluptuosos prolongaram em entrega urgentecada curva um no outro
o tacto fez-se peleo olfacto disse-os umo prazer inconsequente foi festa de sabores
um êxtase de proximidade percorreu o tempo parado do encontroe o mundo ficou esquecido
vagueámos ao sabor do desejofluente indesmentível obscenoe os teus seios eram travedo firmamento que habito
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cada curva do teu corpo desenhava a força certa das mãoscada uma se dizia esculpida nas linhas do destino
e no vulcão penetradoa lava sabia a vida e céu
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pássaro de fogo
na minha mão esquerda inalo sem pararo impulso da tua direcção
ainda sinto a respiração ofegantejunto do meu pescoço
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toque
naquele beijo de caféas nossas bocas perderamo rasto da identidadee os corpos sem vestígioeram antecipação do toque
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prova
é na geografia dos corposque provamosa eloquência das mãos
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relógio
antes do meio dia atingio poro imediatamente abaixodo teu seio esquerdo
tinha sabor a nuvem e era céu
ao meio dia imitámos os ponteiros
serás horas ou minutos?
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o rosto do mar
as nossas marés têma eternidade da luae o rumo do seu cintilar
reparaste na investida das ondas?no som do seu respirar?
nunca o mar se apresentarácom outro rosto que não o teu
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declaração de amor
quero dar-nos o tempo todo que me for dado
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pedido
promete-me que continuas a roubaro meu tesouro: a gruta ardentee o espírito que dança dentro delao mastro tensoque te fez vela
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avesso da pele
carrego a tua suavidade no avesso da minha pele
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sonho meu
é um sonhoesse recôndito conforto de prazer felizdiz-me, é um sonho?
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odor perpétuo
cada vez que respiroexala a serenidade do teu odorquando na minha campa só houver póalguns desses grãos conservarão o teu cheirosomos fusão entre origem e destino
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neste momento
o que prefiro mesmo é abandonar-me ao encanto e deixar-me abraçarcom teu peito firme nas minhas costas nuas
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incêndio
exultei com o toque dos lábios e petrifiquei ao sentir nas mãos a perfeição dos teus seiosvesti-me então de guerreiro com as chamas do teu afecto e saí para incendiar o mundo
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matéria incandescente
quando o corpo se abre pelo eixo vertical e somos matéria incandescenteteus lábios abrigam-me no aconchego de um abraço e ao teu útero levo o ritmo doce de um chamamento
serena vens no teu passo de bailarinafluindo rios de desejos impunescom danças ritmadas de descoberta pagã
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pacto de amor
quando eu parar de respirar sei que tu o farás por mimceder-te-ei o meu coração quando o teu deixar de bater
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intimidade
quando pouso a cabeça no peito e me embalo nas vibrações da voz acho-me deitada num berço de algodão
assim que as mãos deslizam pelo tronco a respiração muda e o balanço do corpo chama-teintempestivamente
a gruta recebe o toque doce de cambraiae a essência que dela escorre é cálice de néctar dos deuses
irmanados em ritmo e cumplicidades enfeitiçados pela coincidência dos sentiresfirmamos no calor dos corposo selo da mágica intimidade
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perdidamente
quando estiver contigoconsidera-te em perigopois em ti verterei a fúria do meu amor
desalmada e perdidamente sorverei cada átomo do teu corpo
que vontade de me estrangular em ti
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recriação
brotámos com a naturalidade de uma nascente e carregamos a frescura das águas cristalinasdelas saímos para lhe preparar o leitoa elas voltamos para fundirmos o abraço molhado que nos chama
e quando conduzidos ao lago calmo que espelha as nuvens e o céu azul contemplamo-nos festivamente e abandonamo-nos ao prazer do simples
com intensas sensaçõespara cada dianos recriamos
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reza
enroscada com as minhas nas tuas pernasno quente dos afagos dos porosrezo até adormecer a oração que se diz com as letras do teu nome
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dádiva
na intensa afirmação da dádivaverteremos de uma forma selvagem a distensão infinita da nossa forçaem cada milímetro da nossa massa
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fantasia
jogar despudoradamenteexperimentar incondicionalmente
se quiseres um dia ser possuída por um outropoderás encontrar em mim o teu amantese eu quiser um dia ter sexo bárbaroprocurarei em ti a inevitável submissase um dia te sentires predadoraresistirei como uma das tuas vítimas
depois desse deambular em que não nos reconheceremoschegará cúmplice a confiança na partilhacomo um regresso depois da partidacomo um abraço no final da viagem
na página imaculadamente branca podemos escrever todos os jogos
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eternidade
estende-te em mim apaziguadomeu corpo foi moldado para ti
somos eternidade na carne libertada
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esta noite
esta noite pedir-te-ei a mão para entrelaçar os meus dedosenroscarei o meu corpo no teu sabendo que acordarei renovado
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tens razão
a tua razão é docecomo as carícias das tuas mãossuavecomo a timbre da tua vozdeslumbrantecomo o espreguiço do teu corpoabrangentecomo a tua inteirezaestimulantecomo o teu cheiro
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nascente residente
somos dom do nós em mim te fizeste nascenteem ti me tornei residente o tempo gesta a certeza do porvir
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resistência
quem me dera poder verter as lágrimas pesadas como grilhõesno teu colo doce onde a vida recomeça sempre é contigo que encontro o meu posto de resistência
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humor
sacio todas as minhas angústias no teu sentido de humore no nosso riso sátiro renovamos a esperança
descontraídos somosdois pequenos terríveisque gralham desabridamente
e assim cumprimos o mandamento de viver sem nos engasgarmos com a vida
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aura
o nosso colo festejao encontro da felicidade sãdos poros sai envolventea nossa aura perfumadae no rasto inapagável que nos contémabeiramos o dia que se segue
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partilha
temos em nossas mãos toda a força toda a fragilidadealegria é o merecimento do nosso ser
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dom
tens o dom de resistir às devassidões e de irmanar o tempo com o ritmo certo da desocultaçãomestra e amante em abeirar o que nos segredos consistepadeces a espera paciente com o inesperado sorriso e aguardas confiante o que na surpresa se revela milagroso
parteira em contra-correnteés guardiã dos sinais e dos simbolismos que cromatizam o mundo no seu recato auroralpor isso brincas dizendo que o sal da vida é o inesperadocom esse podemos sempre contarserá ele que trará boas marés
adorar-te não é uma questãoé a certeza que cada dia me abre os olhos para o mundo
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paz e projecto
a ti pertenço e me ofereçocomo uma criança adulta que brinca na segurança do larcasa casulo corpoés a paz e o projectoa sua alegria palpitanteo tu do nós que me sustenta
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interminável
acabámos de falar um pedaço da interminável conversa que somossei que não hánem queremoscaminhos de volta
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anúncio
com o toque quente do mel as palavras escorreram para o coração anunciando-te como a certeza de todas as promessas que ainda não sei
a aurora terá feições de prazer cúmplice
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ternura
as tuas formas estão inscritas nos meus gestospossuis a minha ternura em toda a dinâmica das suas metamorfoses
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rigor
estamos no cume do montenaquela hora em que ao pé do mar a natureza é mais silenciosa
a sabedoria dos corpostem agora a precisão dos mapase as mãos tacteiam o rigor das sensações
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vens?
vem ter comigo quando doer, vens?
vestiremos as palavras com que brincamosas mil e uma pelese seremos lágrima de mão dada
mergulharemos na obscenidade mestiça dos corpos que sem esforço se conheceme cuidaremos da felicidade dos lábios
não desdigas o doce abandononão repreendas o que é ciclo naturalseremos o regressodo que nunca partiu
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silêncio
contigo o silêncio é tranquilo e aconchega com a mesma intensidade das palavras
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declarar o amor
uma declaração de amor não éuma declaração de verdadeuma declaração de amor éuma declaração de intensidade
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mesmo no silêncio
mesmo no silêncio silenciadocontinuarei a amar-nos no aquém do sequestro das palavras
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querer bem
querer-nos bemsó nos querer bemassim nos quero
não, não! não é um bem querer de fraquezaé um querer bem de certeza
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o que se ama
amo inteligências e sensibilidadesmas das pessoasapenas posso amaros crescimentos com que se criam
a serenidade do teu fluir é mais tonificante que a brisa da manhã
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lição
aprendermosa implacável e doceserenidade do tempo de areia
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não percas a leveza
acolheremos de uma forma sã e sem tumultos a invenção da nossa proximidade e as metamorfoses do nosso amor
as mágoas que por vezes sentiremos serão sempre menores que o amorcom que curaremos as feridas
não percas a leveza não te deixes vencer pelos temores de amantefoi sem esforço que o nosso amor nasceu
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o não-lugar do amor
não se ama o que alguém éama-se a contingência de uma configuraçãocorrespondência em mar de exaltações aquém da palavra que brinca o ser
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virtuoso
a este mendigo de afectos alheios ensinasteque procurar o amor é uma qualidadenão uma fraquezae assim me tornaste virtuosona vertigem de te amar
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fé nos milagres
na travessia da puniçãoem gotejar lento que não acabaexerço a fé nos milagresque sempre me ensinaste
cumpro o ritual da chuvaem cada envio sem promessasnem retorno
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plantar os dias
criá-los como rebentosnuma vida a plantar cada dia
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ajuda?
ajuda se eu disser que nos misturamos como mar e terra?
ajuda se eu pedirnão zangues a felicidade?
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onde?
talvez te possa levar a água dos olhos que teima em não rolar como mar de sal contido no conta-gotas do olhar
fixo no infinito do horizontesou sede em frente ao marmas ofereço-te as águas lágrima na réstia urgente de te dar
não penses no sal
imagina antes o pingo curvo e o seu percurso arredondado até pousar nos olhos teus onde me faço nascente
sabe-me aqui
na estranha mestiçagem das águas salgadas por vezes doces
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que lugar?
conheces aquele lugar onde não se quer pensar por se ter já reflectido em demasiae onde a espuma dos dias sucedidos já só quer esquecer-se noutros a suceder?
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do silêncio
sim
por vezes sangra-se demasiadamente para fora em falta de contenção tangencial ao desequilíbrio
não
não sucumbas ao primário impulso de cortar as veias do amor próprionas facilidades armadilhadas do confessionário
há uma arte própria nos encontros do silêncio
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podemos
podemos cultivar a doçura que amacia os coraçõese rir dos engodos de passes adoecidos
podemos vislumbrar a serenidadee isso partilhar como segredo inexplicável que nos acompanha nas dobras do caminho
dizer a quem? narrar o quê?
porquê perder o tacto na vanidade dos ouvidos que não podemescutar?
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o amor?
não será essa exclusividade que não excluio amor?
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sazonal
transforma o sofrimento em luta para que de luto não sejam os passos do caminhar
sabes que os afectos carregamuma possibilidade plantada?
no amora partilha é mais funda que a dore as certezas menos importantesque o fruto que alimenta
nos acasos e ocasos em que habitao amor irrompe sazonalno desprendimento das estaçõesque oferece a vez primeira
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instruções
não o aprisionesno medo das palavrasfalaremos sempresem o nomearpois essa é a sua e a nossa condição
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no olhar distante
no olhar distantetudo se torna um como seatravessado de alguma nostalgia
tudo se torna soberboe sumamente táctildolorosamente violento e doce
nesse desdobramentoque no entre instala a vertigemtudo se conjuga e desmembraem perfeição
tudo éalogicamente intenso e arrepiante
e sobre o cristalino das sensaçõesse desvanece e apagasem se despedir
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mistério
existência é brecha que fende sem perguntarhalo invisível que acompanha o caminhar
corremos onde o instante se dilui na amplidão e os ciclos invisíveis nos transportam com o mistério do tempo
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sementeira
o fruto da vidaé a morte
até láseja sementeira
e será esperança em pele de tarefaplanos de morrer de resistência
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Índice
PALAVRAS DE MARÉ CHEIAas palavras ....................................................................... 9
abraços ............................................................................. 10
colo ................................................................................... 11
casa das palavras ............................................................ 12
brotar palavras ................................................................ 13
mas a voz ......................................................................... 14
futuro ............................................................................... 15
além do dizível ................................................................ 16
como sangue que corre .................................................. 17
voar .................................................................................. 18
cumplicidade .................................................................. 19
ESPELHOS E MARESIASa praia já calma ............................................................... 23
desejo ............................................................................... 24
sem sombra de pecado .................................................. 25
virgindade ........................................................................ 26
respiração ........................................................................ 27
fala comigo ...................................................................... 28
elixir ................................................................................. 29
espelhos ........................................................................... 30
habitação ......................................................................... 31
incondicional .................................................................. 32
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repouso ............................................................................ 33
porvir ............................................................................... 34
vício de te amar ............................................................... 35
genuína ............................................................................ 36
mote ................................................................................. 37
conversão ........................................................................ 38
pétala ............................................................................... 39
cada segundo .................................................................. 40
única ................................................................................ 41
adorno ............................................................................. 42
cosmogonia ..................................................................... 43
descansa .......................................................................... 44
descoberta ....................................................................... 45
au revoir ........................................................................... 46
que nome? ....................................................................... 47
in separação .................................................................... 48
cada dia ............................................................................ 49
ninho de luz .................................................................... 50
golpes de amor ................................................................ 51
guião ................................................................................ 52
crescente .......................................................................... 53
inscrever .......................................................................... 54
oração .............................................................................. 55
memória .......................................................................... 56
lentidão ............................................................................ 57
âmago .............................................................................. 58
eros ................................................................................... 59
pássaro de fogo ................................................................ 61
toque ................................................................................ 62
prova ................................................................................ 63
relógio .............................................................................. 64
o rosto do mar ................................................................. 65
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ESCULTURAS NA AREIAdeclaração de amor ........................................................ 69
pedido .............................................................................. 70
avesso da pele ................................................................. 71
sonho meu ....................................................................... 72
odor perpétuo ................................................................. 73
neste momento................................................................ 74
incêndio............................................................................ 75
matéria incandescente ................................................... 76
pacto de amor ................................................................. 77
intimidade ....................................................................... 78
perdidamente .................................................................. 79
recriação .......................................................................... 80
reza ................................................................................... 81
dádiva .............................................................................. 82
fantasia ............................................................................ 83
eternidade ....................................................................... 84
esta noite ......................................................................... 85
tens razão ........................................................................ 86
nascente residente .......................................................... 87
resistência ........................................................................ 88
humor ............................................................................... 89
aura .................................................................................. 90
partilha ............................................................................ 91
dom .................................................................................. 92
paz e projecto .................................................................. 93
interminável .................................................................... 94
anúncio ............................................................................ 95
ternura ............................................................................. 96
rigor .................................................................................. 97
vens? ................................................................................. 98
silêncio ............................................................................. 99
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MARÉS SUSPENSASdeclarar o amor ............................................................... 103
mesmo no silêncio .......................................................... 104
querer bem ....................................................................... 105
o que se ama ................................................................... 106
lição .................................................................................. 107
não percas a leveza ......................................................... 108
o não-lugar do amor ....................................................... 109
virtuoso ............................................................................ 110
fé nos milagres ................................................................ 111
plantar os dias ................................................................. 112
ajuda? ............................................................................... 113
onde? ................................................................................ 114
que lugar? ........................................................................ 115
do silêncio ....................................................................... 116
podemos .......................................................................... 117
o amor? ............................................................................ 118
sazonal ............................................................................. 119
instruções ........................................................................ 120
no olhar distante ............................................................. 121
mistério ............................................................................ 122
sementeira........................................................................ 123
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